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Economia I

Capítulo I
Conceitos Introdutórios

O que é a economia?
• A economia é uma ciência social que pretende estudar a conduta humana, mais
especificamente as suas interações coletivas através de um distanciamento analítico
(afastando-se de quaisquer superficialidades e preconceitos que possam corromper a
sua análise)

1) A afetação de recursos escassos

Problema económico fundamental: Escassez (dos recursos)

Necessidades ilimitadas → Recursos escassos


O objetivo essencial da economia é o de encontrar soluções que permitam a
minimização desta escassez e consequentemente a satisfação das nossas
necessidades.

No entanto, todas as nossas decisões assentam em compromissos e escolhas e muitas


das nossas escolhas são ditadas devido à escassez do tempo face ao universo de
possibilidades disponíveis. Logo, em função do tempo escolhe-se um grau óptimo de
informação em vez de um grau completo pois o tempo despendido para obter uma
informação completa teria um custo desproporcionado face às vantagens que se iria
retirar.

Porém, não é só disso que a economia trata, por exemplo:


Ausência de escassez, ou seja, o equilíbrio ou mesmo a superabundância dos meios
face às necessidades

Ponto de saciedade (que pode levar até ao ponto de desprazer em determinados
casos)

Concluindo, a escassez impõe escolhas. É necessário fazer-se um esforço de


optimização, de forma a obter melhores e mais eficientes resultados dentro do nível
limitado de recursos → Este esforço, porém, tem de ser proporcional às vantagens
resultantes
OU SEJA,
Minimização de sacrifícios na escolha dos fins que tenhamos por desejáveis e válidos

1.1) Corolários da escassez

Se não fosse a escassez, as escolhas de que trata a economia seriam irrelevantes, visto
que mesmo depois de fazermos uma opção errada esta poderia ser facilmente
remediada (alternativas ilimitadas, nenhuma das nossas escolhas seria uma verdadeira
perda)

É impossível atingirmos a saciedade de todas as necessidades que sentimos visto que o


total dos meios disponíveis é insuficiente para o total das necessidades → Procura >
Oferta

 Algumas necessidades básicas de sobrevivência são recorrentes (comer,


dormir, beber...) e mesmo que sejam saciadas num determinado momento,
estas irão sempre ressurgir de forma cíclica → Necessidades inesgotáveis
 A escassez é graduável e relativa visto que a intensidade com que ela se verifica
depende da intensidade com que as necessidades são sentidas
 Não é possível uma utilização indiscriminada e universal dos recursos, por
exemplo se uma fábrica é especializada na produção de canetas (produção é
em excesso) não pode reafectar os seus recursos à produção de cadernos
porque irá ter menos eficiência na produção de cadernos do que na de canetas
 Um recurso que será sempre escasso é o tempo que impede a satisfação total e
simultânea das nossas necessidades

1.2) O objeto da economia

O tema central da economia é o estudo das decisões individuais e coletivas tomadas


em ambiente de escassez.

A economia procura determinar as razões pelas quais a interdependência das decisões


livres emerge de uma ordem espontânea; o porquê das pessoas entrarem em relações
de interdependência e colaboração, enriquecendo mutuamente. No entanto, a
economia nem sempre consegue evitar os resultados negativos (desperdício de
recursos e oportunidades...), a economia é uma forma de análise que facilita a
compreensão da conduta social do ser humano colocando ênfase inicial na escassez e
nas escolhas.

1.2.1) O institucionalismo
Outro polo apresenta-nos a economia com a “ciência dos contratos" /” ciência das
instituições" neste polo a ênfase nas escolhas não teria muito significado e por isso
escolhe-se uma estrutura na qual os indivíduos procuram assegurar a viabilidade
coletiva dos seus objetivos privados.
(pág.26-35)
1.3) A análise económica da racionalidade

Duas perspetivas:
1. Olhar para os objetivos e determinar a racionalidade e adequação dos meios -
Propósitos de optimização dos meios
2. Olhar para os meios e tentar justificá-los, encontrar-lhes objetivos - Objetivos
de maximização dos fins
Os indivíduos procuram satisfazer as suas necessidades materiais através da troca por
produtos oferecidos em mercados organizados
Esta racionalidade não pressupõe a ponderação minuciosa de todos os custos e
benefícios associados à totalidade de opções mas apenas a uma resposta diferenciada
e explicável de estímulos variáveis.

