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Aulas teóricas - direito do Urbanismo

Direito do Urbanismo (Universidade de Lisboa)

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Direito do Urbanismo
Aulas teóricas e práticas – Prof. João Miranda

Trabalho do semestre: Decisões dos tribunais administrativos – regente quer atual


18/19/20 comentário de jurisprudência (basear-nos nos CADERNOS DE JUSTIÇA
ADMINISTRATIVA); entre 6 a 10 páginas, entregar até dia 11 de abril em suporte digital
enviando para email do Prof. João Miranda.

I. CIDADE
O conceito de cidade é estruturante para a compreensão do direito do
urbanismo. O que significa que é preciso perceber que há quem diga que o direito do
urbanismo é o “direito da cidade” mas o regente não concorda com essa opinião.
- O conceito de cidade pode ser usado em dois sentidos:
1. Na aceção de espaço físico, que é a urbe (corresponde ao latim urbs) como
área urbanizada ou transformada com artificialização dos solos.
- Quando falamos em cidade é neste sentido de espaço físico;
- Este é um traço essencial para o conhecimento daquilo que é o direito
do urbanismo, pois o direito do urbanismo não é o direito dos solos
destinados à sua vocação natural. Nessa medida, por exemplo, quando
pensamos nos solos destinados a fins agrícolas o que verificamos é que
CIDADE ENQUANTO esses vão ser estudados por outra disciplina, as suas normas jurídicas
ESPAÇO FÍSICO serão estudadas por outra disciplina, com é também o caso dos solos
florestais.
- Um ponto essencial para podermos falar em cidade, é a cidade
enquanto espaço físico, ou seja enquanto área que foi urbanizada ou
transformada com a artificialização dos solos. Nesta situação, verifica-
se uma distinção de fundo face à realidade humana.

2. Na aceção de comunidade política, corresponde à civitas, enquanto


espaço da vida em comum dos cidadãos (civitate).

CIDADE ENQUANTO - Podemos falar em cidade como comunidade politica no sentido de


COMUNIDADE conjunto de comunidade de cidadãos, aqui o conceito corresponde a
POLÍTICA outra expressão latina que é a expressão civitas – que é o espaço de
vida em comum dos cidadãos, onde os cidadãos têm a possibilidade de
intervir, de desenvolver a sua personalidade.

Temos então aqui duas aceções diferentes, sendo na verdade que a aceção que
nos interessa mais é a primeira – a aceção de espaço físico - sem prejuízo de que
quando se fala `no direito à cidade este é também um direito à civitas, não é apenas
um direito a ter um espaço urbano de qualidade é também um direito a participar
nos assuntos da sociedade a tomar partido naquilo que são as grandes questões da
sociedade.

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O conceito mais relevante que vamos trabalhar é efetivamente o conceito de


cidade enquanto enquanto espaço físico, e então, adotando este conceito do
“Vocabulário de Termos e Conceitos de Ordenamento do Território”, a cidade aparece-
nos como:
“Realidade material, um conjunto de qualidades sensíveis, uma
estrutura conceptual, uma estrutura material. Tem um dimensionamento e
uma dinâmica próprios. A cidade estrutura as aglomerações populacionais,
conferindo-lhes um sentido, uma função e uma finalidade.”

- NOTA: Do ponto de vista jurídico, às vezes fala-se em cidade quando por exemplo a
AR eleva um determinado aglomerado populacional a “cidade” – o conceito de cidade
hoje está um pouco banalizado, pois em Portugal há imensas, algumas mesmo com
aglomerados populacionais relativamente pequenos. Portanto, do ponto de vista
jurídico também se fala em cidade no sentido de reconhecimento de um determinado
estatuto por parte do poder político de que um determinado aglomerado
populacional tem determinadas características que merece este conceito de cidade e
ser elevando a cidade.
Por contraposição, o conceito de campo é um conceito diferente e muita da
separação que se pode fazer parte desta distinção entre o que é a cidade e o que é o
campo:
- Ora, quando falamos no campo estamos a pensar numa área que mantém
CONCEITO DE a sua vocação natural para atividades agrícolas, pecuárias florestais ou
CAMPO cinegéticas, ou seja o campo por definição não é objeto de
transformação.
Esta distinção também não pode ser adotada em termos muito rígidos, isto
porque quando nós, por exemplo, pensamos em atividades agroindústrias essas
atividades já carecem de equipamentos e outras estruturas que envolvem algum tipo
de artificialização de solos. Esta noção de campo é relativamente circunscrita e que
se prende fundamentalmente como a manutenção de determinadas áreas para
atividades que não envolvem qualquer tipo de artificializam dos solos.
MISCIGENAÇÃO ENTRE
CAMPO E CIDADE

Hoje em dia, esta ideia de distinção entre campo e cidade encontra-se


posta em causa, porque o que temos hoje é uma miscigenação entre o campo e a
cidade:
- Em primeiro lugar porque houve um alargamento e expansão das áreas
Fenómeno de Urban
Sprawl urbanas – fenómeno conhecido por urban sprawl , expressão que tem hoje em
dia uma acessão pejorativa no sentido em que devem ser adotadas politicas de
combate a uma exploração urbana, porque houve uma invasão muito grande
de áreas do campo.

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- Como iremos estudar mais à frente há um conjunto de regimes jurídicos


que estabelecem condicionantes à expansão urbana nomeadamente
através da fixação de restrições de utilidade pública como sucede com a
RESERVA ECOLÓGICA reserva ecológica nacional – pretende defender os solos que correspondem
NACIONAL a uma estrutura biofísica e que são mais sensíveis e que têm que ser
defendidos - e a reserva agrícola nacional – que pretende evitar a expansão
RESERVA AGRÍCOLA urbana para solos que são solos com vocação agrícola ou que têm um
NACIONAL conjunto de características que os torna especialmente aptos ao
desenvolvimento de atividades agrícolas.

Portanto esta distinção entre campo e cidade tem se vindo a perder


porque houve expansão urbana que invadiu áreas do campo, sendo certo que, ao
mesmo tempo verificamos que hoje há uma tentativa de limitar esta expansão
urbana – veremos mais tarde quando tratarmos do conceito de classificação do
solo urbano, iremos verificar que de acordo com a opção do nosso legislador, a
classificação do solo é hoje excecional, há uma distinção de fundo entre o solo urbano
e o solo rústico que significa que deve limitar-se esta expansão urbana.
NOTA: Portugal ate ao início da década de 90 do século passado não
teve planeamento, o que acontece é que os planos de diretores municipais de
primeira geração, elaborados e aprovados nessa década foram planos que
alargaram exageradamente o espaço urbano, alargaram exageradamente
aquilo que é o perímetro urbano. Esses planos adotas à cerca da 20 a 30 anos
são planos que proibiram a possibilidade de existência de edificação privada
para trinta milhões de portugueses, ou numa situação em que se admitisse
que cada português tivesse três edificações ou habitações – isto constituiu um
exagero, exagero que tem vindo a ser atacado agora recentemente através dos
planos que têm sido aprovados de terceira geração – esses planos procuram
conter a expansão urbana, evitar que haja um alargamento exagerado
das áreas ocupadas para fins urbanísticos.

Esta miscigenação entre o campo e a cidade também se sente dentro da


própria cidade, ora dentro do espaço urbano. Isto porque hoje cada vez mais há
Ideia de Hortas áreas urbanas que são utilizadas para fins agrícolas, e isso é positivo – Em Portugal o
urbanas grande defensor desta ideia foi o arquiteto Gonçalo Ribeiro de Teles, que defendeu
(GONÇALO esta ideia de hortas urbanas, ou seja transformar o espaço da cidade para
RIBEIRO TELES) produção de produtos agrícolas.

Nós temos hoje um conjunto de áreas urbanas que podiam ser mais bem
utilizadas para fins agrícolas. Era importanto que se incentivasse o aproveitamento
desses espaços e fazê-lo de forma legal sem ser uma ocupação clandestina e não
autorizada, ou apenas com sentido apurada pela administração pública.

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- Carta de Atenas de 1928: os urbanistas (os que estudam o espaço urbano e


o desenvolvimento das cidades) reuniram-se para aprovar uma carta com um
Funcionamento conjunto de princípios fundamentais que tinham que ser seguidos. Le
racionalista Corbusier veio, dentro de um pensamento filosófico ou político que se pode
(LE CORBUSIER) designar por funcionalismo racionalista, veio defender que deveria haver
uma separação estanque e clara entre campo e cidade, bem como uma
segmentação clara entre áreas urbanas.

Esta conceção foi a conceção que prevaleceu em 1928, mas não era a única
visão de ligação entre o campo e a cidade, uma outra visão de um autor inglês,
defendia o conceito de cidade-jardim. O conceito cidade-jardim consiste em haver
longas áreas urbanas ocupadas mas todas dentro de um grande jardim, e portanto
todas com espaços verdes.
A conceção que vingou no início da primeira metade do século 20 foi esta
visão que assenta numa ideia de funcionalismo racional ou seja, deve haver
uma separação clara entre campo e cidade, e para além disso este autor veio
defender que dentro da cidade, a cidade devia ser desenhada com uma separação
estanque entre aquilo que são as diferentes funções ou usos do solo. Na
verdade hoje em dia esta conceção parece-nos estranha, mas o que ela dizia dentro
do espaço da cidade era que deveria haver:
1. Uma área para as pessoas residirem; - Não havendo comunicação entre
cada área, ora cada área
2. Uma área para as pessoas trabalharem; correspondia a um espaço próprio,
3. Uma área de lazer. tendo cada uma função própria.

Esta ideia de separação de funções ou de usos, a chamada


monofuncioalidade, hoje encontra-se em crise, porque se pensarmos numa
cidade com uma segregação ou com uma segmentação muito clara entre os
diferentes usos urbanos, é uma cidade que envolve muitos movimentos
pendulares e muita circulação das pessoas, é uma cidade que desde logo
consome muito mais energia porque havendo esta separação entre os
diferentes usos a pessoa tem que se deslocar da sua residência para o seu local
de trabalho bem como para o local de espaço lúdico ou de lazer – ora estes
movimentos pendulares não fazem hoje qualquer sentido.
Esta conceção foi também responsável por uma conceção de cidade em
que houve um desenvolvimento urbano para subúrbios das cidades em que os
cidadãos durante uma parte do dia residiam nesses espaços e na outra parte
do dia deslocavam-se, e portanto estes movimentos pendulares do espaço
residencial para o espaço de trabalho ou de lazer implicavam que não
houvesse um aproveitamento integral do espaço urbano, e hoje esta conceção
não faz mais sentido porque hoje se entende que o espaço urbano não deve ser
monofuncional mas sim plurifuncional o que quer dizer que, idealmente, em

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cada bairro devemos puder encontrar o solo que nos permita residir, ter
acesso ao comercio e serviços, permita que haja locais de trabalho e dotado de
infraestruturas e de equipamentos coletivos.
- Esta visão hoje está completamente ultrapassada.
Se nós pensarmos no conceito de cidade – de espaço físico de urbe – a verdade
é que presentemente não é mais possível estudar a cidade, tendo como escopo
exclusivo o ordenamento racional da urbe ou cidade – esta conceção hoje está um
pouco ultrapassada porque o que aqui diz é que “o que é estudado pelo
urbanismo é a cidade e em concreto, as normas urbanísticas há-de ser as
normas que asseguram este ordenamento reacional da urbe ou da cidade.
Hoje é cada vez mais difícil demarcar aquilo que são as fronteiras da cidade, é
difícil aquilo que são as fronteiras muitas vezes até sobre o que é o solo urbano e o
que é o solo rural, é difícil estar a estabelecer em particular que o espaço urbano se
distingue de outros espaços territoriais. Isto não é necessariamente bom – é apenas
uma constatação da realidade, porque efetivamente podemos ter uma situação em
que a cidade se desenvolveu para uma área excessiva, quando nós olhamos hoje para
o território de Portugal continental verificaremos que grande parte da área está
urbanizada – temos uma urbanização quase se estende e que no fundo não é fácil
distinguir entre aquilo que são áreas urbanas e áreas não urbanas, é quase que se
pode falar num contínuo, e o problema é que isso normalmente traduz-se na
chamada edificação dispersa, que implica a necessidade de construção de
infraestruturas e de equipamentos e a prestação de serviços públicos urbanos – que
envolve um custo. NOTA: encargos da urbanização – conjunto de encargos que
resultam da própria existência da urbanização. A cidade implica custos que
normalmente assumidos pelos poderes públicos, outras vezes objeto de transferência
para os cidadãos mas mutas vezes isto redunda no problema da edificação dispersa.
Esta noção de cidade enquanto espaço delimitado geograficamente e
facilmente distinguível face aos demais espaços territoriais, parece
encontrar-se em crise, em particular porque as respetivas fronteiras são cada
vez menos passíveis de demarcação.
Olhando para a nova carta de Atenas, porque os urbanistas voltaram a
encontrar-se 80 anos depois, em 2003, foi reconhecido o seguinte: “a cidade do século
XXI torna-se cada vez mais difícil de discernir, porque as atividades humanas, que se
localizavam nas cidades se estenderam e espraiaram para os espaços que os rodeiam,
alastrando-se para os espaços rurais e espaços anteriormente naturais.”
- Isto é uma verificação, não é necessariamente positivo (segundo o Regente
João Miranda). Contudo o impacto desta afirmação é que nos vamos ter que
olhar para estes espaços e procurar desenhar políticas que consigam uma
articulação e harmonização no funcionamento entre aquilo que são as
tradicionais áreas urbanas consolidadas e aqueles espaços que anteriormente
eram espaços rurais ou espaços naturais. É preciso olhar no ponto de vista
global e desenhar estas politicas do ponto de vista global.

