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Economia Política
Resumos de:
MICROECONOMIA
“How far that little candle throws his beams! So shines a good deed in a naughty
world”. William Shakespeare, Merchant of Venice
Resumos de Microeconomia
CAPÍTULO 1
Conceitos Introdutórios
A Economia é uma ciência social que pretende estudar a conduta humana nas
suas interacções colectivas, fazendo-o com distanciamento analítico, de um modo
sistemático e recorrendo a uma metodologia explícita.
i) Corolários da escassez
iii) – a) A optimização
i) Eficiência e prioridades
5. Como confiar?
Economia mista ou dirigista: como assegurar que a actuação do Estado não se
pauta por interesses que conflituarão com os interesses individuais?
e) O raciocínio marginalista
i) O postulado da racionalidade
Entre os dois tipos de mercados geram-se nexos que podem ser configurados
como um fluxo circular de produtos e de factores e um contrafluxo de
pagamentos, entre consumidores e produtores:
i) A justiça social
que não é possível passar-se além de uma escolha de graus de “falha de mercado” e
de “falha de intervenção”.
k) O tema da Macroeconomia
l) A Produtividade
CAPÍTULO 2
O modo de pensar do economista
Uma das primeiras percepções que o não-especialista tem sobre a ciência
económica respeita à linguagem privativa que esta emprega. O objectivo principal dos
tecnicismos é o de servirem de abreviaturas para conceitos e cadeias de raciocínios
que são complexos e que, não sendo intuitivos, reclamam uma aprendizagem
relativamente extensa e difícil.
Para nos atermos só ao formalismo, ele é necessariamente mais simplificador,
mais empobrecedor na Economia do que em outras ciências que a ele recorrem, já
que as abstracções podem ser fatais à adequada compreensão do objecto da
Economia.
Até meados do séc. XX, a Economia foi sobretudo uma ciência social; é
sobretudo a partir da década de 40 que a ciência económica se entrega ao
formalismo, se concentra obsessivamente em modelos quantitativos de condutas
rigidamente optimizadoras e quantificadoras, postulando um crescente mecanicismo
reactivo que paulatinamente foi erigindo um homo oeconomicus que, mais do que ser
racional e egoísta que se dizia ter sido o protótipo da Escola Clássica de A. Smith e de
David Ricardo, era agora um “cyborg” hiper-racional, capaz de competir, como
processador de informação e decisor estratégico, com as mais sofisticadas estruturas
institucionais.
b) Observação e experimentação
c) O apoio da Estatística
d) Causalidade e correlação
e) O papel da teoria
Não há ligação da teoria à prática que não envolva uma margem de risco ou de
oportunidade, uma margem de criação de teorias e de formulação de hipóteses na
qual se insinua o talento individual, a formação e as convicções do próprio cientista-
-economista. A renúncia à descoberta de verdades fundamentais é um título de glória
da ciência, sendo a melhor prova da sua sofisticação filosófica, da sua emancipação e
da sua inesgotável energia.
Teoria: representação simplificada da realidade assente no encadeamento de
pressuposições e de corolários lógicos dessas pressuposições e geralmente
formulada como um condicional hipotético (se... então). A sua aplicação pela ciência
justifica-se essencialmente no plano da simplificação das pressuposições analíticas.
A teoria é uma imposição de sentido, da qual procuramos retirar consequências
práticas. É ela que confere atractivo e relevância prática a esta e a qualquer ciência.
g) Abstracção e modelação
i) A questão do egoísmo
A concorrência será tanto mais eficiente e benigna quanto mais ela se cingir
ao aspecto dos preços; à medida que cresce o número de vendedores concorrentes
num mercado, menos peso específico poderá cada um deles ter na formação dos
preços.
Ao concorrente é retirado o poder de mercado, ficando ele na posição de
simples receptor passivo de um nível de preços, na posição que habitualmente é
designada como a de “price taker”.
O consumidor é o principal beneficiado com a “guerra de preços” da
concorrência, visto que é para ele que o preço se apresenta como um custo, e que
minimizar o custo é o objectivo central da sua racionalidade; também ele tende a ser
um “price taker”.
A incapacidade de oposição aos preços dominantes por parte do consumidor
beneficia o lado dos vendedores, os quais se vêem poupados a uma pressão que
seria para eles potencialmente ruinosa, dada a possibilidade de essa pressão agravar
drasticamente os custos de formação de equilíbrio nas trocas.
i) Peculiaridades terminológicas
k) O charlatanismo pseudo-científico
l) Pedagogia e “autismo”
CAPÍTULO 3
Interdependência e trocas
A actividade económica evidencia um grau de coordenação e de harmonia
que parece postular uma inteligência central, uma supra-ordenação, de tal modo é
regular a forma como cada um de nós contribui para o funcionamento do todo, cada
um desempenha funções específicas, cada um auxilia os demais, mesmo que deles
não tenha recebido uma indicação precisa das necessidades que sentem ou das
expectativas que têm quanto a esse contributo.
Ninguém nasce absolutamente pré-determinado ao exercício de uma função;
aquilo que cada um faz depende em larga medida das suas próprias opções livres,
daquilo que a pessoa, bem ou mal, decide fazer.
Os resultados nem sempre são os mais justos, nem os objectivamente mais
eficientes. No entanto, ainda que pontualmente sejam detectáveis falhas na
distribuição de tarefas em função da sua utilidade social, o facto é que a Economia
funciona com razoável eficiência em matéria de ocupação livre das especialidades
profissionais, em matéria de divisão social do trabalho, de colaboração e troca de bens
e serviços, de comunicação de necessidades e de aptidões, de tomada de decisões
colectivas; essa coordenação espontânea transcende fronteiras políticas.
A harmonia económica mais não é do que o resultado involuntário do simples
e mecânico entrechoque da actividade de pessoas movidas pelo seu interesse
particular, cada uma criando condições benéficas aos outros quando procurava o seu
benefício particular.
Não significa isto que da interdependência resultem invariavelmente a
“fragmentação atomística” dos planos individuais de realização e a multiplicação
de condutas “centrífugas”, porque a interdependência também é indutora de coesão
e uniformidade, de aproximação das condutas individuais a uma normalidade social
que tende a converter-se em norma, e até, passado um limiar de convicção quanto à
necessidade dessa norma, em Direito.
a) A divisão do trabalho
b) Vantagens absolutas
d) Vantagens comparativas
Seria vantajoso, para aquele que dispõe de mais de uma vantagem absoluta,
assumir todas as tarefas nas quais se registasse esse tipo de vantagem, maximizando
em todas elas os ganhos advindos da sua superior produtividade.
Todavia, é mesmo assim benéfico para o produtor mais eficiente dividir
trabalho, porque, libertando-se das tarefas em que seja comparativamente menos
apto, poderá concentrar-se naquela ou naquelas em que a sua produtividade é
relativamente maior, confiando as demais a parceiros de trocas que perderiam em
comparação com ele, decerto, mas só na situação hipotética de as trocas comerciais
se cingirem a um só produto.
David Ricardo: como poderia a Grã-Bretanha entrar em relações económicas
com Portugal na permuta de vinho e de lã, se em ambos os casos era patente a
vantagem absoluta dos produtores portugueses? Solução: cada um se deve
especializar na sua vantagem relativa, os produtores britânicos na lã e os
portugueses no vinho, acabando por resultar dessa divisão de trabalho uma clara
vantagem para ambos os envolvidos.
A escassez (ao menos a que resulta da limitação absoluta do tempo
disponível) determinará que mesmo aquele que dispõe de vantagens absolutas em
ambas as actividades acabe por não poder dedicar a qualquer dessas actividades
mais do que tempo parcial, no caso de optar pela auto-suficiência, ou seja, se se furtar
às trocas.
A solução tecnicamente mais eficiente pode estar para lá daquilo que o
mercado comporta, e por isso converter-se numa solução que não é economicamente
a mais eficiente, no sentido de não ser aquela que maximiza a utilidade no mercado.
Por essa razão, a ciência económica advertiu para a circunstância de a especialização
ser limitada pela dimensão do mercado, pela procura dos bens e serviços a que
possa corresponder essa especialização de factores produtivos.
Na orientação da opção racional encontra-se uma ponderação de custos de
oportunidade: o tempo gasto na actividade menos produtiva é tempo roubado à
actividade mais produtiva, e vice-versa, pelo que, obviamente, a opção pela actividade
menos produtiva é a que tem mais elevados custos de oportunidade, e a opção pela
actividade mais produtiva é a que tem custos mais baixos.
Quando extrapolamos a situação de especialização parcial para um contexto
nacional, temos ainda que aditar uma outra justificação: a especialização parcial há-
g) Os custos da interdependência
CAPÍTULO 4
As forças de mercado
a) Oferta e procura
ii) A atomicidade
iii) A liberdade
iv) A fluidez
v) O nível concorrencial
i) Preços
“Lei da Oferta”: Quanto mais elevados são os preços, maior é a oferta; quanto
mais baixos, menor a oferta. É uma correlação directa; constitui uma tendência (ceteris
paribus) da oferta para acompanhar, no mesmo sentido, as variações dos preços.
Produzir ou obter um bem para o oferecer num mercado envolve custos, por
isso, quanto mais elevados são os preços, maior é a possibilidade de esses custos
serem cobertos pelo total da receita obtida com as vendas, e de se obter até um
remanescente de rendimento que premeia o esforço do vendedor (“excedente do
produtor” ou “lucro”).
Mesmo um preço baixo é compensador para o produtor se a quantidade
produzida for escassa, mas só um preço elevado recobrirá a elevação de custos
marginais inerente a uma produção mais volumosa.