1.3.1) A optimização

George Stigler: Princípio da optimização


A escolha da conduta que entre todas as possíveis apresente a máxima diferença entre
os custos e os benefícios

Custo de oportunidade: Os benefícios que deixamos de receber por sacrificarmos as


opções das quais prescindimos em favor da opção que escolhemos

A optimização não pode partir de uma avaliação generalizada e minuciosa dos custos
e benefícios correspondentes a todas as opções disponíveis de cada agente
económico, pois isto seria irracional visto que despender-se-ia de muito tempo e
esforço nessa tarefa

Mais vantajoso: Raciocínio Marginal
Perspetiva mais confinada, concentrada nos custos e benefícios de mais um bem, mais
uma opção, mais um fator produtivo

Maior racionalidade + Maior eficácia na resolução dos problemas dentro de um


horizonte temporalmente limitado (de forma a obter o maior benefício líquido)

Moeda: é um meio de acesso a recursos e não um recurso em si mesmo

1.3.2) Racionalidade limitada

“Homo oeconomicus”
Racionalidade em demasia

Herbert Simon: Objetivo da maximização dá lugar à satisfação; "óptimo" dá lugar


“suficiente” (o que basta para se poder agir)

A racionalidade limitada assenta no princípio de que o tempo é limitado (um bem


escasso e custoso especialmente quando se procura obter uma informação completa),
logo o tempo dedicado a esses esforços optimizadores seria muito pouco eficiente,
trazendo-nos um desequilíbrio na satisfação de todos os nossos interesses

Aposta-se:
 Ignorância racional
 Divisão de trabalho e na partilha de informação (interdependência), visto que
devido à nossa "racionalidade limitada" os outros possuem informação que nós
não possuímos
Com o objetivo de reduzir os custos de deliberação e aumentar os ganhos prováveis

2) As opções ditadas pela escassez

Uma parte significativa da vida comum é dominada pela escassez e nada se obtém sem
sacrifícios. Toda a escolha tem um custo: valor daquilo que se renuncia para obter
aquilo por que se optou

2.1) Eficiência e prioridades

Eficiência vs Justiça
Eficiência: O emprego de meios é avaliado em termos de maximização, ou seja, a
capacidade de obter o maior rendimento possível a partir de um determinado
conjunto de meios

Justiça: A forma como o rendimento é repartido, a forma como a igualdade é


verificada nas comparações intersubjetivas de resultados distribuídos

A incompatibilidade da prossecução simultânea destes 2 objetivos é um resultado da


escassez de recursos

Um uso eficiente: Produção de bens e serviços mais apreciados pela maioria das
pessoas
Distribuição justa: Resultado ineficiente pode ser injusto levando à insatisfação

Optimizar recursos = Retirar deles o máximo de satisfação

3) As perguntas básicas da decisão económica

Num contexto de interdependência e de divisão de trabalho, a produção de um


bem/prestação de um serviço pode ser resultado de milhares de escolhas e de
decisões. Contudo, dada esta irreversibilidade do tempo, cada opção que fazemos
condiciona as opções posteriores.
De forma a simplificar toda a complexidade do processo económico resultante da
combinação e da sequência das respostas que são dadas a um conjunto de questões:

O que produzir, e quanto (e em que combinações, e por quem, e onde)?

A constante multiplicação de necessidades secundárias e a constante escassez (cada


vez mais presente) dos meios face à multiplicação das respetivas possibilidades de uso
levam a que as nossas escolhas sejam cada vez mais relevantes
O objetivo económico deixou de ser a mera sobrevivência física e passou a ser o de se
conseguir adquirir uma certa qualidade de vida levando ao aumento de um número de
prioridades na produção.
Necessidades secundarias → Necessidades primárias
Numa economia de mercado, a resposta a este grupo de questões é fornecida através
do mecanismo de preços
Relação "quantidade-preço” que corresponda ao valor que os consumidores atribuem
àquilo que buscam num mercado como ao custo que os produtores associam à
disponibilização de bens/serviços no mercado

Como produzir (e como optimizar o modo de produzir)?

