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Selma Freitas
Coordenação Geral
Nelson Boni
Coordenação de Projetos
Leandro Lousada
Professor Responsável
Selma Freitas
Revisão Ortográfica
Vanessa Almeida
F866dFreitas, Selma.
Direito urbanístico. / Selma Freitas. - São Paulo :
Know How, 2013
000 p. : 22 cm..
Inclui bibliografia
ISBN : 978-85-8065-234-5
1. Direito urbanístico. 2. Estatuto da cidade.
3. Plano diretor. I. Título.
CDD – 346.81045
Capítulo 1
. ....................................................... . 9
1 O Direito Urbanístico
2. Necessidade do surgimento do Direito Urbanístico
2.1. Civilizações antigas e clássicas
2.2. Idade Média e Renascimento
2.3. Fase pré-industrial
2.4. Urbanismo Moderno
2.5. O Direito Urbanístico no Brasil
2.6. Objeto do Direito Urbanístico
3. Os Princípios Constitucionais e a autonomia
do Direito Urbanístico
4. Vitórias na Política Urbana
Capítulo 2 .................................................... . 41
1. A cidade e sua função social
2. Estatuto da cidade
- O desenvolvimento sustentável
- A gestão democrática da cidade
- O planejamento do desenvolvimento das cidades
3. Instrumentos urbanísticos municipais
3.1. Instrumentos jurídicos de regularização fundiária
3.2. Instrumentos de democratização da gestão urbana
4. Gestão urbana e gestação municipal
4.1. Aplicabilidade das Normatizações
Capítulo 3 ................................................. . 73
1. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
2. Legislação e Executivo são responsáveis
pelo Plano Diretor
3. A participação da sociedade
4. A participação democrática
5. Definição das ações prioritárias e
dos instrumentos urbanísticos
6. O projeto de Lei do Plano Diretor
Capítulo 4 .................................................. . 97
1. A origem das posturas municipais
2. Preceito municipal escrito de ordem pública
3. A natureza jurídica das posturas
4. Posturas e Autonomia local
5. Considerações sobre as posturas municipais
6. Instituir posturas municipais
7. A recodificação do município de São Paulo
8. Códigos de obras
Capítulo 5 ............................................... . 125
1. Breves considerações sobre a Propriedade
2. Propriedade Privada Urbana
3. Intervenção do Estado no exercício
do Direito de Propriedade
3.1. Conceito
3.2. As Restrições
3.3. A Requisição
3.4. Ocupação Temporária
3.5. A Limitação Administrativa
3.6. A Servidão Administrativa
3.7. O Tombamento
3.8. A Desapropriação
3.9. A Retrocessão
4. Os tipos mais comuns de Limitações Legais
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nistrativo e há, ainda, aqueles que o compreendem
como uma disciplina de síntese, multidisciplinar.
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2. Necessidade do surgimento do
direito urbanístico
14
Na Mesopotâmia, o mais antigo mapa urbano
foi descoberto pela arqueologia, de Nippur (1.500
a.C.), a exemplo do que deu origem à Babilônia.
Na Grécia, a “pólis” estruturava-se em torno
de dois polos, a ágora, ponto focal da vida política, e
a acrópole, conjunto fortificado, onde se concentra-
vam os templos principais e as sedes dos conselhos
e tribunais.
As cidades romanas, nascidas, muitas vezes, de
acampamentos militares, um dos grandes progressos
foi a construção de um sistema de abastecimento de
água, transportada por grandes aquedutos em Roma.
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Papas, reis, príncipes ou nobres, para simbolizar
seu crescente poderio, entre os séculos XV e XVII,
projetaram a construção de novas cidades ou a reforma
urbana de outros centros. Versalhes teve a origem de
seu traçado nos bosques de caça medievais, cujo plano
partiu do princípio da radiação de 12 avenidas, que con-
vergem para o palácio real, e São Petersburgo, talvez a
mais importante criação urbanística do século XVIII.
A reforma da sede do papado em Roma, realiza-
da nos pontificados de Sisto IV e Sisto V tornaram-se
importantes elementos da estética urbana. No sécu-
lo XVI, Michelangelo consolidou o primeiro projeto
urbanístico a apresentar uma ruptura com o sistema
medieval com o Capitólio.
Nas cidades italianas e em Paris, ficaram destaca-
das pelo papel importante no processo de formação
da urbanística contemporânea.
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Nomeado prefeito do departamento de Sena por
Napoleão III, Haussmann encarregou-se da tarefa de
transformar uma Paris, ainda medieval em sua estru-
tura urbana, numa cidade moderna com reformas
realizadas em diversas cidades da França, em Roma,
Viena, Madri, Barcelona, Cidade do México, Chicago,
Nova Delhi e outras.
16
Em 1.824, surge a Constituição Imperial, é como
marco importante da época a Lei de 1.10.1.828, que
enumerou as matérias que as Câmaras Municipais
brasileiras poderiam tratar, cabe destacar também as
leis de 1.826 e 1.855 sobre matérias, que estabelece-
ram bases para as disciplinas da utilidade pública, nas
quais se fundamentavam as desapropriações.
Desde a 1.ª Constituição da República de 1.891
até a Emenda Constitucional n.º 01/69, o papel da
União não se expandiu no que toca a determinações
de diretrizes urbanísticas.
O Plano Nacional da época tratava de Viação
Férrea e de Estradas de Rodagem, e o principal enca-
minhamento constitucional era o de reforçar o papel
histórico dos municípios no tratamento das questões
locais, incluídas aí, àquelas que dissessem respeito ao
ordenamento das cidades.
Somente a partir do fim do século XIX é que o
urbanismo passou a ser usado efetivamente no Bra-
sil, com a fundação de Belo Horizonte. O plano da
cidade, construída para substituir Ouro Preto, como
capital de Minas Gerais. Outros exemplos de cidades
planejadas, no Brasil, são Goiânia e Brasília.
A política urbanizadora, que se operou no Bra-
sil desde a época do seu descobrimento e da criação
das primeiras cidades, caracterizou-se pelo esforço de
controlar e influir as transformações, que ocorreram
num processo como a urbanização das cidades.
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Com a necessidade de Portugal tomar posse das
novas terras descobertas no Brasil, o processo de po-
voamento gerou o que chamamos de colonização,
onde se fazia necessária uma política estratégica de
apropriação do espaço, e há autores que disseram que
"a ordem era ignorada pelos portugueses, no planeja-
mento de cidades em países novos".
A política urbanizadora, aplicada até meados do
século XVII pelos portugueses, consistia na formação
de vilas nos territórios dos donatários, enquanto nos
territórios da coroa havia uma despovoação.
Os centros urbanos compõem o sistema social
e espacial da colônia. As colônias funcionavam como
uma retaguarda rural para o mundo europeu e seus
núcleos, como sede de ações político-administrativas.
A dispersão da população causada pela decadência
da agricultura conduziu a uma mudança da política e no
programa de criação das cidades, bem como o controle
estreito sobre as vilas fundadas pelos donatários.
Século XIX - poucas alterações no contexto ur-
bano brasileiro, o progresso industrial e as consequ-
ências continuavam ocorrendo sempre com o intuito
de ocupação e apropriação do espaço.
Até início do século XX, a sociedade brasileira
estava, ainda, muito ligada às influências da coloniza-
ção. Já, neste século, forçados pelo crescimento acele-
rado, surgiram às necessidades de uma concentração
de normas propostas de um programa mais comple-
19
xo, que contempla o Direito Urbanístico.
A partir da Constituição de 1.988, podemos desta-
car dois elementos marcantes desse período de evolução:
20
decisões básicas quanto ao destino das propriedades
urbanas, onde se observa o fator - Função Social da
Propriedade.
A partir da década de 70 o Direito Urbanísti-
co conquistou uma identidade, que foi sendo ditada
com urgência, em razão da explosão e surgimento das
grandes cidades, trazendo consigo todos os proble-
mas inerentes às mesmas.
A emergência da necessidade de uma previsão
de caráter geral sobre o tema “urbanismo”, pressiona-
va a Constituinte de 1.988; e esta assinalou ao Direito
Urbanístico, então, o papel de servir à definição e apli-
cação de uma “política de desenvolvimento urbano”,
a qual tem por finalidade “ordenar o pleno desenvol-
vimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar dos seus habitantes”.
Cabe destacar, inicialmente, as definições de
competências em matéria de ordenamento urbano na
Constituição de 1.988 de competências da União Fe-
deral sobre a matéria:
21
Aos Estados ficou reservada importante maté-
ria de ordenamento territorial, principalmente com
o avanço do processo de urbanização brasileira e as
possibilidades de ocorrência do fenômeno conhecido
como conurbação:
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funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de
seus habitantes.
23
I. - direito tributário, financeiro, penitenciá-
rio, econômico e urbanístico.”
24
Estado exerce papel preponderante, uma vez que a
utilização da propriedade deixa de ser uma decisão
individual do proprietário, para tornar-se uma deci-
são, que envolva também o Estado.
Hely Lopes Meirelles, ainda, manifestam-se
dois aspectos do Direito Urbanístico:
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ços aos direitos e limitações inerentes à propriedade
urbana, sua regulação e organização, indispensável
diante do premente fenômeno da concentração ur-
bana iniciada a partir das revoluções burguesas e
industriais ocorridas na Europa Ocidental e, logo,
refletidas no Brasil.
A Constituição Federal impõe que para compa-
tibilizar a política urbanística da cidade tem que ter
sua validade condicionada ao respeito às normas e
decisões de maior abrangência, tanto no tocante aos
territórios, quanto com vistas a uma política de cará-
ter genérico voltada para o desenvolvimento.
3. Os princípios constitucionais e
a autonomia do direito urbanístico
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“(...) conjunto de técnicas, regras e instrumen-
tos jurídicos, sistemáticos e informados por princípio
apropriados, que tenha por fim a disciplina do com-
portamento humano relacionado aos espaços habi-
táveis, ou seja,(...) arte e técnica social de adequar o
espaço físico às necessidades e à dignidade da mora-
dia humana.”
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A matéria de Direito Urbanístico, longe de es-
gotar-se no artigo 24.º da Constituição Federal, tam-
bém encontra relevante disposição no artigo 182.º,
que trata da política de desenvolvimento urbano
executada pelo Poder Público Municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei, com o objetivo orde-
nar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
O princípio da “função social da propriedade”
constitui o núcleo central do Direito Urbanístico.
Outros, ainda, são os princípios Constitucionais, que
conferem ao Direito Urbanístico autonomia e rele-
vância material.
Diante do tema “Direito Urbanístico”, deve-
mos destacar os princípios:
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não é dever garantir apenas a vida, mas a vida com
dignidade. Considerando o respeito pelas virtudes e
qualidades humanas, o Direito Urbanístico, apresen-
ta-se como ciência das mais relevantes para a con-
cretização do direito à dignidade da pessoa humana.
Não há dignidade sem moradia, sem condições de
habitação, sem instrumentos urbanos que garantam
a circulação, o lazer e o trabalho.
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• Princípio da legalidade traduz a supremacia
do interesse público, o da publicidade e o da eficiência
dada inquestionável ligação umbilical existente entre o
Direito Urbanístico e o Administrativo, visto que são
integrantes do regime jurídico administrativo consti-
tucional e também estarão "a serviço" da legalidade.
