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Direito do Urbanismo
Aulas teóricas e práticas – Prof. João Miranda
I. CIDADE
O conceito de cidade é estruturante para a compreensão do direito do
urbanismo. O que significa que é preciso perceber que há quem diga que o direito do
urbanismo é o “direito da cidade” mas o regente não concorda com essa opinião.
- O conceito de cidade pode ser usado em dois sentidos:
1. Na aceção de espaço físico, que é a urbe (corresponde ao latim urbs) como
área urbanizada ou transformada com artificialização dos solos.
- Quando falamos em cidade é neste sentido de espaço físico;
- Este é um traço essencial para o conhecimento daquilo que é o direito
do urbanismo, pois o direito do urbanismo não é o direito dos solos
destinados à sua vocação natural. Nessa medida, por exemplo, quando
pensamos nos solos destinados a fins agrícolas o que verificamos é que
CIDADE ENQUANTO esses vão ser estudados por outra disciplina, as suas normas jurídicas
ESPAÇO FÍSICO serão estudadas por outra disciplina, com é também o caso dos solos
florestais.
- Um ponto essencial para podermos falar em cidade, é a cidade
enquanto espaço físico, ou seja enquanto área que foi urbanizada ou
transformada com a artificialização dos solos. Nesta situação, verifica-
se uma distinção de fundo face à realidade humana.
Temos então aqui duas aceções diferentes, sendo na verdade que a aceção que
nos interessa mais é a primeira – a aceção de espaço físico - sem prejuízo de que
quando se fala `no direito à cidade este é também um direito à civitas, não é apenas
um direito a ter um espaço urbano de qualidade é também um direito a participar
nos assuntos da sociedade a tomar partido naquilo que são as grandes questões da
sociedade.
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- NOTA: Do ponto de vista jurídico, às vezes fala-se em cidade quando por exemplo a
AR eleva um determinado aglomerado populacional a “cidade” – o conceito de cidade
hoje está um pouco banalizado, pois em Portugal há imensas, algumas mesmo com
aglomerados populacionais relativamente pequenos. Portanto, do ponto de vista
jurídico também se fala em cidade no sentido de reconhecimento de um determinado
estatuto por parte do poder político de que um determinado aglomerado
populacional tem determinadas características que merece este conceito de cidade e
ser elevando a cidade.
Por contraposição, o conceito de campo é um conceito diferente e muita da
separação que se pode fazer parte desta distinção entre o que é a cidade e o que é o
campo:
- Ora, quando falamos no campo estamos a pensar numa área que mantém
CONCEITO DE a sua vocação natural para atividades agrícolas, pecuárias florestais ou
CAMPO cinegéticas, ou seja o campo por definição não é objeto de
transformação.
Esta distinção também não pode ser adotada em termos muito rígidos, isto
porque quando nós, por exemplo, pensamos em atividades agroindústrias essas
atividades já carecem de equipamentos e outras estruturas que envolvem algum tipo
de artificialização de solos. Esta noção de campo é relativamente circunscrita e que
se prende fundamentalmente como a manutenção de determinadas áreas para
atividades que não envolvem qualquer tipo de artificializam dos solos.
MISCIGENAÇÃO ENTRE
CAMPO E CIDADE
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Nós temos hoje um conjunto de áreas urbanas que podiam ser mais bem
utilizadas para fins agrícolas. Era importanto que se incentivasse o aproveitamento
desses espaços e fazê-lo de forma legal sem ser uma ocupação clandestina e não
autorizada, ou apenas com sentido apurada pela administração pública.
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Esta conceção foi a conceção que prevaleceu em 1928, mas não era a única
visão de ligação entre o campo e a cidade, uma outra visão de um autor inglês,
defendia o conceito de cidade-jardim. O conceito cidade-jardim consiste em haver
longas áreas urbanas ocupadas mas todas dentro de um grande jardim, e portanto
todas com espaços verdes.
A conceção que vingou no início da primeira metade do século 20 foi esta
visão que assenta numa ideia de funcionalismo racional ou seja, deve haver
uma separação clara entre campo e cidade, e para além disso este autor veio
defender que dentro da cidade, a cidade devia ser desenhada com uma separação
estanque entre aquilo que são as diferentes funções ou usos do solo. Na
verdade hoje em dia esta conceção parece-nos estranha, mas o que ela dizia dentro
do espaço da cidade era que deveria haver:
1. Uma área para as pessoas residirem; - Não havendo comunicação entre
cada área, ora cada área
2. Uma área para as pessoas trabalharem; correspondia a um espaço próprio,
3. Uma área de lazer. tendo cada uma função própria.
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cada bairro devemos puder encontrar o solo que nos permita residir, ter
acesso ao comercio e serviços, permita que haja locais de trabalho e dotado de
infraestruturas e de equipamentos coletivos.
