Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
)
História da América Latina: A América Latina Colonial. Vol.I. São Paulo: EDUSP, 2008.
***
OS ANTECEDENTES DA CONQUISTA
p.135. A principal ideia deste tópico é destacar que o processo de conquista e colonização da
América Espanhola foi embasado em valores e práticas da Reconquista Ibérica, que associava a
conquista territorial à conversão e à vinculação política do conquistador ao monarca através de
um sistema de remuneração dos servicios.
“A honra e o valor eram mais rapidamente conquistados com a espada e mereciam ser
formalizados numa concessão, por um soberano agradecido, de uma posição social superior”
“Podiam comerciar ou podiam invadir; podiam estabelecer-se ou seguir adiante. A escolha que
fizessem seria determinada em parte pelas condições locais – a facilidade da ocupação, a
natureza dos recursos a explorar – e em parte pela combinação específica de indivíduos e
interesses que sustentavam e controlavam as expedições de conquista”
Sendo o monarca concebido como a cabeça do corpo social harmonioso, em teoria, cabia-lhe
salvaguardar o direito de cada um, distribuindo os butins e as honrarias como cada um bem
merecesse. À conquista, entendida como um serviço ao rei e ao bom governo, cabe um
reconhecimento dado sob forma de remuneração (servicio e merced), estabelecendo-se uma
relação contratual entre rei e súditos que acompanha a formação territorial. Em fins do século
XV, a autoridade da Coroa servia como ponto de referência a todo movimento de conquista e
colonização, feito e legitimado em seu nome.
p. 148-9. O maior problema encontrado pela Coroa na experiência das ilhas do Caribe foi a
fixação dos colonos e a manutenção da estabilidade. O ouro encontrado de aluvião não foi
encontrado em quantidade suficiente para saciar as expectativas dos colonizadores, e logo a
fonte de aquisição de riqueza mais visada foi a população indígena. Surgiu, com isso, o extenso
debate sobre o estatuto da população indígena: seriam eles bárbaros ou súditos? Seria legítimo
ou não proceder à escravização?
“Sob o governo de Ovando, portanto, a Hispaniola fez a transição de entreposto para colônia,
mas seu esquema trazia dentro de si mesmo as sementes de sua própria destruição”.
p.159. Elliott parte de um questionamento: como o avanço da conquista pôde se dar de maneira
tão rápida na América Espanhola? Além disso, outro grande problema se apresentou: como
manter a conquista?
p.161-2. A aliança com os nativos pode ser entendida como a base da conquista. Pequenos
grupos étnicos sujeitos à administração central dos Andes e da Mesoamérica viram nos
espanhóis a oportunidade de se desvincularem dos Incas e dos Astecas. Nos locais mais
afastados dessas entidades políticas (o extremo norte da Mesoamérica e o sul da América do
Sul) onde a população era nômade ou seminômade, os espanhóis tiveram mais dificuldade de
introduzir o domínio.
p. 166. Contudo, esses bandos não estavam isentos das rivalidades regionais que existiam no
reino espanhol e dentro dos grupos, se formavam outros grupos, sendo necessário haver um
núcleo central de uma mesma região para que houvesse coesão. Mesmo assim, num ambiente
não-europeu, a origem européia, a religião cristã, certo senso de superioridade moral e suporte
providencial serviam como fatores de unidade entre os soldados. (veja-se o exemplo do grito de
guerra de Cortés “Santiago e a Espanha”, necessário para dar coordenação a seus homens).
p.170. Dois fatores que podem explicar a rápida queda do império Asteca são: a proliferação de
doenças e as próprias fraturas internas na política asteca. “A conquista de Cortés foi tanto uma
revolta de uma população subjugada contra seus déspotas quanto uma solução imposta de
fora”. (p. 170). Já no Peru, Pizarro se aproveitou de uma questão sucessória entre Atahualpa e
Manco Inca para efetivar a conquista.
“A própria ausência em outras partes da América continental das condições predominantes nas
civilizações dos Andes e do México central constituem uma boa explicação para as dificuldades
que o movimento de conquista se defrontou em outras áreas do continente” (p. 173-174)
A CONSOLIDAÇÃO DA CONQUISTA
p.176. Com a derrocada dos impérios inca e asteca, os espanhóis valeram-se da máquina
administrativa e das relações de trabalho preexistentes, bem como do apoio da maioria da
população.
p. 177. A conquista militar foi acompanhada pela conquista espiritual, pela migração maciça
da Espanha e pela conquista da terra e do trabalho.
p. 179. Alguns homens que participaram da expedição de Cortés receberam títulos de fidalguia,
mas não de nobreza, reservados apenas ao próprio e a Pizarro. Sendo tão grande a quantidade de
pessoas que arruavam para a conquista, surgiu um problema: como recompensar tanta gente?
Elliott destaca que os conquistadores nunca se satisfaziam com as mercês que recebiam e, por
isso, muitos estavam sempre em busca de prestar mais serviços para receber mais mercês; além
disso, desde o princípio, ficou evidente que a distribuição dos espólios foi desproporcional à
cada uma das partes que participaram.
p. 180. Os verdadeiros prêmios não eram concedidos pela Coroa diretamente, mas pelo Capitão
das expedições em forma de espólios, encomiendas, cargos, terras e prestígio, ainda que fosse
necessário o reconhecimento da Coroa.
185-7. “A evangelização da América foi realizada em seus estágios iniciais por membros das
ordens regulares, uma forma distinta do clero secular”. Se os altos índices de conversão
alcançados nos primeiros anos são impressionantes, a “qualidade” dessas conversões era muito
baixa, pois os cultos aos antigos deuses persistiram entre os indígenas, assumindo a forma de
sincretismos em muitas situações.
“No final da primeira geração da conquista, já estava claro que no novo mundo das Índias
espanholas estavam surgindo sociedades novas e distintas. Os conquistadores, depois de se
instalar, haviam tomado o controle da terra e do povo; e, se haviam destruído em escala
maciça, estavam também começando a criar”. (p. 193)
p. 193. Mas logo a presença da Coroa se fez sentir de maneira mais forte entre os vassalos
ultramarinos, principalmente nos governos de Carlos V (1516-1555) e de Filipe II (1556-1598).
Elliott caracteriza esse período como um enrijecimento dos laços entre a coroa de Castela e a
América.