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MICROECONOMIA I

2019-2020

1
Programa

Parte I – Conceitos Económicos Básicos

Capítulo 1. Escolha e Escassez


1.1 Escolha, escassez e o problema económico
1.2 O princípio do custo-benefício
1.2.1 Custo de oportunidade
1.2.2 Preço de reserva
1.2.3 Custo de oportunidade e atividade alternativa relevante
1.2.4 Distinção entre custo (benefício) médio e custo (benefício) marginal
1.2.5 Custo de oportunidade e custo afundado
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa
1.4 A curva de possibilidades de produção
1.5 Análise positiva versus análise normativa
1.6 Microeconomia versus macroeconomia

2
Programa

Capítulo 2. Oferta e Procura

2.1 Conceito de Mercado


2.2 Procura
2.2.1 A curva da procura de mercado
2.2.2 Determinantes da procura
2.3 Oferta
2.3.1 A curva da oferta de mercado
2.3.2 Determinantes da oferta
2.4 Equilíbrio de mercado
2.5 Perturbações ao equilíbrio de mercado
2.6 Conceito de Elasticidade
2.7 Elasticidades preço da procura e da oferta e alterações ao equilíbrio de mercado
2.8 Aplicações

3
Programa

Capítulo 3. Oferta, Procura e Governo


3.1 Controlo de Preços
3.1.1 Preços máximos
3.1.2 Preços mínimos
3.2 Impostos e subsídios
3.3 Aplicações

Capítulo 4. Oferta, Procura e Eficiência


4.1 Excedente do consumidor
4.2 Excedente do produtor
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência
4.4 Eficiência de mercado e políticas económicas
4.5 Aplicações

4
Programa

Parte II – Teoria do Consumidor e Procura

Capítulo 5. Comportamento do Consumidor


5.1 Preferências do consumidor
5.2 Restrição orçamental
5.3 Decisão ótima do consumidor
5.4 Generalização a vários bens
5.5 Aplicações

Capítulo 6. Procura Individual e de Mercado


6.1 Efeitos da variação no rendimento
6.2 Efeitos da variação no preço
6.3 Agregação das curvas da procura individuais
6.4 Efeito substituição e efeito rendimento
6.5 Aplicações
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Docentes

Nome E-mail Gabinete

Elvira Silva
esilva@fep.up.pt A269
(Regente)

Susana Oliveira soliveira@fep.up.pt D611

Isabel Mota imota@fep.up.pt D625

Nuno Sousa Pereira npereira@fep.up.pt A138

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Bibliografia Principal

Microeconomics Microeconomics

Gregory Mankiw e Mark P. Taylor D. Besanko e R. Braeutigam


Cengage Learning, 2011 John Wiley & Sons Ltd
th
5 edition, 2014 4th edition, 2011

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Bibliografia Complementar

Princípios de Economia
Robert Frank e Ben Bernanke
Edição/reimpressão: 2003
Editor: McGraw-Hill

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Avaliação

• Avaliação distribuída:

1º teste (30%): Capítulos 1 e 2 (22 de Novembro, 14h)


2º teste (70%): Capítulos 3, 4, 5 e 6 (10 de Janeiro, 14h 30m)

Os testes dispensam de exame final se o aluno obtiver uma média igual ou


superior a 9,5 valores e uma classificação igual ou superior a 5,0 valores
em cada teste.

• Exame final:
1ª época: 10 de Janeiro, 14h 30m
2ª época: 29 de Janeiro, 8h 30m

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Capítulo I

Escolha e Escassez

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Capítulo 1. Escolha e Escassez
Índice
1.1 Escolha, escassez e o problema económico
1.2 O princípio do custo-benefício
1.2.1 Custo de oportunidade
1.2.2 Preço de reserva
1.2.3 Custo de oportunidade e atividade alternativa relevante
1.2.4 Distinção entre custo (benefício) médio e custo (benefício) marginal
1.2.5 Custo de oportunidade e custo afundado
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa
1.4 A curva de possibilidades de produção
1.5 Análise positiva versus análise normativa
1.6 Microeconomia versus macroeconomia

Bibliografia
• Mankiw e Taylor (2011), capítulos 1, 2, 3.
• Besanko e Braeutigam (2011), capítulo 1.3.
• Frank e Bernanke (2003; capítulos 1, 2 e 3)

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1 – Escolha e escassez

Economia (Frank e Bernanke, 2003): estudo da forma como as


pessoas fazem escolhas em condições de escassez e das
consequências dessas escolhas para a sociedade.

Economia (Samuelson, 1989): é a ciência que estuda como as


pessoas e a sociedade escolhem o emprego de recursos
escassos, que podem ter usos alternativos, de forma a produzir
vários bens e a distribuí-los para consumo, agora e no futuro, entre
as várias pessoas e grupos na sociedade.

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1 – Escolha e escassez

Bens e Recursos
Bem: algo que satisfaz uma necessidade humana
Neste contexto, um bem deve ser entendido em sentido lato; ou seja, pode significar um
produto ou um serviço.
Exemplos: aulas de microeconomia, serviços de saúde.

Recurso: algo que serve para produzir bens, mas não satisfaz diretamente uma
necessidade humana
logo, tem uma utilidade indireta
não é um bem em sentido estrito; é um bem intermédio ou um fator de
produção.
Exemplos: trabalho, terra, máquinas, edifícios.
Consumo
Consumo é a utilização de bens para a satisfação das necessidades/desejos.
São utilizadas de forma indistinta as designações necessidades e desejos:
necessidades/desejos incluem alimentação, vestuário, habitação, etc., mas também desejos
humanos não básicos (por ex., casa de férias, veículo desportivo, etc.).
No caso dos bens duradouros (e.g., automóvel, frigorífico), consome-se os serviços que
os bens proporcionam.

A finalidade do comportamento económico é a satisfação das necessidades


humanas através do consumo de bens.

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1.1 Escolha, escassez e o problema económico

1.1.A - O princípio da escassez

Princípio da escassez: os recursos disponíveis são limitados e as


necessidades e desejos são ilimitados. Um indivíduo, uma família
ou a sociedade, para ter mais de uma coisa desejada, terá em geral
de ter menos de outra, ou seja, de prescindir de outra (there is no
such thing as a free lunch, i.e., não há almoços grátis).

Ou seja:
Os indivíduos, as famílias, as empresas e os países defrontam-se com
escassez de recursos.
Todas as decisões ou escolhas são condicionadas/restringidas pela
escassez dos recursos disponíveis.
Dada a escassez, qualquer decisão ou escolha económica envolve um
trade-off: ter mais de um bem significa ter menos de outro.

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1.1.A - O princípio da escassez

Notas:

1. Dado que os recursos são escassos, os bens são também escassos.

2. Uma escolha ou decisão racional é aquela que melhor serve o objetivo do


decisor (ou objetivos, independentemente do que possam ser esses
objetivos). Esses objetivos podem ser a maximização do lucro por parte de
uma empresa, a maximização do bem-estar social por parte de um
governo, etc.

3. Ausência de escassez implicaria a inexistência de escolhas. A escassez é


a incapacidade de os bens disponíveis satisfazerem necessidades
humanas ilimitadas. Se fosse possível ter acesso a quantidades ilimitadas
de todos os bens e assim fosse possível satisfazer completamente as
necessidades/desejos dos indivíduos, não existiria escassez. E, assim, não
se colocaria o problema da escolha.

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1.1.A - O princípio da escassez

Exemplo: Considere uma família em que cada um dos seus membros tem
tudo o que deseja ou necessita. (Essa família não precisaria tomar
decisões sobre como afetar/gastar os seus recursos e, portanto, não teria
que fazer escolhas.)

4. Se as necessidades humanas mudam ou a sua perceção muda, a


escassez de recursos tenderá a mudar.

5. Escassez não é equivalente a pobreza.


Exemplos:
Um país rico, como os EUA, defronta-se com o problema da escassez de
recursos.
Um indivíduo multimilionário, como Bill Gates ou Carlos Slim, defronta-se com
escassez de pelo menos um recurso, que é o tempo de que dispõe para fazer
tudo o que deseja.

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1.1.B - O problema económico

1.1.B - O problema económico

Escolha como problema económico:

A escolha é um problema económico apenas quando existem:


alternativas exequíveis (efetivamente disponíveis),
escassez (relativamente à satisfação das necessidades humanas
percebidas).
Ou seja: o problema económico só existe quando há necessidade de tomar
uma decisão - escolha - e esta só existe quando há escassez.

A escassez permite distinguir entre bem económico e bem livre.


- Bem económico: bem cuja oferta é limitada e portanto é um bem escasso.
- Bem livre (free good): bem cuja oferta é ilimitada. Exemplo: ar, em geral.

A análise económica ocupa-se dos bens económicos.

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1.1.B - O problema económico

Surge assim o problema económico:


não há recursos suficientes para produzir todos os bens que as pessoas desejam
consumir; e cada indivíduo, família ou sociedade tem determinados recursos à
sua disposição (escassez de recursos)
os indivíduos e as sociedades podem fazer escolhas diferentes quanto aos bens
que desejam consumir.

Ao nível das famílias, por exemplo, duas famílias podem dispor dos mesmos
recursos, mas as suas escolhas podem ser diferentes quanto à aplicação desses
recursos. Por ex., uma família decide que os filhos vão trabalhar após concluir a
escolaridade obrigatória, enquanto outra decide que os filhos vão fazer uma
licenciatura (em economia).

Ao nível das sociedades, a forma como se aplicam e utilizam os recursos escassos


pode também ser diferente.
Nas economias de mercado, a grande parte das decisões de produção, consumo
e distribuição são determinadas descentralizadamente pelos agentes económicos;
essas decisões são articuladas nos mercados dos bens e dos fatores de
produção.
Nas economias de planeamento central (por ex., modelo soviético), o governo
toma as decisões cruciais sobre o consumo, a produção e a distribuição. 18
1.1.B - O problema económico

Como a oferta dos bens económicos é limitada face às


necessidades/desejos que são ilimitadas, terá que existir alguma forma de
racionamento em qualquer sociedade.

Em particular:
Uma das formas de racionamento é através do sistema de preços,
que resulta da operação da oferta e da procura nos mercados dos
bens e dos fatores de produção. Assim, o funcionamento dos mercados
permite realizar o racionamento dos bens escassos entre os indivíduos
de uma sociedade.
A troca livre de recursos produtivos e de bens nos mercados pressupõe
direitos de propriedade sobre os recursos e sobre os bens; e o
funcionamento de um sistema de justiça para fazer cumprir esses
direitos.
A satisfação das necessidades com base nos recursos escassos pode
ser levada a cabo de forma mais ou menos eficiente. 19
1.1.B - O problema económico

Qualquer sociedade tem um problema económico:


dada a escassez de recursos e as diferentes escolhas dos indivíduos e das
famílias quanto ao consumo
existe um problema de escolha de que bens produzir, que necessidades
satisfazer, que recursos utilizar entre as várias alternativas
e outro problema de coordenação das escolhas.

Em qualquer sociedade, o problema económico envolve os seguintes


aspetos:
O que produzir? Consumo/Investimento
Como produzir? Produção
Para quem produzir? Distribuição

Diferentes modos de resolver este problema resultam em diferenças na


eficiência económica, na distribuição e no crescimento/desenvolvimento
económico.
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1.1.B - O problema económico nas economias de mercado

Nas economias de mercado, há instituições básicas na operação das escolhas e da


coordenação:
- o direito de propriedade sobre os bens na troca,
- a liberdade de troca,
- a existência de mercados como mecanismos de troca descentralizada.
Numa economia de mercado, o problema económico tem várias perspetivas de
análise:
comportamento económico dos indivíduos nas decisões de consumo de bens, e
na utilização dos recursos
interação entre os indivíduos nos mercados e o funcionamento dos mercados
articulação entre os mercados, e a coordenação das decisões económicas no
agregado
manifestações de falhas de coordenação no agregado, como por ex. a inflação,
o desemprego, a dívida externa.