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- Segundo o prof. regente: o principal ponto a ter presente é que não é


mais possível olhar para isto apenas através de uma perspetiva
estanque daquilo que é o espaço da cidade.

“Hoje 55% da população mundial vive em áreas urbanas e a previsão da ONU


é a de que até 2050 este valor subirá para 70%. “ – debate, ver PowerPoint
,NOTAS:
Loteamento urbano – dividir em lotes – não tem que ver com os lotes da
contratação pública, aqui em que está em causa é concretamente a divisão da
propriedade. Antes existia um prédio e iremos proceder a uma divisão predial
passando a haver vários prédios. Operação de divisão e transformação da cidade.
Operação através da qual se faz um desenho urbano, o loteamento envolve a
realização de obra de urbanização – são aquelas instruturas e equipamentos
que são imprescindíveis para o funcionamento da cidade (redes de
saneamento, redes de eletricidade, equipamentos que sejam auxiliares
dessas operações de loteamento. É uma atividade desenvolvida por interesses
urbanísticos mas que tem um interesse públicos… uma vez que traduz-se em fazer
cidade, sendo um interesse que deve ser salvaguardado.
- A operação de loteamento cria direitos urbanísticos?
- Foi discutido na doutrina e foi emitido um parecer em que foi
concluído que sim (pág. 27 do anexo): efetivamente uma operação de
loteamento cria direitos urbanísticos dos particulares e um direito de
edificar em consonância com o que estiver estabelecido no alvará do
loteamento – sucede no entanto que no direito do urbanismo os
direitos estão muitas vezes sujeito ao cumprimento de ónus
jurídicos, ora deveres dos particulares que caso não sejam
cumpridos não geram nenhuma tipo de sanção mas sim uma
consequência negativa: se tivermos ima operação de loteamento e
tiver um prazo para requerer as licenças de construção, o
cumprimento do proprietário não gera a aplicação de nenhum tipo de
sanção mas sim uma consequência negativa que será a caducidade dos
direitos atribuídos pela operação do loteamento. Gera então direitos
mas que estão dependentes do cumprimento de um conjunto de ónus
jurídicos, caso não sejam cumpridos esses ónus jurídicos esses direitos
podem caducar com do decurso do tempo.
A operação de loteamento é uma atividade privada de interesse
público, é uma atividade desenvolvida por promotores urbanísticos, designadamente
proprietários, mas que tem um interesse público inegável uma vez que a operação de
loteamento traduz-se em fazer cidade, havendo aqui um interesse que tem que ser
salvaguardado.

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ELEMENTOS DA COMPOSIÇÃO URBANA – CONCEITOS:


1. Morfologia urbana: organização e desenho dos espaços edificados e
espaços não edificados.
- Esta diferenciação entre espaços edificados e espaços não edificados
não coincide exatamente com distinção entre aquilo que é uma
edificação privada e os espaços públicos, o que temos é antes uma
separação entre aquilo que corresponde a espaços que estão
edificados e espaços que mantém na sua vocação natural,
portanto que não são objeto de transformação urbana.
- Dentro deste conceito é preciso ter presente a ideia de tipologia da
edificação: que corresponde ao agrupamento e organização
volumétrica dos edifícios (exemplo: T2, T3, T0) – os edifícios são
classificados de acordo com esta tipologia da edificação.

2. Morfotipologia: o conceito de morfotipologia é o que se encontra entre a


morfologia urbana e a tipologia da edificação, temos aqui uma situação em
que há uma fusão dos dois conceitos.

3. Espaço público: outro conceito fundamental é o conceito de espaço


público.
- O espaço publico corresponde às áreas livremente transitáveis e
objeto de fruição por todos os cidadãos, o que significa que um
aspeto fundamental ao nível do espaço publico é que não pode haver
barreiras e obstáculos à utilização do espaço público.
- Isto não quer dizer que não possam ser constituídos direitos de
utilização privativa sobre áreas do espaço publico ou que não possa
haver situações em que haja áreas privadas oneradas com uma
necessidade de garantir uma utilização coletiva.
Exemplo: praias – em Portugal não há a tradição de limitar o
acesso às praias nem estabelecer uma segregação dentro das
praias.
- O que caracteriza fundamentalmente o espaço publico é:
a.) o livre trânsito – qualquer sujeito pode circular;
b.) a possibilidade de qualquer sujeito poder retirar as
utilidades daquele solo, daquele bem, daquela coisa –
possibilidade de fruição por todos os cidadãos.
- Durante muitos anos no urbanismo fez-se uma separação demasiado
estanque entre aquilo que é o espaço publico e o que são as áreas de

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edificação privada, como que a cidade estivesse dividida entre duas


partes: uma parte exterior que corresponde ao espaço público; e uma
parte interior que corresponde às edificações privadas que seria uma
área impenetrável. Hoje na verdade não é exatamente assim, hoje há
confluência entre a duas coisas sem prejuízo deste ser uma distinção
fundamental que é preciso ter presente.
- Este conceito de espaços de uso público esta utilizado na nossa
legislação, na Lei de Bases da Politica Pública dos Solos, Ordenamento
do Território e Urbanismo (LBPPSOTU), no seu art. 22.º:
- A lei faz alusão à existência de espaços públicos por
contraposição aos espaços privados que são os terrenos de
propriedade privada e edificações privadas.
3.1. Espaços privados com ónus de utilização coletiva:
- Esta lei também admite a possibilidade de haver espaços
privados com ónus de utilização coletiva (n.º3, do art. 22.º,
da mesma lei). Ou seja, a lei não estabelece que todas as áreas
onde vai haver equipamentos e infraestruturas têm que ser
espaços de titularidade pública, ou seja, espaços pertencentes à
administração.
- Pode haver situações em que estes equipamentos e
infraestruturas se localizem e espaços privados desde que
sejam espaços livremente franqueáveis, ou seja, desde
que exista este ónus de utilização coletivo, desde que
qualquer pessoa possa utilizar o espaço em causa.
Por exemplo: em Lisboa, a zona onde fica o pátio
bagatela é uma zona que é um espaço privado com um
ónus de utilização coletiva;
Outro exemplo: parques de estacionamento
subterrâneos. O subsolo pertence ao município, este é o
proprietário do subsolo existente nas áreas urbanas, mas
este não é titular enquanto bem integrado no domínio
publico, está integrado no domínio provado do município
– o direto e propriedade privada, neste caso do
município, pode ser onerado por direitos reais menores,
nomeadamente o direito de superfície que é um direito
real menor que onera o direito de propriedade e que
permite quer a realização de construções quer
plantações. No caso concreto, para efeitos urbanos, o que
interessa são as construções que são privadas, enquanto
vigorar o direito de superfície (que é por definição um
direito temporário), iremos ter uma situação que se
prende em saber concretamente a quem é que aquilo

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pertence, e as construções realizadas pertence ao


superficiário enquanto durar o direito de superfície.
- Mas pergunta-se qual é a natureza dessas
construções? E a resposta é que são
construções privadas.
- Depois pergunta-se se sendo construções
privadas se há limitações no acesso? A resposta é
que não há.
Os parques de estacionamento subterrâneos são parques
para utilização de quaisquer pessoas, evidentemente
desde que cumpridas as regras de segurança
nomeadamente pode haver limitações à circulação de
determinados veículos mas nessa situação o que temos
são espaços privados com ónus de utilização coletiva.
- Pesando num entrelaçamento entre o direito público e o
direito privado: o superficiário construiu o parque de
estacionamento no âmbito da sua autonomia privada mas as
normas aplicadas a esse estacionamento, que é uma construção
privada, são norma jurídico-públicas.
3.2. Espaços urbanos de utilização coletiva: esta ideia pressupõe sempre a
existência de áreas de solo urbano que estão destinadas a prover necessidades
coletivas de estadia, recreio e lazer ao ar livre.
Exemplo: praças, largos e terreiros públicos – art. RJUE. Este
conceito é diferente de um outro que é o conceito de espaços
verdes de utilização coletiva
3.3. Espaços verdes de utilização coletiva: são na mesma espaços públicos,
são áreas do território municipal especialmente vocacionadas para
valorização ambiental e paisagística, destinadas à utilização dos cidadãos.
Exemplo: parques e jardins públicos (conceito de espaços verdes, do
art. 43.º, do RJUE).
- Incluem-se nos espaços verdes de utilização coletiva os parques e
jardins públicos, que correspondem ao conceito de espaços verdes, do
art. 43.º, do RJUE.
4. Infraestrutura: sendo certo que este, tal como é utlizado na legislação, tem
duas modalidades:
4.1. Infraestruturas territoriais – são sistemas técnicos de apoio ao
funcionamento do território no seu todo (exemplo: aeroporto,
infraestruturas de distribuição de energia e de eletricidade ou de
telecomunicações, são infraestruturas que fazem uma ligação a nível
territorial que ultrapassam em larga medida a sua inserção urbana).

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- As infraestruturas urbanas têm uma preocupação em garantir


uma coesão territorial, de garantir o funcionamento do
território no seu todo e têm um punho supralocal.
4.2. Infraestruturas urbanas – são sistemas técnicos de apoio direto
ao funcionamento dos aglomerados urbanos ou da edificação em
conjunto- estas serão a que iremos estudar.
- Estruturas ligadas ao funcionamento da cidade.
- Acontece que nestas infraestruturas urbanas nós estamos a
pensar nas que têm que ver com um aglomerado urbano e com
serviços públicos mas também em infraestruturas que são
fundamentais para a edificação no seu conjunto.
Por exemplo: uma linha de metropolitano é uma
infraestrutura urbana que existe dentro daquilo que é o
terreno municipal (subsolo).
Uma rede de saneamento já é algo instrumental para o
próprio funcionamento das edificações privadas, pois
não existem sem estas redes de saneamento e
instrumentos.
 A diferença aqui passa pela própria diferença, que falaremos mais
tarde, entre o que é o ordenamento do território e o urbanismo.
- Uma coisa é o ordenamento do território que tem
essencialmente uma preocupação supralocal embora possa ter
também uma tradução a nível local, e então falamos em
infraestruturas territoriais: elas existem dentro do espaço
urbano mas têm uma vocação que transcende em larga medida
o espaço urbano.
- O conceito de infraestruturas urbanas é um conceito
relativamente amplo. Por exemplo: um arruamento urbano,
uma área pedonal, uma área de sistemas de veículos, sistemas
de drenagem de águas residuais e fluviais - tudo isto são
exemplos e infraestruturas que têm uma natureza urbana nesta
acessão de sistemas de apoio direto ao funcionamento dos
aglomerados urbanos ou da edificação.
A lei mais uma vez alude apenas a uma das modalidades da
infraestruturas urbanas, mais concretamente às infraestruturas
viárias(art 43.º).
4.2.1. Infraestruturas Viárias: é um conceito fundamental.
Infraestruturas que são essenciais para o espaço urbano

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5. Serviços urbanos: que estão ligados às prestações asseguradas pelas entidades


publicas aos cidadãos no espaço urbano.
- Note-se que se fala em «entidades públicas» e não em «municípios» porque
nem sempre são os municípios que asseguram estes serviços urbanos. Há
situações em que pode ser os municípios como acontece com a limpeza e a
segurança das ruas, mas pode haver outras situações em que sejam
concecionários de serviços públicos a assegurar estas prestações, por exemplo:
no caso da eletricidade das telecomunicações são entidades privadas que
prestam estes serviços urbanos, no exercício de um serviço público.
- O serviço é público pelo que tanto poderá ser prestado por sujeitos públicos
(municípios), como por entidades privadas.

6. Equipamento: Pressupõe, em larga medida mas nem sempre, a lógica da


edificação bem como o conjunto de espaços não edificados que podem ser afetos a
determinados serviços.
Exemplo: um campo de futebol não é um espaço edificado é o exemplo
de um equipamento coletivo, bem como um tribunal ou as
instalações da FDUL.
- Estes equipamentos tanto podem ser de propriedade publica como de
propriedade privada:
a.) se forem equipamentos de propriedade privada há-de estar também
sujeitos a um ónus de utilização coletiva. Por exemplo: museu privado
que é um equipamento, mas o proprietário estar obrado a que os
cidadãos usufruam das obras expostas; centros de saúde, instalações
culturais, palácios, museus, pavilhões gimnodesportivos, campos de
futebol, etc.
ATENÇÃO: não confundir este conceito de equipamento com o
conceito de infraestrutura: uma infraestruturas pode ser um
arruamento um parque urbano.
- Correspondem ao conceito de equipamentos coletivos do art. 21.º, do
RJIGT (Regime Jurídico Instrumentos de Gestão Territorial), ou podem
ter tradução ao nível do conceito de equipamentos do art. 43.º, do
RJUE.
7. Edificação: está também definido na lei, não se pode confundir com construção
pois a construção pode não ser uma edificação: por exemplo construir uma
infraestrutura viária, é uma obra de construção, mas não é uma edificação porque a
edificação pressupõe uma das seguintes coisas: construção, reconstrução, ampliação,
alteração ou conservação de um imóvel destinado à utilização humana, não se
tratando de uma edificação que é um conceito mais restrito, do que o conceito amplo
de construção.

