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WBA0076_v1.

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Economia e Mercados
Economia e Mercados
Autor: Waldemir Luiz de Quadros
Como citar este documento: QUADROS, Waldemir Luiz de. Economia e Mercados. Valinhos, 2015.

Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Introdução à Economia 04
Unidade 2: O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial 37
Unidade 3: Princípios de Economia Internacional 76
Unidade 4: Políticas Macroeconômicas 113

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Apresentação da Disciplina

Na disciplina “Economia e Mercados” específicos (alimentos, carros, turismo,


nós vamos estudar a teoria econômica e etc.). Já a macroeconomia dedica-se
suas aplicações. O objetivo desse estudo a analisar os fenômenos da economia
é possibilitar ao gestor uma melhor como um todo (crescimento do PIB, taxa
compreensão e participação do mundo de desemprego, inflação, etc.). Vamos
econômico em que vive, bem como estudar microeconomia nas Aulas 1 e 2, e
um melhor entendimento dos debates macroeconomia nas Aulas 3 e 4.
econômicos veiculados nos vários meios A Aula 1 apresenta uma introdução ao
de comunicação. O estudo da economia estudo da teoria econômica. A aula 2
pode contribuir para que o gestor tenha estuda o comportamento da empresa
um melhor posicionamento estratégico da e a organização da indústria. A Aula 3
empresa no mercado em que atua. será dedicada ao estudo das relações
O estudo de economia divide-se em internacionais. Finalmente, a Aula 4 irá
duas áreas distintas e interligadas: analisar as flutuações macroeconômicas.
microeconomia e macroeconomia. A
microeconomia estuda como as famílias e
as empresas tomam decisões econômicas
e como interagem em mercados
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Unidade 1
Introdução à Economia

Objetivos

1. A Aula 1 tem por objetivo apresentar uma introdução ao estudo da teoria econômica.
Inicialmente, à guisa de introdução, são apresentados a definição de economia e os conceitos
de escassez de recursos produtivos e das necessidades humanas de consumo. O item 2 é
todo dedicado à análise de conceitos básicos da teoria econômica: a existência de tradeoffs
(dilemas); os custos de oportunidade; a racionalidade econômica; os ganhos comerciais; as
funções do governo; o fluxo circular da renda; a fronteira de possibilidade de produção.
2. Em seguida, no item 3, aprofunda-se o estudo do funcionamento dos mercados
competitivos, com destaque para a análise: das características dos mercados
competitivos; da demanda de mercado; da oferta de mercado; do equilíbrio de mercado;
das elasticidades da demanda; das elasticidades da oferta; das políticas de controle de
preços; da eficiência econômica e do bem-estar social; dos custos da tributação.
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Unidade 1
Introdução à Economia

Objetivos

3. Finalmente, no item 4, vamos estudar a teoria da escolha do consumidor: a restrição


orçamentária; as preferências do consumidor; as escolhas ótimas do consumidor; os
efeitos da variação na renda e nos preços; a curva de demanda do consumidor.

Para saber mais


Além do Apoio à Aprendizagem, há a indicação de alguns materiais de acompanhamento e
aprofundamento, dentre eles, destaca-se: MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo:
Cengage Learning, 2013, 6ª edição. Leia especialmente os capítulos de 1 a 8, e o 21. Esta leitura
deve lhe auxiliar no melhor entendimento da Aula 1.

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1. Introdução

“A Economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam recursos escassos para produzir
bens e serviços que possuem valor para distribuí-los entre indivíduos diferentes” (SAMUELSON;
NORDHAUS, p. 3).

Link
O professor Paul Anthony Samuelson (1915 – 2009), primeiro americano a receber o prêmio Nobel
em Economia (1970), escreveu, em 1948, o livro Economics (“Economia”) que, desde então, ensina os
fundamentos da ciência econômica à maioria dos estudantes de economia em todo o mundo. Você
pode ter acesso online ao Capítulo 1, Conceitos Centrais da Economia, da 19ª edição do livro publicada
no Brasil, acessando e se cadastrando no site da editora: http://loja.grupoa.com.br/ . Acesso em: 23
Fevereiro de 2017.

A existência de escassez de recursos e o desejo de eficiência no uso dos recursos para produzir
bens e serviços que atendam às necessidades humanas “ilimitadas” de consumo são
conceitos centrais da ciência econômica.

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Os recursos produtivos podem ser
classificados em: (a) Recursos materiais:
terra, água, minerais, etc. (b) Capital:
Para saber mais máquinas, equipamentos, infraestrutura,
etc. (c) Trabalho: número de trabalhadores,
As necessidades humanas “ilimitadas” de
qualificação, etc. (d) Tecnologia.
consumo podem ser classificadas em: (1)
Necessidades individuais: (a) Corporais absolutas Nas economias modernas os recursos são
(biológicas): alimentação, vestuário, habitação, alocados principalmente através das trocas
etc.; (b) Corporais relativas (sociais): conforto.
realizadas pelas famílias e empresas nos
mercados. Entender o funcionamento dos
(converte coisas supérfluas em “necessidades”);
mercados competitivos é o objetivo do
(c) Espirituais: conhecimento, cultura, etc.; (d)
estudo a seguir.
Luxo ou consumo suntuário: status, caráter
relativo (diferenças de classe e de renda); (2)
Necessidades coletivas: segurança, saúde,
2. Conceitos Básicos
educação, etc. (CANO, p. 15-18). 2.1 Os Custos de Oportunidade

O conceito de custos de oportunidade


está ligado aos conceitos de escassez dos
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recursos e da consequente necessidade dos juros que você deixou de ganhar com a
de escolha nas decisões (tradeoff). Dada sua decisão.
a escassez de recursos, as decisões dos
agentes envolvem escolher um objetivo em 2.2 A Racionalidade Econômica
detrimento de outros objetivos possíveis.
O custo de oportunidade de alguma coisa A economia considera que os agentes
representa tudo o que se renuncia para econômicos têm um comportamento
obtê-la (MANKIW, p. 5). racional, sempre buscando atingir o
melhor objetivo desejado. As pessoas
Considere o exemplo: você tem um
racionais pensam marginalmente, somente
montante de dinheiro e quer decidir se vai
executando uma ação se o benefício
investi-lo na abertura de uma empresa ou
marginal exceder seu custo marginal.
se vai aplicá-lo no mercado financeiro. Você
Exemplo: um empresário racional só irá
também tem que decidir se vai usar seu
decidir por um aumento da produção se
tempo disponível para se tornar empresário
a receita adicional que espera ganhar for
ou se vai trabalhar como assalariado. No
maior que o custo adicional necessário
caso de optar por se tronar empresário de
para viabilizar o aumento da produção do
sua empresa, os custos de oportunidade
bem (MANKIW, p. 6-7).
seriam a soma dos valores dos salários e
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2.3 Os Ganhos com o Comércio trocá-lo por outros bens, aumentando o
bem-estar de todos. (MANKIW, p. 10-11).
Nas modernas economias os mercados
predominam como modo de organizar a
atividade econômica: quais bens produzir; Link
como produzi-los; quanto produzir; como Adam Smith, considerado o pai da economia
distribuir a produção. Os recursos são moderna, autor do livro A Riqueza das Nações
alocados por meio das decisões tomadas (1776), defendia que o Estado devia abster-se
por muitas empresas e famílias quando de intervir na economia já que, se os homens
efetuam as trocas comerciais. Guiadas atuassem livremente na busca de seu próprio
pelo sistema de preços (“mão invisível”), interesse, haveria uma “mão invisível” que
cada uma das famílias e empresas, agindo converteria seus esforços em benefícios para
no mercado para satisfazer seus próprios todos. Para conhecer a biografia de Adam Smith,
interesses, toma decisões que podem busque a seguinte obra: ROSS, I. S. Adam Smith:
maximizar o bem-estar econômico de uma biografia. Rio de Janeiro: Record, 1999.
toda a sociedade. O comércio permite que
as pessoas, empresas e países possam se
especializar na produção de um bem e

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2.4 As Funções do Governo políticas distributivas (seguridade
social, etc.); (f) Praticar políticas
Na realidade, em todos os países o governo econômicas estabilizadoras do ciclo
atua para melhorar os resultados dos econômico (crescimento do PIB, inflação,
mercados (economia mista). A própria etc.) (STIGLITZ; WALSH, p. 265-269,
existência e funcionamento do mercado SAMUELSON; NORDHAUS, p. 48-54).
depende do governo para definir e garantir
os direitos de propriedade, a elaboração 2.5 O Fluxo Circular da Renda
e o cumprimento das leis e contratos.
O governo é necessário também para O fluxo circular da renda é um modelo
corrigir as “falhas de mercado”: (a) Coibir simplificado da organização da economia,
externalidades negativas (poluição, etc.); mostrando que o dinheiro circula pelos
(b) Incentivar externalidades positivas mercados entre as famílias e as empresas.
(educação, saúde, infraestrutura, etc.); (c) Nos mercados de bens e serviços, as
Produzir bens públicos (defesa nacional, empresas são as vendedoras e as famílias
segurança, ruas, etc.); (d) Impedir o são as compradoras. Mas nos mercados
excessivo poder de mercado (regulação de fatores de produção (terra, capital e
dos monopólios, etc.); (e) Estabelecer trabalho), as famílias são as proprietárias

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e vendedoras, e as empresas são as que não são viáveis com os recursos
compradoras. (MANKIW, p. 24-25). disponíveis. A FPP demonstra também que
a sociedade enfrenta tradeoffs e custos
2.6 A Fronteira de Possibilidade de oportunidade: a decisão de aumentar
de Produção a produção de um bem significa produzir
menos de outro bem (MANKIW, p. 25-27).
A fronteira de possibilidades de produção
(FPP) é outro modelo econômico que tem 3. O Funcionamento dos Merca-
por objetivo mostrar as várias combinações dos Competitivos
de bens que a economia pode produzir
com os fatores de produção disponível. 3.1 Mercados Competitivos
São inúmeros os níveis eficientes de
produção possível, ou seja, de produção Um mercado é um conjunto de vendedores
máxima com os recursos disponíveis. Mas e compradores que, por meio de suas
temos também níveis viáveis de produção, negociações, determinam o preço e a
mas ineficientes, pois alguns dos fatores quantidade do produto comercializado
de produção estão sendo subutilizados, nesse mercado. Considera-se um mercado
como também temos níveis de produção “perfeitamente competitivo” quando
possui um número muito grande de
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compradores e vendedores, de modo como por exemplo: aumento do número
que nenhum comprador ou vendedor de compradores; aumento da renda;
individualmente tem poder de influenciar aumento do preço dos bens concorrentes
de forma significativa os preços. Nesse (substitutos); queda do preço dos bens
mercado, o “preço de mercado” prevalece complementares; aumento do gosto dos
nas transações comerciais entre os consumidores pelo bem (MANKIW, p. 65-
compradores e os vendedores. Exemplo: 69; PINDYCK; RUBINFELD, p. 21-22).
mercado de produtos agrícolas (PINDYCK;
RUBINFELD, p. 7-8). 3.3 A Oferta de Mercado

3.2 A Demanda de Mercado A lei da oferta afirma que, ceteris paribus,


a quantidade ofertada de um bem
A lei da demanda afirma que, ceteris aumenta quando seu preço aumenta.
paribus, a quantidade demandada de um Com preços constantes, a oferta do bem
bem aumenta quando seu preço diminui. pode aumentar se ocorrerem mudanças
Com preços constantes, a demanda em outras variáveis, como por exemplo:
do bem também pode aumentar se aumento do número de vendedores;
ocorrerem mudanças em outras variáveis, queda do preço dos insumos; inovação

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tecnológica que aumente a produtividade; de equilíbrio. Se o preço de mercado está
expectativa de aumento das vendas abaixo do equilíbrio, resulta em uma
(MANKIW, p.71-74; PINDYCK; RUBINFELD, escassez da quantidade do bem, causando
p. 20-21). aumento do preço até o preço do equilíbrio
(PINDYCK; RUBINFELD, p. 22-23).
3.4 O Equilíbrio de Mercado
3.5 Elasticidade-Preço da De-
O ponto de cruzamento entre as curvas manda
de oferta e demanda determina a
“quantidade e o preço de equilíbrio”. Ao A elasticidade-preço da demanda mede
preço de equilíbrio, a quantidade ofertada a variação percentual da quantidade
e demandada do bem é igual. Chama-se demandada de um bem em consequência
“mecanismo de mercado” a tendência do aumento de 1% no preço desse bem. A
de que o preço se modifique até que o elasticidade-preço da demanda tende a
mercado se torne equilibrado. Se o preço ser maior (mais elástica): para os bens que
de mercado está acima do equilíbrio, um possuem substitutos próximos (manteiga,
excesso de quantidade do bem é originado, por exemplo); para bens de luxo (viagem de
o que causa a queda do preço até o preço cruzeiro); para os bens que são definidos

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de forma estrita (calça tipo jeans); no longo aumento do preço tende a acarretar
prazo (o aumento do preço pode induzir redução do rendimento total, pois as
a mudança de hábitos de consumo). Por perdas com a queda da quantidade
outro lado, a elasticidade-preço tende a tendem a ser maiores que os ganhos com
ser menor (mais inelástica) para os bens o aumento do preço. Por outro lado, se
com poucos substitutos próximos (protetor um bem tem demanda inelástica (sal, por
solar, por exemplo); para os bens essenciais exemplo), então um aumento do preço
(insulina); para os bens que são definidos tende a aumentar o rendimento total,
de forma ampla (vestuário); no curto pois os ganhos com o aumento do preço
prazo (o aumento do preço tende a não tendem a ser maiores que as perdas com a
ter grande efeito nos hábitos de consumo) queda da quantidade (MANKIW, p. 94).
(MANKIW, p. 88-89; PINDYCK; RUBINFELD,
p. 30-31). 3.6 Elasticidade-Renda da De-
Temos uma importante relação entre manda
a elasticidade-preço da demanda e o
A elasticidade-renda de demanda mede
rendimento total do vendedor (preço x
a variação percentual da quantidade
quantidade). Se um bem tem demanda
demandada de um bem em consequência
elástica (carro, por exemplo), então um
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do aumento de 1% na renda do comprador. maior que zero (positiva), pois o aumento
Para um bem normal, um aumento na no preço de um bem tende a causar o
renda tende a acarretar um aumento na aumento da demanda do bem substituto. Já
quantidade demandada. Já para um bem para bens complementares (açúcar e café),
inferior (carne de segunda, por exemplo), um a elasticidade-preço cruzado é menor que
aumento na renda tende a acarretar uma zero (negativa), pois o aumento no preço do
queda na quantidade demandada (MANKIW, bem tende a causar a queda do consumo
p. 95; PINDYCK; RUBINFELD, p. 32). do bem complementar (MANKIW, p. 95-96;
PINDYCK; RUBINFELD, p. 32-33).
3.7 Elasticidade-Preço Cruzado
da Demanda 3.8 Elasticidade-Preço da Oferta

A elasticidade-preço cruzado da demanda A elasticidade-preço da oferta mede


mede a variação percentual na quantidade a variação percentual da quantidade
demandada de um bem em consequência ofertada de um bem quando ocorre um
do aumento de 1% no preço do outro aumento de 1% no preço do bem. A
bem. Para bens substitutos (margarina e elasticidade-preço da oferta tende a ser
manteiga), a elasticidade-preço cruzado é maior (mais elástica): quanto maiores
forem as possibilidades de mudanças na
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quantidade ofertada (carros novos); no é o aparecimento de escassez do bem
longo prazo. Por outro lado, a elasticidade- no mercado, porque a quantidade
preço da oferta tende a ser menor (mais demandada tende a ser maior que
inelástica): quanto mais difícil a mudança a quantidade ofertada. Exemplo:
na oferta (terrenos de frente para o congelamento dos preços para
mar); no curto prazo (MANKIW, p. 96-97; controlar a inflação no Plano Cruzado.
PINDYCK; RUBINFELD, p. 33): • Quando o governo impõe um
preço mínimo, acima do preço de
3.9 Políticas de Controle de equilíbrio do mercado, a tendência
Preços é o aparecimento de um excedente
do bem no mercado, porque a
Destaquem-se duas políticas de controle quantidade ofertada tende a
de preços praticadas pelos governos e ser maior do que a quantidade
suas consequências (MANKIW, p. 108-117; demandada. Exemplo: política de
KRUGMAN; WELLS, p. 72-80): aumentos para o salário mínimo
• Quando o governo fixa um preço (ou salário-desemprego), que cria a
máximo para um bem abaixo do preço possibilidade de aumento da taxa de
de equilíbrio do mercado, a tendência desemprego e do trabalho informal
de trabalhadores menos qualificados.
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Para saber mais
O Plano Cruzado foi um plano de combate à inflação lançado pelo governo brasileiro em 28 de fevereiro
de 1986. Uma das medidas tomadas foi o congelamento de preços de bens e serviços nos níveis do dia
27 de fevereiro de 1986. Mas muitos produtos ficaram com o preço tabelado abaixo da rentabilidade
desejada ou até mesmo abaixo do custo de produção. Como consequência, veio o desabastecimento de
bens e o surgimento de ágio para compra de produtos escassos, o que foi uma das causas do fracasso do
Plano Cruzado.

Link
“A crise do plano cruzado (artigos publicados pela imprensa)”, publicado na Revista de Economia Política
(REP), vol.7, nº 2, abril-junho de 1987. Disponível em: <http://www.rep.org.br/pdf/26-10.pdf>.
Acesso em: 17 set. 2014.

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3.10 Eficiência Econômica e competitivo garante alcançar a máxima
Bem-Estar eficiência econômica e o máximo bem-
estar. Essa é a política de defesa do
O resultado do equilíbrio no mercado livre mercado como a melhor forma de
representa o máximo de benefício que os organizar a atividade econômica, também
compradores e os vendedores recebem conhecida como política do “laissez-faire,
por participar do mercado. O excedente do laissez-passer”. (MANKIW, p. 138-141;
comprador representa o ganho de bem- KRUGMAN; WELLS, p. 118-128).
estar por comprar uma quantidade maior a
A máxima eficiência econômica não
um preço menor do que estaria disposto a
significa uma distribuição equânime do
pagar. O excedente do vendedor representa
produto entre os membros da sociedade.
o ganho de bem-estar por vender uma
Eficiência econômica significa produzir o
quantidade maior a um preço maior que
máximo “bolo econômico” com os recursos
o custo de produção. O excedente total
disponíveis. Equidade significa uma justa
do mercado representa o ganho de bem-
distribuição deste “bolo econômico” entre
estar social e é igual à soma do excedente
os membros da sociedade.
dos compradores com o excedente dos
vendedores. O equilíbrio em um mercado O governo pode intervir para melhorar
a equidade. Mas então surge o tradeoff
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entre eficiência e equidade. A política social são (MANKIW, p. 148-152):
redistributiva pode piorar a eficiência (a) Aumento do preço pago pelos
basicamente por duas razões: (a) Porque compradores; (b) Queda do preço recebido
as transferências de renda envolvem pelos vendedores; (c) Queda da quantidade
custos (burocracia, etc.); (b) Porque vendida; (d) Perda de excedente dos
as transferências de renda podem consumidores; (e) Perda de excedente dos
desincentivar o trabalho produtivo, tanto vendedores; (f) Perda de excedente total
dos agentes mais produtivos (seriam mais (“peso morto”), que equivale à perda de
tributados) como também dos agentes bem-estar social; (g) Ganho de receita
beneficiados com as transferências tributária pelo governo.
(acomodação, trabalho informal, etc.)
(MANKIW, p. 5). 4. A Teoria da Escolha do Con-
sumidor
3.11 Os Custos da Tributação
4.1 Restrição Orçamentária
Os impactos de um imposto incidente
sobre a oferta de bens e serviços no A restrição orçamentária do consumidor
equilíbrio de mercado e no bem-estar representa o limite de combinações
(tradeoffs) de bens que o consumidor pode
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comprar com uma determinada renda a manter o mesmo nível de satisfação ao
(MANKIW, p. 416-417). consumidor (MANKIW, p. 417-419).

