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A ECONOMIA COMO CIÊNCIA SOCIAL

A Economia é uma ciência social, tendo a pretensão de estudar a conduta humana nas suas
interações coletivas e fazendo-o com distanciamento analítico, de modo sistemático e
recorrendo a uma metodologia explícita.

A VOCAÇÃO POLÍTICA DA ECONOMIA

O objeto central da ciência económica envolve-se profundamente na análise das


consequências coletivas de escolhas individuais. Por outro lado, a relevância de critérios
coordenadores e distributivos, posto que cometidos à organização política, nem por isso é
alheada de juízos de eficiência de agentes que livremente, no mercado, promoviam a
satisfação dos seus desejos próprios, e contribuíam para a complementaridade dos seus
interesses.

A ESCASSEZ E A AFETAÇÃO DOS RECURSOS ESCASSOS

As escolhas de que trata a Economia são aquelas que são ditadas pela escassez de bens e
recursos disponíveis.

CUSTO DE OPORTUNIDADE

A informação tem custos e, termos de tempo despendido, a informação completa poderá ter
um custo desproporcionado face às vantagens relativas que dela derivam, as vantagens
comparadas com aquelas que resultariam de um outro em emprego de tempo.

AS ESCOLHAS IMPOSTAS PELA ESCASSEZ

A escassez impõe escolhas. A limitação dos recursos impõe restrições absolutas às nossas
preferências, e determina, dentro das fronteiras do possível, um esforço de otimização, de
obtenção dos melhores e mais eficientes resultados a partir de qualquer nível limitado de
recursos.

Se não fosse a escassez, as escolhas de que trata a Economia seriam irrelevantes, visto que
uma opção errada quanto ao empregos dos bens e recursos disponíveis poderia sempre ser
remediada, lançando-se mão de alternativas ilimitadas.

É virtualmente impossível atingirmos a saciedade de todas as necessidades que


experimentamos, sendo pois que, apesar de alguns exemplos particulares de equilíbrio ou de
superabundância, a escassez se verifica globalmente, no sentido de que o total dos meios
disponíveis é insuficiente para o total das necessidades.

Algumas necessidades básicas de sobrevivência – a alimentação, por exemplo – são


efetivamente recorrentes, sendo que a sua plena satisfação num dado momento não impede o
seu ressurgimento posterior, de forma periódica e cíclica; pelo que estas necessidades se
afiguram como inesgotáveis.

Mesmo que, em abstrato, cada um de nós dispusesse de todos os meios adequados à


satisfação completa de todas as suas necessidades, um meio continuaria sempre a ser escasso
– o tempo -, a impedir a satisfação simultânea daquelas necessidades, já que o tempo
empregue em cada uma não pode ser recobrado e reutilizado nas demais. No entanto,
qualquer pessoa pode comprar tempo alheio, no sentido de se libertar de tarefas que lhe
consomem tempo, cometendo-as a outrem através do mecanismo social da divisão de
trabalho.
A ECONOMIA COMO CIÊNCIA DAS ESCOLHAS: A VISÃO NEOCLÁSSICA

A Economia faz seu tema central o estudo das decisões individuais e coletivas tomadas em
ambiente de escassez, colocando especial ênfase:

 No grau de liberdade do agente – na medida em que, sem um grau mínimo de


liberdade, não há genuínas escolhas.
 Na interdependência que se gera entre essas decisões – no duplo sentido de ligação
intertemporal e congruência das escolhas de uma só pessoa, e de interação dinâmica
das decisões no seio de um grupo.

A Economia procura determinar as razões pelas quais da interdependência de decisões livres


emerge uma ordem espontânea, uma ordem não raro tão poderosa que dispensa uma supra-
ordenação política, quando não se dá mesmo o caso de lhe resisitir, ou de lhe inutilizar os
desígnios paternalistas ou tirânicos, e emerge também um condicionamento valorativo –
fazendo com que as pessoas colaborem independentemente da importância que atribuem à
solidariedade, entrem em relações de interdependência por mais individualistas que sejam, e
se enriqueçam mutuamente quando apenas procuram instrumentalizar os outros aos seus
planos de enriquecimento pessoal.

Conquanto se admita que é fulcral para a análise económica a definição das características
comportamentais básicas do agente humano, nem sempre se dá a devida relevância ao
contexto concreto que limita as capacidade de conhecimento, de racionalidade, de
interdependência, seja até em consequência da escassez de tempo que torna incomportável
uma racionalidade perfeita.

A ANÁLISE ECONÓMICA DA RACIONALIDADE

A forma como os indivíduos afetam os recursos escassos que lhes são propiciados por um
rendimento, por um fluxo de meios novos suscetíveis de satisfazeram necessidades materiais
através da troca por produtos oferecidos em mercados organizados, obedece a uma
racionalidade, essencialmente procedimental.

A racionalidade que é pressuposta na análise económica não é a ponderação minuciosa,


escrúpulos, articulada, de todos os custos e benefícios associados à totalidade de opções que o
horizonte cognitivo possa abarcar.

Não significa a imputação de consciência, de racionalidade e de ponderações económicas


perfeitas aos agentes, sendo que hoje a análise económica lida pacificamente com o
pressuposto da racionalidade limitada.

A OTIMIZAÇÃO RACIONALIZADORA – SEM FETICHISMO MONETÁRIO

O princípio da otimização decorre da escolha da conduta que, de entre todas as possíveis,


apresenta a máxima diferença entre benefícios e custos – sendo custos de oportunidade todos
aqueles benefícios que deixamos de receber por sacrificarmos as opções que tinham quer ser
preteridas em favor da conduta pela qual optámos.

Dadas as limitações que acabámos de referir, a otimização não pode, contudo, evoluir a
partir de uma avaliação generalizada, minuciosa, pausada, de custos e benefícios inerentes a
todas as opções disponíveis a cada agente económico, quer porque nem sempre as opções e os
custos e benefícios são explicitáveis e ponderáveis, quer ainda porque mesmo que isso
sucedesse seria irracional despender-se muito tempo e esforço nessa tarefa amplíssima de
racionalização.

Daí a vantagem prática do raciocínio marginal que se concentra “microscopicamente” nos


custos e vantagens de mais uma opção, de mais um bem, de mais um fator produtivo,
dispensando-se de explicitar o “tudo ou nada” de valores subjacentes. Gozando essa
perspetiva ainda do benefício de os custos e benefícios marginais evoluírem em sentidos
opostos em qualquer tipo de opção que tomemos, apontando pois, ou para um equilíbrio
marginal com benefícios líquidos que aconselha que tomemos a próxima decisão, ou para uma
clivagem crescente e irreversível que, tornando inevitáveis prejuízos líquidos ou reduzindo a
zero os benefícios líquidos, desaconselha a próxima decisão.