Nesta disciplina, estudamos aspetos no âmbito dos dois primeiros pontos:


o funcionamento dos mercados - nos capítulos 2, 3 e 4
o comportamento dos indivíduos nas suas decisões de consumo - nos capítulos
5 e 6.
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1.2 O princípio do custo-benefício

A escassez implica escolha. E a escolha envolve um trade-off, ou seja, ter mais de


uma coisa boa ou desejada significa ter menos de outra. Dito de outro modo, a
escolha envolve um compromisso entre interesses concorrentes. Isto aplica-se a
uma família, a uma empresa ou a uma sociedade.

Exemplo 1.1 Considere as seguintes escolhas, colocadas em alternativa:


i. se comprar uma casa nova, tenho que desistir de uma viagem à volta do mundo que
desejava fazer;
ii. se uma empresa decide adquirir novo equipamento fabril, pode ter que adiar a construção
ou a compra de novos edifícios para administração;
iii. se o governo de um país expandir o seu programa de defesa, pode ter que reduzir os seus
investimentos em hospitais.

Questão:
Como é que os economistas resolvem este dilema ou trade-off?

Princípio do custo-benefício: um agente económico (pessoa, empresa ou a


sociedade) deve desenvolver uma ação/atividade se, e só se, o benefício daí
decorrente (benefício adicional) for maior ou igual ao respetivo custo adicional.

22
1.2 O princípio do custo-benefício

O princípio do custo-benefício ajuda a tomar uma decisão.


Vamos aplicar este princípio a diversas situações de escolha tais como:
i. a escolha entre desenvolver ou não uma ação/atividade (e.g., lavo o meu carro
ou não), e
ii. determinar o nível de uma atividade num dado momento do tempo, ou num
dado período de tempo (e.g., vamos supor que confeciono e vendo pão:
quantos kg de pão devo fabricar amanhã?).

Um decisor racional procura maximizar o excedente económico. Face a duas


atividades/ações alternativas, a escolha vai incidir sobre a ação/atividade que gera o
maior excedente económico.

Excedente económico: A diferença entre o benefício económico total e o custo


económico total de uma ação ou atividade.

As questões que se colocam neste momento são:


1. o conceito de custo económico e respetiva medição,
2. o conceito de benefício económico e respetiva medição.

23
1.2.1 Custo de oportunidade

Tendo em conta o princípio da escassez, ao escolher estamos a sacrificar uma


necessidade para satisfazer outra. Fazer uma escolha implica um custo: custo de
oportunidade. Um custo económico é um custo de oportunidade.

Custo de oportunidade de uma ação/atividade: é o valor da melhor ação/atividade


alternativa que se tem que sacrificar por se ter escolhido essa ação/atividade.

Custo de oportunidade de um bem/recurso económico para um indivíduo: é o


valor do melhor uso alternativo que o indivíduo poderá dar a esse bem/recurso.

24
1.2.1 Custo de oportunidade

Notas à definição de custo de oportunidade:

1. O custo de oportunidade não se mede necessariamente em


unidades monetárias.

Por exemplo:
i. se o melhor uso alternativo dos recursos ou fatores produtivos utilizados na
produção de um carro (e.g., trabalho, aço) fosse produzir 12 frigoríficos, então o
custo de oportunidade de produzir um carro seria igual a 12 frigoríficos que
poderiam ter sido produzidos mas não foram;

ii. suponhamos que o melhor uso alternativo dos recursos ou fatores produtivos
empregues na construção de um estádio de futebol seria construir e equipar um
novo hospital, então o custo de oportunidade do estádio de futebol seria igual a
um novo hospital que poderia ter sido construído mas não foi.

25
1.2.1 Custo de oportunidade

2. O custo de oportunidade de uma atividade/ação não é


necessariamente equivalente ao custo monetário explícito dessa
atividade/ação.

No Exemplo 1.1 consideramos os casos (i)-(iii), em cada um dos quais está


presente uma escolha entre duas alternativas :

i. o custo de oportunidade da compra da casa não é apenas o montante em


euros gasto na nova casa mas também deve considerar-se o valor da viagem à
volta do mundo que deixei de fazer;

ii. o custo de oportunidade do re-equipamento das fábricas não é apenas o


montante em euros gasto no novo equipamento mas também o valor dos novos
gabinetes que não foram construídos;

iii. o custo de oportunidade da expansão do programa de defesa não é apenas o


montante em euros gasto em armamento militar mas também o valor dos novos
hospitais que não foram construídos.

26
1.2.1 Custo de oportunidade

Para tornar este aspecto (custo de oportunidade não é igual a custo


monetário explícito) mais claro, vamos considerar os seguintes exemplos:

Exemplo 1.2
Um supermercado decidiu oferecer gratuitamente um televisor de plasma a cada um
dos compradores entre as 10h e as 11h. O custo monetário explícito do televisor
para um dado comprador, neste caso, é zero. Contudo, o custo de oportunidade é
igual ao valor do melhor uso alternativo do tempo do comprador.

Exemplo 1.3
O custo de oportunidade da licenciatura em economia. Interessa não só o montante
das propinas pago (custo monetário explícito), mas também o valor de mercado do
tempo do indivíduo, que é o fluxo de rendimentos que deixou de ganhar durante o
tempo que toma para completar a licenciatura.

27
1.2.1 Custo de oportunidade

3. O custo de oportunidade não é o valor conjunto de todas as possíveis


atividades/ações alternativas, mas apenas o valor da melhor alternativa.
Para se calcular o custo de oportunidade de uma atividade (ou de um bem
económico) temos que identificar com exatidão a atividade alternativa
relevante (ou o uso alternativo relevante).

Consideremos o Exemplo 1.1 (i). Vamos supor que eu considero as seguintes


alternativas à hipótese de comprar uma casa nova: (a) fazer uma viagem à volta
do mundo ou (b) comprar um carro de luxo. No custo de oportunidade de
comprar uma casa nova não deve considerar-se o valor da viagem mais o valor
do carro de luxo. Se a melhor alternativa for uma viagem à volta do mundo,
então o custo de oportunidade de comprar uma casa nova deve incluir apenas o
valor da viagem que tenho de sacrificar.

O custo de oportunidade representa o valor da melhor oportunidade/alternativa


que o indivíduo, a empresa ou o governo têm que sacrificar ao fazer uma
escolha. Note-se que uma decisão racional requer que os custos de
oportunidade sejam integralmente considerados.

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1.2.1. Custo de oportunidade

Exemplo 1.4 (Besanko, 2011, página 248):

Uma empresa produtora de automóveis tem em armazém lâminas de aço


que adquiriu por € 1 000 000. Tenciona utilizá-las para fabricar
automóveis. Alternativamente pode revendê-las a outras empresas.
Admitamos que o preço do aço tem estado a aumentar pelo que o preço de
revenda seria de € 1 200 000.

Qual o custo de oportunidade de usar as lâminas de aço na produção de


automóveis?

O custo de oportunidade é de € 1 200 000. No momento em que o decisor


toma a decisão, sacrifica a oportunidade de receber € 1 200 000.
O conceito de custo de oportunidade é prospetivo e não retrospetivo.
Os custos de oportunidade variam consoante as decisões e as
circunstâncias (no momento da decisão de comprar ou não as lâminas de
aço o custo de oportunidade era de € 1 000 000, mas no momento de as
utilizar já era de € 1 200 000). 29
1.2.2 Preço de reserva

Preço de reserva ou valor de reserva:

i. é o preço máximo ou valor máximo que um agente está disposto a


pagar para obter (comprar) um bem, ou

ii. o valor mínimo que aceitaria para prescindir de um bem ou prestar


um serviço.

Notas:

a) Não é fácil quantificar o preço de reserva de um bem:


um indivíduo tem por vezes dificuldade em saber/calcular exatamente, qual
o preço de reserva de um determinado bem (exemplo: viagem à lua);
ou, sabendo, em geral não irá estar interessado em revelar o seu preço de
reserva (exemplo: se pretendo comprar um carro e o vendedor me pergunta
qual o meu preço de reserva, eu claramente não estou interessado em
revelar esse preço ao vendedor, ou procuro dizer um preço inferior ao meu
preço de reserva).

30
1.2.2 Preço de reserva

b) O preço de reserva para obter um bem é diferente do preço de transação desse bem.
Preço de reserva é um conceito subjetivo, e o seu verdadeiro valor não tem de ser
comunicado à contraparte na troca. Por sua vez, o preço de transação é o valor
efetivamente contratado.

c) O preço de reserva pode representar/medir ou um benefício económico ou um custo


económico. Daí apresentarem-se duas possibilidades na definição, acima:
preço de reserva como benefício económico: é o preço máximo ou valor máximo
que um agente está disposto a pagar para obter um bem (produto ou serviço),
preço de reserva como custo económico: o valor mínimo que aceitaria para
vender um produto ou prestar um serviço.

31
1.2.2 Preço de reserva

32
1.2.2 Preço de reserva

Exemplo 1.5:
Considere que foi colocado a leilão um telemóvel Nokia Classic 3320, em bom estado
de funcionamento. Sabe-se que o preço de reserva do vendedor é de 45 €. O António
tem interesse no aparelho, sendo o seu preço de reserva de 80 €.
Admita-se que o leilão é presencial e que o objecto é atribuído ao indivíduo que faça
a maior licitação, pelo valor licitado por esse indivíduo. Considere agora que o leilão
tem início e que são feitas sucessivamente várias licitações, a saber: 1ª: 48€; 2ª: 50€;
3ª: 52€; 4ª: 53€. Após a 4ª licitação não ocorre mais nenhuma durante alguns
instantes e coloca-se ao António a decisão de fazer a sua licitação de imediato, sob
pena de este leilão terminar e ser vendido ao indivíduo que licitou por 53€.
a) Será que o António deve licitar um preço igual a 80 €?
b) Admita que o António faz uma licitação por 55€ e que não surgem mais licitações.
Nestas condições há oportunidades de ganho para o comprador (António) e para o
vendedor? Em caso afirmativo, calcule os excedentes económicos do comprador e
do vendedor.
Aplicação do conceito de preço de reserva

Exemplo 1.6 :

Contrato uma empresa de limpezas domésticas para fazer o serviço de limpeza


da minha casa, faço eu a limpeza da casa ou deixo a casa por limpar?

Limpo a casa

Contrato empresa

Não limpo a casa


Não contrato empresa

Este exemplo permite calcular preços de reserva segundo as duas


perspetivas:
- preço de reserva para ser eu a realizar o serviço de limpeza
- preço de reserva para obter este serviço.
34
Aplicação do conceito de preço de reserva

Consideremos a primeira decisão: Limpo eu a casa ou não limpo?

Qual é o meu benefício económico com o serviço de limpeza da casa?

Admita-se que o preço máximo que estou disposto a pagar é de € 10/hora de


trabalho.

Que é que se pode dizer sobre isto?


Se eu digo que o preço máximo que estou disposto a pagar pelo serviço é
de € 10/hora, tal significa que o meu benefício é de, pelo menos, € 10/hora.
Caso eu revele com verdade que o preço máximo que estou disposto a
pagar é de € 10/hora, então o meu benefício é de € 10/hora.