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Tentamos demonstrar que não se trata de uma
nova matéria, mas sim, de uma matéria amadurecida
ao longo do despertar legislativo e doutrinário, bem
como de uma disciplina necessária para o tratamento
dos fatos sociais irredutíveis.
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Art. 183 – “Aquele que possuir como sua
área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua
família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.”
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de impacto ambiental, a que se dará publicidade.
33
• A Lei 9.605/98 - Meio Ambiente - regula-
mentada pelo Decreto 6.514/2008, que dispõe sobre
sanções penais e administrativas derivadas de con-
dutas e atividades lesivas ao meio ambiente, trouxe
novidades nas normas ambientais. Entre elas, está a
desconsideração da pessoa jurídica, que foi estabele-
cida para responsabilizar a pessoa física sempre que
sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
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cias aconteceram em 2.005 e 2.007).
35
O PAC constitui um plano keynesiano ou simplesmen-
te um conjunto de obras que pretende recuperar parte
da infraestrutura voltada à produção (portos, ferrovias,
rodovias, usinas geradoras de energia) e parte da infra-
estrutura social e de habitação entre 2.007 e 2.010. O
programa de urbanização de favelas é prioritário para
o investimento dos recursos orçamentários federais no
contexto do PAC; e ainda a Lei 11.445/2007 (Plano
Nacional de Saneamento Básico).
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Questões
1. Analise e assinale a alternativa correta.
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vância material:
a) Princípio da função social, princípio da dig-
nidade da pessoa humana e o princípio da igualdade.
b) Princípio da legalidade, princípio da razoabi-
lidade e o princípio da moralidade.
c) Princípio da proporcionalidade, princípio da
ampla defesa e o princípio do contraditório.
d) Princípio da segurança jurídica, princípio da
função social e o princípio da eficiência.
e) Princípio da função social, princípio da mo-
ralidade e o princípio do interesse público.
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tematizado sobre essa realidade jurídica.
e) Todas estão corretas.
a) da União.
b) dos Municípios.
c) dos Estados e do Distrito Federal.
d) da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios.
e) da União, dos Estados e do Distrito Federal.
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Capitulo 2
A Cidade e sua função social
1. A 1.Cidade
A Cidade e e
suasua função
função social social
Os registros históricos denotam que desde
os primórdios a necessidade de existência da ci-
dade é marcada pela vontade que os seres huma-
nos têm de agregar-se, para inter-relacionar-se,
para proteger-se, para produzir e trocar bens e
serviços, cultura e arte, pois a cidade é um lugar
de realização do bem comum, pois há sentimen-
tos e anseios que só se concretizam na diversida-
de, que a vida urbana proporciona.
Mesmo que, utopicamente, todos procura-
ram uma cidade mais justa e mais democrática,
socialmente inclusiva, construída para todos e
com a participação de todos, para que possamos
de alguma forma realizar dos nossos sonhos.
Temos que lembrar que existem desvan-
tagens e que, seguramente, o urbanismo segre-
gador, geralmente cria uma cidade legal e outra
marginal; esta não tem acesso aos serviços e ao
progresso da cidade legal; é periférica, constrói-
-se nas encostas e beiras de rio.
A questão urbanismo X pobreza não ficou
alheia à preocupação do legislador, pois suas re-
lações oscilaram sempre entre o desprezo mútuo
e o conflito. A impossibilidade de largas camadas
da população não ter acesso à propriedade sem-
pre foi tratado como um problema meramente
econômico e sem solução urbanística, como se o
urbanismo só se fizesse na abundância.
Esse urbanismo, que poderíamos denominar
urbanismo de exclusão, e ainda hoje vigente, leva
o solo urbano a ser objeto de ações clandestinas.
Em uma sociedade, onde o urbanismo é
dissociado da questão social e econômica, não se
pode constatar um papel reformador, que abra
caminho para os excluídos do direito à cidade.
No Brasil, o urbanismo fugiu à política e re-
vestiu-se de pura técnica de controle dos proble-
mas produzidos pela “disfunção” urbana. Aos
administradores e urbanistas passou despercebi-
da a visão que a cidade desejada tem que ser fru-
to do trabalho e participação coletivos de uma
sociedade, e o lugar onde se materializa a histó-
ria de um povo, pela via das suas relações sociais,
políticas, econômicas, artísticas e religiosas.
A nova visão de cidade busca a luz do Di-
reito Urbanístico, ser o espaço onde a vida mo-
derna desenrola-se e tem suas funções sociais de
fornecer as pessoas: moradia, trabalho, saúde,
educação, cultura, lazer, transporte, saneamen-
to ambiental, serviços públicos em geral, enfim
toda infraestrutura urbana, pois tem a missão de
viabilizar o pleno desenvolvimento das funções
sociais do todo (a cidade) e das partes (cada pro-
priedade em particular).
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Tudo isso se tornou possível através de uma
ordenação, cujo objetivo foi precisamente corrigir
o crescimento urbano distorcido, desordenado. A
política urbana teve que buscar, através dessa or-
dem, o pleno desenvolvimento de todas as fun-
ções sociais da cidade, da propriedade e da posse,
concretizando-se de múltiplas formas observadas
as características e particularidades locais.
Com essa nova ordem urbanística formou-
-se o conceito do Estatuto da Cidade onde re-
vela que o Direito Urbanístico está claramente
vinculado a uma visão totalizante de mundo em
oposição ao individualismo.
Com suas diretrizes gerais, o Estatuto expres-
sa a convicção de que nas cidades o equilíbrio é
possível e, por isso necessário, com vistas ao pre-
sente e ao futuro, já que a população tem direito
a uma cidade sustentável, e pode ser vista sob um
prisma de totalidade para possibilitar a fruição das
vantagens individuais dela decorrentes.
O Estatuto da Cidade introduziu mecanis-
mos de defesa para que tais políticas não sofres-
sem uma estatização, o que a distanciaria das
peculiaridades de cada locus, e afrontaria os ob-
jetivos do Direito Urbanístico, expressos na ges-
tão participativa e democrática que impede que
modelos fechados sejam obstáculos à execução
de uma política de desenvolvimento urbano ade-
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quada às necessidades de cada município.
A política urbanística agrega princípios da
cooperação entre os governos, iniciativa priva-
da e demais setores da sociedade, e da isonomia
de condições para agentes públicos e privados,
apresentando-se o Estatuto da Cidade como
a primeira tentativa de uma resposta jurídica
abrangente a esse conflito, através da instituição
de um Direito Urbanístico popular.
Para tanto adotou políticas de transferência dos
grupos marginalizados para dentro do mundo jus-
-urbanístico, ao mesmo tempo em que buscou ade-
quar essa política a real situação urbanística da popu-
lação por via de normas especiais.
buída pela Constituição à cidade, tem uma fun-
ção social que só se realizará na medida em que a
pessoa humana seja a prioridade da política urba-
nística, assegurando aos seus moradores condições
mais justas, humanas e democráticas de nelas viver.
O exercício do Direito às cidades sustentáveis
compreende plenamente condições de vida dignas,
de exercitar a cidadania e os direitos humanos, de
participar da gestão da cidade, de habitar uma ci-
dade com qualidade de vida sob todos os aspectos
antes mencionados.
A função social da cidade e da propriedade, so-
mente, será alcançada quando observadas pelo Poder
Público, as normas inseridas no Estatuto da Cidade,
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que fazendo uso de instrumentos ali previstos, tais
como o plano diretor, garante a ampla participação
popular que traduza a gestão democrática da cidade
e legitima a administração pública da cidade.
2. Estatuto da cidade
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histórica de reconhecimento de direitos individuais
de propriedade sem uma maior qualificação.
A Constituição Federal de 1.988 exigiu uma lei
complementar, o Estatuto da Cidade que foi aprova-
da apenas 13 anos depois.
O Estatuto da Cidade, Lei Federal n.º
10.257/2001, trata como deve ser feita a política ur-
bana em todo o país. Tem como objetivo garantir o
Direito à Cidade para todos e traz regras para orga-
nizar o território do município. É ele que detalha e
desenvolve os artigos 182.º e 183.º, do capítulo de
política urbana da Constituição Federal de 1.988.
O Estatuto da Cidade regulamentou e ampliou
os dispositivos constitucionais sobre política urbana,
além de ter reconhecido o “direito à cidade susten-
tável” no Brasil.
Conforme prevê a Lei 10.257/2001 (Estatuto
das Cidades): “normas de ordem pública e interesse
social que regulam o uso da propriedade urbana em
prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar
dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental”
(artigo 1.º, parágrafo único).
Essa Lei Federal n.º 10.257/2001 resultou de
um intenso processo de negociação, entre as forças
políticas e sociais, e confirmou o papel fundamen-
tal jurídico-político dos municípios na formulação
de diretrizes de planejamento urbano, bem como na
condução dos processos de desenvolvimento e ges-
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tão urbana.
As virtudes do Estatuto da Cidade não se es-
gotam na qualidade técnica ou jurídica de seu tex-
to, que embora fundamental, não é suficiente para
resolver problemas estruturais de uma sociedade,
historicamente, desigual e voltada para óptica rural.
Aplicar o Estatuto da Cidade em um contexto,
culturalmente excludente, tradicionalmente conser-
vador, nunca foi e, ainda, continua não sendo uma
tarefa simples, especialmente porque nessas socieda-
des chamadas de emergentes, não desenvolvidas ou
em desenvolvimento (periféricas), o poder político e
social vem associado à propriedade patrimonial.
A cidade cumpre efetivar a sua função social
para tornar-se acessível para todos os seus cidadãos.
Os municípios cabem, portanto, utilizar as diretrizes
e instrumentos do Estatuto da Cidade com o obje-
tivo de estabelecer as regras que propiciem o ple-
no desenvolvimento econômico, social e ambiental,
com vistas a garantir o direito à cidade para todos os
que nela vivem.
O Estatuto da Cidade procura estabelecer um
modelo de desenvolvimento a ser seguido pelos muni-
cípios, obedecidas às características e as diretrizes ge-
rais contidas em seu artigo 2.º E.C., Lei 10.257/2001
que devem ser destacadas três principais:
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• O Desenvolvimento sustentável
O desenvolvimento sustentável é o modelo
de desenvolvimento que defende a harmonia entre
a produtividade econômica, os seres humanos e o
meio ambiente, ou seja, a busca pelo equilíbrio entre
o econômico, o social e o ambiental.
A importância do plano diretor para o desen-
volvimento municipal, assim, por cidades sustentá-
veis, deve ser estendida àquelas, que implementam
políticas urbanas baseadas no conceito de desenvol-
vimento sustentável, e que possui mecanismos de
gestão que possibilitam o acesso de todos os cida-
dãos, desta e das futuras gerações, aos bens e equi-
pamentos públicos e às riquezas naturais.
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• O Planejamento do desinvolvimento das cidades
O Planejamento do desenvolvimento das ci-
dades tem como finalidade promover a justa distri-
buição espacial da população e das atividades eco-
nômicas, não somente do território do município,
mas também da área sob sua influência, com vistas a
evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano
e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente.
Os instrumentos disponibilizados aos municí-
pios para implementar a política urbana são outro as-
pecto importante do Estatuto da Cidade, que são clas-
sificados em: Urbanísticos, Jurídicos de Regularização
Fundiária e de Democratização da Gestão Urbana.