O aumento da oferta tende a fazer-se, no curto prazo, a custos crescentes,
com perdas marginais de eficiência.
A escala da oferta parte de um “ponto inicial”, ou seja, do ponto em que,
estando o preço de mercado abaixo do custo de produção da primeira dose de um
bem ou serviço, nada se produz.
Em caso algum é racional produzir um bem cujo preço seja inferior ao seu
custo marginal, pelo que qualquer subida do preço em relação ao nível do custo
marginal incentiva racionalmente a produzir mais; isto, se envolve custos marginais
crescentes, só se justifica se essa subida de custos for mesmo assim coberta por uma
subida proporcional, ou mais que proporcional, dos preços.
A curva da oferta representa o conjunto de pontos mínimos da disposição de
vender (preço mínimo a que alguém julgará compensador produzir e vender mais uma
unidade de um bem ou serviço).
Alguém que pretenda produzir e oferecer bens no mercado fará uma opção
pelo processo produtivo que seja mais susceptível de lhe proporcionar um lucro.
Se porventura subsistir durante o processo produtivo uma flexibilidade de
afectação de recursos que permita ao empresário deslocar-se agilmente para a
produção que em cada momento seja a mais rentável, a oferta de um bem restringir-
se-á drasticamente se aumentar a rendibilidade, a susceptibilidade de lucro, de outras
produções às quais possam ser afectados, sem grande perda de eficiência, os
factores já disponíveis; e expandir-se-á se essas produções alternativas conhecerem
quebras de rendibilidade, tornando-se menos atraentes.
Existem bens sucedâneos na produção, sendo que o aumento da oferta de
um bem implica a diminuição da oferta dos seus sucedâneos.
Há bens de produção conjunta ou complementares na produção, em que,
aumentando a oferta de um bem, porque por exemplo aumentou o respectivo preço,
se seguirá o incremento da oferta do outro.
iv) Tecnologia
v) Dimensão do produtor
vii) Expectativas
i) Os preços
Quanto menor for o preço unitário, maior será o número de unidades que se
pode adquirir pelo mesmo valor total.
“Lei da Procura” (ou “lei da procura decrescente”): é uma correlação inversa,
ou seja, a procura tende, ceteris paribus a diminuir quando ocorre uma subida de
preços, e tende a aumentar por ocasião de uma queda dos preços.
Este princípio geral não é isento de excepções. A futilidade é um poderoso
motor da actividade económica. “Ter sucesso” significa, para a esmagadora maioria
das pessoas, ter meios de suporte de uma ostentação com sabor a vitoriana
comparação e na emulação em que se afere a riqueza pessoal e a posição social que
essa riqueza confere.
A escala da procura representa o panorama das escolhas possíveis para cada
nível de preços dentro de um período de tempo delimitado.
O mercado livre demonstra que não há uma única quantidade procurada, mas
tantas quantos os preços possíveis, pelo que tudo depende do preço que prevaleça,
e da interacção que se gere entre esse preço e a reacção dos potenciais compradores.
iv) Os gostos
v) O efeito da publicidade
vi) As expectativas
oferta que ligasse num contínuo todos esses pares “preços-quantidades”, revelando
de forma sugestiva e sintética a correlação positiva que, do lado da oferta, se regista
entre esses dois valores.
A quantidade oferecida é função do número de vendedores que se encontram
presentes no mercado. A oferta total é, num dado mercado, o somatório daquilo que,
em cada nível de preços, ou de intervalo de preços, os vendedores estão dispostos a
transaccionar e a produzir ou adquirir para vender no mercado.
O preço representa a avaliação que ambas as partes nas trocas fazem dos
bens e serviços transaccionados, e por isso ele espelha a escassez desse objecto das
transacções.
Quando um preço estabiliza, ele transmite às partes a informação de que
aquele é o limite máximo do incentivo para produzir e para consumir, e que uma das
partes não consegue prosseguir para lá daquele ponto sem detrimento da posição da
outra. Quanto mais elevado é o preço correspondente a esse ponto, mais nítida se
torna a percepção da escassez.
O grafismo em que se cruzam as curvas da oferta e da procura é designado
por “cruz marshalliana” (Alfred Marshall), e o ponto de intercepção é precisamente
esse ponto de equilíbrio, ponto de coincidência entre um preço de equilíbrio e uma
quantidade de equilíbrio.
i) O valor de troca
preços, pelo que, sendo cada vez maior o desfasamento entre as quantidades
oferecidas e as procuradas, as oscilações de preços limitar-se-ão a espelhar essa
brecha e a ampliá-la.
i) Princípio de Hotelling
i) A elasticidade da procura
i) O cálculo da elasticidade
Inelasticidade
Valor = 0 A quantidade procurada não varia com os preços.
absoluta
Valor = O aumento de preço leva a uma diminuição menos que
Inelasticidade proporcional das quantidades procuradas, e vice-versa.
entre 0 e 1
Elasticidade O aumento do preço leva a uma diminuição proporcional das
Valor = 1 quantidades procuradas, e vice-versa.
unitária
Valor = O aumento do preço leva a uma diminuição mais que
Elasticidade
entre 1 e ∞ proporcional das quantidades procuradas, e vice-versa.
O aumento de preço leva ao desaparecimento da procura, a
Elasticidade
Valor = ∞ diminuição do preço leva ao surgimento ou expansão infinita
perfeita da procura.
iii) Elasticidade-cruzada
j) A elasticidade da oferta
i) Forma de cálculo
Inelasticidade
Valor = 0 A quantidade oferecida não varia com os preços.
absoluta
Valor = O aumento de preço leva a um aumento menos que
Inelasticidade proporcional das quantidades oferecidas, e vice-versa.
entre 0 e 1
Elasticidade O aumento do preço leva a um aumento proporcional das
Valor = 1 quantidades oferecidas, e vice-versa.
unitária
Valor = O aumento do preço leva a um aumento mais que
Elasticidade
entre 1 e ∞ proporcional das quantidades oferecidas, e vice-versa.
A diminuição do preço leva ao desaparecimento da oferta, o
Elasticidade
Valor = ∞ aumento do preço leva ao surgimento ou expansão infinita da
perfeita oferta.
l) Inelasticidade e dependência
CAPÍTULO 5
A intervenção do Estado no mercado
O impulso interventor do Estado no funcionamento do mercado deve
começar por se defrontar com o mecanismo da oferta e da procura. O propósito
interventor é, muitas vezes, o da rectificação dos resultados desse mecanismo,
quando eles sejam tidos por injustos ou ineficientes. Essa rectificação e os meios
que conduzem a ela são frequentemente iníquos e ineficientes.
Uma das convicções mais arreigadas dos economistas é a de que o facto de o
mecanismo dos preços ser por excelência o processo coordenador das decisões
económicas não se deve ao acaso; antes resulta do facto de um tal mecanismo ser
ele próprio não mais do que uma designação abreviada do somatório daquelas
decisões.
A via dos preços máximos é a que se afigura como mais tentadora, visto que
transporta a aparência de que, uma vez estabelecida, aumentarão as possibilidades
de todos acederem a um determinado produto.
O preço máximo eficaz é uma barreira a que o preço suba até ao equilíbrio
ajustador da oferta e da procura. Dado o desequilíbrio e a pressão para a subida, o
mercado esbarrará com esse limite e o preço de mercado será inevitavelmente esse
preço máximo (perpetuando-se o desequilíbrio).
Dado o excesso de procura relativamente à oferta, será necessário proceder a
um racionamento, a que serão aplicados critérios vários. Um dos critérios pode ser o
de os vendedores atenderem sequencialmente os pedidos, o que levará à formação
de filas de espera e ao rateio entre os consumidores em função do custo de
oportunidade associado ao tempo de espera.
Nada, em princípio, impedirá os vendedores de estabelecerem outros critérios
de racionamento, justos ou injustos. Uma via possível é a da atribuição a alguém de
critérios distributivos inapeláveis, ou seja, a aceitação prévia do acatamento
definitivo de qualquer decisão que seja tomada por um ditador, o que permite “custos
de transacção” aceitáveis e imuniza a distribuição contra a estratégia de dissimulação
de preferências, mas, para lá de sacrificar a liberdade das trocas, não assegura a
justiça nem a eficiência.
Aqueles que são excluídos do consumo através das formas de racionamento
por outros meios que não os preços ficam não numa situação de escassez, mas numa
situação de carência absoluta.
A solução de racionamento poderá ter sido nalguns casos injusta e noutros
casos justa, mais ou menos ao acaso, mas foi sempre ineficiente. A solução deste
problema é simples: basta desintervir, desregular e especificamente deixar de fixar
um preço máximo.
escoar todo o produto que aquele nível de preços incentiva a vender, e os incentivou a
produzir. Acaba por haver vendedores que, não podendo vender nada, se vêm
excluídos do mercado.
A fixação de preços mínimos prejudica todos os consumidores, privando-os
do ganho adicional que obteriam com a descida do preço até ao nível do equilíbrio, e
prejudica alguns produtores em benefício de outros.
Os preços só reequilibram através de uma descida, à qual a maioria dos
vendedores acabará por não se opor, seja porque têm em média uma disposição de
vender que se manifesta já a um nível inferior ao do preço fixado, seja porque,
também em média, não conseguem escoar a sua produção a esse preço, ficando
defrontados com um problema de excedentes indesejados.