- Esta visão hoje está completamente ultrapassada.
Se nós pensarmos no conceito de cidade – de espaço físico de urbe – a verdade
é que presentemente não é mais possível estudar a cidade, tendo como escopo
exclusivo o ordenamento racional da urbe ou cidade – esta conceção hoje está um
pouco ultrapassada porque o que aqui diz é que “o que é estudado pelo
urbanismo é a cidade e em concreto, as normas urbanísticas há-de ser as
normas que asseguram este ordenamento reacional da urbe ou da cidade.
Hoje é cada vez mais difícil demarcar aquilo que são as fronteiras da cidade, é
difícil aquilo que são as fronteiras muitas vezes até sobre o que é o solo urbano e o
que é o solo rural, é difícil estar a estabelecer em particular que o espaço urbano se
distingue de outros espaços territoriais. Isto não é necessariamente bom – é apenas
uma constatação da realidade, porque efetivamente podemos ter uma situação em
que a cidade se desenvolveu para uma área excessiva, quando nós olhamos hoje para
o território de Portugal continental verificaremos que grande parte da área está
urbanizada – temos uma urbanização quase se estende e que no fundo não é fácil
distinguir entre aquilo que são áreas urbanas e áreas não urbanas, é quase que se
pode falar num contínuo, e o problema é que isso normalmente traduz-se na
chamada edificação dispersa, que implica a necessidade de construção de
infraestruturas e de equipamentos e a prestação de serviços públicos urbanos – que
envolve um custo. NOTA: encargos da urbanização – conjunto de encargos que
resultam da própria existência da urbanização. A cidade implica custos que
normalmente assumidos pelos poderes públicos, outras vezes objeto de transferência
para os cidadãos mas mutas vezes isto redunda no problema da edificação dispersa.
Esta noção de cidade enquanto espaço delimitado geograficamente e
facilmente distinguível face aos demais espaços territoriais, parece
encontrar-se em crise, em particular porque as respetivas fronteiras são cada
vez menos passíveis de demarcação.
Olhando para a nova carta de Atenas, porque os urbanistas voltaram a
encontrar-se 80 anos depois, em 2003, foi reconhecido o seguinte: “a cidade do século
XXI torna-se cada vez mais difícil de discernir, porque as atividades humanas, que se
localizavam nas cidades se estenderam e espraiaram para os espaços que os rodeiam,
alastrando-se para os espaços rurais e espaços anteriormente naturais.”
- Isto é uma verificação, não é necessariamente positivo (segundo o Regente
João Miranda). Contudo o impacto desta afirmação é que nos vamos ter que
olhar para estes espaços e procurar desenhar políticas que consigam uma
articulação e harmonização no funcionamento entre aquilo que são as
tradicionais áreas urbanas consolidadas e aqueles espaços que anteriormente
eram espaços rurais ou espaços naturais. É preciso olhar no ponto de vista
global e desenhar estas politicas do ponto de vista global.
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Atualidade:
“Cidade de risco”: expressão inspirada na sociedade de risco de ULRICH BECK.
Prevalência de um urbanismo qualitativo sobre um urbanismo quantitativo: a sua
tradução na reabilitação urbana e no combate ao fenómeno da sua expansão urbana.
O conceito de risco foi querido em Portugal e era o risco estava ligado ao
desconhecido; e o perigo pressupõe uma manifestação atual ou eminente de algo,
sendo assim o segundo mais real do que o primeiro pois o risco é como se fosse um
perigo desconhecido.
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A cidade de risco é importante porque cada vez mais as pessoas vão viver nas
cidades e estas são o local onde acontecem muitos dos riscos para a atividade
humana. Os comportamentos de risco têm uma manifestação muito mais real ao nível
da cidade de risco.
Este risco tem que ver com um outro problema: o das alterações climáticas.
Encontramos também em outros aspetos nomeadamente: a cidade de lisboa estar
construída num âmbito onde existe uma falha tectónica, o que faz com que seja muito
propício à ocorrência de sismos e terramotos, ou a praça de são marcos em Veneza
completamente alagada.