51
3.1. Instrumentos jurídicos
de regularização fundiária
52
nantes da política urbana;
• uma instrumental, que cria uma série de ins-
trumentos para materialização de tais princípios de
política urbana;
• uma institucional, que estabelece mecanis-
mos, processos e recursos para a gestão urbana; e,
finalmente, uma dimensão de regularização fundiária
dos assentamentos informais consolidados.
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Expressando a ideologia própria da tradição de
legalismo liberal, o Código Civil defendia o direito de
propriedade individual de maneira quase que absoluta.
Ao longo do processo de urbanização no País,
e em que pesem as mudanças drásticas ocorridas na
sociedade brasileira nesse período, a ação do poder
público no controle do desenvolvimento urbano en-
controu enormes obstáculos nessa interpretação civi-
lista. Culminando um lento e contraditório processo
de reforma jurídica que começou na década de 1.930,
o que a Constituição de 1.988 e o Estatuto da Cidade
propõem é uma mudança de “olhar”, substituindo o
princípio individualista do Código Civil pelo princípio
das funções sociais da propriedade e da cidade.
Com isso, estabelecem-se as bases de um novo
paradigma jurídico-político, que controle o uso do
solo e o desenvolvimento urbano pelo poder públi-
co e pela sociedade organizada.
Isso foi feito, especialmente, pelo fortalecimen-
to do dispositivo constitucional que reconheceu o
poder e a obrigação do poder público, especialmente
dos municípios, de controlar o processo de desen-
volvimento urbano com a formulação de políticas
territoriais e de uso do solo, nas quais os interesses
individuais de proprietários de terras e propriedades
têm, necessariamente, de coexistir com outros inte-
resses sociais, culturais e ambientais de outros gru-
pos socioeconômicos e da cidade como um todo.
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Para tanto, foi dado ao poder público o poder
de, por meio de leis e diversos instrumentos jurídi-
cos, urbanísticos e financeiros, determinar a medida
desse equilíbrio possível entre interesses individuais
e coletivos, quanto à utilização desse bem não re-
novável essencial ao desenvolvimento sustentável da
vida nas cidades, qual seja, o solo urbano.
55
tentabilidade ambiental.
Todos esses instrumentos devem ser utilizados de
maneira combinada, devendo promover não apenas a
regulação normativa dos processos de uso, desenvolvi-
mento e ocupação do solo urbano, mas especialmente
induzir ativamente os rumos de tais processos.
Podem interferir, diretamente, na dinâmica dos
mercados imobiliários produtivos formais, informais
e, sobretudo, especulativos que, tal como operam
hoje, têm determinado o processo crescente de exclu-
são social e segregação espacial nas cidades brasileiras.
A combinação de mecanismos tradicionais de
planejamento, como o zoneamento, loteamento/des-
membramento, taxas de ocupação, modelos de assen-
tamento, coeficientes de aproveitamento, gabaritos,
recuos etc., com os novos instrumentos — parcela-
mento/edificação/utilização compulsórios, tributa-
ção extrafiscal progressiva, desapropriação-sanção
com pagamento em títulos da dívida pública, direito
de superfície, direito de preferência para os municí-
pios, transferência onerosa de direitos de construção
etc. — abriu uma nova série de possibilidades para
a construção pelos municípios de uma nova ordem
urbanística, economicamente, mais eficiente, politica-
mente mais justa, e sensível face ao quadro das graves
questões sociais e ambientais nas cidades.
A utilização desses instrumentos e a efetiva-
ção de suas possibilidades de ação pelos municípios
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dependem, fundamentalmente, da definição prévia
de uma ampla estratégia de planejamento e ação,
expressando um “projeto de cidade” que deve ser
explicitado publicamente através da legislação urba-
nística e ambiental municipal, começando com a Lei
do Plano Diretor.
É de fundamental importância que os municípios
promovam ampla reforma de suas ordens jurídicas,
de acordo com os novos princípios constitucionais e
aprovem um quadro de leis urbanísticas e ambientais
condizentes com o novo paradigma da função social
e ambiental da propriedade e da cidade.
Todos os municípios com mais de 20 mil habitan-
tes, dentre outras categorias, receberam o prazo de cin-
co anos para formular e aprovar seus planos diretores.
Fica demonstrado o avanço na qualidade polí-
tica e técnica desses planos municipais das cidades
brasileiras, como podemos verificar:
57
tizar o processo de tomada de decisões e legitimar,
plenamente, a nova ordem jurídico-urbanística de
natureza socioambiental. O reconhecimento pelos
municípios de diversos processos sociopolíticos e
mecanismos jurídicos adequados que garantam a
participação efetiva dos cidadãos e associações re-
presentativas no processo de formulação e imple-
mentação do planejamento urbano-ambiental e das
políticas públicas — via audiências, consultas, cria-
ção de conselhos, estudos e relatórios de impactos
de vizinhança e de impacto ambiental, iniciativa po-
pular na propositura de leis urbanísticas, acesso ao
poder judiciário para defesa da ordem urbanística e,
sobretudo, pela prática do orçamento participativo
— é tido como sendo essencial para democratizar os
processos decisórios locais, não mais apenas como
condição de legitimidade sociopolítica, mas também
como condição de legalidade mesmo das leis e polí-
ticas urbanas.
• Além disso, a Lei Federal enfatizou a impor-
tância do estabelecimento de novas relações entre o
setor estatal, o setor privado e a comunidade, espe-
cialmente nas parcerias público-privadas, consórcios
públicos e consórcios imobiliários, e das operações
urbanas consorciadas, que têm de se dar dentro de
um quadro jurídico-político claro e, previamente,
definido, incluindo mecanismos transparentes de
controle fiscal e social. Uma preocupação original
58
com o financiamento do desenvolvimento urbano
foi traduzida de diversas formas, em especial pelos
princípios da justa distribuição dos ônus e benefícios
da urbanização e da recuperação, para a comunida-
de, das mais valias urbanísticas geradas pela ação do
poder público, não apenas com obras e serviços, mas
também pela própria legislação urbanística. Tam-
bém, nesse contexto, é preciso para a materialização
dos princípios do Estatuto da Cidade, que os mu-
nicípios promovam uma reforma compreensiva de
suas leis e processos de gestão político-institucional,
político-social e político-administrativa, de forma
a efetivar e ampliar as possibilidades reconhecidas
pelo Estatuto da Cidade.
B. Regularização fundiária de
assentamentos informais consolidados
59
institutos já existentes do usucapião especial urbano,
e da concessão de direito real de uso, que devem ser
preferencialmente usados pelos municípios para a re-
gularização das ocupações respectivamente em áreas
privadas e em áreas públicas, a nova lei avançou no
sentido de admitir a utilização de tais instrumentos
de forma coletiva. Ênfase especial foi colocada na
demarcação das Zonas Especiais de Interesse Social
(ZEIS). Diversos dispositivos importantes foram
aprovados de forma a garantir o registro de tais áreas
informais nos cartórios imobiliários, que, em muitos
casos, têm colocado sérios obstáculos às políticas de
regularização. Deve-se ressaltar que o Estatuto da
Cidade faz repetidas menções à necessidade de que
tais programas de regularização fundiária se pautem
por critérios ambientais.
• A seção do Estatuto da Cidade que propu-
nha a regulamentação de um terceiro instrumento,
qual seja, a concessão de uso especial para fins de
moradia em terras públicas, foi vetada pelo Presi-
dente da República por razões jurídicas, ambientais
e políticas. Contudo, dada, sobretudo à mobilização
do FNRU, em 4 de setembro de 2.001 foi assinada
pelo Presidente a Medida Provisória n.º 2.220, que
reconheceu, em determinadas condições e respeita-
dos certos critérios ambientais, o direito subjetivo (e
não apenas como prerrogativa da administração pú-
blica) dos ocupantes de imóveis de propriedade pú-
60
blica — inclusive municipal — à concessão de uso
especial para fins de moradia. A Medida Provisória,
também, estabeleceu em que condições o poder
público municipal pode promover a remoção dos
ocupantes de áreas públicas para outras áreas mais
adequadas, sobretudo do ponto de vista ambiental.
Trata-se de medida de extrema importância social e
política, mas que tem exigido um esforço jurídico,
político e administrativo articulado dos municípios
de forma a responder às situações existentes de ma-
neira juridicamente adequada, e também de forma
condizente com os outros interesses sociais e am-
bientais da cidade como um todo.
O Estatuto da Cidade pode ser visto como uma
grande “caixa de ferramentas” que deve ser utiliza-
da pelos municípios e a utilização dessas diretrizes
e instrumentos é uma missão para o plano diretor.
No artigo 4.º, o Estatuto da Cidade define-se
por um extenso conjunto de instrumentos para que
o Município tenha condições de construir uma po-
lítica urbana que concretize, de fato, a função social
da propriedade urbana e o direito de todos à cidade.
Estabelece que a política urbana deva ser objeto
de um planejamento extensivo, envolvendo planos
de ordenamento do território integrados entre si,
nas escalas nacional, estaduais, regionais, metropo-
litanas, municipais e intermunicipais.
61
Especificamente no âmbito municipal, detalha
que o planejamento municipal deve envolver o pla-
nejamento urbano, ambiental, orçamentário, setorial
e o planejamento do desenvolvimento econômico e
social, especificando também que a gestão orçamen-
tária deve ser feita de forma participativa, aberta a
todos os cidadãos.
Inclui os instrumentos tributários, envolvendo
impostos, contribuições, incentivos e benefícios fis-
cais e financeiros, voltados para viabilizar a indução
dos usos e atividades consideradas importantes para
a política urbana.
No inciso sobre os institutos jurídicos e políticos,
fornece ao Município instrumentos que permitem:
62
do processo de urbanização: outorga onerosa do direi-
to de construir e de alteração de uso, transferência do
direito de construir e operações urbanas consorciadas;
• – instrumentos voltados para a democratização
da gestão urbana e do direito à moradia: referendo popu-
lar e plebiscito, assistência técnica e jurídica gratuita para
as comunidades e grupos sociais menos favorecidos.
63
O instituto permite, também, que sejam im-
plantados mecanismos que impeçam a posterior
expulsão dos moradores dos núcleos regularizados
por segmentos sociais de maior poder econômico,
atraídos pela valorização desses terrenos.
Exemplos de mecanismos, deste tipo, são a
proibição de desmembramento de lotes (evitando
que alguém adquira vários lotes regularizados, trans-
forme-os todos em um único lote maior e faça nova
edificação, nesta nova condição) e a fixação do tipo
de uso do solo admissível (por exemplo, admitindo
apenas residências unifamiliares).
Quando aplicadas a imóveis vazios ou ociosos,
as ZEIS permitem ao Poder Público reservar áreas
dotadas de infraestrutura, serviços e equipamentos
urbanos para habitação de interesse social, consti-
tuindo-se em importante instrumento para evitar a
expulsão dos pobres para as periferias longínquas
dos centros urbanos.
Cabe destacar que o Estatuto da Cidade não es-
tabelece uma correlação direta entre transformações
urbanas e instrumentos. Cada município escolhe,
regulamenta e aplica os instrumentos, conforme a
estratégia de desenvolvimento urbano desejada.
Diversos instrumentos do Estatuto da Cidade
não apresentam por si só a solução para um deter-
minado problema urbano, ou de modo contrário,
uma determinada transformação urbana pretendida
64
depende da aplicação de um conjunto de instrumen-
tos de maneira coordenada e integrada no território.