Muitas das intervenções jurídicas e políticas no mercado referem-se a
questões de eficiência e de justiça; simplesmente, quando se tenta interferir na
justiça comutativa de trocas voluntárias entre pessoas livres é muito frequente que se
desencadeiem efeitos reequilibradores que anulam o objectivo distributivo, que, por
força da eficiência prevalecente dos mecanismos de mercado, suscitam reacções
espontâneas com as quais a justiça é sacrificada.
Várias vezes ocorre uma tensão entre os valores da justiça e da eficiência,
tensão essa que anima muitos dos dilemas práticos com que a Economia se
confronta, condicionando-lhe as próprias soluções teóricas.
Outra forma de intervenção do Estado nos preços dá-se por via do lançamento
de impostos sobre as transacções, constituindo um acréscimo de custos para
alguma das partes envolvidas nas trocas no mercado e interferindo no incentivo dos
preços.
O objectivo natural dos impostos é o de proporcionar uma receita para as
entidades públicas; cedo se concebeu a possibilidade de uso dos impostos como
meios de manipulação de comportamentos económicos, e se percebeu o vasto poder
dessa virtualidade política.
Embora todo o tipo de imposto possa acabar por causar um impacto nas
atitudes de vendedores e de compradores, é com os impostos indirectos que o nexo
causal entre lançamento do tributo e reacção dos tributados se torna mais nítida.
A carga tributária será suportada pelos vendedores ou pelos compradores ou
será partilhada entre eles, independentemente da previsão legal, e em função de
condições geradas pelo próprio mercado, determinadas pelo mecanismo livre da
interacção da oferta e da procura.
Consequências previsíveis da incidência do imposto:
Se o imposto indirecto deve ser suportado pelos compradores, registar-se-á,
ceteris paribus, um deslocamento de toda a escala da procura no sentido da
contracção, em termos de se procurar menos quantidade do bem a cada nível de
preços;
Se o imposto indirecto deve ser suportado pela oferta, registar-se-á um
deslocamento da escala da oferta igualmente no sentido da contracção, no sentido de
ser oferecida menor quantidade do bem a cada nível de preços, visto que, tendo que
ser deduzido o valor do imposto à receita de cada venda, existe um menor incentivo
para a venda a cada nível de preços.
O imposto não recai em exclusivo quer sobre os compradores, quer sobre os
vendedores, dada a presença de elasticidade nas posições de cada uma das partes.
Se são os compradores os devedores do imposto, só no caso de rigidez perfeita da
procura é que o impacto do imposto é inteiramente suportado por aqueles; em todos
os outros casos, a deslocação da escala da procura no sentido da contracção
interceptará a escala da oferta num novo ponto de equilíbrio em que há quebra de
quantidades mas também de preços em relação ao anterior ponto de equilíbrio
(contracção do mercado).
É este o fenómeno da repercussão: dada a elasticidade da procura, os
compradores conseguiram repercutir sobre os vendedores uma parte da carga
CAPÍTULO 6
A procura em mercados concorrenciais
a) Utilidade, revelação de preferências e análise de bem-estar
Teremos que começar por especificar quais são os benefícios particulares que
cada parte pode retirar das trocas, porque é sempre da maximização colectiva desses
benefícios que se trata, quando se procura apreciar o papel do mercado, ou das
alternativas ao mercado, como veículos de bem-estar.
g) Eficiência de Pareto
asseverar-se que a redução do peso económico dos tributos pode resultar até num
incremento da receita do imposto.
Esta noção inspirou a evolução da política macroeconómica conhecida como
“economia do lado da oferta” (“supply-side economics”), a atitude liberal que
sustenta que o essencial das políticas macroeconómicas se deve concentrar na
criação de condições de aumento de produtividade, com um mínimo de interferências
regulamentadoras e de manipulações discricionárias de acordo com o cânone
monetarista, e num esforço, não desprovido de intuito “eleitoralista” de sucessivo
desagravamento tributário.
Hoje há um consenso sobre o impacto do regime tributário nos incentivos,
ainda que haja dúvidas quanto à amplitude desses incentivos, quanto às
“elasticidades” relevantes nos sujeitos de imposto.
Embora os méritos da “curva de Laffer” sejam debatidos, não podemos deixar
de reconhecer que são facilmente verificáveis muitas situações marginais de “pura
perda”, como a alteração de incentivos e de comportamentos dos sujeitos de mais
elevados rendimentos induzida por agravamentos tributários. Os fenómenos
inflaccionistas dos anos 70 vieram tornar mais nítidas as vantagens do
desagravamento tributário que depois se traduziriam, a partir de 1981, nos
“Reaganomics”, dando início a um período invulgarmente longo de crescimento
económico com redução simultânea das taxas de inflação e de desemprego.
i) A teoria do consumidor
i) As restrições orçamentais
outros possam ser consumidos; é a fronteira entre aquilo que é comportável e aquilo
que é incomportável para o consumidor, aquilo que ele tem ou não tem capacidade
para pagar, constituindo portanto o limite absoluto da sua disposição de pagar.
i) A taxa de desconto
Cada vez mais se aceita que existe uma “taxa social de desconto” que deve
servir de referencial a todas as decisões individuais e a todas as medidas de política
económica, na medida em que umas e outras sejam projectadas para terem
consequências que se espraiam no tempo, uma taxa que sirva de medida ao custo de
oportunidade da utilização, imediata ou diferida, dos recursos socialmente disponíveis.
Deve-se a Paul Samuelson a introdução na Escola Neoclássica do conceito de
“utilidade descontada”, sugerindo que todos os parâmetros das preferências inter-
-temporais podiam ser sintetizados nesse único conceito. Tratava-se de exprimir
teoricamente o facto de darmos menos peso (de descontarmos) as consequências
futuras das nossas decisões, vistas do presente, e de considerarmos essas
consequências tanto menos quanto mais distantes as colocamos no tempo; tratava-se
de, aplicando uma espécie de “taxa de conversão”, permitir a consideração simultânea
de valores que ocorrem em momentos distintos, e assim dar uma dimensão relevante
à análise “custo-benefício” que se reportasse a situações mais ou menos distantes,
mais ou menos prováveis.
Ultrapassado um limite máximo, a ideia de desconto pode tornar-se
problemática e ela passa a ter que conviver com uma margem de incerteza e
imponderabilidade, susceptível de aumentar essa taxa de desconto e de reforçar a
“preferência pelo presente”.
A convergência entre as taxas individual e social de desconto não está
assegurada, e as divergências abundam, enredando-se numa disputa que tem muito
mais de ideológico do que de económico, bastando ter-se em vista a história sombria
de algumas ideologias dominantes que, por tempo demais, apelaram ao sacrifício das
gerações presentes em nome de uma contrapartida que nunca chegou; a própria
noção de taxa social de desconto pode ser suspeita de favorecimento da perspectiva
tutelar e intervencionista do Estado.
A aferição do que seja a taxa individual de desconto não pode socorrer-se da
técnica das “preferências reveladas”, porque a revelação que conta se situa, por
definição, no futuro. Para complicar as coisas, os estudos empíricos têm permitido
retirar conclusões que contradizem o modelo canónico de uma taxa uniforme de
desconto no espaço e no tempo: a de que tende a descontar-se mais os ganhos do
que as perdas, a descontar-se mais as pequenas do que as grandes quantias, a
preferir-se sequências de melhoramentos a sequências de declínio.
Perturbador é o “desconto hiperbólico”, uma taxa decrescente de preferência
inter-temporal que aponta para o declínio da impaciência, uma impaciência que é
máxima no curto prazo e depois se esbate, como se houvesse um triunfo da
resignação ou da indiferença pelo longo prazo.
CAPÍTULO 7
O investimento e a oferta em mercados concorrenciais
a) Os custos do produtor sem poder de mercado
Custo fixo: é aquele que é associado aos factores cuja quantidade não se
altera com o nível de produção.
Custos variáveis: cada incremento de produção pode implicar um custo não
só crescente como marginalmente crescente.
Custos totais: soma dos custos fixos e dos custos variáveis (logo, se os
custos variáveis são crescentes, serão igualmente crescentes os custos totais).
Custos médios: quanto custa produzir cada unidade. Calcula-se dividindo o
custo total pelo número de unidades produzidas.
Custo marginal: quanto custa produzir cada nova unidade, cada unidade
adicional.
Custos variáveis médios: quociente de custos variáveis por um número que
representa a quantidade de unidades produzidas.
Custos médios totais: quociente de custos totais por um número que
representa a quantidade de unidades produzidas.
O valor médio indica ao produtor quanto lhe custa produzir o produto “típico”.
O valor do custo marginal pode revelar-se um pouco mais difícil de calcular porque
ele há-de representar a variação de custos associada à variação de uma unidade de
produto, valor a que se chegará normalmente através de um quociente entre uma
dada variação de quantidades e a amplitude total da variação de custos conexa com
aquela variação de quantidades.
Pese embora a dificuldade de cálculo, em rigor é atendendo aos custos
marginais que se modula o volume de produção: os critérios do produtor não têm que
se reportar constantemente a decisões tão radicais como a de continuar ou não a
produzir, a do tudo ou nada, mas apenas a decisões mais limitadas como a de
produzir mais ou menos uma unidade.