A segunda ideia tem que ver com um urbanismo qualitativo por oposição ao
urbanismo quantitativo: estes conceitos exprimem a ideia de que o desenvolvimento
urbano não deve ser feito mais através da expansão urbana com ocupação crescente
de áreas que são áreas de solos que estavam destinados a outras atividades humanas
– pelo contrário, nós devemos sim fazer um investimento ao nível da reabilitação e
reconversão das áreas urbanas existentes.
- Urbanismo qualitativo é um urbanismo com um investimento ao
nível da reabilitação urbana e não de alargamento dos perímetros
urbanos e da existência cada vez maior do fenómeno da expansão
urbana.
- Quando as leis estabelecem a reclassificação do solo como solo
urbano é excecional dá-se tradução a esta ideia de contenção urbana e
de prevalência pelo investimento ao nível do urbanismo qualitativo.
Por outro lado temos que hoje os municípios tem mais competências, mas e
contrapartida há um conjunto de problemas que extravasam o âmbito estritamente
local e que carecem de respostas a uma escala intermunicipal, da área
metropolitana, ou escala regional – significa que quando estudarmos os instrumentos
de gestão territorial não vamos estar apenas os urbanísticos vamos também estudar
alguns que se prendem com outra politica publica que é a de ordenamento do
território, que pode ter uma tradução ao nível local como supralocal, quando falamos
em supralocal pode ser um âmbito de área metropolitana, regional e até ao nível do
âmbito europeu.
Iremos ver em que medida é que os instrumenteis urbanismos, nomeadamente
o plano diretor municipal que é o instrumento principal que iremos estudar, têm que
se articular com os instrumentos do ordenamento do território.
A quarta ideia é a de: ambiente urbano (conceito consagrado na CRP, no art.
66.º) procura uma fusão entre aquilo que são preocupações urbanísticas com
preocupações ambientais, há hoje um conjunto de preocupações ambientais que se
fazem sentir ao nível da própria cidade, pois as cidades são centros altamente
poluentes e que geram uma perda de qualidade de vida, em muitos casos.
Uma outra dimensão tem que ver com a garantia do direito à habitação, que é
um direito social que se prende com a própria garantia da dignidade social das
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NOTA:
- Medidas de mitigação: atenuação ou amortecimento de determinados fenómenos;
- Medidas de adaptação: procuram mudar radicalmente o próprio desenvolvimento
urbano;
- Cidade digital: está muito ligada à questão das smart cites – levantam problemas
ao nível da segurança pessoal. Descarregando determinadas aplicações envolve um
constrangimento da nossa liberdade.
- Mobilidade urbana: as cidades devem ter, devem ser não só urbanas mas também
metropolitanas.
- Regente é contra qualquer tipo de “guetizaçao social” – seja pelo lado dos mais
ricos ou mais pobres (ideia de mescla social em que há pessoas com diferentes
recursos económicos que vivem na mesma zona e não uma segregação da cidade em
função de rendimentos.
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mobilidade urbana, ora nessa situação temos que vai haver uma vantagem e
valoração da propriedade que vai passar a ser servida por essa linha
metropolitana; contudo podem haver também externalidades positivas e em
muitos casos, e o que acontece é que tem que haver instrumentos tributários
(muitas vezes + impostos = + valias) que permitam que a administração que
foi quem realizou o investimento em nome de todos possa impedir que sejam
apenas alguns a beneficiar desse investimento realizado, através de
instrumentos de tributação dos que são beneficiados pela intervenção pública,
ou seja para que revertam novamente para a comunidade as mais valias
geradas pelo desenvolvimento urbano.
5. O estado deve adotar políticas urbanas positivas para melhoria das
condições de vida dos cidadãos – é particularmente evidente ao nível da
política da habitação. As vezes pensa-se apenas no dever de o estado promover
um parque habitacional, construir habitações, mas para além disso muitas
dessas edificações não foram construídas tendo em vista a diminuir as
alterações térmicas e de diminuição da temperatura.
6. Outra ideia fundamental é a de que a regulação pública é fundamental
para a estabilidade social, em especial para o funcionamento do mercado por
reduzir a incerteza das relações sociais e conferir segurança jurídica aos
cidadãos;
7. A regulação publica é essencial para a sustentabilidade do financiamento
das infraestruturas urbanísticas. Fazer-se cidade é algo que implica um custo
ou um encargo, o que significa que assim sendo não podem ser só os poderes
públicos a assumir os encargos, os promotores das operações urbanísticas têm
que comparticipar no financiamento destas infraestruturas urbanísticas.