Assim sendo, a regulamentação dos instrumen-
tos deve ser feita dentro de uma estratégia de desen-
volvimento urbano para sua efetiva aplicação e deve
estar no Plano Diretor.
65
produto dos ordenamentos espaciais, através das
normatizações dos planos e leis que o englobam, e,
da provisão dos serviços urbanos básicos efetuados
pela gestão urbana. Entretanto, não podemos esque-
cer que a gestão municipal não pode, e não deve pro-
mover uma administração isolada.
A gestão, essencialmente, deve ser formada com
a participação direta da população, através de fóruns
de discussão, debate e definições de políticas públicas
e acompanhamento na implantação das deliberações.
Cabe à lei orgânica do município, definir a real
participação popular na administração, não apenas
através dos vereadores, representantes legais do
povo, mas também, junto à comunidade, através de
associações de bairros e de serviços, visando a uma
fiscalização direta, evitando assim, os abusos tão co-
muns observados por todo o país.
66
informação deve divulgar toda questão de interesse
coletivo, de modo a produzir e suscitar interesse da
comunidade, produzindo vontade de intervir.
As fragmentações dos órgãos municipais e suas
competências administrativas refletem no controle do
uso do solo. Assim, enquanto uma secretaria apresen-
ta, elabora e dá subsídios para aprovação e normatiza-
ção de uma lei, não se pode esperar que outra secreta-
ria, alheia a decisões relativas a esta normatização, faça
a implantação e fiscalização da mesma.
A partir do vínculo estreito entre o poder deci-
sório e o poder reivindicatório uma ampla reforma
administrativa, espera-se, embora não em curto prazo
como todos anseiam, a médio e longo prazo, mudan-
ças que acarretarão um novo conceito de desenvolvi-
mento urbano, caminhando rumo à cidade desejada.
Questões
1. Dentre os instrumentos urbanísticos munici-
pais, qual reserva o direito de preferência?
a) Transferência do direito de construir;
b) Operações urbanas consorciadas;
c) Direito de preempção;
d) Direito de superfície;
e) Consórcio imobiliário.
67
2. Podemos afirmar que: o Estatuto da Cidade
estabelece modelo de desenvolvimento a serem se-
guidos pelos municípios, quais sejam:
I - o planejamento do desenvolvimento das cidades.
II - o desenvolvimento sustentável.
III - a gestão democrática da cidade.
68
ao lazer, para as presentes e futuras gerações, é uma
das diretrizes da política urbana.
69
5. Como deve ser formada, essencialmente,
a “Gestão”?
70
Capitulo 3
Plano diretor de desenvolvimento urbano
1. Plano diretor
1. Plano diretorde desenvolvimento
de desenvolvimento urbanourbano
76
• do bioma;
• da extensão do território municipal;
• da extensão da área urbanizada;
• da aglomeração urbana da qual eventual-
mente o município faz parte;
• do tamanho da população;
• dos padrões de urbanização;
• dos aspectos econômicos;
• da existência e configuração de grandes infraes-
truturas, tais como portos, ferrovias, estradas, aeroportos.
As aprovações de resoluções serão feitas pelo
Conselho Nacional das Cidades que estabelecerá os
critérios que devem ser utilizados para definir quais
são os municípios integrantes das áreas de especial.
Tais áreas devem ser de interesse turístico e de
influência de empreendimentos com significativo
impacto ambiental de âmbito nacional ou regional,
que tenham grandes obras que venham colocar o
meio ambiente em risco ou que alterem as caracterís-
ticas da região como aeroportos, rodovias, barragens
ou hidrelétricas.
A concepção de Plano Diretor expressa no Es-
tatuto da Cidade pressupõe o enfrentamento dos pro-
blemas urbanos, principalmente como um processo
político de tomada de decisões sobre a gestão do ter-
ritório municipal, que envolva toda a sociedade.
Para que o processo de elaboração do Plano é
fundamental que haja a participação efetiva da popu-
77
lação em todas as etapas garantidas pelo Poder Pú-
blico Municipal e participação dos diversos segmen-
tos da sociedade, de fóruns de acompanhamento, da
realização de audiências públicas, e ainda, conferin-
do transparência nas informações.
Os instrumentos do Estatuto da Cidade devem
ter sua aplicação prevista no Plano Diretor, definin-
do conceitos, procedimentos de aplicação e a demar-
cação no território. Alguns deles, como o parcela-
mento, edificação e utilização compulsórios, direito
de preempção, outorga onerosa do direito de cons-
truir, operações urbanas consorciadas e transferên-
cia do direito de construir, só podem ser aplicados se
houver previsão expressa no Plano Diretor.
Vale destacar que o Plano Diretor é a instân-
cia de integração das políticas setoriais no âmbito
do planejamento e do ordenamento de todo o ter-
ritório e o Município deve tirar partido desse poder
de regulação para constituir suas políticas setoriais e
programar seus investimentos no tempo.
A obrigação de aprovação do Plano Diretor
deve ser cumprida, sob pena de serem impostas san-
ções ao gestor municipal que deixar de fazê-lo, e o
artigo 52.º, inciso VII, do Estatuto da Cidade, define
como sendo um ato de improbidade administrativa
o descumprimento da obrigação de aprovação do
Plano Diretor, como segue:
78
“Art. 52. Sem prejuízo da punição de outros
agentes públicos envolvidos e da aplicação de outras
sanções cabíveis, o Prefeito incorre em improbidade
administrativa, nos termos da Lei n.º 8.429, de 2
de junho de 1992, quando:
I – (VETADO);
II – deixar de proceder, no prazo de cinco
anos, o adequado aproveitamento do imóvel incorpo-
rado ao patrimônio público, conforme o disposto no
§ 4.º do art. 8.º desta Lei;
III – utilizar áreas obtidas por meio do direito
de preempção em desacordo com o disposto no art. 26
desta Lei;
IV – aplicar os recursos auferidos com a ou-
torga onerosa do direito de construir e de alteração
de uso em desacordo com o previsto no art. 31 desta
Lei;
V – aplicar os recursos auferidos com opera-
ções consorciadas em desacordo com o previsto no §
1.º do art. 33 desta Lei;
VI – impedir ou deixar de garantir os requi-
sitos contidos nos incisos I a III do § 4.º do art. 40
desta Lei;
VII – deixar de tomar as providências neces-
sárias para garantir a observância do disposto no §
3.º do art. 40 e no art. 50 desta Lei;
VIII – adquirir imóvel objeto de direito de
preempção, nos termos dos arts. 25 a 27 desta Lei,
79
pelo valor da proposta apresentada, se este for, com-
provadamente, superior ao de mercado.”
80
as diretrizes e as prioridades nele contidas da Cidade.
A Lei 10.257/01 regulamenta os artigos 182.º
e 183.º da Constituição Federal de 1.988 estabele-
cendo e complementando com diretrizes gerais a
política urbana e outras providências. A propriedade
urbana cumpre sua função social, quando atende às
exigências do Plano Diretor.
81
o prefeito ou os vereadores obstruírem o processo,
isto pode ser considerado um ato de improbidade
administrativa e, se julgado procedente, serão puni-
dos com a perda de seus direitos políticos (Estatu-
to da Cidade, Art. 52, inciso VI e Lei Federal n.º
8.429/92).
Se o Poder Executivo for pressionado e não to-
mar a iniciativa, será possível entrar com uma repre-
sentação junto ao Ministério Público denunciando a
omissão do poder Executivo e exigindo o início do
processo de elaboração do Plano Diretor.
É neste aspecto que, muitas vezes, o proces-
so se perde, as cidades ficam à mercê dos interes-
ses econômicos de pequenos grupos detentores do
poder, quase sempre, interesses escusos ao interes-
se público e o planejamento é conceituado sobre o
prisma da temporalidade.
O ato de planejar deverá ser calcado dentro de
metas a curto, médio e longo prazo, cabendo à ges-
tão do município dar continuidade às ações, a médio
e longo prazo, idealizadas nos planos diretores de
gestões anteriores.
Na omissão do representante do poder executi-
vo, sempre será possível a Câmara Municipal formular
um Plano Diretor (ou mesmo a sociedade civil, atra-
vés de uma Lei de Iniciativa Popular) para começar a
discussão e, eventualmente até ir para a votação.
82
Neste caso, mesmo que o processo venha a ser
questionado pelo fato de que a iniciativa não tenha
sido do poder Executivo, toda essa discussão já é
uma forma de pressionar o prefeito a envolver-se
com a elaboração do Plano Diretor.
Essa observação é pertinente principalmente
nas cidades de médio e pequeno porte, quando há
interesses de grupos políticos que fazem seus suces-
sores, sendo comum uma administração abandonar
um Plano Diretor para substituí-lo em parte, ou to-
talmente, atribuindo a autoria à sua gestão.
3. A Participação da sociedade
83
Esse grupo deve ter técnicos do poder públi-
co e representante da sociedade civil, para que as
decisões não sejam tomadas, apenas, no gabinete e
fiquem estabelecidas as formas e modos de construí-
-lo, bem como os prazos para cada etapa.
Embora não esteja tudo normatizado, cabe ao
poder público, induzir e proporcionar os elementos
econômicos, políticos e culturais dentro do espaço
urbano e através de diretrizes formuladas em seu
plano, fazer intervenções de forma a orientar e pro-
duzir o processo de desenvolvimento urbano.
4. A Participação democrática
84
de forma democrática.
• Se as atividades estão sendo realizadas em
locais de fácil acesso, servidos de transporte públi-
co, em horários adequados, preferencialmente serem
noturnas ou acontecerem em finais de semana.
• Se há a garantia nas discussões, de uma diver-
sidade de pessoas, grupos sociais ou bairros. A Resolu-
ção 25/05 estabelece que os debates devam ser organi-
zados por segmentos sociais, por temas e por regiões.
• Se estiver havendo participação da sociedade
através de um grupo de representantes escolhidos
democraticamente (núcleo gestor), mas também de
forma direta, em grandes eventos com plenária am-
pliada, onde a proposta de lei seja discutida e pactua-
da com todos. A Resolução 25/05 sugere que a pro-
posta de Plano seja aprovada em uma Conferência
ou evento similar, com plenária ampliada.
• Se o número e a forma das reuniões e audi-
ências públicas foi suficiente.
• Se aconteceram atividades de capacitação ao
longo do processo, que permitiram que a população fos-
se capacitada sobre os temas e fortalecida para discutir e
tomar decisões de forma qualificada e equilibrada.
• Se as informações foram divulgadas através
de ampla comunicação pública, para todos, com an-
tecedência e com material disponível, em linguagem
acessível. A Resolução 25/05 diz que devem ser
divulgados: o cronograma, os locais das reuniões,
85
apresentações dos estudos e propostas sobre o Pla-
no Diretor, com antecedência de no mínimo 15 dias;
e os resultados dos debates e das propostas adotadas
nas diversas etapas do processo.
86
área municipal, definindo as condições de utilização
do solo no âmbito do perímetro urbano.
Cabe ao Plano Diretor criar normas complemen-
tares que se adaptem à realidade do território urbano,
porém, o que vemos, novamente, são adaptações a
leis de zoneamento e uso de solo de outras cidades e
regiões, nem sempre atendendo à realidade local.
