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Sumário
Unidade 1 — A cidade e a urbanização.........................1
Seção 1 Sobre a cidade e a urbanização............................................3
1.1 A história da cidade.............................................................................8
1.2 A cidade medieval .............................................................................17
1.3 A cidade na Idade Moderna...............................................................20
1.4 A Revolução Industrial e a cidade......................................................23
1.5 A cidade hoje ....................................................................................25
Seção 2 A urbanização brasileira.....................................................29
Seção 3 Problemas socioambientais urbanos...................................36
3.1 Enchentes .......................................................................................... 36
3.2 Resíduos sólidos ................................................................................37
3.3 Chuvas ácidas....................................................................................38
3.4 Inversão térmica.................................................................................39
3.5 Ilhas de calor .....................................................................................39
3.6 Deslizamentos de terra ......................................................................40
3.7 Poluição visual...................................................................................41
3.8 Poluição sonora .................................................................................41
3.9 Poluição luminosa .............................................................................41
Unidade 2 — Aspectos gerais sobre gestão pública e sustentabilidade no planejamento das
cidades ..................................................47
Seção 1 Planejamento urbano e planejamento ambiental................48
1.1 O planejamento urbano e as questões ambientais..............................48
1.2 Regulação ambiental no espaço urbano.............................................52
1.3 Planejamento e gestão pública...........................................................55
iv PLANEJAMENTO URBANO E AMBIENTAL
Seção 2 O planejamento das cidades e a qualidade de vida ............62
2.1 Aspectos gerais sobre qualidade de vida no ambiente urbano............62
2.2 Estratégias de sustentabilidade no planejamento das cidades.............65
Unidade 3 — Planejamento urbano e
Estatuto da Cidade.................................89
Seção 1 Planejamento urbano..........................................................91
1.1 Tipos de planejamento.......................................................................92
1.2 Educação ambiental e planejamento e gestão urbanos.....................103
1.3 Da luta pela reforma urbana à Constituição Federal de 1988...........107
Seção 2 Estatuto da Cidade ...........................................................111
2.1 Estatuto da Cidade: diretrizes gerais.................................................111
2.2 Zoneamento ambiental....................................................................112
2.3 Instrumentos da política urbana.......................................................113
Seção 3 Plano diretor participativo................................................123
Seção 4 Gestão democrática e orçamento participativo ................128
Unidade 4 — Impactos do processo de urbanização: a ocupação do
espaço urbano .....................................139
Seção 1 Impactos do processo de urbanização..............................140
1.1 A ocupação do espaço urbano.........................................................143 Seção 2 Saúde,
saneamento e meio ambiente................................154
2.1 Modificações ambientais e o aparecimento de doenças...................155
2.2 O saneamento e o desenvolvimento urbano ....................................157
2.3 Gestão e gerenciamento de resíduos sólidos....................................166
Apresentação
Você já parou para pensar em o que é uma cidade? E sobre como se dá o planejamento e a
gestão urbana? Neste livro nós vamos trabalhar visando à gestão pública municipal e, para
tanto, partiremos do princípio que anterior à gestão há o planejamento e que, para planejar,
devemos conhecer o que será planejado e estar cientes de que os planos devem ter objetivos
claros a alcançar.
Você verá que estudar a cidade é fascinante — afinal, estamos estudando a maior obra da
humanidade e, provavelmente, a mais complexa.
Na Unidade 1 vamos trabalhar conteúdos de extrema importância para a compreensão da
problemática urbana que é a história da cidade e da urbanização, o processo de urbanização
brasileiro e os problemas socio- ambientais urbanos.
Na Unidade 2 serão trabalhados aspectos gerais a respeito da gestão pública e a
sustentabilidade no planejamento das cidades, com destaque ao desenvolvimento sustentável
e ao planejamento de cidades sustentáveis.
Já na Unidade 3 trabalharemos com o planejamento urbano e o Estatuto da Cidade, que é uma
lei fundamental para o ordenamento urbano de nosso país. Serão trabalhados os tipos de
planejamento urbano, a política urbana na Constituição de 1988 e serão enfatizados o Plano
Diretor e o Orçamento Participativo.
Por fim, na Unidade 4 serão estudados os impactos ambientais decorrentes do processo de
urbanização, os impactos das ações de saneamento básico, conside- rações sobre a qualidade
de vida urbana e o Estudo de Impacto de Vizinhança.
Esperamos que este livro lhe motive a aprofundar os estudos sobre o planejamento e a gestão
urbana e que você possa atuar como profissional levando em consideração o conteúdo aqui
trabalhado!
Boa leitura!
Unidade 1
A cidade e a urbanização
Thiago Augusto Domingos
Objetivos de aprendizagem: Esta unidade tem como objetivo possibilitar a você a
compreensão de que a problemática urbana atual é o resultado de um longo processo
histórico. Aprender so- bre a história de uma cidade é fundamental para a apreensão do que é
uma cidade, do motivo de ter mais moradores na cidade do que no campo e, logicamente, o
porquê de as cidades serem tão problemáticas.
Seção 1:
Sobre a cidade e a urbanização
Na Seção 1, vamos estudar o que é a cidade, o ur- bano e o processo de urbanização. Para
tanto, é indispensável que tratemos da história da cidade. Vamos estudar a história da
urbanização desde seu princípio até a atualidade, compreendendo a impor- tância da
Revolução Industrial para a urbanização da humanidade.
A urbanização brasileira
Na Seção 2, trabalharemos a urbanização brasileira, partindo do pressuposto de que o
processo histórico da urbanização de nosso país é condição para a com- preensão dos
problemas de nossas cidades.
Seção 2:
Seção 3:
Problemas socioambientais urbanos
Na terceira seção, vamos trabalhar os principais pro- blemas socioambientais. É importante
salientar que todas as cidades apresentam problemas, logica- mente, algumas com mais
intensidade que outras. Vamos discutir sobre as enchentes, os resíduos sóli- dos, as chuvas
ácidas, inversão térmica, ilhas de calor, e as poluições visual, sonora e luminosa.