4.2 Preferências do Consumidor 4.3 As Escolhas Ótimas do


Consumidor
As preferências do consumidor são
representadas por curvas de indiferença A decisão de consumo do consumidor
que mostram as várias possibilidades de depende de sua restrição orçamentária
combinações (tradeoffs) de consumo de (quanto pode gastar) e de suas preferências
bens que proporcionam ao consumidor o (o que deseja consumir). O consumidor
mesmo nível de satisfação. A taxa marginal racional, dada sua restrição orçamentária,
de substituição de um bem A por um bem escolhe a melhor combinação de consumo
B mostra a taxa à qual o consumidor está disponível. Demonstra-se que no ponto
disposto a trocar menos consumo do bem ótimo (de otimização) do consumidor, a
A por mais consumo do bem B. Em outras taxa marginal de substituição do bem A
palavras, esta taxa mede o número de pelo bem B é igual ao preço relativo dos
unidades do bem B que devem ser ganhas dois bens (PA/PB) (MANKIW, p. 421-422).
por unidade sacrificada do bem A, de modo

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4.4 Efeitos de uma Variação na diminuir a quantidade comprada do
Renda bem inferior A, e comprar uma maior
quantidade do bem normal B.
O impacto de uma variação da renda
na escolha do consumidor depende da 4.5 Efeitos de uma Variação
característica dos bens serem normais nos Preços
ou inferiores. Supondo uma cesta de
consumo com dois bens A e B, se a renda O impacto de uma mudança no preço
do consumidor aumentar, sua restrição na escolha do consumidor pode
orçamentária irá permitir atingir um novo ser decomposto em efeitos renda e
ponto ótimo de consumo com os seguintes substituição. Exemplo: suponha uma
efeitos (MANKIW, p. 422-424): cesta de consumo com dois bens A e B, e
que ocorra queda do preço do bem A. O
• No caso dos dois bens serem normais, efeito substituição vai mostrar o aumento
o consumidor irá comprar uma maior do consumo de A (porque caiu o preço)
quantidade de ambos os bens. e a queda do consumo de B (porque
• No caso do bem A ser inferior e o ficou relativamente mais caro que A). O
bem B ser normal, o consumidor irá efeito renda, por sua vez, vai mostrar a

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variação de consumo que ocorre por que o a derivação da curva de demanda do
consumidor ficou “mais rico” com a queda consumidor. A curva de demanda de um
do preço de A, passando a consumir mais consumidor representa o resumo de suas
de A e B. O resultado final é representado decisões ótimas de consumo, dada a sua
pela soma dos efeitos substituição e restrição orçamentária e as suas curvas de
renda. No caso do bem A, os efeitos renda indiferença (desejos de consumo). A curva
e substituição agem no mesmo sentido, de demanda reflete a relação entre o preço
portanto o consumidor compra mais de e a quantidade demandada. A queda do
A. No caso do bem B, os efeitos renda e preço do bem move o ótimo do consumidor
substituição agem em direções opostas, para um novo ponto de equilíbrio, com
portanto o efeito total sobre o consumo de aumento da quantidade demandada do
B é incerto (MANKIW, p. 424-427). bem (MANKIW, p. 427-428).

4.6 A Curva de Demanda do


Consumidor

A teoria da escolha do consumidor


fornece os fundamentos teóricos para

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Glossário
Ceteris paribus: Expressão em latim que significa “permanecendo constantes todas as demais variáveis”
(SANDRONI, p. 71).

Curva de indiferença: Representa todas as combinações possíveis de vários produtos que, para o
consumidor, têm a mesma escala de preferência. Por exemplo, tomando-se duas mercadorias A e B, a preços
fixos, combinam-se as quantidades de cada uma, estabelecendo-se os pontos em que, para o consumidor, é
indiferente adquirir uma ou outra combinação de quantidades de A e B (SANDRONI, p. 299).

Economia mista: É a característica de funcionamento das economias dos países no mundo atual, uma
combinação de empresas privadas que funcionam por meio do mercado, com a intervenção do governo
na economia através de regulação, tributação e programas de gastos públicos e transferências de renda
(SAMUELSON; NORDHAUS, p. 21).

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Glossário
Laissez-faire, laissez-passer (“Deixar fazer, deixar passar”): “Palavras de ordem do liberalismo econômico,
:

proclamando a mais absoluta liberdade de produção e comercialização de mercadorias. O lema foi cunhado
pelos fisiocratas franceses no século XVIII, mas a política do laissez-faire foi praticada e defendida de modo
radical pela Inglaterra, que estava na vanguarda da produção industrial e necessitava de mercados para seus
produtos. Essa política opunha-se radicalmente às práticas corporativistas e mercantilistas, que impediam
a produção em larga escala e resguardavam os domínios coloniais. Com o desenvolvimento da produção
capitalista, o laissez-faire evoluiu para o liberalismo econômico, que condenava toda intervenção do Estado
na economia”. (SANDRONI, p. 329).

Tradeoff: Termo que, em economia, significa uma situação em que os agentes enfrentam situações de
escolhas conflitantes (MANKIW, p. 4).

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?
Questão
para
reflexão

Pense no mercado de um produto agropecuário


básico (arroz, feijão, carne, frango, etc.) e elabore um
texto desenvolvendo, de forma sucinta, sua reflexão
sobre o funcionamento dos mercados competitivos,
com destaque para os conceitos de oferta, demanda,
elasticidade e políticas do governo.

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Considerações Finais (1/3)
Escassez de recursos e eficiência no uso desses recursos para produzir bens e
serviços são conceitos centrais da ciência econômica.
Custo de oportunidade é tudo o que se renuncia para obter uma coisa.
Os agentes econômicos têm um comportamento racional, somente
executando uma ação se o benefício marginal exceder seu custo marginal.
Na economia de mercado os recursos são alocados por meio das decisões
tomadas por muitas empresas e famílias quando efetuam as trocas
comerciais.
Na realidade, em todos os países temos economias mistas, uma combinação
de economia de mercado com intervenção do governo na economia.
O fluxo circular da renda mostra que o dinheiro circula pelos mercados entre
as famílias e as empresas.
A fronteira de possibilidades de produção mostra as várias combinações de
bens que a economia pode produzir com os fatores de produção disponíveis.
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Considerações Finais (2/3)
O mercado “perfeitamente competitivo” possui um número muito grande de
compradores e vendedores, de modo que nenhum comprador ou vendedor
individualmente tem poder de influenciar de forma significativa os preços.
A lei da demanda afirma que, ceteris paribus, a quantidade demandada de um
bem aumenta quando seu preço diminui.
A lei da oferta afirma que, ceteris paribus, a quantidade ofertada de um bem
aumenta quando seu preço aumenta.
Elasticidade-preço da demanda é a variação percentual da quantidade demandada
de um bem em consequência do aumento de 1% no preço desse bem.
Elasticidade-renda de demanda é a variação percentual da quantidade
demandada de um bem em consequência do aumento de 1% na renda do
comprador.
Elasticidade-preço da oferta é a variação percentual da quantidade ofertada de
um bem quando ocorre um aumento de 1% no preço do bem.
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Considerações Finais (3/3)
Quando o governo fixa um preço máximo para um bem, abaixo do preço de
equilíbrio, a tendência é o aparecimento de escassez do bem no mercado.
Quando o governo fixa um preço mínimo para um bem, acima do preço de
equilíbrio, a tendência é o aparecimento de um excedente do bem no mercado.
O equilíbrio em um mercado competitivo garante alcançar a máxima
eficiência econômica e o máximo bem-estar.
A máxima eficiência econômica não significa uma distribuição equânime do
produto entre os membros da sociedade.
O governo pode melhorar a equidade, mas então surge o tradeoff entre
eficiência e equidade.
A curva de demanda de um consumidor representa o resumo de suas decisões
ótimas de consumo, dada a sua restrição orçamentária e as suas curvas de
indiferença (desejos de consumo).

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Referências

CANO, Wilson. Introdução à Economia. São Paulo: UNESP, 1998, 2ª edição.


KRUGMAN, Paul; WELLS, Robin. Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Campus, 2011, 2ª edição.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage, 2013, 6ª edição.
PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. São Paulo: Pearson, 2010, 7ª edição.
SAMUELSON, Paul A.; NORDHAUS, William D. Economia. São Paulo: McGraw-Hill, 2012, 19ª
edição.
SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Círculo do Livro, 1999.
STIGLITZ, Joseph E.; WALSH, Carl E. Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Campus, 2003, 3ª
edição.

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Questão 1
1. Com relação aos conceitos básicos da economia, indique a alternativa
incorreta:

a) Guiados pelo sistema de preços, os agentes econômicos agem no mercado com o desejo de
maximizar o bem-estar econômico de toda a sociedade.
b) Os agentes econômicos racionais pensam marginalmente, somente executando uma ação
se o benefício marginal exceder seu custo marginal.
c) Os recursos produtivos são eficientemente alocados por meio das decisões tomadas por
muitas empresas e famílias quando efetuam as trocas comerciais.
d) O custo de oportunidade de alguma coisa representa tudo o que se renuncia para obtê-la.
e) No modelo do fluxo circular da renda, nos mercados de bens e serviços, as empresas são as
vendedoras e as famílias são as compradoras.

30/154
Questão 2
2. Julgue e indique a alternativa incorreta com relação ao funcionamento
dos mercados competitivos:

a) Mercado é um conjunto de vendedores e compradores que, por meio de suas negociações,


determinam o preço e a quantidade do produto comercializado nesse mercado.
b) O mercado competitivo possui um número muito grande de compradores e vendedores.
c) No mercado competitivo as empresas determinam o preço de mercado.
d) A lei da demanda afirma que, ceteris paribus, a quantidade demandada de um bem
aumenta quando seu preço diminui.
e) A lei da oferta afirma que, ceteris paribus, a quantidade ofertada de um bem aumenta
quando seu preço aumenta.

31/154
Questão 3
3. Julgue e indique a alternativa incorreta com relação à elasticidade-
-preço da demanda:

a) A elasticidade-preço da demanda é a variação % da quantidade demandada de um bem


em consequência do aumento de 1% no preço desse bem.
b) A elasticidade-preço da demanda tende a ser menor (mais inelástica) para os bens que são
definidos de forma estrita.
c) A elasticidade-preço da demanda tende a ser menor (mais inelástica) para os bens com
poucos substitutos próximos.
d) A elasticidade-preço da demanda tende a ser menor (mais inelástica) para os bens
essenciais.
e) A elasticidade-preço da demanda tende a ser maior (mais elástica) no longo prazo.

32/154
Questão 4
4. Julgue e indique a alternativa incorreta com relação à elasticidade-
preço da oferta:

a) A elasticidade-preço da oferta mede a variação % da quantidade ofertada de um bem


quando ocorre um aumento de 1% no preço do bem.
b) A elasticidade-preço da oferta tende a ser maior (mais elástica) quanto maiores forem as
possibilidades de mudanças na quantidade ofertada (carros novos).
c) A elasticidade-preço da oferta tende a ser maior (mais elástica) no longo prazo.
d) A elasticidade-preço da oferta tende a ser maior (mais elástica) quanto mais difícil a
mudança na oferta (terrenos de frente para o mar).
e) A elasticidade-preço da oferta tende a ser menor (mais inelástica) no curto prazo.

33/154
Questão 5
5. Julgue e indique a alternativa incorreta com relação aos conceitos de
eficiência econômica e equidade social:

a) Eficiência econômica significa produzir o máximo “bolo econômico” com os recursos


disponíveis.
b) Equidade significa uma justa distribuição do “bolo econômico” entre os membros da
sociedade.
c) A política redistributiva do governo pode piorar a eficiência econômica porque as
transferências de renda envolvem custos (burocracia, etc.).
d) A política redistributiva do governo pode piorar a eficiência econômica porque as
transferências de renda podem desincentivar o trabalho produtivo.
e) A máxima eficiência econômica também significa uma distribuição equânime do produto
entre os membros da sociedade.

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Gabarito
1. Resposta: A. 3. Resposta: B.

A alternativa A está incorreta. O correto A alternativa B está incorreta. O correto


seria: “Guiados pelo sistema de preços, os seria: “A elasticidade-preço da demanda
agentes econômicos agem no mercado tende a ser maior (mais elástica) para os
com o desejo de maximizar seus próprios bens que são definidos de forma estrita
interesses”. As demais alternativas estão (calça tipo jeans, por exemplo)”. As demais
corretas. alternativas estão corretas.

2. Resposta: C. 4. Resposta: D.

A alternativa C está incorreta. O correto A alternativa D está incorreta. O correto


seria: “No mercado competitivo as seria: “A elasticidade-preço da oferta tende
empresas não determinam o preço de a ser menor (mais inelástica) quanto mais
mercado (são “tomadoras de preços”)”. As difícil a mudança na oferta (terrenos de
demais alternativas estão corretas. frente para o mar)”. As demais alternativas
estão corretas.

35/154
Gabarito
5. Resposta: E.

A alternativa E está incorreta. O correto


seria: “A máxima eficiência econômica não
significa uma distribuição equânime do
produto entre os membros da sociedade”.
As demais alternativas estão corretas.

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Unidade 2
O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial

Objetivos

1. Na Aula 2 nós vamos estudar o comportamento das empresas,


procurando aprofundar o entendimento de suas decisões de oferta
de bens e serviços. Vamos também estudar o ramo da economia
conhecido como organização industrial, que procura explicar como
as decisões da empresa sobre preços e quantidades dependem das
condições do mercado em que ela atua.
2. Inicialmente, no item 2, vamos analisar os custos de produção. Os
itens seguintes tratam de organização industrial. O item 3 apresenta
o comportamento das empresas nos mercados competitivos. O item 4
estuda o monopólio. No item 5 o foco é a competição monopolística.
Finalmente, o item 6 dedica-se ao estudo do oligopólio.
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Unidade 2
O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial

Para saber mais


Além da Apoio à aprendizagem há a indicação
de alguns materiais de acompanhamento e
aprofundamento, dentre eles, destaca-se:
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia.
São Paulo: Cengage Learning, 2013, 6ª
edição. Leia especialmente os capítulos 13 a
17. Esta leitura deve lhe auxiliar no melhor
entendimento da Aula 2.

38/154
1. Introdução
Os economistas assumem que o objetivo 2. Custos de Produção
principal da empresa é a maximização do
lucro. O lucro da empresa é definido como 2.1 Os Custos Econômicos
o resultado da diferença entre a receita
total e o custo total da empresa. O conceito econômico dos custos de
A receita total da empresa é o montante de produção inclui os custos de oportunidade
recursos monetários que a empresa recebe dos recursos utilizados e pode ser
pela quantidade vendida de sua produção decomposto em (MANKIW, p. 244-246):
no mercado.
• Custos explícitos: são os custos dos
O custo total da empresa é a soma do valor insumos utilizados na produção que
de mercado dos insumos que a empresa exigem pagamento em dinheiro
usa na produção. A análise dos custos de por parte da empresa. Esse é o
produção é de fundamental importância conceito de custos considerado pela
para entender a formação do lucro e as
contabilidade.
decisões de oferta da empresa. E, como
veremos a seguir, a análise econômica dos • Custos implícitos: são os custos de
custos de produção da empresa é diferente oportunidade dos insumos que não
da análise mais conhecida e desenvolvida exigem pagamento em dinheiro por
pela contabilidade. parte da empresa. Exemplo: o valor do
39/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
tempo e do dinheiro do empresário 2.2 A Função de Produção
aplicado na empresa e que não foi
aplicado em outra atividade. A função de produção mostra a quantidade
máxima de um bem que pode ser produzida
• Custo total: resultado da soma dos
com uma dada quantidade de fatores de
custos explícitos com os custos
produção. Considera-se que, no curto
implícitos. Esse é o conceito de custo
prazo, a tecnologia é dada e a variação da
total da análise econômica.
produção é função apenas da mudança do
Como consequência, temos também dois número de trabalhadores (SAMUELSON;
conceitos de lucro da empresa: NORDHAUS, p. 95).
• Lucro contábil = receita total - custo A partir da função de produção deriva-
explícito total. se o conceito de produto marginal de
• Lucro econômico = receita total - um insumo, o qual mostra o aumento da
custo total. produção que resulta de uma unidade
adicional do insumo. Segundo a lei dos
O lucro econômico é menor que o lucro
rendimentos decrescentes, mantendo-
contábil. Para o economista, o objetivo
se constantes todos os demais fatores
da empresa é a maximização do lucro
de produção, a produtividade marginal
econômico.
40/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
de um insumo (trabalho, por exemplo) • Custo total (CT): somatório do custo
é decrescente à medida que aumenta fixo com o custo variável.
a quantidade utilizada desse insumo • Custo fixo médio (CFM): Custo fixo /
(SAMUELSON; NORDHAUS, p. 96). Quantidade produzida.