Como exemplo, podemos citar o artigo 4.º da
Lei de Parcelamento do Solo, o item II DOS RE-
QUISITOS URBANÍSTICOS PARA LOTEA-
MENTO, que diz: “Os lotes terão área mínima de
125,00 m² (cento e vinte e cinco metros quadrados)
e frente mínima de 5,00 m (cinco metros).”
Quando observados os planos diretores em seu
conteúdo, em várias cidades, veremos que este item
não apresenta qualquer norma complementar alte-
rando as dimensões mínimas exigidas ou determi-
nando o desmembramento mínimo, para assegurar
uma melhor qualidade de vida. Novamente, parece
que se interpõe o interesse imobiliário como deter-
minador do espaço urbano.
Nas intervenções às leis originais, o Plano Di-
retor tem o dever de dinamizar a própria utilização
do solo com programas específicos, que tenham um
objetivo maior que é a de induzir o desenvolvimen-
to. Podemos citar como intervenção pública:
• Renovação urbana - revitalização e restaura-
ção de áreas degradadas, dando-lhes nova dinâmica
87
e incentivando seu uso. Como exemplo, podemos
citar as proximidades dos trilhos ferroviários.
• Estruturação urbana - integrar ao tecido ur-
bano as áreas rarefeitas, através da implantação de
atividades econômicas e de uso habitacional, além de
soluções para preservação ambiental. Como exem-
plo, podemos citar os fundos de vale.
• Dinamização urbana - criar focos de interes-
ses urbanos, de maneira a diversificar o crescimento
e ordenamento urbano. Como exemplo, podemos
citar a remodelação paisagística de uma região urba-
na pouco valorizada.
88
aqueles que são necessários para cumprir os obje-
tivos definidos e, quando adotados, devem ser re-
gulamentados para que sejam autoaplicáveis, para
que tenham validade a partir da aprovação do Plano
Diretor.
O legislativo municipal deve cuidar para que
não sejam adotados instrumentos e ações, que não
estejam ligados a nenhuma proposta e que não haja
propostas sem instrumentos ou ações. É necessário,
também, verificar se existem instrumentos aplicados
de forma contraditória ou sem delimitação física no
território, e se as ações prioritárias são, realmente, as
mais importantes para a cidade.
Esse mesmo poder legislativo tem o dever de
defender no projeto de lei o conteúdo mínimo exigi-
do pelo Estatuto da Cidade, tais como os da Refor-
ma Urbana e os estabelecidos pelas Resoluções do
CNC sejam tratados.
89
• A tramitação do PL não pode ser sumária e
superficial, mas também não pode alongar-se indefi-
nidamente, sem cronograma e prazos;
• O processo de participação já realizado deve
ser avaliado e respeitado;
• O Legislativo precisa estar capacitado e isento
para promover audiências públicas e analisar a pro-
posta de acordo com os interesses coletivos;
• O conteúdo mínimo e a autoaplicabilidade da
lei devem ser garantidos;
• Todas as críticas, sugestões, emendas e pro-
postas devem ser analisadas e sua inclusão ou rejei-
ção deve ser justificada;
90
No mínimo, os seguintes documentos devem
ser encaminhados:
91
Executivo, os vereadores podem aprová-lo, propor
modificações ou até mesmo recusá-lo, devolvendo
ao Executivo para uma reelaboração.
É preciso que a Câmara Municipal esteja prepa-
rada para avaliar o projeto de lei do ponto de vista
técnico, e do ponto de vista do seu processo partici-
pativo, observando se preciso a criação de uma Co-
missão Especial do Plano Diretor, que se encarrega-
rá de organizar o processo de discussão do assunto,
de reunir os conhecimentos necessários para analisar
e propor alterações.
O Estatuto da Cidade estabeleceu o prazo de
outubro de 2.006 para que 1.683 municípios tives-
sem um Plano Diretor aprovado. No entanto, mui-
tos municípios ficam sem prazo para promover um
adequado processo de tramitação.
De maneira alguma significa que as Câmaras
Municipais devam aprovar em regime de urgência,
sem debater adequadamente o projeto, deve-se sim
estabelecer um cronograma consistente para análise
e discussão do PL e procurar o Ministério Público
para justificar o atraso, pois a responsabilidade será
exclusivamente do Legislativo.
92
Questões
1. O Plano Diretor é obrigatório para cidades:
a) com mais de dez mil habitantes.
b) com mais de vinte mil habitantes.
c) com mais de trinta mil habitantes.
d) com mais de cinquenta mil habitantes.
e) com mais de cem mil habitantes.
93
pais deverão garantir a publicidade dos documentos e
informações referentes à elaboração do Plano Diretor.
a) Sim
b) Não
94
Capitulo 4
A origem das posturas municipais
1. A 1.origem das
A origem das posturas
posturas municipais
municipais
100
morais e culturais da época, que facilitassem a
convivência dos habitantes de um mesmo local.
As cidades portuárias passaram a receber
embarcações, tornaram-se lugares de trânsito de
comerciantes, aventureiros, imigrantes, e a cida-
de como meio de sociabilidade, ganha espaço
mais efetivo na vida brasileira, e nesse sentido,
surge, também, a preocupação com a higiene
pública, com a medicina psiquiátrica, o clima e
suas doenças.
Segundo Weber: “serão os códigos de pos-
turas municipais, formulados pelas autoridades
locais, que regularão o dia a dia da população”,
e através destas normas e de uma constante vi-
gilância sobre os habitantes tem um mecanismo
regulamentador. Foucault, analisando as socie-
dades do século XIX, esclarece que:
101
Regulamentar a cidade também significava ini-
bir a ação de indivíduos que poderiam desafiar o
poder do Estado. Limpar a cidade significa também
organizar os mecanismos institucionais capazes de
garantir a continuidade do sistema social.
102
Nessa época, não havia praticamente qualquer
outra legislação que dissesse respeito aos problemas
específicos do município, não só a nível local, como
também a nível estadual e federal. Os Códigos Sanitá-
rios e de Obras, a Consolidação das Leis de Trabalho
e mesmo o Código Civil só surgiram posteriormente.
103
estrutura política nacional. Com isso, cresceu signifi-
cativamente a importância das posturas municipais.
Num sentido mais atual, as posturas municipais
compreendem um instrumento jurídico, constituído
por um conjunto de normas, que regulam a utiliza-
ção do espaço e o bem-estar público, sendo o princi-
pal órgão mantenedor do nível de qualidade de vida
urbana do município.
104
pectivamente às normas e princípios que não podem
ser afastados pela vontade das partes, agindo como
marco limitador à atividade individual de contratar.
105
3. A natureza jurídica das posturas
106
reza jurídica das posturas, vislumbramos uma defi-
nição de posturas, no seu duplo aspecto material e
formal, como sendo:
107
polícia e em áreas de atribuições próprias das autar-
quias locais.
108
ras que restringem a liberdade dos indivíduos im-
pondo sob coação, limites ao exercício de certas
atividades, e à prática de atos que pela sua natureza
possam prejudicar a tranquilidade, a segurança e a
higiene pública, dentro dos vários setores da polícia
municipal, que compreenderá a polícia urbana, a po-
lícia rural, a polícia econômica, a polícia das estradas
e a polícia sanitária.
Por outro lado, ficam configuradas, juridica-
mente, as posturas, do ponto de vista formal, como
regulamentos autônomos, de polícia, embora reves-
tidos de especificidades, que nos levam a concebê-
-las, numa perspectiva material, como uma lei local,
na medida em que as mesmas introduzem com cará-
ter inovador, no ordenamento jurídico com coman-
dos normativos, dotados de generalidade e abstra-
ção, embora circunscritos a uma área delimitada do
território, inaugura o poder de emanar estas normas,
diretamente na Constituição e sendo as mesmas
emitidas por órgão democrático representativo.
O procedimento de elaboração, aprovação e
entrada em vigor das posturas segue as normas pre-
vistas para os regulamentos, das quais se evidencia
procedimento administrativo, o que serve para dizer
que, deverá sujeitar-se a um projeto de postura e a
apreciação pública.
109
4. Posturas e autonomia local
110
I - planejar, coordenar e gerenciar a política de
controle urbano no Município, visando à unificação
dos procedimentos de atendimento aos munícipes;
II - manter banco de dados atualizado sobre
as redes existentes no subsolo;
III - coordenar as ações de concessionárias de
serviço público, visando a articulá-las com o Municí-
pio e monitorando a utilização do subsolo;
IV - licenciar as atividades de obras e posturas
urbanas, em conjunto com as Secretarias de Admi-
nistração Regional Municipal, na forma e no limite
do regulamento desta Lei;
V - coordenar o licenciamento de atividades em
espaços públicos, no solo, no subsolo e nos espaços aéreos;
VI - coordenar a expedição de atos de autori-
zação, permissão ou concessão de uso e parcelamento
do solo;
VII - desenvolver outras atividades destinadas
à consecução de seus objetivos.
111
ser enfrentado e tratado na escala urbana em várias
cidades do Brasil, como São Paulo, Santos, Recife.
5. Considerações sobre as
posturas municipais
112
ou terreno e o logradouro público.
g) comprimento da fachada do estabelecimento
e a medida da projeção da fachada frontal do estabe-
lecimento sobre o alinhamento do lote.
h) testada do lote ou terreno e a medida da li-
nha divisória entre o lote ou terreno e o logradouro
público.
i) fachada e qualquer uma das faces externas da
edificação.
j) fachada frontal e face externa da edificação
voltada para o logradouro público.
k) publicidade e a mensagem veiculada por
qualquer meio, forma e material, cuja finalidade seja
a de promover ou identificar produtos, empresas,
serviços, empreendimentos, profissionais, pessoas,
coisas ou ideias de qualquer espécie.
l) engenho de publicidade e todo e qualquer
dispositivo ou equipamento utilizado, com o fim
de veicular publicidade, tais como: tabuleta, cartaz,
letreiro, totem, poliedro, painel, placa, faixa, pintu-
ra, banner, adesivos, bandeira, estandarte, balão ou
pipa, bem como outros mecanismos que se enqua-
drem nestas definições, independentemente da de-
nominação dada.
113
cenciamento ou proibições. Essas premissas são en-
contradas na Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação
do Solo, Lei 7.166/96, e nos mapas do zoneamento
das Áreas de Diretrizes Especiais e a Hierarquização
do Sistema Viário.
114
e circunstância.
Esse auto de infração será o instrumento por
meio do qual a autoridade Municipal (fiscais muni-
cipais) apurará a violação de leis, decretos e regula-
mentos do Município.
Deverá ser observado o tratamento da proprie-
dade, dos logradouros e dos bens públicos, a cons-
trução e a reconstrução dos passeios dos logradou-
ros e, ainda, o fechamento e conservação de terre-
nos no alinhamento.
E, ainda, tratativas referentes às queimadas e
fiscalização sanitária abrangendo inclusive a parte
de alimentação pelo órgão competente do Municí-
pio, que cooperará com as autoridades estaduais na
execução da legislação Sanitária do Estado, e com as
autoridades federais.
A Prefeitura deverá exercer, em cooperação
com os poderes do Estado, as funções de polícia da
sua competência, estabelecendo medidas preventi-
vas e repressivas no sentido de garantir a ordem, o
sossego, a moralidade, tranquilidade dos habitantes
e dos divertimentos, garantindo a segurança pública.