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II. A CIDADE NA HISTÓRIA


1. Antiguidade Clássica (em especial no período romano):
Existência de normas com as seguintes finalidades:
- segurança das edificações;
- estética das edificações;
- salubridade das edificações;
- ordenamento do conjunto urbano.
- Estas preocupações enunciadas correspondem preocupações ligadas a um
conceito que é o de «polícia das edificações»: no sentido de polícia
administrativa. Ou seja, da existência de um corpo de normas fundamental
para assegurar um conceito de ordem pública urbanística em que se atribui à
administração, o poder de elaborar estas normas bem como reprimir
condutas ilícitas violadoras destas normas de polícia urbanística.
NOTA: altura máxima média dos edifícios em Lisboa são 7 pisos isto por várias
razoes mas principalmente por causa do aeroporto, o que significa que a construção
para além desses 7 pisos, por razoes de segurança, para permitir que os aviões
possam circular no espaço urbano.
 REGENTE: favorável em relação à construção em altura – o professor não
tem uma visão de a cidade ser de baixa densidade, pois as cidades de baixa
densidade são mais caras e que ocupam muito mais solo. As construções em
altura permitem libertar espaços para equipamentos coletivas, para
utilização pública, e do ponto de vista energético permite um menor consumo
energético.

Atualidade:
“Cidade de risco”: expressão inspirada na sociedade de risco de ULRICH BECK.
Prevalência de um urbanismo qualitativo sobre um urbanismo quantitativo: a sua
tradução na reabilitação urbana e no combate ao fenómeno da sua expansão urbana.
O conceito de risco foi querido em Portugal e era o risco estava ligado ao
desconhecido; e o perigo pressupõe uma manifestação atual ou eminente de algo,
sendo assim o segundo mais real do que o primeiro pois o risco é como se fosse um
perigo desconhecido.

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A cidade de risco é importante porque cada vez mais as pessoas vão viver nas
cidades e estas são o local onde acontecem muitos dos riscos para a atividade
humana. Os comportamentos de risco têm uma manifestação muito mais real ao nível
da cidade de risco.
Este risco tem que ver com um outro problema: o das alterações climáticas.
Encontramos também em outros aspetos nomeadamente: a cidade de lisboa estar
construída num âmbito onde existe uma falha tectónica, o que faz com que seja muito
propício à ocorrência de sismos e terramotos, ou a praça de são marcos em Veneza
completamente alagada.
A segunda ideia tem que ver com um urbanismo qualitativo por oposição ao
urbanismo quantitativo: estes conceitos exprimem a ideia de que o desenvolvimento
urbano não deve ser feito mais através da expansão urbana com ocupação crescente
de áreas que são áreas de solos que estavam destinados a outras atividades humanas
– pelo contrário, nós devemos sim fazer um investimento ao nível da reabilitação e
reconversão das áreas urbanas existentes.
- Urbanismo qualitativo é um urbanismo com um investimento ao
nível da reabilitação urbana e não de alargamento dos perímetros
urbanos e da existência cada vez maior do fenómeno da expansão
urbana.
- Quando as leis estabelecem a reclassificação do solo como solo
urbano é excecional dá-se tradução a esta ideia de contenção urbana e
de prevalência pelo investimento ao nível do urbanismo qualitativo.
Por outro lado temos que hoje os municípios tem mais competências, mas e
contrapartida há um conjunto de problemas que extravasam o âmbito estritamente
local e que carecem de respostas a uma escala intermunicipal, da área
metropolitana, ou escala regional – significa que quando estudarmos os instrumentos
de gestão territorial não vamos estar apenas os urbanísticos vamos também estudar
alguns que se prendem com outra politica publica que é a de ordenamento do
território, que pode ter uma tradução ao nível local como supralocal, quando falamos
em supralocal pode ser um âmbito de área metropolitana, regional e até ao nível do
âmbito europeu.
Iremos ver em que medida é que os instrumenteis urbanismos, nomeadamente
o plano diretor municipal que é o instrumento principal que iremos estudar, têm que
se articular com os instrumentos do ordenamento do território.
A quarta ideia é a de: ambiente urbano (conceito consagrado na CRP, no art.
66.º) procura uma fusão entre aquilo que são preocupações urbanísticas com
preocupações ambientais, há hoje um conjunto de preocupações ambientais que se
fazem sentir ao nível da própria cidade, pois as cidades são centros altamente
poluentes e que geram uma perda de qualidade de vida, em muitos casos.
Uma outra dimensão tem que ver com a garantia do direito à habitação, que é
um direito social que se prende com a própria garantia da dignidade social das

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pessoas (tentativas de erradicação de barracas e favelas e garantir a todos uma


habituação contínua).
Finalmente, temos o tema da cidade sustentável e a sustentabilidade
urbana nas suas dimensões ambiental, económica, cultural e social.
Hoje começa a apontar-se uma das finalidades do estado uma ligada à
sustentabilidade do desenvolvimento: o próprio desenvolvimento tem que ser
sustentável e não pode ser um desenvolvimento desagregador, e que ponha em
causa aquilo que são preocupações de garantia dos direitos das gerações
futuras e a possibilidade do ambiente na terra ser respirável – esta ideia de
cidade sustentável está muito ligada ao principio do desenvolvimento
sustentável, bem com à agenda 2030 da ONU dos objetivos de
desenvolvimento sustentável.

NOTA:
- Medidas de mitigação: atenuação ou amortecimento de determinados fenómenos;
- Medidas de adaptação: procuram mudar radicalmente o próprio desenvolvimento
urbano;
- Cidade digital: está muito ligada à questão das smart cites – levantam problemas
ao nível da segurança pessoal. Descarregando determinadas aplicações envolve um
constrangimento da nossa liberdade.
- Mobilidade urbana: as cidades devem ter, devem ser não só urbanas mas também
metropolitanas.
- Regente é contra qualquer tipo de “guetizaçao social” – seja pelo lado dos mais
ricos ou mais pobres (ideia de mescla social em que há pessoas com diferentes
recursos económicos que vivem na mesma zona e não uma segregação da cidade em
função de rendimentos.

- Problema das reconstruções clandestinas: sem terem sido objeto de controlo


prévio por parte da administração.
Turistificação /gentrificação: a cidade deixa de ser para os seus moradores e
transforma-se no parque temático utilizado por turistas ou residentes transitórios –
gera um deslaçamento social e perda de raízes.
Modelo do regente de mescla social: olivais – consegue que haja pessoas de todas as
classes sociais e níveis económicos. Este tema é essencial.
Quanto aos materiais de construção: o direito entra também ai quer através de
normas de direito da construção ou ao nível de planos de pormenor.

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 Artigo sobre a construção em altura – no email.


Uma cidade é feita de uma acumulação de camadas, o que significa que
corresponde a desenvolvimentos urbanos que ocorreram em diferentes períodos
históricos.
Nota: temos que ponderar é a servidão de vistas, um pouco que é um direito privado,
mas terá que poderá por ex a sobrecarga face às infraestruturas existentes,
problemas de transito e mobilidade – a decisão que ira ser adotada é uma que vai ser
o resultado desse juízo de ponderação.
A função publica urbanística: o debate atual sobre a intervenção pública no
urbanismo; a tarefa pública urbanística.
O urbanismo não é um campo imune às opções político-económicas –
naturalmente que estas opções desde que democráticas são todas aceitáveis.
Duas visões antagónicas:
1.) Exige maior ação pública, que diz que em nome da defesa dos interesses da
comunidades, e de acordo com esta visão encara-se a atividade urbanística como
objeto de uma necessária e efetiva conformação pública.
2.) Esta encara a ação pública como uma limitação à liberdade individual e é a
que diz que os poderes públicos devem limitar-se a uma atividade mera de regulação
da policia da atividade urbanística privada
A realidade não é apenas percecionada à luz de duas cores, tem muito mais
cores, é por isso que podemos ter um conjunto de conceções intermedias que contem
os elementos das duas visões.
De acordo com as duas visões antagónicas temos:
1. Uma visão em que o planeamento é definido pela positiva como
objetivos e finalidades a atingir; ou podemos ter
2- Um planeamento de carácter negativo que se limita a determinar o
que os sujeitos não podem fazer.
Regente: defende que o campo do direito urbanismo é o campo do direito
publico e não do privado. Considera que este planeamento negativo
reconduzir-se-ia muito a uma existência de normas de direito privado, ou
seja pode fazer se tudo aquilo que não esteja proibido. Ao passo que no
direito público só se pode agir se houver uma competência para atuar (é isso
que determina o principio da especialidade) e nomeadamente ao nível das
atuações dos poderes públicos, o chamado princípio da legalidade da
competência.
Na verdade estas duas visões, a visão do planeamento negativo confunde-se
com a conceção liberal que entende que a intervenção pública se deve cingir à
correção das falhas de mercado uma vez que se reconhece a natureza imperfeita do
mercado dos solos, nomeadamente do mercado para a habitação, que é um mercado

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que se presta a situações de oligopólio de mercado sendo isso reconhecido pelas


conceções liberais. Depois o que acontece é que o estado e a administração pública
devia intervir para correção dessas falhas de mercado, sendo essa intervenção
exclusivamente limitada somente às falhas de mercado.
Nota: falhas de intervenção são aquelas situações em que a administração pretende
atuar e intervir, adotando um conjunto de medidas políticas públicas mas depois os
resultados ficam aquém daqueles que são os pretendidos.
Hoje em dia temos que perceber o discurso económico senão não é possível
compreender o direito. Não há uma perspetiva única, e pode até haver diferentes
conceções e ideias ara atingir o mesmo objetivo – o bem comum. Há diferentes
caminhos para atingir o bem comum é isso que caracteriza uma sociedade
democrática e pluralista, é a existência de diferentes perspetivas e de essas poderem
debater o espaço público. Isso é absolutamente essencial. Isso também acontece na
cidade, a cidade não é uma cidade que possa ser encarada de forma única.
Ao nível da responsabilidade pelo desenvolvimento urbano nós podemos
defender, apesar de hoje em dia praticamente ninguém defender esta conceção, uma
conceção dirigista: confiar apenas à administração o desenvolvimento urbano.
Regente considera que é incompatível com a liberdade económica privada e
com o direito de propriedade privada – não é uma conceção dirigista pura, nem é
admissível do ponto de vista constitucional. Assim como uma conceção liberal
extremada no sentido de conceder a sujeitos privados um conjunto de tarefas ou
competências que normalmente são atribuídas aos municípios – essa conceção
extremada também não é hoje constitucionalmente admissível
nomeadamente à luz do art 9.º, do CRP e 65.º (artigo principal em material
de urbanismo) – segundo o prof. regente.

Antes do estado social a administração limitava.se a utilizar a técnica do


alinhamento e a controlo da atividade de edificação por motivos de polícia
urbana1.
- O alinhamento é uma técnica utilizada e que está hoje incorporada ao nível
do alinhamento, o que acontece é que tem que ver com a localização das
edificações e com o seu distanciamento face aos arruamentos públicos para
que a cidade se desenvolva de forma coerente e congruente, mas o
alinhamento sozinho não é uma técnica de planeamento porque, à medida
que a cidade se vai desenvolvendo, acrescentando-se um edifício a seguir a
outro, o que vamos ter é que nessa técnica de alinhamento o novo edifício tem
que se alinhar face às edificações já existentes – há apenas um
desenvolvimento urbano feito isoladamente.

1 Polícia Urbana: a necessidade de garantir a tutela, a segurança, celebridade e estética das


edificações.

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O Estado Social implicou alargamento da esfera pública do urbanismo, com


uso de técnicas da renovação e da expansão urbanas e sobretudo do plano
urbanístico.
As coisas mudaram radicalmente, nomeadamente pela circunstância de a
administração assumir responsabilidades que antes não lhe cabiam. Podemos dizer
que um dos marcos fundamentais do ponto de vista urbanístico ao nível do estado
social, é o fenómeno eu se verifica no reino unido, foi necessário construir cidades de
raiz (politica das new towns) dado o devassamento devido à segunda guerra
mundial. Foi necessário realizar uma política de expansão urbana, não no sentido de
urban sprawl (pejorativo), mas sim na lógica de o próprio estado assumir uma
política de desenvolvimento e expansão urbanas.
Isso também aconteceu na cidade de lisboa em bairros que foram construídos
de raiz: bairro de alvalade – o estado adquiriu os terrenos, elaborou um plano de
urbanização e de seguida concedeu a urbanização para que sujeitos de direito
privado construíssem mas tudo obedeceu a um plano de urbanização, a uma politica
sistemática de intervenção.
Com isto temos um novo protagonista que é o plano urbanístico.
Apeto não tao consensual: novo entendimento sobre o direito de propriedade
privada. Estas três primeiras ideias do slide (aula de dia 8/03): a primeira choca com
aquilo que é o quase dogma nos direitos reais que é o princípio da tipicidade dos
direitos reais: significa que o direito de propriedade enquanto direito real de gozo,
que tem três faculdades que é o poder, usar e dispor, esse direito de propriedade
encerra em si para fins urbanísticos que tem que ver com o direito de construir: pode
autonomizar se face ao direito de propriedade privada – é quase como se
estivéssemos aqui a defender a existência de um novo real que é o direito de construir.