2.3 As Medidas de Custo • Custo variável médio (CVM): Custo


variável / Quantidade produzida.
O comportamento dos custos da empresa • Custo total médio (CTM): Custo total /
reflete o comportamento de sua função de Quantidade produzida.
produção e da hipótese de produtividade
• Custo marginal (CMg): Variação do
marginal decrescente do trabalho no curto
custo total / Variação da quantidade
prazo. As principais medidas de custo
produzida.
da empresa são (MANKIW, p. 248-251;
KRUGMAN; WELLS, p. 273-278): Características dos custos da empresa
no curto prazo (MANKIW, p. 251-257;
• Custo fixo (CF): custos que não variam PINDYCK; RUBINFELD, p. 200-202;
com a quantidade produzida. KRUGMAN; WELLS, p. 280-283):
• Custo variável (CV): custos que variam
com a quantidade produzida.
41/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
• As empresas apresentam produto • Relação entre o custo marginal
marginal crescente antes de e o custo total médio: sempre
apresentar produto marginal que o custo marginal for menor
decrescente. Como resultado, os que o custo total médio, o custo
custos diminuem durante algum total médio estará em queda. Por
tempo antes de começarem a outro lado, sempre que o custo
aumentar com o aumento da marginal for maior que o custo total
produção. médio, o custo total médio estará
• O custo fixo médio sempre diminui aumentando. O custo marginal iguala
à medida que a produção aumenta, o custo total médio em seu valor
porque o custo fixo se distribui por mínimo.
um maior número de unidades.
2.4 Custos no Longo Prazo
• O custo total, o custo variável médio
e o custo marginal costumam As empresas apresentam maior
aumentar quando a produção flexibilidade no longo prazo, com destaque
aumenta por causa do produto para a possibilidade de ampliação e
marginal decrescente. modernização da capacidade produtiva,
e uma maior qualificação e produtividade
42/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
dos trabalhadores. Destaquem-se as da empresa: economias de escala;
seguintes características dos custos das retornos constantes de escala; e
empresas no longo prazo (MANKIW, p. 255; deseconomias de escala.
KRUGMAN; WELLS, p. 280-285): • Economia de escala: o custo
• Os custos no longo prazo tendem a total médio de longo prazo cai
ser mais baixos e mais estáveis do com o aumento da quantidade
que os custos no curto prazo. produzida. As economias de
escala surgem porque maiores
• Como os custos que são fixos no
níveis de produção possibilitam
curto prazo são variáveis no longo uma maior especialização e
prazo, o custo total médio de longo maior produtividade de cada
prazo difere do custo total médio de trabalhador.
curto prazo.
• Retornos constantes de escala: o
• O custo total médio de longo custo total médio de longo prazo
prazo reflete as características da se mantém constante enquanto a
tecnologia da função de produção. quantidade produzida varia.
Temos três possibilidades de variação
• Deseconomias de escala: o
dos custos na escala de operação
custo total médio de longo
43/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
prazo aumenta com o aumento A receita média (RM) da empresa
da quantidade produzida. As competitiva é igual ao resultado da divisão
deseconomias de escala podem da receita total pela quantidade vendida,
surgir por causa de problemas de que é igual ao próprio preço de mercado do
administração na empresa. bem (RM = RT/Q = PxQ/Q = P).
A receita marginal (RMg) de uma empresa
3. As Empresas em Mercados competitiva é igual à variação da receita
Competitivos total decorrente da venda de uma unidade
3.1. As Medidas de Receita adicional do bem, que também é igual ao
próprio preço de mercado do bem (RMg =
A receita total (RT) da empresa é igual ao ∆RT/∆Q = Px∆Q/∆Q = P).
resultado da multiplicação da quantidade A empresa competitiva possui receita
vendida do bem (Q) pelo respectivo preço média igual à receita marginal e igual ao
(P). A empresa competitiva é “tomadora preço de mercado do bem (RM = RMg = P).
do preço” no mercado e a esse preço vende
toda sua produção (RT = PxQ).

44/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial


3.2 A Condição de Maximiza- 3.3 A Oferta da Empresa Com-
ção do Lucro petitiva

O objetivo da empresa é a maximização do A empresa maximiza o lucro quando a


lucro (MANKIW, p. 265-266): quantidade produzida está no nível em
que o custo marginal é igual ao preço. O
• Se RMg > CMg: a empresa deve
custo marginal determina a quantidade do
aumentar a produção, pois o
bem que a empresa ofertará ao preço de
aumento da produção aumenta o
mercado. Logo, a curva de custo marginal
lucro.
é igual à curva de oferta da empresa
• Se CMg > RMg: a empresa deve (SAMUELSON; NORDHAUS, p. 134).
reduzir a produção, pois a redução da
No curto prazo, a empresa produz
produção diminui o prejuízo.
uma quantidade superior ao seu custo
• Se RMg = CMg: a empresa deve variável médio. Se o preço ficar abaixo do
manter esse nível de produção, pois custo variável médio, a empresa estará
estará maximizando o lucro. apresentando prejuízo e ficará em melhor
situação se paralisar temporariamente as
atividades. Ao paralisar as atividades, a
45/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
empresa perde toda a receita da venda de 3.4 A Oferta do Mercado Com-
seu produto. Ao mesmo tempo, economiza petitivo
os custos variáveis de produção, mas tem
que continuar pagando os custos fixos A oferta do mercado (ou indústria) é a
(MANKIW, p. 267-268). soma da oferta das empresas (ou firmas)
desse mercado (MANKIW, p. 271-274;
No longo prazo, a empresa vai produzir uma
KRUGMAN; WELLS, p. 300-305):
quantidade acima de seu custo total médio.
Se o preço ficar abaixo do custo total médio, • No curto prazo, a oferta de mercado
a empresa estará apresentando prejuízo, é a soma da quantidade que cada
e ficará em melhor situação se sair do empresa oferta ao preço de mercado.
mercado. A empresa perderá toda a receita, A curva de oferta do mercado reflete
mas não terá que pagar nenhum custo as curvas de custo marginal de cada
(MANKIW, p. 269-271). empresa individual. O mercado tem
um número fixo de empresas e cada
empresa fornece uma quantidade
de produto para a qual seu custo
marginal é igual ao preço de
mercado.
46/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
• No longo prazo as empresas entram e • Destaquem-se dois custos implícitos
saem do mercado até o lucro chegar do proprietário da empresa: (a) A
a zero. O equilíbrio ocorre quando remuneração do trabalho (salários)
a quantidade ofertada é igual à que deixa de ganhar por não
quantidade demandada no ponto trabalhar em outra empresa; (b) A
em que o preço é igual ao custo total remuneração do capital monetário
médio mínimo. próprio (juros) que deixa de ganhar
por não aplicar esses recursos no
3.5 Equilíbrio de Longo Prazo mercado financeiro. Ainda que o
com Lucro Zero lucro econômico da empresa seja
zero, a receita da empresa deve
A condição de equilíbrio com lucro zero no compensar o proprietário por esses
longo prazo pode ser mais bem entendida custos de oportunidade.
se considerarmos que (MANKIW, p. 274;
• A contabilidade somente considera
KRUGMAN; WELLS, p. 202-204; PINDYCK;
os custos explícitos, que exigem
RUBINFELD, p. 257-258):
desembolso de dinheiro, não
• O custo total inclui todos os custos considerando os custos implícitos, que
explícitos e implícitos. não envolve desembolso de dinheiro.
47/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
• No equilíbrio, o lucro econômico é • Recursos de monopólio: uma única
zero, mas o lucro contábil é positivo, empresa é proprietária de um
num montante suficiente para recurso‐chave para a produção. Na
remunerar o proprietário em seu atualidade, com o desenvolvimento
negócio. do comércio internacional, é raro o
caso de monopólio por esse motivo.
4. Monopólio • Monopólios criados pelo governo:
4.1 As Barreiras à Entrada o governo concede a uma empresa
o direito exclusivo de vender algum
Uma empresa é um monopólio quando é bem. Exemplo: patentes e direitos
a única vendedora de um produto que não autorais.
tem substitutos próximos no mercado. • Processo de produção: uma única
A principal causa do aparecimento dos empresa pode produzir com custo
monopólios são as barreiras à entrada menor do que um número maior de
de outras empresas para concorrer no produtores. É o caso do chamado
mercado. As principais causas das barreiras monopólio natural, que surge quando
à entrada são (MANKIW, p. 282-285; ocorrem economias de escala
KRUGMAN; WELLS, p. 313-316): expressivas, com custo médio de
48/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
produção decrescente, devido aos 4.2 As Receitas do Monopólio
altos custos fixos iniciais associados
à produção do bem. Exemplos: Destaquem-se as características das
distribuição de água, geração e receitas do monopólio (MANKIW, p. 286-
distribuição de energia elétrica 288; KRUGMAN; WELLS, p. 317-319;
através de hidroelétricas; etc. SAMUELSON; NORDHAUS, p. 156-158):
• Superioridade tecnológica: • A receita média (RM) é sempre igual
uma firma com uma vantagem ao preço do bem. O monopolista é
tecnológica sobre os concorrentes o único produtor em seu mercado
pode se manter como monopolista e sempre se depara com a curva de
no mercado, ao menos
demanda de mercado com inclinação
temporariamente. Algumas empresas
descendente, logo precisa aceitar
de alta tecnologia se caracterizam
um preço menor para vender uma
por externalidades de rede, condição
quantidade maior. A curva de
que surge quando a firma possui uma
rede maior de consumidores usando demanda do bem é a própria curva de
o seu produto, o que lhe confere uma receita média da empresa.
vantagem sobre os concorrentes para • A receita marginal (RMg) é a receita
conquistar novos clientes. que a empresa recebe pela venda de
49/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
uma unidade adicional de produto. A 4.3 A Maximização do Lucro e
receita marginal é sempre menor que Bem-Estar no Monopólio
o preço do bem. A curva de receita
marginal fica abaixo da curva de A empresa monopolista também maximiza
demanda. o lucro produzindo a quantidade em
que a receita marginal (RMg) iguala o
• A receita total (RT) é igual à soma da
custo marginal (CMg). A partir dessa
quantidade vendida pelo seu preço.
quantidade, o monopolista usa a curva
O impacto sobre a receita total de um
de demanda para determinar o preço de
aumento da quantidade vendida e
oferta do produto. A empresa monopolista
queda do preço é incerto e depende
é “fazedora do preço” de mercado.
da combinação de dois efeitos: (a)
Características do equilíbrio do monopólio
Efeito quantidade: a receita aumenta
com maximização do lucro (MANKIW, p.
com o aumento da quantidade. (b)
292-295; KRUGMAN; WELLS, p. 319-324;
Efeito preço: a receita diminui com a
SAMUELSON; NORDHAUS, p. 158-161):
queda do preço.
• Se RMg > CMg: aumentar a produção
aumenta o lucro.

50/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial


• Se RMg < CMg: reduzir a produção 4.4 A Discriminação de Preços
reduz o prejuízo.
O monopolista pode aumentar seu lucro
• Se RMg = CMg: produção que cobrando preços diferentes pelo mesmo
maximiza o lucro. bem, com o objetivo de vender uma
A condição de maximização do lucro é quantidade maior do que venderia com um
a mesma para o mercado competitivo preço único para todos os consumidores.
e o monopolista. A diferença é que no Exemplos: passagens aéreas, cupons de
monopólio o preço é maior que o custo descontos, bolsas de estudo, descontos
marginal, o que faz com que a quantidade por quantidade (MANKIW, p. 295-299;
vendida do bem seja menor do que a do KRUGMAN; WELLS, p. 328-332):
mercado competitivo. Logo, no monopólio,
a quantidade de equilíbrio é inferior ao • A discriminação de preços exige a
nível que maximiza os excedentes do separação dos compradores segundo
consumidor e do produtor. No equilíbrio do sua disposição para pagar (por local,
monopólio ocorre ineficiência econômica, idade, renda, sexo, etc.).
perda do excedente total (peso morto) e • A discriminação de preços pode
perda de bem-estar social. aumentar a eficiência econômica ao

51/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial


fazer com que aumente a quantidade mercados monopolistas para aumentar o
produzida e vendida do bem. bem-estar de quatro maneiras (MANKIW, p.
299-304; KRUGMAN; WELLS, p. 323-327):
• A discriminação de preços pode
eliminar as perdas de eficiência • Leis antitrustes: com o objetivo
causadas pelo peso morto do de tornar determinadas atividades
monopólio. Mas todo o excedente monopolistas mais competitivas.
do mercado vai para o monopolista, • Regulamentação: principalmente dos
reduzindo à zero o excedente do monopólios naturais (preços, etc.).
consumidor. • Empresas estatais: o próprio governo
sendo o proprietário de empresas de
4.5 As Políticas Públicas para serviços públicos (telefonia, água,
os Monopólios energia elétrica, correio, etc.).
• Não fazendo nada: no caso em que
Os monopólios, ao contrário dos mercados a falha de mercado for considerada
competitivos, tendem a falhar na alocação pequena se comparada com as falhas
eficiente dos recursos, produzindo que ocorrem na intervenção do
quantidade menor que a socialmente governo (politização da fixação de
desejável e cobrando preço superior ao
preços, burocracia, corrupção, etc.).
custo marginal. O governo pode intervir nos
52/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
Para saber mais
As leis antitrustes, em sua origem, foram promulgadas nos EUA para restringir o poder das grandes
empresas: a Lei Sherman (1890) tornou ilegais as práticas monopolistas para o controle do comércio
interno e exterior, e a Lei Clayton (1914) proibiu a política de preços monopolistas para eliminar
concorrentes e a concentração de empresas de um ramo sob uma mesma direção. Na Europa, as leis
antitrustes só foram aprovadas depois da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, a atual lei antitruste é a Lei
nº 12.529/2011, que revogou a antiga Lei nº 8.884/1994 (SANDRONI, p. 333).

53/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial


5. Competição Monopolística características de monopólio à
empresa. A publicidade desempenha
5.1 Características da Concor- papel importante na concorrência
rência Monopolística monopolística. Exemplos: livros,
games, restaurantes, etc.
O mercado de concorrência (ou
competição) monopolística, também • Não existem barreiras à entrada.
chamada de concorrência imperfeita,
situa-se entre a concorrência perfeita
e o monopólio. Apresenta três
características principais (MANKIW, p.
312-314; KRUGMAN; WELLS, p. 361-364;
SAMUELSON; NORDHAUS, p. 151-152):

• Número elevado de vendedores de


bens substitutos próximos.
• Produtos diferenciados: a
diferenciação do produto confere

54/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial


5.2 A Maximização do Lucro e
o Bem-Estar
Link A empresa monopolisticamente
As mensagens publicitárias enredam os
competitiva procura maximizar seu lucro
consumidores em circuitos emotivos e irracionais
de maneira semelhante ao monopólio
criados para vender produtos. Como escapar
(MANKIW, p. 314-320; KRUGMAN; WELLS,
do bombardeio publicitário e não aderir ao
p. 364-367):
consumismo desenfreado? Qual a influência
da mídia sobre os padrões de consumo? • No curto prazo, a empresa maximiza
Essas e outras questões referentes ao mundo o lucro produzindo a quantidade
da publicidade e do consumo podem ser na qual a receita marginal se iguala
conhecidas em: INMETRO-IDEC. Publicidade e ao custo marginal, e usa a curva de
Consumo, (Coleção Educação para o Consumo demanda para determinar o preço
Responsável), 2002. Disponível em: <http:// compatível com essa quantidade. A
www.inmetro.gov.br/inovacao/publicacoes/ empresa é “fazedora de preço” e o
cartilhas/ColEducativa/publicidade.pdf>. preço apresenta um markup sobre o
Acesso em: 17 set. 2014. custo marginal.

55/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial


• No longo prazo, por causa da livre 6. Oligopólio
entrada e saída de empresas no
mercado, a tendência é que o lucro 6.1 Um Mercado com Poucos
econômico fique próximo à zero. Vendedores
• Mas de maneira diferente do mercado
Oligopólio é uma estrutura de mercado em
competitivo, mesmo no longo prazo,
que um número pequeno de vendedores
a empresa monopolisticamente
oferece produtos similares ou idênticos.
competitiva apresenta capacidade
As ações de um vendedor podem ter
ociosa, produz com custo acima do
grande impacto sobre os lucros dos demais
ponto de mínimo do custo médio
vendedores. A interdependência entre as
total e apresenta preço com markup
empresas oligopolistas gera uma constante
sobre o custo marginal.
tensão entre a cooperação e o interesse
• A competição monopolística próprio no comportamento estratégico
gera ineficiências semelhantes das empresas (MANKIW, p. 329-332;
ao monopólio. Mas é limitada a KRUGMAN; WELLS, p. 340-341):
capacidade do governo corrigir essas
• Cooperação: as empresas podem agir
ineficiências.
como um monopólio, fabricando uma
56/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
quantidade que permite cobrar um Para entender o equilíbrio do oligopólio,
preço superior ao custo marginal. os economistas utilizam a teoria dos
• Interesse próprio: cada empresa pode jogos, em particular o “dilema dos
agir visando apenas seu próprio lucro. prisioneiros” e o “equilíbrio de Nash”.
No jogo do oligopólio, o ganho (lucro)
6.2 O Equilíbrio do Oligopólio de cada oligopolista depende não só de
suas ações, mas também das ações dos
Os oligopolistas gostariam de obter lucros outros oligopolistas (MANKIW, p. 333-337;
monopolistas, mas isso geralmente não KRUGMAN; WELLS, p. 344-348):
é possível. Em primeiro lugar, porque o
• Como o preço é maior que o custo
acordo (conluio) entre os oligopolistas
caracteriza a formação de cartel, prática marginal, cada oligopolista tem
que é considerada crime pela legislação incentivo para aumentar a sua
antitruste. Em segundo lugar, porque produção, conquistando maior
os conflitos entre os membros de um parcela do mercado e, assim,
oligopólio sobre como dividir o lucro do aumentando o lucro da empresa.
mercado tornam muito difícil chegar a • Mas à medida que cada oligopolista
um acordo que seja cumprido por todos aumenta sua produção individual,
(MANKIW, p. 332-333).
57/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
a quantidade total que é vendida • Na realidade, a tendência é o
no mercado também aumenta, conjunto das empresas oligopolistas
acarretando a queda do preço de produzirem uma quantidade maior
mercado e do lucro do oligopólio que a do monopólio e menor do que a
como um todo. do mercado competitivo. Do mesmo
• Mas existe a possibilidade das modo, o preço do oligopólio tende a
empresas oligopolistas conseguirem ser inferior ao preço do monopólio,
uma cooperação tácita. Isso porque mas superior ao preço competitivo.
o jogo do oligopólio não é um “jogo
de lance único”, mas um “jogo com
lances repetidos” muitas vezes. A Para saber mais
perspectiva de competir por um A teoria dos jogos é a aplicação da lógica
período prolongado favorece o matemática no processo de tomada de decisões
aparecimento de uma cooperação nos jogos e, por extensão, na economia, na
tácita entre as empresas para política e na guerra – situações caracterizadas
limitarem suas produções, de modo por conflitos de interesses, informações
a aumentar os preços e os lucros do incompletas e acaso.
oligopólio como um todo.
58/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
Para saber mais
De modo geral, a teoria dos jogos demonstra que, em jogos com duas pessoas, cada jogador leva em
consideração as possíveis estratégias do outro jogador, e que o resultado desses jogos são zero-soma
(uma das partes perde exatamente o que a outra ganha).
Nos jogos com mais de duas pessoas, o resultado é mais complexo, mas pode ser influenciado pela
formação de coalizões entre algumas empresas de grande porte com a finalidade de retirar concorrentes
do mercado e exercer um poder de cartel (SANDRONI, p. 599).

Para saber mais


O dilema do prisioneiro é um jogo em que criminosos são submetidos a um interrogatório em separado.
Cada criminoso sabe que se ninguém confessar sobre a participação própria e dos demais no crime, ele
será libertado ou no máximo terá uma pena muito pequena. Mas se um deles confessar, e os demais
não o fizerem, esse um que confessar poderá ser libertado, enquanto os outros sofrerão pesadas
penas. Se todos confessarem, todos receberão penas, embora menos severas do que se apenas um
confessar. O incentivo, nesse caso, para o indivíduo racional é confessar e deixar os demais sofrerem as
consequências. Porém, se todos agirem desta forma, o resultado para todos será pior do que seria se
todos pudessem entrar num acordo prévio para ninguém confessar (SANDRONI, p. 174).
59/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial
Para saber mais
O equilíbrio de Nash é uma situação em que os agentes econômicos que estão interagindo num mercado
escolhem sua melhor estratégia, dadas as estratégias escolhidas pelos demais agentes (MANKIW, p. 333).

