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Prof. Georges Humbert - Direito Ambiental e Urbano: O Estatuto


da Cidade, a função socioambiental da propriedade e os
instrumentos urbanísticos de sua efetivação

Publicação Direito Ambiental e Urbano: O Estatuto da Cidade, a função


socioambiental da propriedade e os instrumentos urbanísticos de sua efetivação
Direito Ambiental e Urbano: O Estatuto da Cidade, a função socioambiental da
propriedade e os instrumentos urbanísticos de sua efetivaçãoData de Publicação: 14/01/2010
Humbert & Humbert Advogados Associados - Advocacia Ambiental Urbanística

O Estatuto da Cidade, a função socioambiental da propriedade e os instrumentos urbanísticos de sua efetivação.

Georges Louis Hage Humbert


Advogado. Doutorando e mestre em Direito Estado pela PUC-SP. Professor assistente da especialização em Direito Administrativo da PUC-SP.
Autor de ?Direito Urbanístico e função socioambiental da propriedade imóvel urbana?, publicado pela Editora Fórum. Contato:
glhumbert@hotmail.com
Resumo: O presente estudo versa acerca do princípio da função social da propriedade, e sua decorrente função socioambiental. Aborda a
importância deste princípio dentro do atual contexto do Direito Urbanístico, especialmente no que se refere à fundamentação de novos e valiosos
instrumentos urbanísticos trazidos pelo Estatuto da Cidade como meio de proteção ao meio ambiente urbano.

Palavras-chave: Direito Urbanístico e Ambiental. Função socioambiental da propriedade. Estatuto da Cidade. Instrumentos de proteção ao meio
ambiente urbano.

Sumário: 1 ? Considerações preliminares; 2 ? Algumas linhas sobre os princípios jurídicos; 3 - O Direito Urbanístico: conceito, objeto e sua
umbilical ligação com o Direito Ambiental; 4 ? A tutela do meio-ambiente Urbano; 5 ? O Estatuto da cidade e a proteção ao meio ambiente
como diretriz geral; 6 ? O Estatuto da Cidade e a função socioambiental da propriedade: proteção ao meio ambiente e instrumentos de
concretização/efetivação; 7 ? Conclusões;

1 ? Considerações preliminares.

O presente estudo versa acerca do princípio da função social da propriedade, sua decorrente função socioambiental e consequente dever de
proteção ao meio ambiente urbano.

Para tanto, abordar-se-á a importância deste princípio dentro do atual contexto que abarca o Direito Urbanístico, ante do moderno fenômeno da
urbanização e hodierna questão da evolução e desenvolvimento das cidades, com destaque para os novos e valiosos instrumentos urbanísticos,
trazidos pelo Estatuto da Cidade e que, certamente, são importantíssimos meios a viabilizar e possibilitar a concretização do Direito Urbanístico.

2 ? Algumas linhas sobre os princípios jurídicos.

Tema recorrente na dogmática jurídica moderna é a discussão acerca da natureza das normas jurídicas e suas espécies. Apresentam-se, hoje,
mediante novos rótulos, teses supostamente inovadoras, que tentam comprovar equívocos da doutrina positivista do direito, mas que, em rigor,
em nada alteram o que já foi exaustivamente abordado. Uma destas questões é a existência das espécies normativas regras e princípios .
O presente estudo não comporta maiores divagações acerca da matéria. Assim sendo, para os fins a que se propõe, cumpre afirmar que os
princípios jurídicos são normas jurídicas. Possuem caráter prescritivo. São normas dotadas de alto grau de abstração, generalidade e forte carga
valorativa, valores estes incorporados pelo sistema jurídico, portanto, internos, compreendidos pelo sistema. Estabelecem deveres, positivos e
negativos, faculdades, obrigações. Servem à interpretação e integração do Direito, conformando o sistema.

3 - O Direito Urbanístico: conceito, objeto e sua umbilical ligação com o Direito Ambiental.

O Direito Urbanístico é ramo do Direito relativamente novo. Com efeito, somente após a década de setenta é que os juristas passaram a se
dedicar mais detida e especificamente sobre a matéria, desencadeando uma crescente e qualitativa elaboração doutrinária e legislativa, a qual
alcançou, no Brasil, seu ponto máximo com a promulgação do Estatuto da Cidade.

Importante frisar-se, desde logo, que o Direito Urbanístico tem como objeto o estudo das normas ? regras e princípios - que visam ordenar as
cidades. Dedica importante atenção e concentra especiais esforços aos direitos e limitações inerentes à propriedade urbana, sua regulação e
organização, indispensável diante do premente fenômeno da concentração urbana iniciado a partir das revoluções burguesas e industriais
ocorridas na Europa Ocidental e logo refletidas no Brasil. Surge, então, como disciplina fundamental para consecução de uma urbe que permita
aos citadinos uma vida saudável e feliz.

É, destarte, o ramo do Direito Público, que diz respeito ao estudo das normas jurídicas que regulam e disciplinam os espaços habitáveis, sejam
eles urbanos ou rurais, visando a plena consecução das funções sociais da cidade - habitação, trabalho, lazer e circulação.

A despeito da dicotomia entre Direito Público e Privado, bem como de sua subdivisão em diversos ramos relativamente autônomos, sabe-se que
a unidade é um dos elementos essenciais a existência e funcionamento de um sistema, sendo esta premissa plenamente aplicável ao sistema
jurídico. A sua separação em ramos e sub-ramos não é estanque e, em rigor, atende especialmente a uma utilidade didática.

Por isso mesmo é que a ligação entre os diversos ramos do Direito é da sua essência.

A relação entre Direito Urbanístico e Ambiental é irrecusável. Não só por integrarem um mesmo sistema normativo e terem como fundamento
último de validade uma única norma fundamental, mas também pela identidade entre seus objetos de estudo e existência de princípios correlatos.

Não restam dúvidas que um mesmo princípio pode ser fundamento a mais de um ramo do Direito. Principalmente quando se trata de ramos
afins, como é o caso do Direito Administrativo, Ambiental e Urbanístico. Estas são searas multidisciplinares do Direito. Daí porque um ou mais
dos seus princípios podem incidir, simultaneamente, em diversos ramos do Direito.

Destaca-se, neste sentido, o dever de proteção/efetivação de um ambiente sadio dentro dos conglomerados urbanos mediante o cumprimento de
obrigações fundadas, em última instância, no princípio da função social da propriedade, comum a estes ramos do Direito. Trata-se do princípio
jurídico da função socioambiental da propriedade urbana.

4 ? A tutela do meio-ambiente Urbano

Já foi dito que o Direito Urbanístico é o ramo da ciência do Direito, que tem por objeto o estudo e concretização nas normas ? regras e
princípios, que visam à ordenação as cidades. Já o Direito Ambiental, pode ser conceituado como ?o complexo de princípios e normas
coercitivas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global,
visando à sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações? (MILARÉ, 2000: 109).

Entretanto não há que se falar em ordenação da cidade e proteção ao meio ambiente ? ao menos no que tange ao meio ambiente urbano-, de
forma isolada, ou seja, mediante atuação que não seja multidisciplinar. Há, como demonstrado supra, entrelaçamento entre estes objetos.

Daí, saltar aos olhos a salutar relevância do estudo transdisciplinar ora proposto. Afinal, o meio ambiente urbano é ?a roupagem com que as
cidades se apresentam a seus habitantes e visitantes. Será tão mais atraente quanto mais constitua uma transformação cultural da paisagem
natural do seu sítio, e tanto mais agressiva quanto mais tenham violentado a paisagem natural, sem acrescentar-lhe valor humano algum?.
(SILVA, 2006, p. 307)

Neste contexto, o conhecimento e debate acerca do conteúdo do princípio da função social da propriedade, em sua face ambiental, do Estatuto da
Cidade e dos seus instrumentos, sobrelevam-se.

Pelo princípio da função social da propriedade, depreende-se que somente será legítima a propriedade que atender aos fins coletivos. A
propriedade individual, voltada exclusivamente para os interesses individuais e egoísticos do proprietário não é mais concebida diante da ordem
jurídica vigente. Na lição do Ministro Eros Roberto Grau, "a propriedade dotada de função social é justificada pelos seus fins, seus serviços, suas
funções" (GRAU, p. 238).

Com efeito, a função social da propriedade mereceu destaque especial na nossa Carta Magna. O novo texto constitucional, em contexto geral,
imprime uma latitude sem precedentes aos direitos sociais básicos, dotados agora de uma substantividade nunca conhecida nas Constituições
anteriores.
Assim, a propriedade passa a ter nova conotação. Transcende do individualismo exarcebado dos séculos passados, para também resguardar, na
forma da lei, o interesse coletivo em prol bem comum.

Portanto, ao se relacionar diretamente com o direito fundamental à propriedade, impondo determinados comportamentos aos detentores deste,
possui, assim como este, status de direito fundamental (art. 5, XXIII). Ademais, passa a ser princípio que rege a ordem econômica (art. 170, III)
e, ao lado da função social da cidade, é a base normativa onde deve repousar toda a política urbana (art. 182).

E por imposição constitucional a função social da propriedade é cumprida quando há o seu aproveitamento racional e adequado, o que inclui a
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente em dada propriedade, dando ensejo ao denominado
princípio da função socioambiental da propriedade. Estamos diante de um princípio jurídico, implícito, extraível do ordenamento em vigor,
especialmente dos arts. 182, 184, 186 e 225 da Carta Política.

Desta forma, a propriedade apenas cumprirá sua função social quando também estiver em consonância ao quanto preceitua o art. 225 da
Constituição.Daí porque o direito de propriedade deve ser exercitado em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais, e de modo
que sejam preservados, em conformidade com o estabelecido em lei, a flora, fauna, das belezas naturais, o equilíbrio ecológico e proteção ao
patrimônio histórico e artístico, evitando-se, sempre, a poluição do ar e da água, o que se aplica plenamente às propriedades situadas nas zonas
urbanas.

Não por outra razão, teve o legislador incessante preocupação de, no Estatuto da Cidade - norma essencialmente de Direito Urbanístico - tratar
de aspectos ligados ao meio ambiente, seja ele natural ou construído. Diversas são as passagens em que a referida lei que dispõe sobre o meio
ambiente e sua proteção.