Os custos fixos médios descem constantemente, legitimando a conclusão de que
quanto mais se produz mais se diluem os custos fixos pelo número de unidades
produzidas;
Os custos variáveis médios têm tendência a crescer, numa evolução que se
agrava à medida que se atinge a saturação no processo produtivo, confirmando a
tendência de curto prazo para a produtividade marginal decrescente;
Os custos médios totais, na medida em que são a combinação de dois valores
com tendências opostas, uma descendente, a outra ascendente, tendem a evidenciar
uma fase descendente, um ponto de viragem e uma fase ascendente, o que
graficamente pode ser representado por uma curva em U;
Designa-se por Escala de eficiência ou dimensão óptima esse ponto em que
são mínimos os custos médios, o nível de produção que minimiza os custos médios
totais. Um produtor que esteja particularmente preocupado em controlar os custos
deverá prestar especial atenção a esse ponto crítico a partir do qual a produção se faz
a custos médios crescentes: a partir do qual o lucro por unidade nunca voltará a ser
tão grande;
Os custos marginais têm tendência a crescer, e a incrementar progressivamente
essa propensão para o crescimento:
o Enquanto o valor marginal for inferior a um valor médio, este descerá;
o Sempre que o valor marginal for superior ao valor médio, este subirá;
o As variações dos valores marginais arrastam com elas as variações dos
valores médios;
o Se o valor marginal que é superior ao valor médio registar uma
tendência descendente, ou se o valor marginal que é inferior ao valor
médio registar uma tendência ascendente, a amplitude dos valores
convergirá para um ponto em que os dois valores coincidem;
o Se o valor marginal que é superior ao valor médio registar uma
tendência ascendente, ou se o valor marginal que é inferior ao valor
médio registar uma tendência descendente, a amplitude dos valores
divergirá progressivamente.
As “funções do custo médio total” poderiam ter um pedigree muito
respeitável na História do Pensamento Económico, que remontaria ao final do século
XVIII, se não fosse a manifesta preferência da Escola Neoclássica pelo marginalismo.
Curto prazo: intervalo do tempo dentro do qual pelo menos um dos factores de
produção é fixo, e são fixos os custos inerentes a esse factor;
Longo prazo: período que, para aquele produtor, é necessário para tornar
variáveis todos os factores, e portanto também os correspondentes custos.
A curva de custos de longo prazo é aquela que representa os custos de
produção quando todos os factores estão já ajustados. Não há, em princípio, custos
fixos no longo prazo, e por isso a perspectiva de custos de longo prazo é a da
afectação economicamente eficiente de todos os recursos. Existem custos que não
deixam de ser fixos nem sequer no longo prazo (“custos de funcionamento”, ou
“overhead costs”).
A lei do rendimento marginal decrescente estabelece que, à medida que se
combinam factores variáveis com uma dada quantidade de factores fixos, o
rendimento marginal dos factores variáveis tende a diminuir.
Só com a expansão dos factores de produção é que o produtor poderá encarar
a possibilidade de aumento de escala da produção, isto é, de aumento proporcional
de todos os factores de produção, por forma a que daí não resultem desequilíbrios e
sobrecargas para nenhum deles, furtando-se aos efeitos do produto marginal
decrescente, ou do custo marginal crescente, efeitos que estão associados ao curto
prazo. À medida que o produtor se vai expandindo e ajustando a produção às
solicitações do mercado, é como se fosse descartando a sua perspectiva de curto
prazo de pequeno produtor e fosse assumindo a perspectiva de curto prazo do grande
produtor.
Existe, no curto prazo, um limite ao rendimento marginal que se obtém da
intensificação do uso dos factores de produção.
aglomeração, são partilhadas por todos aqueles que nela se encontram. As economias
de escala externas são um “ambiente empresarial fértil” que basicamente tira proveito
do carácter da informação como bem público, a baixo custo, e por essa via promove o
crescimento.
São as “economias externas” que em parte explicam o sucesso económico do
fenómeno da urbanização, que assegura, na tensão entre proximidade e diversidade,
um ambiente propício à “polinização cruzada” de produtores.
Contudo não se pense que a vitória sobre as limitações de curto prazo
transpõe os produtores para o domínio das possibilidades ilimitadas, da expansão
irrestrita, sendo inevitável que a expansão comece a ser travada por perdas de
escala, por rendimentos decrescentes à escala ou, o mesmo é dizer, por uma subida
dos custos médios para níveis superiores ao custo mínimo registado na escala de
eficiência. Em tais casos, a melhor decisão de longo prazo é a da redução da escala
(“downsizing”).
As perdas de escala podem ter também uma vertente interna ou externa.
Quanto à vertente interna, temos entre outros os seguintes factores:
Crescente manifestação dos factores de ineficiência na divisão de trabalho;
Saturação dos locais ou instrumentos de trabalho;
Crescente dificuldade de supervisão e coordenação;
Perda de comunicação interna e aumento da complexidade das cadeias de
decisão;
Perda da coesão e da solidariedade, do espírito de grupo entre os trabalhadores.
f) Opções de investimento
ii) Obrigações
iii) Acções
Vemos assim como pode ser complexa, nas suas determinações básicas, a
decisão de investir, pois o investidor:
Deve comparar as diversas taxas médias de remuneração das aplicações
disponíveis;
Deve, relativamente às aplicações que implicam compra e revenda, ponderar o
rendimento periódico que geram com a possibilidade de obtenção de mais-valias
através da revenda especulativa, já que os ganhos advindos do seu investimento
podem gerar-se tanto em sede de rendimentos periódicos como em sede de mais-
-valias;
Deve condicionar a sua decisão final a uma cuidadosa apreciação da relação dos
níveis remuneratórios do investimento com os riscos envolvidos;
Deve oferecer, pelos meios de investimento disponíveis, um preço que varia em
função do risco, da liquidez, da esperança de ganho, do próprio regime fiscal que recai
sobre esses ganhos.
g) As empresas
CAPÍTULO 8
Os factores tempo e risco
a) O fundamento do juro
Muitas das nossas decisões económicas são orientadas para o futuro. Ora os
meios futuros cuja obtenção procuramos assegurar através da estratégia presente têm
um preço relativo em termos de bens presentes (valor dos bens presentes de que
temos de prescindir para obtermos os bens futuros, o sacrifício de consumo imediato
que está implicado no investimento em recursos de que emergirão os bens futuros).
O valor presente de bens futuros é descontado, ou seja, é menor do que o
valor dos mesmos bens quando a sua disponibilidade seja imediata: e o valor
descontado é tanto menor quanto mais dilatado for o prazo que medeia entre o
presente e o momento em que finalmente acedemos à fruição desses bens futuros.
A racionalidade impõe-nos uma “preferência pelo presente”, que a nossa
irracionalidade mitiga em formas “hiperbólicas” ou exacerba em formas “exponenciais”,
que tem por reverso a taxa de desconto que aplicamos à representação presente do
efeito futuro das nossas decisões, já que o valor presente descontado de um bem é o
quantitativo que, investido hoje, aumentaria por acumulação de juros compostos até
ao quantitativo que, nesse momento futuro, permitiria adquirir esse bem.
Essa preferência pelo presente desaconselharia todos os sacrifícios da
gratificação imediata de necessidades, todas as trocas inter-temporais nas quais fosse
dado a uma das partes antecipar a sua satisfação de necessidades à custa do
adiamento da satisfação de necessidades da outra, dado o empréstimo de meios
próprios. O sacrifício daquele que adia a gratificação das suas necessidades deve ser
compensado com o montante que ultrapasse a taxa de desconto, que faça superar a
preferência pelo presente por uma “preferência pelo futuro”: o juro.
Juro: Montante que faz vencer a preferência pelo presente, pelo que a taxa de
juro tem que ser superior à taxa de desconto que, individual ou colectivamente, é
aplicada às transacções inter-temporais; é o preço de equilíbrio do mercado dos
fundos monetários mutuáveis.
O juro existe porque, na sua ausência, haveria carência de fundos mutuáveis,
ou seja, excesso da procura de fundos e falta de oferta. Dois aspectos interferem na
formação de uma taxa de juro:
Presença de intermediários financeiros (bancos);
Presença de inflação (as taxas de juro devem incorporar um prémio de inflação,
sem o qual a remuneração do juro seria diminuída, ou destruída, em termos reais, ou
seja, em termos de manutenção do efectivo poder de compra conferido pelos
montantes mutuados)
b) O motivo-especulação
George Shackle, numa linha de investigação aberta por Frank Knight, publicou
a sua teoria da decisão em condições de incerteza, que não só exprimia a sua
convicção quanto à existência de uma zona de dúvida inerradicável, insusceptível de
cálculo actuarial e por isso insusceptível de seguro, que no seu entender
acompanharia toda a actividade económica de conjugação de factores produtivos e de
iniciativa empresarial, como também exprimia a sua convicção relativa à legitimação
do lucro como contrapartida da assunção dessa incerteza.
“Aversão ao risco”: Indisponibilidade para assumir a margem de
probabilidade de desfechos negativos que se prende com todas as nossas decisões
projectadas para o futuro; é muito vincada em casos individuais, já que o jogo da
economia é, em última análise, um jogo de sobrevivência.
As economias modernas tendem a multiplicar as formas de dissipação,
distribuição e transferência de riscos (instituições que assumem riscos e travam o
impacto individual das perdas ou mercados nos quais se procede à circulação e
partilha das coberturas dos riscos).
Sem assunção de riscos e incertezas, não há actividade económica. Há, por
isso, formas mais ou menos engenhosas de mitigar o risco, individual ou
colectivamente. Uma é a de diversificar, de produzir ou investir em vários sectores de
actividade e não num só, por forma a distribuir os riscos de impacto negativo de uma
crise sectorial. Outra é a de transferir, por contrato, os riscos para uma seguradora,
que cobra por isso um preço correspondente ao dano coberto, multiplicado pela
probabilidade do dano e acrescido de um prémio que remunera a seguradora pela
absorção do risco. Contudo, há limites para o recurso ao seguro.
i) Seguro e incerteza
CAPÍTULO 9
O mercado concorrencial
a) As condições da concorrência
i) Atomicidade
ii) Fluidez
curva ascendente dos custos marginais, à medida que o rendimento marginal (isto é, o
nível de preços) se altere também.