Manter o nível de produção reduzindo os seus custos por unidade produzida ou


produzir mais unidades sem fazer subir esse custo médio através da exploração de
meios alternativos para a produção dos mesmo bens, procurando entre eles o mais
eficiente
Comparação de custos e benefícios que se torna mais complexo quando observamos
que as decisões afetam diretamente vários produtores e quando estas podem ferir
interesses públicos
Para quem produzir, e quando?
O mecanismo de preços determinará, numa economia de mercado, quem são aqueles
que beneficiam dos bens e serviços que são produzidos: beneficiará mias aquele que
tiver maior poder de compra e maior disposição de pagar
Podemo-nos interrogar sobre a justiça, a desigualdade e a exclusão, a sofreguidão
consumista que esgota recursos e não atende às necessidades dos mais pobres

Quem decide, e por que processo?

Numa economia de mercado, todo o mundo e ninguém - todos contribuem para as


trocas e ninguém dispõe isoladamente do poder de conformar ou modificar essa
vontade
Numa economia mista no qual temos um setor privado e um público a troca
espontânea de recursos e de informações é contrabalançada pelo poder concentrado
de deliberação de que o Estado dispõe → Qual é a base legitimadora deste poder? Este
deverá ser mais eficiente e justo na representação dos interesses
Numa economia dirigista na qual uma entidade única se arroga o poder exclusivo de
fornecer as respostas aos três conjuntos de questões, podemos fazer a mesma
questão acerca da legitimidade para além de que “o que é que ganhamos
coletivamente com o facto de alguém decidir por nós o plano de satisfação das nossas
necessidades individuais?”
Como confiar?

Como assegurar numa economia dirigista ou numa economia mista que a atuação do
Estado não se pauta por interesses que irão entrar em conflito com os nossos
interesses individuais?
Numa economia de mercado como podemos certificar-nos de que os produtores e as
organizações não pervertem o poder de mercado em detrimento do mecanismo das
trocas, no qual um mínimo de equilíbrio deve ser pressuposto?
Como podemos assegurar-nos de que, enquanto nos concentramos na parte que nos
cabe na divisão de tarefas, os outros também cumprem a parte deles? E se realmente
ocorrerá uma troca?
Um mercado operando em condições de liberdade, com um nível concorrencial
suficiente, pode responder com eficácia aos primeiros 4 grupos de questões visto que
os consumidores fazem refletir as suas preferências através da proposta ou aceitação
dos preços e por sua vez, os produtores respondem a essas solicitações através de
uma optimização da quantidade-preço (condições suficientes para a maximização da
satisfação de ambas as partes envolvidas nas trocas)

4) Custo de oportunidade e preço relativo

Uma escolha é racional na medida em que assenta numa comparação subjetiva, mas
desapaixonada de custos e benefícios implicados nas várias alternativas abertas à
opção.
Custo de oportunidade: Conceito que abarca aquilo que deixa de ser possível fazer-se
e obter-se para que se possa alcançar aquilo por que se optou; aquilo que aconteceria
caso tivéssemos tomado uma opção alternativa em vez da que tomámos. Só podemos
considerar uma escolha racional dado os dados em que tínhamos na hora em que
fizemos aquela escolha, mesmo que mais tarde esta informação venha a mudar a
nossa escolha continua a ser uma escolha racional.

Mas, há apenas mais uma opção alternativa, o segundo degrau da escala de


preferências/2nd Best pois ao escolhermos essa já estamos a pôr de parte todas as
outras, por isso é que o custo de oportunidade é o valor da "segunda melhor escolha"

A escassez e a irreversibilidade do tempo tornam a ponderação de custos de
oportunidade e benefícios tão importante, que uma vez tomada é irremediável →
“perda de tempo” já que o tempo é um recurso irreversível

Preço relativo: é formado pelo mecanismo da oferta e da procura e é um dos


mecanismos para se calcular o custo de oportunidade.
A relação de 2+ Bens
Por exemplo:
Bem A: 1 Kg = 6
Bem B: 1 Kg = 3
Ao escolher 1 Kg do Bem A, eu estou a renunciar a 2 Kg do Bem B, isto é, 6/3 = 2
Se por outro lado, eu escolher 1 Kg do Bem B, estou a renunciar a 0,5 Kg do Bem A, isto
é, 3/6 = 0,5
Em conclusão 2 e 0,5 são os custos de oportunidade, logo os benefícios que eu
renunciei ao escolher uma opção em vez da outra