Isto levou a parte da doutrina sustentar que ?...o Estatuto da Cidade se caracteriza como sendo um microssistema cuja tendência, a exemplos de
outros diplomas atuais, é ganhar claros contornos constitucionais vinculados ao direito constitucional ambiental brasileiro.? (FIORILLO, 2005:
27-28).

Também por essa razão já sustentamos, em outra oportunidade que, ?com o advento da referida lei, colocou-se à disposição dos administradores
públicos, novos instrumentos para tutela das cidades e do seu meio ambiente. Dentre estes destacam-se o direito de preempção, a gestão
democrática da cidade e o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) que, ao lado do já utilizado tombamento, são instrumentos, se bem aplicados,
que terão grande importância para o alcance e efetivação do meio ambiente saudável. Integram, destarte, o que se pode chamar de sistema
protetivo do patrimônio cultural, cuidadosamente tratado pelo Estatuto da Cidade.? (HUMBERT, 2006: 3323-3326)
5 ? O Estatuto da cidade: a proteção ao meio ambiente como diretriz geral.

Comprovada relevância jurídica da matéria proposta, passemos a não menos importante análise descritiva dos instrumentos normativos que
visam a promoção do meio ambiente urbano saudável.

Cumpre de logo ressaltar que, partindo de matriz constitucional regradora da política urbana, o Estatuto da Cidade assume, como pilar de sua
normatividade, uma corajosa redefinição da função social da propriedade, outorgando-lhe contornos firmes e conseqüentes. (DALLARI;
FERRAZ, 2002:19)

Mas não é só. ?A grande novidade trazida por esta lei está exatamente na criação de instrumentos que possibilitarão uma intervenção mais
concreta e efetiva do Poder Público no desenvolvimento urbano?. (DALLARI; FERRAZ, 2002, p. 19)

E não se pode iniciar a análise dos instrumentos, colocados também para proteção ao meio ambiente (natural e construído), e que servem à
conformação da função socioambeintal da propriedade, sem antes contextualizá-los diante das diretrizes gerais deste novel diploma legal.

É o capítulo I da Lei 10.257 dispõe acerca das diretrizes gerais da política urbana. De início é perceptível a sua preocupação com a mantença do
equilíbrio ambiental, compreendida na função socioambiental da propriedade.

Isto porque, já no parágrafo único do art. 1°, prescreve que esta Lei estabelece normas de ordem pública e interesse social, as quais regulam o
uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

Em seguida, dispõe que são diretrizes gerais da política urbana, entre outras: 1- a garantia do direito a cidades sustentáveis ? o que inclui o
direito ao saneamento ambiental; 2 - o planejamento das cidades de modo a evitar e corrigir distorções do crescimento urbano e seus efeitos
negativos sobre o meio ambiente; 3 - a ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar a poluição e degradação ambiental; 4 - a proteção,
preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico; e,
finalmente, como forma de participação da sociedade, a audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de
implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto
ou a segurança da população.

Segundo Odete Medauar, a expressão cidades sustentáveis inspira-se no Direito Ambiental, devendo-se as entender como sendo ?aquelas em que
o desenvolvimento urbano ocorre com ordenação, sem caos e destruição, sem degradação, possibilitando uma vida urbana digna para todos.?
(MEDAUAR, 2004, p. 26-27)

Denota-se aqui, mais uma vez, a incessante preocupação com o meio ambiente que dominou o pensamento do legislador do Estatuto da Cidade.

6 ? O Estatuto da Cidade e a função socioambiental da propriedade: proteção ao meio ambiente e instrumentos de concretização/efetivação

6.1 ? Planejamento Municipal: Plano Diretor e Zoneamento Ambiental.

O planejamento é pressuposto da ordem urbanística. É princípio instrumental inserto no art. 2º, IV do E.C. (SUNDFELD, 2001:. 56) Mais que
isso. É o pilar da Política Urbana (C.F., ART. 182).

Os Planos Urbanísticos ?constituem o conjunto de normas e atos operativos que caracterizam aquel princípio da coesão dinâmica ou coesão
dialética que dá essência às normas urbanísticas...? (SILVA, 2006: 97). Ou seja, ?não constitui simples conjunto de relatórios mapas e plantas
técnicas, configurando um acontecer unicamente técnico.? Adquire características de um procedimento jurídico dinâmico, ao mesmo tempo
normativo e ativo, servindo como diretriz, mas se manifestando concretamente. (SILVA, 2006: 95-96)

Com a Constituição Cidadã, o Plano Diretor assume a função de instrumento básico da política urbana do Município. Esta tem como propósito a
ordenação do pleno desenvolvimento das conhecidas funções sociais da cidade ? trabalho, circulação, lazer e moradia. Seu propósito é garantir o
bem estar social da comunidade.

O zoneamento integra o conceito planos urbanísticos. Com efeito, segundo a lição da melhor doutrina, com base na Constituição Federal de
1988, ?já se pode falar na implantação de um sistema de planos estruturais, porque ele fundamenta a construção de um sistema de planos
urbanísticos hierarquicamente vinculados, de modo que os de nível superior sirvam de normas gerais e diretrizes para os inferiores, enquanto
estes concretizem, no plano prático e efetivo, as transformações da realidade urbana, em vista de objetivos predeterminados.? (SILVA,
2006:106).

Do exposto, percebe-se que tanto o Plano Direto, norma geral para efetivação de uma Política Urbana adequada, quanto o zoneamento, norma
especifica e com maior poder de concreção, servirão à tutela do meio ambiente urbano, natural e construído.

Em um sentido abrangente, o zoneamento ?consiste na repartição do território municipal à vista da destinação da terra, do uso do solo ou das
características arquitetônicas.? (SILVA, 2006: 240).
Mas não é só. Este plano parcial tem também por objeto as áreas de interesse ambiental. Pode-se falar, então, em um zoneamento ambiental,
como o plano municipal, estrutural, parcial, por meio do qual o Poder Público poderá estipular quais zonas serão destinadas à proteção
ambiental.

O citado instrumento encontra fundamento legal no art. 4°, III, ?c?, da multimencionada Lei.

Objetiva disciplinar a ordenação da cidade por regiões, dividindo-a em zonas onde determinada atividade específica, determinada função terá
preponderância. Para tanto, ter-se-á em mente os diversos aspectos da vida na cidade: moradia, produção industrial, lazer, trabalho,
administração da cidade, etc. Visa compatibilizar o desenvolvimento da urbe, concomitantemente ao atendimento às suas funções, garantindo o
bem estar dos citadinos, sem deixar de lado a preocupação em estabelecer e promover a defesa dos ?espaços ambientais (...) com a finalidade de
proteção e preservação do meio ambiente.? (FIORILLO, 2005: 27-28).

6.2 Estudo de impacto de vizinhança: proteção à paisagem urbana, ao meio ambiente natural e cultural.

Prescreve o Estatuto da cidade:


"Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana que dependerão de elaboração de estudo
prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder
Público municipal.
Art. 37. O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de
vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões:
(?)
VII - paisagem urbana e patrimônio natural e cultural." (grifamos)
O denominado EIV é um documento técnico a ser exigido, com base em lei municipal, para a concessão de licenças e autorizações de
construção, ampliação ou funcionamento de empreendimentos ou atividades que possam afetar a qualidade de vida da população residente na
área ou nas proximidades. É mais um dos instrumentos trazidos pelo Estatuto da Cidade que permitem a tomada de medias preventivas pelo ente
estatal a fim de evitar o desequilíbrio no crescimento urbano e garantir condições de mínimas de ocupação dos espaços habitáveis.

A sua função fiscalizatória, de prevenção e precaução é característica marcante e que garante a avaliação das obras e das atividades que possam,
potencialmente, causar dano ao meio ambiente. Tem como finalidade instruir e assegurar ao Poder Público acerca da capacidade do meio urbano
para comportar determinado empreendimento. Visa adequar o empreendimento ao meio ao qual ele fará parte.
O caráter preventivo do EIV deve ser ressaltado. Sendo um estudo técnico prévio, seu conteúdo poderá alertar e precaver o Poder Público quanto
a repercussão do empreendimento no que se refere às questões ligadas a visibilidade, acesso, uso e estrutura do meio ambiente cultural que
compõe determinada área.

Ademais, sabemos que diversos fatores podem prejudicar o meio ambiente (seja ele natural ou construído) obstando a sua adequada e
desembaraçada utilização pelos cidadãos. Neste sentido, pela sua característica de planejamento prévio e eminentemente técnico, O EIV poderá
diagnosticar efeitos danosos que ultrapassem ao sistema viário, tais como variáveis ambientais, paisagísticas, sociais e econômicas.

Funcionará, ainda, como freio à cultura da demolição, protegendo, assim, a identidade de um povo, ao verificar a existência de construções, vias,
logradouros e praças que fazem parte da cultura local secular e que não podem ser afetados pela inserção de novos empreendimentos. Protegerá
também as características paisagísticas inerentes à dada localidade, bem como eventual área natural remanescente em dado centro urbano.

Verifica-se, sem maior esforço, que a proteção ao Meio Ambiente Urbano, em seus diversos aspectos, através do EIV, evitará a transformação
do espaço público vivo em espaço público morto. Serve à tutela do maio ambiente e, em última análise, à preservação das funções sociais das
cidades precípuas, pois que com a defesa preventiva do meio ambiente cultural, da paisagem urbana e dos bens naturais situados nas grandes
cidades, restará assegurado a integração dos indivíduos, a garantia do lazer, da qualidade do ambiente, enfim, da vida saudável e feliz.

Por estas razões o EIV vem a ser um valioso instrumento para proporcionar um crescimento equilibrado e o desenvolvimento sustentável das
cidades, garantindo uma vida mais saudável para esta e para as futuras gerações, funcionando, como um freio à ambiciosa cultura da demolição.

6.3 Direito de preempção: preservação das áreas de interesse ambiental.

O direito de preempção consiste no instrumento de política urbana que confere ao poder Público Municipal, desde que aja lei anterior baseada no
plano diretor que delimite suas áreas de incidência, a preferência para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares.