Isto significa que para o vendedor atomístico a curva da oferta é
essencialmente a curva dos custos marginais. Contudo, nem toda a curva dos
custos marginais se transforma em curva da oferta, porque há um limiar mínimo
abaixo do qual o produtor não oferece nada, não está disposto a vender.
g) O lucro normal
h) A concentração do mercado
CAPÍTULO 10
Mercados de concorrência imperfeita
a) Monopólio
i) Tipos de monopólio
i – a) A defesa do monopólio
O poder de mercado do monopolista faz com que o preço pelo qual escoará
num mercado a sua produção não se mantenha fixo em todos os níveis de produção,
e tenda pelo contrário a evoluir num sentido oposto ao da expansão da produção –
circunstância a que se opõe precisamente a especial capacidade que o monopolista
tem para influenciar o nível de preços, mormente modulando o seu nível de produção
por forma a alcançar um determinado preço.
O “price maker” tem à sua frente uma curva da procura descendente e no
limite, se se trata efectivamente de um monopolista, se ele é deveras o único vendedor
no mercado, ele tem mesmo à sua frente a curva da procura do mercado. Um
aumento de produção do “price maker” levará a uma queda dos preços, e uma
diminuição da produção induzirá num aumento de preços (desaparece aquela
coincidência entre preço de mercado e rendimento médio, por um lado, e rendimento
marginal, por outro, mas também desaparece a possibilidade de aumentar os lucros
através de uma simples expansão das vendas).
Se o rendimento médio é descendente, isso significa que o rendimento
marginal lhe é inferior e está “a puxá-lo” para baixo. Dada a equivalência entre
rendimento médio e preço, concluiremos que o monopolista está condenado a ter
um rendimento marginal que é sempre inferior ao preço, seja qual for o nível de
produção.
Qualquer decisão do monopolista no sentido do aumento da produção é
atenuada, nos seus efeitos sobre o rendimento total, pela queda dos preços; pode
mesmo ser destruída, dando origem a um rendimento marginal negativo, quando a
quebra de preços tem maior amplitude do que o incremento da produção. Nesse caso,
um incremento na produção provocará uma descida no rendimento total do
monopolista.
Enquanto o custo marginal for inferior ao rendimento marginal, aumentar-se a
produção numa unidade provocará um maior aumento de rendimento do que de
custos, e portanto aumentará a margem de lucro; quando o custo marginal passa a ser
superior ao rendimento marginal, qualquer incremento de produção acarretará
necessariamente um agravamento de custos mais amplo do que um aumento do
rendimento, diminuindo a margem de lucro ou agravando o prejuízo.
Ao passo que para o concorrente atomístico a intersecção das escalas dos
custos marginais e do rendimento marginal coincide com o nível de preços, dada a
igualdade entre rendimento marginal e preço, para o monopolista a intersecção ocorre
abaixo do nível de preços de mercado, dado que, neste caso, é o próprio rendimento
marginal que está abaixo de preço. Note-se também o facto de o monopolista não
cobrar o preço máximo, mas antes um preço intermédio que, estando acima do preço
de equilíbrio que se formaria na concorrência entre vendedores atomísticos, não se
afasta demasiado dele, sob pena de uma perda significativa dos lucros.
O mercado concorrencial é mais eficiente do que um mercado monopolista:
se, naquele momento o preço de equilíbrio tende a coincidir com o custo marginal,
neste o preço está necessariamente acima do custo marginal, do ponto em que esse
custo marginal se cruza com o rendimento marginal.
Isso significa que os lucros que o monopolista obtém a mais do que o
concorrente atomístico são fruto de um excesso de preço em relação ao custo
marginal, consentido essencialmente pela circunstância de o monopolista poder
ajustar a sua produção a uma escala inferior àquela a que os concorrentes atomísticos
são forçados – e dever fazê-lo se pretende maximizar os seus lucros. É por isso que a
concorrência impele os produtores para a escala de eficiência, e o monopólio permite
ao produtor ficar distante dessa escala; e que o fim de um monopólio levará
normalmente à queda dos preços, sendo que a entrada dos novos concorrentes
conduzirá todos em direcção a uma posição de equilíbrio na qual o preço coincidirá
com o custo marginal e todos estarão forçados a operar à escala de eficiência.
mercado, quando a cadeia produtiva não se encontra integrada mas antes está
dispersa por diversos produtores que se vêem forçados a transaccionar entre eles os
seus contributos parcelares (bens instrumentais) para o produto final.
As leis “anti-trust” baseiam-se no precedente norte-americano de combate
legislativo contra práticas anti-competitivas dos monopólios e contra-fusões
susceptíveis de criar concentrações de mercado a níveis indesejados. Os textos
legislativos fundamentais são ainda o Sherman Antitrust Act de 1890, o Clayton Act de
1914 e o Federal Trade Comission Act, também de 1914. Estas primeiras medidas
foram acolhidas com cepticismo.
A integração vertical pode, conforme os contextos, aumentar ou diminuir o
bem-estar dos consumidores, não havendo nenhum princípio geral que seja aqui
conclusivo.
Dadas as indefinições teóricas, nem todos os esforços de concentração,
horizontal ou vertical, são necessariamente reprimidos, e mesmo aqueles que são
contestados podem subsistir através da invocação de um motivo razoável (“rule of
reason”) que justifique, em termos de ganhos de eficiência, a restrição à concorrência.
Muitas das perspectivas de evolução tecnológica dependem crucialmente do
emprego de grandes meios, de grandes recursos financeiros, que nem sempre se
compadecem com a erosão constante imposta aos lucros dos produtores pela
concorrência atomística, e para eles as concentrações de poder monopolístico
parecem ser, no mínimo, um mal necessário. Resta saber se esses benefícios
chegam para compensar as perdas absolutas de “excedente total”, de bem-estar
social.
Como distinguir as concentrações que passam das que não passam nesse
teste? Tudo está em proceder-se a uma análise “custo-benefício” que pondere os
ganhos e perdas de bem-estar social conexos com o aumento de sinergias e com a
diminuição da concorrência.
iv - b) A regulação
tudo está em evitar-se que os preços praticados pelo monopolista natural cresçam
para lá de um limiar de preservação do bem-estar social.
Mas a fixação administrativa dos preços de monopólio depara-se com inúmeras
dificuldades, como por exemplo:
Tudo o que seja fixar preços mais elevados do que o custo marginal do
monopolista é impedir a maximização do excedente total e impedir a afectação
eficiente de recursos;
A presença de economias de escala faz com que, por definição, o monopólio
natural tenha uma curva de custos médios indefinidamente descendente;
A fixação de preços em função dos custos marginais, se maximiza o bem-estar
total, faz com que o monopolista venda abaixo do seu custo médio, registando
prejuízos permanentes que, no longo prazo, forçarão a sua saída do mercado;
O Estado pode optar por subsidiar o monopolista natural, mas isso não se faz
sem recurso a impostos, com os consabidos efeitos de “deadweight loss” no bem-
-estar;
O regulador pode consentir ao monopolista que pratique a discriminação de
preços, ou consentir a cobrança de um preço ajustado ao seu custo médio, mas este
ajustamento manteria a disparidade entre preço e custo marginal que tem os mesmos
efeitos de “deadweight loss” que teria um imposto cobrado pelo monopolista aos
consumidores;
Uma fixação de preços em função de custos, tanto médios como marginais,
pode ter consequências perversas, seja a de o produtor “inflacionar” os seus custos,
seja a de o produtor perder qualquer incentivo a reduzi-los verdadeiramente;
O remédio poderá ser novamente o de se permitir a prática de preços acima
dos níveis de custos, mas isso não consegue fazer-se sem que voltem a surgir
perdas absolutas de bem-estar.
É por esta última via que os reguladores acabam geralmente por seguir, dada
não só a inviabilidade de uma política que denegasse permanentemente aos produtos
regulados a possibilidade de chegarem ao menos ao nível do “lucro normal”, como a
própria inviabilidade de se onerar os outros sectores produtivos com a tributação
necessária ao financiamento de um monopolista natural forçado a fixar os preços em
função dos seus custos marginais.
que ele “capture” para o seu lado a totalidade do excedente de bem-estar gerado nas
trocas;
O aumento de excedente total reverteria inteira e exclusivamente para o
monopolista se ele pudesse discriminar perfeitamente, ou seja, se ele dispusesse,
sem custo, da informação completa sobre a disposição de pagar do consumidor e
ajustasse o preço a essa disposição, retirando qualquer excedente ao consumidor e
maximizando o lucro em cada transacção.
b) Oligopólio
i) O mercado oligopolista
portanto nas perspectivas de lucro, dos seus concorrentes, situação da qual resulta
uma interdependência entre vendedores e uma relevância das atitudes estratégicas de
cada um.
A posição do oligopolista oscila fundamentalmente entre o impulso para
concorrer, exercendo o seu poder combativo num âmbito em que a força pode ditar a
lei, e o impulso para cooperar, dada a compreensão das vantagens que podem advir
de uma coligação que reconstitua uma situação de monopólio, permitindo aos seus
membros uma partilha equitativa dessas vantagens. O seu poder é a sua própria
limitação num contexto de reciprocidade.
iv - a) O dilema do prisioneiro
que o manda seguir com a estratégia dominante, que normalmente se imporá à sua
perspectiva individual com mais força do que a racionalidade colectiva, que o
mandaria ser paciente e honrar os seus compromissos.