Ideia de haver uma aquisição gradual de faculdades urbanísticas: o


plano pode conferir uma edificabilidade mas depois a concretização dessa depende
do cumprimento de um conjunto de ónus e deveres jurídicos, e à medida que vão
sendo cumpridos vai acontecendo uma aquisição gradual de faculdades urbanísticas.
Quando se faz um loteamento há uma aquisição do direito de construir, mas isso não
dispensa os proprietários de cada lote de requerer subsequentemente uma licença de
construção para que depois possa edificar a sua moradia – essas faculdades
urbanísticas vão sendo adquiridas gradualmente, até depois acontecer a plenitude do
ponto de vista das construções urbanísticas que é quando a construção já está
dirigida e o particular dentem uma autorização de utilização para nela habitar.
Esta ideia de que o proprietário não pode converter livremente o solo rústico
em solo urbano, hoje está expressamente consagrada na lei o RJIT – regente tem
duvidas quanto a esta ideia, esta ideia não era uma ideia que a comissão tivesse
desenvolvido que é a ideia de excecionalidade de solo urbano face ao solo rústico, que
quer dizer que a reclassificação do solo rustico como solo urbano, solo urbano como
sendo aquele em que se vão incorporar urbanizações e edificações, essa incorporação

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na verdade não é livre depende sempre de uma decisão da administração e de uma


admissibilidade por parte da mesma (regente duvida porque esta ideia acaba por
dizer que o soo urbano é excecional face ao solo rustico considerando que está contra
a ideia de que cada vez mais pessoas vão viver para áreas urbanas não sendo possível
conjugar estas duas realidades).
O Regente concorda com a ideia de procurar fazer com que o investimento
seja realizado ao nível da reabilitação da urbanização e edificação existentes, ou seja
uma o planeamento espacial, ou seja uma transição do urbanismo quantitativo para
o tal urbanismo qualitativo.
Esta crise do estado não significou o fim do plano, em Portugal nem existia
plano urbanístico praticamente, é preciso é pensar num plano urbanístico que
consiga incorporar aquilo que são as iniciativas do direito privado.

Fundamentos da necessidade de uma intervenção publica, segundo a


opinião do professor regente:
1. O plano urbanístico é um instrumento fundamental para a assegurar o
ordenamento racional da cidade – a alternativa ao plano urbanístico é um
desenvolvimento sistemático da sociedade, em que esta se desenvolve de
acordo com os impulsos de cada proprietário sem haver nenhum tipo de
preocupação de divisão de conjunto ou de assegurar que haja um
ordenamento racional, nomeadamente em termos de ocupação do espaço e
infraestruturas – o plano desempenha aqui uma função essencial;
2. Esta falta de relação jurídica, não havendo plano, na prática, a alternativa a
não haver plano é a administração ser convocada pelos impulsos dos
proprietários para permitir ou não as suas pretensões urbanísticas pelo que
vãos ter um crescimento e desenvolvimento urbanos assistemáticos – sem que
haja esta visão de conjunto, sem que as coisas aconteçam sistematicamente;
3. O aproveitamento urbanístico dos solos tem de ser objeto de conformação
pública porque não sendo assim cada proprietário vai ter uma pretensão, um
objetivo de maximizar aquilo que é o aproveitamento urbanístico da sua
propriedade – isto vai gerar conflitos e numa visão egoísta cada proprietário
pretende maximizar aquilo que é o aproveitamento urbanístico do seu solo,
portanto a única forma de introduzir algum tipo de racionalidade é conferir à
administração um papel para assegurar este correto aproveitamento
urbanístico;
4. A defesa da necessidade de mobilizar instrumentos de politica de solos para
regular o mercado impede a reversão para a comunidade de solos para
regular o mercado impede a reversão para a comunidade das mais valias
geradas pelo desenvolvimento urbano … - tem que ver com o facto de muitas
vezes são as intervenções públicas que geram mais valias: quando por
exemplo se desenvolve uma linha de transporte metropolitano que melhora a

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mobilidade urbana, ora nessa situação temos que vai haver uma vantagem e
valoração da propriedade que vai passar a ser servida por essa linha
metropolitana; contudo podem haver também externalidades positivas e em
muitos casos, e o que acontece é que tem que haver instrumentos tributários
(muitas vezes + impostos = + valias) que permitam que a administração que
foi quem realizou o investimento em nome de todos possa impedir que sejam
apenas alguns a beneficiar desse investimento realizado, através de
instrumentos de tributação dos que são beneficiados pela intervenção pública,
ou seja para que revertam novamente para a comunidade as mais valias
geradas pelo desenvolvimento urbano.
5. O estado deve adotar políticas urbanas positivas para melhoria das
condições de vida dos cidadãos – é particularmente evidente ao nível da
política da habitação. As vezes pensa-se apenas no dever de o estado promover
um parque habitacional, construir habitações, mas para além disso muitas
dessas edificações não foram construídas tendo em vista a diminuir as
alterações térmicas e de diminuição da temperatura.
6. Outra ideia fundamental é a de que a regulação pública é fundamental
para a estabilidade social, em especial para o funcionamento do mercado por
reduzir a incerteza das relações sociais e conferir segurança jurídica aos
cidadãos;
7. A regulação publica é essencial para a sustentabilidade do financiamento
das infraestruturas urbanísticas. Fazer-se cidade é algo que implica um custo
ou um encargo, o que significa que assim sendo não podem ser só os poderes
públicos a assumir os encargos, os promotores das operações urbanísticas têm
que comparticipar no financiamento destas infraestruturas urbanísticas.

Conclusão: é consensual a necessidade de uma intervenção pública no urbanismo,


apenas variando a sua amplitude em função da conceção adotada. É necessário que
haja uma intervenção pública no urbanismo bem como um direito público do
urbanismo para a garantia de um conjunto de finalidades.
Aula do dia 11 de março (continuação da aula anterior):
- Artigo 9.º, da CRP: embora a nossa CRP seja muitas vezes acusada de ser muito
programática a verdade é que comparando com a versão anterior aquilo que eram
na altura tarefas fundamentais do estado eram muito menos das que estão hoje
inscritas na CRP.
Alínea e.): proteger e valorizar o património “…” – assegurar o correto
ordenamento do território:
- em que sentido é que este art. 9.º se refere ao estado? Enquanto pessoa
coletiva ou enquanto comunidade e nessa medida englobando as tarefas
fundamentais do estado?

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- a expressão estado neste art. É diferente da que consta do art. 65.º, por
exemplo: neste art. 9.º não é enquanto PC de base territorial, é sim no sentido
amplo compreendendo todos os poderes públicos, ora enquanto comunidade,
no sentido de poderes públicos.
- utilização da expressão do correto ordenamento do território: legislador
utilizou esta expressão englobando o urbanismo? Ou enquanto objetivo de
uma diferente política publica que é a do ordenamento do território?
- regente: sentido diferente do que consta do 65.º/1, al. z.) em que já acaba por
se falar em ordenamento do território do urbanismo. Aqui há de se entender
como ordenamento do território abrangendo também o urbanismo.
- este conceito de ordenamento do território confundido com o urbanismo: art.
45.º este já fala em urbanismo diferente do ordenamento do território assim
como no 165.º/1, al. z.) – a CRP pretende diferenciar as duas realidades.

TEMA: objeto do direito do urbanismo; art. 65.º, da CRP: forma como a CRP
trata o urbanismo e a habitação.
O n.º4 e n.º5 estão virados essencialmente para o urbanismo, e os outros são
para a política da habitação.
Aqui temos que este 65.º, nº4 tem que ver com a referencia a estado, regiões
autónomas e autarquias locais. Parece aqui, ao regente, que estando todas estas
entidades agregadas, que neste arrigo o legislador constituinte pretendeu falar em
estado, regiões autónomas e autarquias locais enquanto pessoas coletivas de base
territorial. O que temos aqui na verdade é um aspeto importante. O Estado, regiões
autónomas e autarquias locais aparecem aqui como pessoas coletivas de base
territorial distintas umas das outras. Este aspeto depois suscitou a questão e perceber
como delimitamos o espaço de relação de cada uma destas pessoas coletivas.
A existência de uma reserva de administração publica na aprovação das regras de
ocupação, uso e transformação do solo (competência indelegável em particulares,
art. 65.º, n.º4, CRP) – situações que o TC e a doutrina tem dito de forma clara esta
competência para definir as regras de ocupação, uso e transformação do solo é uma
competência exclusiva da AP.
NOTA: Esta reserva de administração publica é em sentido formal e material:
ora a partir do momento em que o art. 65.º/4 o legislador estabelecer “estado,
RA e AU) quis vedar que as entidades administrativas privadas a possibilidade
destas aprovarem planos, o legislador quis reservar à administração publica
em sentido formal a privação destes planos– REGENTE.
Outra é a reserva de planeamento territorial: por um lado há matérias
que não podem ser reguladas a montante pelo legislador, têm que estar no
instrumento de planeamento territorial – cabe à administração no caso

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concreto determinar se o sol é rustico ou urbano, nunca pode ser o legislador a


entrar naquilo que é o espaço de atuação do plano.
Por outro lado: vamos discutir a natureza jurídica dos planos territoriais, e o
regente considera que a natureza jurídica é uma natureza
essencialmente normativa, são normas administrativas com determinadas
especificidades. Este aspeto é relevante para saber se pode ou não a
administração escolher definir o regime do usso do solo através de um plano
territorial ou através de um normal regulamento administrativo: a
administração não tem essa liberdade, o modo de atuação adequado e idóneo
para a definição do uso do solo é o plano territorial porque tem um regime
procedimental do dos regulamentos administrativos. Hoje em dia há uma
maior formalização do procedimento de aprovação de regulamentos
administrativos, em qualquer caso essa formalização que existe nem de perto
nem de longe se equipara ao procedimento de formação dos panos
urbanísticos, portanto estes têm um procedimento muito mais desenvolvido e
por isso há aqui uma reserva que é extremamente relevante.

- Há um limite à liberdade de conformação do legislador quando confere poderes à


administração para fazer o planeamento urbanístico, ou seja o legislador não pode
entrar em zonas de mérito da administração, quando aprova as leis não pode
substituir-se à mesma, e para além disso, outra consequência ao nível do controlo
jurisdicional, porque quando houverem juízos de mérito da administração, os
tribunais não podem substituir-se à administração fazendo uma dupla
administração: há uma dupla limitação (uma quanto à liberdade de conformação do
poder legislativo, e outra quanto ao controlo que o poder judicial poderá exercer
sobre a administração.
- Discricionariedade é uma matéria que o regente adora: afirma ser o coração do
direito administrativo. A discricionariedade aqui é diferente porque:
- Em direito administrativo: há dois elementos vinculados na forma de atuação da
administração: princípio da competência porque causa do principio da legalidade; e
a lei define o interesse publico a prosseguir, pelo que se a administração prosseguir
outro do que esta definido na lei ou prosseguir um interesse privado há desvio de
poder (não coincidir com o fim legalmente definido) – discricionariedade normal.
- No urbanismo: estamos no âmbito da chamada discricionariedade quanto aos fins.
O que tem de diferente é que nesta o próprio legislador não chega sequer a escolher
um fim para a adm prosseguir, limita-se a identificar um conjunto de fins e obriga a
administração a fazer um juízo de ponderação, esta tem que fazer uma ponderação
de bens jurídicos escolhendo aquele que em concreto para aquela realidade deve ser
prosseguido: assim no caso do urbanismo esta prejudicada a possibilidade de
controlo da administração através do vicio de desvio de poder pois não conseguimos
identificar o fim em concreto que a p tinha que seguir.
ART. 9.º DL 80/2015, DE 14 de Maio (graduação do interesse público).

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Torna-se impossível fazer controlo jurisdicional para saber se a administração


escolheu ou não o interesse público mais adequado: quanto maior é a liberdade mais
o controlo jurisdicional tem que ser intenso. Os princípios gerais da atividade
administrativa que vão ser chamados à colação para fazer o controlo da atuação da
administração -isto limita o tipo de controlo.
O espaço de discricionariedade não é um espaço de isenção de controlo
jurisdicional ele acaba é por ser condicionado por estar limitado aos princípios regra
da administração pública.
1. Problema de saber como é que o estado exerce poderes de tutela sobre as
autarquias em matéria urbanística? Hoje é claro, em virtude do 242.º, da CRP que
o estado apenas faz um controlo de legalidade.
2. O que fazer quando uma autarquia local não exerce bem os poderes que a lei lhe
confere em termos de planeamento urbanístico?
- durante muito tempo prevaleceu o entendimento de que sim o estado podia
fazer isso: o governo tinha poder de determinar se um plano urbanístico
municipal entrava ou não em vigor fazendo o controlo sobre o bloco de
legalidade por parte do município (instituto de retificação do governo).
- desde 2007 quando houve uma grande alteração vem prevalecer o
entendimento de que os municípios não tem nenhum tipo de capitis diminutio
face ao estado: significa que mesmo que o estado possa exercer mal as suas
competências também um município o pode fazer, o que significa que se o
município exercer mal as competências, nomeadamente violando princípios
gerais da atividade administrativa para isso é que servem os tribunais para
fazer esse controlo (Regente – tem uma pré compreensão municipalista:
municípios tem um espaço de atuação próprio). Aceitando que não há
uma logica de supremacia, de supra e infra ordenação
temos depois que aceitar também que haja algum tipo de liberdade de
atuação nos municípios.
Outro tema é a possibilidade de conferir aos municípios um poder de veto
quanto a opções territoriais que cabe ao estado tomar – significa que há um conjunto
de opções territoriais que transcendem os simples assuntos locais (exemplo:
localização de um aeroporto, não podem ser encaradas apenas na perspetiva de
prevalecer o interesse público local, pois se isso acontece há sempre o risco de
cairmos no problema do “nimbismo” de modo a evitar as externalidades negativas, o
ruido, a poluição, a perda de qualidade de vida – NIMBY «not in my backyard»). Isto
levanta-nos um problema que é relativo a sabermos como devemos fazer esta
ponderação.
A forma como o legislador encontrou de permitir que as entidades
administrativas concertem posições entre si é segundo o procedimento: a atuação
administrativa compreende uma sucessão ordenada de atos e formalidades e
tem uma sequencia ate se chegar ao fim.