Link
O equilíbrio de Nash foi formulado pelo matemático norte-americano John Forbes Nash Jr., ganhador do
prêmio Nobel de Economia de 1994, que teve sua vida retratada no filme Uma Mente Brilhante. Você pode
conhecer melhor seu trabalho lendo o artigo escrito por Uwe Haneke e Vitória Saddi: “Prêmio Nobel de
Economia de 1994: Contribuições de Nash, Harsanyi e Selten à Teoria dos Jogos”. São Paulo: Revista de
Economia Política (REP), vol.15, nº 1 (57), janeiro-março/1995. Disponível em: <http://www.rep.org.
br/pdf/57-3.pdf>. Acesso em: 17 set. 2014.

60/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial


Glossário
Cartel: Grupo de empresas independentes que formalizam um acordo para sua atuação coordenada,
com vistas a interesses comuns. O tipo mais frequente de cartel é o de empresas que produzem artigos
semelhantes, de forma a constituir um monopólio de mercado. O termo cartel refere-se em geral ao
mercado internacional, enquanto se prefere utilizar termos como truste e sindicato para os mercados
regionais (SANDRONI, p. 84).

Markup: Termo em inglês que significa a diferença entre o custo total de produção de um produto e seu
preço de venda ao consumidor final (SANDRONI, p. 368).

Truste: Estrutura empresarial na qual várias empresas combinam-se ou fundem-se para assegurar o
controle do mercado em que atuam, estabelecendo preços elevados que lhes garantam elevadas margens
de lucro (SANDRONI, p. 616).

61/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial


?
Questão
para
reflexão

Elabore um texto desenvolvendo, de forma sucinta, sua


reflexão sobre as decisões das empresas sobre preços e
quantidades nos mercados competitivos, no monopólio, na
concorrência monopolística e nos oligopólios.

62/154
Considerações Finais (1/5)

Custos explícitos (custos contábeis) são os custos dos insumos


utilizados na produção que exigem pagamento em dinheiro por parte
da empresa.
Custos implícitos são os custos de oportunidade dos insumos que não
exigem pagamento em dinheiro por parte da empresa.
O conceito de custo total considerado na análise econômica é a soma
dos custos explícitos com os custos implícitos.
No curto prazo, mantendo-se constantes todos os demais fatores
de produção, a produtividade marginal do trabalho é decrescente
à medida que aumenta a quantidade utilizada de trabalho (lei dos
rendimentos decrescentes).
Custo marginal é a variação no custo total de produção advinda do
acréscimo de uma unidade da quantidade produzida.

63/154
Considerações Finais (2/5)
No curto prazo, o custo total, o custo variável médio e o custo marginal
costumam aumentar quando a produção aumenta por causa da
produtividade marginal decrescente.
A empresa competitiva maximiza o lucro quando a quantidade
produzida está no nível em que o custo marginal é igual ao preço.
No longo prazo, o lucro econômico é zero, mas o lucro contábil é
positivo e suficiente para remunerar o proprietário por seus custos de
oportunidade.
Uma empresa é um monopólio quando é a única vendedora de um
produto que não tem substitutos próximos no mercado.
A principal causa do aparecimento dos monopólios são as barreiras à
entrada de outras empresas para concorrer no mercado.

64/154
Considerações Finais (3/5)
No monopólio, a quantidade de equilíbrio é inferior ao nível que
maximiza os excedentes do consumidor e do produtor, logo ocorre
ineficiência econômica, perda do excedente total (peso morto) e perda
de bem-estar social.
A discriminação de preços pode aumentar a eficiência econômica ao
fazer com que aumente a quantidade produzida e vendida do bem, mas
todo o excedente vai para o monopolista.
O governo pode intervir nos mercados monopolistas para aumentar
o bem-estar de várias maneiras: lei antitruste; regulamentação;
empresas estatais.
O mercado de concorrência monopolística situa-se entre a
concorrência perfeita e o monopólio, e apresenta três características
principais: número elevado de vendedores; produtos diferenciados; não
existem barreiras à entrada.

65/154
Considerações Finais (4/5)
De maneira diferente do mercado competitivo, mesmo no longo prazo,
a empresa monopolisticamente competitiva apresenta capacidade
ociosa e preço com markup sobre o custo marginal.
Oligopólio é uma estrutura de mercado em que um número pequeno
de vendedores oferece produtos similares ou idênticos.
Os oligopolistas gostariam de obter lucros monopolistas, mas isso
geralmente não é possível por que: a) o acordo (cartel) entre os
oligopolistas é considerado crime pela legislação antitruste; b) os
conflitos entre os membros de um oligopólio sobre como dividir o
lucro do mercado tornam muito difícil chegar a um acordo que seja
cumprido por todos.
O equilíbrio do oligopólio pode configurar um “equilíbrio não
cooperativo” (“equilíbrio de Nash”), situação em que um oligopolista
escolhe sua ação independentemente da ação dos outros oligopolistas.

66/154
Considerações Finais (5/5)
O equilíbrio do oligopólio pode também configurar um “equilíbrio com
cooperação tácita”, pois a perspectiva de competir por um período
prolongado pode favorecer que as empresas limitem suas produções,
de modo a aumentar os preços e os lucros do oligopólio como um todo.
Na realidade, a tendência é o oligopólio produzir uma quantidade
maior do que o monopólio e menor do que o mercado competitivo, com
preço inferior ao preço do monopólio e superior ao preço competitivo.
A tendência é o oligopólio não atingir o equilíbrio do mercado
competitivo, logo ocorre redução do bem-estar social, produção
de uma quantidade menor que a socialmente desejável e preços
superiores ao custo marginal.

67/154
Referências

KRUGMAN, Paul; WELLS, Robin. Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Campus, 2011, 2ª edição.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage, 2013, 6ª edição.
PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. São Paulo: Pearson, 2010, 7ª edição.
SAMUELSON, Paul A.; NORDHAUS, William D. Economia. São Paulo: McGraw-Hill, 2012, 19ª
edição.
SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Círculo do Livro, 1999.

68/154 Unidade 2 • O Comportamento das Empresas e a Organização Industrial


Questão 1
1. Com relação às características dos custos da empresa no curto prazo,
indique a alternativa incorreta:

a) O custo total costuma aumentar quando a produção aumenta por causa do produto
marginal decrescente.
b) O custo fixo médio sempre aumenta à medida que a produção aumenta.
c) A empresa geralmente apresenta custos decrescentes durante algum tempo antes dos
custos começarem a aumentar com o aumento da produção.
d) O custo variável médio costuma aumentar quando a produção aumenta por causa do
produto marginal decrescente.
e) O custo marginal costuma aumentar quando a produção aumenta por causa do produto
marginal decrescente.

69/154
Questão 2
2. Com relação ao equilíbrio da empresa competitiva no curto prazo, indi-
que a alternativa incorreta:

a) A empresa produz uma quantidade superior ao seu custo variável médio.


b) Se o preço ficar abaixo do custo variável médio, a empresa estará apresentando prejuízo, e
ficará em melhor situação se paralisar temporariamente as atividades.
c) Ao paralisar as atividades, a empresa perde toda a receita da venda de seu produto, mas
economiza os custos fixos e variáveis de produção.
d) A empresa maximiza o lucro quando a quantidade produzida está no nível em que o custo
marginal é igual ao preço.
e) A curva de custo marginal da empresa é igual à curva de oferta da empresa.

70/154
Questão 3
3. Com relação ao monopólio, indique a alternativa incorreta:

a) O monopolista é o único produtor em seu mercado, logo sempre poder impor preços
maiores para vender uma quantidade maior.
b) A principal causa do aparecimento dos monopólios são as barreiras à entrada de outras
empresas para concorrer no mercado.
c) A empresa monopolista maximiza o lucro produzindo a quantidade em que a receita
marginal iguala o custo marginal.
d) A empresa monopolista é “fazedora do preço” de mercado, ou seja, a empresa determina o
preço de oferta do produto.
e) No monopólio, o preço de equilíbrio é maior que o custo marginal, o que faz com que a
quantidade do bem seja menor do que a do mercado competitivo.

71/154
Questão 4
4. Com relação à competição monopolística, assinale a alternativa incorreta:

a) O mercado de competição monopolística apresenta três características principais: número


elevado de vendedores; produtos diferenciados; e não existem barreiras à entrada.
b) A empresa monopolisticamente competitiva procura maximizar seu lucro de maneira
semelhante ao monopólio.
c) A empresa monopolisticamente competitiva é “fazedora de preço” e o preço apresenta um
markup sobre o custo marginal.
d) A competição monopolística gera ineficiências semelhantes ao monopólio.
e) No longo prazo, por causa da livre entrada e saída de empresas no mercado, a tendência é
que a empresa monopolisticamente competitiva não apresente capacidade ociosa e que
seu preço seja igual ao custo marginal.

72/154
Questão 5
5. Com relação ao oligopólio, assinale a alternativa incorreta:

a) Oligopólio é uma estrutura de mercado em que um número pequeno de vendedores


oferece produtos similares ou idênticos.
b) A interdependência entre as empresas oligopolistas gera uma tensão entre a cooperação e
o interesse próprio no comportamento das empresas.
c) O acordo entre os oligopolistas para obter lucros monopolistas caracteriza a formação de
cartel, prática que é considerada crime pela legislação antitruste.
d) No equilíbrio do oligopólio, o lucro de cada empresa oligopolista depende apenas de suas
ações.
e) Os conflitos entre os membros de um oligopólio sobre como dividir o lucro do mercado
tornam muito difícil chegar a um acordo que seja cumprido por todos.

73/154
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: A.

A alternativa B está incorreta. O correto A alternativa A está incorreta. O correto


seria: “O custo fixo médio sempre diminui seria: “O monopolista é o único produtor
à medida que a produção aumenta.” As em seu mercado, logo precisa aceitar um
demais alternativas estão corretas. preço menor para vender uma quantidade
maior (porque sempre se depara com
2. Resposta: C. a curva de demanda de mercado com
inclinação descendente).” As demais
A alternativa C está incorreta. O correto alternativas estão corretas.
seria: “Ao paralisar as atividades, a
empresa perde toda a receita da venda de 4. Resposta: E.
seu produto, mas economiza os custos
variáveis de produção, tendo que A alternativa E está incorreta. O correto
continuar pagando apenas os custos seria: “Mesmo no longo prazo, apesar
fixos.” As demais alternativas estão da livre entrada e saída de empresas no
corretas. mercado, a tendência é que a empresa
monopolisticamente competitiva
apresente capacidade ociosa e que seu
74/154
Gabarito
preço apresente um markup sobre o
custo marginal.” As demais alternativas
estão corretas.

5. Resposta: D.

A alternativa D está incorreta. O correto


seria: “No equilíbrio do oligopólio, o lucro
de cada empresa oligopolista, depende não
só de suas ações, mas também das ações
dos outros oligopolistas.” As demais
alternativas estão corretas.

75/154
Unidade 3
Princípios de Economia Internacional

Objetivos

1. A Aula 3 tem por objetivos o estudo dos fundamentos do comércio


internacional e da teoria macroeconômica para uma economia
aberta.
2. Inicialmente, o item 2 apresenta o estudo da teoria das vantagens
comparativas no comércio internacional. O item 3 analisa os
impactos sobre a economia do país no comércio internacional de
bens e serviços. O item 4 apresenta os conceitos de fluxo de bens e
serviços, fluxo de recursos financeiros e taxas de câmbio. Finalmente,
o item 5 estuda o mercado de fundos de empréstimos, o mercado de
câmbio e o equilíbrio macroeconômico na economia aberta.

76/154
Unidade 3
Princípios de Economia Internacional

Para saber mais


Além daApoio à aprendizagem há a indicação
de alguns materiais de acompanhamento e
aprofundamento, dentre eles, destaca-se:
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia.
São Paulo: Cengage Learning, 2013, 6ª edição.
Leia especialmente os capítulos 3, 9, 31 e
32. Esta leitura deve lhe auxiliar no melhor
entendimento da Aula 3.

77/154
1. Introdução

O comércio internacional permite aos produzi-lo com uma menor quantidade de


países se especializarem na produção de trabalho do que o outro país.
determinados bens e serviços e trocá- Se cada país possuir vantagem absoluta na
los por uma maior variedade de bens e produção de um dos bens e se especializar
serviços produzidos em outros países. Os na produção desse bem, ambos os países
economistas defendem que o comércio podem ganhar com o comércio. Mas e se um
internacional pode beneficiar todos os país tiver vantagem absoluta na produção
países. dos dois bens? Ainda assim, o comércio
Vamos supor que só temos dois países, A pode ser vantajoso para ambos os países?
e B, ambos produzindo dois bens, X e Y, A resposta é sim. Como veremos a seguir,
utilizando as mesmas funções de produção de acordo com a teoria das vantagens
e a mesma quantidade de insumos, exceto comparativas, o comércio pode ser
a quantidade de trabalho. Um país tem mutuamente benéfico para todos os países.
vantagem absoluta na produção de um
bem se o seu custo de produção for menor 2. As Vantagens Comparativas
do que o custo de produção do outro país.
No exemplo, o país tem vantagem absoluta Seguindo com o exemplo anterior, suponha
na produção de um bem se conseguir que em 1 hora de trabalho são produzidas,
78/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
no país A, 1 unidade do bem X, e 1/2 do vantagem comparativa na produção do
bem Y, enquanto no país B são produzidas bem Y: O custo de oportunidade do bem
1/3 do bem X, e 1/4 do bem Y. Nesse caso, o Y é 4/3 do bem X no país B, e 2 no país A
país A tem vantagem absoluta na produção (MANKIW, p. 52; SAMUELSON; NORDHAUS,
dos dois bens, X e Y (SAMUELSON; p. 304).
NORDHAUS, p. 304). Embora o país A tenha vantagem absoluta
A vantagem comparativa avalia a nos dois bens, seria impossível ele ter
capacidade do produtor de um país vantagem comparativa nos dois bens.
Como o custo de oportunidade de um bem
em produzir um bem com um custo de
é o inverso do custo de oportunidade do
oportunidade menor que o produtor
outro bem, se o custo de oportunidade
de outro país. No exemplo, o custo de
do bem X é baixo, necessariamente o
oportunidade (tradeoff) mede a quantidade custo de oportunidade do bem Y tem que
do bem X que pode ser produzida com o ser elevado. A vantagem comparativa
trabalho necessário para produzir o bem reflete essa relatividade dos custos de
Y: (a) O país A tem vantagem comparativa oportunidade (MANKIW, p. 53).
na produção do bem X: O custo de
Segundo a teoria das vantagens
oportunidade do bem X é 1/2 do bem Y
comparativas, desenvolvida por David
no país A, e 3/4 no país B; (b) O país B tem
Ricardo no século XIX, todo país pode
79/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
ganhar com o comércio, especializando-se
na produção e exportação dos bens que
produz com um custo relativamente menor
Para saber mais
e, inversamente, importando os bens que David Ricardo (1772-1823) foi um economista
produz com um custo relativamente maior inglês, considerado o sucessor de Adam Smith.
(SAMUELSON; NORDHAUS, p. 303). Suas ideias dominaram a economia clássica
por mais de meio século. Em seu trabalho mais
importante, Princípios de Economia Política e
Link Tributação (1817), Ricardo formulou a lei dos
Você pode aprofundar seus estudos sobre a custos comparativos (ou lei das vantagens
teoria das vantagens comparativas lendo comparativas). (SANDRONI, p. 531-532).
o artigo de Cláudio Gontijo: “As duas vias do
princípio das vantagens comparativas de David
Ricardo e o padrão-ouro: um ensaio crítico”. Na prática, os economistas que estudam
São Paulo: REP, vol. 27, nº 3 (107), pp. 413- o comércio internacional destacam
430, jul.-set./2007. Disponível em: <http:// três fontes principais de vantagens
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ comparativas entre os países: (a)
arttext&pid=S0101-31572007000300006>. Diferenças internacionais de clima; (b)
Acesso em: 17 set. 2014. Diferenças internacionais de fatores de

80/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


produção; (c) Diferenças internacionais doméstico de um bem for maior que o
de tecnologia (KRUGMAN; WELLS, p. 181- preço mundial, o país não tem vantagem
182). comparativa e deve importar esse bem
(MANKIW, p. 163; KRUGMAN; WELLS, p.
3. O Comércio Internacional 184-187).
Se uma economia pequena pratica o
3.1 O Preço Mundial
livre-comércio, apenas o preço mundial é
O preço mundial (internacional) de um relevante para essa economia. A tendência
bem é o preço do bem que prevalece no é que os preços domésticos da economia
mercado internacional entre os países. sejam iguais aos preços mundiais
O preço doméstico do bem é o preço que (MANKIW, p. 163).
prevaleceria no mercado interno do país,
se o país não tivesse relações comerciais 3.2 Ganhos e Perdas do País
com outros países. Nos termos do livre- Exportador
comércio: (a) Se o preço doméstico de
um bem for menor que o preço mundial, Considere um país (economia pequena),
o país tem vantagem comparativa e antes de ingressar no comércio
deve exportar esse bem; (b) Se o preço internacional, onde o preço doméstico de
81/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
um bem é menor do que o preço mundial. um preço maior; (f) Aumenta o excedente
Se o país ingressar no livre-comércio, por total do país, pois o aumento do excedente
ter vantagem comparativa, a tendência do produtor é maior do que a queda do
é o país tornar-se exportador desse bem. excedente do consumidor, indicando que o
São esperados os seguintes efeitos sobre o comércio melhora o bem-estar econômico
mercado interno desse bem no país: (a) O do país como um todo (MANKIW, p. 164-
preço doméstico aumenta até igualar-se 165; KRUGMAN; WELLS, p. 186-187).
ao preço mundial; (b) Ao preço mundial, a
quantidade ofertada aumenta, mas cai a 3.3 Ganhos e Perdas do País
quantidade demandada internamente; (c) Importador
A quantidade exportada é igual à diferença
entre a quantidade ofertada internamente Considere um país (economia pequena),
e a quantidade demandada internamente antes de ingressar no comércio
ao preço mundial; (d) Aumenta o excedente internacional, onde o preço doméstico de
do produtor interno, pois agora vende uma um bem é maior do que o preço mundial.
quantidade maior a um preço maior; (e) Cai Se o país ingressar no livre-comércio, por
o excedente do consumidor interno, pois não ter vantagem comparativa, a tendência
agora compra uma quantidade menor a é o país tornar-se importador desse bem.