Consoante brilhantemente expõe Ricardo Lira, ?a concepção é urbanisticamente válida, pois o Município, em áreas previamente definidas na lei
e no plano de uso do solo, poderá adquirir desde logo imóveis cuja aquisição futura será inevitavelmente mais onerosa, após a realização de
determinado plano específico de urbanização. Possibilita que a plus valia, decorrente da implantação dos equipamentos urbanos e da
implementação dos planos se dê nas mãos do Poder Público.? (LIRA, 1997:168)

De acordo com o art. 26 do Estatuto da Cidade, diversas são as hipóteses em que o Poder Público poderá se valer do seu direito de preempção, e
que tem ligação direta com a afirmação da função socioambiental da propriedade: 1- quando necessitar de áreas para criação de espaços públicos
de lazer e áreas verdes; 2 - criação de unidades de conservação ou proteção de outras áreas de interesse ambiental; 3 - e proteção de áreas de
interesse histórico, cultural e paisagístico.

Nesta espécie, o Município terá um poderoso meio para fazer cumpri-se o multimencionado princípio de forma plena, pondo em prática a
integral defesa do meio ambiente natural/construído.

Isto porque, além do direito de estipular, mediante Lei, quais áreas são de interesse ambiental, deverá, quando esta for negociada pelo seu
proprietário, intervir nesta relação jurídica, adquirindo o imóvel negociado, garantindo, desta forma, o seu aproveitamento de acordo com suas
funções precípuas.

6.4. Das operações urbanas consorciadas.

É o próprio estatuto da cidade, que conceitua estas operações como sendo o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público
municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma
área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental.

Aqui, nos importa a sua utilização para fazer-se cumprir a função socioambiental da propriedade, ou seja, para possibilitar que a propriedade
atenda ao quanto preceitua o art. 225 da nossa Carta Maior. E é o que se pretende mediante tais operações, pois prescreve explicitamente a
norma a valorização ambiental como um dos seus propósitos.

Com efeito, ?nota-se neste tipo de operação a possibilidade do Poder Público se associar com a iniciativa privada no intuito de efetuar melhorias
em determinadas regiões, obviamente com vistas ao desenvolvimento urbano. As chamadas ?parcerias? com a iniciativa privada representam
recurso bastante utilizado atualmente, em especial devido à grande dificuldade de atender os objetivos propostos, com parcos recursos públicos
disponíveis.? (MEDAUAR, 2004, p. 215).

Prescreve-se a participação direta da sociedade ? proprietários, moradores, investidores -, coordenadas pelo Poder Público, visando o
desenvolvimento estruturado e adequado de determinada área. Através deste mecanismo, poder-se-á efetuar a modificação de índices e
características de uso e ocupação do solo, bem como as alterações de normas edilícias, regularização de construções, sempre levando em
consideração o impacto ambiental. Não por outra razão, o art. 33 do E.C impõe que o Estudo de Impacto de Vizinhança, acima já analisado, é
conteúdo mínimo da lei específica que aprovar a operação urbana consorciada. E assim fica garantida mais uma forma de efetivação da função
socioambiental da propriedade e a conseqüente tutela do meio ambiente urbano.
6.5 ? Transferência do Direito de Construir.

O Estatuto da Cidade preceitua que, Lei Municipal, baseada no plano diretor, poderá autorizar o proprietário de imóvel urbano, privado ou
público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano diretor ou em legislação
urbanística dele decorrente, quando o referido imóvel for considerado necessário para fins de preservação ou quando o imóvel for considerado
de interesse histórico, ambiental, paisagístico, social ou cultural (art.35, II).

Saliente-se diferentemente da outorga onerosa do direito de construir, em que se possibilita ao particular construir acima do limite previsto para
o terreno, mediante contrapartida a ser paga ao Município, na transferência do direito de construir é possível repassar a terceiro a possibilidade
de construir, abrindo-se mão do mencionado direito (MEDAUAR, 2004: 222). Essa possibilidade se estende a um mesmo proprietário de dois ou
mais imóveis, que poderá transferir este direito para um outro imóvel seu.

Funcionará como excelente recurso para alcançar o objetivo de preservação do meio ambiente urbano natural ou construído, uma vez que
permitirá ao Poder Público intervir de forma menos agressiva na propriedade privada, já que a limitação ao imposta direito de construir em razão
do valor histórico, ambiental, paisagístico, social ou cultural, poderá ser compensada com a transferência deste para outra propriedade que não
possua estas funções, harmonizando os interesses sociais e particulares.

Finalmente é válido ressaltar que os institutos jurídicos e políticos acima referidos visam não apenas vedar comportamentos dos proprietários
deletérios aos interesses da coletividade, mas sim, mais que isso, visam obter comportamentos positivos, ações, atuações, necessárias à
realização da função social da propriedade (DALLARI; FERRAZ, 2002: 84).

7 ? Conclusões

Princípio jurídico é espécie do gênero norma, integra o sistema jurídico, tendo, portanto, caráter prescritivo, impondo deveres.

O Direito Urbanístico é ramo autônomo do Direito Público, sujeito, em larga medida, ao seu regime jurídico especial. Relaciona-se com outros
ramos do direito, especialmente com o Direito Ambiental.

O Estatuto da Cidade, norma de Direito Urbanístico, andou bem ao regular as questões ligadas ao meio ambiente urbano. Diversos instrumentos
de proteção são postos pelo citado plexo normativo e devem ser aplicados pelo Administrador Público, sob pena de cometimento de ilegalidades,
que podem ensejar na em responsabilização civil, penal e administrativa pelo descumprimento, dentre outros princípios e regras, da função
socioambiental da propriedade.
Referências
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BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
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FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Estatuto da cidade comentado. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
GARCIA, Maria (Coord.). A cidade e seu estatuto. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005.
GRAU, Eros Roberto. A ordem constitucional na Constituição de 1988. 10 ed. São Paulo: Malheiros, 2005.
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HABERLE, Peter. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da constituição: contribuição para a interpretação pluralista
e ?procedimental? da constituição. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1997.
HESSE, Conrad. A força normativa da constituição. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1991.
HUMBERT, Georges Louis Hage. Direito Urbanístico e função socioambiental da propriedade imóvel urbana. Belo Horizonte: Fórum, 2009.
HUMBERT, Georges Louis Hage. O estudo de impacto de vizinhança como instrumento de proteção ao meio ambiente cultural. Revista Fórum
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LIRA, Ricardo Pereira. Elementos de direito urbanístico. Rio de Janeiro: Renovar, 1997.
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SUNDFELD, Carlos Ari. O estatuto da cidade e suas diretrizes gerais. In: DALLARI, Adilson Abreu; FERRAZ, Sérgio (Coord.). Estatuto da
cidade: comentários à Lei federal 10.257/2001. São Paulo: Malheiros, 2003.

NOTAS

(1)Cumpre, desde logo, transcrever a advertência da Professora Odete Medauar, para quem ?a expressão instrumentos é empregada pela lei em
sentido muito amplo. Sob essa rubrica são englobados elementos muito diversos e dificilmente comparáveis entre si: uns mais amplos (exemplo:
plano nacional de desenvolvimento econômico e social, plano diretor) e outros mais restritos (exemplo: tombamento e concessão de direito real
de uso); uns envolvendo conceitos jurídicos abstratos (exemplo: limitações administrativas e direito de superfície), outros envolvendo elementos
de fato (exemplo: gestão democrática participativa); uns enunciados como objeto em si (exemplo: desapropriação e plano plurianual), outros
enunciados como uma ação que se refere ao objeto (exemplo: instituição de unidades de conservação e instituição de zonas especiais de interesse
social.)?. Contém o Estatuto da Cidade, ainda conforme lição da citada autora, equívocos quanto à sistematização destes instrumentos no corpo
da Lei. Contudo, salienta que, do ponto de vista ciêntífico, estas impropriedades não inviabilizam o objetivo prático da norma, qual seja, oferecer
um rol exemplificativo de instrumentos de política urbana (MEDAUAR, 2004, p. 43-44).
(2)Para aprofundamento do tema e conhecimento de sólidos argumento comprovando a compatibilidade da existência das espécies normativas
princípios e regras e a doutrina positivista, confira-se: CARRIÓ. Principios jurídicos y positivismo jurídico.
(3)Segundo lição recorrente, princípio é, por definição, o ?mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental
que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por
definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.? Conseqüentemente, ?(...) violar
um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório, mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do
princípio atingido, porque representa insurgência contra todo sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.? (BANDEIRA DE MELLO, 2005: 902-903). Esta, a nosso sentir, a despeito existirem
controvérsias e mesmo outros bons textos dedicados ao tema, a melhor definição de princípios que reflete todo seu conteúdo e significado
jurídico. Aproxima-se do conceito do consagrado administrativista a lição de Celso Bastos segundo a qual: ?os princípios constitucionais são
aqueles que guardam os valores fundamentais da ordem jurídica. Isto só é possível na medida em que estes não objetivam regular situações
específicas, mas sim desejam lançar sua força sobre todo o mundo jurídico. Alcançam os princípios esta meta à proporção que perdem o seu
caráter de conteúdo, isto é, conforme vão perdendo densidade semântica, eles ascendem a uma posição que lhes permite sobressair, pairando
sobre uma área muito mais ampla do que uma norma estabelecedora de preceitos. Portanto, o que princípio perde em carga normativa ganha
como força valorativa a espairar-se por cima de um sem-número de outras normas?. (BASTOS, 2001:245).
(4) Sobre a evolução histórica do Direito Urbanístico, sua autonomia e relação com outros ramos do direito, confira-se a nossa obra ?Direito
Urbanístico e função socioambiental da propriedade imóvel urbana. Belo Horizonte: Fórum, 2009?.
(5)Também neste sentido, Milaré (2005, p. 157)
(6) Cf. o nosso Direito Urbanístico e função socioambiental da propriedade imóvel urbana. Belo Horizonte: Fórum, 2009.