Introdução ao estudo
Você já parou para pensar na importância da cidade no mundo atual? E a importância de se
estudar o urbano? Bem, em primeiro lugar, temos de dizer que cidade e urbano não são
sinônimos (como veremos adiante), mas con- ceitos próximos. Em segundo lugar, temos de
levar em consideração que hoje o mundo pode ser considerado urbanizado, pois há mais
pessoas vivendo no meio urbano do que no rural.
A rápida urbanização brasileira, no século XX, acarretou diversos problemas socioambientais
urbanos. Assim, o planejamento e a gestão das cidades são essenciais para que possamos ao
menos diminuir a problemática de nossas cidades. Esse já é um fator que justifica o estudo
deste livro.
Primeiro, é importante distinguir, mesmo que brevemente, o que é plane- jamento e gestão.
Há uma diferença temporal entre ambos: enquanto o pla- nejamento é um comportamento
racional que objetiva ações futuras, a gestão está relacionada com ações presentes. Planejar
faz parte de nosso cotidiano, já que traçamos planos diários para nossas ações. Gestão, por
sua vez, significa administrar, dirigir, tomar conta de.
Nesta unidade vamos buscar a compreensão do que é a cidade e do que é o urbano e como
deve ser a cidade que almejamos. Partimos do princípio de que o urbano é uma realidade
socialmente construída, portanto, deve ser anali- sado a partir do seu processo histórico.
Iniciaremos nossas discussões partindo do processo histórico da urbanização e das cidades,
com o objetivo de verificar o que é a cidade e o urbano e pensarmos qual é a cidade que
desejamos, para que posteriormente possamos pensar em como ela deve ser planejada.
Seção 1 Sobre a cidade e a urbanização
Assim como sugere o título desta unidade, cidade e urbano não são sinôni- mos, apesar de
apresentarem certa similaridade. São termos polissêmicos, ou seja, diferentes autores
atribuem diferentes significados a eles. Dessa forma, em primeiro lugar, é conveniente
discutirmos um pouco sobre o que são con- ceitos. Deleuze e Guattari (1992) destacam que
todo conceito é ao menos duplo ou triplo, contendo um contorno irregular, que intenta ser
totalizante, mas é, na verdade, fragmentado. Além disso, a palavra apresenta história, pois
A cidade e a urbanização 3
A cidade e a urbanização 5
particular, é preciso ter em mente aquilo que uma cidade da mais remota Antiguidade e
cidades contemporâneas, digamos, Cairo, Nova York e Tóquio, mas também de uma pequena
cidade no interior brasileiro [...], têm em comum, para encontrar uma definição que dê conta
dessa imensa variação de casos concretos.
Questões para reflexão
Será que em nosso país não deveríamos adotar outra maneira de considerar a cidade, ou seja,
a partir do número de habitantes ou da densidade demográfica, por exemplo?
Para saber mais
Leia a resenha de Ana Fani Alessandri Carlos sobre o livro Cidades imaginárias: o Brasil é
menos urbano do que se calcula, do autor José Eli da Veiga. Esse texto vai ajudar você a
refletir:
<http://www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/Geousp/Geousp13/Geousp13_Resenha_Fani.
htm>.
Vamos lá, antes de darmos continuidade a nossos estudos, é necessário compreender o que é
cidade em nosso país. Dentro das esferas adminis- trativas da República Federativa do Brasil, o
município é a menor esfera. Município e cidade não são sinônimos! O município compreende a
cidade mais suas vizinhanças rurais, ou seja, compreende a zona urbana e a zona rural,
administradas pela prefeitura. A cidade é o espaço urbano do muni- cípio, delimitado pelo
perímetro urbano. Os distritos das cidades também são considerados urbanos, e o nome do
município é o mesmo da cidade- -núcleo, assim como o Decreto-Lei n. 311/1938 (BRASIL, 1938,
p. 1) em seu art. 3o dispõe: “A sede do município tem categoria de cidade e lhe dá o nome”.
Não vamos considerar essa delimitação do que é cidade como uma definição científica.
Vamos buscar, agora, definir mais cientificamente o que é cidade. Há tantas definições que às
vezes parece que há uma definição para cada autor que discute sobre o tema. Carlos (1992, p.
67-68) destaca diversos conceitos de cidade:
[...] uma distinção entre a cidade, realidade presente, imediata, dado prático-sensível,
arquitetônico — e por outro lado o “urbano”, realidade social composta de relações a serem
concebidas, construídas ou reconstruí- das pelo pensamento. [...] O urbano assim designado
parece poder passar sem o solo e sem a morfologia material, desenhar-se segundo o modo de
existência especulativo das entidades, dos espíritos e das almas, libertando-se de inscrições
numa espécie de trans- cendência imaginária. Se se adota esta terminologia, as relações entre
a “cidade” e o “urbano” deverão ser determinadas com o maior cuidado, evitando tanto a
sepa- ração como a confusão, tanto a metafísica como a redução à imediaticidade sensível. A
vida urbana, a sociedade urbana, numa palavra, “o urbano” não podem dispensar uma base
prático-sensível, uma morfologia (LEFEBVRE, 2001, p. 49, grifo do autor).
Pois bem, seguindo essa linha de pensamento, Souza (2006, p. 36) afirma, revisando os
conceitos elaborados por Milton Santos, que podemos destacar o urbano como um complexo
significativo da expressão territorial do modo de produção, portanto, abstrato, enquanto a
cidade é o mundo da forma, ou seja, da materialidade.