5) O Raciocínio marginalista

A análise da racionalidade económica não se centra nas grandes decisões que


transportam instantaneamente o indivíduo de um ponto de insatisfação total para a
saciedade. Mas sim, nas pequenas decisões que provocam pequenos incrementos na
satisfação
Centra-se na relevância das decisões mais imediatas.
Se tivéssemos todos os meios disponíveis para satisfazermos todas as nossas
necessidades então deveríamos calcular os custos e benefícios totais. Mas, visto que
não dispomos destes meios dada a escassez temos de pensar em custos e benefícios
marginais.

 Custo Marginal: é o valor da mais valiosa alternativa dispensada para se


conseguir produzir ou obter mais uma unidade de um bem ou serviço

 Benefício Marginal: O valor dessa unidade suplementar do bem ou serviço por


que se optou
Raciocinar em termos marginais significa:
 Produzir ou adquirir mais de um bem/serviço enquanto o benefício exceder o
custo de oportunidade
 Produzir ou adquirir menos quando esse custo exceder o benefício adicional
 Por não produzir ou adquirir nem mais nem menos, produzindo ou adquirindo
o mesmo que anteriormente

6) O impacto dos incentivos na conduta

O sujeito que pode decidir livremente recorrerá a uma comparação mais ou menos
racional entre os custos e os benefícios. Pode-se dizer que é possível condicionar a
conduta do agente económico sem lhe retirar a sua liberdade de escolher e decidir –
interfere-se somente nos incentivos.

Um dos objetivos da ciência económica é o de, através da observação de variações nos


custos marginais e nos benefícios marginais, conseguir chegar à previsão da evolução
das escolhas e das condutas em resposta a modificações nos incentivos, ou seja, as
consequências que decorrem da alteração das condutas em resposta a esses
incentivos.

A questão dos incentivos, provoca um efeito isolado na conduta individual.


Por exemplo, um aumento de preços significará normalmente uma restrição no
consumo; assim como um salário adequado irá incentivar uma boa
produtividade laboral. Com isto, porém, supomos que se conhece com algum
rigor a reação dos indivíduos face à alteração dos incentivos, mas a verdade é
que isto é algo muito complexo pois o mesmo incentivo pode ter efeitos
opostos quando estamos na presença de um destinatário dos incentivos com
diferentes padrões de reação.

Acredita-se também que as pessoas são capazes de alcançar sem constrangimentos


certas finalidades, desde que sejam criadas as motivações adequadas – sob a forma de
ganhos e perdas associados às opções livremente disponíveis a cada agente.
Por exemplo, a construção de autoestradas, que permitem uma condução mais
segura em contraposição das estradas tradicionais. Isto, irá alterar a
ponderação do condutor que ao ter um incentivo irá passar a conduzir mais
depressa e despreocupadamente o que por sua vez irá aumentar o número de
acidentes devidos ao excesso de velocidade. Tendo isto em conta é necessário
ter em conta o caráter plural e potencialmente contraditório dos efeitos de
alteração de incentivos, pois estas multiplicações de medidas preventivas de
riscos podem acabar por gerar o efeito oposto ao intencionado.

6.1) O postulado da racionalidade

Assumimos na análise económica que a ação é dominada por princípios da


racionalidade, no sentido em que o agente é dotado de puder fazer uma escolha livre e
consciente optando por normalmente:
 A que apresenta maior probabilidade de resultados maximamente favoráveis,
tens os resultados óptimos ao mesmo custo das demais alternativas
 A que tem maior possibilidade de resultados óptimos e que tem um custo
inferior à das demais alternativas.

Tentando em ambas:
 Minimizar os custos
 Maximizar os ganhos, de forma a se obter mais benefício líquido

Princípio hedonístico: “Lei do menor esforço”, com o mesmo esforço, o objetivo é


alcançar o mais elevado nível de satisfação → Maximização do sucesso na atividade
económica de forma a prolongar o nível de satisfação alcançado

6.2) As limitações temporais e orçamentais

Estabelecer as prioridades das necessidades ou conseguir a satisfação simultânea das


necessidades
Quanto mais tempo e recursos se puder disponibilizar maior será a probabilidade de
ser optimizadora.