(7)Vide os Arts. 2º, XII; art. 4º, VI; art. 26º, VIII; art. 35º, II.
(8) Permitimo-nos, nesta parte do trabalho, transcrever trechos de outro artigo de nossa autoria sobre o EIV (vide bibliografia deste artigo).

Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):
HUMBERT, Georges Louis Hage. O Estatuto da Cidade, a função socioambiental da propriedade e os instrumentos urbanísticos de sua
efetivação. Fórum de Direito Urbano e Ambiental ? FDUA, Belo Horizonte, ano 8, n. 45, p. -, maio/jun. 2009.

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Direito Administrativo Direito Ambiental Direito Urbanístico e Imobiliário Direito Eleitoral Direito Empresarial

O direito urbanístico e a disciplina da propriedade

Extraído do Jus Navegandi.

Nathália Arruda Guimarães

3. Objeto do Direito Urbanístico


O Direito Urbanístico objetivo (conjunto de normas) tem por objeto regular a atividade urbanística, disciplinar a ordenação do território. Visa “precipuamente a

ordenação das cidades, como nota Hely Lopes Meirelles, mas os seus preceitos incidem também sobre as áreas rurais, no vasto campo da ecologia e da

proteção ambiental, intimamente relacionadas com as condições da vida humana em todos os núcleos populacionais, da cidade e do campo (25)

É o ramo do Direito que visa a promover o controle jurídico do desenvolvimento urbano, isto é, dos vários processos de uso, ocupação, parcelamento e gestão

do solo nas cidades.

O Direito Urbanístico como ciência, é “ramo do direito público que tem por objeto expor, interpretar e sistematizar as normas e princípios; vale dizer:

estabelecer o conhecimento sistematizado sobre essa realidade jurídica.” (26)

Para Hely Lopes Meirelles, ainda, manifestam-se dois aspectos do Direito Urbanístico:

a)”o Direito Urbanístico objetivo, que consiste no conjunto de normas jurídicas reguladoras da atividade do poder
público destinada a ordenar os espaços habitáveis, o que vale dizer: conjunto de normas jurídicas reguladoras da
atividade urbanística;

b)o Direito Urbanístico como ciência, que busca o conhecimento sistematizado daquelas normas e princípios
regulardores da atividade urbanística.”

4. Natureza jurídica das normas de Direito Urbanístico As normas de direito Urbanístico são de natureza pública, cogentes, fruto do poder de polícia do Estado

que intervindo na disciplina das relações jurídicas estabelece o condicionamento do exercício do direito de propriedade ao interesse coletivo, uma vez que

o delineamento da propriedade atual se dá em razão da primazia do interesse público em relação ao interesse particular.

As imposições urbanísticas são preceitos de Ordem Pública e inserem-se no contexto jurídico como disciplina do conteúdo do direito de propriedade.

Substancialmente, elas se justificam pela necessidade de adequar-se o exercício do direito dominial ao bem-estar social e compatibilizá-lo com a

utilidade coletiva.
É por meio das limitações e dos atos legislativos que impõem o funcionalismo da propriedade que as normas urbanísticas se exteriorizam. As limitações são

medidas de interesse público, decorrentes de lei genérica e abstrata, que se revestem do poder de imperium estatal e decorrem do poder de polícia

inerente à Administração Pública. (27)

As normas que tratam da utilização da propriedade baseiam-se no poder de polícia do Estado.

De certo, o direito de propriedade privada há muito deixou de ser considerada como absoluto, conotação que a caracterizava até as primeiras décadas do

século XX. “Ampliaram-se as intervenções públicas e ocorreu a mudança da própria configuração estrutural do direito de propriedade ante sua

funcionalização social, percebida de modo sensível em matéria urbanística e agrária.” (28)

A idéia, assim, de propriedade absoluta apresenta-se incompatível com a organização sócio – política atual.

Diferem, entretanto, as normas delineadoras do direito de propriedade em razão da natureza jurídica.

Em atendimento aos critérios da ciência jurídica, estabelecem-se diferenças entre as normas de Direito Público e de Direito Privado, na tentativa de

sistematizarmos o conhecimento e o objeto de estudo analisado.

As normas de direito urbanístico, repita-se, cujo objeto é delinear o direito de propriedade, são públicas porque estabelecidas para conformar o interesse do

indivíduo e o da coletividade.

Ao contrário, assim, das normas de direito privado que visam estabelecer critérios na relação entre os particulares, as normas de direito urbanístico

constituem verdadeiras “cláusulas” de um contrato social firmado entre o indivíduo e o Estado, titular, este último, de interesses e direitos os quais

pretende representar e em razão dos quais lhe são conferidos poderes.

Desta feita, a disciplina da propriedade, elementarmente construída pela doutrina civilista, é também regulada pela disciplina da “propriedade urbanística”,

esta última fundamentada no Estado de Direito interventor.

A disciplina da propriedade que se dá no Código Civil Brasileiro, delineia o conteúdo da propriedade interna (usar, gozar e dispor) e seu aspecto externo, no

momento em que estabelece os limites no que tange à vizinhança e demais relações jurídicas de caráter privado.
Na disciplina urbanística, a propriedade é definida e delineada por um corpo descentralizado de Leis e princípios, cujos órgãos legiferantes e executores são

igualmente descentralizados, a critério da distribuição de competências definida pelo Constituinte Brasileiro, para o atendimento ao interesse público,

conforme exposto nos valores acolhidos na Constituição Federal de 1988.

Nesse contexto convencemo-nos da natureza pública dos diversos instrumentos jurídicos apresentados para a adequação do uso da propriedade, mais

propriamente clamada como solo, urbano ou rural, normas que compõem a nova Ordem Urbanística.

A razão evidente para a intervenção de Ordem Pública do Direito de Propriedade encontra – se na Constituição Federal de 1988, precisamente no Art. 5 o, inciso

XXIII, que trata do princípio da função social da propriedade.

Para a efetiva realização da função social da propriedade, é indispensável a atuação do Poder Municipal que atua com uma função pública de destaque. No

atual Estado de Direito Social, as decisões sobre o urbanismo deixaram mesmo de pertencer aos proprietários privado e passaram a ser de competência da

Administração Pública.

Cabe ao Município a elaboração dos Planos Diretores que definirão, (art. 182, CF/88) em substância, a utilidade funcional da propriedade, sempre em

atendimento ao interesse comum, calcado nos princípios solidários ditados pela Constituição Federal, em busca da redistribuição das riquezas e

minimização da miséria de nosso país.

5.Conclusões No que tange à matéria abordada no presente artigo, concluímos que o Direito Urbanístico ou Direito do Urbanismo é disciplina autônoma do

Direito, uma vez que tem por objeto um conjunto de normas específicas, voltadas para a realização e aplicação de princípios norteadores próprios e

princípios constitucionais, bem como nomeclatura, objeto e tratamento individualizados.

Não se trata, dessa feita, de nova matéria, mas de matéria amadurecida ao longo do despertar legislativo e doutrinário, bem como de disciplina necessária

para o tratamento de fatos sociais irredutíveis.

O operador do direito está, assim, diante de uma disciplina que reúne especialistas de diversas áreas da ciência atual, bem como da ciência jurídica.
A disciplina do Direito Urbanístico está, outrossim, diretamente ligada ao Direito de Propriedade. O Direito de propriedade, como visto, objeto de proteção e

de disputa ao longo da história do mundo ocidental, passa por momento de “coletivização”. Isso significa que seu conteúdo não mais se justifica pela

utilidade que proporciona a um indivíduo, o proprietário, mas a toda a sociedade.

No sistema jurídico brasileiro isso está expresso através dos princípios da função social, da dignidade da pessoa humana e da igualdade. Além de constituir

objeto da República Federativa Brasileira a erradicação da pobreza e da marginalização, além de reduzir as desigualdades sociais e regionais (art. 3º, inciso

III).

Notas 01. MUKAI, Toshio. Direito e Legislação Urbanística no Brasil: História, Teoria, Prática. Editora Saraiva: São Paulo, 1988.

02. SILVA, José Afonso. Direito Urbanístico Brasileiro. 2a edição. São Paulo: Editora Malheiros, 1997. pág. 21.

03. MUKAI. Toshio. Direito e Legislação Urbanística no Brasil. São Paulo: Editora Saraiva, 1988.pág. 03.

04. Citado por MUKAI, Toshio. Direito e Legislação Urbanística no Brasil, São Paulo: Editora Saraiva, 1988.pág. 03

05. Citado por MUKAI, Toshio. Direito e Legislação Urbanística no Brasil. São Paulo: Editora Saraiva, 1988.pág. 03

06. MUKAI, Toshio. Direito e Legislação Urbanística no Brasil, São Paulo: Editora Saraiva, 1988.pág. 03

07. LE CORBUSIER. Princípios de Urbanismo. La Carta de Atenas. Barcelona: Editora Ariel, 1975.

08. CORREIA, Fernando Alves. Manual de Direito do Urbanismo. Vol I. Coimbra: Almedina, 2003.pág 15-16.

09. processo pelo qual a população urbana cresce em proporção superior à população rural, segundo entendimento do prof. José Afonso da Silva. Ver Item 2.

10. Idem ao Item 8.

11. Idem Item 8.


12. Idem Item 8.

13. SILVA, José Afonso. Direito Urbanístico Brasileiro. 2a edição. São Paulo: Editora Malheiros, 1997. pág. 22.

14. Item Idem 8, pág.39-40.

15. MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Introdução ao direito ecológico e ao direito urbanístico. 3. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1977.

16. SILVA, José Afonso. Direito Urbanístico Brasileiro. 2 ed.. São Paulo: Malheiros, 1997, pag.31 – 32.

17. MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Introdução ao direito ecológico e ao direito urbanístico. 3. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1977.

18. DALLARI, Adilson Abreu. FIGUEIREDO, Lúcio Valle. (coord.). Temas de Direito Urbanístico – 2. São Paulo: RT, 1991. Pág.249.

19. FALLA, Fernando Garrido. Tratado de Derecho Administrativo. Volumen II. 10a Ed. Madri: Tecnos, 1978.pág. 230.

20. DALLARI, Adilson Abreu. FERRAZ, Sérgio. (coord.). Estatuto da Cidade: comentários à Lei Federal 10.257/2001. São Paulo: Malheiros, 2002. Pág. 48.