Efetivamente, o meu preço de reserva para obter este serviço é de 10€/hora.

35
Aplicação do conceito de preço de reserva

Qual é o meu custo económico de ser eu a fazer a limpeza da casa?


O custo de oportunidade de ser eu a fazer a limpeza é o valor mínimo que eu
estaria disposto a aceitar para ser eu a limpar a casa.

Vamos supor que ser eu a fazer a limpeza da casa implica que eu deixe de fazer
um trabalho de consultadoria numa empresa, pelo qual a empresa me pagará €
100/hora.
Efetivamente, o preço de reserva para ser eu a realizar o serviço de limpeza é de
€ 100/hora.

Tendo em conta esta informação, e dado que o meu benefício económico


da limpeza (isto é, o benefício de ter a casa limpa) é inferior ao custo
económico de ser eu a limpar a casa, a minha primeira decisão é a de não
limpar eu a casa (embora possa, eventualmente, estar interessada, como
vamos ver em seguida, em contratar uma empresa para o fazer).

36
Aplicação do conceito de preço de reserva

Segue-se agora a segunda decisão: será que vou efetivamente contratar a


empresa de serviços de limpeza doméstica?

Vamos supor que eu telefono a uma empresa e digo à gerente que o preço
máximo que estou disposto a pagar pelo serviço é de € 10/hora de trabalho.

Suponha que, para fazer o serviço, a empresa de limpezas domésticas me pede:


(i) € 8/hora;
(ii) € 16/hora.

Que decisão acham que eu vou tomar?

Com base na informação que temos:


(i) eu contrato a empresa para fazer o serviço;
(ii) eu não contrato a empresa, e eu não faço a limpeza.

37
Conceitos de custo de oportunidade, preço de reserva e
excedente económico

Retomando o conceito de excedente económico,

Exc. Econ. = Benefício Económico Total – Custo Económico Total

em que

Custo Económico Total = Custo de Oportunidade Total

= Custo Implícito + Custo Explícito

38
Aplicação dos conceitos de custo de oportunidade, preço
de reserva e excedente económico

Exemplo 1.7 (Exemplo 1 em Frank & Bernanke, 2003, p.7): Noite do rock ’n’ roll
Eric Clapton (EC) dá um concerto na FEP. Com o meu cartão da Universidade do
Porto beneficio de entrada gratuita. A alternativa que eu considero é assistir, à
mesma hora, a um concerto do Bob Dylan (BD) no Europarque.

Os bilhetes para o concerto do Dylan custam € 30 e eu considero que o tempo


perdido e os incómodos de me deslocar até esse local valem € 10.
Suponha-se ainda que o meu preço de reserva para ouvir o Dylan é de € 50.

Questões:
(i) Qual é o custo de oportunidade de assistir ao concerto do Clapton?
(ii) Suponha-se que o meu preço de reserva para ouvir o Clapton é de € 8.
Qual é o meu custo de oportunidade de assistir ao concerto do Dylan?
A que concerto devo assistir?

39
Aplicação dos conceitos de custo de oportunidade, preço
de reserva e excedente económico

(i) Qual é o custo de oportunidade de assistir ao concerto do Clapton?


Custo Oport. EC = €50 + [ 0 – ( €30 + €10) ] = €10

(ii) Qual é o meu custo de oportunidade por assistir ao concerto do Dylan?


Custo Oport. BD = €8 + [ (€30 + €10 ) – 0 ] = €48

Na medida do custo de oportunidade de uma dada ação/atividade a (versus uma


melhor alternativa b ), iremos incluir dois componentes:
- o benefício (utilidade, satisfação) da melhor alternativa b , i.e., o valor
ação/atividade de que se prescinde,
- a diferença de custo dos recursos utilizados nas duas ações/atividades
alternativas, ou seja:

custo explícito (monetário) dos recursos utilizados na ação/atividade a



custo explícito (monetário) dos recursos utilizados na ação/atividade b

40
Aplicação dos conceitos de custo de oportunidade, preço
de reserva e excedente económico

A que concerto devo assistir?


Uma possibilidade é calcular o excedente económico de cada uma das
alternativas:
Cálculo do custo de oportunidade de cada alternativa:
Custo Oport. EC = €50 – €40 = €10
Custo Oport. BD = €8 + €40 = €48

Cálculo do excedente económico de cada concerto:


Exc. Econ. BD = €50 – €48 = €2
Exc. Econ. EC = €8 – €10 = – €2

Decisão: assistir ao concerto do Bob Dylan.

[ Doutra forma, posso comparar o preço de reserva com o custo de


oportunidade de cada uma das alternativas:
Preço Reserva EC = €8 < Custo Oport. EC = €10
Preço Reserva BD = €50 > Custo Oport. BD = €48
Decisão: assistir ao concerto do Bob Dylan. ]
41
1.2.3. – A) Identificação da alternativa relevante

Custo de oportunidade e identificação da alternativa relevante


Existe uma tendência para se ignorar o valor implícito de atividades que não acontecem. Mas,
uma decisão racional requer que se tenha em conta o valor das atividades de que se
prescinde.

Aviso/Armadilha #1: Quando se faz uma escolha não se devem ignorar os custos implícitos.
Para evitar cair nesta armadilha, devemos pensar sempre naquilo que sacrificamos quando
desenvolvemos uma ação/atividade.

Exemplo 1.8: (adaptado de Frank & Bernanke)


Suponha que a TAP lhe oferece um cupão de passageiro frequente que pode usar para pagar o
bilhete do voo, em alternativa, numa das duas seguintes viagens.
- Viagem #1: Férias em Londres durante uma semana:
Preço de reserva: € 1350
Custo do bilhete: € 500
Outros custos: € 1000

- Viagem #2: Viagem de avião a Paris no fim de semana a seguir às férias em Londres para
assistir ao casamento do irmão:
Custo do bilhete: € 400

Dado que assistir ao casamento do irmão tem um grande valor, já decidiu que irá a Paris
independentemente do cupão ser ou não utilizado nessa viagem.
42
1.2.3. – A) Identificação da alternativa relevante

Questão 1:
a) Calcule o custo de oportunidade de utilizar o cupão de passageiro frequente para ir a
Londres.
b) Diga se deve fazer a viagem a Londres utilizando o cupão de passageiro frequente
ou não deve fazer a viagem a Londres.

a) Por definição, o custo de oportunidade de utilizar o cupão para ir a Londres é igual


ao valor do melhor uso alternativo.
Neste caso, o cupão pode ser utilizado para ir a Paris, logo o custo de oportunidade
de utilizar o cupão para ir a Londres é igual a € 400.

b) Quanto à decisão de fazer a viagem a Londres, temos que calcular o excedente


económico gerado por essa viagem. Considerando o benefício (preço de reserva),
os custos efetivos e o custo de oportunidade do cupão, temos:

EEcon. (Londres) = 1350 – 1000 – 400 = – 50 < 0 .

Logo, não deve fazer a viagem a Londres.


43
1.2.3. – A) Identificação da alternativa relevante

Questão 2:
Suponha que o cupão de passageiro frequente expira no fim da semana de férias
em Londres, pelo que a única utilização possível seria na viagem a Londres.
Calcule o custo de oportunidade de utilizar o cupão de passageiro frequente para ir a
Londres e diga se deve fazer a viagem a Londres ou não.

Neste cenário, o custo de oportunidade de utilizar o cupão para ir a Londres é zero,


visto que não existe utilização alternativa para o cupão. Donde,
EEcon. (Londres) = 1350 – 0 – 1000 = 350 > 0 .

Logo, devo fazer a viagem a Londres.

Notas/comentários:
Como mostra este exemplo, um recurso, ainda que obtido gratuitamente, pode
ter um custo de oportunidade se a sua melhor utilização alternativa tiver valor.
Na aplicação do conceito de custo de oportunidade, nomeadamente no seu
cálculo, devemos identificar com precisão aquilo que deixamos de fazer (ou
seja, de que prescindimos) quando tomamos uma decisão.

44
1.2.3. – B) O valor temporal da riqueza (ou do rendimento)
Notas para reflexão

Até agora falamos em atividades/ações alternativas concorrentes no momento da


decisão, ou seja a escolha de uma atividade hoje implica deixar de fazer uma outra
atividade hoje. O facto de realizarmos uma determinada ação hoje pode significar a
impossibilidade de realizar outra ação no futuro. Para ter em conta de forma
apropriada o valor de oportunidades futuras, é necessário pesar custos e benefícios
futuros contra custos e benefícios presentes.

Preferência temporal: O valor de um bem no futuro é menor do que o valor desse


bem (materialmente igual) hoje. Assim, podemos dizer que o valor de um euro (pago
ou recebido) no futuro é menor do que o valor de um euro (pago ou recebido) hoje.

Consequências deste facto:


O custo de oportunidade de um euro gasto num determinado bem hoje é maior
que o custo de oportunidade de um euro gasto num bem igual daqui a um ano.
O juro é a compensação por prescindir de determinado valor presente, é a
compensação pela espera.
Exemplo: Os juros que o banco paga pelas minhas aplicações de poupança são uma
consequência do custo de oportunidade de prescindir de uma determinada quantia durante
um certo período de tempo.

45
1.2.3. – B) O valor temporal da riqueza (ou do rendimento)
Notas para reflexão

Exemplo 1.9: Imagine que um amigo lhe pediu emprestados € 1000 e comprometeu-
se a pagar-lhe passado um ano. Suponha que os seus € 1000 estão atualmente
aplicados numa conta de poupança a uma taxa anual de 10%, e que continuarão
aplicados do mesmo modo caso não conceda o empréstimo ao seu amigo. Se não
concedesse o empréstimo, iria ter € 1100 no fim do ano.
Qual o custo de oportunidade de fazer o empréstimo ao amigo?

O custo de oportunidade de conceder o empréstimo é igual ao montante dos juros que


seriam obtidos na aplicação no banco, tendo em atenção o seguinte:
esse montante de € 100 é o custo de oportunidade avaliado à data ‘daqui a um
ano’ ;
o custo de oportunidade ‘hoje’ não é de € 100, é menor.

Nota: Quando um empréstimo/depósito se realiza, podemos inferir que ambas as partes beneficiam
desse contrato. Por exemplo, no caso de um empréstimo, o valor de reserva do banco (i.e., menor
dos pagamentos que aceitaria para prescindir desse montante durante um dado período de tempo)
é pelo menos igual ao montante dos juros que o banco irá receber. Por sua vez, para o indivíduo a
quem é concedido o empréstimo, o valor de reserva (i.e., o valor máximo que o indivíduo está
disposto a pagar para dispor desse montante durante um determinado período de tempo) é pelo
menos igual ao montante dos juros que terá de pagar.
46
1.2.4 Distinção entre custo e benefício médio e custo e
benefício marginal

1.2.4 A. Os custos e benefícios relevantes são sempre marginais

Benefício médio: benefício total de produzir/consumir n unidades de um bem


dividido por n.

Benefício marginal: é o benefício adicional (ou o aumento no benefício total)


resultante da produção/consumo de uma unidade adicional de um bem.

Exemplo 1.10:
Suponha que o benefício total de ver 1, 2, 3 e 4 jogos de futebol na TV, num mesmo dia, é igual a
80, 90, 95 e 97, respectivamente.