82/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


São esperados os seguintes efeitos sobre do excedente do produtor interno,
o mercado interno desse bem no país: (a) indicando que o comércio melhora o bem-
O preço doméstico diminui até igualar-se estar econômico do país como um todo
ao preço mundial; (b) Ao preço mundial, (MANKIW, p. 165-166; KRUGMAN; WELLS,
a quantidade ofertada internamente cai, p. 184-186).
mas aumenta a quantidade demandada
internamente; (c) A quantidade importada 3.4 Os Efeitos do Comércio so-
é igual à diferença entre a quantidade bre a Economia do País
ofertada internamente e a quantidade
demandada internamente ao preço Se um bem é importado ou exportado, o
mundial; (d) Cai o excedente do produtor comércio cria vencedores e perdedores na
interno, pois agora vende uma quantidade economia do país. Mas os ganhos excedem
menor a um preço menor; (e) Aumenta as perdas, aumentando o excedente
o excedente do consumidor, pois agora total e o bem-estar do país. Temos ainda
compra uma quantidade maior a um preço outros benefícios esperados do comércio
menor; (f) Aumenta o excedente total internacional: (a) Aumento da variedade
do país, pois o aumento do excedente de bens disponíveis para consumo; (b) Os
do consumidor é maior do que a queda produtores que vendem para um mercado

83/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


maior podem alcançar menores custos vários argumentos: proteção de empregos;
através da produção em maior escala; (c) defesa da segurança nacional; auxílio
A concorrência do exterior pode reduzir o às indústrias nascentes; prevenção à
poder de mercado das empresas nacionais, concorrência desleal; e reação às restrições
contribuindo para reduzir os preços externas ao comércio (MANKIW, p. 171-
internos; (d) O comércio internacional 176; KRUGMAN; WELLS, p. 193).
tende a aumentar o fluxo de ideias e Embora alguns dos argumentos favoráveis
facilitar o desenvolvimento tecnológico às restrições ao comércio internacional
(MANKIW, p. 170). possam ter méritos, os economistas ainda
O livre-comércio internacional pode assim defendem que o livre-comércio é
ser benéfico para todos, pois permite normalmente a melhor política para a
aumentar o excedente total da economia. economia do país como um todo, tese que
Em tese, os ganhadores poderiam também é institucionalmente defendida
compensar os perdedores, mas essa pela Organização Mundial do Comércio.
compensação raramente ocorre. Essa é a
principal razão dos produtores domésticos
que competem com importações
defenderem o protecionismo através de
84/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
As possíveis perdas para a economia do
Para saber mais país pela adoção de políticas protecionistas
podem ser visualizadas através da análise
A Organização Mundial do Comércio é uma dos impactos negativos da cobrança
organização que pretende supervisionar e pelo governo de uma tarifa sobre os
liberalizar o comércio internacional. A OMC
produtos importados: (a) Aumenta o preço
iniciou suas atividades em 1º de janeiro de 1995
doméstico do bem num valor equivalente
e tem por objetivo regular as relações comerciais
à tarifa; (b) Diminui a quantidade interna
entre os diversos países que a compõem,
estabelecendo mecanismos de solução das
demandada do bem; (c) Aumenta a
controvérsias comerciais, tendo como base os quantidade interna ofertada do bem; (d)
acordos comerciais existentes, e criando um Diminui a quantidade importada do bem;
ambiente que permita a negociação de novos (e) O governo ganha receita com a tarifa;
acordos multilaterais e plurilaterais entre os (f) Aumenta o excedente do produtor
países membros. Disponível em: <http://www. interno; (g) Diminui o excedente dos
itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/ compradores internos; (h) Ocorre perda
diplomacia-economica-comercial-e- de bem-estar, com queda do excedente
financeira/132-organizacao-mundial-do- total da economia (MANKIW, p. 167-168;
comercio-omc>. Acesso em: 17 set. 2014. KRUGMAN; WELLS, p. 189-190).

85/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


4. Macroeconomia das Economias Abertas: Conceitos Básicos
A macroeconomia das economias abertas é o ramo da macroeconomia que estuda as relações
econômicas entre as economias nacionais. Nas análises macroeconômicas, a economia
aberta interage livremente com outras economias do mundo de duas maneiras: a) Comprando
(importando) e vendendo (exportando) bens e serviços nos mercados mundiais de produtos
(fluxo de bens e serviços); b) Comprando e vendendo ativos de capital (ações, títulos, etc.) nos
mercados financeiros mundiais (fluxo de recursos financeiros) (MANKIW, p. 642; KRUGMAN;
WELLS, p. 787).
Os economistas acompanham as transações internacionais do país através das contas do
Balanço de Pagamentos.

Para saber mais


O Balanço de Pagamentos, compilado pelo Banco Central do Brasil, é um conjunto de informações
sobre as transações econômicas da economia brasileira com o resto do mundo, num período
determinado. Dependendo da natureza da transação econômica ou financeira, que dá lugar à receita ou
despesa de divisas, podem ser classificadas como operações em transações correntes (fluxo de bens e
serviços) ou movimento de capitais (fluxo de recursos financeiros).

86/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


Para saber mais
O Balanço de Pagamentos, compilado pelo Banco Central do Brasil, é um conjunto de informações sobre as
transações econômicas da economia brasileira com o resto do mundo, num período determinado. Dependendo
da natureza da transação econômica ou financeira, que dá lugar à receita ou despesa de divisas, podem ser
classificadas como operações em transações correntes (fluxo de bens e serviços) ou movimento de capitais (fluxo de
recursos financeiros). As transações correntes incluem as contas: de comércio ou balança comercial (exportações e
importações); de serviços ou balança de serviços (fretes, seguros, turismo, royalties, remessas de lucros e juros, etc.);
e as transferências unilaterais. O movimento de capitais constitui uma conta também chamada de conta de capital
(investimentos diretos; empréstimos e financiamentos; amortizações; etc.). A soma das transações correntes e do
movimento de capitais proporciona o resultado final do balanço de pagamentos (SANDRONI, p. 41-42).

Link
Você pode aprofundar seu conhecimento sobre o Balanço de Pagamentos do Brasil lendo a publicação do Banco Central
do Brasil: Notas Metodológicas – Balanço de Pagamentos, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?ecoimprensa>.
Acesso em: 17 set. 2014.

A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda publica mensalmente informações do Balanço de


Pagamentos do Brasil, que você pode acessar em: <https://www.spe.fazenda.gov.br/conjuntura-economica/
setor-externo/balanco-de-pagamentos/g-balanco-de-pagamentos>. Acesso em: 17 set. 2014.

87/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


4.1. O Fluxo de Bens e Serviços Variáveis que influenciam as exportações
líquidas (EL): (a) As preferências dos
Destaquem-se os seguintes conceitos consumidores por bens domésticos e
básicos do fluxo internacional de bens e estrangeiros; (b) Os preços dos bens
serviços: (a) Exportações: Bens e serviços domésticos e estrangeiros; (c) As rendas
produzidos internamente e vendidos dos consumidores nacionais internamente
no exterior; (b) Importações: Bens e e no exterior; (d) A taxa de câmbio; (e) Os
serviços produzidos no exterior e vendidos custos com transporte; (f) As políticas
internamente; (e) Exportações líquidas governamentais (MANKIW, p. 643;
(balança comercial) (EL): Resultado da SAMUELSON; NORDHAUS, p. 499).
diferença entre o valor das exportações e o
valor das importações. 4.2 O Fluxo de Recursos Finan-
São três os resultados possíveis das ceiros
exportações líquidas (balança comercial):
O fluxo líquido de capitais financeiros,
(a) Superávit (EL>0): Excesso de exportações
também chamado de investimento externo
sobre as importações; (b) Déficit (EL<0):
líquido (IEL), refere-se ao resultado da
Excesso de importações sobre as
diferença entre o valor da compra de ativos
exportações; (h) Equilíbrio (EL=0): Igualdade
estrangeiros por residentes internos e o
entre exportações e importações.
88/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
valor da compra de ativos internos por São três os resultados possíveis do
estrangeiros (investimentos estrangeiros) investimento externo líquido (IEL): (a)
(MANKIW, p. 646). Superávit (IEL>0): ocorre “saída líquida de
capitais”, pois o valor da compra doméstica
Para saber mais de ativos externos excede o valor da
compra externa de ativos internos; (b)
Os investimentos estrangeiros podem serefetuados sob
Déficit (IEL<0): ocorre “entrada líquida de
a forma de investimentos diretos (IED) ou de investimentos
em carteira. O IED é constituído quando o investidor capitais”, pois o valor da compra externa de
detém 10% ou mais das ações ordinárias ou de direito a ativos internos excede o valor da compra
voto numa empresa e, poroutro lado, considera-se como doméstica de ativos externos; (c) Equilíbrio
investimento em carteira quando ele for inferiora 10%. (IEL=0): quando o valor da compra
O IED está divido em duas modalidades: participação no
doméstica de ativos externos é igual ao
capital e empréstimos intercompanhias. Disponível em:
<http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ valor da compra externa de ativos internos.
ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/ Variáveis que influenciam o investimento
LEGISLAxO_SOBRE_INVESTIMENTO_DIRETO_ externo líquido: (a) Taxas de juros reais
ESTRANGEIRO_NO_BRASIL_E_O_SETOR_DE_TURISMO. pagas sobre os ativos externos; (b) Taxas de
pdf>. Acesso em: 31 Mai.2016. juros reais pagas sobre os ativos internos;
89/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
(c) Riscos percebidos por residentes • Numa situação de superávit
internos de manter ativos no exterior; (d) comercial (EL>0), os residentes
Riscos por estrangeiros de manter ativos internos recebem moeda estrangeira.
internos (MANKIW, p. 646-647; KRUGMAN; E com esse montante de moeda
WELLS, p. 792-795). estrangeira, os residentes internos
talvez comprem ativos externos.
4.3 A Igualdade entre as Ex- Como resultado, ocorre um superávit
no investimento externo líquido
portações Líquidas e o Investi-
(IEL>0), de mesmo montante que o
mento Externo Líquido superávit comercial (EL=IEL).
A Igualdade entre as exportações líquidas • Numa situação de déficit comercial
de bens e serviços (EL) e o investimento (EL<0), os residentes internos têm
externo líquido de recursos financeiros (IEL) que financiar a saída de moeda
é uma identidade contábil. Essa igualdade estrangeira para o exterior. Os
surge porque as transações que afetam as residentes internos talvez financiem
exportações líquidas, também afetam, no o déficit comercial com a venda de
mesmo montante, o investimento externo ativos externos. Como resultado,
líquido (e vice-versa) (MANKIW, p. 647- ocorre um déficit no investimento
648; SAMUELSON; NORDHAUS, p. 507): externo líquido (IEL<0), de mesmo
90/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
montante que o déficit comercial Como Y = C + I + G + EL, e EL = IEL, temos:
(EL=IEL).
• S = I + EL = I + IEL
4.4 Poupança e Investimento • EL = S - I = IEL
Análise da relação entre a poupança (S), o
O PIB de uma economia (Y) divide-se
investimento (I), as exportações líquidas
em quatro componentes: consumo (C),
(EL) e o investimento externo líquido (IEL):
investimento (I), compras do governo (G) e
(a) Quando S>I temos superávit comercial
exportações líquidas (EL):
(EL>0) e superávit nos fundos para
• Y = C + I + G + EL empréstimos que fluem para o exterior
O valor do produto (PIB) iguala-se ao (saída líquida de capital) (IEL>0); (b)
valor da renda (Y) da economia. A despesa Quando S<I temos déficit comercial (EL<0)
na produção do PIB é igual à soma das e financiamento externo de investimentos
despesas com C, I, G e EL. no país (entrada líquida de capital) (IEL< 0)
(MANKIW, p. 648-650. SAMUELSON; WELLS,
O valor da poupança nacional (S) é o valor p. 355).
de Y depois que são pagos C e G:
• S = Y – C – G
91/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
4.5 A Taxa de Câmbio de câmbio (para US$ 1,00 / R$ 1,00,
por exemplo). Significa que ocorreu
A taxa de câmbio nominal é a taxa usada aumento no valor do R$ em relação
na troca da moeda do país pela moeda ao US$ (agora R$ 1,00 pode comprar
de outro país. Na nossa análise, vamos US$ 1,00).
adotar a convenção de representar a taxa
• Depreciação (enfraquecimento) da
de câmbio nominal (e) como a relação
taxa de câmbio: quando diminui
das unidades da moeda estrangeira por 1
a taxa de câmbio (para US$ 0,25 /
unidade da moeda doméstica (R$ 1,00):
R$ 1,00, por exemplo). Significa que
• e = (unidades da moeda ocorreu queda no valor do R$ em
estrangeira) / R$ 1,00. relação ao US$ (agora R$ 1,00 pode
No Brasil, uma taxa de câmbio nominal de comprar US$ 0,25).
US$ 0,50 / R$ 1,00 significa que R$ 1,00 A partir da taxa de câmbio nominal é
pode comprar US$ 0,50. São dois os derivado o conceito de taxa de câmbio
movimentos possíveis da taxa de câmbio: real, que mede a taxa de relação de troca
dos bens e serviços do país pelos bens e
• Apreciação (fortalecimento) da taxa
serviços de outro país. A taxa de câmbio
de câmbio: quando aumenta a taxa
real é a taxa de câmbio nominal ajustada
92/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
pelas diferenças nos níveis de preços • Taxa de câmbio real = 1 saca de soja
agregados dos países (MANKIW, p. 653- do Brasil por 1 saca de soja dos EUA.
655; KRUGMAN; WELLS, p. 800-801): • Se a taxa de câmbio real se aprecia
• E = (e x P) / P* (duas sacas de soja do Brasil por uma
saca de soja dos EUA, por exemplo),
• Onde: E = Taxa de câmbio real; e =
os bens do país se tornam mais caros
Taxa de câmbio nominal; P = Preço
em relação aos bens do exterior,
interno; P* = Preço externo.
prejudicando as exportações e
• Suponha uma exportação de soja do favorecendo as importações, com
Brasil para os EUA: (a) Taxa de câmbio tendência de déficit na balança
nominal = US$ 0,50 / R$ 1,00; (b) comercial (EL<0).
Preço interno da saca de 60 kg de soja
• Se a taxa de câmbio se deprecia (0,5
no Brasil = R$ 60,00; (c) Preço externo
saca de soja do Brasil por uma saca
da saca de 60 kg de soja nos EUA =
de soja dos EUA, por exemplo), os
US$ 30,00.
bens do país se tornam mais baratos
• Taxa de câmbio real = (US$ 0,50 / em relação ao exterior, prejudicando
R$ 100 x R$ 60,00) / US$ 30,00 = 1,00 as importações e favorecendo as
exportações, com tendência de
93/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
superávit na balança comercial A paridade do poder de compra (PPC) está
(EL>0). estreitamente relacionada ao conceito
de taxa de câmbio real. A PPC entre as
4.6 A Paridade do Poder de moedas de dois países é a taxa de câmbio
Compra nominal pela qual uma dada cesta de bens
e serviços custaria o mesmo montante em
A chamada “lei do preço único” é a noção cada um dos mercados dos dois países. O
de que um bem deve ser vendido pelo cálculo da PPC considera que uma unidade
mesmo preço em todas as localidades. da moeda de qualquer país deve ser capaz
A ideia é que se não houver custo de de comprar a mesma quantidade de bens
transporte, o processo de arbitragem em todos os países. Principais implicações
(comprar o bem com preço mais baixo
da PPC (MANKIW, p. 656-660; KRUGMAN;
num local para revendê-lo com mais alto
WELLS, p. 801-802):
noutro local) fará com que os preços dos
bens fiquem iguais em todos os lugares. A • As taxas de câmbio nominais tendem
teoria de determinação da taxa de câmbio, a se ajustar para igualar o preço
conhecida como teoria da paridade do de uma cesta de bens em todos os
poder de compra (PPC), é baseada nessa
lugares. Exemplo: o preço do Big Mac,
“lei do preço único”. (MANKIW, p. 656).
94/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
em dólares, deveria ser o mesmo no
Brasil e nos EUA (ver: índice Big Mac). Para saber mais
• A taxa de câmbio nominal entre dois O índice Big Mac é um indicador criado e
países tende a ser igual à razão entre publicado, desde 1986, pela revista inglesa The
os níveis de preços dos dois países. Economist, que mede a paridade do poder de
Exemplo: se a inflação é mais elevada compra das principais moedas mundiais, tendo
no Brasil que nos EUA, o R$ deveria se como referencial o preço do Big Mac, porque
desvalorizar frente ao US$. esse sanduíche é produzido com as mesmas
matérias-primas e vendido praticamente em
• Se o poder de compra da moeda
todo o mundo (SANDRONI, p. 296-297).
tende a ser o mesmo em todos os
lugares, então a taxa de câmbio real
do país tende a não mudar.
Link
Você pode acompanhar a publicação do índice Big
Mac no site da revista The Economist. Disponível
em: <http://www.economist.com/content/
big-mac-index>. Acesso em: 17 set. 2014.

95/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


A PPC tem se revelado um bom indicador comercial, da balança de capitais, da
das tendências de longo prazo para as taxa de juros e da taxa de câmbio da
mudanças nas taxas de câmbio nominal economia. Por simplificação, esse modelo
dos países. Em particular, as taxas toma como dados o PIB e o nível de
de câmbio nominal entre países com preços da economia. É suposto que o PIB
níveis semelhantes de desenvolvimento é determinado pela função de produção
econômico tendem a flutuar em torno de (oferta de fatores de produção e tecnologia
níveis que levam a custos similares para uma de produção disponível que transformam
dada cesta de bens e serviços nos mercados os insumos em produto), e que o nível de
dos países (KRUGMAN; WELLS, p. 802). preços se ajusta para equilibrar a oferta e a
demanda de moeda (MANKIW, p. 666).
5. Princípios da Teoria Macroe-
conômica da Economia Aberta 5.2 O Mercado de Fundos de
Empréstimos
5.1 Considerações iniciais
No mercado de fundos de empréstimos,
A seguir será apresentado um modelo a poupança nacional (S) representa a
macroeconômico com o objetivo de oferta de fundos para empréstimos. Os
explicar os determinantes da balança
96/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
recursos da poupança são demandados de empréstimos positivamente
para financiar a compra de investimentos inclinada. O aumento de r estimula o
internos (I) e a compra líquida de aumento de S.
investimentos externos (IEL). A taxa real • I e IEL dependem negativamente de
de juros interna é o preço de equilíbrio r. (I + IEL) é a curva de demanda de
entre a oferta e demanda de fundos de fundos de empréstimos para financiar
empréstimos (MANKIW, p. 666-667; investimentos e é negativamente
KRUGMAN; WELLS, p. 792-793): inclinada. A queda de r estimula o
• S = I + IEL aumento de (I + IEL).
• A taxa de juros real interna (r) é • À taxa de juros real interna de
o valor da taxa de juros nominal equilíbrio, a quantia que as pessoas
descontado o efeito da taxa de desejam poupar (S) é exatamente
inflação. Representa a taxa de igual à quantia que as pessoas
rentabilidade real dos ativos desejam tomar emprestada
domésticos. para investimento interno (I) e
investimento líquido externo (IEL).
• S depende positivamente de r.
S é a curva de oferta de fundos
97/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional
5.3 O Mercado de Câmbio de (MANKIW, p. 667-670; KRUGMAN; WELLS,
Moeda Estrangeira p. 798-800):
• IEL = EL
No mercado de câmbio de moeda
estrangeira, o R$ é trocado por moeda • A curva de demanda EL tem
estrangeira (US$, por exemplo). Os inclinação negativa. Se a taxa de
dois lados do mercado de câmbio são câmbio real se aprecia, diminuem
representados pelo investimento externo as EL do Brasil, pois diminuem
líquido (IEL) e as exportações líquidas as exportações e aumentam as
(EL). O IEL representa a quantidade de R$ importações. A consequência é a
ofertada para os residentes internos, que queda da demanda de R$ no mercado
precisam trocar R$ por US$ para comprar de câmbio.
ativos estrangeiros. As EL representam • A curva de oferta IEL é vertical
a quantidade de R$ demandada pelos (perfeitamente inelástica), porque o
estrangeiros, que precisam trocar US$ por IEL não depende da taxa de câmbio
R$ para comprar as EL de bens e serviços real, sendo função apenas da taxa
do Brasil. A taxa de câmbio real (E) é o real de juros interna (r).
preço que equilibra o mercado de câmbio

98/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


5.4 O Equilíbrio na Economia • No mercado de câmbio, a taxa de
Aberta câmbio real de equilíbrio (E*) é o
preço que equilibra a oferta (IEL*) e
O equilíbrio na economia aberta é a demanda (EL) de R$ para serem
representado pelo equilíbrio simultâneo no trocados por US$.
mercado de fundos para empréstimos e no
• No equilíbrio simultâneo dos
mercado de câmbio da moeda estrangeira
mercados de fundos de empréstimos
(MANKIW, p. 670-673):
e de câmbio da moeda estrangeira,
• No mercado de fundos de a taxa de juros real interna (r*) e a
empréstimo, a taxa de juros real taxa de câmbio real (E*) se ajustam
interna de equilíbrio (r*) é o preço que simultaneamente para equilibrar
iguala a oferta (S) e a demanda (I + oferta e demanda nos dois mercados.
IEL) de fundos de empréstimos. E esse equilíbrio simultâneo
determina a poupança nacional
• O IEL é a variável chave para
(S), o investimento interno (I), o
equilibrar a economia aberta. A partir
investimento externo líquido (IEL*) e
de r* determina-se o IEL de equilíbrio
as exportações líquidas (EL).
(IEL*).