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- a expressão estado neste art. É diferente da que consta do art. 65.º, por
exemplo: neste art. 9.º não é enquanto PC de base territorial, é sim no sentido
amplo compreendendo todos os poderes públicos, ora enquanto comunidade,
no sentido de poderes públicos.
- utilização da expressão do correto ordenamento do território: legislador
utilizou esta expressão englobando o urbanismo? Ou enquanto objetivo de
uma diferente política publica que é a do ordenamento do território?
- regente: sentido diferente do que consta do 65.º/1, al. z.) em que já acaba por
se falar em ordenamento do território do urbanismo. Aqui há de se entender
como ordenamento do território abrangendo também o urbanismo.
- este conceito de ordenamento do território confundido com o urbanismo: art.
45.º este já fala em urbanismo diferente do ordenamento do território assim
como no 165.º/1, al. z.) – a CRP pretende diferenciar as duas realidades.
TEMA: objeto do direito do urbanismo; art. 65.º, da CRP: forma como a CRP
trata o urbanismo e a habitação.
O n.º4 e n.º5 estão virados essencialmente para o urbanismo, e os outros são
para a política da habitação.
Aqui temos que este 65.º, nº4 tem que ver com a referencia a estado, regiões
autónomas e autarquias locais. Parece aqui, ao regente, que estando todas estas
entidades agregadas, que neste arrigo o legislador constituinte pretendeu falar em
estado, regiões autónomas e autarquias locais enquanto pessoas coletivas de base
territorial. O que temos aqui na verdade é um aspeto importante. O Estado, regiões
autónomas e autarquias locais aparecem aqui como pessoas coletivas de base
territorial distintas umas das outras. Este aspeto depois suscitou a questão e perceber
como delimitamos o espaço de relação de cada uma destas pessoas coletivas.
A existência de uma reserva de administração publica na aprovação das regras de
ocupação, uso e transformação do solo (competência indelegável em particulares,
art. 65.º, n.º4, CRP) – situações que o TC e a doutrina tem dito de forma clara esta
competência para definir as regras de ocupação, uso e transformação do solo é uma
competência exclusiva da AP.
NOTA: Esta reserva de administração publica é em sentido formal e material:
ora a partir do momento em que o art. 65.º/4 o legislador estabelecer “estado,
RA e AU) quis vedar que as entidades administrativas privadas a possibilidade
destas aprovarem planos, o legislador quis reservar à administração publica
em sentido formal a privação destes planos– REGENTE.
Outra é a reserva de planeamento territorial: por um lado há matérias
que não podem ser reguladas a montante pelo legislador, têm que estar no
instrumento de planeamento territorial – cabe à administração no caso
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No direito do urbanismo tem que ser também assim: pois onde há maior
discricionariedade mais terá que haver procedimentalização.
O artigo 65.º, no seu n.º4, que diz respeito ao urbanismo, quando se utiliza a
expressão “ e procedem às expropriações dos solos que se revelem necessárias à
satisfação de fins de utilidade pública urbanística”: aqui discute-se saber se o
legislador constituinte pretendeu fechar dizendo que a única forma de
prossecução de utilidade urbanística é através da expropriação ou se permite que
hajam outras formas para alcançar estes fins de utilidade pública urbanística?
- A questão foi discutida em 2009 no acórdão em que se discutiu no
âmbito da aprovação da autorização legislativa ao governo para aprovar
o regime da reabilitação urbana, a possibilidade de contemplar o regime
da venda forçada.
- Neste caso temos que, existindo um interesse publico a administração
pode decretar a utilidade pública de uma expropriação produzindo-se
consequentemente a transmissão de um direito de propriedade da esfera
do particular para a esfera da administração – mecanismo clássico de
expropriação por utilidade pública para satisfação de um determinado
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classificações jurídicas. Acontece que esta visão, segundo o Regente não é correta pois
descura desde logo um aspeto: o direto à habitação esta muito ligado ao próprio
princípio da dignidade da pessoa humana (sendo este o principio fundamental da
CRP). Quando se fala da dignidade da pessoa humana esta é também uma dignidade
social – implica a satisfação de direitos sociais. Por outro lado, é preciso dizer que a
existência de direitos fundamentais com estrutura complexa significa que n podemos
dizer que o direto à habitação é um direito social e assim não beneficia do regime do
art 18.º, da CRP. Acresce também que o direto à habitação não é um direito
fundamental de natureza análoga a direitos, liberdades e garantias.