É possível afirmarmos, então, que o urbano, ou melhor, o modo de vida urbano, transcende os
limites físicos da cidade, tanto em relação a sua estru- tura física quanto aos aspectos sociais,
ou seja, a influência do urbano ex- trapola o tecido da cidade e imprime características urbanas
no meio rural. Nas palavras de Lefebvre (1999, p. 17, grifo do autor): “O tecido urbano
prolifera, estende-se, corrói os resíduos de vida agrária. Estas palavras, o ‘tecido urbano’, não
designam, de maneira restrita, o domínio edificado nas cidades, mas o conjunto das
manifestações do predomínio da cidade sobre o campo”. O rural não desapareceu, mas a
influência da cidade no campo é cada vez mais saliente. É notório que os moradores no meio
rural vivem cada vez mais o modo de vida urbano, como, por exemplo, utilizam os shoppings
centers como área de lazer, vivem a moda ditada pelas emissoras de televisão, convivem com
luz elétrica e água encanada — serviços que outrora não eram extensivos ao campo — etc.
Feita essa breve distinção entre a cidade e o urbano, vamos focar nossos estudos na história
da cidade.
A cidade e a urbanização 7
sociais sem relacionar esses fenômenos com a cidade e com o urbano é não compreender um
dos maiores causadores desses problemas.
Relacionar a cidade e o urbano à degradação ambiental e social implica compreender que a
cidade é a maior manifestação de alteração que o homem já fez na paisagem. É entender que
os prédios, as casas, as ruas, as fábricas fazem parte de uma paisagem que foi completamente
remodelada pelas técni- cas e tecnologias humanas. Compreender a importância do urbano
(entendido como modo de vida urbano) para o estudo das questões ambientais e sociais é
compreender que vivemos em uma sociedade de consumo e contraditória e que esta
demanda uma quantidade gigantesca de recursos naturais.
De todo modo, a cidade é a maior obra da humanidade, onde podemos encontrar as mais
belas obras que os homens puderam elaborar. É onde nossa capacidade técnica e tecnológica
se destaca sobremaneira. É onde nossos símbolos são inseridos na paisagem.
Bem, vamos à história da cidade. Para compreender a história da cidade devemos percorrer
um longo caminho, que se inicia no período Paleolítico. Assim como Mumford (1998) indica,
naquele período apareceram os primeiros atributos que séculos à frente iriam se tornar
cidade. Naquela época o homem ainda era nômade e os seres humanos dependiam de suas
andanças para so- breviver, pois era necessário realizar deslocamentos constantes em busca
de caça e para coleta. Para sobrevivência, desenvolvemos nossos primeiros instru- mentos de
caça, em madeira, osso ou pedra lascada, além do domínio do fogo. Estávamos iniciando nossa
dominação da natureza, mas nossas técnicas ainda não haviam possibilitado a fixação do
homem no território. De todo modo, tínhamos uma predisposição para a vida social desde o
Paleolítico, quando os homens demonstravam manifestações com o lugar, o que se
materializava no respeito aos mortos. Os cadáveres eram enterrados em locais que periodica-
mente eram visitados, assim como Mumford (1998) destaca. Isso pode parecer, à primeira
vista, uma simples curiosidade, mas esse fato nos faz entender que desde a Pré-história o
homem desenvolve sentimentos com o lugar.
As andanças dos homens pré-históricos, que eram essenciais para a sobre- vivência, só
puderam cessar com a descoberta da agricultura. O sedentarismo só foi possível, então, com a
Revolução Agrícola (também conhecida como Revolução Neolítica), há cerca de 11 mil anos. A
partir do desenvolvimento da agricultura o homem passou a ter uma relação diferenciada com
o lugar, e foi necessária a fixação no território. Os seres humanos passaram a ter condições
A cidade e a urbanização 9
A composição humana da nova unidade tornou-se igual- mente mais complexa; além do
caçador, do camponês, e do pastor, outros tipos primitivos introduziram-se na cidade e
emprestaram sua contribuição à existência: o mineiro, o lenhador, o pescador, cada qual
levando consigo os instrumentos, habilidade e hábitos de vida formados sob outras pressões.
O engenheiro, o barqueiro, o marinheiro surgem a partir desse fundo primitivo mais
generalizado, em um ou outro ponto da seção do vale: de todos esses tipos originais,
desenvolvem-se ainda outros grupos ocupacionais, o soldado, o banqueiro, o mercador, o
sacerdote. Partindo dessa complexidade, criou a cidade uma unidade superior.
Vimos até agora que o sedentarismo e o excedente alimentar foram fun- damentais para o
surgimento da cidade, mas não são suficientes, pois apenas a partir da criação de uma
complexa divisão do trabalho é que a cidade se efetiva. Assim como afirma Souza (2003, p. 44):
A cidade, em contraposição ao campo, que é de onde vinham os alimentos, foi se constituindo,
paulatinamente, como um local onde se concentravam os grupos e classes cuja existência,
enquanto pessoas não-diretamente vincu- ladas às atividades agropastoris, era tornada
possível gra- ças à possibilidade de se produzirem mais alimentos do que seria necessário para
alimentar os produtores diretos.
Se há uma divisão social do trabalho complexa naturalmente, há a criação de desigualdades e
da exploração do homem pelo homem. Assim, Singer afirma que: “[...] a existência da cidade
pressupõe uma participação dife- renciada dos homens no processo de produção e de
distribuição, ou seja, uma sociedade de classes” (1981, p. 13). Segundo Spósito, a cidade “[...]
na sua origem não é por excelência o lugar de produção, mas o da dominação” (1988, p. 17).