Embora a não-cooperação também possa ter efeitos nocivos sobre o bem-estar
social, eles não chegam geralmente a ultrapassar os benefícios sociais que decorrem
da concorrência. O benefício social será tanto maior quanto mais o “dilema do
prisioneiro” dificultar os pactos de silêncio entre os criminosos capturados; a não-
-cooperação entre oligopolistas tende a reverter em benefício exclusivo dos
consumidores.
v) A política anti-oligopolista
c) Concorrência monopolística
i) O sacrifício da fluidez
Índice
Número de Barreiras Poder de
Produtos Herfindahl-
vendedores de Mercado Mercado
Hirschman
Únicos, sem
Monopólio Um único
sucedâneos
Elevadas Máximo 10 000
Sem De 1000 a
Oligopólio atomicidade
Qualquer tipo Intermédias Médio
9999
Concorrência Com De 100 a
Diferenciados Inexistentes Limitado
Monopolística atomicidade 999
Concorrência Com
Indiferenciados Inexistentes Nulo Até 100
Perfeita atomicidade
i) O mercado da informação
iii) A sinalização
CAPÍTULO 11
Outros objectivos que não a maximização do lucro
O modelo microeconómico clássico presume que as empresas produtoras se
comportam como maximizadoras de lucros e do seu próprio valor de mercado.
Essa noção pressupõe que as empresas se manifestam como um bloco coeso,
quando a verdade é que mesmo a coesão formal das organizações empresariais não
impede tensões internas na formação da vontade colectiva, e que por isso se suscitam
problemas relativos ao controlo das empresas.
Se esse controlo não é a emanação de uma vontade unânime e coesa das
empresas, mas apenas o resultado de uma sua forma de legitimação interna, não
surpreenderá que a vontade divirja frequentemente das finalidades objectivas das
empresas representadas, subvertendo as regras aparentes dessa representação e os
objectivos aparentes do próprio controlo.
Esta abordagem está dominada pela “tese de Berle e Means”, que sustentou
que teria ocorrido uma “revolução de gestão” que transferira o controlo das empresas,
dos seus donos para os seus gestores, e hoje justifica todo o tipo de “contra-ofensivas”
cujo propósito é o de devolverem algum do controlo, seja aos titulares jurídicos da
empresa, os sócios accionistas (“shareholders”), seja mais amplamente a todos
aqueles que podem ser directamente afectados pela subversão das finalidades
constitutivas da empresa e podem ser mais relevantemente prejudicados por desaires
de gestão.
i) As aquisições de domínio
Foi em harmonia com essa ideia geral que se multiplicaram, a partir do início
dos anos 80 do século passado, as experiências das aquisições de domínio no
mercado de valores mobiliários, que se julgava serem experiências susceptíveis de
mitigar exogenamente os abusos de gestão e trazer benefícios aos pequenos
accionistas, aos accionistas “externos”, embora houvesse desde o início algumas
reservas.
Os receios eram tanto mais fundados quanto mais era certo que os “takeovers”
eram manobras financeiras que envolviam gestores e se integravam ainda nas
respectivas lutas “darwinistas” pela sobrevivência, não sendo de esperar que o
interesse dos accionistas estivesse presente nos espíritos dos envolvidos, ou que por
uma vez esse interesse ingressasse relevantemente nas estratégias da gestão.
Não há dúvida de que foram as muito patentes deficiências na gestão de
empresas cotadas em bolsa que, traduzindo-se na perda de valor das acções,
tornaram viável a respectiva aquisição em massa, a níveis que poderiam começar a
ameaçar o controlo societário.
CAPÍTULO 12
A repartição do rendimento e o mercado dos factores
Participar no processo económico é, para cada indivíduo, ocupar um lugar num
conjunto de actividades de criação de riqueza, na expectativa de obter uma
remuneração que corresponda àquela participação, uma remuneração que seja uma
quota-parte da própria riqueza criada.
Os problemas respeitantes à repartição social da riqueza são de um
extraordinário melindre por diversas razões, entre as quais avultam as de que:
É em torno da proporção entre o valor do contributo produtivo, por um lado, e o
valor da remuneração atribuída em função desse contributo, por outro, que se joga a
maior parte dos problemas respeitantes à justiça, quer na sua dimensão absoluta,
quer na relativa (cada um se sente justiçado se a remuneração que obtém da sua
participação no processo produtivo corresponder àquilo que ele próprio se representa
quanto ao valor do seu contributo);
É na repartição das riquezas que se verificam as mais graves distorções de
todo o processo produtivo, porque não há praticamente limite superior àquilo que
cada um pode querer reclamar, ou captar, do total da riqueza criada, nem limite inferior
que, desligando-se de uma simples desvalorização social do contributo individual para
o processo produtivo, atenda ao menos ao imperativo de satisfação de necessidades
básicas de sobrevivência daquele que teve o mérito de se esforçar por não ser
excluído;
A consciência da justiça e dos imperativos da igualdade e da solidariedade
podem impor socialmente rectificações institucionais ao jogo livre das forças que
determinaram as remunerações dos diversos contributos para o processo produtivo,
chocando-se, pois, com as regras de mercado e com a eficiência dos seus
automatismos.
Todos estes custos totais têm depois que ser periodificados e ser-lhes aplicada
a taxa de desconto, de forma a permitirem a comparação com os juros que poderiam
ser recebidos em cada período.
Se a empresa decide investir ela mesma na aquisição de capitais próprios, é
a ela que caberá fazer os cálculos correspondentes à ponderação entre o custo
marginal e o rendimento marginal esperado dessa decisão de investimento. A
durabilidade dos bens de capital adquiridos pela empresa pode ser levada em conta
por um de dois métodos:
O do valor presente dos ganhos esperados, ou seja, o da conversão em
valores presentes dos ganhos totais que possam derivar da decisão (aplicando-se a
taxa de desconto ao valor futuro dos ganhos esperados);
O da taxa de retorno do investimento, o método da “eficiência marginal do
capital”, que consiste em calcular-se com precisão aquela taxa de desconto que faria
equilibrar as receitas e os custos do investimento, retirando-se a conclusão de que o
investimento é vantajoso se a taxa de juro praticada no mercado de capitais é inferior
àquela taxa de desconto.
i) A produtividade laboral
i) Os diferenciais compensatórios
Não deve ficar-se com a ideia de que todos os diferenciais remuneratórios são,
de acordo com um eventual “modelo hedónico dos salários”, puros “diferenciais
compensatórios” das características específicas e não monetárias de cada emprego,
do carácter mais ou menos agradável, mais ou menos prestigiado, mais ou menos
seguro, das condições de prestação de trabalho. Há diferenciais que se prendem às
desigualdades, naturais ou adquiridas, que as pessoas evidenciam entre elas.
O que justifica essa diferença de remunerações é uma multiplicidade de
factores, que poderão resultar de talento, esforço, acasos, assimetrias informativas ou
injustiças puras.
Outra explicação para o diferencial remuneratório apela ao grau de iniciativa
dos próprios trabalhadores, e refere-se ao modo como eles conseguem persuadir os
destinatários dos seus serviços quanto aos seus próprios méritos, quanto às suas
aptidões para preencherem os requisitos procurados por aqueles.
Esta teoria da sinalização parte da constatação de que existe uma assimetria
informativa entre aquele que oferece os seus préstimos e aquele que o contrata como
trabalhador, e que não dispõe gratuitamente dessa informação “ex ante”, tendo que
confiar naquele, pois a alternativa seria a de obter exactamente o mesmo grau de
educação e aferir a partir dele a aptidão abstracta do candidato ao emprego.
A sinalização explora as aparências daquilo que se oferece, joga tudo na
idoneidade da informação compacta que se transmite àquele que é um receptor mais
ou menos passivo e desinformado.
Nos termos da teoria da sinalização, temos que os diferenciais
remuneratórios hão-de ser fundamentalmente determinados pelo modo como cada
candidato a um emprego é capaz de se destacar do “pano de fundo” de generalização
indiferenciada com que cada empregador observa, da perspectiva da sua relativa
ignorância, da sua assimetria informativa, o universo profissional dos candidatos.
“Sinalização” não é mera “estridência publicitária”, pois esta seria sumamente
injusta para os mais fracos ou mais tímidos: ela é essencialmente a formação de
dados objectivados que possam ser apreciados por um destinatário relativamente
ignorante das características que esses dados simbolizam, sem custo ou a custo
mínimo para aquele destinatário, razão pela qual a sinalização deve ser suportada
pelo próprio candidato ao qual os “ganhos de idoneidade” e a reputação aproveitam.
Decisivo para o nível remuneratório é o valor que é socialmente atribuído ao
contributo marginal de cada trabalhador para a produção total.
Esta forma de decidir, por eficiente que seja, é profundamente injusta, por
assentar ostensivamente numa discriminação resultante de um grau muito pequeno de
informação.
Parece que os ensinamentos complementares das teorias do capital humano e
da sinalização se podem conjugar, em termos de nos facultarem a constatação de que
alguns diferenciais remuneratórios são resultado evidente da diferença de graus de
ensino, mas de nem todos esses diferenciais poderem ser atribuídos, em termos de
uma estrita e rigorosa correspondência, a incrementos de produtividade resultantes do
ensino, antes deverem ser atribuídos à percepção imperfeita e truncada que é
eficiente a cada membro da sociedade manter sobre os resultados reais dessa
educação.
ao mercado de emprego um dos pilares do seu credo liberal, não hesitando sequer em
asseverar que a duração dos cursos universitários é essencialmente determinada
pelos interesses corporativos, que se rodeiam dessa barreira de exigência apenas
para obrigar aos recém-chegados a “marcar passo” por um número de anos.