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No direito do urbanismo tem que ser também assim: pois onde há maior
discricionariedade mais terá que haver procedimentalização.

O Artigo 65.º/5, da CRP diz que é garantida a participação dos interessados


na elaboração dos instrumentos de planeamento urbanista, e portanto consagra uma
norma que permite o direito fundamental na tomada de decisões da administração.
Olhando para este art.65.º, n.º5 para o 267.º da CRP n.º1 que fala na aproximação
dos serviços às populações, até que ponto é que o 65.º/5 não acaba por ser
redundante ao 257.º? O legislador quis acrescentar alguma coisa?
- relação de norma geral – norma especial dentro da própria CRP para
a participação na elaboração dos instrumentos de planeamento urbanista;
podemos dizer que esta norma é de aplicabilidade direta, ora se não houvesse
um regime jurídico de gestão territorial (DL 80/2015 que falaremos adiante),
a prever nenhuma forma de participação dos cidadãos podia alguém deles
invocar esta norma do 65.º/5, da CRP? SIM, esta norma constitucional é na
medida em que impor um qualquer tipo de participação em todas as decisões
de planeamento, é uma norma de aplicabilidade direta – tem que haver
sempre uma forma de participação do s cidadãos no âmbito da aprovação de
planos.
- sendo esta norma concretizada através do tal regime jurídico dos
instrumentos de gestão territorial (RJIGT) aí já há liberdade de conformação
do legislador em escolher em que modalidades ou tipos de participação pode
haver por parte dos cidadãos: o legislador previu um período de discussão
propiá apos a conclusão do projeto urbano, ora debate público.

O artigo 65.º, no seu n.º4, que diz respeito ao urbanismo, quando se utiliza a
expressão “ e procedem às expropriações dos solos que se revelem necessárias à
satisfação de fins de utilidade pública urbanística”: aqui discute-se saber se o
legislador constituinte pretendeu fechar dizendo que a única forma de
prossecução de utilidade urbanística é através da expropriação ou se permite que
hajam outras formas para alcançar estes fins de utilidade pública urbanística?
- A questão foi discutida em 2009 no acórdão em que se discutiu no
âmbito da aprovação da autorização legislativa ao governo para aprovar
o regime da reabilitação urbana, a possibilidade de contemplar o regime
da venda forçada.
- Neste caso temos que, existindo um interesse publico a administração
pode decretar a utilidade pública de uma expropriação produzindo-se
consequentemente a transmissão de um direito de propriedade da esfera
do particular para a esfera da administração – mecanismo clássico de
expropriação por utilidade pública para satisfação de um determinado

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interesse ou utilidade. Implica forçosamente a transmissão de um direito


de um particular para a administração
- O que é que a venda forçada tem de diferente face à expropriação? É
que no caso da venda forçada não há uma transmissão de um direito de
propriedade de um particular para a administração, há sim uma
circunstância de um particular que não cumpriu um conjunto de deveres
urbanísticos, em particular de reabilitação e reconstrução do edificado, a
quem vai ser imposta a venda do seu bem, do seu imóvel a esta pública
para que outro particular venha a cumprir esses deveres – aqui não há
uma transmissão da propriedade a favor da administração, há uma
transmissão forçada de um direito de propriedade privada de um
particular para outro.
- Em 2009 o PR requereu a fiscalização preventiva e na altura o TC
emitiu um acórdão em que considerou não era inconstitucional haver
outros instrumentos para satisfação destes fins de utilidade pública
urbanística. O que se verifica é que não era inconstitucional haver outros
instrumentos para satisfação destes fins de utilidade pública urbanística
como não é inconstitucional a previsão da venda forçada.
- O TC disse que não era inconstitucional desde que se assegure ao
proprietário cujo bem vai ser objeto de venda forçada, as mesmas
garantias que estão asseguradas a um expropriado: desde que se assegure
a publicidade do procedimento, desde que se assegure que o particular
cujo bem vai ser vendido nunca receba da venda menos do que receberia
através do pagamento de uma justa indeminização – asseguras estas
garantias nada impede que o legislador opte pelo instituto da venda
forçada ou consagre o mesmo.
- O prof. Menezes Leitão veio defender a inconstitucionalidade da
venda forçada;
- O Regente considera que não há qualquer inconstitucionalidade e
defende que o próprio TC disse que tem que haver uma liberdade de
conformação do legislador ordinário na escolha dos fins para a
prossecução da utilidade pública urbanística e portanto, o artigo 65.º, n.º4,
da CRP de acordo com a interpretação correta que o TC dele faz não
contem numerus clausus em termos de expropriação dos solos, portanto
um legislador ordinário pode escolher quaisquer meios desde que
esses meios assegurem as mesmas garantias de defesa que existem
na expropriação.

Aula do dia 15/03/2021


Estrutura do comentário de jurisprudência: tem que ser entregue até dia 11
de abril (6 a 10 páginas)

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1. Identificação da questão de direito;


2. Identificação dos fundamentos de direito e de facto que estiveram na base
da decisão do tribunal;
3. Breve comentário à decisão: concordamos ou não? Às vezes concorda-se
com a decisão mas não com a fundamentação.
- procurar o modelo dos cadernos de justiça administrativa para ver
exemplos de comentários.
- não se pretende um comentário que se limite a reproduzir as partes e a
fundamentação sem juízo crítico, tem que envolver discussão dos argumentos,
colocação do problema no quadro geral que os tribunais vem adotando.
- tem que ser um tema de direito do urbanismo: identificar o acórdão e o link para o
acórdão.

A FUNÇAO PÚBLICA URBANÍSTICA: A TARFEA PÚBLICA URBANÍSTICA,


OBJETO CONCEITO E NATUREZA E DIREITO DO URBANISMO E OUTROS
RAMOS DO DIRIETO.
Artigo 65.º, n.º1, 2 e 3: temos que olhar para a tarefa pública e a efetivação
do direito fundamental a habitação.
Conexão estreita entre a efetivação da tarefa urbanística e a concretização
dos direitos sociais: a realização da tarefa pública implica o direito dos particulares
de exigir determinadas prestações estaduais.
O tema do urbanismo está arrumado na CRP juntamente com a habitação, e
está a anteceder a matéria do ambiente.
Direito fundamental à habitação:
Os direitos sociais são os chamados direitos a prestações – dependem de uma
prestação do estado, o que significa que depende dos recursos financeiros do estado –
reserva do possível ou do financeiramente possível. Estado esta obrigado a satisfazer
direitos sociais na medida do possível, tendo recursos.
A liberdade de conformação do legislador ordinário é maior do que a propósito dos
direitos liberdades e garantias – regente considera que os direitos fundamentais não
têm uma estrutura única em que podemos aplicar o mesmo regime, pelo que olhando
para o 65.º o direto à habitação é um direito social logo o legislador ordinário tem
uma ampla liberdade de conformação deste direito fundamental, conformação do
direito fundamental depende da reserva do possível ou do financeiramente possível,
significa uma limitação do direito dos particulares a exigir determinadas prestações
estaduais.
Passa por aqui uma certa desvalorização em relação ao direto à habitação,
sendo certo que isto é dentro de uma lógica de engavetar as matérias, a partir de

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classificações jurídicas. Acontece que esta visão, segundo o Regente não é correta pois
descura desde logo um aspeto: o direto à habitação esta muito ligado ao próprio
princípio da dignidade da pessoa humana (sendo este o principio fundamental da
CRP). Quando se fala da dignidade da pessoa humana esta é também uma dignidade
social – implica a satisfação de direitos sociais. Por outro lado, é preciso dizer que a
existência de direitos fundamentais com estrutura complexa significa que n podemos
dizer que o direto à habitação é um direito social e assim não beneficia do regime do
art 18.º, da CRP. Acresce também que o direto à habitação não é um direito
fundamental de natureza análoga a direitos, liberdades e garantias.
Acontece que mais uma vez esta conceção descra um aspeto fundamental: é
que quando olhamos para determinados direitos fundamentais, nós não podemos
fazer uma interpretação da CRP isoladamente, não podemos isolar direitos
fundamentais não procurando estabelecer relações que se podem fazer entre direitos
fundamentais. Já falamos por exemplo do direito de participação (65.º/5) que tem
que se ligar também aos direitos dos cidadãos perante a administração pública
(consagrados no 266.º, da CRP)
- Regente critica completamente um enclausuramento do direito à
habitação no âmbito da categoria de direitos sociais: não é possível
olhar para ele como sendo apenas um direito social.
Ligada à ideia da significado social encontra se esta ideia de o direto à
habitação ter uma proximidade com o princípio democrático e igualdade
material no sentido de dignidade material entre os cidadãos (tratar de forma
igual o que é igual e desigual o que é desigual) .
Um aspeto que melhor demonstra só problemas do acantonamento do direto à
habitação : tem que ver com a circunstancia de o direto à habitação estar ligado a
outros direitos fundamentais:
- Art 65.º/1, CRP: o destinatário desta norma é o estado legislador que deve
legislar para assegurar a concretização desta direito fundamental e é também
a administração publica (quer estado enquanto PC que autarquias locais). A
segunda parte deste artigo: a habitação é a esfera privada pertencente a
uma pessoa, o âmbito impenetrável.
- Olhando para este artigo nesta dimensão o direto à habitação é um direito
liberdade e garantia, ou seja, temos aqui neste n.º1 uma dimensão estrutural
de direito liberdade e garantia. – aceitando a distinção entre direitos
liberdades e garantia e direitos sociais não há conformação do estado quando
legisla sobe as técnicas de constrição adotadas, etc. Hoje, já não seria
admissível haver construções com quartos interiores, por exemplo. Temos aqui
a preocupação de assegurar condições para garantia do que está no
artigo. A habitação é um espaço de autonomia e de desenvolvimento de
direitos pessoais.
Este direito tem uma dimensão de direito liberdade e garantia beneficiando
do regime e tem uma outra de dimensão social em que está dependente das

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condições financeiras dos estado para segurar um conjunto de prestações


estaduais.
- Olhando para um conjunto de normas que o estado edita sobre
segurança, celeridade e estética são normas ara concretização destes
direitos, liberdades e garantias pessoais que estão também ligados a
este direto à habitação.
- o direto à habitação não pode ser olhado desligado de outros direitos
fundamentais.
O direto à habitação tem uma outra componente de direito social:
- Habitações a preços acessíveis: estado não te a obrigação de garantir
para todos: ligação do direto à habitação com outros direitos sociais.
- Necessidade de enquadrar a habitação no espaço correspondente ao
bairro: obrigação dos poderes públicos de adotarem medidas para
assegurar a qualidade de vida e coesão social.
- O direto à habitação não é apenas ao foco habitacional ou moradia é
muito mais do que isso. Olhando para o 65.º/2 e 3 temos um conjunto
de objetivos que encaram o direto à habitação numa perspetiva de
direito social.
Direto à habitação e instrumentos urbanísticos:
- Como se utilizam os instrumentos urbanísticos para se atingir estes
objetivos? Há um conjunto de opções a tomar pelos poderes públicos, que
muitas fazes o fazem tomando opções de politica pública urbanística.
- Em que medida é que o planeamento urbanístico pode ser usado para
assegurar o direito à habitação dos tratos mais carenciados?
- Evidentemente, através da celebração de contratos urbanísticos entre
a administração e promotores privados, a administração muitas vezes
reconhece direitos edificatórios para alem dos que estavam
consagradas nos planos ou aprova planos com acréscimo de direitos
edificatórios obtendo como contrapartida a colocação no mercado as
habitações a custos controlados: o objetivo é haver um objetivo de
garantia de direito à habitação e alargar a proteção do mesmo.
- Há uma liberdade de o legislador para escolher que tipo de
politica deve seguir: construir habitações ou usar edifícios seus para
vender a particulares ou pode o município apoiar particulares no
acesso à renda para garantir que o direito de habitação seja
assegurado.
NOTA: O tema da habitação é um tema sensível pois como existiu a colonização do
espaço urbano por um conjunto de espaços mobiliários os preços disparam nos
últimos 10 anos bem como do fenómeno da turistificação e da gentrificação –

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significou que houve uma perda de população, uma situação em que toda a classe
média ficou impedida do acesso à habitação, e a questão é que tipo de instrumentos
urbanísticos podem ser adotados? Devemos ter mais regulação pública ou mais
mercado?
O direito à habitação está ligada à mobilidade nacional: significa que
efetivamente nestas situações o direito à habitação é importante para assegurar essa
mobilidade. Quando se fala em aquisição de solos por parte da administração não é
porque haja um interesse que o estado seja proprietários, nestas situações como o
mercado mobiliário presta à criação de oligopólios, para combater esse fenómeno de
especulação mobiliaria é necessário que a administração disponha de instrumentos
urbanísticos que devem passar por uma aquisição sistemática de habitação.
Os instrumentos urbanísticos não são neutros, as politicas publicas têm
sempre um objetivo. O plano urbanístico pode se rum instrumento adequado assim
como um controlo prévio de operações urbanísticas pois a administração tem a
possibilidade de estabelecer limitações à forma como são desenhados os focos
habitacionais; e outro é a politica dos solos: recorrendo à lei da oferta e procura, o
mercado de solo é imperfeito (há muitas assimetrias), é necessário que haja algum
tipo de intervenção sendo nessa linha que o regente defende que é possível e desejável
que haja uma intervenção da administração no mercado dos solos para que haja uma
baixa dos preços da habitação. É preciso também que a dm influencie ao nível das
habitações devolutas que não está a ter a sua habitação normal.
Nota: a utilização de instrumentos de politica fiscal: seja incentivo ou
repressivo/sancionatório: é preciso fazer combinação de todos estes instrumentos
urbanísticos para alcançar o que é desejável em nível de política publica urbanística.
Quando se fala na garantia do direito a habitação não se quer dizer que toda a
habitação deve ser publica. Este art 65.º tem elasticidade para se adaptar a modelos
diferentes (n.º2, alíneas c.) e d.), e n.º3, da CRP).