21. CARNEIRO, Ruy de Jesuz Marçal. Organização da Cidade: Planejamento Municipal; Plano Diretor; Urbanização. São Paulo: Max Limonad, 1998. Pág. 80.

22. NOGUEIRA, Antonio de Pádua Ferraz. Desapropriação e Urbanismo. São Paulo: RT, 1981. Pág.21.

23. MATTOS, Liana Portilho. (org.) Estatuto da Cidade Comentado. Belo Horizonte: Editora Mandamentos, 2002. Pág. 60.

24. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1997.

25. SILVA, José Afonso. Direito Urbanístico Brasileiro. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 1997. pag.31 – 32.

26. MATTOS, Liana Portilho. Direito Urbanístico e Política Urbana no Brasil. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

27. MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 2 ed.. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
A INTER-RELAÇÃO ENTRE URBANISMO, AMBIENTE E
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
Resumo do Livro por:dianiris Autor : LBA
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 Palavras:600

Mais Sobre : relacao entre direito ambiental e do urbanismo
A INTER-RELAÇÃ

ªAssumem-se como conceitos distintos, bem como ramos de direito autónomos, no entanto em determinadas matérias demonstram alguma
inter-relação. O urbanismo refere-se exclusivamente à urbe, à cidade e desde os primórdios da humanidade que se assume como uma
política que enceta várias regras urbanísticas que vão desde a segurança das edificações até ao ordenamento racional de cada
aglomerado urbano. Esta política define os objectivos e os meios de intervenção da Administração Pública no ordenamento racional das
cidades. Desde o início o Estado interveio no urbanismo, no entanto os fenómenos urbanísticos não podem ser entregues exclusivamente
aos governantes, aos funcionários públicos, aos autarcas ou aos técnicos mas também aos juristas que através da lei e da justiça tentam
responder às exigências dos interesses públicos e privados. O direito do urbanismo é um sistema de normas jurídicas que disciplinam a
actuação da Administração Pública e dos particulares com vista a obter uma ordenação racional das cidades e da sua expansão. Esta
definição assenta em 3 ideias básicas: tem de se enquadrar nas orientações mais vastas traçadas pelo direito do ordenamento do
território; corresponde à correcta ordenação da cidade sem levar em conta a ordenação do espaço rural e não abrangendo o regime
jurídico das reservas e parques naturais; e traduz em normas jurídicas as opções fundamentais do Estado quanto à sua política
urbanística. Quanto ao ambiente, este já tinha merecido alguma preocupação mas é só após os excessos da industrialização e do
desenvolvimento económico que demonstram graves perigos da degradação da Terra e da Natureza que se torna numa política pública.
Política essa que “visa garantir e melhorar o equilíbrio ecológico, preservando a saúde e a qualidade de vida do Homem, bem como
assegurando a conservação e renovação da Natureza”.
Correspondentemente o direito do ambiente será o sistema de normas jurídicas que disciplinam a política ambiental referida. Esta vai interferir
com outras políticas sem as subjugar nem absorver (art. 5º n.º2 al. a) - LBA) Conclui-se que o urbanismo e o ambiente são hoje em dia
duas políticas públicas diferentes que estão a cargo de dois ministérios diferentes e por isso são dois ramos de direito diferenciados. No
entanto pode uma norma pertencer simultaneamente aos dois ramos dependendo em que diploma estiver inserida a norma. Confundido
com estes dois conceitos está o conceito de ordenamento do território que tem como finalidade genérica a procura de uma melhor
repartição geográfica das actividades humanas. Este não se confunde inteiramente com urbanismo porque é uma noção mais ampla
utilizada à escala nacional e regional e com diferentes objectivos, ao passo que o urbanismo é mais restrito e tem só a ver com a
construção racional da cidade. O mesmo se observa em relação ao ambiente, ou seja, o ordenamento do território visa alcançar o
equilíbrio económico entre regiões e o outro o equilíbrio biológico da Terra. (art. 5 n.º2 al. b) – LBA)Todavia existem zonas de
sobreposição entre estes 3 conceitos; por exemplo: admitir ou proibir a expansão urbana de uma cidade é um norma urbanística que se
vai perpetuar no ordenamento do território que também é influenciado por certas normas ambientais como a construção de novos parques
e reservas.
Publicado em: 24janeiro, 2008

Fonte: http://pt.shvoong.com/law-and-politics/1753081-inter-rela%C3%A7%C3%A3o-entre-urbanismo-ambiente/#ixzz2MH1MvozF
Os princípios são considerados os fundamentos do Direito. O Direito Ambiental, como ramo autônomo de estudo, segundo a doutrina nacional, adota os seguintes princípios:

1. Princípio do direito à sadia qualidade de vida. Os seres humanos têm garantido seu direito à vida com qualidade em conjugação com o estado de sanidade e uso
adequado dos elementos da Natureza, como água, solo, ar, flora, fauna e paisagem.

2. Princípio do acesso eqüitativo aos recursos naturais. O meio ambiente deve ser considerado como bem de uso comum do povo. Em casos iguais ou semelhantes,
deve-se dar oportunidades iguais de fruição ou uso do bem ambiental.

3. Princípios do usuário-pagador e poluidor-pagador. O primeiro determina que o utilizador do recurso ambiental deve arcar com os custos de sua utilização. O
segundo determina que aquele cause qualquer degradação ambiental é responsável pela prevenção ou correção do dano.

4. Princípio da precaução. Ainda que não se tenha certeza absoluta do dano se deve empregar todas as medidas necessárias para evitá-lo. É a busca da minimização
dos riscos ambientais.

5. Princípio da prevenção. O dano que se conhece deve ser evitado. É a eliminação dos perigos ambientais.

6. Princípio da reparação. Havendo dano ao meio ambiente, este deve ser reparado.

7. Princípio da informação. Cada indivíduo deve ter acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente em pode das autoridades públicas.

8. Princípio da participação. A população é responsável pela conservação do ambiente e deve participar da tomada de decisões ambientais, individualmente e através
de associações.

9. Princípio da obrigatoriedade da intervenção do Poder Público. As instituições nacionais têm a obrigação de assumir a tarefa de planificar, administrar e controlar a
utilização dos recursos ambientais, sempre com o objetivo de melhorar a qualidade ambiental.

Fonte: http://pt.shvoong.com/law-and-politics/law/1868146-princ%C3%ADpios-gerais-direito-ambiental/#ixzz2MH2mYiJh
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Direito ambiental é um ramo do direito, constituindo um conjunto de princípios jurídicos e de normas jurídicas voltado à proteção jurídica da
qualidade do meio ambiente. Para alguns, porém, trata-se de um direito "transversal" ou "horizontal", que tem por base as teorias geopolíticas ou
de política ambiental transpostas em leis específicas, pois abrange todos os ramos do direito, estando intimamente relacionado com o direito
constitucional, direito administrativo, direito civil, direito penal, direito processual e direito do trabalho.

Hoje, na mais moderna teoria, conforme afirma ALBERGARIA[1], o Direito Ambiental é considerado como ramo do direito que visa a proteção
não somente dos bens vistos de uma forma unitária, como se fosse microbens isolados, tais como rios, ar, fauna, flora (ambiente natural),
paisagem, urbanismo, edificações (culturais), etc, mas como um macrobem, incorpóreo, que englobaria todos os microbens em conjunto bem
como as suas relações e interações.

Em suas origens, foi denominado de direito ecológico. FERRAZ[2], em estudo pioneiro sobre o tema no Brasil, afirmava que o Direito Ecológico
é "o conjunto de técnicas, regras e instrumentos jurídicos organicamente estruturados, para assegurar um comportamento que não atente contra a
sanidade mínima do meio-ambiente".

Veja-se, a respeito, a doutrina de MOREIRA NETO [3]. Para este autor, "Direito Ecológico é o conjunto de técnicas, regras e instrumentos
jurídicos sistematizados e informados por princípios apropriados, que tenham por fim a disciplina do comportamento relacionado ao meio-
ambiente".

Alguns autores, como MILARÉ [4] preferem denominá-lo de "Direito do Ambiente". A Lei Federal n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, define o
meio ambiente como "o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas" (art. 3º, inc. I).

Os primeiros doutrinadores brasileiros não incluíam o meio ambiente do trabalho ou o meio ambiente cultural dentro do objeto do direito
ambiental, vislumbrando esta disciplina apenas sob sua perspectiva ecológica. Todavia, quando SILVA [5], com finalidade meramente didática,
apresentou uma divisão do meio ambiente em natural, artificial, cultural e do trabalho, os doutrinadores que a ele se seguiram passaram a
reproduzir tal divisão. Com isto, foi significativamente ampliada a visão do escopo desta disciplina, passando a abranger temas como poluição
no interior de estabelecimentos industriais, qualidade de vida nas cidades e proteção do patrimônio cultural.

A legislação ambiental cuida da proteção da biodiversidade, da sadia qualidade de vida e do controle da poluição, em suas diversas formas, tanto
no meio ambiente externo como no ambiente confinado (por exemplo, o meio ambiente industrial).

A definição de biodiversidade está prevista no artigo 2º da Convenção da Diversidade Biológica. MAGALHÃES[6], aperfeiçoando o texto de
referido dispositivo, propõe a seguinte definição: "Diversidade biológica significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens,
compreendendo, dentre outros, os organismos que compõem a parte viva dos ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e
complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies e entre espécies".

Na opinião de alguns autores,[quem?] a quantidade de normas dificulta a complexidade técnica, o conhecimento e a instrumentalização e aplicação
deste ramo do direito. Para esta corrente doutrinária, o ideal seria a extração de um sistema coerente, cuja finalidade é a proteção do meio
ambiente. Todavia, significativa parcela da doutrina sustenta que o caráter multifacetário do direito ambiental impossibilita sua completa
codificação.

Para a aplicação das normas de direito ambiental, é importante compreender as noções básicas e adequá-las à interpretação dos direitos
ambientais. Ver Legislação Ambiental no Brasil[7].