A causa smithiana foi retomada, com o mesmo vigor, pelos neo-liberais, que
não hesitaram em qualificar a regulação profissional como um movimento de
“destruição do mercado”, com aberto paralelismo com as guildas medievais, criando
e perpetuando proteccionismos com o único fito de restringir artificialmente a oferta e
manter desse modo a um nível elevado os preços de equilíbrio, em prejuízo do
consumidor.
É verdade que podem encontrar-se algumas vantagens na regulação do
acesso a certas actividades. Mas o facto insofismável é que essa regulação restringe a
oferta e faz aumentar os preços de mercado, aumentando os “excedentes dos
produtores” à custa do bem-estar dos consumidores.
v) A discriminação no mercado
deve ser “contaminado” por cálculo materialista, por avidez egoísta, e por isso
literalmente não deve ter um preço.
Há vários critérios de justiça distributiva, que vão do reconhecimento daquilo
que cada um faz dentro de um contexto de mercado ao reconhecimento daquilo de
que cada um necessita independentemente do que tenha contribuído explicitamente
para a produção de riqueza no mercado, sendo que é porventura necessário
acrescentar-se-lhes, em nome de uma sociedade mais justa e evoluída do que a
nossa, um critério que ajusta as remunerações às práticas sociais, àquilo que cada
um faz em prol da sustentação e perpetuação da globalidade institucional e inter-
-subjectiva de que depende o futuro das nossas comunidades, da nossa cultura e da
nossa espécie.
CAPÍTULO 13
A desigualdade e a pobreza
a) A medição da pobreza
quociente entre, por um lado, a área que medeia entre a curva de Lorenz e a diagonal,
e por outro lado a área total do triângulo abaixo da diagonal.
Um coeficiente de Gini de valor próximo a 0,40 é considerado normal nas
economias desenvolvidas. Na viragem do século, Portugal apresentava um coeficiente
de Gini de 0,35.
O coeficiente de Gini permite determinar que a desigualdade entre países
ricos e pobres tem aumentado. Há quem calcule que se pode atribuir ao início do
século XIX um coeficiente de Gini mundial de 0,50, aproximadamente, subindo para
0,61 no final da Grande Guerra e atingindo o seu máximo em meados do século XX,
com um total de 0,64, declinando desde então.
Nicholas Kaldor e Simon Kuznets: Existe uma tensão dificilmente reconciliável
entre os objectivos de coesão social e de crescimento – ideia associada à “curva de
Kuznets”, que indica que, ultrapassada uma fase de desigualdade máxima requerida
pela aceleração do crescimento, o próprio crescimento passa, numa fase superior, a
ser o principal promotor de convergência de rendimentos.
Mais recentes explicações da correlação entre desigualdade e crescimento têm
tentado introduzir a desigualdade como uma variável independente, o que tem
conduzido à conclusão, hoje predominante, de que, contra o optimismo da “curva de
Kuznets”, a desigualdade tem um efeito negativo no crescimento.
As razões para as diferenças internacionais de rendimento são múltiplas, umas
“naturais” e conexas com dotações iniciais de recursos, outras “adquiridas” e
resultantes da evolução dos mercados e das instituições, e até das interferências
políticas reguladoras e rectificadoras.
A evolução dessas diferenças ao longo do tempo pode ser mais ou menos
aferida através dos movimentos migratórios dos trabalhadores, e muito nelas vem
crescentemente a ser atribuída a diferentes níveis de investimento em capital humano,
ainda que se torne igualmente evidente o papel do desfasamento tecnológico
(“technology gap”), ou a confluência de ambos no impulso gestionário da
“produtividade total dos factores” (“total factor productivity”, TFP).
b) O limiar da pobreza
i) Sinais de progresso
Mas que vias seguir? Neste ponto, a Economia faz apelo a critérios jurídicos,
políticos, morais, sobre o que possa entender-se como justiça na repartição das
riquezas.
No meio daquilo que sobrevive à triagem da Economia, duas perspectivas
disputam entre si a definição de um critério básico do que seja a justiça social: Numa,
o que conta é o resultado material, substancial, da repartição, pouco importando os
meios empregues para se alcançar algum nivelamento dos rendimentos e das fortunas
individuais; noutra, primordial é a consideração dos procedimentos empregues na
preservação de condições iniciais de igualdade de oportunidades, cuja observância
parece legitimar já por ela mesma qualquer resultado, por inegualitário que este seja.
d) O combate à pobreza
Outra solução que tem sido advogada tendo em vista mitigar as situações
extremas de pobreza é a técnica do imposto negativo sobre o rendimento, que
consistiria no alastrar da ideia de progressividade das taxas de imposto à própria
abordagem do problema da pobreza. Todos os indivíduos seriam formalmente
tributados, não havendo isenção de um mínimo de existência; contudo, a todos seria
concedido um crédito de imposto que, deduzido ao imposto devido, materialmente
corresponderia à atribuição de um subsídio às classes de rendimento mais pobres,
permitindo o mesmo passo assegurar uma transição suave de situações de benefício
para situações de oneração tributária. Esse crédito de imposto não seria mais do que
um rendimento mínimo garantido, acima do qual todo o rendimento seria tributado à
mesma taxa marginal.
Tem sido proposto um sistema misto que só operaria permanentemente para
os mais pobres que trabalhem, e se aplicaria apenas transitoriamente àqueles que
estão fora do mercado de trabalho, e que consistiria na atribuição de um subsídio de
complemento aos salários mais baixos, calculado como uma percentagem desses
salários (“earned income tax credit”).
Se pensarmos na pobreza como uma espécie de externalidade negativa
agregada dentro de uma sociedade que experimenta “aversão à pobreza”, então todos
os impostos progressivos deveriam idealmente contar com um sector de taxas
marginais negativas aplicáveis aos mais baixos rendimentos, uma espécie de
“subsídio pigouviano” destinado a prevenir a formação da externalidade negativa. Em
termos económicos, o imposto negativo equivale à garantida de um rendimento
mínimo.
i) A armadilha da pobreza
rendimento mínimo a todos aqueles que estão abaixo do limiar de pobreza, isso
constitui um incentivo directo e imediato ao abandono de todos os empregos que
sejam remunerados abaixo desse limiar.
Esta “armadilha” é especialmente grave na medida em que tende a perpetuar-
-se. Parece que a persistência da pobreza se deve em boa medida a oscilações em
torno do limiar de pobreza causadas pela referida “armadilha”, verificando-se a
tendência para muitas famílias que acabam de ultrapassar o limiar de pobreza
voltarem a cair novamente na pobreza, frustrando os seus próprios projectos de
mobilidade ascendente. A “armadilha da pobreza” não tem apenas raízes na
combinação de tributação e subsídios, sendo obviamente atribuível também ao
“racionamento de crédito” que, por razões de selecção adversa, atingem muito
especialmente os mais pobres.
Como evitar essa armadilha da pobreza?
Estabelecendo um contínuo de tributação suave e não-confiscatória ao
longo de todo o espectro de rendimentos possíveis, como o faz o imposto negativo;
Recorrendo a formas de auxílio aos pobres mais decalcadas das tradicionais
práticas caritativas, ou seja, mais presas ao socorro de manifestações parcelares e
inequívocas de pobreza do que ao apuramento de um nível de rendimento total do
qual se faça depende o montante dos subsídios a atribuir.
CAPÍTULO 14
Redistribuição e tributação
b) Os custos de eficiência
c) A justiça fiscal
peso social que possam ter as “redes de influências” e outras instituições extra-
-mercado, e ao próprio peso que possa ter a projecção de um estatuto social através
dos efeitos da tributação e da redistribuição, a vontade de “sinalizar” as suas relações
de pertença a uma classe social através da sua integração em classes de
rendimento da tributação progressiva, votando por afinidade, “em rebanho”.
CAPÍTULO 15
O problema ambiental
A produção de um bem ou serviço, até dos mais simples, dá-se num contexto
de proximidade e de interdependência social que faz com que efeitos secundários
dessa produção possam espraiar-se sobre interesses de terceiros ou sobre interesses
comuns, causando custos que podem ser dificilmente calculados e ressarcidos, se
porventura não se tiver formado um mercado no qual suceda serem transaccionados
esses efeitos secundários (externalidades).
Pense-se no caso do produtor-poluidor: em princípio, o nível de poluição
reflecte-se no preço com que o produtor é remunerado, pelo que a adopção
espontânea de medidas correctivas de um excesso de poluição revelar-se-ia para ele
um custo desacompanhado de qualquer remuneração compensadora.
Do mesmo modo se poderia dizer que, pelo seu lado, o consumidor estaria
disposto a atender à importância das considerações ambientais. Mas dentro da estrita
racionalidade da sua conduta no mercado, não é de esperar que se disponha a pagar
preços mais elevados que traduzam a repercussão de custos de medidas anti-
-poluição, no confronto com preços mais baixos de produtores que pura e
simplesmente não tenham adoptado tais medidas anti-poluição.
É verdade que a “causa ambiental” pode induzir à formação de “meta-
-preferências” que reforçam a disposição de pagar, “preferências de segunda ordem”,
ou “gostos”, que constituem a vontade de ter preferências de um certo tipo.