É interessante notarmos que diversas civilizações antigas, que não tiveram contato entre si,
construíram cidades. Sjoberg (1972, p. 42) destaca que “[...] apesar da diversidade cultural
entre os povos do Oriente Próximo, da Ásia e do Novo Mundo, as primeiras cidades em todas
essas regiões tinham em comum certas formas de organização”. Souza (2003, p. 45) salienta
que:
Cumpre sublinhar que o aparecimento e a proliferação de cidades pelo mundo antigo, na
Mesopotâmia, no vale do Nilo e no vale do rio Indo, e mais tarde na China, na bacia do
Mediterrâneo e na América das civilizações
A cidade e a urbanização 11
Por volta de 2500 A.C., floresciam as cidades de Mohenjo — Daro e Harappa no vale do rio
Indo, na região hoje ocupada pelo Paquistão. No milênio seguinte, havia popu- lações urbanas
no rio Amarelo. A capital da dinastia Shang (cerca de 1500 a.C.) foi descoberta próximo a
Anyang.
Importa assinalar que as plantações irrigadas de arroz eram fundamentais para a manutenção
das cidades. Sobre essas cidades, Benevolo (2007, p. 55) afirma que a “[...] organização
econômica, rígida e sem margens de manobra, tende a perpetuar-se no local, favorecendo a
formação de grandes Estados unitários, como no Egito, pois concentra nas mãos dos
soberanos e da classe dirigente um enorme excedente”.
Poder, prosperidade e virtude dominam a cultura oriental desde o início, e o poder era
justificado caso se assegurassem a paz e a harmonia social. A cidade ocupava um posto
dominante e era carregada de uma grande quantidade de significados simbólicos e utilitários.
Era a sede do poder.
Sobre a América Pré-Colombiana, é interessante notar que o processo de construção das
cidades da América foram independentes das raízes mesopo- tâmicas, gregas ou romanas. As
primeiras cidades foram construídas por volta de 500 a.C. e “[...] atingiram seu apogeu no
primeiro milênio d.C., e foram ótimos exemplos de que o processo de divisão do trabalho, que
se traduziu na constituição de uma estrutura de classes, criou as condições necessárias à
origem urbana” (SPÓSITO, 1988, p. 19).
Dentre os povos americanos pré-colombianos que construíram cidades, com certeza os que
mais se destacaram foram os Maias (atual Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras e
Península de Yucatán — México), Astecas (México) e Incas (Cordilheira dos Andes — Peru,
Bolívia, Chile e Equador).
1.2 A cidade medieval
Você já deve ter ouvido falar que a Idade Média foi a “idade das trevas”, pois foi uma época de
relativo pouco desenvolvimento cultural, filosófico e econômico. Mas temos de levar em conta
que naquele período houve, sim, avanços significativos.
A Idade Média compreende um grande período que vai do século V ao XV e que foi marcado
principalmente por uma nova forma de organização econô- mica, social e política: o modo de
produção feudal. A marca do início da Idade Média é o ano de 476 d.C., data da queda do
Império Romano do Ocidente
A cidade e a urbanização 17
Benevolo (2007) explica que na sociedade rural que formava a base da organização política
feudal as cidades passaram a ter um lugar marginal, pois não funcionavam mais como centros
administrativos, e em mínima parte eram centros de produção e troca. As diferenças jurídicas
entre o campo e a cidade iam cada vez mais desaparecendo, assim como a diferença física
entre os dois ambientes.
O caráter agrário do sistema feudal reduz consideravelmente as funções das cidades
europeias. Contudo, é possível reconhecer dois tipos de “[...] aglome- rados na Idade Média: as
‘cidades’ episcopais e os burgos” (SPÓSITO, 1988, p. 28). Em primeiro lugar, vamos justificar o
motivo de a autora utilizar aspas ao se referir às cidades da Idade Média. Deve-se ao fato de o
caráter urbano poder ser questionado, uma vez que não se constituíam locais de moradia
permanente, a não ser a religiosos e alguns agregados, e do ponto de vista econômico o
comércio e a produção artesanal se arrefeceram, além de perderem o papel político que as
cidades tinham na Antiguidade.
As cidades episcopais eram centros de administração eclesiástica, sem papel econômico, pois
o pequeno mercado abrangia apenas o local. Essas cidades se mantinham a partir da
arrecadação de tributos dos latifúndios pertencentes ao bispo e abades.
Sobre os burgos, Benevolo (2007, p. 259) assinala:
Uma parte da nova população, que não encontra trabalho nos campos, refugia-se nas cidades:
cresce assim a amassa dos artesãos e dos mercadores, que vivem à margem da organização
feudal.
A cidade fortificada da Alta Idade Média — à qual se adapta bem o nome de burgo — é por
demais pequena para acolhê-los; formam-se, assim, diante das portas outros
estabelecimentos, que se chamam subúrbios e em breve se tornam maiores que o núcleo
original. É neces- sário construir um novo cinturão de muros, incluindo os subúrbios e as
outras instalações (igrejas, abadias, caste- los) fora do velho recinto. A nova cidade assim
formada continua a crescer da mesma forma, e constrói outros cinturões de muros cada vez
mais amplos.
A população artesã e mercantil dos burgos era chamada de burguesia e representava a maioria
dos moradores dessas cidades. Estavam à margem do sistema político feudal, buscando
garantir as condições de autonomia judiciária e administrativa e liberdade pessoal para suas
atividades econômicas. Importa
A cidade e a urbanização 19
poder religioso perdia relativo espaço na sociedade. Doravante foi observada a derrocada do
sistema feudal, ao passo que eram criadas as bases para a estru- turação do sistema capitalista
em sua primeira fase, o capitalismo comercial. Perceba que todo esse movimento ocorre no
interior das cidades.
Já podemos notar que a cidade foi extremamente importante para a formação do capitalismo.
A cidade não precisou do capitalismo para ser formada, mas o capitalismo se estrutura no
interior da sociedade urbana.