7) A vantagem das trocas

“(…) O próprio intuito do comércio é o de trocarmos as nossas mercadorias por outras


que julgamos ser mais úteis para nós. Quando duas pessoas procedem a trocas, isso
tem de ser (…) vantajoso para ambas” - Adam Smith

As trocas prossupõem uma complementaridade de necessidades e uma contraposição


de interesses gerando uma interdependência que se pauta pela necessidade de
precisarmos uns dos outros para satisfazermos as nossas necessidades individuais.
No entanto, isto não se trata de uma troca na qual procuramos extorquir o outro
(causando-lhe prejuízos) mas em vez disso assenta numa troca em que ambas as
partes envolvidas encontram vantagens recíprocas. Porém, embora ambas as partes
ganhem isto não significa que os ganhos sejam iguais tendo assim uma parte que sai
mais beneficiada do que a outra
“Jogo de soma positiva”
O benefício de uma parte não significa o prejuízo da outra
8) A afetação social de recursos através do mecanismo de preços

A resposta às perguntas básicas de economia encontra-se à luz de duas perspetivas:


1. Poder Político: Entrega-se a uma racionalidade central o poder de planificar e
dirigir a atividade económica visto que se acredita nas vantagens informativas,
organizativas e administrativas que permitem resolver as questões que
transcendem o âmbito individual e ao mesmo tempo oferecem soluções aos
vários problemas
2. Economia de mercado (poder de maximização dos ganhos recíprocos através
das trocas): a atividade económica é condicionada pelas próprias forças que
animam as trocas, predominando a liberdade de conformação de direitos e
deveres interligados com os interesses em jogo, preservando deste modo a
liberdade e o mínimo de justiça nas ditas trocas.

As grandes decisões de que depende a eficiência e a justiça resultarão de uma


organização espontânea centrada no mecanismo dos preços - um processo através do
qual ambas as partes comunicam:
 Disponibilidade para procederem às trocas
 Adesão a valores, geralmente aceites como bases de negociação
 Respeito que os compradores têm pelo custo expresso na avaliação do
vendedor
 Sensibilidade que os vendedores têm face às necessidades expressas na
avaliação do consumidor
 Confiança que ambas as partes depositam no meio de pagamento comum

Há aqui então um obstáculo à pretensão dirigista e planificadora da economia: toda a


iniciativa política pode gerar um risco de grave instabilidade na atividade económica já
que põe um entrave à sinalização pela qual se coordenam espontaneamente os
interesses particulares, através de por exemplo destruírem incentivos empresarias,
retardando assim o crescimento da economia.

O papel do Direito pauta-se tanto pelo condicionamento jurídico dos quadros de


referência do qual dependem todas as atividades económicas que envolvem divisão de
tarefas e formação de expetativas intersubjetivas, assim como interfere na motivação
económica

8.1) Mercado de produtos e mercado de fatores

Existem dois tipos distintos de mercado numa “economia de mercado”

Mercado de produtos Mercado de fatores


Mercado final Instrumental
As famílias ou os indivíduos são os As famílias e os indivíduos passam a
consumidores e as empresas são os ocupar a posição de fornecedores e as
fornecedores; os primeiros pagam por empresas a posição de utentes.
aquilo que adquirem, os segundos Famílias: Obtém o seu rendimento que
recebem os pagamentos monetários gastaram no mercado de bens e serviços
correspondentes ao valor do mercado Empresas: Concentram as despesas,
daquilo que fornecem pagando as remunerações, gastando o
Famílias: concentram as despesas que ganharam no mercado dos produtos
Empresas: Obtém o rendimento

As famílias são fornecedoras de fatores de produção e consumidoras de bens e


serviços e as empresas são produtoras de bens e serviços e utentes de fatores de
produção. O que umas ganham é o que outras gastam, nada há a ganhar se ninguém
estiver disposto a despender

9) A intervenção do Estado nos mercados

Há imensas vantagens resultantes desta economia de mercado, porém este


funcionamento do mercado pode vir repleto de ineficiências e injustiças que por vezes
poderão justificar a intervenção do Estado que virá eliminar estas "falhas de mercado”
(todo o tipo de perdas de eficiência resultantes do funcionamento espontâneo do
mercado) - em especial as relacionadas com a imposição de custos aos agentes do
mercado por força de entraves à concorrência ou à inovação.