A tarefa pública urbanística:


- Temos que encará-la na perspetiva das politicas publicas que estão muito
influenciadas pelos instrumentos jurídicos pois a maioria dos instrumentos da
politica publica são de natureza jurídica.
- A politica urbanística, sendo apenas uma das políticas públicas, está ligada a
outras: ordenamento do território, habitação, ambiente, património cultural.
- Quando a CRP fala na reserva de competência legislativa no parlamento
(165.º/1, al. z.)): aqui as bases do urbanismo são também associadas às bases
do ordenamento do território, as bases do urbanismo significa que a CRP
reconhece autonomia própria à politica publica do urbanismo.
- O que significa que tem o objeto do urbanismo compreende as relações
jurídicas estabelecidas entre administração e particulares, o âmbito de
ocupação de uso e transformação de solos urbanos o que significa que

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compreende, tem como objeto as normas jurídicas que regulam


fundamentalmente o solo urbano, são aquelas que transcendem a sua vocação
natural que interessam ao direito do urbanismo.
- As relações jurídicas urbanísticas são relações jurídicas administrativas
porque o que esta em causa é o objetivo nuclear de garantir a correta
ocupação, transformação dos solos por um lado, bem como a
sustentabilidade urbana – são esses elementos que fazem com que o direito
do urbanismo seja direito publico.
- ATENÇÃO: Não há um direito privado do urbanismo, há um enorme
equivoco a propósito disso.
- O conceito de direito urbanismo é o conjunto de normas e princípios
jurídicos que regulam as atuações da administração e os particulares
sobre os solos urbanos para garantir a sua correta ocupação, a
sustentabilidade e sendo tal aferido através destas dimensões e
utilizado para o efeitos os instrumentos que são todos jurídico-
públicos (planos, instrumentos de gestão urbanística, de controlo preventivo
e sucessivo e as politicas de solos).

Alguns autores de direito privado acham que há espaço para a existência de


um direito privado do urbanismo. Contudo alguns professores nomeadamente:
Freitas do Amaral, Fernanda Paula oliveira, entre outros é consensual que o direito
do urbanismo é um ramo do direito público e que em concreto se trata de um ramo de
direito administrativo especial. Isto significa que é uma parte especial do direito
administrativo: a parte geral é a organização, procedimento, meios de atuação
administrativa, responsabilidade da administração e o contencioso administrativo,
mas depois há partes especiais, ou seja há áreas do direito administrativo que são
como que sub ramos em que encontramos o direito do urbanismo, o direito
administrativo do ambiente, direito militar, direito económico, integrados naquilo
que é o espaço mais amplo do direito administrativo e que por sua vez enquadra-se
num espaço ainda mais amplo que é o direito público.
Não há um direito privado do urbanismo porque: por um lado uma razão
teleológica, e por outro os instrumentos adotados. Quando olhamos para os
instrumentos jurídico-urbanísticos, todos eles são jurídico-públicos, e por outro lado,
quando olhamos para o escopo das políticas e normas urbanísticas, estas têm uma
finalidade de prossecução do interesse público estando indissocialvelmente ligadas à
prossecução da função administrativa: por estas razoes, para o Regente João
Miranda o direito do urbanismo é indubitavelmente um ramo do direito
administrativo, e por isso não há direito privado do urbanismo.
O que há é por vezes uma confusão entre aquilo que se chama de direito
privado do urbanismo e o direito privado da construção e o direito privado do
imobiliário. Isto é, há direito privado da construção e direito privado do imobiliário e
muitas vezes cai se no erro de ser apresentado como sendo o direito privado do

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urbanismo mas não é isso. Quando pensamos nas relações contratuais entre os
técnicos que auxiliam com os projetos e a atividade da construção e os proprietários
(ex: proprietário contrata empreiteiro) como é que qualificaremos as normas que
regulam relações entre ambos (proprietário e construtor; proprietário e
empreiteiro)?
- Essas normas que estabelecem regras sobre responsabilidade e garantias são
normas de direito privado da construção e não do urbanismo. Aí as relações
são jurídico-privadas sendo as normas de direito privado. O mesmo acontece
ao nível do imobiliário, porque o imobiliário também se presta à celebração de
negócios jurídicos entre aqueles que estão a comprar e a vender no âmbito do
processo imobiliário.
- Não há direito privado do urbanismo, o que muitas vezes se chama assim
são áreas que correspondem ou a direito privado da construção ou do
imobiliário.
- O regente defende a autonomia pedagógica e cientifica do direito do
urbanismo.
A grande preocupação de uma politica de ordenamento do território e
que os recursos estejam distribuídos de forma equitativa e harmoniosa por
todo o território, ora uma distribuição dos recursos humanos, sociais culturais
e ambientais pelo espaço local ou supra local, que os recursos não estejam
todos concentrado numa determinada área do território.
Há uma aproximação muito grande entre a politica do ordenamento
do território e a política do urbanismo, e isso vê-se desde logo com a
circunstância de haver linhas de continuidade – iremos ver isso a propósito do
tema dos programas e planos – há relações que se estabelecem entre os
diferentes instrumentos de gestão territorial, os chamados programas
territoriais condicionam os planos territoriais ou urbanísticos havendo uma
linha de continuidade entre eles.
Podemos ter até instrumentos qualificados apenas como urbanísticos,
como o caso do PDM, e que acabam por transcender objetivos do urbanismo e
que podem ser ao mesmo tempo objetos de ordenamento do território – o
mesmo instrumento pode prosseguir objetivos de mais do que uma politica.
O que é essencial ao nível do direito do urbanismo e que o separa do
direito do ordenamento do território, é que o direito do urbanismo procura
assegurar fundamentalmente o ordenamento racional do solo urbano através
da definição do respetivo regime do uso do solo – o ordenamento racional do
solo é diferente de assegurara a distribuição harmoniosa dos diferentes
recursos sobre o espaço.
O direito do urbanismo tem uma proximidade também grande como o
direito do ambiente, contudo neste ultimo há uma dificuldade que se prende

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com a circunstância de haver alguma indeterminação, ou não haver consenso


quanto aquilo que é o objeto do direito do ambiente:
- há quem considere que é a proteção dos recursos naturais: (utilizando
a denominação da lei de bases do ambiente) as chamadas componentes
ambientais naturais, os solos, o ar, a água, a natureza.
Depois há uma zona duvidosa que é saber se nos alargamos o objeto do
direito do ambiente aquilo que na lei de bases do ambiente, se denomina de
componentes ambientais humanas: exemplo o ruido. As normas de combate ao
ruido são normas de direito do urbanismo ou do ambiente? Da mesma forma
quando é aprovado um instrumento de planeamento do urbanismo tem que
ser acompanhado do mapa de ruido – O prof. Regente considera que o
direito do ambiente se circunscreve ao direito de proteção dos
recursos naturais, mas obviamente pensando no caso do ruido,
encontra-se numa zona de sobreposição entre as normas ambientais e
as urbanísticas. Temos que procurar perceber a finalidade da norma: se for a
proteção dos recursos naturais, o regente considera que a norma é
fundamentalmente uma norma de direito do ambiente, se pelo contrario for
assegurar uma preocupação própria do urbanismo será desse ramo.
Outra área é a do direito do património cultural, que é próxima do
direito do urbanismo. O património cultural tem como objetivo a salvaguarda
dos bens culturais. Exemplo: servidões administrativas de património cultural
– muitas dessas que têm como objetivo, por exemplo a proteção de
monumentos, têm depois uma tradução pratica ao nível do urbanismo uma
vez que obrigam à delimitação de uma zona non edificandi, ou de uma zona
com uma limitação da capacidade edificatória em torno desse monumento
nacional, e depois em concreto isso tem que ser objeto de consagração ao nível
da chamada planta de condicionantes dos instrumentos de planeamento do
urbanismo, tendo que se limitar concretamente a existência desta limitação à
luz do solo.
Relativamente ao direito público da construção: este é um direito
que é diferente do direito privado da construção que falamos anteriormente e
que era pensado para as relações entre proprietário e sujeitos privados
contratados por ele. Este tem que ver com regras de direto publico aplicáveis
ao reconhecimento de qualificações profissionais de intervenientes da
construção e às próprias técnicas aplicadas nessa atividade.
- Exemplo: uma norma que dite que seja um profissional que pertença
à ordem dos advogados. Ou quando se estabelecem que, por exemplo
são adotas determinadas técnicas de construção contra sismos e
prevenção.

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Para segunda: ler os artigos 9.º a 36.º da lei de bases gerais da política
publica dos solos e do urbanismo, + artigos iniciais do CC a propósito do direito de
propriedade.
TEMA DE HOJE: A FUNÇÃO OÚBLICA URBANÍSTICA: FONTES DO
DIREITO DO URBANISMO; A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DO URBANISMO.
Fontes de urbanismo: a CRP enquanto lei fundamental é a principal fonte –
artigos com relevância para o direito do urbanismo: 9.º (estabelece que assegurar o
correto ordenamento é uma das suas funções), 62.º, 65.º (trata das matérias da
habitação e do urbanismo), 66.º (sobre ambiente que também trata de matérias
relacionadas com o urbanismo), 165.º (estabelece que as bases do ordenamento do
território do urbanismo são de reserva legislativa do parlamento – alínea c.)).
Olhando para a legislação temos que grande parte dela é legislação de
desenvolvimento destas leis de bases. As fontes internacionais e europeias podem ou
não ser fontes de direito urbanismo?
- Divergência doutrinária:
a.) A professora Maria da Glória Garcia tem uma posição negacionista de
um direito de urbanismo supranacional, ora diz que os problemas de direito
do urbanismo têm uma escala nacional não sendo necessário convocar
normas europeias.
b.) O Professor Regente não concorda e faz criticas à posição da professora:
1. Hoje existe cada vez mais um direito do urbanismo transfronteiriço –
a separação entre estados não significa a não existência de problemas
comuns;
2. Há uma necessidade de cooperação administrativa interfronteiriço –
instrumentos adotados de um lado influenciam o outro e a
possibilidade de haver cooperação entre os dois lados.
- hoje quando atoamos um conjunto de opções ao nível do
urbanismo estas tem que se inequivocamente se repercutir em
termos de outros estados. Existindo um direito transfronteiriço,
tem que se concluir que não é possível vir dizer que o urbanismo
se desenvolve exclusivamente à escala local.
3. Outra critica tem que ver com o facto de haver um conjunto de
normas europeias de outras áreas científicas que se repercutem sobre o
direto do urbanismo – há assim uma ingerência sobre as normas
urbanísticas.
- os estados não tem sido adeptos de transferir para a esfera
internacional um conjunto de matérias que conseguem regular
internamente – neste ponto o regente concorda com a
professora.

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Direito europeu do urbanismo: não há propriamente instrumentos


jurídicos europeus sobre o direito do urbanismo.
NOTA: Não há espaço para o costume no direito administrativo – segundo o regente.

Aula do dia 25 de março de 2021


Hoje vamos acabar a matéria do solo urbano, ficando somente a faltar dois
capítulos da matéria (planeamento urbanismo e urbanização e edificação). Para a
aula de dia 8 de abril resolver as hipóteses práticas 1 e 2.
STA – TRIBUNAL CENTRAL ADMINISTRATIVO NORTE E SUL – ESCOLHER
ACORDÃO PARA O TRABALHO!
23 MINUTOS:
Dominiio píublico – bens indispensáveis à satisfação de necessidades coletivas
públicas
Domínio privado disponível são bens que estão sueitos a um regime tendencialmente
de dirieto privado embora haja bastantes vinculaçpes dominico.publicas…. constam
do artigo 84.º da CRP.
Há uma escala, começando pelos bens aos quais se aplicam amis um regime de dirieto
administrativo como acontece com os do domínio públco, e quanto aos bens dp
domínio privado insdipo…. São bens submetidos ao comercio jurídico privado.
O domínio privado indisponível envolve os bens destinados a fins de utilidade
publica que enquanto se mantiver esses bens não podem deixar de estar afetos à
administração. Se deixar de se verificar essa finalidade pública os bens migram para
o domínio privado disponível. Enquanto se mantiverem no indisponível há um regime
de proteção (não tao elevado) relativamente a estes bens.
São bens de toda a coletividade, e que de uma maneira geral todos e quaisquer
cidadãos podem usar, não podendo ser celebrados negócios sobre bens do domínio
público.
Bens do domínio privado disponível… bens que tem natureza imobiliária e
bens que corresponde apenas a um património financeiro …….
No caso dos bens da administração os únicos que são descritos no registo são
os do domínio privado (disponível e indisponível) os do domínio publico estando fora
do comercio jurídico não têm que estar descritos ao nível do registo predial.
Artigo 22.º, n.º2, da LBPPSOT: a propriedade pública implica uma
delimitação face à privada.
Há autores que consideram que a seguinte distinção não faz sentido. O regente
afirma que esta distinção esta na legislação portuguesa e tem depois impacto ao
nível da planeamento urbanístico.