O capitalismo surge na cidade, no centro dinâmico de uma economia urbana, que lentamente
se reconstitui na Europa, a partir do século XIII. Durante os séculos seguin- tes, a libertação de
certas cidades do domínio feudal, a fuga dos servos para estas cidades, o estabelecimento das
ligas de cidades comerciais e o surgimento de uma classe de comerciantes e banqueiros
prepararam o terreno para a Revolução Comercial, no século XVI, que estabelece, finalmente,
uma divisão do trabalho interurbana no plano mundial, assegurando um amplo e contínuo
desenvolvi- mento das forças produtivas. Neste processo, a capaci- dade associativa da cidade
medieval, ou melhor, de sua classe dominante — a burguesia — no sentido de unir dentro da
cidade contra as demais classes e de se associar a outras cidades num sistema cada vez mais
amplo de divisão do trabalho, ou seja, de se constituir como classe, desempenha um papel
essencial (SINGER, 1981, p. 22).
Conforme a cidade passa a fortalecer suas estruturas econômicas e sociais, a centralização da
riqueza e a subjugação do campo aos anseios urbanos se tornam inevitáveis. Em um
movimento que se torna cada vez mais complexo, a urbanização passa a se espraiar pelos
territórios. As cidades passam a ser ligadas por estradas, por vias fluviais, marítimas e por
relações comerciais e, dessa forma, temos a formação de redes de cidades.
No decorrer do século XVI, a cidade atravessa as fronteiras marítimas da Europa nas
embarcações que vieram à América. Os colonizadores fundaram cidades em diversos pontos
do território do Novo Mundo, que serviam de pontos nodais para o comércio, tanto de
escravos quanto de mercadorias e metais preciosos.
O comércio fortaleceu cada vez mais a classe burguesa, que, por sua vez, fortalecia seus laços
com o poder político, possibilitando a formação do Estado Nacional Absolutista. Cabe, neste
momento, destacar que o Estado Nacional (ou Estado-Nação) é caracterizado por ser um
território delimitado por fronteiras,
A cidade e a urbanização 21
A cidade e a urbanização 23
d) Com o renascimento das cidades os comerciantes, chamados de burgueses, ascenderam
como uma poderosa classe social atrelado ao Estado.
1.4 A Revolução Industrial e a cidade
Podemos apontar como marco inicial da Revolução Industrial a invenção da máquina a vapor
na segunda metade do século XVIII, mais precisamente quando James Watt, em 1769,
requereu a patente de seus inventos que eram voltados ao aumento da produtividade
manufatureira.
Cabe destacar que naquela época havia uma ampla corrida para o desen- volvimento de
técnicas e tecnologias que pudessem aumentar a capacidade produtiva dos manufaturados.
Isso nos permite inferir que essa corrida teve como objetivo atenuar a insaciável ânsia pelo
acúmulo de riquezas, ou seja, a capacidade criativa humana aliou ciência e técnica e voltou-se
a produzir mais a um menor custo, mesmo que em detrimento da qualidade socioambiental.
De todo modo, apenas um país, naquela época, tinha as características necessárias para que
essa revolução pudesse ocorrer: a Inglaterra. Vamos observar quais eram essas características.
Em primeiro lugar, as pesquisas para o desenvolvimento tecnológico eram (e ainda são) muito
custosas, e os ingleses puderam acumular uma grande quan- tidade de capital advindo do
período mercantilista, notadamente o acúmulo auferido pelos burgueses comerciantes.
O governo da Inglaterra estimulava a produção e o controle de manufatu- rados nos mercados
coloniais. Aliás, o parlamento, alguns pensadores (como Adam Smith e o desenvolvimento do
liberalismo econômico) e a religião pro- testante foram fundamentais para a ascensão da
indústria.
Não podemos desconsiderar os fatores naturais que auxiliaram o desenvol- vimento industrial
naquele país. O combustível da máquina a vapor, o carvão mineral, era muito abundante,
assim como o ferro e, não menos importante, a relativa ampla rede hidrográfica que fornecia a
água.
A mão de obra, outro fator preponderante à industrialização, tornou-se abundante a partir da
promoção do êxodo rural através dos enclosures (cerca-
5. Rapidez e caráter aberto dessas transformações que não permitem um equilíbrio estável,
isto é, nenhum problema é resolvido definitiva- mente, apenas é possível prever outras
transformações mais profundas e rápidas.
6. Desvalorização das formas tradicionais de controle público do ambiente construído, isto é,
tanto os setores da vida social quanto urbanísticos são indicados pelos economistas a serem
levados sem intervenção.
Podemos dizer que a Revolução Industrial foi, na verdade, uma revolução urbano-industrial,
pois a indústria precisou da cidade, que foi remodelada pela indústria. Isso significa que o
crescimento das cidades, em número e em população, tal qual vivemos hoje, é o resultado das
transformações advindas da Revolução Industrial. A população urbana cresceu e passou a
consumir cada vez mais, o que incentivava o crescimento da produção fabril. Isso resultou em
um ciclo ascendente!
A cidade e a urbanização 25
Questões para reflexão
Será que sem a Revolução Industrial teríamos chegado à urbanização da humanidade, ou seja,
mais pessoas vivendo nas cidades do que no campo?
1.5 A cidade hoje
Vimos até então o processo histórico da urbanização, com destaque para as transformações
urbanas decorrentes da Revolução Industrial. A cidade sempre teve importância na história,
mas hoje vivemos um período histórico no qual o urbano está em todas as partes.
Há uma imensa rede de cidades conectadas por vias de transporte e de comunicação. É
possível nos comunicarmos praticamente com todas as loca- lidades, seja por telefone, seja
por Internet. Logicamente, não é todo o globo que se encontra conectado, mas nunca houve,
na história da humanidade, uma rede tão bem estruturada de comunicação e transporte.