No interesse público a Prefeitura Municipal
fiscalizará a fabricação, o comércio, o transporte, o
depósito e o emprego de inflamável e explosivo e,
ainda, do funcionamento do comércio, da indústria
e atividades profissionais.
Dispor, ainda, sobre o comércio localizado e do
115
comércio ambulante em logradouros públicos ou lu-
gares franqueados ao público, das atividades indus-
triais que dependem de licença da Prefeitura.
Existem, na atualidade, séries de atividades para
as quais o Alvará de funcionamento, ou licenciamen-
to emitido pelo município poderá ser feito via Inter-
net, verificando a periodicidade do mesmo.
7. A recodificação do município
de São Paulo
116
vigentes faziam-se necessárias pelo fato de que o
chamado código de 1.886 não era na verdade um
novo código, e sim mera recodificação do código de
1.875.
Nas recodificações, ou rearranjos, que houve-
ram foram incorporadas posturas aprovadas depois
da entrada em vigência do código de 1.875.
As Câmaras Municipais sofriam limitação das
atribuições, no que se refere a novas formas de in-
tervenção pública, e o poder público era considera-
do como sendo uma abusiva ingerência na esfera do
privado, numa atitude de proteção à liberdade indi-
vidual e à inviolabilidade da propriedade particular.
A modernização do Estado ocorreu na época
da República, com a descentralização administrativa
e com a revalorização política dos municípios. Em
São Paulo, a reorganização das estruturas burocráti-
cas no nível municipal e estadual, objetivaria, preci-
puamente, renovar a capacidade de ação.
Os projetos com o decorrer do tempo, diante de
urgente modernidade, passaram a atender quatro condi-
ções básicas: higiene, comodidade, estética e economia.
Ao longo do tempo, a maior parte das atribui-
ções do poder local passou a ser regida por legisla-
ção específica, como temos exemplos atuais: lei de
zoneamento, lei de parcelamento do solo, código de
obras, código tributário, ficando o Código de Pos-
turas restrito às demais questões de interesse local,
117
notadamente aquelas referentes ao uso dos espaços
públicos, ao funcionamento de estabelecimentos, à
higiene e ao sossego público.
Com novos programas municipais estabeleceu-
-se uma melhoria das condições de habitabilidade e
de saneamento básico das moradias subnormais, a
reurbanização de favelas e a regularização fundiária,
em caso de invasão de áreas públicas municipais.
Devemos deixar constatado que as posturas
municipais, até hoje, são um importante instrumen-
to que visa a mitigar uma situação dolorosa, infeliz-
mente, dia a dia mais grave e que cumpre ao Estado
e à iniciativa privada atuar, para diminuir o agudo
déficit habitacional nas cidades brasileiras.
8. Códigos de obras
118
• Coordenar o crescimento urbano.
• Regular o uso do solo.
• Controlar a densidade do ambiente edificado.
• Proteger o meio ambiente.
• Garantir espaços abertos destinados a pre-
servar a ventilação e iluminação naturais adequadas
a todos os edifícios.
• Eliminar barreiras arquitetônicas que impe-
dem ou limitam a possibilidade de deslocamento de
pessoas portadoras de deficiência ou com dificulda-
de de locomoção.
119
de regulamentar a ocupação da cidade, que se con-
solidava com Legislação de Zoneamento da cidade.
Na cidade de São Paulo, como exemplo, foi
substituído pelo Plano Diretor de Desenvolvimento
Integrado/PDD, Lei n.º 7.688/71 e sofreu alterações
significativas, através do Plano Diretor de Desenvol-
vimento Estratégico - PDE, aprovado pela Lei n.º
13.430/2002, que fixando diretrizes gerais relativas
ao uso e ocupação do solo, que deve ser seguida por
todos os agentes públicos e privados que atuam no
município de São Paulo.
O objetivo desse método foi desenvolver a ci-
dade, formando polos industriais, comerciais e de
serviços. Assim, trazendo um desenvolvimento so-
cial e cultural, manutenção das características origi-
nais de alguns bairros, proteção ao meio ambiente e
configuração do espaço urbano pautado pelo inte-
resse público, que assegure o bem-estar equânime de
seus habitantes.
Questões
1.O que se postulava com as posturas municipais?
120
2. Qual a concepção de punição dos Códigos
de Posturas?
121
5. Qual a providência inicial quando da elabora-
ção de um projeto de edificação?
122
Capitulo 5
Breves considerações sobre a
propriedade
1. Breves considerações sobre
1. Breves considerações sobre
a propriedade a propriedade
Partindo do pressuposto que tudo evoluiu
com o passar do tempo, inicialmente do sentido in-
dividual para o coletivo e social, temos como con-
ceito geral de propriedade, que era considerada ab-
soluta e perpétua, podendo o proprietário dispor de
seu bem da forma como lhe conviesse, chegando até
os dias de hoje, onde tem seu uso, gozo e disposição
limitados pelo Estado.
A “Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão”, de 1.789, Direito de Propriedade, estaria
limitada, na medida em que os outros indivíduos não
tivessem seus direitos afetados, tendo o Código de
Napoleão de 1.804, tentando estabelecer uma visão
conceitual de individualismo, estabelecendo que o su-
jeito tivesse “o direito de gozar e de dispor das coisas
de modo absoluto, contanto que isso não se tornasse
uso proibido pelas leis ou pelos regulamentos”. Com
isso, foi consagrado o “Princípio da Legitimidade da
Limitação do Estado sobre a Propriedade”.
Nos países que adotam o sistema romano-ger-
mânico, cujo Direito é codificado (Espanha, Portu-
gal, França e Itália), as limitações ao Direito de Pro-
priedade, são rígidas, principalmente no que tange
ao tombamento de prédios históricos, monumentos,
igrejas, catedrais, museus etc.
O Brasil sofreu forte influência dos países, aci-
ma mencionados, a partir do Decreto 25/37, até
hoje em vigor, que foi aperfeiçoado por outros di-
plomas legais, culminando com a sua recepção pela
Constituição de 1.988 e pelo Código Civil de 2.002.
Essa limitação estatal, inicialmente, era só com
Direito de vizinhança, que foi evoluindo e mais ten-
dencioso ao condicionar o exercício deste Direito ao
chamado “bem-estar coletivo”.
Durante o Estado Liberal, a propriedade é vista
como absoluta e de estreitos vínculos com a própria
ideia de liberdade.
Com a evolução, após a Revolução Industrial,
e influências do socialismo, da doutrina social da
Igreja e de muitos movimentos político-sociais dos
séculos XIX/XX, o Direito de Propriedade também
sofre transformações.
A função social da propriedade, indo além das
meras limitações administrativas ao Direito de Pro-
priedade, vai operar uma transformação radical no
próprio esquema individualístico desse Direito, ou
seja, vai atingir o próprio conceito de propriedade.
A Constituição Federal de 1.988 assegura o Di-
reito de Propriedade, como sendo um direito indivi-
dual e também prevê limitações, ou forma de perda do
mesmo, em prol do interesse social, como pudemos
observar no artigo 5.º, XXII e XXIII, como segue:
128
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabili-
dade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
...
XXII- é garantido o direito de propriedade;
XXIII- A propriedade atenderá a sua função social.”
129
e pertencem à União, garantida ao concessionário a
propriedade do produto da lavra.”
130
rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a
produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela
sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.”
131
às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha
dado estrutura de direito privado.”
Art. 100. “Os bens públicos de uso comum do
povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conser-
varem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.”
Art. 101. “Os bens públicos dominicais po-
dem ser alienados, observadas as exigências da lei.”
Art. 102. “Os bens públicos não estão sujeitos
à usucapião.”
Art. 103. “O uso comum dos bens públicos pode
ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legal-
mente pela entidade a cuja administração pertencerem.”
132
países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele
provenham, bem como os terrenos marginais e as
praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas li-
mítrofes com outros países; as praias marítimas; as
ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as
que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas
áreas afetadas ao serviço público e a unidade am-
biental federal, e as referidas no art. 26, II;
V - os recursos naturais da plataforma conti-
nental e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os
sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas
pelos índios.”
§ 1.º - “É assegurada, nos termos da lei, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem
como a órgãos da administração direta da União,
participação no resultado da exploração de petróleo,
ou gás natural, de recursos hídricos para fins de ge-
ração de energia elétrica e de outros recursos minerais
no respectivo território, plataforma continental, mar
territorial ou zona econômica exclusiva, ou compen-
sação financeira por essa exploração.”
133
§ 2.º - “A faixa de até cento e cinquenta quilô-
metros de largura, ao longo das fronteiras terrestres,
designada como faixa de fronteira, é considerada
fundamental para defesa do território nacional, e sua
ocupação e utilização serão reguladas em lei.”
Art. 26. “Incluem-se entre os bens dos Estados:
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluen-
tes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso,
na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras,
que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob
domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencen-
tes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas
entre as da União.”
134
“A função social da propriedade não se con-
funde com os sistemas de limitação da propriedade.
Estes dizem respeito ao exercício do direito ao pro-
prietário; aquela, à estrutura do direito mesmo, à
propriedade. (...) Limitações, obrigações e ônus são
externos ao direito de propriedade, vinculando sim-
plesmente a atividade do proprietário, interferindo
tão-só com o exercício do direito, e se explicam pela
simples atuação do poder de polícia.”
135
Esta ideia já foi superada, pois parte do pres-
suposto que a função social configura-se elemento
da estrutura do regime jurídico da propriedade, sen-
do um dos princípios norteadores daquele Direito.
Portanto, tem sido usada a noção de situação jurídi-
ca subjetiva, na sua forma complexa para abranger
todo o instituto.
O Direito de Propriedade, conforme lição de
Celso Antônio Bandeira de Mello:
136
cuida do Plano Diretor:
137
cargos decorrentes das obras e serviços da infraes-
trutura urbana.
3. Recuperar para a coletividade a valorização
imobiliária decorrente da ação do Poder Público.
4. Gerar recursos para o atendimento das de-
mandas da infraestrutura e de serviços públicos
provocados pelo adensamento decorrente da ver-
ticalização das edificações e para a implantação da
infraestrutura em áreas não servidas.
5. Promover o adequado aproveitamento dos va-
zios urbanos ou terrenos subutilizados ou ociosos, san-
cionando a sua retenção especulativa de modo a coibir
o uso especulativo da terra como reserva de valor.
138
com isso diferencia os dois termos tratando que ha-
verá, por vezes, “interferência” e não “intervenção”,
pois, no sistema brasileiro, mais do que meramente
facultada ou tolerada, é, na origem constitucional,
imposta, tanto para o Poder Público (trata-se de
comportamento vinculado), como para o particular
(é comportamento decorrente de função) mostra-se
que qualquer tutela do meio ambiente implica sem-
pre interferência (não necessariamente intervenção)
no Direito de Propriedade.
A posição de José Afonso da Silva, nesse senti-
do, é que a Constituição adotou de forma "explícita e
precisa" ao garantir a propriedade, mas distinguindo
os seus regimes jurídicos específicos, diferenciando
a propriedade urbana da propriedade rural, além de
outras manifestações de propriedades, regulamenta-
das por regras especiais.
O Direito Civil não considera a propriedade
privada urbana como disciplina exclusiva. Com fun-
damento constitucional, é entendida como matéria
típica do Direito Urbanístico, na medida em que qua-
lifica os bens como urbanísticos e o solo, como solo
urbano, ambos destinados a cumprir as funções do
urbanismo como habitar, trabalhar, circular e recrear,
em consonância com o plano diretor municipal.