Esta atuação do Estado pode exprimir-se de duas formas:


1. Extremo da planificação minuciosa de todas as facetas e implicações da
afetação dos recursos
2. Atitude subsidiária de produção de bens públicos, aqueles que os mercados
não produzem ou não produzem em quantidades minimamente próximas do
nível socialmente desejável

A intervenção do Estado no funcionamento dos mercados pode assentar em qualquer


uma das três razões gerais:
1. Ignorância das leis económicas
2. Imperativo de eficiência
3. Imperativo de justiça

9.1) A justiça social

A principal razão justificativa para esta intervenção do Estado deriva da justiça: da luta
pelos mais desfavorecidos, dos mais explorados... O rendimento atribuído aos
participantes deveria ser proporcional ao esforço e habilidade por eles aplicados na
produção de bens e serviços caso isto fosse ignorado podia resultar na ruína, na
exclusão e na pobreza
Assim, se a busca individual de vantagens e de proveitos desiguais é o principal
objetivo das atividades económicas o Estado deveria estabelecer os limites mínimos,
salvaguardando assim a coesão social e todos aqueles que se encontrar numa posição
mais vulnerável cabendo-lhe assegurar a justiça e a segurança nas trocas.
No entanto, tudo isto requer um financiamento público, baseado em receitas fiscais
que retirarão o rendimento aos particulares diminuindo-lhes o incentivo para
produzirem e pouparem.
9.2) As falhas de mercado

As falhas de mercado são atribuídas a duas causas:


1. A existência de “externalidades": possibilidade de que uma atuação
económica faça projetar efeitos benéficos ou maléficos sobre alguém que não
seja o próprio agente interferindo no nível de bem-estar desse alguém - seja
prejudicando-o sem ter que pagar indemnização, seja beneficiando-o sem ter
possibilidade de fazer-se pagar
Intervenção do Estado justifica-se, colmatar a brecha criada entre eficiência e
bem-estar coletivo

2. A existência de "poder de mercado": permite a alguém a exploração do


mecanismo dos preços em proveito próprio para lá de um limite que fira um
sentido mínimo de justiça ou que gere desincentivos à produção e às trocas.
Intervenção do Estado justifica-se, seja alcançável o esvaziamento desse poder
evitando situações abusivas, a exploração de vantagens ou desequilíbrios
extremos que comprometam a capacidade de funcionamento normal do
mercado assegurar a justiça e a eficiência da atividade total que nele decorre.

Em ambos os casos o Estado pode:


 Produzir diretamente os bens que estejam a ser subproduzidos pelo mercado
 Criar incentivos e desincentivos a produtores privados
 Impor certos padrões e condutas ao setor privado

Mecanismos de combate às falhas de mercado:


 Controlo e regulação direta das quantidades produzidas
 Intervenção no mercado para alterar os preços...

Adotam-se medidas concretas:


 Adoção de medidas “internalizadoras”
 Formação de coligações internacionais para a coordenação de esforços e
melhoria do acesso a fontes de financiamento...

9.3) As falhas de intervenção

É controversa a legitimação de qualquer intervenção do Estado na economia



Motivo básico das "falhas de produção":
 O Estado não é administrado por pessoas infalíveis e invariavelmente justas
 Ou, pessoas imunes a pressões e aliciamentos


Contaminação da intervenção devido a informação imperfeita

 Criação de monopólios estaduais/monopólios/oligopólios protegidos pelo


Estado
 Fixação administrativa dos preços
 Lançamento de impostos...

Questionar a presença do Estado no funcionamento eficiente da economia e se a
ratificação dos aspetos negativos das externalidades e do poder de mercado são
justificações suficientes para uma intervenção estadual rodeada de tantos riscos de
ineficiência

A própria atividade económica coletiva é algo muito complexo, será possível pôr em
prática uma planificação que interaja eficientemente com a sua complexidade?
Existem também critérios de legalidade, de imparcialidade e de transparência na
atuação dos entes públicos que prejudicam a sua agilidade na tomada de decisões, e
tornam muito custosa (em termos administrativos) a sua atividade.
Problema dos incentivos no setor pública, as decisões são tomadas por funcionários
que não são incentivados a adotarem uma ação que teriam se dela estivessem
dependentes os seus interesses pessoais.