99/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


Glossário
Economia pequena: Por hipótese, considera-se que um país é uma economia pequena se suas ações têm
pouco efeito sobre os mercados mundiais. A economia pequena é tomadora de preços no mercado mundial
e suas ações não têm efeito sobre os preços mundiais (MANKIW, p. 163).

Livre-comércio: Doutrina econômica segundo a qual o fluxo de mercadorias e serviços entre os países
não deve ser submetido a tarifas, a restrições quantitativas, ou a quaisquer outros impedimentos criados ou
encorajados por intervenção governamental direta (SANDRONI, p. 351).

Protecionismo: Doutrina econômica que defende a adoção de um sistema de tarifas ou cotas para
restringir o fluxo das importações, com base em argumentos não econômicos (defesa da agricultura e
indústria por razões de segurança nacional, etc.) e em justificativas econômicas (desenvolvimento de novas
indústrias no país, defesa do nível de emprego, etc.). (SANDRONI, p. 504-505).

100/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


?
Questão
para
reflexão

Elabore um texto desenvolvendo, de forma sucinta,


suas reflexões sobre os impactos esperados sobre
a economia do país por aderir ao livre-comércio
internacional.

101/154
Considerações Finais (1/4)

Segundo a teoria da vantagem comparativa, todo país pode ganhar com o


comércio, especializando-se na produção e exportação dos bens que produz
com um custo relativamente menor e, inversamente, importando os bens que
produz com um custo relativamente maior.
Ganhos e perdas do país exportador: (a) O preço doméstico aumenta até
igualar-se ao preço mundial; (b) Aumenta o excedente do produtor; (c) Cai o
excedente do consumidor; (d) Aumenta o excedente total do país.
Ganhos e perdas do país importador: (a) O preço doméstico diminui até
igualar-se ao preço mundial; (b) Cai o excedente do produtor; (c) Aumenta o
excedente do consumidor; (d) Aumenta o excedente total do país.
Impactos de uma tarifa sobre importação: (a) Aumenta o preço doméstico; (b)
O governo ganha receita; (c) Aumenta o excedente do produtor interno; (d)
Cai o excedente do consumidor; (e) Cai o excedente total do país.

102/154
Considerações Finais (2/4)

Investimento externo líquido (IEL) é o resultado da diferença entre o valor da


compra de ativos estrangeiros por residentes internos e o valor da compra
de ativos internos por estrangeiros. O resultado deficitário (IEL<0) significa
“entrada líquida de capitais”.
O valor das exportações líquidas de bens e serviços (EL) é igual ao valor do
investimento externo líquido (IEL).
O valor da poupança nacional é o valor da renda nacional depois que são
pagos o consumo e os gastos do governo (S = Y – C – G), sendo igual ao valor
da soma do investimento com as exportações líquidas (ou investimento
externo líquido) (S = I + EL = I + IEL).
A taxa de câmbio nominal é a taxa usada na troca da moeda do país (R$)
pela moeda de outro país (US$). A apreciação (fortalecimento) da taxa de
câmbio significa que ocorreu aumento no valor do R$ em relação ao US$.
A depreciação (enfraquecimento) da taxa de câmbio significa que ocorreu
queda no valor do R$ em relação ao US$.
103/154
Considerações Finais (3/4)

A taxa de câmbio real é a taxa de câmbio nominal ajustada pelas diferenças


nos níveis de preços dos países. Representa uma medida da relação de troca
dos bens e serviços do país pelos bens e serviços de outro país. A apreciação
da taxa de câmbio real prejudica as exportações e favorece as importações.
A depreciação da taxa de câmbio real prejudica as importações e favorece as
exportações.
A paridade do poder de compra (PPC) entre as moedas de dois países é uma
medida da taxa de câmbio real. O cálculo da PPC considera que uma unidade
da moeda de qualquer país deve ser capaz de comprar a mesma quantidade
de bens em todos os países.
No mercado de fundos de empréstimos, a poupança nacional (S) representa
a oferta de recursos que são demandados para financiar a compra de
investimentos (I) e de investimentos externos líquidos (IEL). A taxa real de
juros interna (valor da taxa de juros nominal descontado o efeito da taxa
104/154
Considerações Finais (4/4)

de inflação) é o preço de equilíbrio entre a oferta e demanda de fundos de


empréstimos.
No mercado de câmbio de moeda estrangeira (US$), o investimento externo
líquido (IEL) representa a oferta de US$ que os estrangeiros vendem para
obter os R$ que precisam para comprar ativos domésticos e as exportações
líquidas (EL) representam a demanda de US$ que os residentes internos
precisam para comprar bens e serviços do exterior. A taxa de câmbio real é o
preço que equilibra a oferta e a demanda de moeda estrangeira.
No equilíbrio simultâneo dos mercados de fundos de empréstimos e de
câmbio da moeda estrangeira, a taxa de juros real interna e a taxa de câmbio
real se ajustam simultaneamente para equilibrar oferta e demanda nos dois
mercados. E esse equilíbrio simultâneo determina a poupança nacional,
o investimento interno, o investimento externo líquido e as exportações
líquidas.
105/154
Referências

KRUGMAN, Paul; WELLS, Robin. Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Campus, 2011, 2ª edição.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage, 2013, 6ª edição.
SAMUELSON, Paul A.; NORDHAUS, William D. Economia. São Paulo: McGraw-Hill, 2012, 19ª
edição.
SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Círculo do Livro, 1999.

106/154 Unidade 3 • Princípios de Economia Internacional


Questão 1
1. Com relação aos conceitos de vantagens absolutas e comparativas no
comércio internacional, indique a alternativa incorreta:

a) Um país tem vantagem absoluta na produção de um bem se o seu custo de produção for
menor do que o custo de produção do outro país.
b) A vantagem comparativa avalia a capacidade do produtor de um país em produzir um bem
com custo de oportunidade menor que o produtor de outro país.
c) Segundo a teoria da vantagem comparativa, todo país pode ganhar com o comércio,
especializando-se na produção e exportação dos bens que produz com um custo
relativamente menor.
d) Segundo a teoria da vantagem comparativa, todo país pode ganhar com o comércio,
importando os bens que produz com um custo relativamente maior.
e) Segundo a teoria das vantagens comparativas, o comércio entre dois países não pode ser
benéfico para ambos os países se um dos países tiver vantagem absoluta na produção de
todos os bens.

107/154
Questão 2
2. Considere um país (economia pequena) onde o preço doméstico de
um bem é menor do que o preço mundial. Assinale a alternativa incorreta
sobre os impactos esperados sobre a economia do país se ingressar no
livre-comércio:

a) Por ter vantagem comparativa, a tendência é o país tornar-se exportador desse bem.
b) O preço mundial do bem diminui até igualar-se ao preço doméstico.
c) Ao preço mundial, aumenta a quantidade do bem ofertada internamente.
d) Ao preço mundial, cai a quantidade do bem demandada internamente.
e) A quantidade exportada do bem é igual à diferença entre a quantidade ofertada
internamente e a quantidade demandada internamente ao preço mundial.

108/154
Questão 3
3. Considere um país (economia pequena) onde o preço doméstico de um
bem é maior do que o preço mundial. Assinale a alternativa incorreta sobre
os impactos esperados sobre a economia do país se ingressar no livre-co-
mércio:

a) Cai o excedente do produtor interno.


b) O produtor interno vai vender uma quantidade menor a um preço menor.
c) Aumenta o excedente do consumidor.
d) O excedente total do país permanece constante.
e) O consumidor interno vai comprar uma quantidade maior a um preço menor.

109/154
Questão 4
4. Supondo uma taxa de câmbio nominal e = US$ 1,00 / R$ 1,00, indique a
alternativa incorreta:

a) A taxa de câmbio nominal mede a relação de troca dos bens e serviços do país pelos bens e
serviços de outro país.
b) A apreciação da taxa de câmbio ocorre quando aumenta o valor da taxa de câmbio.
c) A apreciação da taxa de câmbio ocorre quando aumenta o valor do R$ em relação ao US$.
d) A depreciação taxa de câmbio ocorre quando diminui o valor da taxa de câmbio.
e) A depreciação da taxa de câmbio ocorre quando cai o valor do R$ em relação ao US$.

110/154
Questão 5
5. Com relação ao funcionamento do mercado de fundos de empréstimos
de uma economia aberta, indique a alternativa incorreta:

a) A poupança nacional representa a oferta de fundos para empréstimos e depende


positivamente da taxa real de juros interna.
b) A soma do investimento interno com o investimento externo líquido representa a demanda
de fundos para empréstimo e depende negativamente da taxa real de juros interna.
c) A taxa de câmbio real é o preço de equilíbrio entre a oferta e demanda de fundos de
empréstimos.
d) A taxa de juros real interna é o valor da taxa de juros nominal descontado o efeito da taxa
de inflação
e) A taxa real de juros interna representa a taxa de rentabilidade real dos ativos domésticos.

111/154
Gabarito
1. Resposta: E. 3. Resposta: D.

A alternativa E está incorreta. O correto A alternativa D está incorreta. O correto


seria: “Segundo a teoria das vantagens seria: “O excedente total do país aumenta”.
comparativas, o comércio entre dois países As demais alternativas estão corretas.
pode ser benéfico para ambos os países,
mesmo se um dos países tiver vantagem
4. Resposta: A.
absoluta na produção de todos os bens.” As A alternativa A está incorreta. O correto
demais alternativas estão corretas. seria: “A taxa de câmbio nominal mede
a relação de troca da moeda do país
2. Resposta: B. pela moeda de outro país.” As demais
alternativas estão corretas.
A alternativa B está incorreta. O correto
seria: “O preço doméstico do bem aumenta 5. Resposta: C.
até igualar-se ao preço mundial”. As A alternativa C está incorreta. O correto
demais alternativas estão corretas. seria: “A taxa real de juros interna é
o preço de equilíbrio entre a oferta e
demanda de fundos de empréstimos.” As
demais alternativas estão corretas.
112/154
Unidade 4
Políticas Macroeconômicas

Objetivos

1. A Aula 4 tem por objetivo o estudo da teoria


macroeconômica, com destaque para a
Para saber mais
Além da Apoio à aprendizagem há
apresentação do modelo de demanda agregada
a indicação de alguns materiais de
e oferta agregada e a aplicação desse modelo na
acompanhamento e aprofundamento,
análise das políticas monetária e fiscal.
dentre eles, destaca-se: MANKIW, N.
2. Inicialmente, no item 2, são apresentados
Gregory. Introdução à Economia. São
conceitos macroeconômicos básicos. O item
Paulo: Cengage Learning, 2013, 6ª
3 estuda o modelo de demanda agregada
edição. Leia especialmente os capítulos
e oferta agregada. A política monetária é
23, 24, 26, 28, 29, 30, 33, 34 e 35. Esta
analisada no item 4, e a política fiscal, no item
leitura deve lhe auxiliar no melhor
5. Finalmente, o item 6 dedica-se ao estudo da
entendimento da Aula 4.
inflação e desemprego.
113/154
1. Introdução
Uma das funções do governo é contribuir 2. Conceitos Básicos
para a estabilização das flutuações
econômicas, considerando-se que o 2.1 Produto e Renda Nacional
funcionamento do sistema de mercado
não é capaz, por si só, de sempre assegurar O produto interno bruto (PIB) é uma
taxas elevadas de crescimento econômico medida da produção total de bens e
e emprego (pleno emprego) e taxas de serviços do país. O valor do produto do país
inflação baixas (estabilidade de preços). iguala o valor da renda do país: as famílias
Para que esses objetivos sejam alcançados recebem remunerações (renda) pela venda
de forma eficaz, o governo utiliza-se de de seus fatores de produção às empresas
um conjunto de políticas e instrumentos (aluguel da terra; lucro e juros do capital; e
econômicos, com destaque para a política salários do trabalho). E o produto e a renda
monetária e a política fiscal. também igualam o valor das despesas
No próximo item vamos estudar alguns do país: cada R$ 1,00 de despesa de um
conceitos básicos da macroeconomia que comprador corresponde a R$ 1,00 de renda
são utilizados pelos economistas para para um vendedor. Assim, por definição,
analisar e monitorar o desempenho da uma identidade macroeconômica básica
economia. O estudo inicia-se com a análise é a igualdade entre esses três conceitos:
do produto e renda da economia. produto, renda e despesa (MANKIW,
114/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
p. 468-470; SAMUELSON; NORDHAUS, p. do PIB nominal reflete tanto a variação
343-346). dos preços quanto das quantidades; (b)
PIB real, que representa o resultado do PIB
com base nos preços de um ano-base. A
Link variação do PIB real reflete a variação das
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística quantidades, isto é, a variação que o PIB
(IBGE), instituição federal subordinada ao teria se a inflação fosse zero (MANKIW, p.
Ministério do Planejamento, é o responsável pelo 473-477; SAMUELSON; NORDHAUS, p.
cálculo do produto interno bruto (PIB) no Brasil. 347-349).
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Identidade macroeconômica básica
Acesso em: 17 set. 2014. (MANKIW, p. 470-473; SAMUELSON;
NORDHAUS, p. 349-351):
Temos duas medidas do PIB: (a) PIB Y = C + I + G + EL
nominal (ou PIB a preços correntes), que
representa o valor de mercado de todos os Sendo: (a) Y = PIB real; (b) C = Consumo:
bens e serviços finais produzidos no país, despesa das famílias com bens e serviços;
avaliados com base nos preços correntes, (c) I = Investimento: compra de bens
em um dado período de tempo. A variação duráveis que serão usados para aumentar

115/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas


a produção futura; (d) G = Compras do custo, em moeda corrente, de uma cesta de
governo: gastos do governo em bens e bens e serviços de um consumidor urbano
serviços; (e) EL = Exportações líquidas: típico, ao longo do tempo (MANKIW, p. 486;
resultado da diferença entre exportações e SAMUELSON; NORDHAUS, p. 357).
importações de bens e serviços.

2.2 Taxa de Inflação Link


O Índice Nacional de Preços ao Consumidor
A inflação é o aumento sustentado do nível Amplo (IPCA) mede a variação mensal do custo
geral de preços (P). A taxa de inflação (π) de vida das famílias com chefes assalariados e
é a taxa à qual o nível de preços aumenta. com rendimento mensal compreendido entre 1 e
Deflação é uma queda sustentada do 40 salários mínimos mensais. O IPCA é calculado
nível de preços e corresponde a uma pelo IBGE com base em pesquisa realizada nas
taxa de inflação negativa (SAMUELSON; regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto
NORDHAUS, p. 356-357). Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém,
A medida mais utilizada do nível geral Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e
de preços (P) é o índice de preços ao do município de Goiânia. Disponível em: <http://
consumidor (IPCA, no Brasil), que avalia o www.ibge.gov.br>. Acesso em: 17 set. 2014.