Correntes jurídicas afirmam uma postura publi-
cista, a respeito da propriedade urbana, pois, para a
legislação urbanística a figura do plano tem se con-
139
vertido em um instrumento básico da função públi-
ca do urbanismo.
E podemos acrescentar que opiniões doutriná-
rias afortunadas consideram a propriedade urbana
como um direito delimitado e definido pelo plano
de urbanismo em seus aspectos mais fundamentais.
Demonstrando, assim, que o fiel da balança
entre o urbanismo e a propriedade privada está no
cumprimento do princípio da função social da pro-
priedade, que interage com os interesses individuais
e coletivos.
3.1. Conceito
140
to, Exclusivo e Perpétuo:
• Absoluto - confere ao proprietário o direito
de dispor do bem como lhe convier;
• Exclusivo - traduz a ideia de que o bem ape-
nas cabe ao proprietário e a ninguém mais;
• Perpétuo - diz respeito à duração ilimitada da
propriedade, ou seja, não perderá o direito com sua mor-
te, passando a seus sucessores o direito àquele bem.
141
Há divergências doutrinárias quanto à denomi-
nação das diversas limitações administrativas, obser-
varemos as que seguem:
1) Restrições;
2) Servidão Administrativa;
3) Requisição;
4) Ocupação Temporária;
5) Limitação Administrativa;
6) Tombamento;
7) Desapropriação.
3.2. As restrições
• Da faculdade/direito de modificar/transfor-
mar, no todo ou em parte o seu bem, incluindo a
destruição total ou parcial daquele.
142
• A faculdade/direito de alienação que confe-
re direito ao proprietário de alienar o bem, a quem
lhe agradar e por qualquer dos meios admitidos em
direito, que esteja previsto como forma de aquisição
de uma propriedade.
3.3. A requisição
143
ral de 1.988, em seu artigo 5.º, XXV, e determina
que havendo iminente perigo de vida, a autoridade
cabível poderá usar a propriedade particular, e o pro-
prietário será indenizado na medida em que lhe for
causado o dano.
A própria Constituição Federal de 1.988 vem
definindo requisição, e determina os casos em que
poderá ser usada.
Requisição é a utilização pelo Poder Públi-
co de bens ou serviços particulares, fazendo uso de
coação, e sendo o ato de execução imediata e direta
da autoridade que requisita, mediante indenização
posterior, para que se atendam necessidades urgente,
transitória e coletiva.
A requisição, em alguns momentos, asseme-
lha-se à ocupação, em outros à desapropriação, mas
torna-se fácil à diferenciação, quando observamos
algumas características daquela.
A requisição poderá ser civil ou militar, e deve-
rá para ambas estar presente o “iminente perigo públi-
co”, justificando-se, então, a não necessidade de prévia
autorização do Poder Judiciário para sua execução.
As duas formas de intervenção do Estado
têm definições idênticas com objetivos diversos, é o
que preceitua a Constituição Federal em seu artigo
22, inciso III e Decreto-lei 4.812, de 08/10/1949,
como segue:
• A civil busca de evitar danos à vida, à saúde,
144
e aos bens da coletividade;
• A militar visa a resguardar a segurança inter-
na e a manutenção da soberania nacional.
145
devolvê-lo ao proprietário como o pegou.
Em nosso país, esta espécie de limitação está
prevista no artigo 36 do Decreto-lei n.º 3.365/41,
que dispõe que a ocupação será indenizada por ação
própria, de terrenos não edificados e será dada cau-
ção ao expropriante, quando for, por este, exigida.
Nesse diapasão, a ocupação estará caracterizada
quando houver a realização de obras públicas, ha-
vendo a necessidade de ocupação de terrenos vizi-
nhos, havendo terreno vizinho não edificado, haverá
necessidade de indenização, ou seja, se o proprietá-
rio assim o exigir, haverá prévia caução.
Precede a ocupação, a Declaração de Utilidade Pú-
blica, que deverá constar justa indenização que será devida
ao proprietário, conforme orientação jurisprudencial.
Há, também, outra situação que a ocupação
poderá ser utilizada. Conforme previsto na Lei n.º
8.666/93 de Licitações e Contratos Administrativos,
em que se tratando de serviços essenciais, poderá o
poder público contratante ocupar, provisoriamente,
móveis ou imóveis, que se encontrem vinculados ao
objeto do contrato para garantir a continuidade da
prestação dos serviços, caso haja rescisão, ou ainda,
verificar a ocorrência de graves faltas contratuais.
146
geral e gratuita, visando ao bem-estar social.
Detém características próprias, não se con-
fundindo com a servidão administrativa, ou com
a desapropriação, pois toda servidão implica uma
limitação, mas nem toda limitação significa haver
uma servidão. Tornar-se-á mais clara esta diferença,
quando for tratado o instituto da servidão.
O interesse da coletividade sobrepõe-se ao
do particular, visto que o interesse público atende a
limitações a qualquer fim, pela singularidade e como,
por exemplo: a altura dos edifícios por motivo de se-
gurança ou estética, imposição de medidas técnicas
para construção de imóveis.
A limitação deverá ser motivada pela obser-
vância do interesse público, sem, suprimir o exercí-
cio do Direito de Propriedade, devendo da mesma
forma ser geral, ou seja, sobre propriedade indeter-
minada (embora determinável).
Quando ocorre supressão da propriedade e
esta seja determinada, deverá a limitação ser indeni-
zada, deixando, assim, de ser uma limitação admi-
nistrativa para ser ou uma desapropriação ou uma
servidão administrativa, conforme o caso.
Também, poderão ocorrer limitações que
incidam sobre direitos ou atividades do particular,
mas, normalmente, incidem sobre bens imóveis,
condicionando o uso ao bem estar público, buscan-
do dar maior razão ao exercício do Direito de Pro-
147
priedade, observando sua função social e não mais
apenas o direito individual.
148
3.6.A servidão administrativa
149
cio de entidade diversa da sacrificada”.
A servidão é instituto elencado no novo Có-
digo Civil, artigo 1.378, vale ressaltar, advindo do
Direito Civil, podemos defini-lo como direito real
sobre prédio (chamado serviente), instituído em
favor de outro prédio (dominante), pertencente a
dono diverso.
Não se opera transferência de domínio, nem de
posse nesse instituto, tampouco de uso total do bem
a terceiros nem ao Poder Público. Apenas parcela do
bem tem seu uso compartilhado ou limitado tendo
em vista o Interesse Público.
Passamos a observar a servidão Administra-
tiva detalhadamente, pois não deverá ser confundida
com outros institutos, tais como, servidão civil, limi-
tação administrativa ou, ainda, com a desapropria-
ção, pelos motivos a seguir expostos.
A Servidão Administrativa: também há um
ônus real do Poder Público sobre a propriedade
privada, com a finalidade de utilidade pública e não
apenas de um único indivíduo.
A Servidão Civil: é direito real de um prédio parti-
cular sobre outro com a finalidade de serventia privada.
A servidão: toda servidão limita a proprieda-
de, mas nem toda limitação à propriedade implica a
existência de servidão.
A Limitação: é uma restrição geral e gratuita,
imposta de forma genérica ao exercício dos direitos
150
individuais em benefício da coletividade, enquanto
que na Servidão há um ônus real de uso, imposto a
determinados imóveis particulares, visando à reali-
zação de obras e serviços públicos, é um ônus para
suportar o proprietário, e mantém-se o domínio,
indenizando-se, aqui, o prejuízo causado pelo uso, e
não a propriedade.
A desapropriação: retira a propriedade do
particular, e indeniza a propriedade. Com funda-
mento legal na Lei n.º 3.365/41 (lei de desapropria-
ções), em seu artigo 40.º, que possibilita aos mesmos
entes que podem expropriar o poder de constituir
esse ônus, como segue:
151
tratando de servidões que não apresentem maiores
gravidades, tais como afixação de placas com nomes
de ruas, não haverá a necessidade de edição da citada
declaração.
As servidões podem ser constituídas direta-
mente por lei, de forma unilateral ou bilateral, me-
diante acordo precedido de ato declaratório de uti-
lidade pública ou por sentença judicial, quando não
haja acordo ou quando seja adquirido por usucapião.
No que diz respeito à necessidade ou não de
registro da servidão administrativa, Maria Silvia Di
Pietro esclarece que:
152
do prédio serviente.
São causas extintivas da servidão:
1) perda da coisa gravada;
2) a transformação da coisa por fato que a tor-
ne incompatível com seu destino;
3) a desafetação da coisa dominante;
4) incorporação do imóvel serviente ao patri-
mônio público.
3.7. O tombamento
153
com isso, a competência suplementar dos Estados,
que a exercerá de forma plena, quando a União não
houver estabelecido os parâmetros, como segue:
154
que lhe for contrário.”
Art. 30 – “Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadu-
al no que couber.”
155
O tombamento não se concretiza com apenas
um ato, trata-se de um procedimento administrati-
vo, e não de um ato administrativo, pois para que
um bem seja inscrito em um livro de tombamento,
deverá ser observado uma série de atos, sob pena de
nulidade.
No âmbito federal, o órgão responsável pelo
tombamento é o IPHAN – Instituto Brasileiro do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nas ou-
tras esferas, há órgãos criados para essa finalidade.
O tombamento poderá ser individual, quan-
do afete um bem isolado, limitando o exercício dos
direitos de apenas um indivíduo ou impondo-lhe
obrigações, ou geral, quando atingir a coletividade,
ou seja, a todos situados num bairro ou cidade, im-
pondo a todos a observância de limites urbanísticos
ou arquitetônicos, por exemplo, é o que ocorre com
muitas cidades em Minas Gerais, como Ouro Preto.
O tombamento somente será suscetível de
desapropriação se tiver como objetivo manter o pró-
prio tombamento, somente será indenizável se as
condições para conservação do bem acarretem des-
pesas extraordinárias para o proprietário, ou resul-
tam na interdição de utilização do mesmo bem.
3.8. A desapropriação
156
XXIV da Constituição Federal de 1.988, e ainda
a Legislação Federal que estabelece diretrizes ge-
rais, no que diz respeito a Desapropriação, Lei n.º
3.365/41.
Ao conceituar este instituto, que tem por fina-
lidade incorporar o bem particular ao bem público
Maria Sylvia Z. Di Pietro descreve como sendo:
157
e de pagamento em títulos da dívida agrária, no caso
de Reforma Agrária, por interesse social (CF. artigo
184), “a mais drástica forma de manifestação do po-
der de império, ou seja, da soberania interna do Esta-
do no exercício de seu domínio eminente sobre todos os
bens existentes no território nacional”.
158
n.º 8.629/93 e Lei Complementar n.º 76/93).
A doutrina define como sendo:
159
Por esse motivo, na desapropriação para fins
de reforma agrária, após o decreto expropriatório,
haverá a citação do expropriado para que, querendo,
conteste-a, inicialmente, em processo administrativo
próprio, provando que é produtivo, e neste caso, não
haverá desapropriação.
A justa Indenização deverá cobrir o valor
real atualizado do bem, danos emergentes e lucros
cessantes, juros compensatórios e moratórios, des-
pesas judiciais, honorários advocatícios e correção
monetária e será prévia como o depósito do valor
antes de entrar na posse do imóvel.