Acontece que mais uma vez esta conceção descra um aspeto fundamental: é
que quando olhamos para determinados direitos fundamentais, nós não podemos
fazer uma interpretação da CRP isoladamente, não podemos isolar direitos
fundamentais não procurando estabelecer relações que se podem fazer entre direitos
fundamentais. Já falamos por exemplo do direito de participação (65.º/5) que tem
que se ligar também aos direitos dos cidadãos perante a administração pública
(consagrados no 266.º, da CRP)
- Regente critica completamente um enclausuramento do direito à
habitação no âmbito da categoria de direitos sociais: não é possível
olhar para ele como sendo apenas um direito social.
Ligada à ideia da significado social encontra se esta ideia de o direto à
habitação ter uma proximidade com o princípio democrático e igualdade
material no sentido de dignidade material entre os cidadãos (tratar de forma
igual o que é igual e desigual o que é desigual) .
Um aspeto que melhor demonstra só problemas do acantonamento do direto à
habitação : tem que ver com a circunstancia de o direto à habitação estar ligado a
outros direitos fundamentais:
- Art 65.º/1, CRP: o destinatário desta norma é o estado legislador que deve
legislar para assegurar a concretização desta direito fundamental e é também
a administração publica (quer estado enquanto PC que autarquias locais). A
segunda parte deste artigo: a habitação é a esfera privada pertencente a
uma pessoa, o âmbito impenetrável.
- Olhando para este artigo nesta dimensão o direto à habitação é um direito
liberdade e garantia, ou seja, temos aqui neste n.º1 uma dimensão estrutural
de direito liberdade e garantia. – aceitando a distinção entre direitos
liberdades e garantia e direitos sociais não há conformação do estado quando
legisla sobe as técnicas de constrição adotadas, etc. Hoje, já não seria
admissível haver construções com quartos interiores, por exemplo. Temos aqui
a preocupação de assegurar condições para garantia do que está no
artigo. A habitação é um espaço de autonomia e de desenvolvimento de
direitos pessoais.
Este direito tem uma dimensão de direito liberdade e garantia beneficiando
do regime e tem uma outra de dimensão social em que está dependente das
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significou que houve uma perda de população, uma situação em que toda a classe
média ficou impedida do acesso à habitação, e a questão é que tipo de instrumentos
urbanísticos podem ser adotados? Devemos ter mais regulação pública ou mais
mercado?
O direito à habitação está ligada à mobilidade nacional: significa que
efetivamente nestas situações o direito à habitação é importante para assegurar essa
mobilidade. Quando se fala em aquisição de solos por parte da administração não é
porque haja um interesse que o estado seja proprietários, nestas situações como o
mercado mobiliário presta à criação de oligopólios, para combater esse fenómeno de
especulação mobiliaria é necessário que a administração disponha de instrumentos
urbanísticos que devem passar por uma aquisição sistemática de habitação.
Os instrumentos urbanísticos não são neutros, as politicas publicas têm
sempre um objetivo. O plano urbanístico pode se rum instrumento adequado assim
como um controlo prévio de operações urbanísticas pois a administração tem a
possibilidade de estabelecer limitações à forma como são desenhados os focos
habitacionais; e outro é a politica dos solos: recorrendo à lei da oferta e procura, o
mercado de solo é imperfeito (há muitas assimetrias), é necessário que haja algum
tipo de intervenção sendo nessa linha que o regente defende que é possível e desejável
que haja uma intervenção da administração no mercado dos solos para que haja uma
baixa dos preços da habitação. É preciso também que a dm influencie ao nível das
habitações devolutas que não está a ter a sua habitação normal.
Nota: a utilização de instrumentos de politica fiscal: seja incentivo ou
repressivo/sancionatório: é preciso fazer combinação de todos estes instrumentos
urbanísticos para alcançar o que é desejável em nível de política publica urbanística.
Quando se fala na garantia do direito a habitação não se quer dizer que toda a
habitação deve ser publica. Este art 65.º tem elasticidade para se adaptar a modelos
diferentes (n.º2, alíneas c.) e d.), e n.º3, da CRP).