Índice
[esconder]

 1 Princípios do direito ambiental


 2 História do direito do ambiente
 3 Direito ambiental no Brasil
 4 Meio ambiente do trabalho
 5 Bibliografia
 6 Instituições de ensino em direito ambiental no Brasil
 7 Referências
 8 Ligações externas

[editar] Princípios do direito ambiental


Assevera FIGUEIREDO[8] que a doutrina de Direito Ambiental está longe de chegar a um consenso "no que concerne à identificação dos seus
princípios" (p. 119). Em referida obra, FIGUEIREDO reporta-se ao princípio da precaução, ao princípio do poluidor-pagador, ao princípio do
desenvolvimento sustentável, ao princípio da função social da propriedade, ao princípio da participação democrática e ao princípio da vedação
de retrocesso.

O princípio da função social da propriedade, introduzido por Leon Duguit, relativiza o conceito de direito de propriedade como um direito
absoluto e "sagrado", estabelecido pelo Código Napoleônico. FIGUEIREDO[9] destaca que a correta delimitação do instituto da propriedade
jamais foi alcançada apenas a partir da interpretação do art. 524 do Código Civil de 1917. Nesse sentido, "o Direito Ambiental trouxe novas
luzes ao próprio Direito Civil, ao tratar da função da função social da propriedade, como pode ser visto pela leitura do art. 1228, § 1º, do Código
vigente".

Sobre o princípio da participação democrática, afirma MIRRA [10] que "a participação pública na defesa do meio ambiente pressupõe ampla e
permanente informação da sociedade e exige para ser tida como completa, o acesso à justiça, seja para assegurar a tutela da qualidade ambiental
em si mesma, seja para garantir a obtenção de informações pela coletividade, seja para viabilizar a própria participação".

Dentre estes princípios, aquele que vem merecendo maior atenção por parte dos doutrinadores é o da vedação de retrocesso, especialmente em
razão de sérios revezes que o Direito Ambiental Brasileiro vem sofrendo, sobretudo por conta da pretendida revogação da Lei 4771/65 (Código
Florestal Brasileiro). Acórdão do Superior Tribunal de Justiça (RE 302.906/SP, j. 26.08.2010, rel. Min. Herman Benjamin) reconheceu de forma
pioneira em nossa jurisprudência ambiental a aplicação do princípio da vedação de retrocesso. SARLET e FENSTERSEIFER [11] afirmam que
"sobre qualquer medida que venha a provocar alguma diminuição nos níveis de proteção (efetividade) dos direitos socioambientais recai a
suspeição de sua ilegitimidade jurídico-constitucional".

De acordo com ALBERGARIA[12], os principais princípios do Direito Ambiental Brasileiro são: 1. Princípio do Direito Humano Fundamental; 2.
Princípio da Supremacia do Interesse Público e da Indisponibilidade do Bem Ambiental; 3. Princípio da Intervenção Estatal Obrigatória; 4.
Princípio da Prevenção; 5. Princípio da Precaução; 6. Estudo Prévio Impacto Ambiental; 7. Princípio do Desenvolvimento Sustentável; 8.
Princípio da Defesa do Meio Ambiente; 9. Princípio da Educação Ambiental; 10. Princípio da Responsabilização pelo Dano Ambiental ou
Princípio do Poluidor-Pagador (polluter pays principle); 11. Teoria do Risco Integral.

GRANZIERA[13] também inclui nesse rol o princípio da cooperação, presente no art. 12 da Carta Europeia da Água, de 1968, na Convenção
sobre Diversidade Biológica (arts. 5º e 18) e no art. 23 da Constituição Federal de 1988. Afirma esta autora que "Na luta contra a poluição e a
degradação do meio ambiente, e considerando que, por sua natureza, os recursos naturais não se submetem necessariamente às fronteiras
políticas, cabe aos Estados que os compartilham atuar de forma coordenada, mesmo no que se refere às ações internas, para evitar a ocorrência
de danos, assim como para racionalizar as medidas de proteção que se fizerem necessárias".

Dentre os inúmeros estudos sobre o tema, destaca-se a obra de MIRRA[14], que oferece para os estudiosos um panorama bastante abrangente
sobre a principiologia do direito ambiental.

[editar] História do direito do ambiente


Se a vontade de dominar a Natureza é tão antiga quanto o próprio homem, não se pode negar que a sua protecção também remonta aos tempos
mais antigos. Os agricultores mais antigos deixavam a terra em pousio para que esta se pudesse fortalecer, muitos povos tinham na "Mãe
Natureza" uma divindade e mesmo nas religiões monoteístas como o Judaísmo, o Cristianismo ou o Islamismo não são raras as referências nas
escrituras ao dever de protecção que o homem tem sobre todas as obras de Deus. Talvez o primeiro e mais notável ecologista tenha
inclusivamente sido São Francisco de Assis que na sua inserção cosmológica do homem na Natureza enquanto parte da criação divina, sente a
necessidade de chamar o lobo de "irmão lobo", a andorinha de "irmã andorinha", etc.

Mas foi apenas nos anos 60 do século XX que a protecção do Ambiente foi catapultada para a ribalta da discussão política, logo também para o
Direito. De uma visão puramente antropocêntrica do Direito, nos últimos anos tem-se passado a uma visão mais abrangente que inclui o dever de
preservação do meio ambiente, os direitos dos animais, entre outros.

No ano de 1972 foi realizada, em Estocolmo, Suécia, a I Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, marco inicial das reuniões envolvendo
representantes de diversos Estados para a debate sobre a questão ambiental no mundo. O Brasil, que vivia sobre o regime da ditadura militar um
período denominado como milagre econômico, participou da Conferência, se posicionando a favor do crescimento econômico ambientalmente
irresponsável.

Durante os anos 80, a discussão sobre a questão ambiental frente ao desenvolvimento econômico foi retomada. Em 1983, a Organização das
Nações Unidas, em assembleia geral, indicou a então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, para a presidência da Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD), criada para estudar o tema. Esta comissão, apresentou, em 1987, seu relatório
intitulado Our Common Future (Nosso futuro comum), também conhecido como Relatório Brundtland, que cunhou a expressão
desenvolvimento sustentável.

Em 1992, o Brasil recepcionou a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), mais conhecida
como ECO-92 ou Rio-92, na qual participaram mais de 150 países. Esta é considerada uma das mais importantes conferências sobre o assunto,
na qual vários documentos foram produzidos, entre eles a Convenção da Biodiversidade e a Agenda 21.

BENJAMIN[15] nos oferece a seguinte retrospectiva histórica:

I - Primeira fase: do descobrimento, em 1500, até aproximadamente a metade do Século XX, período em que a proteção ambiental no Brasil
recebeu pouca atenção, à exceção de umas poucas normas isoladas.
II - Segunda fase: fase fragmentária, onde o legislador, "preocupado com largas categorias de recursos naturais, mas ainda não preocupado com
o meio ambiente em si mesmo considerado, impôs controles legais às atividades exploratórias". São desse período o Código Florestal (1965), os
Códigos de Caça, de Pesca e de Mineração (todos de 1967), a Lei de Zoneamento Industrial (1980) e a Lei dos Agrotóxicos (1989).

III - Terceira fase: prenunciada pela edição da Lei 6938/81, tem início a "fase holística" do Direito Ambiental onde, na dicção de BENJAMIN,
"o ambiente passa a ser protegido de maneira integral, vale dizer, como sistema ecológico integrado".

Em junho de 2012 o Brasil será novamente anfitrião da ONU, recebendo representantes de todo o planeta para debater o futuro do Direito
Ambiental, em conferência que vem sendo chamada de "Rio + 20". Trata-se de um período particularmente crítico para o Brasil, já que
enfrentamos nos últimos anos uma série de retrocessos na área ambiental, de que são exemplos a iminente revogação do Código Florestal de
1965 e diversos megaprojetos de grave repercussão ambiental, como é o caso da Usina de Belo Monte.

[editar] Direito ambiental no Brasil


Os antecedentes históricos da legislação ambiental brasileira remontam às Ordenações Filipinas que estabeleciam normas de controle da
exploração vegetal no país, além de disciplinar o uso do solo, conspurcação de águas de rios e regulamentar a caça. Sobre a evolução histórica da
legislação o principal trabalho nesta matéria é o livro de Ann Helen Wainer.

Na Lei n° 4.771/65, conhecida como Código Florestal Brasileiro, foram tratados de forma pioneira assuntos relacionados ao direito material
fundamental. De acordo com LEUZINGER et alii[16], o Código Florestal vigente "confere alto grau de proteção não apenas aos ecossistemas
florestais, mas também a outras formas de vegetação encontradas nos espaços ambientais indicados, consubstanciados nas áreas de preservação
permanente (APPs) e nas áreas de reserva legal (RL)".

Todavia, a matéria do meio ambiente só foi introduzida em nosso ordenamento jurídico através da Lei 6.938/81, que estabeleceu a PNMA -
Política Nacional do Meio Ambiente. Nesse sentido, afirma RODRIGUES[17]: "Pode-se dizer que a lei 6938/81 (Política Nacional do Meio
Ambiente) foi, por assim dizer, o marco inicial, o primeiro diploma legal que cuidou do meio ambiente como um direito próprio e autônomo.
Antes disso, a proteção do meio ambiente era feita de modo mediato, indireto e reflexo, na medida em que ocorria apenas quando se prestava
tutela a outros direitos, tais como o direito de vizinhança, propriedade, regras urbanas de ocupação do solo, etc."

Em 1985 foi editada a Lei 7.347, que proporcionou a oportunidade de agir processualmente, através da Ação Civil Pública, toda vez que
houvesse lesão ou ameaça ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. No
projeto da citada Lei, em seu artigo 1º, inciso IV, foi a primeira oportunidade onde se falou de defesa dos direitos difusos e coletivos do cidadão;
porém, este inciso foi vetado pelo Presidente da República.

A previsão de utilização da ação civil pública para a defesa de quaisquer interesses difusos, entretanto, foi introduzida novamente em nosso
ordenamento jurídico quando da edição da Lei 8.078/90, que acrescentou o inciso IV, do artigo 1º, da Lei 7.347/85, anteriormente vetado. A Lei
8.078/90 também definiu os direitos metaindividuais, criando os institutos dos direitos difusos, coletivos, individuais e homogêneos.