Fora a Roma Antiga, nenhuma cidade, antes da Revolução Industrial, che- gou à marca de 1
milhão de habitantes. Hoje temos, somente no Brasil, 16 cidades com mais de 1 milhão de
habitantes! Pois é, a Revolução Industrial
26 PLANEJAMENTO URBANO E AMBIENTAL
não criou a cidade, mas parece que criou a cidade grande. Neste instante você pensa: “E a
Roma Antiga?” Ok! Roma foi uma exceção, mas o que temos hoje é o aparecimento de
megacidades, que são cidades com mais de 10 milhões de habitantes! Atualmente, contamos
com 27 megacidades e somente cinco estão em países de primeiro mundo (EUROPEAN
ASSOCIATION OF NATIO- NAL METROLOGY INSTITUTES, 2013, p. 5), ou seja, são cidades com
sérios problemas urbanos, como criminalidade, pobreza, desigualdade social, falta de
saneamento básico, poluição, congestionamento...
Além das megacidades, hoje temos gigantescos aglomerados urbanos aos quais damos o nome
de megalópoles. As megalópoles podem ser compreen- didas como extensas regiões nas quais
há duas ou um conjunto de metrópoles conurbadas ou de elevada zona de influência entre
elas. São gigantescas áreas urbanizadas onde há um intenso fluxo de pessoas e capitais entre
as cidades. Não pense, contudo, que são áreas onde o tecido urbano se espraiou por
completo, pois mesmo nas megalópoles há certo desenvolvimento agrário, sobretudo
hortifrutigranjeiro, destinado principalmente ao abastecimento local. Importante! Não
confunda megacidade com megalópole!
Para saber mais
Conurbação é um fenômeno decorrente da expansão da malha urbana que diz respeito à
ligação física entre as malhas urbanas de duas cidades. Com o processo de conurbação temos
o desa- parecimento dos limites físicos das cidades. Tratava-se pontos onde duas diferentes
cidades convivem com a mesma realidade urbana.
Dentre as principais megalópoles do mundo temos: Bos-Wash, nos Estados Unidos, com
população aproximada de 50 milhões de habitantes, tendo como principais cidades Boston,
Nova York e Washington; Chipitts, também nos Estados Unidos, estende-se de Chicago a
Pittsburgh, com população superior a 10 milhões de habitantes; ainda nos Estados Unidos
temos SanSan, na costa oeste, que se estende de San Francisco até San Diego, com mais de 25
milhões de habitantes; no Japão, temos Tokkaido, que tem como principais cidades Tóquio,
Kawasaki, Nagoya, Quioto e Osaka; na Europa, temos Renana, localizada na Europa Ocidental,
no vale do rio Reno; estende-se pelos territórios da Alemanha e dos Países Baixos, tendo como
principais cidades Amsterdã, Colônia, Bonn e Stuttgart, com aproximadamente 33 milhões de
habitantes.
expansão da fronteira agrícola como o crédito rural subsidiado, que foi um dos pilares do
processo e pesquisas agronômicas executadas principalmente pela Embrapa — Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária — e a Emater — Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural (SOUZA; LIMA, 2003). Esse processo de modernização do campo, que tinha
como objetivo a intro- dução do capitalismo no meio rural, foi realizado favorecendo a
agroindústria em detrimento do pequeno produtor. A modernização do campo, portanto,
favoreceu os produtores de mais alta renda, e muito dos pequenos produtores não viram
alternativa senão venderem suas propriedades e migrarem para os centros urbanos, o que,
segundo Martine (1991), resultou em uma migração de 30 milhões de pessoas no período de
1965-1979. Nesse processo surge um grupo de trabalhadores rurais assalariados sazonais que
residem nas cidades, os “boias-frias”.
Além dessa maciça migração campo-cidade, temos de levar em conside- ração as altas taxas de
natalidade do período. Em 1940, a taxa de mortalidade era de 25 por mil habitantes,
declinando para 21% em 1950, 13% em 1960 e, em 1980, para 8%. As taxas de natalidade
apresentaram uma queda conside- ravelmente menor no mesmo período. De 1940 até 1970 a
taxa de natalidade do país era de cerca de 40 nascimentos para cada mil habitantes, e em
1980, de 31,2%.
Esse rápido processo de urbanização resultou na construção de cidades com inúmeros
problemas socioambientais. De um lado o processo de industrializa- ção e de modernização da
agricultura criava uma classe que acumulava uma suntuosa quantidade de riquezas, auxiliando
o país a se tornar um fenômeno econômico no final da década de 1960 e início da década de
1970. Por outro lado, esse movimento criava cidades muito excludentes.
A cidade e a urbanização 33
Questões para reflexão
Se nossa urbanização não tivesse sido tão rápida, será que nossos pro- blemas
socioambientais urbanos não seriam mais amenos?
Na década de 1980, a forte crise econômica reflete-se diretamente sobre as cidades
brasileiras. A indústria passa a se deslocar dos maiores centros, que se tornaram muito
custosos, em busca de localidades onde fosse possível
sonhar com uma cidade melhor, e é essencial conhecer os instrumentos que estão disponíveis
para essa construção. Vamos discutir sobre esse assunto na Unidade 3.
A cidade e a urbanização 35
Atividades de aprendizagem
A urbanização brasileira é um processo complexo que se principia no início da colonização.
Sobre o assunto, analise as alternativas a seguir e assinale a que estiver correta:
a) As cidades apenas passaram a ter um papel significativo na economia e administração de
nosso país a partir da independência, em 1822.
b) Ascidadesbrasileiras,emtodahistóriadopaís,foicaracterizadapor possuir mais moradores do
que o campo.
c) Nas décadas iniciais do século XX, as cidades brasileiras eram vistas como a possibilidade de
avanço e modernidade em relação ao campo que representava o Brasil arcaico.
d) Como o Brasil sempre teve um grande contingente populacional ur- bano expressivo, o
êxodo rural teve pouco ou nenhum efeito sobre a urbanização de nosso país.
A cidade e a urbanização 39
Para saber mais
Segundo Fornaro (2006, p. 82), o primeiro registro de danos à vegetação e aos seres humanos
decorrentes das chuvas ácidas data de 1661, mas o primeiro monitoramento sistemático data
de 1852. A primeira aparição da expressão chuva ácida é de 1872, cunhada por Robert Angus
Smith, no livro Air and rain: the beginnings of chemical climatology.