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urbanismo mas não é isso. Quando pensamos nas relações contratuais entre os
técnicos que auxiliam com os projetos e a atividade da construção e os proprietários
(ex: proprietário contrata empreiteiro) como é que qualificaremos as normas que
regulam relações entre ambos (proprietário e construtor; proprietário e
empreiteiro)?
- Essas normas que estabelecem regras sobre responsabilidade e garantias são
normas de direito privado da construção e não do urbanismo. Aí as relações
são jurídico-privadas sendo as normas de direito privado. O mesmo acontece
ao nível do imobiliário, porque o imobiliário também se presta à celebração de
negócios jurídicos entre aqueles que estão a comprar e a vender no âmbito do
processo imobiliário.
- Não há direito privado do urbanismo, o que muitas vezes se chama assim
são áreas que correspondem ou a direito privado da construção ou do
imobiliário.
- O regente defende a autonomia pedagógica e cientifica do direito do
urbanismo.
A grande preocupação de uma politica de ordenamento do território e
que os recursos estejam distribuídos de forma equitativa e harmoniosa por
todo o território, ora uma distribuição dos recursos humanos, sociais culturais
e ambientais pelo espaço local ou supra local, que os recursos não estejam
todos concentrado numa determinada área do território.
Há uma aproximação muito grande entre a politica do ordenamento
do território e a política do urbanismo, e isso vê-se desde logo com a
circunstância de haver linhas de continuidade – iremos ver isso a propósito do
tema dos programas e planos – há relações que se estabelecem entre os
diferentes instrumentos de gestão territorial, os chamados programas
territoriais condicionam os planos territoriais ou urbanísticos havendo uma
linha de continuidade entre eles.
Podemos ter até instrumentos qualificados apenas como urbanísticos,
como o caso do PDM, e que acabam por transcender objetivos do urbanismo e
que podem ser ao mesmo tempo objetos de ordenamento do território – o
mesmo instrumento pode prosseguir objetivos de mais do que uma politica.
O que é essencial ao nível do direito do urbanismo e que o separa do
direito do ordenamento do território, é que o direito do urbanismo procura
assegurar fundamentalmente o ordenamento racional do solo urbano através
da definição do respetivo regime do uso do solo – o ordenamento racional do
solo é diferente de assegurara a distribuição harmoniosa dos diferentes
recursos sobre o espaço.
O direito do urbanismo tem uma proximidade também grande como o
direito do ambiente, contudo neste ultimo há uma dificuldade que se prende
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Para segunda: ler os artigos 9.º a 36.º da lei de bases gerais da política
publica dos solos e do urbanismo, + artigos iniciais do CC a propósito do direito de
propriedade.
TEMA DE HOJE: A FUNÇÃO OÚBLICA URBANÍSTICA: FONTES DO
DIREITO DO URBANISMO; A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DO URBANISMO.
Fontes de urbanismo: a CRP enquanto lei fundamental é a principal fonte –
artigos com relevância para o direito do urbanismo: 9.º (estabelece que assegurar o
correto ordenamento é uma das suas funções), 62.º, 65.º (trata das matérias da
habitação e do urbanismo), 66.º (sobre ambiente que também trata de matérias
relacionadas com o urbanismo), 165.º (estabelece que as bases do ordenamento do
território do urbanismo são de reserva legislativa do parlamento – alínea c.)).
Olhando para a legislação temos que grande parte dela é legislação de
desenvolvimento destas leis de bases. As fontes internacionais e europeias podem ou
não ser fontes de direito urbanismo?
- Divergência doutrinária:
a.) A professora Maria da Glória Garcia tem uma posição negacionista de
um direito de urbanismo supranacional, ora diz que os problemas de direito
do urbanismo têm uma escala nacional não sendo necessário convocar
normas europeias.
b.) O Professor Regente não concorda e faz criticas à posição da professora:
1. Hoje existe cada vez mais um direito do urbanismo transfronteiriço –
a separação entre estados não significa a não existência de problemas
comuns;
2. Há uma necessidade de cooperação administrativa interfronteiriço –
instrumentos adotados de um lado influenciam o outro e a
possibilidade de haver cooperação entre os dois lados.
- hoje quando atoamos um conjunto de opções ao nível do
urbanismo estas tem que se inequivocamente se repercutir em
termos de outros estados. Existindo um direito transfronteiriço,
tem que se concluir que não é possível vir dizer que o urbanismo
se desenvolve exclusivamente à escala local.