O benefício marginal de ver o 1º jogo é 80, de ver o 2º jogo é 10, do 3º é 5 e do 4º é 2. Ora, o


benefício médio quando vejo o 1º jogo é 80, quando vejo dois jogos é 45, quando vejo 3 jogos é
31,(6), e quando vejo 4 jogos é 24,25.

Custo médio: custo total de produzir/consumir n unidades de um bem dividido por n.

Custo marginal: custo adicional (ou o aumento no custo total) necessário para
produzir/consumir uma unidade adicional de um bem.
47
1.2.4 – A) Os custos e benefícios relevantes são sempre
marginais

Exemplo 1.11:
Vamos supor que o custo médio de transportar um passageiro de Lisboa a Londres
é de 400 euros. Será lucrativo para a TAP oferecer uma tarifa reduzida de € 300 a
um estudante num voo que não está completamente cheio?

O voo de Lisboa a Londres implica custos: a manutenção do avião, direitos de


aterragem, salários da tripulação, etc. Serão estes custos relevantes para a tomada
desta decisão particular? Não. Porquê? Estes custos têm que ser suportados quer a
TAP decida transportar este estudante ou não.

A questão que a TAP deve colocar é a seguinte: Quais são os custos adicionais para
a TAP de permitir que este estudante faça a viagem pagando € 300 ?

Os custos adicionais são o custo de transportar este estudante: custo de processar o


bilhete, a bebida e os amendoins que são oferecidos e pouco mais. Estes custos
adicionais são designados por custos marginais. Ora, estes custos adicionais com o
transporte do estudante são provavelmente muito reduzidos e inferiores a € 300 .
Logo, a TAP terá vantagem em oferecer a tarifa reduzida ao estudante (em vez de
deixar que o avião voe com esse lugar vazio).

48
1.2.4 – A) Os custos e benefícios relevantes são sempre
marginais

Vamos relembrar o princípio do custo-benefício:


Princípio do custo-benefício: um agente económico deve desenvolver
uma atividade/ação se, e só se, o benefício adicional (benefício marginal)
for maior ou igual ao respetivo custo adicional (custo marginal).

Exercício (Sebenta de Exercícios, Cap.1, Exerc. 4) :


Considere uma empresa organizadora de eventos de verão. Suponha que estamos
em abril de 2012 e a empresa tem uma carteira de encomendas de 5 eventos para
esse verão. A empresa tem todo o interesse em finalizar os contratos com
brevidade. Quanto às receitas, a empresa decide praticar um preço de € 1000 por
evento. Recebidas as encomendas para esta época, os gestores analisam os custos
deste eventos. Considere as estimativas relativas aos custos e receitas totais desta
empresa para 2012, como constam da parte esquerda da Tabela na página
seguinte.

a) Qual será o número ótimo de eventos a realizar por esta empresa?

49
1.2.3 – A) Os custos e benefícios relevantes são sempre
marginais

Excedente
Nº de Custos Receitas
eventos totais do totais do ano Económico Custo Benefício Custo Benefício
organizados ano 12 12 do ano 12 médio médio marginal marginal

(€) (€) (€) (€) (€) (€) (€)

1 600 1 000 400 600 1 000 600 1 000

2 1 100 2 000 900 550 1 000 500 1 000

3 1 500 3 000 1 500 500 1 000 400 1 000

4 2 400 4 000 1 600 600 1 000 900 1 000

5 3 500 5 000 1 500 700 1 000 1 100 1 000

Neste exemplo, o número ótimo de eventos seria 4.


O princípio do custo-benefício implica que o nível de uma atividade deve ser aumentado
se, e só se, o benefício marginal for superior ou igual ao custo marginal. Relativamente ao
4º evento, temos: B Mg = 1000 ≥ C Mg = 900. A partir daí, o custo marginal excede o
benefício marginal. Com efeito, como 5º evento tem um benefício marginal menor do que
o custo marginal, a empresa não deve realizá-lo.
Esse número de eventos (4) proporciona à empresa o excedente económico máximo.
50
1.2.4 – A) Os custos e benefícios relevantes são sempre
marginais

Nota: Repare-se que o benefício médio da empresa quando organiza 5 eventos é


superior ao custo médio correspondente.

b) Entretanto, depois de feito aquele plano de atividades e tomada a decisão


(que vimos na alínea a)), surge uma proposta para organizar mais um
evento. Supondo que a receita adicional é de € 1000, discuta em que
condições deverá a empresa aceitar ou recusar a proposta.
Se surge uma nova proposta para organizar um evento cuja receita é de € 1000, a
empresa só deverá realizar este novo contrato se o custo adicional for no máximo de
€ 1000, isto é, se Bmg ≥ Cmg .
Se o custo adicional é de € 1100: neste caso, o excedente económico marginal (a
variação do excedente económico) é de - € 100 ; o excedente económico esperado
da empresa para 2012 diminui.
Se o custo adicional é de € 800: o excedente económico marginal (a variação do
excedente económico) é de € 200; o excedente económico esperado da empresa
aumenta.

Aviso/Armadilha #2: Para a tomada de decisão sobre uma


ação/atividade, os custos e benefícios relevantes são sempre
marginais. 51
1.2.3 – A) Os custos e benefícios relevantes são sempre
marginais

Notas:
De acordo com o princípio do custo-benefício, os únicos custos e benefícios relevantes
na tomada de decisão de desenvolver ou não uma determinada ação/atividade são os
custos e benefícios marginais, isto é, os que correspondem ao incremento da atividade
em causa - e não os custos e benefícios médios.

A natureza de um certo custo ou benefício ser marginal (ou não) vai depender do
problema económico que está presente.
Não há nada de intrínseco ao custo (por ex., se ocorre uma só vez ou se é
recorrente) ou ao recurso (por ex., se é material ou se é imaterial) que defina a sua
natureza de marginal ou não.
É o problema económico que vai permitir identificar se um dado custo é relevante,
i.e., se para o problema em causa esse custo é marginal. Por exemplo,
considerem-se as seguintes três decisões:
i. hoje: decidir se se investe, ou não, no TGV
ii. daqui a 10 anos: decidir se se adquire, ou não, uma nova composição
iii. daqui a 11 anos: decidir se se realiza uma nova viagem diária Porto-Vigo-Porto, ou não.

Quando o incremento de uma atividade em uma unidade tem um benefício marginal


superior ao custo marginal, então o benefício total aumenta mais do que o custo total.
Logo, o excedente económico aumenta.
52
1.2.4 – B) Custos fixos e custos variáveis

1.2.4. B - Custos fixos e custos variáveis

A distinção entre custos médios e custos marginais exige que se distingam


custos fixos de custos variáveis.

Custos fixos: são custos que não variam com o nível de uma atividade
(por exemplo, com a quantidade produzida de um bem por uma empresa).

Custos variáveis: são custos que variam com o nível de atividade.

Exemplo 1.12:
i. O valor mensal pago pela inscrição num ginásio não varia com o número de vezes
que vou ao ginásio. Logo, para efeito da tomada de decisão sobre se hoje vou ao
ginásio, ou não, a mensalidade é um custo fixo.
ii. Muitos ginásios têm campos de ténis pelos quais cobram à hora. Uma vez que o
montante que tenho que pagar varia com o número de horas que jogo ténis, para
efeito da tomada de decisão sobre se jogo ténis, ou não, o montante a pagar é um
custo variável.

53
1.2.3 – B) Custos fixos e custos variáveis

iii. Se já sou membro do ginásio e estou a considerar quantas vezes por semana irei
jogar ténis, então a mensalidade é um custo fixo. Este custo é irrelevante para esta
decisão e deve ser ignorado. Devo ter apenas em conta o preço por hora que tenho
de pagar; este preço ( €/hora) é igual ao custo adicional resultante de jogar mais
uma hora de ténis. Assim, este custo é variável.

Por definição de custo médio e custo marginal:


o custo médio incorpora todos os custos, tenham eles natureza de custos fixos
ou variáveis,
o custo marginal incorpora apenas custos variáveis.

54
1.2.4 Custo de oportunidade e custo afundado (irreversível ou irrecuperável)

Custo afundado: é um custo que não tem recuperação no momento da


tomada de decisão.

Quando um dado custo ocorre quer a ação seja levada a cabo ou não, esse custo é
irrelevante para a tomada de decisão (de efetuar ou não a ação). Os únicos custos
que devemos considerar quando tomamos uma decisão sobre efetuar, ou não, uma
ação são aqueles que podemos evitar ao não efetuar a ação.

Os custos afundados são irrecuperáveis ou irreversíveis, no momento da tomada de


decisão de levar a cabo uma certa ação/atividade.

Se um recurso utilizado numa dada ação/atividade (por ex., numa empresa ou na


produção de um bem) teve um custo que não é recuperável no momento da decisão
(por ex., determinar o nível de produção ótimo), então o custo de oportunidade do
uso desse recurso é nulo.

55
1.2.5 Custo de oportunidade e custo afundado

Exemplo 1.13 (Frank e Bernanke, 2003, página 37) :

Flor do Ganges, um novo restaurante indiano, oferece uma refeição à


discrição por € 5. Os clientes pagam € 5 à entrada e, independentemente
das vezes que se servirem, não existem custos adicionais. Certo dia, o
dono do restaurante informa 20 clientes seleccionados ao acaso que as
suas refeições serão oferta da casa. Os restantes clientes pagam o preço
habitual. Se todos forem racionais, haverá alguma diferença na quantidade
média de comida ingerida pelas pessoas nestes dois grupos?

Qualquer indivíduo, independentemente do grupo a que pertence, deve


colocar a seguinte questão: “Devo servir-me mais uma vez ou não?”.

De acordo com o princípio do custo – benefício, a decisão do indivíduo


será servir-se mais uma vez se, e só se, o benefício marginal for maior ou
igual do que o custo marginal.

56
1.2.5 Custo de oportunidade e custo afundado

No caso de um indivíduo que não pagou nada, o custo marginal de se


servir mais uma vez é zero. E no caso de um indivíduo que pagou os € 5?

Note-se que, quando esta decisão está a ser tomada, os € 5 são (já) um
custo afundado, porque não há qualquer hipótese de serem recuperados.
Desta forma, para ambos os grupos, o custo adicional de se servir
novamente é zero. Então, para ambos os grupos, um indivíduo deve servir-
se mais uma vez se o benefício marginal for superior a zero. Admitindo
apetites iguais (supondo seleção aleatória do primeiro grupo), não há
qualquer razão para que não se sirvam, em média, o mesmo número de
vezes.

No entanto, estudos conduzidos apontam para o facto de as pessoas que


pagaram tenderem a servir-se mais vezes, no sentido de minimizar o custo
médio de cada garfada. Mas, racionalmente, o conceito relevante é o de
custo marginal. Deste modo, os custos afundados não devem ser
considerados.

57
1.2.5 Custo de oportunidade e custo afundado

Trabalho de casa (Sebenta de Exercícios, Cap.1, exerc. 2) :


Imagine que o Luís comprou um bilhete para um concerto na próxima sexta-
feira, no valor de € 20. Quando chega o dia do concerto, o Luís apercebe-se
que vai passar na televisão um jogo de futebol que queria muito ver.

Tomemos em conta a seguinte informação adicional:


• o preço de reserva de assistir ao jogo de futebol (PRes. Fut.) é de € 25,
• o preço de reserva de assistir ao concerto (PRes. Conc.) é de € 30,
• a ida ao concerto tem um custo do transporte de € 2,
• vamos supor que o Luís não tem a possibilidade de revender o bilhete.