Não há, pragmaticamente, tempo ilimitadamente disponível para a “afinação” da


racionalidade da maior parte das nossas condutas.

Por isso, essa concentração no âmbito confinado – e informativamente pobre – da próxima


decisão, dentro de um processo incrementalista de otimização, é que explica que o
comportamento marginalista seja espontâneo e inato nos agentes económicos, capazes que
são de agirem com alguma racionalidade e eficácia na resolução dos problemas mais imediatos
e urgentes.

Sublinhemos de novo que a análise económica continua a ser válida naqueles domínios que,
pelo factos de estarem tradicionalmente excluídos da atividade económica tal como ela é
socialmente reconhecida, e pelo facto de, por isso, não concitarem no agente a consciência da
ponderação de interesses, de benefícios e de custos que é explicitamente associada àquela
atividade, nem por isso deixam de envolver uma ponderação que, ao menos do ponto de vista
da racionalidade, não é materialmente discernível daquela.

A Economia não centra a sua atenção em questões “de dinheiro”, nas trocas que têm
expressão monetária visto que a moeda é um simples meio de acesso a recursos, e não é, em si
mesma, um recurso, daqueles cuja escassez obriga à realização de escolhas e à tomada de
decisões optimizadoras e maximizadoras da satisfação de necessidades.

A escola neoclássica é essencialmente racionalista, na medida que pressupõe, com um grau


razoável de confiança, que as decisões básicas do agente económico derivam de ponderações
atribuíveis à sua racionalidade, e que é essa racionalidade elementar que facilita, como
resultado final, a produção de resultados maximizadores de bem-estar social.

DA “RACIONALIDADE LIMITADA” AO IMPERALISMO CIENTÍFICO

Contudo, nem mesmo a moderação metodológica impediu a exacerbação das características


da racionalidade como definidoras da conduta do agente económico – tendo-se John Hicks e
Paul Samuelson como principais responsáveis desse extremos de estilização do “homo
economicus” -, não afastando, pois a necessidade de formulação da conceito de “racionalidade
limitada”, empresa a que se lançou Herbert Simon, acabando por reportá-la a uma conduta
que pretende ser racional mas que não transcende a ponderação dos custos implícitos na
racionalidade. Por isto, no âmbito das decisões comuns e da economia da conduta, substitui-se
“maximização” por “satisfação”, substitui-se a exigência do “ótimo” pela do meramente
“suficiente”, daquilo que basta para poder agir.

Não se trata já de reconhecer que a otimização tem limites inultrapassáveis; mas antes, e
mais, de admitir que os processos de decisão comum estão necessariamente condenados a
adotar procedimentos não-otimizados.

O homo economicus é invariavelmente racional, egoísta, maximizador e inteiramente


congruente.

Essa ideia de “racionalidade limitada” assenta na constatação de que o tempo é limitado, é


um bem escasso e custoso, seja quando se pretende adquirir informação completa, se já
quando se visa prestar atenção adequada à informação de que se dispõe, seja ainda quando se
trata de desenvolver um plano de otimização com base na informação disponível – pois o
tempo que se dedicaria a esses esforços otimizadores seria, de modo muito pouco eficiente,
sonegado à resolução de problemas não menos urgentes, deixando-nos marginalmente
desequilibrados na satisfação de todos os nossos interesses.

Esta é a razão pela qual escolhemos um nível de “ignorância racional”, a partir do qual
tomamos a maior parte das nossas decisões marginais – optando pela solução marginalista
também em função do baixo nível de informação que ela tende a exigir). Também é esta a
razão pela qual tendemos a agregar-nos em grupos nos quais a divisão do trabalho e a partilha
de informação possam diminuir a margem de erro suscetível de ser associada à nossa
ignorância individual. Assim, a nossa conduta gregária e a nossa complementaridade poderiam
atribuir-se, para lá do determinismo biológico, às necessidades criadas pela nossa
“racionalidade limitada”, essencialmente a necessidade vital de contarmos com a conduta dos
outros que dispõem de mais informação de que nós não dispomos.

Reconheçamos, em suma, que o conhecimento, a informação de que a racionalidade se


alimenta, lida com meios escassos, meios como o tempo e a capacidade de assimilação e
concentração.

Sendo custoso esse conhecimento, aquele que é chamado a agir terá que procurar “atalhos
heurísticos” para esquematizar e padronizar os dados mínimos daquela informação, e da
decisão que se lhe siga, simplificando, por redução a hábitos rotineiros, a identificação e a
reação a uma “família” de situações, desconsiderando situações novas e implausíveis, ou de
baixa probabilidade: procurando reduzir os custos de deliberação e aumentar os ganhos
prováveis daquela “antecipação aproximativa”.

OPÇÃO E CUSTO

Todas as escolhas têm um custo e este custo consiste basicamente no valor daquilo a que se
renuncia para se obter aquilo por que se optou.

Exemplo: A nação que presentemente desleixa a formação dos seus jovens ou que
simplesmente a onera – por exemplo, impondo propinas no ensino superior público, ou
restringindo o acesso às universidades – renuncia à possibilidade de o seu “capital humano”
sustentar mais eficientemente, no futuro, os seus reformados.
EFICIÊNCIA E JUSTIÇA

A escassez é igualmente condicionante de conflitos de fundo, como aquele que se regista


entre os valores da eficiência e da justiça: é que a prioridade dada à eficiência significa que o
emprego de meios é avaliado em termos de maximização, ou seja, de capacidade de obter o
maior rendimento possível a partir de um determinado conjunto de meios. E essa prioridade
implica orientações políticas muito diversas daquelas que seriam ditadas por uma primazia
conferida à justiça, na qual o que conta é primordialmente a forma como o rendimento é
repartido, a forma como a igualdade é verificada nas comparações intersubjetivas de
resultados distribuídos, independentemente da dimensão total daquele rendimento cuja
maximização é o alvo da eficiência.