116/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas


2.3 Poupança e Investimento 2.4 Taxa de Desemprego

Poupança é a parcela da renda nacional O mercado de trabalho pode ser


(Y) que não é utilizada para consumo analisado com as seguintes variáveis: (a)
ou compras do governo. Temos várias População em idade ativa (PIA): número
poupanças: (a) Sp = Poupança privada: de pessoas disponíveis para o trabalho
parcela da renda das famílias que não é (geralmente considera-se a população
utilizada para consumo ou pagamento entre 15 e 65 anos de idade); (b) População
de impostos (Sp = Y – C – T); (b) Sg = economicamente ativa (força de trabalho)
Poupança pública: receita de impostos (T) (PEA): soma das pessoas empregadas
menos gastos do governo (Sg = T – G); (c) com as desempregadas; (c) População
S = Poupança nacional (S = Sp + Sg); (d) não economicamente ativa (PNEA): soma
Sext = Poupança externa (Sext = - EL). A das pessoas que nem estão trabalhando,
poupança total da economia é igual ao nem procurando trabalho; (d) População
investimento total da economia (MANKIW, empregada (ocupada): soma das pessoas
p. 532-535; SAMUELSON; NORDHAUS, p. que estão trabalhando; (e) População
355). desempregada: soma das pessoas que
Stotal = Sp + Sg + Sext = I não estão trabalhando, mas que estão

117/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas


efetivamente procurando emprego
(MANKIW, p. 566-567; SAMUELSON;
NORDHAUS, p. 525-526; BLANCHARD, p. Link
100-101). A taxa de desemprego (ou de desocupação) no
Brasil é calculada mensalmente pela Pesquisa
A taxa de desemprego é a razão entre
Mensal do Emprego (PME) realizada pelo IBGE,
o número de desempregados e a PEA.
com base em pesquisa realizada a cada mês com
Na economia temos duas medidas
a População Economicamente Ativa (PEA) das seis
principais da taxa de desemprego: (a)
principais regiões metropolitanas do país (São
Taxa natural de desemprego (un): taxa
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre,
normal de desemprego em torno da qual
Recife e Salvador). Disponível em: <http://www.
a taxa de desemprego flutua; (b) Taxa de
ibge.gov.br>. Acesso em: 17 set. 2014.
desemprego cíclico (u): é o desvio da taxa
de desemprego de sua taxa natural e está
ligado às flutuações econômicas (MANKIW, Sempre há desempregados na economia,
p. 567-569; KRUGMAN; WELLS, p. 539). incluindo (MANKIW, p. 572-584;
SAMUELSON; NORDHAUS, p. 528-530;
KRUGMAN; WELLS, p. 536-539):

118/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas


• Desemprego friccional (ou nível de equilíbrio, devido a três
desemprego de equilíbrio): decorre causas principais: (a) Legislação
do tempo necessário para os do salário mínimo; (b) Poder dos
desempregados passarem de um sindicatos; (c) Salários de eficiência:
emprego a outro. Ocorre quando As empresas pagam voluntariamente
as pessoas ficam desempregadas salários acima do equilíbrio para
voluntariamente ao mudarem de aumentar a produtividade dos
um emprego para outro, ou quando trabalhadores.
decidem entrar ou sair da PEA. O
seguro-desemprego pode aumentar 2.5 Moeda
o desemprego friccional.
A moeda (dinheiro) é o ativo financeiro
• Desemprego estrutural (ou que tem liquidez imediata e pode ser
desemprego de desequilíbrio): resulta utilizado diretamente para comprar bens
de um desequilíbrio entre a oferta e serviços. A moeda tem três funções: (a)
e a demanda de trabalhadores. Meio de troca: os compradores utilizam a
Os economistas apontam que moeda para comprar bens e serviços dos
desemprego estrutural está vendedores; (b) Unidade de conta: a moeda
relacionado aos salários acima do é o padrão de medida dos preços dos bens
119/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
e serviços; (c) Reserva de valor: as pessoas podem, às vezes, usar a moeda para transferir poder de
compra do presente para o futuro (MANKIW, p. 592-593; SAMUELSON; NORDHAUS, p. 406-407).
A oferta de moeda (meios de pagamento) é o estoque de moeda disponível na economia para
uso da coletividade em um determinado momento. A emissão primária de moeda é realizada
pelo Banco Central: a moeda manual (papel-moeda e moeda-metálica) em poder do público
e as reservas bancárias em poder das entidades financeiras ou depositadas no Banco Central,
mais os depósitos à vista no sistema bancário. A partir da base monetária, os bancos também
criam moeda (moeda escritural) quando concedem empréstimos (crédito) (MANKIW, p. 594-
597; SAMUELSON; NORDHAUS, p. 406).

Para saber mais


Meios de pagamento são medidas quantitativas da oferta de moeda. Os meios de pagamentos restritos
(M1) são os recursos prontamente disponíveis para pagamento de bens e serviços. O M1 é composto
pelo papel-moeda em poder do público mais depósitos à vista. A partir do M1 são definidos os meios
de pagamento ampliados. O M2 corresponde ao M1 e às demais emissões de alta liquidez realizadas
primariamente no mercado interno por instituições depositárias.

120/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas


Para saber mais
O M3 é composto pelo M2, pelas quotas dos fundos de renda fixa e pelas carteiras de títulos registrados
no SELIC. O M4 engloba o M3 e os títulos públicos de alta liquidez. Ver: Banco Central do Brasil:
“Notas Metodológicas - Meios de Pagamento Ampliados”, disponível em: <http://www.bcb.gov.
br/?ecoimprensa>. Acesso em: 17 set. 2014.

A demanda de moeda (DM) é a quantidade de riqueza que as pessoas querem manter em forma
líquida. DM depende de P e de “outras coisas” (renda real Y e taxa de juros r): (a) DM aumenta
quando P aumenta: é necessário mais moeda para comprar a mesma quantidade de bens e
serviços; (b) DM aumenta quando Y aumenta (DM para transação): o aumento da quantidade de
bens e serviços torna necessária uma maior quantidade de moeda para realizar as transações,
ao mesmo nível de P; (c) DM diminui quando r aumenta (DM para especulação): aumenta a
demanda dos agentes por aplicações em títulos que rendem juros e cai a parcela da DM que
não é necessária para realizar as transações de bens e serviços (MANKIW, p. 617-618; 724-726;
SAMUELSON; NORDHAUS, p. 407-408).

121/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas


A política monetária do Banco Central reais: medidas em quantidades e preços
procura controlar a oferta monetária relativos; (b) Variáveis nominais: medidas
e a taxa de juros básica de curto prazo em termos monetários (MANKIW, p. 620).
(taxa Selic, no Brasil), principalmente por
A teoria clássica defende a neutralidade da
meio das operações de mercado aberto
moeda: As variações na oferta de moeda
(open market): (a) Política expansionista:
compra (resgate) títulos públicos em afetam as variáveis nominais (inflação,
circulação, aumentando a oferta de moeda etc.), mas não afetam as variáveis reais
e reduzindo a taxa de juros; (b) Política (crescimento do PIB real, desemprego, etc.)
contracionista: vende (oferta) títulos (MANKIW, p. 621-622; KRUGMAN; WELLS,
públicos, reduzindo a oferta de moeda e p. 735-736).
aumentando a taxa de juros (MANKIW, p. Os economistas, em sua maioria, defendem
604-605; 730-731). que a economia clássica descreve a
economia no longo prazo, mas não no
2.6 Economia Clássica curto prazo. No curto prazo, as mudanças
em variáveis nominais (expansão
A teoria da economia clássica separa as monetária, por exemplo) podem afetar
variáveis econômicas em dois grupos variáveis reais (crescimento do PIB real, por
(“dicotomia clássica”): (a) Variáveis exemplo) (MANKIW, p. 691).
122/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
2.7 Teoria Quantitativa da Mo- aumento percentual em M aumenta P na
eda mesma percentualidade.

A maioria dos economistas acredita 3. Demanda Agregada e Oferta


que a teoria quantitativa da moeda Agregada
(TQM) explica a inflação no longo prazo,
sendo compatível com a economia 3.1 Demanda Agregada
clássica (MANKIW, p. 622; SAMUELSON;
NORDHAUS, p. 432-434). A curva de demanda agregada (DA) é a
relação entre a quantidade demandada de
MxV= PxY todos os bens e serviços e o nível de preço
Sendo: (a) M = Oferta de moeda; (b) V = da economia.
Velocidade de circulação da moeda; (c) P = Y = C + I + G + EL
Nível geral de preços; (d) Y = PIB real.
Sendo: (a) Y = PIB real; (b) C = Consumo;
De acordo com a TQM: M determina P. (c) I = Investimento; (d) G = Compras do
Pressupostos: V estável; Y não depende de governo; (e) EL = Exportações líquidas =
M, sendo determinado pela tecnologia e Exportações – Importações.
recursos produtivos. Nessas condições, um

123/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas


A quantidade demandada depende precisam de mais dinheiro para
inversamente do nível de preços: comprar bens e serviços (efeito
quanto menor o nível de preços, maior a riqueza). Dada a oferta de moeda,
quantidade demandada (e vice-versa). Para o aumento da demanda de moeda
entender a inclinação negativa da curva de acarreta o aumento da taxa de juros.
DA, supondo que G seja dado pela política E o aumento da taxa de juros leva à
do governo, é necessário explicar como as queda de I.
variações em P afetam C, I, e EL (MANKIW, • Efeito taxa de câmbio (relação
p. 694-697; KRUGMAN; WELLS, p. 632- entre P e EL): se P aumenta, as
633; SAMUELSON; NORDHAUS, p. 383; taxas de juros sobem (efeito taxa
BLANCHARD, p. 124-125): de juros). Aumenta a demanda de
• Efeito riqueza (relação entre P e C): estrangeiros por ativos financeiros
se P aumenta, o dinheiro das pessoas domésticos, logo aumenta a oferta
compra menos bens, logo a riqueza de moeda estrangeira no mercado
real das pessoas fica menor e C cai. de câmbio. A taxa de câmbio se
aprecia, favorecendo as importações
• Efeito taxa de juros (relação entre
e prejudicando as exportações, logo
P e I): se P aumenta, as pessoas
EL cai.
124/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
• Resumo: a curva de DA tem inclinação expectativas otimistas; etc. (b) Aumento
negativa porque um aumento em de I: expectativas otimistas; efeitos da
P reduz a quantidade demandada queda da taxa de juros; incentivos fiscais;
de bens e serviços porque caem: C etc. (c) Aumento de G: aumento dos
(efeito riqueza), I (efeito taxa de juros) gastos sociais, etc. (d) Aumento de EL:
e El (efeito taxa de câmbio). crescimento econômico nos países que
compram nossas exportações; aumento
A DA também aumenta para um nível dado
das exportações por causa de depreciação
de P, se algum evento (que não P) aumenta
da taxa de câmbio, etc. (MANKIW, p.
C, I, G ou EL (nesse caso, a curva de DA
697-698; KRUGMAN; WELLS, p. 635-
se desloca para a direita), com destaque
637; SAMUELSON; NORDHAUS, p. 384;
para mudanças: nas expectativas, na
BLANCHARD, p. 125-126).
riqueza, no estoque de capital físico,
na política fiscal, na política monetária.
3.2 Oferta Agregada de Longo
Exemplos: (a) Aumento de C: aumento da
Prazo
riqueza das famílias (aumento do preço
das ações, etc.), aumento da preferência A curva de oferta agregada (OA) é a relação
das famílias para consumir mais e poupar entre a quantidade ofertada total de
menos; efeito de corte dos impostos; bens e serviços e o nível geral de preços
125/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
da economia. A curva de oferta agregada Y = A * F(L, K, H, N)
de longo (médio) prazo (OALP) é vertical Sendo: (a) Y = PIB real: quantidade
(perfeitamente inelástica). A quantidade produzida; (b) A = Tecnologia: compreensão
ofertada de longo (médio) prazo é fixa e da sociedade das melhores formas de
dada pela taxa natural de produção (Yn) produzir bens e serviços; (c) L = Trabalho:
(MANKIW, p. 698-700; KRUGMAN; WELLS, quantidade de mão de obra; (d) K = Capital
p. 745-746). físico: estoque de máquinas, equipamentos
Yn representa o montante de produção e estruturas utilizadas na produção; (e)
que a economia produz quando o H = Capital humano: conhecimento e
desemprego está em sua taxa natural habilidades que os trabalhadores adquirem
(un). Yn é também chamada de produção por meio de educação, treinamento, saúde,
potencial ou produção de pleno emprego. etc.; (f) N = Recursos naturais: insumos de
Yn não depende de P (dicotomia clássica). produção que a natureza oferece, como
Yn é determinada pelas variáveis reais que por exemplo, terrenos, depósitos minerais,
impactam a função de produção agregada: água, etc.
tecnologia, trabalho, capital físico, capital A curva OALP se desloca quando um
humano e recursos naturais (MANKIW, p. evento altera os determinantes de
508-511; KRUGMAN; WELLS, p. 642-645): Yn. Exemplos de aumento da OALP
126/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
(deslocamento da OALP para a direita): (a) Temos três teorias que procuram explicar
Aumento de A: inovações tecnológicas que a inclinação positiva da OACP, todas
aumentam a produtividade; (b) Aumento considerando como causa principal
de L: imigração, queda da taxa natural algum tipo de imperfeição (temporária)
de desemprego, etc.; (c) Aumento de K: dos mercados (MANKIW, p. 702-705;
investimentos; (d) Aumento de H: melhoria KRUGMAN; WELLS, p. 638-640):
das condições de educação, etc.; (e)
• Teoria dos salários rígidos: os
Aumento de N: novas jazidas minerais; etc.
salários nominais são rígidos no
(MANKIW, p. 700-701).
curto prazo, ajustam-se lentamente,
devido aos contratos de trabalho
3.3 Oferta Agregada de Curto
e normas sociais. As empresas e
Prazo os trabalhadores definem o salário
nominal antecipadamente com base
A curva de oferta agregada de curto prazo
nos preços esperados (PE). Se P > PE,
(OACP) é positivamente inclinada. Num
a receita da empresa é maior, mas
período curto de tempo, um aumento
os salários nominais estão fixos. A
em P tende a provocar um aumento na
produção fica mais rentável, por isso
quantidade de bens e serviços ofertados.
as empresas aumentam a produção
127/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
e o emprego. Assim, o aumento de P o que aumenta a demanda por seus
causa o aumento de Y, então a curva produtos, então elas aumentam a
OACP é positivamente inclinada. produção e o emprego. Assim, P
superior é associado com Y superior,
• Teoria dos preços rígidos: muitos
então a curva OACP é positivamente
preços são rígidos no curto prazo,
inclinada.
devido ao “custo de menu”, que
são os custos de reajuste de • Teoria das percepções equivocadas:
preços (imprimir novos menus, as empresas podem confundir as
alterar etiquetas de preços, etc.). mudanças em P com as mudanças
As empresas estabelecem preços no preço relativo dos produtos que
antecipadamente baseados em PE. vendem. Se P>PE, a empresa vê o seu
Se o Banco Central aumentar a oferta aumento de preço antes de perceber
de dinheiro de forma inesperada, que todos os preços estão subindo.
no curto prazo, as empresas, sem A empresa pode acreditar que seu
“custo de menu” podem aumentar preço relativo está subindo, e pode
seus preços imediatamente. As aumentar a produção e o emprego.
empresas com “custo de menu” Assim, um aumento em P pode
esperam para aumentar seus preços, causar um aumento em Y, fazendo a
curva OACP positivamente inclinada.
128/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
Essas três teorias têm em comum que, no empresas estabelecem salários mais
curto prazo, Y desvia de Yn quando P desvia altos. Em cada P, a produção fica
de PE (MANKIW, p. 705-707): menos rentável, então Y cai, e a OACP
Y = Yn + a (P – PE) se desloca para a esquerda.

• Onde: (a) Y = Produção; (b) Yn = 3.4 Flutuações Econômicas


produção natural; (c) a>0: parâmetro;
(d) P = Nível geral de preços; (e) PE = O modelo DA-OA é utilizado para a análise
Nível esperado de preços. das flutuações econômicas. Considera-
se que no início (tempo 0) a economia se
• Curto prazo: (a) Quando P>PE, então:
encontra no equilíbrio de longo prazo, no
Y>Yn; (b) Quando P<PE, então: Y<Yn.
ponto de intersecção das curvas de DA
• Longo prazo: PE=P e Y=Yn. e OACP e OALP, com produção natural
• Tudo que desloca a OALP também (Y0=Yn) e nível de preços esperado igual
desloca a OACP. Além disso, a curva ao nível de preços vigente (P0=PE0). As
OACP também se desloca com causas das flutuações econômicas são
mudanças nos PE. Por exemplo, se deslocamentos da DA e OA (MANKIW, p.
PE aumenta, os trabalhadores e as 707-719; KRUGMAN; WELLS, p. 648-653;
BLANCHARD, p. 129-136):
129/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
• Efeitos de uma queda na DA, desloca para a esquerda); (b) No
por exemplo, por uma onda de curto prazo (tempo 1): a produção
pessimismo (quebra no mercado cai (Y1<Yn) e o nível de preços se
de ações, etc.): (a) Cai a DA (curva eleva (P1>PE0); (d) No longo prazo:
de DA se desloca para a esquerda); o governo pode usar as políticas
(b) No curto prazo (tempo 1): cai a monetária e fiscal para aumentar
produção (Y1<Yn) e o nível dos preços a DA (deslocar a curva de DA para
(P1<PE0); (c) No longo prazo (tempo a direita), aumentando a produção
2): aumenta a OACP (a curva de OACP até a taxa natural (Y=Yn), mas o nível
desloca para a direita, devido P1<PE0 de preços irá aumentar até igualar o
no curto prazo), aumenta a produção nível esperado de preços (P2=PE2).
até a taxa natural (Y2=Yn) e cai o
nível dos preços até igualar o nível 4. Política Monetária
esperado de preços (P2=PE2).
A teoria da preferência pela liquidez é a
• Efeitos de uma queda da OACP, por teoria de determinação da taxa de juros.
exemplo, por causa do aumento dos Segundo essa teoria, a taxa de juros é o
preços do petróleo (eleva os custos): custo de oportunidade de reter moeda.
(a) Cai a OACP (curva de OACP se A taxa de juros é o preço que equilibra a
130/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
oferta e a demanda de moeda (MANKIW, p. negativamente inclinada, porque se
724-728; KRUGMAN; WELLS, p. 720-726; a taxa de juros aumenta, cai a DM,
BLANCHARD, p. 56-62): pois as pessoas preferem comprar
títulos que rendem juros (efeito
• Oferta de moeda (M): adota-se a
especulação). Se Y aumenta, aumenta
hipótese que a quantidade de moeda
a DM (a curva DM se desloca para a
(M) é fixada pelo Banco Central e não
direita), porque as famílias precisam
depende da taxa de juros (a curva M é
de mais moeda para comprar mais
vertical, perfeitamente inelástica).
bens e serviços (efeito renda).
• Demanda de moeda (DM): reflete O Banco Central pode usar a política
o quanto de riqueza as pessoas monetária para alcançar objetivos
querem manter em forma de liquidez macroeconômicos. No modelo DA-OA,
(moeda). Adota-se a hipótese de o instrumento de política monetária
que a riqueza das famílias inclui disponível para o Banco Central é a oferta
apenas dois ativos: a moeda (M), que monetária (M). As variações em M causam
possui liquidez, mas não paga juros, variações no mesmo sentido na curva de
e os títulos, que pagam juros, mas DA, alterando a quantidade demandada de
não são tão líquidos. A curva DM é bens e serviços (Y) para um dado nível de
131/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
preços (MANKIW, p. 729-73; KRUGMAN; prazo: (a) O Banco Central aumenta M;
WELLS, p. 729-730; BLANCHARD, p. 129- (b) A curva M desloca para a direita;
132): (c) A taxa de juros cai; (d) Como a taxa
de juros é o custo dos empréstimos,
• Efeitos esperados da política a queda da taxa de juros aumenta a
monetária contracionista no curto quantidade demandada de bens e
prazo: (a) O Banco Central diminui serviços, a um nível de preços dado;
M; (b) A curva M desloca-se para (e) A curva de DA se desloca para a
a esquerda; (c) A taxa de juros direita, com tendência de aumento do
aumenta; (d) Como a taxa de juros é nível de renda (Y) e do nível geral de
o custo dos empréstimos, o aumento preços (P).
da taxa de juros diminui a quantidade
demandada de bens e serviços, a um • Quando a taxa de juros está próxima
nível de preços dado; (e) A curva de de zero, temos o fenômeno da
DA se desloca para a esquerda, com “armadilha da liquidez” e, nesse caso,
tendência de queda do nível de renda a política monetária pode não ter
(Y) e do nível geral de preços (P). impacto sobre a demanda agregada e
o nível de atividade (ou renda).
• Efeitos esperados da política
monetária expansionista no curto
132/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
de T, deslocando a curva de DA para a
direita. A política fiscal contracionista é
Link uma diminuição em G e/ou aumento de T,
Você pode acompanhar a execução da política deslocando a curva de DA para a esquerda.
monetária lendo a publicação mensal do A política fiscal tem dois efeitos sobre a DA
Banco Central do Brasil: “Notas Econômico- (MANKIW, p. 733-737; KRUGMAN; WELLS, p.
Financeiras para a Imprensa – Política Monetária 661-670; BLANCHARD, p. 132-136):
e Operações de Crédito do SFN”, disponível em:
• Efeito multiplicador: ocorre como
<http://www.bcb.gov.br/?ecoimprensa>.
consequência dos efeitos da política
Acesso em: 17 set. 2014.
fiscal sobre a renda (Y) e sobre
o consumo (C). Por exemplo, um
5. Política Fiscal aumento em G: aumenta a DA e a Y,
que aumenta C, o que, por sua vez,
A política fiscal é o estabelecimento dos causa novo aumento em Y, e assim
níveis de gastos do governo (G) e dos por diante. O efeito multiplicador é
impostos (T) pelos formuladores da política maior quanto maior for a parcela da
econômica. A política fiscal expansionista Y que os consumidores gastam em
é o aumento em G e/ou a diminuição C (propensão a consumir), ao invés
133/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
de poupar (propensão a poupar). agregada (DA) e aumento da renda (Y);
O efeito multiplicador aumenta os b) Aumento do nível geral de preços
efeitos da política fiscal sobre a DA e Y. (P); c) Aumento da taxa de juros.
• Efeito deslocamento: vai em direção • Resumo dos efeitos esperados da
oposta da política fiscal. Por exemplo, política fiscal contracionista no
um aumento de G, aumenta a DA e a curto prazo: a) Queda da demanda
Y, mas também tende a aumentar a agregada (DA) e queda da renda (Y);
taxa de juros. Como a taxa de juros é b) Queda do nível geral de preços (P);
o custo dos empréstimos, o aumento c) Queda da taxa de juros.
da taxa de juros tende a diminuir a
quantidade demandada de bens e
serviços, contribuindo para reduzir
o aumento líquido da DA. O efeito
deslocamento tende a amortecer os
efeitos da política fiscal sobre a DA e Y.
• Resumo dos efeitos esperados da
política fiscal expansionista no curto
prazo: a) Aumento da demanda
134/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
das famílias O impacto final dessa política
expansionista na DA e Y depende do efeito
Link multiplicador e do efeito deslocamento.
Você pode acompanhar a execução da política Outro fator relevante é a percepção
fiscal lendo as publicações mensais: (a) Banco das famílias se o corte de impostos é
Central do Brasil: “Notas Econômico-Financeiras temporário ou permanente. A tendência
para a Imprensa – Política Fiscal”, disponível em: é que um corte de imposto permanente
<http://www.bcb.gov.br/?ecoimprensa>; (b) cause aumento maior no C e DA do que um
Secretaria do Tesouro Nacional: “Resultado do corte de imposto temporário (MANKIW, p.
Tesouro Nacional”, disponível em: <http://www. 737-738).
tesouro.fazenda.gov.br/web/stn/resultado- A maioria dos economistas acredita que
do-tesouro-nacional>. Acesso em: 17 set. o efeito de curto prazo da política fiscal
2014. trabalha, principalmente, com a DA. Mas
a política fiscal também pode afetar a
O impacto da política fiscal sobre a DA
oferta agregada (OA), principalmente
também depende das expectativas. Por
no longo prazo. Por exemplo, um corte
exemplo, quando o governo reduz o
nos impostos pode incentivar os agentes
imposto de renda, aumenta a renda líquida
econômicos a trabalharem mais, o que
135/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas
aumenta a OA (desloca a curva de OA para (a) Aumentar a demanda agregada,
a direita). Outro exemplo, os investimentos incentivando o crescimento econômico
do governo em infraestrutura tendem a e a queda das taxas de desemprego,
aumentar a produtividade, o que aumenta à custa de uma maior inflação; (b) Ou,
a OA (desloca a curva de OA para a direita). contrariamente, combater a inflação à
(MANKIW, p. 738). custa de uma maior taxa de desemprego
(MANKIW, p. 750-752; BLANCHARD, p.
6. Inflação e Desemprego 148-149).