Admitindo que o Luís só considera estas duas alternativas para a ocupação


do seu tempo nessa sexta-feira à noite:
a) Deverá o Luís ir ao concerto ou ficar em casa a ver o jogo?
b) Suponhamos agora que o Luís não comprou o bilhete antecipadamente. Nesse
caso, deverá o Luís ir ao concerto ou ficar em casa a ver o jogo?

58
1.2.5 Custo de oportunidade e custo afundado

(a) Presume-se que o custo de oportunidade do tempo é igual em ambos os casos e


pode, portanto, ser ignorado.

O preço de reserva de assistir ao jogo de futebol (PRes. Fut.) é de €25.


O preço de reserva de assistir ao concerto (PRes. Conc.) é de €30 mas, neste caso,
ainda há que suportar o custo do transporte que é de €2.

COport. Conc. = 25 + 2 = 27
COport. Fut. = 30 – 2 = 28

Porque não se deve incluir os € 20 no cálculo do COport. ? Os € 20 são um custo


afundado, que o Luís não pode recuperar quer vá ao concerto quer não vá, logo não
devem ser considerados.

EEcon. Conc. = 30 – 27 = 3
EEcon. Fut. = 25 – 28 = – 3

O Luís deve ir ao concerto.

59
1.2.5 Custo de oportunidade e custo afundado

(b)
Se o Luís não tivesse comprado o bilhete antecipadamente:

COport. Conc. = 25 + 2 + 20 = 47 e EEcon. Conc. = 30 – 47 = - 17


COport. Fut. = 30 – 2 – 20 = 8 e EEcon. Fut. = 25 – 8 = 17

Neste caso, o Luís deveria ver o jogo de futebol.

Assim, antes de comprar o bilhete, a decisão mais racional seria ficar em


casa; depois de comprar o bilhete, dado o custo afundado, seria racional ir
ao concerto.

Aviso/Armadilha #3: Devemos ignorar os custos afundados


quando tomamos uma decisão sobre efetuar ou não efetuar uma
ação.

60
1.2.5 Custo de oportunidade e custo afundado

Notas:
(i) Uma vez que um custo afundado é irrecuperável, não pode variar com o
nível de atividade. Por isso, todos os custos afundados são custos fixos.

Consideremos uma empresa que decidiu criar uma nova marca de um produto e que
vai fazer uma campanha publicitária de lançamento. Os gastos na campanha são um
custo fixo. São também um custo afundado. Quer a empresa continue a produzir essa
marca, quer a empresa abandone a produção dessa marca, quer a empresa continue
em operação, quer a empresa deixe de estar no mercado, o custo da campanha
publicitária é irreversível. A empresa não pode recuperar a despesa efetuada; assim,
o custo da campanha publicitária é um custo afundado.

(ii) Nem todos os custos fixos são custos afundados. Por exemplo:

Consideremos que o valor mensal pago para frequentar um ginásio não varia com o
número de vezes que se vai ao ginásio. Este pagamento é um custo fixo. Este custo
é também afundado. Contudo, se o ginásio oferecer um período experimental,
durante o qual a inscrição pode ser cancelada com reembolso total, então a quota
mensal é um custo fixo mas não é um custo afundado.
61
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Nas sociedades ditas industrializadas, um indivíduo consome uma variedade enorme


de bens (produtos e serviços): batatas, cebolas, queijo, vestuário, calçado, mobília,
carro, PC, habitação, limpeza, etc. No entanto, o indivíduo não produz todos estes
bens, ou seja, ele não faz uma afetação do seu tempo de trabalho à produção de
todos estes bens.

Geralmente, cada indivíduo ou família vai especializar-se na produção de certos


bens (e.g., uns especializam-se na docência e investigação, outros na prestação de
serviços de saúde, outros na construção de casas, etc.) e vai satisfazer as suas
necessidades recorrendo a transações de bens nos mercados.

Esta forma de organização económica baseada na especialização e na troca de


bens é mais produtiva (no sentido de que se produz uma maior quantidade de bens)
do que sistemas económicos em que a especialização é fraca; esse é o caso de
sociedades em que predomina a organização da vida económica com base na
família ou na tribo, em que cada indivíduo realiza uma variedade de tarefas
produtivas, i.e., em que cada um é “um homem dos sete ofícios”.

62
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

O objetivo deste ponto é explicar como é que sociedades baseadas na


especialização e na troca de bens são mais produtivas do que sociedades
em que cada um produz a maior parte dos bens que consome.

Que é que isto tem a ver com os conceitos de que temos vindo a falar?
Com efeito, vamos utilizar os conceitos e princípios económicos estudados até aqui
para compreender como é que a sociedade (e cada um dos indivíduos) vai melhorar
o seu nível de satisfação quando cada um se concentra naquilo em que consegue
ser – relativamente – melhor do que os outros. A especialização de acordo com as
vantagens relativas aumenta a produção e o consumo numa sociedade.

O princípio da escassez diz-nos que o custo de oportunidade de gastar


mais tempo numa atividade é ficar com menos tempo disponível para
outras atividades.

63
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Exemplo 1.14
Considere-se uma economia constituída apenas por uma só pessoa, a Maria, que
afeta o seu tempo de trabalho à produção de café e de nozes. A Maria demora 20
minutos a apanhar um quilo de nozes e 40 minutos a apanhar um quilo de café.
Admita que, nesta economia, à Maria se vem juntar o Tomás. que demora 80
minutos quer para apanhar um quilo de café, quer para apanhar um quilo de nozes.

Tempo que demora a Tempo que demora a


apanhar um kg de apanhar um kg de
nozes café
Maria 20 min 40 min
Tomás 80 min 80 min

64
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Definição de vantagem absoluta:


Um agente económico tem vantagem absoluta em relação a outro numa dada
atividade, se demorar menos tempo a realizar essa atividade, isto é, se for mais
eficiente ou mais produtivo na realização dessa atividade.

Notas:
A Maria demora menos tempo a executar ambas as tarefas. Então, a Maria tem
uma vantagem absoluta sobre o Tomás em ambas as atividades.
A vantagem absoluta pode ser analisada em termos de produtividade, ou seja, a
quantidade de um bem produzida por unidade de tempo. Ou seja, a informação
contida na tabela anterior pode ser apresentada do seguinte modo:

Produtividade a Produtividade a
apanhar nozes apanhar café
Maria 3 kg nozes / hora 1,5 kg de café / hora
Tomás 0,75 kg nozes / hora 0, 75 kg de café / hora

65
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Dado que a Maria é mais produtiva na realização de ambas as tarefas, a Maria tem
uma vantagem absoluta sobre o Tomás em ambas as atividades.

Questão: Será que isto significa que a Maria deve efetuar ambas as tarefas?

Para responder a esta questão, vamos calcular o custo de oportunidade da Maria e


do Tomás na realização de cada uma das tarefas:

Custo de oportunidade de apanhar um quilo de nozes:


- da Maria:
COport. Maria (apanhar um quilo de nozes) = 0,5 quilos de café

- do Tomás:
COport. Tomás (apanhar um quilo de nozes) = 1 quilo de café

66
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Custo de Custo de
oportunidade de oportunidade de
apanhar um quilo de apanhar um quilo de
nozes café
Maria 0,5 kg de café 2 kg de nozes
Tomás 1 kg de café 1 kg de nozes

O custo de oportunidade do Tomás de apanhar um quilo de café é inferior ao custo


de oportunidade da Maria de apanhar um quilo de café.

Definição de vantagem comparativa: um indivíduo tem uma vantagem


comparativa em relação a outro se o custo de oportunidade de realizar uma
determinada atividade económica for mais baixo que o custo de oportunidade do
outro indivíduo, isto é, se for relativamente mais eficiente nessa atividade que o
outro agente.

67
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Diz-se que o Tomás tem uma vantagem comparativa sobre a Maria na


colheita de café, porque o seu custo de oportunidade de executar esta
tarefa é menor do que o da Maria. O Tomás é relativamente mais produtivo
do que a Maria na colheita de café, porque o seu custo de oportunidade de
executar esta tarefa é menor do que o da Maria (ou seja, quando se dedica
à atividade de colheita de café, aquilo que o Tomás deixa de produzir é
menor do que aquilo que a Maria deixa de produzir).

O custo de oportunidade da Maria apanhar nozes é inferior ao custo de


oportunidade do Tomás apanhar nozes. Então, a Maria tem uma
vantagem comparativa sobre o Tomás em apanhar nozes, porque o seu
custo de oportunidade de executar esta tarefa é menor do que o do Tomás.

68
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

A existência de vantagem comparativa torna a especialização das atividades


económicas mais produtiva, isto é, se cada agente se especializar na atividade em
que tem vantagem comparativa, a quantidade produzida de todos os bens será
maior.

Se ambos se dedicarem às duas atividades, o número total de quilos de nozes e de


café colhidos será menor do que se cada um se especializar na tarefa em que tem
vantagem comparativa.

Exercício:
Consideremos um dia de trabalho de 8 horas. Vamos considerar os
seguintes cenários.

69
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Cenário 1: Especializam-se de acordo com as suas vantagens comparativas:

Quilos de nozes Quilos de


colhidos café colhidos
Maria 24
Tomás 6
Total 24 6

Cenário 2: Outros critérios de afetação


Por exemplo, admita que ambos decidem produzir diariamente 6Kg de café e o Tomás
decide afetar 50% do seu tempo de trabalho a cada uma das atividades.

Quilos de nozes Quilos de café


colhidos colhidos
Maria 18 3
Tomás 3 3
Total 21 6 70
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Trabalho para casa (Frank & Bernanke, 2003, página 51) :


Suponha que existe uma pequena comunidade onde a Paula é a única mecânica de
bicicletas e Bela a única pessoa a trabalhar como programadora em HTML.
Contudo, ambas conseguem desempenhar as duas tarefas que são igualmente
agradáveis para ambas. Considere a seguinte tabela com o tempo que cada uma
delas dedica a realizar cada uma das tarefas:

Tempo a atualizar Tempo a reparar


uma página da bicicletas
internet
Paula 20 minutos 10 minutos
Bela 30 minutos 30 minutos

71
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

a) Quem tem vantagem absoluta a programar? e a reparar bicicletas?

Produtividade a Produtividade a
programar reparar bicicletas
Paula 3 páginas / hora 6 reparações / hora
Bela 2 páginas / hora 2 reparações / hora
Dado que a Paula é mais produtiva na realização de ambas as tarefas, a Paula tem
uma vantagem absoluta sobre a Bela em ambas as atividades.

b) Quem deve programar? e reparar bicicletas?

CO de atualizar uma CO de reparar


página bicicletas
Paula 2 bicicletas reparadas 0,5 páginas atualizadas
Bela 1 bicicleta reparada 1 página atualizada

O custo de oportunidade da Bela de atualizar uma página da Internet é inferior ao


custo de oportunidade da Paula de atualizar uma página da Internet. A Bela deve
programar e a Paula deve reparar bicicletas. 72
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

c) Admita um dia de trabalho com 8 horas. Suponha que, num dado dia de trabalho, há
16 pedidos de atualização de páginas da Internet a satisfazer prioritariamente e que
há um grande número de bicicletas para reparar.
Admitindo que repartem as atividades entre si de acordo com o princípio das
vantagens comparativas, quantas bicicletas serão reparadas?

Atualizações de Reparações de
páginas bicicletas
Paula 48
Bela 16
Total 16 48

73
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Mostre que o número de bicicletas reparadas será menor, se a Paula repartir


igualmente o seu tempo pelas duas atividades e se a Bela distribuir o seu tempo de
forma a que todos os pedidos de páginas de Internet sejam satisfeitos,.