A tal respeito, afirmam alguns autores que a Constituição Federal de 1988 trouxe ao nosso ordenamento jurídico a defesa dos bens coletivos,
através da inclusão da redação constante no artigo 225. Admite, inclusive, a existência de uma terceira espécie de bem: o bem ambiental. Este
bem é caracterizado por não ter uma propriedade definida, isto é, não é interesse único do particular, nem tampouco é considerado bem público:
é um bem comum, de uso coletivo de todo um povo. FIGUEIREDO [18] oferece, contudo, uma visão diversa do tema, asseverando que a defesa
dos interesses difusos e coletivos, "se adequadamente exercida pelo Estado, não poderia merecer outra qualificação que não a de tutela de
interesses públicos primários. Sob este enfoque, não há por que afirmar que o advento da consciência acerca da existência de interesses difusos
teria causado uma crise profunda e incontornável na dicotomia clássica direito público/direito privado".

Em 18 de julho de 2000 foi publicada a Lei Federal n. 9.985, que regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal e
institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. De acordo com BENJAMIN [19], a configuração jurídico-ecológica das
unidades de conservação depende do cumprimento de cinco pressupostos: relevância natural, oficialismo, delimitação territorial, objetivo
conservacionista e regime especial de proteção e administração. LEUZINGER [20] afirma que esta lei "tem por mérito a sistematização do
tratamento normativo destas unidades de conservação (UCs), que antes estavam previstas, de forma desordenada, em diferentes leis e atos
normativos".

Em 30 de junho de 2003, sob os auspícios do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública - IBAP, foi criada na cidade de São Paulo a Associação
dos Professores de Direito Ambiental do Brasil - APRODAB, primeira[carece de fontes?] entidade do gênero no planeta. Reunindo praticamente a
totalidade[carece de fontes?] dos principais doutrinadores de Direito Ambiental do Brasil, desde então a APRODAB realiza anualmente o Congresso
Brasileiro do Magistério Superior de Direito Ambiental.

[editar] Meio ambiente do trabalho


A Constituição Federal, de 5-10-1988, refere-se expressamente à defesa do meio ambiente do trabalho em seu art. 200, inc. VIII, de modo que
não há como sustentar que este aspecto do meio ambiente não integre o objeto do Direito Ambiental Brasileiro.
PADILHA[21], a tal respeito, preleciona: "Referido expressamente pela Carta Constitucional de 1988, o meio ambiente do trabalho compreende o
habitat laboral onde o ser humano trabalhador passa a maior parte de sua vida produtiva provendo o necessário para a sua sobrevivência e
desenvolvimento por meio do exercício de uma atividade laborativa".

Ensina SÉGUIN[22]: "Com a evolução das técnicas, as doenças dos trabalhadores foram se agravando. Meio Ambiente do Trabalho faz a relação
entre a ocupação do indivíduo e as doenças decorrentes dos riscos ambientais assumidos no processo de produção, objetivando preveni-las, com
a utilização de recursos da engenharia e da medicina, preservando o Meio Ambiente e a saúde do trabalhador. Um trabalhador doente e afastado
do trabalho representa despesa social".

[editar] Bibliografia
 ALBERGARIA, Bruno. Direito Ambiental e a Responsabilidade Civil das Empresas. Editora Forum. 2 Ed. 2010.
 BENJAMIN, Antonio Herman. Introdução ao Direito Ambiental Brasileiro. In: BENJAMIN, Antonio Herman et alii. Manual Prático da
Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, 2 ed. São Paulo : IMESP, 1999.
 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin. Curso de Direito Ambiental, 4 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2011.
 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro, 12 ed. São Paulo : Saraiva, 201.
 GORDILHO, Heron José de Santana. Direito Ambiental Pós-Moderno. Curitiba: Juruá, 2009.
 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental, 2 ed. São Paulo : Atlas, 2011.
 LEUZINGER, Márcia Dieguez & CUREAU, Sandra. Direito Ambiental. Rio de Janeiro : Elsevier, 2009.
 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 19 ed. São Paulo : Malheiros, 2011.
 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente, 8 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2011.
 MOREIRA Neto, Diogo de Figueiredo. Introdução ao Direito Ecológico e ao Direito Urbanístico. Rio de Janeiro : Forense, 1975.
 PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos Constitucionais do Direito Ambiental Brasileiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de Direito Ambiental. Vol. I. São Paulo: Max Limonad, 2002.
 SARLET, Ingo Wolfgang & FENSTERSEIFER, Tiago. Direito Constitucional Ambiental: Estudos sobre a Constituição, os Direitos
Fundamentais e a Proteção do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
 SÉGUIN, Elida. O Direito Ambiental: nossa casa planetária. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional, 6 ed. São Paulo : Malheiros, 2007.

[editar] Instituições de ensino em direito ambiental no Brasil


Hoje, as principais instituições superiores de ensino do país oferecem a disciplina de Direito Ambiental nos cursos de graduação e pós-graduação
(stricto e latu sensu). Segue uma relação parcial destas instituições:

 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP): possui Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Ambiental.
 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio): oferece há muitos anos curso de especialização em Direito Ambiental,
conta com um Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA) e co-edita a Revista de Direitos Difusos.
 Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR): oferece curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Socioambiental.
 Universidade Estadual do Amazonas (UEA): possui Mestrado em Direito Ambiental e edita a Revista eletrônica Hiléia.
 Escola Superior Dom Helder Câmara (ESDHC): possui Mestrado em Direito Ambiental e Sustentabilidade e edita a Revista Veredas.
 Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ): destaca-se em Direito Urbanístico.
 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC): possui um Grupo de Pesquisa em Direito Ambiental e se destaca nas discussões
filosóficas envolvendo o meio ambiente.
 Universidade Federal do Paraná (UFPR): possui Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Ambiental.
 Universidade Federal da Bahia (UFBA): possui um Núcleo de Pesquisa em Direito Ambiental (NIPEDA-UFBA), um periódico
especializado em direito animal (Revista Brasileira de Direito Animal) e uma Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Ambiental, além de
parcerias internacionais com a Michigan State University (EUA), se destaca como uma das referências em biodireito e direito animal no
Brasil.
 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): possui parcerias com instituições como o Instituto O Direito por um Planeta
Verde, editora da Revista de Direito Ambiental, em sua Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Ambiental.
 Universidade São Francisco (USF): foi uma das pioneiras[carece de fontes?] no ensino de Direito Ambiental Brasileiro em nível de graduação.
 Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca-se na pesquisa em socioambientalismo e comunidades tradicionais.
 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), o curso de Direito é voltado ao Direito Ambiental.

Referências
1. ↑ ALBERGARIA, Bruno. Direito Ambiental e a Responsabilidade Civil das Empresas. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2ª ed., 2009. Pág.
47
2. ↑ FERRAZ, Sérgio. Direito Ecológico, Perspectivas e Sugestões. In: Revista da Consultoria-Geral do Rio Grande do Sul, vol.2, n.4,
Porto Alegre, 1972
3. ↑ MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Introdução ao Direito Ecológico e ao Direito Urbanístico, 1 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1975
4. ↑ MILARÉ, Édis. Direito Ambiental, 7 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011
5. ↑ SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2011
6. ↑ MAGALHÃES, Vladimir Garcia. Propriedade Intelectual, Biotecnologia e Biodiversidade. São Paulo: Fiuza, 2011. Pág. 31
7. ↑ http://www.h2brasil.com/sub-cap-3.php
8. ↑ FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental. 4 Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011
9. ↑ FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. A Propriedade no Direito Ambiental. 4 ed. Sâo Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 44
10. ↑ MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Participação, Processo Civil e Defesa do Meio Ambiente. São Paulo: Letras Jurídicas, 2011. p. 75)
11. ↑ SARLET, Ingo Wolfgang & FENSTERSEIFER, Tiago. Direito Constitucional Ambiental: Estudos sobre a Constituição, os Direitos
Fundamentais e a Proteção do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011
12. ↑ ALBERGARIA, Bruno. Direito Ambiental e a Responsabilidade Civil das Empresas. Editora Forum. 2 Ed. 2010
13. ↑ GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental, 2 ed. São Paulo : Atlas, 2011. pág. 64.
14. ↑ MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Princípios fundamentais do direito ambiental. Revista de Direito Ambiental n. 2. São Paulo, RT, 1996
15. ↑ BENJAMIN, Antonio Herman V. "Introdução ao Direito Ambiental Brasileiro", in: A Proteção Jurídica das Florestas. Vol. I,
BENJAMIN, Antonio Herman (org.) São Paulo: IMESP, 1999. pp. 75 e ss.)
16. ↑ Em defesa do Código Florestal. In: Código Florestal: 45 Anos - Estudos e Reflexões. Org: FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de et
alii. Curitiba: Letra da Lei, 2010
17. ↑ RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de Direito Ambiental. Vol. I. São Paulo: Max Limonad, 2002
18. ↑ FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental, 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011
19. ↑ BENJAMIN, Antonio Herman. Introdução à Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. In: Direito Ambiental das áreas
protegidas: o regime jurídico das Unidades de Conservação. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001
20. ↑ LEUZINGER, Márcia Dieguez. Natureza e Cultura: Unidades de Conservação de proteção integral e populações tradicionais
residentes. Curitiba: Letra da Lei & IBAP, 2009. Pág.120.
21. ↑ PADILHA, Norma Sueli. Fundamentos Constitucionais do Direito Ambiental Brasileiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010
22. ↑ SÉGUIN, Elida. O Direito Ambiental: nossa casa planetária. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006

[editar] Ligações externas


 - Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil - Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil
 - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Direito Ambiental e Animal da UFBA
 - Instituto O Direito por um Planeta Verde
 - Princípios do Direito Ambiental
 - Índice fundamental do Direito Ambiental
 - Legislação Ambiental Básica - Obra da UNESCO em parceria com o Ministério do Meio Ambiente
 - Principais Leis de Eficiência e política energética no Brasil
 - Tutela Ambiental - Introdução ao Direito Ambiental