A incompatibilidade da prossecução simultânea destes dois objetivos – que também


poderíamos designar aproximadamente como objetivos quantitativos e qualitativos de criação
de riqueza – é em larga medida um resultado da escassez de recursos que podem ser afetados
a cada um deles, uma escassez agravada por fundamentais incompatibilidades entre eles: a
maior parte das incentivos ao esforço de enriquecimento num ambiente de liberdade têm uma
matriz individualista e inigualitária, e esses incentivos reduzem-se perante a promoção ativa de
resultados igualitários, se a igualdade, consistindo no nivelamento do esforço de
enriquecimento, por um lado, com a indolência, por outro, premiar esta última.

CUSTO DE OPORTUNIDADE

Uma escolha é racional na medida em que se centra numa comparação subjetiva, mas
desapaixonada, de custos e benefícios implicados nas várias alternativas abertas à opção –
podendo designar-se por utilidade ponderada o resultado dessa comparação: por ocorrer uma
ponderação, uma “pesagem”, de ganhos e perdas.

O custo de oportunidade é, sinteticamente, a mais valiosa das oportunidades que são


preteridas quando se faz uma escolha -, conceito que abarca aquilo que deixa de ser possível
fazer-se, e obter-se, para que possa alcançar-se aquilo por que se optou.

A ideia de custo de oportunidade leva o agente a somar, afinal, à despesa direta em que
incorreria para levar a bom termo a opção que tomou também as vantagens a que renunciou,
e que estariam ao seu alcance nas opções que preteriu. Havia uma oportunidade de fazermos
diferentemente do que fizemos, no entanto, quando optámos, preterimos aquela
oportunidade, e essa renúncia às alternativas possíveis é, economicamente, um custo.

Exemplo: O investigador que decide deslocar-se a um centro universitário estrangeiro deve


contabilizar entre os seus custos não só aquilo que paga em termos de transportes, de
alojamento, de alimentação, mas também aquilo que deixa de fazer e ganhar no seu local de
origem. Todavia, antes de comparar esses custos com os correspondentes benefícios, ele não
deverá deixar de considerar que, na hipótese de não se ter deslocado ao estrangeiro, também
no seu local de origem teria de suportar custos de alojamento, de alimentação, etc. O custo
será, neste caso, apenas a diferença entre aquilo que gastou, por um lado, e aquilo que, por
outro lado, no mesmo momento teria plausivelmente gasto se tivesse tomado uma decisão
diversa.

Perguntar-se-á: todas as opções alternativas? Não – apenas uma opção alternativa,


formalmente aquela que estava no segundo degrau da escala das preferências, aquela que
plausivelmente teria sido tomada se não se tivesse preferido aquela por que se optou.
Realisticamente, não se pode conjeturar que, se não tivéssemos seguido pelo caminho por
onde fomos, teríamos seguido por todos os outros caminhos possíveis simultaneamente, e não
apenas por outro – e único – caminho. Por isso é que o custo de oportunidade é o valor da
“segunda melhor escolha”, é a mais valiosa das alternativas preteridas; não é o valor
acumulado de todas as escolhas possíveis, e preteridas.

A escassez e a irreversibilidade do tempo tornam crucial a ponderação de benefícios e custos


de oportunidade – que, uma vez tomada, é em rigor condicionante e irremediável – possa
pautar-se por alguma medida de racionalidade: aquela racionalidade que, mesmo dentro dos
seus limites reais, idealmente deveria presidir sempre ao momento da opção, o momento em
que a liberdade económica assume o seu sentido próprio, no plano individual.

Por exemplo, é neste sentido específico que se pode sustentar que é economicamente
racional que um bom futebolista abandone os seus estudos terminada a escolaridade
obrigatória, se porventura dos benefícios esperados da sua curta carreira profissional excedem
manifestamente os ganhos totais esperados de qualquer opção profissional subsequente ao
prosseguimento dos estudos, e computados pela totalidade da sua expetativa de vida. Dito de
outro modo, um tal prosseguimento dos estudos, no pressuposto de que ele prejudicaria a
carreira de um futebolista talentoso, poderia apresentar para este um elevadíssimo custo de
oportunidade, tornando irracional essa opção.

Uma das ideias centrais com a qual se enaltece a liberdade das trocas, e o papel da economia
no mercado, é a de que, na ausência de constrangimentos aparentes, o custo de oportunidade
tende a ter uma representação fidedigna no “custo monetário” – com a consequência de que
um dos primeiros indícios que podemos ter de que um mercado não está a funcionar
apropriadamente reside na disparidade que encontramos entre o valor absoluto, para nós,
destes dois tipos de custos.

Mais concretamente, o custo de oportunidade é espelhado no preço relativo de dois bens,


um valor que é formado pelo mecanismo da oferta e da procura: o preço relativo do bem A em
termos de bem B é a razão, o quociente, entre o preço A e o preço B – o que nos dá a medida
exata, e objetiva, do quanto deixamos de pagar por um bem (A) quando compramos o outro
(B).

RACIOCÍNIO MARGINALISTA

A análise da racionalidade económica centra-se frequentemente, não naquelas grandes


decisões que mudam tudo, que transportam instantaneamente a pessoa de um ponto de
insatisfação total para um ponto de saciedade - a pessoa que não tinha automóvel e que
adquire um, a pessoa que não tinha lido um livro e o leu - , mas naquelas pequenas decisões
que provocam pequenos incrementos de satisfação, dentro de um plano decisório que não
raro as transcende nos seus valores totais.

A decisão típica de que se ocupa a Economia não é em rigor a de fazer ou deixar de fazer algo
– o tudo ou nada – mas antes a de fazer mais ou menos de algo, de intensificar ou reduzir o
número de unidades empregues em apoio de uma determinada decisão ou atividade.

CUSTOS MARGINAIS E CUSTOS AFUNDADOS. A REVOLUÇÃO MARGINALISTA.


O jurista que quiser ir aumentando gradualmente a sua biblioteca – e que gostaria que cada
novo livro pudesse ser adquirido a um custo mínimo -, e o livreiro que quer liquidar os seus
livros menos vendáveis através do recurso a “saldos”, a vendas sem lucro ou até com prejuízo,
estão ambos a raciocinar em termos marginais: um compra, e o outro vende, se para cada um
deles se verificar que o seu benefício marginal excede o correspondente custo marginal.

Ambos estão a melhorar as suas hipóteses de sucesso nas trocas, prescindido de cálculos
referidos a valores totais, ou até a valores médios – valores por unidade -, e concentrando a
sua racionalidade naquele âmbito restrito e marginal dentro do qual o impacto das suas
decisões pode alcançar um máximo de eficiência futura.