A Paula atualiza 12 páginas (4horas) e repara 24 bicicletas (4 horas)

A Bela precisa de 2 horas para atualizar as 4 restantes páginas e o tempo


que sobra permite-lhe reparar 12 bicicletas.

Atualizações de Reparações de
páginas bicicletas
Paula 12 24
Bela 4 12
Total 16 36

74
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Mostre ainda que o número de bicicletas reparadas será menor, se a Bela repartir
igualmente o seu tempo pelas duas atividades e se a Paula distribuir o seu tempo de
forma a que todos os pedidos de páginas de Internet sejam satisfeitos.

Atualizações de Reparações de
páginas bicicletas
Paula 8 32
Bela 8 8
Total 16 40

O número de bicicletas reparadas é superior no cenário de especialização de acordo


com o princípio da vantagem comparativa do que em qualquer outro (48 > 40 > 36).

75
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Trabalho para casa (Sebenta de Exercícios, Cap.1, exerc. 7) :

Duas costureiras, A e B, podem afetar o seu tempo de trabalho à confecção de


calças e/ou de camisas. A tabela seguinte dá-nos informação quanto ao número de
peças de cada um dos produtos confeccionadas por cada uma das costureiras:

Produto Costureira Costureira


A B

Calças 2/hora 1/hora

Camisas 1/hora 2/hora

a) Defina vantagem absoluta e vantagem relativa.


b) Identifique qual das duas costureiras tem:
b.1) Vantagem absoluta na produção de calças?
b.2) Vantagem absoluta na produção de camisas?
b.3) Vantagem relativa na produção de calças? 76
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

c) Suponha que cada costureira trabalha 8 horas por dia.


c.1) Admita que cada costureira afecta 50% do seu tempo de trabalho a
produzir cada tipo de peça de vestuário.
Qual a produção diária conjunta de cada tipo de peça?
c.2) Admita que o tempo de ambas é afetado de acordo com o princípio
das vantagens comparativas.
Qual a produção diária conjunta de cada tipo de peça?
c.3) Comente os resultados obtidos nas alíneas c.1) e c.2).

77
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Tópicos de Resolução
b.1) Vantagem absoluta na produção de calças? (Costureira A)
b.2) Vantagem absoluta na produção de camisas? (Costureira B)
b.3) Vantagem relativa na produção de calças?

A B
Calças 30 minutos 60 minutos
Camisas 60 minutos 30 minutos
COport. A (1 unidade de calças) = 0,5 unidades de camisas
COport. B (1 unidade de calças) = 2 unidades de camisas
(Costureira A)
b.4) Vantagem relativa na produção de camisas?
COport. A (1 unid. camisas) = 2 unid. calças
COport. B (1 unid. camisas) = 0,5 unid. calças
(Costureira B)

78
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

c) Suponha que cada costureira trabalha 8 horas por dia.


c.1) Admita que cada costureira afecta 50% do seu tempo de trabalho a
produzir cada tipo de peça de vestuário.
Qual a produção diária conjunta de cada tipo de peça?
(Calças: 12 ; Camisas: 12)

c.2) Admita que o tempo de ambas é afetado de acordo com o princípio


das vantagens comparativas.
Qual a produção diária conjunta de cada tipo de peça?
(Calças: 16 ; Camisas: 16)

c.3) Comente os resultados obtidos nas alíneas c.1) e c.2).

(a especialização aumenta a produção diária)

79
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Princípio da vantagem comparativa: o desempenho de um agente


económico é melhor se ele se concentrar na atividade (ou nas atividades)
em que o seu custo de oportunidade é mais baixo relativamente ao dos
outros agentes.

Ou seja, quando dois agentes económicos têm diferentes custos de


oportunidade na realização de várias atividades podem aumentar o valor
total dos bens produzidos em conjunto se se concentrarem nas atividades
em que são relativamente mais produtivos ou eficientes.

Notas:
Este princípio tem aplicação a um indivíduo, família, organização produtiva,
país.
O princípio da vantagem comparativa está na base da especialização e das
trocas de mercado.
A vantagem comparativa implica que a especialização é favorável mesmo
quando um dos agentes envolvidos tem vantagem absoluta em todas as
atividades. 80
1.3 Vantagem absoluta e vantagem comparativa

Os ganhos da especialização vão depender não só da existência de mercados para


a troca, assim como do modo como esses mercados estão organizados e
funcionam. De qualquer modo, os ganhos com a especialização são maiores quando
as diferenças nos custos de oportunidade são maiores e quando os agentes gozam
de vantagem absoluta nas respetivas especialidades.

As fontes da vantagem comparativa podem ser:


para um indivíduo ou família: talentos, educação, formação e experiência em
determinadas atividades e profissões
para uma organização ou empresa: capacidades tecnológicas e de mercado
para as nações: dotação de recursos naturais, geografia e topografia, clima,
organização institucional, cultura.

Mas a especialização também tem custos:


- rotina na atividade económica;
- não-aprendizagem e não realização de inúmeras tarefas alternativas, o que
se traduz num maior grau de interdependência dos indivíduos na sociedade.

81
1.4 A curva (ou fronteira) das possibilidades de produção

Curva de Possibilidades de Produção (CPP): as quantidades máximas


de produção que podem ser obtidas numa economia num determinado
período de tempo, dada a quantidade de recursos/fatores produtivos e a
tecnologia disponível.

A. Uma economia de uma pessoa

Exemplo 1.14 (continuação): Admitindo que a Maria trabalha um total de


8 horas por dia, o gráfico seguinte mostra, para cada nível de produção de
nozes, a quantidade máxima de café que a Maria pode colher. Como
produz uma quantidade de cada bem que é exatamente proporcional ao
tempo que ela dedica a fazê-lo, pode traçar-se uma linha reta:

82
1.4 A curva das possibilidades de produção

C = 12 – 0,5 N

83
1.4 A curva das possibilidades de produção

Questão: O que representa o valor absoluto do declive da CPP?


ordenada na origem 12 kg de café / dia
Valor absoluto do declive = = =
abcissa na origem 24 kg de nozes / dia

=
0,5 kg de café = Perda em café =
1 kg de nozes Ganho em nozes

= COport. da produção de um kg adicional de nozes.

Para produzir 24 kg de nozes a Maria tem de sacrificar 12 quilos de café. Por cada kg
adicional de nozes, a Maria deixa de produzir 0,5 kg de café. Isto significa que o custo de
oportunidade de um kg adicional de nozes para a Maria é constante e igual a 0,5 kg de café.

O declive, em valor absoluto, representa o custo de oportunidade do bem que está


representado no eixo das abcissas.
Perda em nozes 2 kg de nozes
Por outro lado: COport. Café = =
Ganho em café 1 kg de café
Ou seja, para produzir 1 kg adicional de café, a Maria deixa de produzir 2 kg de nozes.

A CPP ilustra o princípio da escassez: como os recursos ao nosso dispor são limitados ter
mais de uma coisa significa geralmente termos menos de outra. 84
1.4 A curva das possibilidades de produção

B. Uma economia de duas pessoas

Pode construir-se a curva de possibilidades de produção do Tomás de


forma semelhante à adotada para a da Maria.

Café A
(kg/dia) 12

Produtividade
9 CPP da Maria
6
Nozes Café C
3
Maria 3 kg / hora 1,5 kg / hora

Tomás 0,75 kg / hora 0,75 kg / hora CPP do Tomás D

0
6 18 24
Nozes
(kg/dia)

85
1.4 A curva das possibilidades de produção

Em termos absolutos, o Tomás é menos produtivo que a Maria em ambas


as atividades, o que se reflete nos pontos de intersecção com os dois
eixos.
Custo de oportunidade
Porém: 1 kg nozes 1 kg de café
Maria 0,5 kg de café 2 kg de nozes
Tomás 1 kg de café 1 kg de nozes

Em termos relativos, o Tomás é mais eficiente na colheita de café do que


a Maria, dado que tem um custo de oportunidade na produção de café
menor do que a Maria. Para produzir um kg adicional de café, o Tomás
sacrifica apenas um kg de nozes enquanto a Maria sacrifica 2 kg de
nozes.

86
1.4 A curva das possibilidades de produção

O reverso é que, para o Tomás, o custo de oportunidade de 1 kg adicional de


nozes é maior.
Tal reflete-se na inclinação das suas curvas de possibilidades de produção:

Para o Tomás:

∆ Qcafé 1 kg de café
COport. (Tomás) nozes = | | = 1 kg de nozes
∆ Qnozes

Para a Maria:
∆ Qcafé 0 ,5 kg de café
COport. (Maria) nozes = | | =
∆ Qnozes 1 kg de nozes

Conclusão:
- O Tomás tem vantagem comparativa na colheita de café (em relação à Maria).
- A Maria tem vantagem comparativa na colheita de nozes (em relação ao Tomás).

87
1.4 A curva das possibilidades de produção

Questão: No caso de considerarmos a atividade conjunta dos dois indivíduos, qual


será a Curva de Possibilidades de Produção diária desta economia ?

Vamos começar por admitir que ambos dedicam 8 horas/dia, exclusivamente à


colheita de café. Num dia, a Maria colhe 12 kg de café e o Tomás colhe 6 kg de
café, implicando uma colheita total de 18 kg de café por dia. A economia está no
ponto A : (0,18).

Vamos supor que decidem colher algumas nozes. Como devem organizar o tempo
de trabalho de cada um deles entre as duas atividades?
A Maria tem um custo de oportunidade na colheita de nozes menor que o Tomás.
Logo, partindo da situação extrema em que ambos produzem café (Ponto A), se
quiserem passar a produzir nozes deve ser a Maria a assegurar a recolha de nozes.
Supondo que a Maria passa a afetar 2 horas à colheita de nozes por dia e 6 horas à
colheita de café; e que o Tomás continua a dedicar-se exclusivamente à colheita de
café. Em conjunto produzem (Ponto B):
- Nozes: 6 kg /dia
- Café: 9 kg + 6 kg = 15 kg/dia

88
1.4 A curva das possibilidades de produção

Relativamente ao ponto A, ganham 6 kg de nozes/dia e perdem 3 kg de café/dia. Esta


perda em café e o ganho em nozes reflete o custo de oportunidade da Maria de obter
um kg adicional de nozes, que é 0,5 kg de café.

Reduzindo sucessivamente o tempo da Maria dedicado à recolha de café, atingimos o


ponto em que ela se dedica exclusivamente à colheita de nozes. Neste segmento, a
inclinação da CPP é dada pelo COport. da produção de um kg de nozes por parte da
Maria.

Chega-se à situação de especialização total ou máxima: o Tomás só se dedica à


colheita de café e a Maria à de nozes. Neste caso, a produção conjunta é de 24 kg de
nozes/dia e de 6 kg de café/dia: ponto C.

A partir do ponto C, se quiserem aumentar a colheita de nozes, o Tomás também terá


que afetar o seu tempo à produção desse bem: um aumento na colheita de nozes terá
que ser feito à custa do tempo de trabalho do Tomás. Mas ao fazer isto, por cada kg
adicional de nozes, deixa de ser produzido 1 kg de café. Então, o declive da reta altera-
se no ponto C. À direita do ponto C, a inclinação, em valor absoluto, é dada pelo custo
de oportunidade do Tomás: 1, ou seja, 1 kg de café/ 1 kg nozes.