Entre essas “meta-preferências” avulta a gratificação da vaidade de se
participar numa “boa causa” (o “warmglow effect”), que tende a fazer desaparecer as
resistências egoístas e a incrementar drasticamente a “disposição de pagar”.
Tem competido à Economia indicar soluções eficientes para os problemas
ambientais, apontando ao mesmo tempo, seja para os limites impostos pelos
constrangimentos ambientais à actividade produtiva, seja para os limites da própria
eficácia interventiva na preservação e optimização das condições ambientais.
As externalidades são causadoras de “falhas de mercado”, o que indica que
elas constituem um problema porque precisamente não existe um mercado para elas.
A externalidade envolve necessariamente dois lados e uma actividade externalizadora
reclama tanto um causador como uma vítima, sendo que sem a presença e a
proximidade de ambos aquela actividade simplesmente não pode ocorrer.
Teorema de Coase: na maior parte das situações de conflito, não há apenas
um externalizador e uma vítima, ou um externalizador e um beneficiário, mas sim dois
externalizadores que reciprocamente se impõem custos ou se proporcionam
benefícios através das decisões que tomam. A bilateralidade indicia que estamos
aqui numa situação em que é concebível a formação de um novo tipo de mercado, um
“mercado de internalização de externalidades” que eficientemente promova, como
o mercado de produtos e o mercado de factores quando são concorrenciais, o óptimo
social.
É graças ao cálculo marginal que é possível eliminar apenas a poluição que
excede o nível em que os prejuízos socialmente causados pela poluição equilibram
com as vantagens socialmente causadas pelas actividades poluidoras.
As externalidades podem ser negativas, se provocam um custo, e positivas,
se constituem num benefício, e tanto podem ocorrer na produção como no consumo.
Na presença de externalidades, o bem-estar social e o equilíbrio do
mercado deixam de coincidir, porque há interesses relevantemente afectados e que
não encontram expressão nesse equilíbrio:
Se existem externalidades negativas, o mercado falha na medida em que
produz mais do que aquilo que optimizaria o bem-estar social;
b) A perspectiva de Coase
c) O teorema de Coase
i) Regulação e precaução
Bem privado: aquele cujo uso não só é susceptível de exclusão eficiente como
ainda é objecto de um uso exclusivo, de um uso que rivaliza com o uso por outros.
Recursos comuns: não são susceptíveis de exclusão eficiente mas
manifestam as características do uso rival ou exclusivo, como sejam, por exemplo, a
maior parte dos recursos venatórios e piscícolas no seu estado natural;
Monopólio Natural: existe susceptibilidade de exclusão eficiente do uso mas
não existe, ao menos em dimensão relevante, rivalidade no consumo, como sucede,
por exemplo, nas infraestruturas da rede telefónica fixa ou da rede de distribuição
urbana da água.
Estas classificações não são estanques e não têm a ver, na maior parte dos
casos, com características intrínsecas ou invariáveis dos bens e recursos, antes
resultam frequentemente de circunstâncias eventuais relativas ao seu acesso e ao
seu uso.
Em absoluto rigor conceptual, um bem público puro seria aquele em relação
ao qual, para além de se verificar a impossibilidade de exclusão, o custo marginal de
proporcionar o seu gozo a mais um utente seria zero.
Foi Vickrey que chamou pioneiramente a atenção para o problema da
“congestão”, como via possível para o estabelecimento de preços que servissem
como “taxas moderadoras” do acesso a recursos comuns, como contrapartidas ao
uso não-congestionado do recurso comum – preços inferiores ao custo que
representaria, para cada utente do recurso comum, a degradação do acesso
resultante da congestão.
Os bens públicos e os recursos comuns partilham a característica de o
respectivo uso não ser susceptível de uma exclusão eficiente, o que, por um lado,
retira o incentivo à produção de bens públicos e, por outro lado, não coloca um travão
à degradação dos recursos comuns. Em ambos os casos temos que a ausência de
mercado ou a existência de elevados custos de transacção podem gerar resultados
ineficientes, a reclamarem a intervenção rectificadora do Estado.
i) O problema da “boleia”
Existe rivalidade no uso dos recursos comuns, pelo que, uma vez que
estejam irrestritamente disponíveis, se suscitam problemas de gestão desses
recursos, já que o seu uso por uns pode obstar ao seu uso por outros, e pode haver
abuso desses recursos.
“Tragédia dos Baldios” (“Tragedy of the Commons”): foi a partir da análise de
Scott Gordon acerca da economia dos recursos piscícolas que Garrett Hardin
desenvolveu esta ideia, colocando mais ênfase nos efeitos das deficiências de
apropriação sobre a saturação dos recursos comuns e escassos. Cedo a ênfase se
deslocou para o “acesso livre” (“open access”), significando esta nova abordagem que
o problema poderia ser resolvido por um esquema de quotas que não requeresse a
atribuição de direitos de apropriação.
Os baldios em que pastam os rebanhos de uma aldeia podem começar por ser
bens públicos, se, além de serem de acesso livre, esses baldios forem
suficientemente extensos e abundantes para suportarem a pastagem simultânea de
todos os rebanhos; se, porventura, um aumento do número ou dimensão dos
rebanhos levar a que deixe de se verificar esta última condição, os baldios tornam-se
bens escassos no sentido de imporem rivalidade no consumo, surgindo por isso a
possibilidade de que um consumo imoderado das pastagens prejudique já a utilidade
que das mesmas pode decorrer para a exploração dos rebanhos (passam a ser
recursos comuns).
O problema está em que quando existem recursos comuns todos têm um
incentivo para explorá-los mas ninguém tem incentivos para cuidar deles. Pode dar-se
o caso de que ocorra um esgotamento dos recursos comuns e um concomitante
empobrecimento colectivo – a “tragédia dos baldios”. Para que tal suceda basta que
exista uma divergência entre a perspectiva individual e a colectiva – sendo que evitar a
“tragédia” requereria uma acção coordenada, o que poderia ser feito através de um
“imposto pigouviano”, ou através do estabelecimento de quotas, ou de um leilão de
licenças negociáveis – ou, em alternativa, através da privatização dos baldios.
No que respeita aos recursos renováveis, a saturação significa a sobre-
-exploração de curto prazo que, ultrapassando o ritmo de regeneração do recurso,
determinará a perda do recurso ou a sua subexploração no longo prazo.
O “Teorema de Coase” mantém aqui a sua plena fertilidade teórica – de novo
indicando que, aí onde o quadro jurídico da apropriação seja suficientemente sólido e
sobretudo aí onde os custos de transacção sejam reduzidos (quando o seu total não
seja superior aos benefícios sociais) é possível chegar-se à prevenção da “Tragédia
dos Baldios” através de uma negociação entre todos os envolvidos.
Uma das justificações para a propriedade privada advém precisamente do
ganho de eficiência que com ela se consegue relativamente às situações de
propriedade comum ou de não-apropriação.
A falha de mercado reclama a intervenção coordenadora do Estado, para
que a “tragédia” não ocorra em detrimento do interesse colectivo e, através deste, em
detrimento do próprio interesse individual: é com essa disciplina pública que hoje se
espera que, contrariando qualquer taxa social de desconto que se revele muito
aceleradora da exaustão dos recursos, mas evitando do mesmo passo a
sobrevalorização de valores futuros em grave detrimento de benefícios económicos
presentes, possa ser evitada a “tragédia” do esgotamento de alguns recursos
comuns, como sejam a qualidade ambiental, a sustentabilidade da exploração dos
recursos renováveis e a manutenção de reservas de recursos não renováveis.
A privatização de alguns desses recursos tem sido uma das vias encontradas
para tentar travar o caminho do depauperamento dos recursos comuns: contudo, nem
tudo se resolve privadamente, e nem sempre existem meios privados que permitam
impor eficientemente a exclusão do acesso e do uso, pelo que os problemas de
coordenação e de coercibilidade continuarão a reclamar a presença interventora e
optimizadora de instituições extra-mercado e do Estado.
Naqueles casos em que a taxa individual de desconto ultrapassa a taxa social
de desconto, a apropriação não evita a sobre-exploração de recursos e a lesão do
interesse colectivo, o esgotamento e a insustentabilidade de práticas presentes.
Sublinhe-se que os problemas mais básicos e importantes relativos à qualidade
ambiental têm um âmbito internacional e transfronteiriço, alguns mesmo um âmbito
mundial, o que cria entre os Estados o mesmo problema de coordenação presentes na
“tragédia dos baldios”, e na matriz do “dilema do prisioneiro”.
CAPÍTULO 16
A intervenção do Estado e a escolha pública
c) A regulação
d) A preservação da concorrência
e) A escolha pública
f) Votação e indecidibilidade
g) Os grupos de interesses
h) Limitações procedimentais
intervenção que tendem a ser mais agudas e perenes, sobretudo quando servem os
interesses “carreiristas” ou corruptos de políticos e se perde inteiramente de vista o
paradigma do governo como “planificador social benevolente”. Em contrapartida, não é
fácil de avaliar a dimensão das “falhas de intervenção” se admitirmos que elas são, ao
menos em certa medida, o preço mínimo a pagar pela correcção das “falhas de
mercado”.
Mais inequívocos são os custos da corrupção, especialmente quando ela se
torna inevitável por causa da configuração especial das instituições e dos incentivos
públicos, ampliadas pela assimetria informativa e pela “captura da regulação”.
A intervenção do Estado pode implicar custos que excedem os
benefícios, dados os incentivos não estritamente económicos por que se pauta a
acção política; as interferências rectificadoras das “falhas de mercado” podem
resultar em “falhas de intervenção”.