Em suma, o custo marginal é o valor da mais valiosa alternativa preterida para se conseguir
produzir ou obter mais unidade de um bem ou serviço, enquanto que o benefício marginal é o
valor dessa unidade suplementar de bens ou serviços por que se optou.

Aquele que preferiu fazer uma viagem turística, em vez de comprar novos livros para a sua
biblioteca, teve como custo de oportunidade marginal o valor dos livros que se viu forçado a
não comprar – dada a escassez de recursos -; e teve como benefício marginal o valor dos livros
(e outros bens) de que esteve disposto a prescindir para fazer a viagem, porque a viagem
representava para ele, naquele momento e naquela circunstância, um valor marginalmente
superior ao valor total dos livros, e outros bens, de cuja compra prescindiu.

Racionar em termos marginalista significa, pois:

 Optarmos por produzir ou adquirir mais de um bem ou serviço, enquanto o benefício


de mais essa unidade exceder o correspondente custo de oportunidade;
 Optarmos por produzir ou adquirir menos, quando esse custo exceder o benefício
adicional;
 Optarmos por não produzir ou adquirir nem mais nem menos, produzindo ou
adquirindo o mesmo que anteriormente, quando os dois valores coincidem.

Esta análise ocorreu quando da “revolução marginalista”.

O IMPACTO DOS INCENTIVOS NA CONDUTA

Aquele que pode decidir livremente recorrerá a uma comparação, mais ou menos racional,
de custos e benefícios. Se for possível interferir com a dimensão absoluta ou relativa desses
custos e benefícios, alterando-a, então será de esperar que um agente racional responda a essa
alteração, adaptando a ela a sua conduta.

É, pois, possível condicionar a conduta do agente económico sem lhe retirar a sua liberdade
de escolher e decidir – interferindo somente nos incentivos que são, para ele, o valor absoluto
ou relativo dos ganhos e perdas esperados na sua próxima decisão, os pontos de referência das
suas escolhas, e a sua motivação para agir.

A questão dos incentivos, se é relativamente simples relativamente aos efeitos que


isoladamente provocam numa conduta individual – um aumento de preços significará
normalmente uma restrição do consumo, a atribuição de direitos exclusivos encorajará as
invenções, um salário adequado incentivará a produtividade laboral, o aumento do lucro
estimulará a produção das empresas –, é uma das mais complexas e difíceis facetas da
modelação da política económica, não apenas porque ela supõe que se conheça, com um
mínimo de rigor, a reação dos indivíduos à alteração dos incentivos, como ainda, e sobretudo,
porque um mesmo incentivo pode ter efeitos opostos, quando estamos na presença de
destinatários dos incentivos que demonstram terem diferentes padrões de reação a estímulos.

A ênfase nos incentivos é também a ênfase na liberdade, a convicção de que as pessoas são
capazes de alcançar sem constrangimentos certas finalidades, desde que sejam criadas
motivações adequadas – sob a forma de ganhos e perdas associados às opções livremente
disponíveis a cada agente.

O POSTULADO DA RACIONALIDADE

A análise económica parte do pressuposto de que a ação observada é dominada, mesmo se


não exclusivamente, por princípios da racionalidade, no sentido de que é possível ao agente
escolher livre e conscientemente uma de entre várias alternativas de ação, optando
normalmente por aquela que objetivamente:

 ou apresenta a maior probabilidade de resultados maximamente favoráveis, os


resultados ótimos, ao mesmo custo das demais alternativas;
 ou apresentando uma probabilidade de resultados ótimos que não se distingue da das
demais alternativas, contudo tem um custo inferior ao destas.

Nestes dois casos, na presença de várias opções de ação igualmente disponíveis mais
eficientes, tenta-se racionalmente minimizar os custos ou maximizar os ganhos, ou ambos
simultaneamente: tenta-se a máxima eficiência de custos, o maior benefício líquido (isto é,
deduzidos os custos), procurando minimizar desperdícios na obtenção de quaisquer estados de
satisfação.

A racionalidade económica identifica-se ainda com a “lei do menor esforço”: aquele que, com
o mesmo esforço dos demais, tiver alcançado o mais elevado nível de satisfação terá
maximizado o sucesso da sua atividade económica, minimizando as suas necessidades com os
meios momentaneamente disponíveis; e por seu lado aquele que, com menor esforço do que
os demais, alcançar o mesmo nível de satisfação deles, terá conservado mais recursos que
ficam disponíveis para, de seguida, repetir ou prolongar o nível de satisfação alcançado.

AS LIMITAÇÕES TEMPORAIS E ORÇAMENTAIS

Dada a escassez, a racionalidade do agente económico manifesta-se e avalia-se dentro de


um espaço confinado.

Neste confinamento, a estratégia de otimização da satisfação de uma necessidade conflitua


inevitavelmente com a atuação que é requerida para se alcançar a satisfação das demais
necessidades, pelo que, das duas, uma:

 ou se sente, e consegue estabelecer, a inequívoca prioridade de uma necessidade, e


temporariamente ela beneficia do exclusivo emprego de recursos, até que a sua
progressiva satisfação lhe faça perder a prioridade;
 ou, no caso contrário, os recursos disponíveis têm que se selecionados e combinados
por forma a que se consiga a satisfação simultânea e proporcionada das várias
necessidades concorrentes, sendo irracional que, manifestando-se todas com igual
intensidade, alguma delas seja preterida, mesmo que momentaneamente – tudo se
concentrando, neste caso, na gestação das disponibilidades totais, da riqueza total, ou,
dito de outro modo, na exploração das possibilidades máximas de satisfação
simultânea do máximo de necessidades.

Na segunda hipótese, a gestão de recursos tornará transparente uma noção de rendimentos


decrescentes, ou de custos relativos crescentes, que balizará as decisões concretas: à medida
que se intensifica a afetação de recursos à satisfação de uma necessidade, aumenta, por
definição, o respetivo custo de oportunidade, visto que diminui o número de recursos
dedicados à satisfação das demais necessidades, e, portanto, a possibilidade de essa satisfação
ocorrer (de ela ocorrer ao nível pretendido).

Aumentando o custo de oportunidade, reduz-se o incentivo à prossecução racional da


atividade de satisfação de uma necessidade, devendo pois reduzir-se o nível dessa atividade.

Generalizando este raciocínio à satisfação de todas e cada uma das necessidades, perceber-
se-á facilmente que, num contexto de simultaneidade e de concorrência entre necessidades, a
afetação de recursos tende para uma posição de equilíbrio, que é a posição de nivelamento
dos custos relativos associados ao emprego desses recursos.