À esquerda do ponto C, o declive em valor absoluto é igual ao COport. da Maria de


obter 1 kg adicional de nozes.
89
1.4 A curva das possibilidades de produção

Supondo, por fim, que ambos se dedicam exclusivamente à produção de nozes, a


produção/colheita conjunta é: 0 kg de café e 30 kg de nozes (abcissa na origem):
ponto D.
Repare-se que agora a CPP não é uma linha reta. A forma arqueada da CPP de
uma economia de duas pessoas é consequência das diferenças nos custos de
oportunidade individuais. Note-se que o declive do segmento CD, em valor absoluto,
é maior que o declive do segmento AC. Tal reflete o Princípio do custo de
oportunidade crescente.

A
18
Café B
(kg/dia)
15 E CPP da Maria e do Tomás
12

C
C: Ponto de especialização
6 máxima
D

0 6 12 24 30
Nozes
(kg/dia) 90
1.4 A curva das possibilidades de produção

Café
(kg/dia) A
CPP da Maria e do Tomás
Café 18
(kg/dia)

E
12 12
CPP da Maria
C
6

24 0 12 24 30
Nozes
Nozes (kg/dia)
Café (kg/dia)
(kg/dia)

CPP do Tomás

Nozes
6 91
(kg/dia)
1.4 A curva das possibilidades de produção

Princípio do custo de oportunidade crescente: Para aumentar a produção


de um bem, devem ser transferidos para essa atividade os recursos que têm
custos de oportunidade mais baixos, ou seja, os recursos que têm vantagem
comparativa nessa atividade. Assim, aumentos progressivos na produção de
um bem implicam o uso de recursos com custos de oportunidade cada vez
mais altos.

Isto implica que a CPP tenha uma forma arqueada (côncava relativamente à
origem) uma vez que o seu declive é igual ao custo de oportunidade de
produzir uma unidade do bem x, medido em unidades do bem Y.

A CPP da economia foi construída com base em três princípios: princípio da


escassez, princípio da vantagem comparativa e princípio do custo de
oportunidade crescente.

92
1.4 A curva das possibilidades de produção

Vejamos agora como a especialização com base na vantagem comparativa


(diferença nos custos de oportunidade) gera ganhos para a economia como
um todo:

Se admitirmos que a Maria e o Tomás decidiam produzir 12 kg de café/dia e


12 kg de nozes/dia, de que modo devem eles dividir o tempo de trabalho?

A CPP da economia diz-nos que a economia está no ponto E = (12, 12). Neste ponto, o
Tomás gasta 8 horas na produção de café, produzindo 6 kg de café por dia. A Maria
terá de recolher os 6 kg de café restantes, para o que necessita de 4 horas. As 4 horas
restantes são utilizadas a apanhar nozes (12 kg). Esta divisão do trabalho foi feita com
base nos princípios da vantagem comparativa e do custo de oportunidade crescente.
Supondo que ambos não seguem estes princípios e decidem dividir o seu tempo de
modo que a produção de cada um deles consiste em metade de nozes e metade de
café. O Tomás produz 3 kg de nozes/dia e 3 kg de café/dia. A Maria tem de dedicar à
colheita de café o dobro do tempo dedicado à colheita de nozes. Produz 8 kg de
nozes/dia e 8 kg de café/dia. A produção diária conjunta é de menos um quilo de cada
bem por dia
93
1.4 A curva das possibilidades de produção

C. Uma economia com muitas pessoas

Os bens que são consumidos de modo a satisfazer necessidades humanas


dificilmente se encontram já disponíveis; normalmente, têm de sofrer alterações que
os tornem aptos a satisfazer as necessidades humanas. A produção faz-se a partir
dos fatores produtivos/recursos e dos bens intermédios.

Como gerir os recursos limitados? Como afetar os recursos à produção de bens?


Usos alternativos de recursos por uma sociedade/país ⇒ Possibilidades de
Produção de Bens. A sociedade tem que decidir:

O quê? - qual o conjunto de bens a produzir?


Como? - quais as técnicas de produção a selecionar?
Para quem? - quem consome os bens?

Esta economia conta com um montante fixo de recursos (terra, trabalho e capital) e
com uma dada tecnologia disponível (inclui o conhecimento tecnológico dos
indivíduos).

94
1.4 A curva das possibilidades de produção

A título de exemplo, admita-se que nessa economia se produz apenas pão


(satisfação de necessidades de alimentação) e livros (satisfação de necessidades de
cultura). Ver figura no slide seguinte.

Várias combinações são possíveis (em abstrato):


A montante máximo de pão, dada a tecnologia e os recursos disponíveis
(todos os recursos estão afetos à produção de pão)
B determinado montante de livros e de pão
C montante máximo de livros, dada a tecnologia e os recursos disponíveis
(todos os recursos estão afetos à produção de livros; admitindo que a
alimentação é essencial à vida e que os alimentos não são um bem livre, este
ponto tem apenas um interesse abstrato; se a economia tivesse trocas com o
exterior, então podíamos supor que o pão provinha do exterior, em troca de
livros – mas não é esse o caso aqui).

Fronteira (ou Curva) de Possibilidades de Produção: Lugar geométrico das


combinações das quantidades máximas de produção de bens que podem ser
obtidas numa economia durante um certo período de tempo, dadas a dotação de
recursos e a tecnologia disponível.

95
1.4 A curva das possibilidades de produção

Em cada ponto da fronteira de produção, a utilização dos recursos é feita de


modo racional:
são utilizados todos os recursos, não havendo desperdício
– emprego pleno dos recursos
os recursos afetos a cada produção são os mais adequados a essa
produção (princípio do custo de oportunidade crescente), sendo utilizados da
melhor maneira possível na produção de bens
– emprego ótimo dos recursos.

A
Curva de possibilidades de produção
Pão (unidades/ano)

B
Conjunto de possibilidades de produção

C
Livros 96
(unidades/ano)
1.4 A curva das possibilidades de produção

Características da curva/fronteira de possibilidades de produção


a) Negativamente inclinada:
Reflete o princípio da escassez: não é possível produzir mais de um bem sem
sacrificar a produção de outro bem, porque os recursos são escassos. O custo
de oportunidade de produzir mais pão é a igual ao número de livros que se
deixa de produzir e vice-versa; não há bens grátis.

O custo de oportunidade mede-se em termos do que se deixou de produzir do


outro bem (da melhor alternativa de que se abdicou): é o valor do bem ou
serviço de que se prescinde.

Considere a figura no slide seguinte. Quando se passa de 80 para 140 unidades


de Livros, o custo de oportunidade são 20 unidades de Pão. O custo de
oportunidade de se produzir uma unidade adicional de Livros corresponde às
0,33 unidades de Pão que se sacrificam (este é o custo relativo de Livros
expresso em termos de Pão ).

dP
Num ponto da fronteira, o custo de oportunidade de L = –
dL
97
1.4 A curva das possibilidades de produção

Pão
Pão
unid/ano
unid/ano

100

90

70

40

80 140 180 200 Livros Livros


unid./ano unid./ano

98
1.4 A curva das possibilidades de produção

b) Côncava em relação à origem

À medida que produzimos mais Livros, o custo de oportunidade de cada


unidade adicional de Livros vai aumentando (e vice-versa).

Ou seja, a inclinação em valor absoluto da CPP aumenta à medida que nos


deslocamos ao longo da curva (da esquerda para a direita, na escala do eixo
das abcissas). Isto reflete o princípio do custo de oportunidade crescente.

∆P − 10
COport. Livros =  =   = 0,125 unidades Pão
∆L 80

∆P −20
COport. Livros =  =   = 0,33(3) unidades Pão
∆L 60

∆P −30
COport. Livros =  =   = 0,75 unidades Pão
∆L 40

∆P − 40
COport. Livros =  =   = 2 unidades Pão
∆L 20

99
1.4 A curva das possibilidades de produção

Porquê? Havendo aptidões diferenciadas dos fatores produtivos, há vantagem na


especialização dos recursos. Os fatores produtivos deslocados para a produção de
um bem são cada vez menos adequados à produção desse bem e, portanto, o custo
de oportunidade é crescente. A concavidade é uma consequência das diferenças
individuais (dos fatores produtivos) nos custos de oportunidade. Quanto maiores
forem estas diferenças, mais arqueada será a curva e maiores serão os ganhos
potenciais com a especialização.
Supondo dois pontos sobre a CPP (estritamente) côncava,
A e B, com A à esquerda de B: Pão

dP dP
– > – ⇒ Custo de oportunidade crescente
dL B dL A

Mas: se a CPP for uma reta (por ex.: P = 100 – 0,5L ) :

dP
– é constante ⇒ Custo de oportunidade constante
dL Livros

100
1.4 A curva das possibilidades de produção

Classificação das combinações:

Ponto atingível: qualquer combinação dos dois bens que pode ser produzida com
os recursos disponíveis; são os pontos situados ao longo (eficientes) ou abaixo da
CPP (ineficientes).

Ponto ineficiente: qualquer combinação dos dois bens a partir da qual, com os
recursos disponíveis e a tecnologia existente, é possível aumentar a produção
de um dos bens sem reduzir a produção do outro bem. Numa combinação de
dois bens abaixo da curva, verifica-se o seguinte:
há recursos que não estão a ser utilizados na totalidade
e/ou os recursos não estão a ser utilizados da melhor maneira, isto é, de
forma ótima (por ex., barreiras à mobilidade de recursos, utilização de
tecnologias de produção obsoletas).

Ponto eficiente: qualquer combinação dos dois bens a partir da qual, com os
recursos disponíveis e a tecnologia existente, não é possível aumentar a
produção de um dos bens sem reduzir a produção do outro bem.

101
1.4 A curva das possibilidades de produção

Pão

Atingível e eficiente

Inatingível ou impossível
Atingível mas ineficiente

Livros

102
1.4 A curva das possibilidades de produção

Ponto inatingível (ou impossível): qualquer combinação dos dois bens que não
pode ser produzida com os recursos disponíveis e a tecnologia existente. Em
qualquer ponto acima da curva, teríamos pelo menos mais de um dos bens.

Uma economia eficiente encontra-se sobre a sua fronteira de possibilidades de


produção. Tal significa que a economia não pode produzir mais de um bem sem
deixar de produzir menos de um outro bem. Assim, a escolha entre pontos da curva
de possibilidades de produção é uma escolha entre duas diferentes combinações de
bens, mas em que ambas essas combinações são eficientes.

Deslocação ao longo da curva - comparação entre dois pontos sobre a CPP


Como há um custo de oportunidade inerente à decisão de se produzir mais de
um bem, a sociedade tem de escolher qual dos pontos é desejável.
Dados os recursos e a tecnologia disponíveis, uma alteração da escolha da
combinação de bens produzidos por parte da sociedade resulta de uma
alteração das preferências de consumo de bens por indivíduos nessa
sociedade.

103
1.4 A curva das possibilidades de produção

Deslocação da curva

A CPP também é útil para ilustrar o fenómeno do crescimento económico: a


disponibilidade de bens para a escolha no consumo por parte dos agentes vai-se
alargando ao longo do tempo. Uma deslocação da curva para fora significa uma
expansão das possibilidades de produção (e consequentemente um alargamento
das possibilidades de escolha de consumo):
aumento dos recursos disponíveis (crescimento da população, novas fábricas e equipamentos)
melhoria da tecnologia (produzir mais com os mesmos recursos)

Uma deslocação da curva para dentro representa uma diminuição das possibilidades
de produção. Isto pode resultar de um choque tecnológico negativo (por ex.,
empresas proprietárias de tecnologias específicas abandonam o país, emigração de
pessoas muito qualificadas) e/ou de uma redução na dotação de fatores produtivos
(por ex., em resultado de uma devastação natural como incêndios, tsunami ou
terramoto).