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1. Servidões administrativas: são encargos impostos por lei, ato ou contrato


sobre certo prédio. A diferença reside na finalidade. Aqui a necessidade
prented-se com a tutelaçao de um interesse públicos MINUTO 50
2. Servidões civis: nestas a finalidade tem que ver com a utilidade que um
prédio privado precisa de ter. ex: servidão de vistas, servidão ligada à
luminosidade do prédio, etc.
- Prédio dominante vs. prédio supervenientes: o mosteiro dos jerónimos, à sua
volta há uma servidão administrativa .. a edificabilidade que existe pode ser desde
logo limitada pela envolvente do mosteiro dos jerónimos que é o prédio dominante e
à sua volta à uma serie de prédios supervenientes.
NOTA: onde há servidão administrativa há um conjunto de limitações à
edificabilidade. Portanto as servidões administrativas são sempre encargos impostos
sobre o prédio, não restrições em geral, são no fundo encargos impostos sobre um
prédio em concreto. Se forem servidões civis a afinalidade desse encargo é a
possibilidade de aporvetameto…… por causa da prossecução.
A servidão é sempre uma restrição ao gozo de um direito real, uma limitação
ao direito.

Aula do dia 12 de abril de 2021


- Hipóteses práticas 1 e 2 do livro do professor:
HIPÓTESE PRÁTICA N.º 1

Artigo 76.º, n.º 1 RJIGT

Incompetência relativa

Anulável

- O ato é ineficaz. Porque o ato não foi publicado.

- Passou-se diretamente para o acompanhamento.

- Temos, aqui, um verdadeiro vício de procedimento: foi eliminado um trâmite


procedimental obrigatório.

Artigo 65.º, n.º 5 CRP: estamos perante uma ofensa a este preceito?

- Não havia quórum. A aprovação do parecer é, por isso, nula.

Órgãos colegiais permanentes vs. Órgãos colegiais temporários

Qual é a natureza do parque em questão? Estamos perante um programa


especial.

*Princípio da tipicidade*

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- Artigo 42.º RJIGT

Estamos perante um programa de área protegida.

Portaria n.º 277/2015

O parecer não é vinculativo para o município. O município pode adotar o ato.

*Avaliação de impacto ambiental*

Essa avaliação é uma avaliação que incide sobre um projeto em concreto.


Mais: tem um regime próprio. Esta avaliação ambiental, de que nos fala o
artigo 78.º RJIGT, é uma avaliação ambiental diferente; é estratégica. Pois
decorre num momento em que estão a ser tomadas as decisões de fundo num
caráter normativo. O decreto-lei referido no artigo em questão é a
transposição de uma diretiva europeia.

Isto é um subprocedimento administrativo que culmina com a emissão de um


parecer.

Aqui, não se refere a fase da concertação. E esta é uma fase obrigatória.


Estamos perante um vício do procedimento. A sanção seria, por isso, a
anulabilidade.

Também não se faz nenhuma menção ao parecer final da CCDR que, apesar de
não ser vinculativo, é, contudo, obrigatório. Aqui também há um vício de
procedimento.

Este plano não se aplica; é ineficaz.

HIPÓTESE PRÁTICA N.º 2

Quando se trata de planos de urbanização, o acompanhamento é facultativo.


Mas tem de haver necessariamente um parecer final da CCDR (artigo 85.º).
Há não só um vício de forma; mas também um vício de procedimento.

Logradouros: espaços exteriores que ainda se integram dentro do prédio.

Direito subjetivo vs. Interesses difusos

O que são, no fundo, interesses difusos? São interesses sem dono. O interesse
difuso é uma refração individual do interesse público. Para que nós
reconheçamos que alguém tem legitimidade (…), tem de existir
necessariamente um elemento de conexão. Qualquer morador de Proença,
tratando-se em concreto do interesse local, poderia intervir. Elemento de
conexão: residência.

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*Atos administrativos endoprocedimentais*

Estes atos têm de ser igualmente fundamentados.

Aula do dia 15 de abril de 21


- POWERPOINT DO PLANEAMENTO URBANÍSTICO: NOTAS
Slide 4: Regente não concorda com a distinção prevista no 38.º, da Lei n.º 31/2014:
programas não são instrumentos suscetíveis de conformar o direito de propriedade
privada, essa conformação faz se por via da figura dos planos, não dos programas. O
programa nunca pode ser referido ou de alguma forma, chamado à colação pela AP
para recusar a pretensão dos particulares.
Os programas vinculam as entidades publicas mas não chegam ao ponto de
conformar direito de propriedade privada. Um plano urbanístico pode estabelecer
por ex: regras sobre volumetria, ou edificabilidade, e um programa nunca pode fazer
isso, um programa constituir normas programáticas e conjuntos de diretrizes.
Regente não concorda com a opção do legislador: o conceito fundamental é o
do plano. Contudo temos que nos conformar com os conceitos da legislação tendo que
nos conformar com a distinção entre planos e programas.
Slide 8: aprovado sobre forma de lei da AR o PNPOT.
Slide 9: programas setoriais vs. programas especiais.
Ver artigos do RJIT: 108.º

Aula do dia 26/04/2021


Hoje iremos falar dos contratos de planeamento e dinâmica jurídica dos planos.
Para quinta: resolver casos 6 e 7 e ela extra sexta-feira às 10:00

Contratos de planeamento: exemplos no documento


Saber se os particulares podem ou não admitir normas administrativas?
O poder normativo não é exclusivo do estado, os particulares também têm
poder normativo. Admissibilidade de emissão de regulamentos administrativos dos
particulares.
A propriedade tem como característica que se chama “ir do céu até ao
inferno” – abrange a utilidade económica que é proporcionada pela utilização do sub
solo e do próprio espaço aéreo. Artigo 1344.º, do CC – a propriedade horizontal
distingue-se desta deste artigo.

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Os sujeitos privados também podem aprovar normas jurídicas, mas essas não
tem que ver com as normas administrativas. O fundamento dos regulamentos
administrativos tem que ver com a prossecução do interesse publico. Os privados
podem ou não aprovar regulamentos administrativos?
ETAF – ESTATUTO DOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS E FISCAIS: artigo
4.º/1, alínea d.).
Quais podem ser estas entidades privadas? Exemplo: concessão numa estrada
em que o concecionário exerce os poderes em vez da administração, quanto à sua
natureza é um regulamento administrativo porque prossegue uma finalidade
pública. A partida não há nenhum obstáculo, não há nenhuma proibição quando a
aprovação dos regulamentos pelos particulares deste que existam dois requisitos:
- principio da legalidade;
- regulamento for exercido para prossecução do interesse público.
No caso do planeamento existe uma insusceptibilidade de delegação de
poderes de planeamento (65.º/4, CRP); reserva de administração em matéria de
planeamento territorial; e principio da indisponibilidade da competência (art.
111.º/2, da CRP).
Os particulares podem apresentar propostas de planos à administração – têm
interesse na urbanização numa determinada área e tem o fundamento no principio
da participação dos particulares na gestão da estrutura…. (PowerPoint)
Como é que qualificamos a situação de um particular que apresenta uma
proposta à administração? há três posições:
1. atividade privada:
2. exercício provado da função pública de elaboração do plano
3. depende de o particular se encontrar ou não numa situação qualificada, que
lhe foi conferida por uma norma urbanística ou que resulta de um contrato
administrativo (posição do regente).
É fundamental que haja um ato jurídico – ai ficara encarregado de apresentar uma
proposta de plano.

A assunção da responsabilidade pela elaboração do plano, quer dizer que não


obstante ele ter m interesse na elaboração do plano (porque aumenta um
aproveitamento urbanístico do seu solo) esta obrigado a vinculações jurídico publicas
(a respeito do principio da imparcialidade). O principal problema reside no risco de
captura do interesse público.
Quais são os atos jurídico de habilitação destes poderes: regime jurídico da
reabilitação urbana.

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Contratos para planeamento: hoje um dos princípios fundamentais é o principio


da contratualização, hoje a administração opta por celebrar contratos com
particulares aliciando os para a prossecução do interesse publico.

intercambialidade entre ato e contrato administrativo – zonas em que há


fungibilidade podendo a administração atuar através de ato(jurídico) ou contrato.
“endoprocedimnetal” – dentro do procedimento.
Objeto do contrato – artigo 80.º/1, do RJIGT.
Quanto a sua natureza: caracterizando estes contratos são contratos públicos
‘celebrados por entidades que estão submetidas ao código dos contratos públicos. São
uma parcela de contratos administrativos. Em função do que suceder no caso
concreto podemos ter contratos sobre o exercício de poderes públicos ou contratos de
delegação da tarefa pública de elaboração do plano. Estes contratos são também
normativos.
Devemos concluir que em todas as situações tem que haver procedien….. pode haver
vários particulares a apresentar propostas à administração ou se esse contrato so
pode ser celebrado com um particular porque está predeterminado à partida.
Vamos abrir um procedimento concursal ou escolher logo o sujeito privado? Duas
posições:
- regente: 5.º, CCP – depende da subsunção ou não da situação concreta na
parte final do 5.º/1.
- sujeição vs. isenção de observância das regras da contratação publica sobre
a abertura de procedimentos concursais.

Tutela da posição jurídica do cocontratante privado em caso de incumprimento pela


Administração
- indeminização: apenas das despesas correspondentes aos danos da confiança:
despesas efetuadas pelo sujeito privado com a celebração do contrato e com a sua
concretização, designadamente a contratação de técnicos e a realização de estudos
prévios.

Aula 29/04/2021
Hoje iremos falar da dinâmica dos programas e planos territoriais.

HIPÓTESE PRÁTICA N.º 5

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*O plano diretor municipal de Lagos*

- Entre as versões do plano, houve uma alteração na classificação do uso do


solo. O particular que tinha confiado numa determinada classificação do uso
do solo foi surpreendido com uma classificação diferente. Esse particular
impugnou contenciosamente o plano. O STA anulou o plano. Pois considerou
que havia uma violação que inquinava o plano na sua totalidade. Lagos este
sem plano durante cerca de 15 anos. Isto é o exemplo de algo que não pode
acontecer. O grande princípio que está em causa é, no fundo, o princípio da
proteção da confiança.

- Há (ou não) a necessidade de repetir a decisão pública? Sim. [Se estivermos


perante alterações substanciais.] Não temos a solução firmada na lei. Que tipo
de poder administrativo é exercido pela Administração? Poder discricionário
vs. Poder vinculado. A Administração tem uma grande liberdade, é verdade.
Mas esta também se encontra limitada. As alterações em que o poder é um
poder vinculado, a Administração tem o dever de fazer cumprir essas
disposições legais; deve, durante a elaboração técnica fazer esse trabalho. Mas
pode acontecer que haja erros, lapsos.

- Num momento mais avançado do procedimento, o que deve a Administração


fazer? Está (ou não) obrigada a repetir determinadas fases do procedimento?
Se o poder era vinculado: neste caso, não haverá utilidade em repetir novos
trâmites procedimentais. Se o poder era discricionário: neste caso, não pode
haver as chamadas decisões surpresa. Em qualquer caso, o PROF. admite que
haja situações e situações. Se houver uma situação de pormenor, p.e., o PROF.
admite que não haja necessidade. O PROF. reserva isso para situações que
estejam em causa alterações substanciais. A classificação do solo será, em
princípio, necessariamente uma alteração substancial.

- O princípio da proteção da confiança é um princípio muito importante. A


prossecução do interesse público não pode vencer a todo o custo. E como é que
isto se consegue? Renovando-se os trâmites processuais. O que é que acontece
quando há vícios procedimentais? Se houver um vício de falta de
fundamentação, p.e.: tem de se praticar um novo ato com uma fundamentação
coerente. Trata-se, no fundo, de limpar o procedimento.

- Trata-se de um poder vinculado (ou não)? [A alteração que a assembleia


municipal fez.] Sim.

- Não podemos colocar em causa o princípio da legalidade.

*A questão dos particulares*

- Se a Administração pretende acolher a proposta, ela está obrigada a repetir


o trâmite. Há, aqui, uma violação. O plano está, por isso, inquinado. Se na
sequência da participação houve uma reclassificação, então, temos de admitir

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que os particulares se possam pronunciar. O município devia ter repetido a


fase da discussão pública. E não o fez. Há um dever jurídico para a
Administração: o de consagrar no conteúdo documental e material do plano a
existência das servições administrativas. Na reclassificação do uso do solo:
aqui, há uma necessidade de repetir para acautelar as decisões dos
particulares.

A iniciativa privada na elaboração de planos com base num contrato para


planeamento

- O que está aqui em causa é a consagração do princípio da contratualização


ao nível do planeamento. A atuação unilateral não envolve o exercício de
qualquer tipo de ato administrativo; mas envolve o exercício de poderes de
planeamento. Estes contratos são, no fundo, contratos que acontecem ainda
antes da elaboração do plano. E, por conseguinte, vincularão o modo como é
exercido este poder de planeamento.

Artigo 4.º, n.º 1, al. d) ETAF

Podem entidades privadas aprovar normas administrativas. Desde que haja uma
norma de habilitação. E desde que o regulamento em causa se destine a uma função
administrativa.

Artigo 65.º, n.º 4 CRP

A iniciativa de planeamento urbanístico por particulares

Aqui, aquilo que é fundamental é o seguinte: há uma diferença entre a


iniciativa e a aprovação. Pode um órgão ter a iniciativa e não ter a respetiva
competência para aprovar um ato jurídico e vice-versa. A câmara municipal
não tem competência para aprovar o plano, p.e.

A Administração pode acolher (ou não). Pode considerar que não há


fundamento para acatar essa proposta de plano.

Qual é o tipo de atuação que os particulares adotam?