Por outras palavras, cada agente defronta-se com um conjunto finito de opções disponíveis, o
“conjunto de oportunidades”: o estudante que vive longa da Universidade e não dispõe de
meios de transporte próprios conta apenas com duas opções naquele conjunto – usar os
transportes públicos ou arranjar uma boleia –; aquele que tem veículo próprio passa a contar
com mais uma opção; e há ainda uma opção disponível para aquele que vive perto da
Universidade – deslocar-se à pé.

Facilmente se percebe que a dimensão e a composição do conjunto de oportunidades


depende de limitações temporais e orçamentais: quanto mais tempo e recursos se puder
reservar à busca e à preparação de uma solução, maiores probabilidades haverá de que ela
seja optimizadora.

As limitações temporal e orçamental são as manifestações mais restritivas, mais sensíveis no


plano individual, da escassez: aquele que dedicar muito tempo a assistir a programas
televisivos disporá de pouco tempo para estudar; aquele que gastar demasiado dinheiro a
comprar ovos ficará com pouco dinheiro para comprar queijo – e assim fica limitado nas suas
opções de preparação de uma omeleta de queijo.

AS VANTAGENS DAS TROCAS

A relação intersubjetiva que se estabelece entre os agentes económicos pressupõe uma


complementaridade de necessidades e uma contraposição objetiva de interesses: a nossa
interdependência social depende em larga medida dessa circunstância de precisarmos uns dos
outros.

A ALEGADA SOMA ZERO

Mas isso não quer dizer que as nossas trocas assentem num pressuposto
concorrencial ou mutuamente predatório, no sentido de procurarmos obter vantagens
extorquindo-as aos nossos parceiros, por não haver outra forma de alcançar benefícios
se não sonegando-os a eles, ou causando-lhes prejuízos.
Um tal entendimento de trocas remete para a teoria do “jogo de soma zero” ,
assemelhando as trocas a um jogo em que o vencedor ganha exatamente o somatório
daquilo que os jogadores perdem, ou seja, uma situação em que o valor total dos
ganhos e o valor total das perdas se anulam reciprocamente, resultando num
somatório nulo.

Se fosse esta a situação predominante no seio da economia, seria racional que cada
se isolasse e fugisse de deixar-se explorar: cada família, cada unidade de economia
comum, deveria concentrar-se numa estratégia de autossubsistência isolada, e cada
nação deveria fazer o mesmo no plano internacional, remetendo-se à solução dita de
“autarcia”.

A SOMA POSITIVA DAS VANTAGENS RECÍPROCAS

É, contudo, manifesto que não é esta a situação normal das trocas económicas, as
quais, sendo livres, só terão lugar se ambas as partes envolvidas puderem aperceber-se
racionalmente da existência de vantagens recíprocas.

Um livro só se venderá se ele tiver, para o livreiro, um valor inferior ao preço que por
ele é oferecido; e se tiver, para o comprador, um valor superior ao preço pelo qual ele é
adquirido.

O livreiro ganha com a venda, pois o dinheiro recebido é de valor superior àquele
valor que para ele teria marginalmente o livro; o leitor ganha com a compra, pois para
ele a quantia desprendida tem menos valor do que aquele que para ele é
marginalmente representado pelo ingresso do livro no seu património.

Ambos ganham: seria irracional que o livreiro vendesse um livro por um preço
inferior ao valor por ele representado por aquele bem, tal como seria irracional que o
comprador oferecesse pelo livro um preço superior ao valor que subjetivamente lhe
atribui. Se o resultado da troca fosse efetivamente de “soma zero”, e houvesse um
mínimo de racionalidade em ambas as partes, a parte prejudicada retirar-se-ia antes da
troca consumada, evitando a sua “pura perda” e, com ela, o “puro ganho” da
contraparte.
No entanto, o facto de ambas as partes ganharem não significa que ambas as partes
ganharam o mesmo, sendo perfeitamente normal que, no âmbito das trocas
bilateralmente vantajosas, ocorram variações de preços que ora beneficiam mais uma
das partes, ora beneficiam mais a outra.

Por exemplo, numa semana um livro alcança o preço de 30€, e esse preço satisfaz
objetivamente tanto o vendedor, que suportou custos inferiores àquele preço, como o
comprador, que estaria genericamente disposto a pagar ainda mais por ele. A compra e
venda têm lugar, com benefício objetivo para ambos. E, no entanto, o vendedor
lamenta não ter vendido numa semana anterior em que o preço atingiu os 35€, e o
comprador lamenta igualmente não ter comprado também numa outra semana em
que o preço era de 27€.

Verifica-se que nenhum deles alcançou com as trocas aquele máximo que
abstratamente julgaram alcançável; a troca impôs-lhes o máximo possível suscetível de
coexistir com a compatibilização de desígnios opostos.
Assim sendo, e dado que ambas as partes ganham com a troca, havendo benefícios
recíprocos que não se verificariam se a troca não tivesse tido lugar, podemos dizer que
a situação corresponde à de um “jogo de soma positiva”, no qual os benefícios de uma
das partes não implicam necessariamente prejuízos da outra, tudo contribuindo, ao
invés, para um resultado crescente, em que o total de transações vai fazendo aumentar
a utilidade total, a utilidade combinada de ambas as partes.

ESPECIALIZAÇÃO E TROCA

As trocas efetuam-se num quadro de justiça, dentro do qual é preservada a


equivalência recíproca dos valores permutados pelo que podemos concluir que cada
família (cada unidade de economia comum) produz um valor grosso modo equivalente
àquilo que consome, e consumirá aproximadamente o valor daquilo que produziu.
Assim, cada família consumirá tanto mais, será tanto mais próspera, quanto mais
produzir.

Mas produzir mais implica, para cada família, libertar-se das atividades em que é
menos produtiva para concentrar-se naquela em que o é mais, aquelas em que é maior
a sua vantagem comparativa; significa especializar-se e intensificar as trocas – visto
que, quanto mais se dedica à produção de um número restrito de bens, mais precisa de
adquirir todos os outros bens de que necessita para compor qualitativamente o padrão
da sua prosperidade.

Deste quadro de divisão de trabalho, e de especialização, retira-se o argumento


fundamental a favor de um sistema generalizado das trocas, a favor do comércio e do
uso da moeda, o meio que facilita e acelera a multiplicação das trocas. Percebe-se,
portanto, que o isolamento e a autarcia são, em princípio, atitudes irracionais, porque
elas fazem perder oportunidades de ganhos recíprocos, sendo que ninguém beneficia e
todos perdem.