Breve Análise Sobre a Lei do Ordenamento do Território

A República de Moçambique tem uma


superfície de cerca de 800.000 quilómetros
quadrados, na qual habita uma
população de cerca de 19,5 milhões de pessoas.
Tomando em consideração o crescimento
demográfico, no nosso caso a um
ritmo acelerado, em contraposição ao carácter
fixo das dimensões do espaço geográfico,
o ordenamento do território reveste-se de
grande importância, na medida em que visa
regular a relação entre as pessoas e o espaço
físico que ocupam, bem como os recursos
naturais neles existentes, numa perspectiva
de aproveitamento harmonioso e sustentável.
A falta de materialização dos planos de urbanização
existentes, o crescimento desordenado
das zonas periféricas e o aumento da
densidade populacional, em particular nas
zonas urbanas, tornaram o ordenamento
territorial prioritário, tendo dado origem à
criação de um quadro legal e institucional
para lidar com a matéria. Podemos referirnos,
a título exemplificativo, à criação de
órgãos estatais bem como definição de competências
neste domínio como factores dinamizadores
do processo de ordenamento territorial
no país, matéria esta que abordaremos
neste artigo.
O estabelecimento de um quadro legal sobre
a matéria veio conhecer grandes desenvolvimentos
com a entrada em vigor do Regulamento
do Solo Urbano (“RSU”), aprovado
pelo Decreto n.º 60/2006, de 26 de Dezembro;
a Política de Ordenamento do Território,
aprovada pela Resolução n.º 18/2007, de 30
de Maio e a Lei do Ordenamento Territorial
(“LOT”), aprovada pela Lei n.º 19/2007, de 18
de Julho, o qual constitui objecto de análise
do presente artigo.
Uma abordagem retrospectiva dos instrumentos
legais que antecederam a aprovação da
LOT, mostra-nos que pese o facto de o RSU
ter disposto em grande medida sobre o regime
de uso e aproveitamento da terra, nas
áreas de cidade e vila ou assentamentos
humanos ou aglomerados populacionais
organizados por um plano de urbanização,
este consagrou regras aplicáveis aos planos
de ordenamento territorial, ao atribuir-lhes um
carácter estratégico, informativo e normativo.
Por outro lado, definiu as competências dos
órgãos locais do Estado e das Autarquias no
concernente à elaboração e aprovação dos
planos de ordenamento e determinou que os
mesmos são estabelecidos com base nos
objectivos, princípios e directivas de ordenamento
do território. Tais objectivos, princípios
e directivas foram definidos na Política de
Ordenamento do Território.
O objectivo geral da Política de Ordenamento
do Território, assenta na necessidade da
“contribuição para uma gestão sustentável
dos recursos naturais e humanos do país,
através da compatibilização das políticas
sectoriais e a coordenação do planeamento
das várias escalas geográficas para o melhoramento
da qualidade de vida dos cidadãos
assegurando a sustentabilidade dos recursos
naturais”. Contudo, a Política reconhece que
para a materialização deste objectivo, bem
como dos princípios e directivas, a necessidade
de, entre outras acções, estabelecer o
enquadramento jurídico do ordenamento
territorial através da elaboração da Lei do
Ordenamento Territorial e da respectiva regulamentação.
Como ponto de partida, a LOT consagra o
dever de ordenar o território e atribui, consequentemente,
ao Estado e às Autarquias
Locais a competência para “promover, orientar,
coordenar e monitorizar de forma articulada
o ordenamento do território, no âmbito das
suas atribuições e dos respectivos órgãos”
nos termos nela definidos. Na prática, o Estado
exerce tais competências através do
Ministério da Coordenação para a Acção
Ambiental em cuja estrutura orgânica se
encontra inserida a Direcção Nacional de
Planeamento e Ordenamento Territorial.
O ordenamento do território será feito com
recurso aos instrumentos de ordenamento
territorial, concebidos para implementação à
escala nacional, provincial, distrital e autárquica,
entendendo-se como tal e consoante o
caso: o Plano Nacional de Desenvolvimento
Territorial; os planos especiais de ordenamento
do território; os planos de estrutura
urbana; os planos gerais e parciais de urbanização;
os planos de pormenor e a classificação
e qualificação dos solos, entre outros.
A iniciativa de elaboração destes instrumentos,
quando se trate de planos de âmbito
nacional, é do Conselho de Ministros, devendo
tais instrumentos ser submetidos à aprovação
da Assembleia da República. A nível
provincial estabelece-se um mecanismo análogo,
uma vez que a concepção dos instrumentos
de ordenamento do território ocorre
por iniciativa do Governo Provincial, devendo
ser submetidos à aprovação da Assembleia
Provincial e à ratificação por parte do Conselho
de Ministros. Contudo, a nível distrital e
autárquico, verifica-se uma descontinuidade
quanto ao mecanismo de elaboração e aprovação
dos instrumentos de ordenamento
territorial, dado que a iniciativa e aprovação
cabem, cumulativamente, à mesma entidade,
respectivamente, ao Governo Distrital e à
Autarquia, estando previstas as figuras da
ratificação pelo Governador e ratificação
tutelar, respectivamente.
A LOT atribui aos instrumentos de ordenamento
territorial um carácter vinculativo, sendo
que uma vez publicados no Boletim da
República, os mesmos têm efeito de lei,
devendo ser observados, no contexto da
ocupação de espaços, pelas entidades públicas,
bem como os cidadãos, as comunidades
locais e pessoas colectivas de direito privado.
A não observância das directivas e decisões
constantes destes instrumentos, bem como
as infracções relacionadas à matéria, deverão
ser tratadas em sede de regulamento,
visto não haver na LOT disposição alguma
neste sentido. É de esperar do regulamento
da LOT uma postura vigorosa em termos de
repressão das práticas que violem os planos
de ordenamento, face à proliferação de
assentamentos humanos desordenados e
projectos habitacionais concebidos em manifesta
violação das normas de ordenamento
territorial.
No decurso da execução dos planos de ordenamento,
a eficácia dos mesmos pode ser
objecto de suspensão temporária, total ou
parcial, em casos excepcionais ou quando a
sua implementação possa perigar a prossecução
de relevante interesse púbico. A indicação
das razões de interesse público deve
constar da decisão do órgão competente do
mesmo nível ou superior ao do instrumento,
devendo ser publicadas pelos “media” e no
Boletim da República e ser afixado em lugares
de estilo das administrações de distrito e
autarquias, sob pena de nulidade da referida
suspensão.
O respeito pelos direitos e liberdades dos
particulares no processo de ordenamento do
território, passa pela observância do
“princípio de participação pública e consciencialização
dos cidadãos”, quer na fase de
concepção dos instrumentos, mediante auscultação
pública, bem como na fase de execução.
Note-se que a LOT impõe o dever de
respeitar os direitos de uso e aproveitamento
de terra (“DUAT´s”). Porém, quando tais instrumentos
prevejam a implantação de projectos
ou de empreendimentos públicos em
terrenos urbanos ou rurais que sejam objecto
de concessão de DUAT´s de privados, ou de
uso tradicional por comunidades locais, deverá
proceder-se à identificação dessas áreas
para efeitos de declaração de expropriação
por interesse, necessidade ou utilidade pública,
nos termos da lei.
A expropriação levada a cabo com base nos
pressupostos antes mencionados, dá lugar
ao pagamento de indemnização, nos termos
da lei, a ser calculada de forma a compensar
a perda de bens tangíveis e intangíveis, a
ruptura da coesão social e a perda de bens
de produção. Porém, a LOT não especifica os
casos de interesse, necessidade ou utilidade
pública passíveis de expropriação para efeitos
de ordenamento territorial, remetendo a
questão para um regulamento a ser aprovado.
Nos casos em que, da execução dos instrumentos
de ordenamento territorial possa advir
ou advenha lesão de DUAT´s e interesses,
inclusive os estabelecidos com base nas
práticas costumeiras, a LOT reconhece aos
respectivos titulares as garantias gerais dos
administrados, designadamente: o direito de
promover a respectiva impugnação nos termos
regulamentares; o direito de acção popular
(notar que a forma de execução deste
direito ainda não foi regulamentado, portanto,
actualmente esta previsão não terá aplicação
prática); o direito de apresentação de queixa
ao Ministério Público e direito de apresentação
de queixa ao Provedor de Justiça (este
último direito também aguarda regulamentação).
Uma apreciação geral da LOT leva-nos ao
reconhecimento do esforço assinalável relativamente
à introdução de regras destinadas a
disciplinar a ocupação de espaços através da
observância das directrizes e decisões dos
planos de ordenamento. Contudo, quanto às
componentes de preservação dos recursos
naturais e do meio ambiente, definidas como
cruciais e portanto de menção obrigatória nos
planos de ordenamento, parece-nos não ter
sido dispensada suficiente atenção. Isto porque
na medida em que tendo sido definidas
as competências para elaboração dos instrumentos
e estabelecida a obrigatoriedade de
se envolver os órgãos que superintendem a
actividade do ordenamento do território em
cada um dos níveis de intervenção, foi descurada
a integração de entidades ligadas à
matéria ambiental e à preservação da natureza.
Nota-se ainda que a fiscalização das normas
estabelecidas para a elaboração dos instrumentos
de ordenamento territorial compreende
as vertentes administrativa e ambiental,
sendo por isso razoável que se requeira a
inclusão das entidades relevantes em matéria
de meio ambiente no processo de elaboração
dos referidos instrumentos.
Por último, é de mencionar que face ao facto
de algumas das matérias não tratadas de
forma específica na LOT serem remetidas ao
regulamento, a aprovação deste reveste-se
extrema importância. A celeridade que se
possa conferir à aprovação da regulamentação
da LOT determinará também o prazo
dentro do qual os planos de ordenamento
territorial em vigor deverão ser conformados
com a nova Lei. Permitirá também pôr em
prática os procedimentos relativos às penalidades
administrativas e multas aplicáveis
como consequência da inobservância da Lei,
para além das regras de expropriação por
interesse, necessidade e utilidade pública
referenciadas no corpo do presente artigo.

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