Aqui, há fundamentalmente duas posições. (1) Atividade privada enquadrada


no exercício do direito de petição regulamentar (artigo 97.º CPA). (2)
Exercício privado da função pública de elaboração do plano; atuação privada
ocorre em lugar da entidade administrativa, em virtude de ter transferido o
exercício da competência pública de elaboração do plano. O PROF. entende
que depende: se o particular se encontra (ou não) numa situação qualificada,
que lhe foi conferida por uma norma urbanística ou que resulta de um
contrato administrativo.

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Quando o particular não goza de uma posição privilegiada: enquadramento


no direito de petição e natureza privada da atuação. Se o sujeito privado
beneficiar de um estatuto qualificado, conferido por um ato jurídico que lhe
atribui a faculdade de elaborar tecnicamente o plano: verifica-se uma
situação de transferência do exercício da competência pública. Neste último
caso, o particular fica encarregado de apresentar uma proposta.

Artigo 81.º, n.º 2 RJIGT

O particular fica submetido aos mesmos deveres a que se encontra adstrita a


Administração. E está obrigado ao cumprimento do princípio da
imparcialidade, p.e.

Atos jurídicos de habilitação do poder de iniciativa dos privados

Artigo 26.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º 307/2009, de 23 de outubro

- A norma é uma norma habilitante.

Vantagens

1. Princípio da contratualização;

2. Contributo para a realização de tarefas administrativas e forma de a


Administração viabilizar empreendimentos de elevado interesse territorial;

3. Melhoria da execução dos planos (…).

Vantagens (para o promotor privado)

1. Programação antecipada das operações imobiliárias e urbanísticas


(aquisição de terrenos, edificação, alienação de imóveis, etc.), que terá de
empreender, sem se ver atingido pela morosidade e incerteza dos
procedimentos urbanísticos;

2. Limitação da discricionariedade de planeamento da Administração: o


contrato antecede e pré-determina em parte o conteúdo do plano.

HIPÓTESE PRÁTICA N.º 6

Artigo 134.º RJIGT

As chamadas medidas preventivas

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Esta figura é uma forma de, tendo já a Administração alterar (ou rever) um
determinado plano, não quer que haja uma alteração da situação de
facto/direito. Nestas situações, o que é que a Administração pode fazer? Pode
aprovar medidas preventivas.

O plano vê a sua eficácia suspensa. Que tipos de medidas preventivas podem


ser adotadas? Estas medidas preventivas podem partir do menos para o mais.
[Elas são adotadas com muita frequência.] Estas medidas preventivas, nos
termos do artigo 136.º RJIGT, são regulamentos administrativos.

*Princípio da proporcionalidade*

Não pode a Administração estabelecer medidas preventivas sem prazo, nem


para um território que não se justifica. Mais: também não pode determinar a
suspensão de todas as atividades.

Medidas preventivas vs. Medidas provisórias

Normas que estabelecem limitações. São normas com um conteúdo negativo. vs.
Normas com um conteúdo positivo.

Artigo 126.º RJIGT

 O artigo prevê a suspensão parcial ou total dos planos.

Vício de forma: o PROF. considera que não existe. Temos apenas um excesso de
forma. Mais: o órgão que intervém é o mesmo. Temos um ato administrativo num
decreto-lei. No limite, teríamos uma irregularidade. Mas isso não invalida o ato.

Vício de procedimento: pois não foram ouvidas as entidades.

O caso não tem elementos suficientes para tomarmos partido.

Temos uma suspensão do plano que é acompanhada de medidas (…). A suspensão


é (ou não) válida? Foi (ou não) cumprido o princípio da proporcionalidade?

Artigo 126.º, n.º 7 RJIGT + Artigo 134.º, n.º 8 RJIGT – Temos de conjugar estas
duas disposições.

Artigo 141.º RJIGT

Deveria ter havido uma autorização prévia da Direção-Geral do Património


(…).

Tem necessariamente de haver um prazo. Não é possível isso acontecer. A


partir do momento em que a suspensão está indexada às medidas preventivas,
o prazo que prevalece é o prazo das medidas preventivas. Isto é, de dois anos
mais um (artigo 141.º RJIGT). O prazo máximo era, por isso, de dois anos. E,
posteriormente, de mais um ano.

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Na falta de fixação de prazo: um ano mais um.

Estamos perante uma violação de lei (artigo 141.º, n.º 1 RJIGT).

Estamos perante um problema de necessidade.

Na reconstrução: talvez não faça muito sentido.

Artigo 2.º, al. c) RJUE

[A questão da ratificação não se coloca atualmente.]

A CM pretende intentar uma ação administrativa contra o Estado. E isso é possível.


Tendo sido adotada a forma de DL e sendo a suspensão um ato administrativo: a CM
tinha de atacar contenciosamente quer o ato, quer as normas contidas nas
medidas preventivas.

Conclusão do PowerPoint da dinâmica dos programas e planos territoriais:


- A revogação pode ter uma dupla natureza:
Simples – eliminar uma norma do ordenamento jurídico e essa não é
substituída por outra;
Revogação-substituição – temos uma norma antiga e uma nova, há uma
sucessão de normas.
Esta distinção é uma distinção que não casa bem com os conceitos que
utilizamos aqui sobre os conceitos de alteração e revisão porque estes podem
envolver tanto uma como outra. O que distingue alteração de revisão é a
circunstancia de uma…. E outra tem um caracter circunscrito ou incide sobre aspetos
de pormenor (alteração).

5. Agora iremos tratar de outro conceito que se prende com a matéria da


suspensão dos planos:
- A suspensão envolve sempre a paralisação por um período de tempo certo
dos efeitos de todo o plano ou programa ou de parte dele, quer em terms
materiais, quer em termos espaciais.
CONCEITO: A suspensão tem sempre que ter um prazo, não pode haver uma
suspensão sem nenhum tipo de prazo.
- no caso de suspensão dos programas territoriais o legislador
não impos nenhum prazo: pode ser um mês ou 5 anos, o prazo será
aferido à luz do principio da proporcionalidade.
- no caso de suspensão de planos (municipais ou intermunicipais) o
que temos é: a lei impõe uma suspensão por impulso do município

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acompanhada de uma adoção de medidas preventivas (que têm uma


natureza cautelar, servem para acautelar alguma coisa, para que não
sejam emitidas licenças ou alterações que possam funcionar como
limite à liberdade de planeamento, assim pretende-se um efeito ou de
proibição total ou de limitação de aproveitamento dos solos. As
medidas preventivas pretendem evitar uma alteração da realidade de
facto ou de direito).
- Artigo 134.º/1 e 4 – é claro a propósito do que se pretende alterar. O
n.º4 explicita como se promove a cautela: ou através de proibição,
cominação, ou sujeito ao parecer vinculativo de um conjunto de ações.
 aqui há discricionariedade de escolha da
administração: pode escolher entre estas medidas preventivas
a que se adequa mais ao caso concreto.
 Discricionariedade é um espaço de direito sujeito a
controlo! Não se confunde com arbitrariedade. É uma
liberdade a ser exercida pela administração de acordo
com os princípios da administração.
5.5. O problema da constitucionalidade de suspensão governamental de
planos municipais:
…. Gravação
E o município recusa-se a fazer a alteração, a tornar compatível as suas
normas com as normas plasmadas no âmbito regional – as normas do plano
hierarquicamente superior prevalecem sobre a do inferior – omissão ilícita. Numa
situação destas o regente considera que faz sentido que o estado pode suspender
invocando que já passou o prazo – é uma forma de fazer cumprir a legalidade
administrativa.
III – A tutela dos particulares perante a dinâmica do planeamento e a
responsabilidade da Administração:
1. as posições dos particulares frente à alteração e à revisão dos planos (por ordem
crescente de relevância);
- A garantia da estabilidade do plano durante o prazo de três anos (art.
124.º, n.º3, do RJIGT): necessidade de demonstração peça Administração do
caracter excecional para justificar a alteração.
- Há outras situações subjetivas em que o particular pode exigir a
alteração ou revisão do plano, ao município: exemplo uma situação em
que existia uma servidão administrativa, o particular tinha uma propriedade
confinante com uma estrada que entretanto foi desativada (a estrada é o
prédio dominante, e o prédio … é o do particular que confina com a estrada).
Se a administração não fez nada o particular pode exigir uma alteração

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simplificada do plano, aqui o particular tem interesse numa alteração ou


revisão;
- Um terceiro tipo de situações prendem-se com as situações em que o
particular é titular de licenças ou autorizações para operações
urbanísticas: segundo o regente o comento da aprovação do plano quando o
plano qualifica o uso do solo e a previsão de edificabilidade ou não é o
momento constitutivo em que alguém ira ter um direito de construir que será
atribuído pela administração;
- princípio geral da irrevogabilidade dos atos constitutivos de direitos,
salvo nas condições definidas no art. 167.º, n.º2, do CPA. Este direito
cede se houverem razoes de interesse publico que justificam a
revogabilidade desses direitos.
- discussão sobre a admissibilidade de revogação de licenças
urbanísticas, como sucede outros OJ:
- a caducidade dos atos de licenciamentos por desconformidade com a
nova disciplina do plano (arts, 171.º/2, do RJIGT e 71.º, do RJUE) –
exemplo: quando um plano diretor municipal vem alterar e põe em
causa a licença – há uma situação de caducidade da licença que tem
que ser acompanhada de um dever de pagamento de uma justa
indemnização. MAS PODE NÃO SER ASSIM: normalmente os municípios
ponderam ou aplicar o plano envolvendo a caducidade das licenças ou
o plano salvaguarda essas situações através de uma expressão
“compromissos urbanísticos” que são uma forma de garantir uma
transição do direito antigo para o direito novo sem por em causa as
situações consolidadas anteriores – também aí há discricionariedade
da CM, pode escolher.
- exemplos de outros atos constitutivos de direitos: informação prévia
favorável e aprovação do projeto de arquitetura (17.º/1, 20.º/1 a 3, do
RJUE).
- Exemplo 1: PIP (2019) -------- INF PRÉVIA FAVORÁVEL
06/20-------- NOVO PDM 12/21.
 Se a administração se comprometeu em junho de
2020 e o particular cumpriu o ano, então a
administração está então vinculada à informação de
junho de 2020. ASSIM, A LICENSA SERÁ APRECIADA À
LUZ DO DIRIETO QUE ESTAVA EM VIGOR EM JUNHO DE
2020. O direito antigo vai se manter e produzir efeitos
porque a informação previa favorável é uma promessa
de um ato administrativo, sendo outro ato constitutivo
de direitos que a administração tem que ponderar, que
vai durar durante um ano.

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- Exemplo 2: inicio do procedimento --------- aprovação do


projeto de arquitetura ---------- novo PDM---------- LICENSA.
O projeto de arquitetura é um chamado ato
endoprocedimental (ato praticado dentro do
procedimento). Este envolve uma posição do município
quanto à conformidade dele com as normas urbanísticas.
O projeto de arquitetura confere um direito ao
particular mas não justifica que o particular tenha
direito à licença, atenção. Se já foi feita uma apreciação
anteriormente nessa parte a aprovação do projeto é
vinculativa para a administração e constitui um direito
na esfera jurídica do particular. Mas se algo não estiver
bem feito a administração pode recusar a licença com
fundamento nisso. O particular tem proteção quanto à
apreciação que foi feita em cede de projeto de
arquitetura não tem direito a que a licença seja
aprovada. O novo PDM que surge entretanto é
indiferente, não afeta em nada a situação do particular.
A licença será emitida de acordo com o plano aquando a
aprovação do projeto de arquitetura pois é esse o
momento constitutivo.
- Por fim temos a garantia de existência das edificações: ou proteção do
existente das edificações (art. 60.º, do RJUE):
- o plano apenas produz efeitos para o futuro, devendo respeitar as
edificações existentes à data da sua entrada em vigor, desde que
realizadas legalmente (garantia da existência passiva);
- o direito do particular a realizar obras de reconstrução ou de
alteração contrárias às normas legais e regulamentos supervenientes
se essas obras não agravarem a desconformidade com as normas me
vigor e se melhorarem as condições de segurança e de salubridade da
edificação (garantia da existência ativa).

NOTA: RJIGT – medidas preventivas e normas provisórias:


- Art. 134.º
- conferem uma discricionariedade à administração para escolher a medida
(124.º). medidas de proibição sujeição ou limitação.
- 134.º, n,º5 – tutela jurídica das posições subjetivas dos particulares.
- no 135.º estão as normas provisórias: em determinadas circunstancias pode
o planeamento já estar tao avançado que justifique que as normas ainda não
entradas em vigor possam aplicar-se à gestão urbanística. Regente: este

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artigo está mal enquadrado, é uma medida que deve ser encarada de caracter
positivo, contrariamente ao 134.º que é de caracter negativo.
- são ambos regulamentos administrativos (136.º) e esta informação será
importante para efeitos de contencioso.
- o 139.º é uma manifestação do principio da proporcionalidade.

Aula do dia 3 de maio de 2021


A URBANIZAÇÃO E A EDIFICAÇÃO
I. As funções da atividade de controlo da edificação e da utilização dos solos:
a.) Policia das edificações ou das construções – função clássica:
- é a verificação numa primeira fase da observância das condições
respeitantes à segurança, à salubridade e à estética pelos projetos de
construções urbanas (controlo preventivo)
. acompanhamento, fiscalização e ….
Coordenadas atuais da função de política das edificações:
-
b.) Garantia da execução do modelo de desenvolvimento urbano
contido no plano urbanístico:
…………………..

Aula do dia 10 de maio de 2021


Caso prático n.º11

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