A desapropriação indireta é, doutrinaria-
mente, comparada com o esbulho no Direito Civil, e
como tal, não é amparado pela legislação pátria.
Uma vez que os bens integralizarem ao patrimônio
público, não poderão ser reivindicados pelo particu-
lar (artigo 35 do Dec. Lei 3.365/41). O que ocorre
com a desapropriação indireta é a afetação do bem
(vontade do Poder Público que determinada fique à
disposição de uso e gozo público).
3.9. A retrocessão
160
Há uma corrente doutrinária, que entende ser
a retrocessão um instituto do direito pessoal, onde
a administração oferecerá ao expropriado o imó-
vel pelo valor de foi pago, com base na omissão do
Decreto-lei 3.365/41, além, de proibir o artigo 35 a
reivindicação do bem ao Estado.
Outra corrente doutrinária entende que é um
direito real, podendo o ex-expropriado reivindicar o
imóvel alegando que a Constituição autoriza a desa-
propriação para um fim específico, e não sendo dado
esse fim, poderá rever o bem.
E uma terceira e última corrente que vê este
instituto como sendo misto, onde caberá ao expro-
priado a preferência ou se preferir, perdas e danos.
Fique claro que a retrocessão apenas ocorre
quando o administrador não deu ao imóvel destina-
ção pública, pois se o fizer, mesmo que esta seja dife-
rente da constante no decreto, não caberá tal medida.
161
• a Limitação pela doação de todos os bens
(artigo 548 C.C);
• a Limitação por doação inoficiosa (art.
549 C.C);
• a da Proibição de doação do cônjuge adúlte-
ro a seu cúmplice (art. 550);
• as Limitações impostas ao testador (arts.
1.846 e 1.801, III C.C);
• as Limitações impostas pelas servidões pre-
diais (arts. 1.378 a 1.389 C.C);
• as Limitações decorrentes do direito de vizi-
nhança (arts. 1.277 a 1.313);
• as Limitações oriundas do condomínio edilí-
cio (arts. 1.331 a 1.358 C.C.);
• as Limitações em leis especiais: as Limita-
ções pela Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei
6.766/1979), as Limitações pela Lei do Inquilinato
(Lei 8.245/1991), as Limitações pelo Estatuto da
Terra (Lei 4.504/1964), as Limitações impostas pela
Lei de Falências (Dec.- lei 7.661, de 21.06.1945), e
nova Lei de Recuperação de Empresas (Lei 11.101,
de 09.02.2005);
• as Limitações pela alienação fiduciária em
garantia (Dec.-lei 911/1969, Lei 9.514/1997 e Lei
10.931/2004);
• as Limitações pela desapropriação (Dec.- lei
3.365/1941);
• as Limitações impostas pelo Código de De-
162
fesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11.09.1990);
• as Limitações impostas pelo Estatuto da Ci-
dade (Lei 10.257, de 10.07.2001).
163
Câmara dos Deputados, o n.º 5.788/1.990.
Questões
1. Direito real de gozo, de natureza pública, ins-
tituído sobre imóvel de propriedade alheia, com base
em lei, por entidade pública ou por seus delegados,
em favor de um serviço público ou de um bem afe-
tado a fim de utilidade pública:
a) Limitação Administrativa;
b) Servidão Administrativa;
c) Tombamento;
d) Desapropriação.
164
quer natureza: móveis ou imóveis, materiais ou ima-
teriais, públicos ou privados.
III) É sempre uma restrição parcial, não
impedindo ao particular o exercício dos direitos ine-
rentes ao domínio.
IV) A União, Estado, Distrito Federal e
Municípios possuem competência concorrente para
legislar sobre proteção ao patrimônio histórico, cul-
tural, artístico, turístico e paisagístico.
É incorreta a opção:
a) I
b) II
c) II
d) IV
3. Medida imposta pelo poder de polícia do Es-
tado, com fundamento no princípio da supremacia
do interesse público, decorrente de norma geral e
abstrata:
a) Servidão Administrativa;
b) Limitação Administrativa;
c) Ocupação temporária;
d) Requisição.
165
a) Ocupação temporária;
b) Limitação Administrativa;
c) Requisição;
d) Servidão Administrativa.
5. Analise as proposições abaixo:
I. No valor da indenização, não serão incluídos
direitos de terceiros contra o expropriado.
II. Ficam sub-rogados no valor da indeniza-
ção, quaisquer ônus ou direitos que recaiam sobre
o bem expropriado.
III. Serão indenizadas as benfeitorias necessá-
rias e úteis, feitas após a desapropriação.
IV. Serão indenizadas as benfeitorias necessá-
rias feitas após a desapropriação; as úteis, quando
feitas com autorização do expropriante.
É incorreta a proposição:
a) I
b) II
c) III
d) IV
166
Capitulo 6
Compreendendo o direito de propriedade
na contemporaneidade jurídica brasileira
1. Compreendendo o direito
1. Compreendendo o direitodedepropriedade na
contemporaneidade jurídica brasileira
propriedade na contemporaneidade
jurídica brasileira
2. Nossa constituição e os
espaços territorialmente protegidos
172
O artigo 225 da Constituição Federal de 1.988
estabelece que:
173
gridade de amostras de toda a diversidade de ecossis-
temas, a proteção ao processo evolutivo das espécies, a
preservação e proteção dos recursos naturais.”
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“uso nocivo da propriedade”.
Paulo Affonso Leme Machado assevera que:
175
tegral e Unidades de Uso Sustentável, ambos, Espa-
ços Territoriais Especialmente Protegidos.
Passaremos a tratar, portanto, das duas legis-
lações aqui citadas, quais sejam, o Código Florestal e
a Lei do SNUC e seus tipos de Espaços Protegidos,
frente às formas de limitações administrativas já abor-
dadas em capítulo anterior, e respectivas indenizações.
Faremos, aprofundaremos, sobre os institu-
tos que puderem ser de domínio privado, posto que
os de domínio público, se em poder do particular,
deverão ser desapropriados, conforme já discutido.
176
Segundo a Lei n.º 9.985/00, as Unidades de
Conservação constituem um conjunto de diretrizes
e procedimentos, que tem a finalidade de conservar a
biodiversidade e o ecossistema de determinada área,
e devem dispor de um plano de manejo no prazo de
cinco anos após a sua criação.
• ESTAÇÃO ECOLÓGICA
Unidade de Conservação objetivará a preserva-
ção da natureza, a realização de pesquisas científicas.
177
privado, este deverá ser desapropriado, conforme
Artigo 9.º, §§ e incisos, da Lei 9.985/00.
• RESERVA BIOLÓGICA
• PARQUE NACIONAL
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Florestal, agora revogado pelo artigo 11 da Lei em
discussão, incluem-se as Unidades de Conservação
que pertencem ao Poder Público, sendo que as áre-
as que pertencerem ao particular deverão ser igual-
mente desapropriadas.
A categoria criada pelo Estado ou pelo Municí-
pio receberá, respectivamente, os nomes de Parque
Estadual e Parque Natural Municipal.
• MONUMENTO NATURAL
179
• REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE
180
Poderá ser instituída seja em terras públicas seja
em terras particulares e a lei prevê a possibilidade
de serem estabelecidos limites e restrições e não de
supressão dos Direitos de Propriedade para a utiliza-
ção de propriedade privada localizadas nestas áreas,
respeitando-se os limites constitucionais.
- Floresta Nacional
Área com cobertura florestal, predominando
espécies nativas, sendo para tanto, incompatível com
a propriedade privada, que, se nos limites da Floresta
Nacional, deverá ser desapropriada.
- Reserva Extrativista
É área de domínio público e será concedido
uso às populações extrativistas, devendo as áreas
particulares, em seus limites, serem desapropriadas.
-Reserva de Fauna
É implantada apenas em território público, de-
vendo ser desapropriada a propriedade particular
que lá estiver.
- Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Será desapropriada a área particular que estiver
nos limites desta espécie de Unidade de Conserva-
ção, pois apenas poderá ser criada esta categoria em
áreas de domínio público.
- Reserva Particular do Patrimônio Natural
São criadas em áreas particulares, que deverão
ser gravadas com perpetuidade, objetivando conservar
a diversidade biológica. Deverá constar do termo de
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compromisso assinado junto ao órgão ambiental com-
petente e averbado no Registro Público de Imóveis.
- Área de Proteção Ambiental
Trata-se de mais uma hipótese de cabimento de
unidade de conservação em propriedade particular,
que, respeitados os limites constitucionais, poderá,
uma propriedade ali situada, ter a utilização restrita.
182
imposto também ao proprietário.
183
ve-se ter em conta, que a visão egoísta que imperou
por séculos tem passado por um lento, mais neces-
sário processo de mudança.
Questões
1. Segundo a Lei n.º 9.985/00, as Unidades de
Conservação devem dispor de um plano de manejo,
no prazo de cinco anos após a sua criação. Assinale
a alternativa CORRETA.
a) O plano de manejo é o conjunto de diretrizes
e procedimentos que tem a finalidade de conservar a
biodiversidade e o ecossistema de determinada área.
184
II. A unidade de proteção integral tem o objetivo
de compatibilizar a conservação da natureza com o
uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.
III. O grupo de proteção integral subdivide-se em
Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacio-
nal, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre.
IV. A Estação Ecológica é de domínio público,
sendo vedada a desapropriação das áreas particula-
res inseridas em seus limites.
185
III. É vedada a visitação pública nas áre-
as definidas como monumento natural.
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c) I, II, II, IV, e V.
d) I, III, e IV.
e) I, II, e III.
5. Complete a lacuna:
187
Gabarito
Capítulo 1
1-d
2-a
3-e
4-e
Capítulo 2
1-c
2-d
3-d
4-b
5. A gestão, essencialmente, deve ser forma-
da com a participação direta da população, atra-
vés de fóruns de discussão, debate e definições
de políticas públicas e acompanhamento na im-
plantação das deliberações.
Capítulo 3
1-b
2-e
3-a
4-b
5-a
Capítulo 4
Resposta n.º 1 - Postularam-se normas cada
vez mais rígidas de procedimentos de conduta dos
cidadãos, do uso dos bens urbanos, e a avançar
sobre a regulamentação dos padrões de higiene e
salubridade das áreas públicas e das construções.
Capítulo 5
1-b
2-d
3-b
4-a
5-c
Capítulo 6
1-a
2-b
3-d
4-c
5 - Direito de Propriedade.
Referências
Básicas
CÓDIGO CIVIL COMENTADO - DOU-
TRINA E JURISPRUDÊNCIA – 7.ª Ed. Edito-
ra: Manole, 2.013.
Complementares
AGENDA 21. Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimen-
to. Rio de Janeiro, 3 a 14 de junho de 2.002. AC-
SELRAD, Henri (Org.). A duração das cidades:
sustentabilidade e risco nas políticas urbanas.
Rio de Janeiro: Ed. DP&A, 2.001.
Sites
http://www2.planalto.gov.br/legislacao
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
leis_2001/l10257.htm
http://www.cidades.gov.br/index.php
http://www.tjsp.jus.br/
http://www.cgu.gov.br
http://www.pmsg.rj.gov.br/urbanismo/
planodiretor.php
http://www.prefeitura.sp.gov.br/guiade-
servicos/content/plano