Só assim não sucederá, em termos estritamente económicos, numa situação-limite,


em que já nada restasse para trocar, numa situação em que generalizadamente se
constatasse que aquilo de que cada um dispunha igualava, ou excedia em valor, aquilo
que poderia adquirir através das trocas.

Esta situação-limite será tanto mais possível e plausível quanto menos pessoas
estiverem envolvidas nas troca, e será tanto mais distante e implausível quanto maior
for o número dos envolvidos, isto é, quanto maior for o mercado.

Percebe-se, portanto, que se todos ganharem com as trocas, e as trocas forem,


portanto, veículos de enriquecimento generalizado, as oportunidades de riqueza serão
tanto maiores quanto maior for a dimensão dos mercados, e a subsistência e
preservação do mercado será a premissa essencial para o enriquecimento
generalizado.

A AFETAÇÃO SOCIAL DE RECURSOS: ESTADO E MERCADO

A resposta às perguntas básicas da decisão económica pode ser confiada ao poder político,
ou abandonada às forças do mercado e ao poder de maximização de ganhos recíprocos através
das trocas.
No primeiro caso, entrega-se a uma racionalidade central o poder de planificar e dirigir a
atividade económica – julgando-se que essa racionalidade central dispõe de vantagens
informativas, organizativa e administrativas que não só permitem resolver as questões que
transcendam o âmbito individual, como possibilitam até formas mais ordenadas e congruentes
de solução de problemas que surjam nesse âmbito mais restrito-.

Numa economia de mercado, ao invés, a atividade económica é condicionada


essencialmente pelas próprias forças que animam as trocas – sendo o mercado, na sua acepção
mais ampla, a ocasião dessas trocas.

O que há de peculiar na economia de mercado é que as grandes decisões de que depende a


eficácia e a justiça do resultado ótimo e total do seu funcionamento não são, em rigor,
confiadas a ninguém, presumindo-se antes que elas resultarão de uma organização
espontânea, da emergência difusa de um mínimo denominador comum na força de atuação de
todos os agentes económicos, de um hábito no esforço de solução individual dos problemas
económicos, em ambiente de respeito e de reciprocidade – mesmo que não sempre de
solidariedade.

Numa economia de mercado, essa ordem espontânea centra-se no mecanismo dos preços,
um processo de sinalização através do qual as partes essencialmente comunicam:

 a sua disponibilidade para procederem a trocas;


 a sua adesão a valores, ou a intervalos de valores, geralmente aceites como bases de
negociação;
 o respeito que os compradores têm pelo custo expresso na avaliação do vendedor;
 a sensibilidade que os vendedores têm às necessidades expressas na avaliação do
consumidor;
 a confiança que as partes depositam no meio de pagamento comum, a moeda, nas
unidades do qual o valor das trocas é expresso.

Encontra-se aqui um obstáculo muito importante à pretensão dirigista e planificadora da


economia: é que toda a iniciativa política que interfira no mecanismo dos preços pode gerar,
quase instantaneamente, um risco de grave instabilidade na atividade económica, já que
distorce ou turva a sinalização pela qual se coordenam espontaneamente os interesses
particulares, e com base na qual as decisões particulares são tomadas de forma mais racional
que coletivamente é possível.

Por coincidência, a decisão planificadora poderia coincidir com aquela que agregadamente
resultaria da combinação da miríade de decisões particulares que o mercado veicula; mas
nunca seria senão uma coincidência com um desproporcionado risco de insucesso – já que a
informação de que dispõe o planificador central, por mais poderosa e sofisticada que seja, não
consegue aproximar-se eficientemente, sem custos elevadíssimos, da informação privada de
que dispõe cada um dos agentes particulares no mercado, e que é obtida a custo mínimo,
confinada como está ao seu próprio horizonte de relevância.

A interferência estadual, destruindo incentivos empresariais, é capaz de, com grande


amplitude, retardar o crescimento da economia.

Ex:: A interferência nos preços dos produtos agrícolas, bem intencionadamente dirigida à
proteção dos consumidores urbanos mais pobres, confunde os agricultores quanto ao grau
ótimo de eficiência produtiva, e os desincentiva de procurarem alcançar esse grau ótimo.
MERCADO DE PRODUTOS E MERCADO DE FATORES

Existem dois tipos distintos de mercado numa “economia de mercado”: o mercado de


produtos, isto é, de bens e serviços, e o mercado de fatores produtivos.

Bens e serviços: resultados finais da atividade económica organizada, os “outputs”


diretamente empregues na satisfação das necessidades.

Fatores de produção: bens e serviços, mas agora apreciados e empregues no ponto inicial de
um ciclo de atividade económica, consistindo especificamente nos “inputs” de terra – os
fatores naturais e as matérias primas -, trabalho e capital que as empresas coordenam e
otimizam, recorrendo a um grau qualquer de sofisticação tecnológica, tendo em vista a
obtenção de meios que diretamente satisfaçam necessidades dos utentes e consumidores.

Pode dizer que o mercado de fatores é instrumental e que mercado de produtos é, em relação
àquele, o mercado final.

Entre os dois tipos de mercado geram-se dois circuitos: o “Circuito Real”, que corresponde a
um fluxo circular de produtos e de fatores, e o “Circuito Monetário”, que corresponde a um
contra fluxo de pagamentos, entre consumidores e produtores.

No mercado dos produtos, os indivíduos ou as famílias (unidades básicas de economia


comum entre indivíduos) são normalmente os consumidores, e as empresas são os produtores.
Os primeiros pagam por aquilo que adquirem, os segundos recebem os pagamentos
monetários correspondentes ao valor de mercado daquilo que fornecem. É neste mercado que
as famílias encontram as suas despesas, e é nele que as empresas obtêm o seu rendimento.

No mercado de fatores produtivos, os indivíduos e as famílias são os produtores, de trabalho,


de fatores naturais e de capitais, e as empresas são os consumidores. Neste mercado, são as
empresas que pagam, e os indivíduos e as famílias recebem a renumeração correspondente ao
valor dos fatores de produção que colocam no mercado à disposição daquelas. É neste
mercado que as famílias obtêm o seu rendimento, que gastarão no mercado de bens e
serviços, e é nele que as empresas concentram as suas despesas, pagando renumerações aos
fatores, gastando com eles o que ganharam no mercado dos produtos.