3.4 Inversão térmica
É um fenômeno que acontece naturalmente em áreas florestadas. Mas é muito observado em
áreas de intensa urbanização, que ocorre comumente nos invernos secos.
Primeiro, temos de compreender que o ar quente é menos denso que o ar frio, por isso tende
a subir, assim, o fluxo atmosférico acontece tanto linearmente como verticalmente. A radiação
solar aquece a superfície terrestre que absorve e irradia calor e, consequentemente, aquece o
ar mais próximo à superfície. O ar quente, então, sobe cedendo espaço para o ar mais frio, e
nesse movimento há a dispersão dos poluentes.
A inversão térmica ocorre, normalmente, em dias de céu limpo e sem ventos, tanto no período
da manhã quanto no final da tarde. Durante o período noturno, o asfalto e as construções
tornam-se mais frias, assim, o ar próximo à superfície torna-se mais denso, ou seja, o ar não
sobe. No final da tarde o rápido resfria- mento acarreta o mesmo fenômeno. A poluição e os
materiais particulados tornam o ar ainda mais denso e, como consequência, o ar quente fica
retido em uma camada superior e, como resultado, o ar mais frio e poluído próximo à
superfície fica estável, podendo gerar problemas respiratórios à população.
3.5 Ilhas de calor
Áreas asfaltadas e com grande adensamento de construções apresentam temperaturas mais
elevadas em relação às áreas florestadas. A concentração de veículos, que liberam gases
capazes de reter calor, acentua ainda mais esse problema.
a vegetação é de extrema importância, pois atua evitando o deslizamento. A copa das árvores
age atenuando a força das águas da chuva diminuindo sua ação erosiva, enquanto a vegetação
rasteira e os troncos das árvores diminuem a velocidade do escoamento superficial, além de
auxiliarem na estabilidade do solo. Com supressão da vegetação e ocupação das encostas os
deslizamentos de terra tendem a ser mais frequentes, causando prejuízos e até mesmo morte
da população.
3.7 Poluição visual
O excesso de propaganda, as pichações, as ocupação desordenada, os fios elétricos e as placas
de sinalização criam uma paisagem carregada de informa- ções e elementos. Algumas pessoas
consideram que os problemas decorrentes da poluição visual são meramente estéticos, mas a
convivência diária com esse tipo de cenário pode provocar, estresse, ansiedade e fadiga.
Por isso, algumas cidade adotam leis que restringem a publicidade, muitas vezes chamadas de
“Lei Cidade Limpa”.
3.8 Poluição sonora
A poluição sonora pode ser compreendida como uma alteração das pro- priedades físicas do
meio ambiente causada por som puro ou conjugado que afeta direta ou indiretamente a saúde
e/ou a segurança das pessoas.
Nas cidades há diversas fontes de ruído, como automóveis, construção civil ou shows musicais.
Como efeito à população temos: insônia, depressão, estresse, perda de audição, dificuldade de
concentração, perda de memória, dores de cabeça, cansaço, aumento da pressão arterial,
agressividade, queda do rendimento escolar e surdez.
3.9 Poluição luminosa
A iluminação excessiva e mal direcionada acarreta efeitos adversos, que chamamos de
poluição luminosa. Esse problema é mais comum em áreas densamente povoadas e com
industrialização excessiva, como Estados Unidos e Japão, por exemplo.
Esse tipo de poluição interfere nos ecossistemas, sobretudo aves, tartarugas e peixes. Às
pessoas, pode causar efeitos negativos à saúde, redução da visi- bilidade das estrelas e
interferência na observação espacial. Se, por um lado, parece que a poluição luminosa é um
incômodo aos astrônomos, por outro, interfere diretamente na vida de animais e insetos de
hábitos noturnos.
A cidade e a urbanização 41
A cidade e a urbanização 43
A problemática da inversão térmica.
A questão das ilhas de calor.
A influência humana nos deslizamentos de terra. O desconforto causado pela poluição visual.
A questão da poluição sonora.
A problemática da poluição visual.
Para concluir o estudo da unidade
Nesta unidade, tivemos a possibilidade de estudar a história da cidade, desde o período
paleolítico até os dias atuais. É esperado que você tenha compreendido a importância desse
tema para o entendimento da proble- mática ambiental urbana.
A urbanização de nosso país foi muito acelerada no século XX, acarre- tando a construção de
cidades muito problemáticas, sobretudo as maiores. Vimos, também, que atualmente temos
gigantescos aglomerados urbanos, as megalópoles, e que a configuração da cidade atual é
muito diferente da cidade da época da Revolução Industrial. Após apreendermos todo esse
conteúdo, vimos os principais problemas
socioambientais urbanos.
Atividades de aprendizagem da unidade
1. Leia as frases a seguir com atenção e responda ao que é pedido: Frase 1
“Realidade presente, imediata, dado prático-sensível, ar- quitetônico; mundo da forma, ou
seja, da materialidade.”
Frase 2
“Realidade social composta de relações a serem concebidas, cons- truídas ou reconstruídas
pelo pensamento; complexo significativo da expressão territorial do modo de produção,
portanto, abstrato.”
Assinale a alternativa que estiver correta:
A cidade e a urbanização 45
I. A cidade no Brasil apenas passou a ter alguma importância após a Segunda Guerra Mundial.
II. Aurbanizaçãodenossopaísfoiextremamenteaceleradaapósa Segunda Guerra Mundial.
III. A modernização da agricultura, a partir da década de 1960, acar- retou uma acentuação do
êxodo rural.
IV. A rápida urbanização brasileira resultou na construção de cidades com diversos problemas
socioespaciais e ambientais.