Nota: O conceito de curva de possibilidades de produção tem por base quatro


conceitos fundamentais da economia: escassez, escolha, custo de oportunidade e
eficiência.

104
1.4 A curva das possibilidades de produção

Deslocação da curva

Bem 1
NovaCPP

CPP inicial

Bem 2

105
Nota para reflexão

Questão: um raciocínio análogo pode aplicar-se à especialização dos


países e ao livre comércio entre si. Se o livre comércio traz tantas
vantagens, porque é tão controverso?

Na prática, nem todos os consumidores beneficiam de igual forma das


oportunidades de consumo acrescidas que o comércio livre
proporciona. Os trabalhadores especializados na atividade que se
deixará de realizar no país podem vir a receber menores salários ou
podem, inclusivamente, perder o seu emprego. Assim, embora a
economia globalmente beneficie do livre comércio, esses ganhos não
são repartidos de igual forma, pelo menos no curto prazo, entre todos
os consumidores.

106
1.4 A curva das possibilidades de produção

Exercício (Sebenta de Exercícios, Cap.1, exerc. 8) :


A curva de possibilidades de produção diária de dois cozinheiros é a seguinte:
Cozinheiro A: R = 50 – ½ P
Cozinheiro B: R = 10 – ¼ P
sendo: R o número de bolos-rei produzido num dia de trabalho
P o número de pães-de-ló produzido diariamente.

a) Represente graficamente a curva de R


possibilidades de produção de cada 50
cozinheiro.
b) Qual dos dois cozinheiros tem
10 CPPA
vantagem absoluta: CPPB
b1) na produção de bolo-rei?
b2) na produção de pão-de-ló? 40 100 P

(Cozinheiro A, em ambas)
c) Calcule, para cada cozinheiro:
c1) o custo de oportunidade de produzir mais um bolo-rei.
c2) o custo de oportunidade de produzir mais um pão-de-ló.
c1) COport. (A) R = 2 pães-de-ló c2) COport. (A) P = ½ bolos-rei
COport. (B) R = 4 pães-de-ló COport. (B) P = ¼ bolos-rei

107
1.4 A curva das possibilidades de produção

d) O princípio do custo de oportunidade crescente não se verifica nas CPP


individuais apresentadas. Explique por que razão isso pode acontecer.

(Para ambos os cozinheiros, A e B, se cada um se dedicar isoladamente à


produção de combinações alternativas dos dois bens, a CPP é linear. Tal
resulta de os recursos utilizados na produção de R e de P serem igualmente
produtivos nas duas atividades, independentemente da quantidade produzida
de cada um dos bens.)

108
1.4 A curva das possibilidades de produção

e) Considere a seguinte afirmação: “Se os dois cozinheiros decidirem especializar-se na


produção do bem em que cada um é comparativamente melhor do que o outro, e
trocarem 1 bolo-rei por 3 pães-de-ló, ambos beneficiam.” Diga, justificando, se a
afirmação é verdadeira ou falsa.

Verdadeira. Porquê?

Vantagem comparativa em R: cozinheiro A.

Se A oferece no mercado 1 unid. de R obtém 3 unids. de P; ou seja, na troca


transforma 1 R = 3P, que é a razão de troca no mercado.

Se A decide deixar de produzir 1 unid. de R, consegue produzir 2 unids. de P, ou seja


na produção transforma 1 R = 2P, que é o seu custo de oportunidade de produzir
uma unid. de R.

109
1.4 A curva das possibilidades de produção

e) Considere a seguinte afirmação: “Se os dois cozinheiros decidirem especializar-se na produção do


bem em que cada um é comparativamente melhor do que o outro, e trocarem 1 bolo-rei por 3 pães-
de-ló, ambos beneficiam.” Diga, justificando, se a afirmação é verdadeira ou falsa.
Verdadeira. Porquê?

Vantagem comparativa em P: cozinheiro B.


Se B oferece no mercado 1 unid. P obtém 1/3 unid. R; ou seja na troca transforma
1P = 1/3R, que é a razão de troca no mercado.

Se B decide deixar de produzir 1 unid. De P consegue produzir 1/4 unid. de P, ou


seja, na produção transforma 1P =1/4R, que é o seu custo de oportunidade de
produzir uma unidade de P.

Podemos concluir: Cozinheiro A : na troca 1R = 3P > C. Oport. A (R) = 2P ;


Cozinheiro B: na troca 1 P=1/3R > C. Oport. B (P) = 1/4R.

Qualquer razão de troca que permitisse obter entre 2 e 4 pães-de-ló por bolo rei seria
vantajosa para ambas as partes
110
1.5 Análise positiva e análise normativa

A análise económica pode ter duas abordagens:


Análise positiva: procura descrever, explicar e prever o comportamento
económico. Envolve julgamentos científicos, centrando-se em factos e no
estabelecimento de relações de causa-efeito.
Procura responder a questões do tipo: “o que é?”, “o que está a
acontecer?”, “o que acontecerá se se alterar uma variável?”
exemplo: análise do impacto do imposto sobre produtos petrolíferos no preço e
no consumo de gasolina

Análise normativa: procura saber o que é melhor para a sociedade e


definir políticas para melhorar a sociedade. Envolve julgamentos de valor,
ou seja, julgamentos morais.
Procura responder a questões do tipo: “o que deve ser?”
exemplo: Para que uma família abaixo do limiar da pobreza legal receba ajuda
do governo, deveria fazer prova de que pelo menos um dos membros do
agregado familiar em idade ativa está empregado ou ativamente à procura de
emprego?
111
1.5 Análise positiva e análise normativa

Exercício (Sebenta de Exercícios, Cap.1, exerc. 10) :

Indique se cada uma das afirmações/questões seguintes é positiva (baseando-se


apenas na teoria) ou é normativa (incluindo juízos de valor).

1. Portugal deve abandonar o Euro?


2. Deve acabar o Euro?
3. Qual o impacto da informatização na produtividade?
4. A distribuição de rendimentos em Portugal devia ser alterada.
5. O novo imposto altera a distribuição de rendimentos em Portugal.
6. O Governo deve preocupar-se mais com a distribuição de rendimentos em
Portugal.
7. A inflação aumentou.
8. O Governo deve preocupar-se mais com a inflação.

112
1.6 Microeconomia e macroeconomia

Macroeconomia: estuda o funcionamento das economias nacionais (como um todo) e


das políticas que os governos podem adotar por forma a mitigar os problemas de natureza
agregada, ou seja a melhorar o funcionamento e o desempenho da economia (como um
todo).
Os problemas macroeconómicos mais importantes são: as flutuações do produto, a
variação do nível de preços e o desemprego dos fatores produtivos.
Analisa as relações entre as variáveis económicas agregadas.

Microeconomia: estuda a escolha dos agentes individuais ou dos comportamentos de


grupos (empresas, consumidores, trabalhadores, investidores) em condições de escassez
e as suas consequências na determinação dos preços e das quantidades transacionadas
nos vários mercados.
Analisa ainda a forma como estes agentes interagem em mercados, e como esses
mercados funcionam.
Por exemplo: Em que medida as decisões dos consumidores são afetadas por uma
variação no preço de um bem ou no rendimento? Quantos trabalhadores deve uma
empresa contratar?

Respostas ao exercício da página anterior: 1. N ; 2. N ; 3. P ; 4. N ; 5. P ; 6. N ; 7. P ; 8. N .

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Aplicações

Exercício 1) Suponha que o Prof. X tinha planeado ir caçar no sábado. Entretanto, alguns dias
antes recebe um pedido da secretaria para ir fazer uma vigilância de exame.
Admita-se o seguinte:
a atividade de caça dá-lhe satisfação e a atividade de fazer vigilâncias de exames dá-lhe
insatisfação;
se aceitar fazer a vigilância nesse sábado de manhã deixa de poder ir caçar;
o preço de reserva da atividade ‘ir caçar’ é de 20 €, e o preço de reserva para ‘ir fazer a
vigilância’ é de 70 € ;
se for caçar tem custos de deslocação, de alimentação e de material de 15 €; a atividade de
fazer vigilâncias de exames implica custos explícitos insignificantes.

a) Qual a resposta esperada do Prof. X ao funcionário da secretaria? Justifique.


b) Adicionalmente, admita-se agora o seguinte:
o funcionário da secretaria propõe que, se o Prof. X fizer trabalho de vigilância nesse sábado
de manhã, é compensado deixando de fazer duas vigilâncias de exames, ambas à sexta-
feira, em horário normal;
o Prof. X tem um preço de reserva de fazer uma vigilância de exame numa sexta-feira de 40 €
Qual a resposta esperada do Prof. X ao funcionário da secretaria?

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Aplicações

Exercício 2) Responda à seguinte questão indicando a resposta mais correta

Suponha que num restaurante há 3 empregados de mesa, A, B e C, que deverão realizar as tarefas de
‘pôr as mesas’ (M) e ‘preparar as entradas de pão, paté, etc.’ (E). Admita que cada um tem 2 horas de
trabalho disponível para realizar uma ou outra das tarefas. Qualquer um é capaz de desempenhar as
tarefas M e E corretamente mas demoram tempos diferentes a realizar uma delas; esses tempos são
apresentados na tabela.
a) Se houver 12 M e 12 E a realizar, o gerente deve atribuir a tarefa M a B, e não a C.
b) Se houver 13 M e 13 E a realizar, e o gerente atribuir a tarefa E a A e B, é de esperar que ambas as
tarefas possam ser concluídas a tempo.
c) Se houver 12 M e 12 E a realizar, o gerente deve atribuir a tarefa E a A, e não a B.
d) Se houver 14 M e 14 E a realizar, e o gerente atribuir a tarefa M a B e C, é de esperar que ambas as
tarefas possam ser concluídas a tempo.

Empregados Tempo para pôr uma Tempo para preparar


mesa (minutos) uma “entrada”
(minutos)

A 15 15
B 15 20
C 10 15

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Aplicações

Exercício 3) A empresa Alfa adquiriu e instalou uma máquina, no início de 2010. Considere-se os seguintes
valores relativos a essa máquina, nessa data:
- preço de aquisição da máquina no início de 2010 75.000 €
- custo de instalação da máquina, no início de 2010 5.000 €

À data de final de 2012, por razões imprevistas de mercado, a máquina deixa de ter interesse económico para a
produção, nessa empresa. O valor contabilístico da máquina, nessa data, é de 50.000 €. A empresa Alfa está a
considerar a possibilidade de dar uma nova utilização ao espaço ocupado pela máquina e coloca duas
alternativas relativamente ao destino a dar a essa máquina: revender a máquina a uma outra empresa nesse
setor (empresa Beta), ou vender a máquina a uma empresa de sucatas (empresa Kapa). Considere-se os
seguintes dados, à data de final de 2012:

- preço de revenda da máquina à empresa Beta 10.000 €


- preço de venda da máquina para sucata 1.000 €
- custo da desmontagem e preparação para revenda à
empresa Beta, a cargo da empresa Alfa 15.000 €
- custo da desmontagem para sucata, a cargo da empresa Alfa 5.000 €
a) Admita que a empresa tem vantagem em desmontar e vender a máquina, a que empresa deve ser efetuada a
venda?
b) Admitindo que a empresa tem vantagem em desmontar e vender a máquina (seja à empresa Beta seja à
empresa Kapa), qual o valor mínimo que atribui à disponibilização do espaço ocupado pela máquina?
Justifique, usando o(s) conceito(s) apropriado(s).

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