3. Outra critica tem que ver com o facto de haver um conjunto de
normas europeias de outras áreas científicas que se repercutem sobre o
direto do urbanismo – há assim uma ingerência sobre as normas
urbanísticas.
- os estados não tem sido adeptos de transferir para a esfera
internacional um conjunto de matérias que conseguem regular
internamente – neste ponto o regente concorda com a
professora.
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Incompetência relativa
Anulável
Artigo 65.º, n.º 5 CRP: estamos perante uma ofensa a este preceito?
*Princípio da tipicidade*
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Também não se faz nenhuma menção ao parecer final da CCDR que, apesar de
não ser vinculativo, é, contudo, obrigatório. Aqui também há um vício de
procedimento.
O que são, no fundo, interesses difusos? São interesses sem dono. O interesse
difuso é uma refração individual do interesse público. Para que nós
reconheçamos que alguém tem legitimidade (…), tem de existir
necessariamente um elemento de conexão. Qualquer morador de Proença,
tratando-se em concreto do interesse local, poderia intervir. Elemento de
conexão: residência.
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Os sujeitos privados também podem aprovar normas jurídicas, mas essas não
tem que ver com as normas administrativas. O fundamento dos regulamentos
administrativos tem que ver com a prossecução do interesse publico. Os privados
podem ou não aprovar regulamentos administrativos?
ETAF – ESTATUTO DOS TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS E FISCAIS: artigo
4.º/1, alínea d.).
Quais podem ser estas entidades privadas? Exemplo: concessão numa estrada
em que o concecionário exerce os poderes em vez da administração, quanto à sua
natureza é um regulamento administrativo porque prossegue uma finalidade
pública. A partida não há nenhum obstáculo, não há nenhuma proibição quando a
aprovação dos regulamentos pelos particulares deste que existam dois requisitos:
- principio da legalidade;
- regulamento for exercido para prossecução do interesse público.
No caso do planeamento existe uma insusceptibilidade de delegação de
poderes de planeamento (65.º/4, CRP); reserva de administração em matéria de
planeamento territorial; e principio da indisponibilidade da competência (art.
111.º/2, da CRP).
Os particulares podem apresentar propostas de planos à administração – têm
interesse na urbanização numa determinada área e tem o fundamento no principio
da participação dos particulares na gestão da estrutura…. (PowerPoint)
Como é que qualificamos a situação de um particular que apresenta uma
proposta à administração? há três posições:
1. atividade privada:
2. exercício provado da função pública de elaboração do plano
3. depende de o particular se encontrar ou não numa situação qualificada, que
lhe foi conferida por uma norma urbanística ou que resulta de um contrato
administrativo (posição do regente).
É fundamental que haja um ato jurídico – ai ficara encarregado de apresentar uma
proposta de plano.
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Aulas teóricas e práticas – Prof. João Miranda
Aula 29/04/2021
Hoje iremos falar da dinâmica dos programas e planos territoriais.
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Podem entidades privadas aprovar normas administrativas. Desde que haja uma
norma de habilitação. E desde que o regulamento em causa se destine a uma função
administrativa.
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Vantagens
1. Princípio da contratualização;
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Esta figura é uma forma de, tendo já a Administração alterar (ou rever) um
determinado plano, não quer que haja uma alteração da situação de
facto/direito. Nestas situações, o que é que a Administração pode fazer? Pode
aprovar medidas preventivas.
*Princípio da proporcionalidade*
Normas que estabelecem limitações. São normas com um conteúdo negativo. vs.
Normas com um conteúdo positivo.
Vício de forma: o PROF. considera que não existe. Temos apenas um excesso de
forma. Mais: o órgão que intervém é o mesmo. Temos um ato administrativo num
decreto-lei. No limite, teríamos uma irregularidade. Mas isso não invalida o ato.
Artigo 126.º, n.º 7 RJIGT + Artigo 134.º, n.º 8 RJIGT – Temos de conjugar estas
duas disposições.
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artigo está mal enquadrado, é uma medida que deve ser encarada de caracter
positivo, contrariamente ao 134.º que é de caracter negativo.
- são ambos regulamentos administrativos (136.º) e esta informação será
importante para efeitos de contencioso.
- o 139.º é uma manifestação do principio da proporcionalidade.
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