Não podemos afirmar que o Estado seja globalmente eficiente, em termos de que as
“falhas de intervenção" nunca excedem as "falhas de mercado" e que na presença de
uma dita "falha" a solução pública é sempre o remédio adequado. Deve-se isto à
incapacidade de interagir com o dinamismo do mercado, à falta de pressão
competitiva, à falta de informação detalhada... Uma parte das “falhas de intervenção"
pode ser minimizada através do recurso a instrumentos muito sofisticados, seja na
recolha ou processamento de informação... Se, apesar disso, o problema das "falhas de
intervenção" subsiste devem-se essencialmente à noção de que há uma "via
triunfante" para a optimização económica por via política, em vez de tornarem claro
que não é possível passar-se além de uma escolha de graus de "falha de mercado" e de
"falha de intervenção"

10) O tema da macroeconomia

Microeconomia: Concentra-se no funcionamento do mercado de produtos e do


mercado de fatores produtivos – no modo como neles se formam e manifestam as
decisões individuais das empresas e das famílias, como se formam os preços e como os
preços determinam a produção, repartição e consumo de bens e serviços. Encara os
fenómenos económicos a partir da base

Macroeconomia: Incide na conduta do todo da economia como por exemplo o


desemprego, a inflação, o crescimento e o desequilíbrio na balança de pagamentos, ou
seja, no estudo das questões que se prendem com as interdependências de um valor
médio, o dos preços, os da produção... encara os mesmos fenómenos na sua
manifestação combinada e final. Lida com valores agregados: o do conjunto total de
bens e serviços que uma economia nacional produz, ou seja, a oferta agregada; o do
total da despesa envolvida na aquisição e uso desses bens e serviços, ou seja, a
procura agregada. Produto do somatório de decisões do total de indivíduos

11) A produtividade
Riqueza das Nações = Produtividade dos trabalhadores, medida através da
quantidade de bens e serviços que cada trabalhador é capaz de produzir, em média,
numa unidade de tempo

Essa quantidade poderá aumentar em função do grau de aptidão de cada trabalhador,


do avanço tecnológico, da estabilidade política e jurídica... Logo, serão mais prósperos
os países e regiões onde é mais elevada a produtividade do trabalho. A forma ideal de
gerar riqueza a nível nacional, de assegurar o crescimento da prosperidade de modo
favorável na comparação internacional e de modo sustentável, coloca ênfase na
garantia de condições estruturais de produtividade, na afetação de recursos ao
investimento em capital humano e físico que assegurem não apenas que o
crescimento ocorrerá mas também que se mantém de reserva o potencial de
crescimento futuro.

A atuação estadual - muito absorvente de recursos - desvia para ela meios de


financiamento que de outro modo estariam disponíveis para o investimento direto em
capital humano e físico

Quebras de produtividade e abrandamento/retrocesso da prosperidade
A opção pelo investimento em tecnologia, em detrimento de finalidades alternativas,
revela o quanto o incremento de produtividade reclama um esforço incessante de luta
contra o bem escasso que é o tempo

11.1) A fronteira de possibilidades de produção

A escassez pode ser associada à imagem de um universo finito, limitado por uma
fronteira que agrega as possibilidades extremas das opções. Esta fronteira, pretende
representar as várias combinações de produção de dois bens/serviços que são
alcançáveis pela aplicação máxima e óptima dos correspondentes fatores de produção.