No curto prazo, a sociedade enfrenta um


tradeoff entre inflação e desemprego. Para saber mais
Segundo a teoria da curva de Phillips, “A curva de Phillips é uma representação gráfica
no curto prazo, uma menor taxa de de uma regularidade estatística, encontrada em
desemprego tende a aumentar a taxa 1958 por A. W. H. Phillips ao estudar a economia
de inflação (e vice-versa). A curva de inglesa entre 1861 e 1957. A curva indicaria
Phillips de curto prazo é negativamente a existência de uma relação inversamente
inclinada. Essa teoria ofereceu opções proporcional entre o nível de desemprego e a
aos formuladores de política econômica: taxa de variação dos salários monetários.

136/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas


Para saber mais Link
A. W. H. Phillips não apenas observou a existência Você pode conhecer mais sobre a curva
dessa relação no caso inglês, como também de Phillips lendo o trabalho: RIBEIRO,
concluiu que ela era consideravelmente estável Marcio; SACHSIDA, Adolfo; SANTOS, Claudio
durante um período de quase cem anos. Hamilton. A Curva de Phillips e a Experiência
Economistas como Paul Samuelson realizaram Brasileira. Brasília: IPEA, TD 1429, out./2009.
estudos semelhantes para os Estados Unidos, Disponível em: <http://www.ipea.gov.
encontrando as mesmas tendências, embora br/portal/index.php?option=com_
bem menos conclusivas do que as de Phillips. Do content&view=article&id=4740>. Acesso em:
ponto de vista da política econômica, a Curva de 17 set. 2014.
Phillips mostra que em muitos casos a redução
do desemprego implica elevação dos salários A maioria dos economistas defende que
monetários e, portanto, inflação; ou, ao contrário, o tradeoff entre inflação e desemprego é
uma política de combate à inflação (redução dos um fenômeno de curto prazo. No longo
salários monetários) significa aumento da taxa de (médio) prazo, o desemprego retornava à
desemprego” (SANDRONI, p. 149). sua taxa natural, independentemente da

137/154 Unidade 4 • Políticas Macroeconômicas


taxa de inflação. Essa formulação de uma e a taxa de inflação fica igual à taxa de
curva de Phillips vertical de longo prazo inflação esperada. A curva de Phillips com
(perfeitamente inelástica) é compatível expectativas pode ser assim formulada
com a economia clássica e a curva vertical (MANKIW, p. 755-757; BLANCHARD, p.
de oferta agregada de longo prazo 174-175):
(MANKIW, p. 753-755; BLANCHARD, p. u = un – a * (π – πE)
173-174).
(u – un) = – a * (π – πE)
Para conciliar as teorias da curva de Phillips
de curto e longo prazo, os economistas Sendo: u = taxa de desemprego; un = taxa
criaram a variável inflação esperada natural de desemprego; a = parâmetro;
(expectativas), uma medida da mudança π = taxa de inflação vigente; πE = taxa de
esperada no nível de preços. Assim, no inflação esperada.
curto prazo, o Banco Central pode reduzir Supondo inicialmente (tempo 0) que u0
a taxa de desemprego elevando a taxa = un e π0 = πE0. No curto prazo (tempo
de inflação acima da taxa esperada, mas, 1), se o Banco Central diminuir M, π cairá
no longo prazo, as expectativas chegam (π1<πE0) e u irá aumentar (u1>un). No
mais próximo da realidade, e a taxa de curto prazo, o processo de reduzir a taxa de
desemprego volta para a taxa natural, inflação (deflação) tende a aumentar a taxa
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de desemprego. Mas no longo prazo (tempo Resumo: a teoria econômica nos
2), os agentes vão corrigir as expectativas ensina que a inflação e o desemprego
de inflação (π2 = πE2, sendo π2<π0) e o são: não relacionados no longo prazo;
desemprego irá voltar para a taxa natural negativamente relacionados no curto
(u2 = un) (MANKIW, p. 762-763). prazo; e afetados pelas expectativas, que
A πE desloca a curva de Philips, de modo desempenham um papel importante na
que a mesma u pode conviver com π mais regulação da economia de curto prazo e
baixa (ou mais alta). Essa é a visão da teoria longo prazo.
das expectativas racionais, que defende
a hipótese de que é possível, mesmo no
curto prazo, promover deflação sem custos
de desemprego. Por exemplo, suponha que
o Banco Central tem credibilidade para
convencer os agentes de que vai reduzir a
inflação, então a expectativa de inflação
cai, reduzindo a inflação sem aumento
do desemprego (MANKIW, p. 763-764;
BLANCHARD, p. 174-175).
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Glossário
Investimento: Na macroeconomia, o conceito de investimento significa a aplicação de capital em meios
que levam ao crescimento da capacidade produtiva (instalações, máquinas, meios de transporte), ou seja,
em bens de capital. Por isso, considera-se também investimento a aplicação de recursos do Estado em obras
muitas vezes não lucrativas, mas essenciais por integrarem a infraestrutura da economia (saneamento
básico, rodovias, comunicações). O investimento bruto corresponde a todos os gastos realizados com bens
de capital (máquinas e equipamentos) e formação de estoques. O investimento líquido exclui as despesas
com manutenção e reposição de peças, equipamentos e instalações desgastadas pelo uso (SANDRONI, p.
308-309).

Open Market: Mercado (aberto) no qual o Banco Central regula o fluxo da moeda comprando e vendendo
títulos da dívida pública (SANDRONI, p. 380).

Pleno emprego: Situação em que a demanda de trabalho é igual ou inferior à oferta. Isso significa que
todos os que desejarem vender sua força de trabalho pelo salário corrente terão condições de obter um
emprego. A noção de pleno emprego é compatível com a existência de um nível baixo de desemprego (taxa
natural de desemprego) (SANDRONI, p. 474-475).

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Glossário
Propensão a consumir: “Termo criado por Keynes em A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda
para designar a parte da renda que é despendida em consumo. O total que uma comunidade gasta em
consumo dependeria: 1) do montante de sua renda; 2) de várias circunstâncias objetivas, como as variações
nas unidades de salários, o nível e a distribuição da tributação e os controles governamentais; 3) das
necessidades subjetivas, inclinações psicológicas e hábitos dos indivíduos” (SANDRONI, p. 503).

Propensão a poupar: “É a proporção da renda individual, familiar ou empresarial destinada à poupança.


Tendência evidente em relação direta ao crescimento da renda. Isso ocorre porque os indivíduos ou
famílias de baixa renda tendem a gastar toda a sua receita em bens de primeira necessidade, não dispondo
praticamente de nenhuma sobra para poupar” (SANDRONI, p. 503).

Taxa Selic: Taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e
de Custódia (Selic) para títulos federais (ver: <http://www.bcb.gov.br/?SELICCONCEITO>.).

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?
Questão
para
reflexão

Elabore um texto desenvolvendo, de forma sucinta,


suas reflexões sobre os impactos esperados sobre
a economia do país das políticas monetária e fiscal
praticadas pelo governo.

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Considerações Finais (1/4)

Y = C + I + G + EL, sendo: Y = PIB real; C = Consumo; I = Investimento; G =


Compras do governo; EL = Exportações líquidas.
Taxa natural de desemprego (un) é a taxa normal de desemprego em torno da
qual a taxa de desemprego cíclico flutua (u).
Teoria Quantitativa da Moeda: M x V = P x Y, sendo: M = Oferta de moeda; V
= Velocidade de circulação da moeda; P = Nível geral de preços; Y = PIB real.
Supondo V e Y constantes, um aumento % em M aumenta P na mesma %.
A curva de DA tem inclinação negativa porque um aumento em P reduz a
quantidade demandada de bens e serviços (Y), pois caem: C (efeito riqueza), I
(efeito taxa de juros) e EL (efeito taxa de câmbio).
A curva de oferta agregada de longo prazo (OALP) é vertical (perfeitamente
inelástica), porque a quantidade ofertada de longo prazo é considerada fixa e
dada pela taxa natural de produção (Yn).

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Considerações Finais (2/4)
A curva de oferta agregada de curto prazo (OACP) é positivamente inclinada,
porque num período curto de tempo, um aumento em P tende a provocar um
aumento na quantidade de bens e serviços ofertados (Y).
Curva de Oferta Agregada (OA): Y = Yn + a (P – PE), sendo Y = Produção; Yn =
produção natural; a = parâmetro; P = Nível geral de preços; PE = Nível geral de
preços esperado. No curto prazo, quando P>PE, então: Y>Yn. No longo prazo,
PE=P e Y=Yn.
No modelo OA-DA, o instrumento de política monetária disponível para o
Banco Central é a oferta monetária (M). As variações em M causam variações
no mesmo sentido na curva de DA, alterando a quantidade demandada de
bens e serviços (Y) para um dado nível geral de preços (P).
Efeitos esperados da política monetária contracionista no curto prazo: (a)
Aumento da taxa de juros; (b) Queda do nível de renda (Y); (c) Queda do nível
geral de preços (P).

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Considerações Finais (3/4)
Efeitos esperados da política monetária expansionista no curto prazo: (a)
Queda da taxa de juros; (b) Aumento do nível de renda (Y); (c) Aumento do
nível geral de preços (P).
A política fiscal é o estabelecimento dos níveis de gastos do governo (G) e
dos impostos (T). A política fiscal expansionista é o aumento em G e/ou a
diminuição de T, deslocando a curva de DA para a direita. A política fiscal
contracionista é uma diminuição em G e/ou aumento de T, deslocando a
curva de DA para a esquerda.
A política fiscal tem dois efeitos sobre a DA: (a) Efeito multiplicador: vai
na mesma direção da política fiscal e ocorre como consequência dos
efeitos da política fiscal sobre a renda (Y) e sobre o consumo (C); (b) Efeito
deslocamento: vai em direção oposta da política fiscal e ocorre por causa dos
efeitos da política fiscal sobre a taxa de juros.

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Considerações Finais (4/4)
Efeitos esperados da política fiscal expansionista no curto prazo: (a) Aumento
do nível de renda (Y); (b) Aumento do nível geral de preços (P); (c) Aumento da
taxa de juros.
Efeitos esperados da política fiscal contracionista no curto prazo: (a) Queda do
nível de renda (Y); (b) Queda do nível geral de preços (P); (c) Queda da taxa de juros.
Segundo a teoria da curva de Phillips, no curto prazo, uma menor taxa de
desemprego (u) tende a aumentar a taxa de inflação (π). Porém, no longo
prazo, a curva de Phillips é vertical, porque o desemprego (u) retorna à sua taxa
natural (un), independentemente da taxa de inflação (π).
Curva de Phillips com expectativas: (u – un) = – a * (π – πE), sendo: u = taxa
de desemprego; un = taxa natural de desemprego; a = parâmetro; π = taxa
de inflação vigente; πE = taxa de inflação esperada. No curto prazo, se o
Banco Central diminuir M, π cairá (π<πE) e u irá aumentar (u>un). Mas, no
longo prazo, os agentes vão corrigir as expectativas de inflação (π = πE) e o
desemprego irá voltar para a taxa natural (u = un).
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Referências

BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. São Paulo: Pearson, 2011, 5ª edição.


KRUGMAN, Paul; WELLS, Robin. Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Campus, 2011, 2ª edição.
MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage, 2013, 6ª edição.
SAMUELSON, Paul A.; NORDHAUS, William D. Economia. São Paulo: McGraw-Hill, 2012, 19ª
edição.
SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Círculo do Livro, 1999.

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Questão 1
1. Considere uma economia representada pelo modelo DA-OA e que se en-
contra numa situação de equilíbrio de longo prazo. Nessas condições, in-
dique a alternativa incorreta dos efeitos esperados sobre essa economia de
uma onda de pessimismo causada por uma quebra no mercado de ações:

a) No curto prazo, aumenta o nível geral de preços.


b) No curto prazo, cai a demanda agregada.
c) No curto prazo, cai o nível de produção.
d) No longo prazo, a produção volta ao nível da produção natural.
e) No longo prazo, o nível geral de preços é igual ao nível geral de preços esperado.

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Questão 2
2. Considere uma economia representada pelo modelo DA-OA e que se
encontra numa situação de equilíbrio de longo prazo. Nessas condições,
indique a alternativa incorreta dos efeitos esperados sobre essa
economia de um aumento do preço do petróleo:

a) No curto prazo, cai a oferta agregada.


b) No curto prazo, cai o nível geral de preços.
c) No curto prazo, cai o nível de produção.
d) No longo prazo, o governo pode usar a política monetária para aumentar a produção até a
taxa natural.
e) No longo prazo, o governo pode usar a política fiscal para aumentar a produção até a taxa
natural.

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Questão 3
3. Considere uma economia representada pelo modelo DA-OA e que se
encontra numa situação de equilíbrio de longo prazo. Nessas condições,
indique a alternativa incorreta dos efeitos esperados sobre essa economia,
no curto prazo, de uma redução da oferta monetária do Banco Central:

a) Queda da taxa de juros.


b) Queda da demanda agregada.
c) Queda do nível de produção.
d) Aumento da taxa de desemprego.
e) Queda do nível geral de preços.

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Questão 4
4. Considere uma economia representada pelo modelo DA-OA e que se
encontra numa situação de equilíbrio de longo prazo. Nessas condições,
indique a alternativa incorreta dos efeitos esperados sobre essa econo-
mia, no curto prazo, de uma redução das compras do governo:

a) Queda da demanda agregada.


b) Queda do nível de produção.
c) Aumento da taxa de desemprego.
d) Aumento da taxa de juros.
e) Queda do nível geral de preços.

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Questão 5
5. Com base na teoria da curva de Phillips, indique a alternativa incorreta:

a) No curto prazo, a política fiscal expansionista pode contribuir para a queda da taxa de
desemprego, mas à custa de aumento da taxa de inflação.
b) No curto prazo, a política monetária contracionista pode contribuir para a queda da taxa de
desemprego, mas à custa de aumento da taxa de inflação.
c) No curto prazo, a política fiscal contracionista pode contribuir para a queda da taxa de
inflação, mas à custa de aumento da taxa de desemprego.
d) No longo prazo, a política monetária expansionista não tem efeito sobre a taxa de
desemprego.
e) No longo prazo, a taxa de desemprego volta para sua taxa natural.

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Gabarito
1. Resposta: A. 4. Resposta: D.

A alternativa A está incorreta. O correto A alternativa D está incorreta. O correto


seria: “No curto prazo, cai o nível geral seria: “Queda da taxa de juros”. As demais
de preços”. As demais alternativas estão alternativas estão corretas.
corretas.
5. Resposta: B.
2. Resposta: B.
A alternativa B está incorreta. O correto
A alternativa B está incorreta. O correto seria: “No curto prazo, a política monetária
seria: “No curto prazo, aumenta o nível expansionista pode contribuir para a
geral de preços”. As demais alternativas queda da taxa de desemprego, mas à custa
estão corretas. de aumento da taxa de inflação.” As demais
alternativas estão corretas.
3. Resposta: A.

A alternativa A está incorreta. O correto


seria: “Aumento da taxa de juros”. As
demais alternativas estão corretas.
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