Em suma:

 as famílias são fornecedoras de fatores de produção, e consumidoras de bens e


serviços – recebendo por aqueles, pagando por estes -;
 as empresas são produtoras de bens e serviços, e utentes de fatores de produção –
igualmente recebendo por aqueles e pagando por estes.

O que umas ganham é o que as outras gastam, e por isso o rendimento total, o total das
receitas, não pode deixar de ser equivalente à despesa total, ao total dos gastos, significando
isso que nada há a ganhar se ninguém estiver disposto a despender, e não é possível ganhar-se
através das trocas mais do que aquilo que é gasto nelas.

A INTERVENÇÃO DO ESTADO NOS MERCADOS – JUSTIFICADA E INJUSTIFICADA


Embora a economia de mercado possua vantagens, também possui ineficácias e injustiças
cuja deteção poderá justificar a intervenção do Estado, agora já não para planificar ou dirigir,
mas apenas emendar as “falhas de mercado”.

Falha de mercado: designação que abarca todo o tipo de perdas de eficiência que
acompanham o funcionamento espontâneo do mercado, em especial as relacionadas com a
imposição de custos aos agentes do mercado por força de entraves à concorrência ou à
inovação.

Esse objetivo de emenda das “falhas de mercado” poderá agora alcançar-se sem que o
Estado tenha necessidade de se colocar numa posição de proeminência, bastando-lhe
frequentemente entrar no próprio jogo livre do mercado munido do seu peso económico, e
dos seus meios complexos de atuação, para, com a sua presença, contrabalançar as forças
causadoras das referidas “falhas”.

E concluamos que a intervenção estadual no funcionamento dos mercados pode assentar em


qualquer de três razões gerais, ou de qualquer combinação delas:

 a pura e simples ignorância das leis económicas, o desconhecimento dos requisitos e


implicações da atitude intervencionista;
 o imperativo de eficiência, que abre espaço à retificação de “falha” verificadas nos
mercados dos produtos e dos fatores;
 o imperativo de justiça, que determina retificações dos resultados distributivos que se
verificam no mercado dos fatores produtivos.

JUSTIÇA SOCIAL

Embora para a perspetiva económica, sobrelevem considerações de eficiência, a mais


comum razão justificativa de uma intervenção pública encontra-se, no plano dos factos,
em considerações de justiça social, de solicitude pelos mais desfavorecidos e pelos
mais explorados.

O rendimento atribuído aos agentes deveria em princípio ser proporcional ao esforço


e habilidade por eles aplicados na produção de bens e serviços para os quais existisse
procura no mercado.

Se a busca individual de vantagens e de proveitos desiguais é, porventura, o principal


incentivo à atividade económica num ambiente de liberdade, o Estado não deve
demitir-se de balizar, ao menos nos seus limites mínimos, o resultado da livre
manifestação desses incentivos, evitando que a regra de coexistência e de
complementaridade, em que o mercado se baseia, destrua os seus próprios alicerces.

Não devem, todavia, perder-se de vista considerações de eficiência presas às


questões dos incentivos.

AS FALHAS DE MERCADO

As intervenções do Estado nos mercados que sejam ditadas pelos propósitos de


eficiência costumam ser justificadas pela alegada presença de “falhas de mercado”, as
quais são atribuídas a duas causas principais:
 Externalidades: Possibilidade de que uma atuação económica faça projetar
irremediavelmente efeitos, benéficos ou maléficos, sobre alguém que não o
próprio agente, interferindo no nível de bem-estar desse alguém, sem que lhe
seja paga qualquer indemnização – no caso da diminuição do seu bem-estar-
ou sem ter que pagar qualquer compensação – no caso de aumento desse
bem-estar -, impedindo nomeadamente que a produção de bens socialmente
benéficos seja livremente incentivada, ou sinalizando erradamente o mercado
no sentido da sobreprodução de bens e serviços com efeitos colaterais
socialmente negativos.
 Poder de mercado: Permite a alguém a exploração do mecanismo dos preços
em proveito próprio, para lá de um limite que fira um sentido mínimo de
justiça, ou que gere desincentivos à produção e às trocas – tendo de admitir-se
que mesmo a mais superficial observação do mercado evidenciará que a
concorrência entre empresas é frequentemente limitada, que as distorções do
mercado muitas vezes se perpetuam através da sua repercussão no plano dos
incentivos, e que as atitudes abusivas não raro extravasam para o domínio das
práticas anti ambientais e anti sociais-.

AS EXTERNALIDADES

Externalidade: Toda a situação em que a conduta de uma pessoa afeta o bem-estar


de outras por vias extra-mercado – seja prejudicando-o sem ter que pagar, seja
beneficiando-o sem ter possibilidade de fazer-se pagar por isso, em ambos os casos por
ausência de um mecanismo espontâneo de contrapartida, de “internalização” de
custos e benefícios.

No caso das externalidades, a intervenção do Estado justificar-se-á:

 Seja para refrear o nível de atividade daquele que continua a lucrar quando os
danos que causa a terceiros já atingiram um grau intolerável – ou, num caso
limite, proibir essa atividade ou substituir-se nela ao produtor-.
 Seja para incentivar aquele que, beneficiando terceiros com a sua atividade,
contudo não dispõe de meios para reclamar desses terceiros a contrapartida
dos benefícios que lhes causa, que gratuitamente lhes fornece – ou, no caso de
não conseguir incentivá-los suficientemente, substituir-se a ele na produção
desses benefícios-.

O problema das externalidade consiste basicamente em que, no modelo básico do


mercado concorrencial, se presume que todos os custos de produção recaem sobre
o produtor e todos os benefícios da venda revertem a seu favor, tal como todos os
benefícios da compra e todos os custos inerentes se esgotam na esfera do
consumidor – e portanto se ignora sistematicamente os benefícios e custos que
podem extravasar da simples relação de troca no mercado, sendo esses benefícios
e custos que podem extravasar da simples relação de troca no mercado, sendo
esses benefícios e custos que podem ser genericamente designados por
“externalidades”, fenómenos de disparidade entre o cômputo privado de custos e
benefícios que cabem às partes envolvidas nas trocas.

É, pois, essencialmente a presença de externalidades que perturba essa


coincidência entre eficiência de mercado e bem-estar social; é ela que impede que
todos os resultados socialmente relevantes, e especificamente os resultados
ótimos, sejam alcançados através do mercado.