A opção extrema na qual só se produz um dos bens/serviços ou então na outra


hipótese extrema e contrária de produção exclusiva do outro, a fronteira passará por
todos os pontos intermédios em que se produz ambos simultaneamente (no qual é
possível ponderar a decisão marginal de produzir mais de um à custa da diminuição
marginal da produção de outro)

Fronteira de possibilidades de produção: expressão de combinações de vários


bens/serviços que estão ao alcance do produtor através da simples reafectação de
recursos disponíveis (aptidões dos trabalhadores e a sua disposição para o trabalho, as
novas tecnologias...)
A fronteira em si é um limite máximo que pressupõe a afectação total dos recursos, ou
seja, a eficiência produtiva é maximizada verificando-se uma situação em que não é
possível produzir mais de um bem sem produzir menos de outros bens
Nessa fronteira de possibilidades de produção estão patentes as vantagens máximas
de uma determinada opção acompanhadas pelos seus custos de oportunidade.
Mecanismo equilibrador é aquele que domina a gestão dos recursos e a busca de
soluções

O incremento de uma das possíveis alternativas resulta consequentemente no
agravamento dos correspondentes custos de oportunidade, levando então a uma
busca por um "ponto intermédio" em qual nenhuma das alternativas em jogo seja
especialmente intensificada sem que se registe sensíveis agravamentos dos custos
marginais de oportunidade.

Vale de equilíbrio está rodeado por encostas de custos crescentes, sendo o vale a
posição de "repouso" mais atrativa visto que implica uma maior aproximação entre os
custos e os benefícios de uma determinada produção. Infelizmente, os recursos dos
quais dispomos não são igualmente produtivos em todas as atividades e por isso não
são reafectáveis indiscriminadamente sem haver uma perda de eficiência dos mesmos

Eficiência: incapacidade de aumentar o rendimento total através de simples


transferências de recursos entre setores, a eficiência total estará maximizada quando
todas as transferências entre setores já se equilibraram
Mas, há vários entraves a esta eficiência,
Por exemplo: a alternativa entre a intensificação do consumo e a preservação
ambiental - mais riqueza material significa mais degradação ambiental, por sua
vez mais qualidade ambiental significa um maior sacrifício de prosperidade

De qualquer das formas qualquer fronteira de possibilidades de produção é suscetível


de expansão e retração
Por exemplo, quanto mais estudamos, mais fácil e rápida se torna a assimilação
das matérias enquanto quanto menos estudamos mais difícil se torna esta
assimilação. Para além disso os incrementos tecnológicos nos meios de apoio
pedagógico permitem uma melhoria da produtividade do estudo.

A expansão da Fronteira de possibilidades produção pode dever-se tanto
quantitativamente ao aumento bruto de fatores produtivos, como qualitativamente à
melhoria da produtividade desses fatores (através de por exemplo, progresso
tecnológico ou por substituição de fatores menos produtivos por fatores mais
produtivos)

Em suma, é possível uma expansão da fronteira de possibilidades de produção que


permita soluções eficientes com crescente capacidade de satisfação simultânea de
necessidades alternativas.

Normalmente a opção pela poupança e pelo investimento, pelo sacrifício ou


adiamento do consumo presente revelou-se mais favorável no sentido de ter
aumentado a capacidade total e absoluta de consumo e de produção no futuro.

Porém, enquanto a poupança é benéfica para um, pode já ser contraproducente se
praticada por todos. O crescimento implica a presença de uma combinação equilibrada
de pessoas: umas que poupam mais e consomem menos, outras que poupam menos e
consomem mais.

12) O controlo de meios de pagamento

Última advertência quanto aos riscos da intervenção estadual: fenómeno inflacionista


(possibilidade da subida provocada do nível geral de preços)

Pode haver várias explicações possíveis para este fenómeno, no entanto a maior parte
destes fenómenos inflacionistas tem como causa principal o aumento da quantidade
de moeda em circulação

Desvalorização da moeda, afetando a sua função de padrão geral de valor dos bens,
serviços e dos fatores produtivos

Estes dados bastam para se atribuir as culpas da inflação ao próprio Estado e às


autoridades monetárias, já que é a ambos que os meios de criação de moeda e de
controlo da circulação dos meios de pagamento pertencem.

Porém, pode admitir-se que a prioridade de outros fins da atuação do


Estado/Autoridades monetárias justifique a intensificação na emissão da moeda em
termos inflacionistas. Mesmo assim, pode pôr-se em dúvida se é necessário que o
Estado/Autoridades monetárias joguem no curto prazo com essa tensão de objetivos,
se a atuação macroeconómica não se deveria preocupar somente com o incremento
da produtividade e não estar ao serviço da geração de riqueza que agravam os riscos
de perturbar toda a eficiência da economia de mercado.

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