Pressupõe-se, em suma, que na ausência de externalidades, o mercado


funcionaria eficientemente na afetação de recursos: a apropriação completa faria
com que o preço refletisse o valor de todos os usos alternativos (de todos os custos
de oportunidade), recaindo a integralidade de custos e benefícios sociais sobre o
seu causador individual, enquanto que uma apropriação imperfeita esbate
incentivos, e leva, entre outros efeitos, a um abuso de recursos partilhados por
oportunismo daqueles que não se vêm forçados a arcar com a totalidade dos
custos que provocam, ou se vêm privados da integralidade dos benefícios que
geram.

O PODER DE MERCADO

No caso do poder de mercado, a atuação do Estado justificar-se-á na estrita


medida em que seja alcançável o esvaziamento desse poder, ou seja, na medida
em que, interferindo o menos possível na situação de mercado de que emergiu
esse poder – para que não se afete o frágil mecanismo dos incentivos que depende
da espontaneidade na formação dos preços-, apenas se evite situações abusivas,
em particular a exploração de vantagens ou desequilíbrios extremos, que
comprometam a capacidade o funcionamento normal do mercado assegurar a
justiça e a eficiência da atividade total que nela decorre.

OBJETIVOS DE COMBATE ÀS FALHAS DE MERCADO

Em ambos os casos de “falhas”, o Estado pode, numa intervenção que não seja
puramente proibitiva ou limitativa, seguir fundamentalmente três vias,
combináveis entre elas:

 A da produção direta de bens, de serviços ou de conteúdos informativos


que se entenda serem subproduzidos pelo mercado – estadualizando
assim, parcial ou totalmente, alguns setores produtivos-, ou a aquisição
desses bens, serviços ou informações a produtores privados –
estabelecendo convénios com eles-;
 A da criação de incentivos (e desincentivos) a produtores privados, por
exemplos através da atribuição de subsídios e benefícios fiscais, ou através
do estabelecimento, ou agravamento, de impostos ligados ao volume de
produção;
 A da imposição de certos padrões e condutas ao setor privado – por
exemplo, o acatamento de normas de segurança no trabalho, a subscrição
de seguros obrigatórios, a observância de certos limites máximos de
poluição.

A FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

A escassez de recursos – que condiciona as alternativas do agente económico e lhe impõe o


estabelecimento de prioridade – pode ser associada à imagem de um universo finito, limitado
por uma fronteira que agrega as possibilidades extremas das opções de produção, as
combinações ótimas, maximizadoras, dessas opções: uma fronteira de possibilidades de
produção.
Essa fronteira pretende representar simplificadamente as várias combinações de produção
de dois bens ou serviços que são alcançáveis pela aplicação máxima e ótima dos
correspondentes fatores de produção – ou seja, em função de um certo montante de fatores
disponíveis e dada uma certa tecnologia -.

Começando pela opção extrema em que só se produz um dos bens ou serviços, e


terminando na hipótese extrema e contrária de produção exclusiva do outro, a fronteira
passará por todos os pontos intermédios em que se produzem ambos, e em que é possível
ponderar a decisão marginal de produzir mais um à custa da diminuição marginal da produção
de outro.

Através de uma representação gráfica é possível perceber que existem três tipos de
combinações de produção:

 Combinação sub-ótima: aquém da fronteira de possibilidades de produção;


 Combinação ótima: sobre a fronteira de possibilidades de produção;
 Combinação insustentável: além da fronteira de possibilidades de produção.

Temos assim que a fronteira de possibilidades de produção é a expressão do contínuo de


combinações de vários bens ou serviços que estão ao alcance do produtor através de simples
reafectação de recursos disponíveis: os recursos físicos, as aptidões dos trabalhadores e a sua
disposição para o trabalho, o número e dimensão das empresas, as estruturas de investigação
e a capacidade para descobrir e inovar, etc.

Aquela fronteira é um limite máximo que pressupõe a afetação total dos recursos, querendo
isso significar que, em toda a opção produtiva por ela representada, é maximizada a eficiência
produtiva, verificando-se uma situação em que não é possível produzir mais de um bem sem
produzir menos de outros bens para os quais seja possível reafectar em alternativa os recursos
disponíveis.

Na fronteira de possibilidade de produção, a perceção das vantagens máximas de uma


determinada opção é, pois, imediatamente acompanhada da medida total dos
correspondentes custos de oportunidade – o “trade off”, a necessidade de opção básica entre
uns bens e outros -, o que facilita a intuição de que a gestão de recursos e a busca de soluções
são ambos dominados por um mecanismo equilibrador.

O VALE DE EQUILÍBRIO

Se o incremento de uma das possíveis alternativas acarreta necessariamente o


agravamento dos correspondentes custos de oportunidade, provocando um
decréscimo marginal do rendimento associada a essa alternativa e um acréscimo
marginal do valor das alternativas momentaneamente preteridas, será racional
regressar-se a um ponto intermédio em que nenhuma das alternativas em jogo seja
especialmente intensificada; a um ponto em que, portanto, não se registem sensíveis
agravamentos dos custos marginais de oportunidade.

Existe para cada produtor um “vale de equilíbrio” rodeado de “encostas de custos


crescentes”. A exploração em exclusivo de uma encosta, cada vez mais íngreme,
envolve um esforço que faz com que se torne cada vez mais atrativo o regresso a uma
posição de repouso no “vale”, e à restrição da atividade a uma exploração regular de
todas as encostas, limitada aos seus trechos íngremes e mais próximos do centro do
“vale”.

Em suma, observar-se-á que os recursos de que dispomos não são igualmente


produtivos em todas as atividades, pelo que não são reafectáveis indiscriminadamente,
sem perda de eficiência.

Mesmo a opção pelo investimento em meios que expandam a fronteira de


possibilidades de produção, por exemplo em maios de progresso tecnológico, não se
faz sem custos explícitos, sem sacrifício das alternativas de investimento e de consumo
representadas naquela fronteira de possibilidades.

EXPANSÃO E CONTRAÇÃO DA FPP

A expansão da fronteira de possibilidades de produção pode dever-se tanto


quantitativamente ao aumento bruto de fatores produtivos, como qualitativamente à
melhoria da produtividade desses fatores: seja por progresso tecnológico, seja por
substituição de fatores menos produtivos por fatores mais produtivos.

Em suma, é possível um crescimento em termos absolutos, isto é, uma expansão da


fronteira de possibilidades que permita soluções eficientes com crescente
suscetibilidade de satisfação simultânea de necessidades alternativas, isto é, com
suscetibilidade de nos aproximarem do limite da abundância geral.

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