Estão corretas apenas:
a) I e II b) II e III c) III e IV d) II, III e IV
5. As enchentes são problemas corriqueiros, principalmente no verão, nas cidades brasileiras.
Sobre o assunto, analise as alternativas a seguir e assinale a que estiver incorreta:
a) As enchentes ocorrem somente na área urbana das grandes cidades, pois é decorrente
exclusivamente da impermeabilização do solo.
b) Fatorescomoaimpermeabilizaçãodosoloedesmatamentodas áreas de nascentes, várzeas e
vegetação ripária tornam as enchen- tes mais severas e frequentes.
c) A impermeabilização do solo resulta em aumento do escoamento superficial, tornando o
problema das enchentes mais frequentes.
d) Asilhasdecaloraumentamaevaporação,tornandoaprecipitação mais frequente nas áreas
mais quentes.
Referências
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regional na economia-mundo. São Paulo: Bertrand Brasil, 1993.
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Seção 1, p. 4249. Disponível em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaNormas.
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CARLOS, Ana Fani A. A cidade. São Paulo: Contexto, 1992.
Unidade 2
Aspectos gerais sobre gestão pública e sustentabilidade no planejamento das cidades
Rosimeire Midori Suzuki Rosa Lima
Objetivos de aprendizagem: Você será levado a compreender a im- portância da integração
das questões ambientais no planejamento das cidades, além de conhecer as estratégias de
sustentabilidade para esse planejamento.
Seção 1:
Seção 2:
Planejamento urbano e planejamento ambiental
A Seção 1 apresenta uma discussão sobre a neces- sidade de integração das questões
ambientais no planejamento urbano, além de aspectos da gestão pública sustentável.
O planejamento das cidades e a qualidade de vida
Nesta seção você conhecerá aspectos gerais sobre qualidade de vida no ambiente urbano,
além de estratégias de sustentabilidade para o planejamento das cidades nas seguintes áreas:
áreas verdes, aces- sibilidade e mobilidade urbana e edificações e o uso dos recursos naturais.
Unidade 3
Planejamento urbano e Estatuto da Cidade
Thiago Augusto Domingos
Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade vamos em compreen- der o que é planejamento e
quais são os tipos de planejamento, para depois estudarmos o capítulo Da Política Urbana de
nossa Constituição Federal (C.F.) e o Estatuto da Cidade.
Seção 1:
Planejamento urbano
Na primeira seção, vamos discutir o que é o plane- jamento urbano e, para tanto, vamos nos
basear na tipologia de planejamento urbano elaborada pelo geógrafo Marcelo Lopes de Souza.
Veremos que há diversas abordagens sobre o assunto e daremos ênfase ao papel da educação
ambiental no planeja- mento ambiental.
Estatuto da Cidade
Nesta seção trabalharemos o Estatuto da Cidade, que regulamenta os arts. 182 e 183 da
Constituição Federal de 1988. Vamos estudar as Diretrizes Gerais, o Zoneamento Ambiental e,
principalmente, os ins- trumentos do Estatuto da Cidade.
Plano diretor participativo
Abordaremos, nesta seção, o Plano Diretor, que é um ins- trumento de grande importância
para o planejamento
Seção 2:
Seção 3:
Seção 4:
das cidades brasileiras. Você irá perceber que os Planos Diretores devem ser elaborados pelo
poder público junto com a população.
Gestão democrática e orçamento participativo
Vamos, na Seção 4, discutir sobre a gestão democrá- tica da cidade a partir do orçamento
participativo. Apesar de ser um instrumento que não é utilizado em todas as cidades, ele está
previsto como um ins- trumento de planejamento das cidades no Estatuto da Cidade.
Planejamento urbano e Estatuto da Cidade 103 sociedade justa é uma sociedade onde a
questão da jus-
tiça permanece constantemente aberta [...].
As leis devem ser vistas como algo importante para determinada época, ou seja, a legislação
tem de se modificar enquanto modifica-se a sociedade. Assim como afirma o autor, não há leis
justas para sempre!
Um planejamento sob a perspectiva autonomista necessita de uma parcela majoritária da
sociedade civil qualificada e organizada para elaborar propostas e estratégias e lutar para pô-
las em prática, e “Essa luta deverá combinar tanto pressões sobre o Estado (mesmo no caso de
ser ocupado por forças progressistas) quanto ações diretas” (SOUZA, 2004, p. 178).
O planejamento não pode ser pensado apenas como a gestão de “coisas”, como a estrutura
urbanística, mas sim planejar relações sociais! Não deve ser realizado apenas pelos técnicos do
poder público. Não que estes não sejam importantes, mas é necessário que haja a atuação de
técnicos e planejadores “[...] atuando como consultores a serviço da coletividade, dotados de
senso crítico mas sem se imaginar pairando acima dos demais cidadãos” (SOUZA, 2004, p.
179).
Diferentemente das outras formas de planejamento que estudamos, o plane- jamento
autonomista não trata de transferir a responsabilidade do planejamento ao Estado, mas sim
de uma autogestão da sociedade.
1.2 Educação ambiental e planejamento e gestão urbanos
A Educação Ambiental (E.A.) é de extrema importância para as ações de planejamento e
gestão urbanos ambientais, tanto que o art. 225, §1°, VI da Constituição de 1988 afirma que
para efetividade do direito a todos de um meio ambiente ecologicamente equilibrado a
educação ambiental deve ser promovida em “[...] todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 2004, p. 130). A educação ambiental é
muito importante caso se desejem cidades ambientalmente equilibradas, pois é fundamental
que a população citadina tenha discernimento das atitudes que devem ser tomadas para a
manutenção de um equilíbrio ambiental urbano. Antunes (2012, p. 327, grifo do autor) destaca
que a educação ambiental:
[...] é um dos mais importantes mecanismos para a prote- ção do meio ambiente, pois não se
pode acreditar — ou mesmo desejar — que o Estado seja capaz de exercer
Planejamento urbano e Estatuto da Cidade 117 2.3.4 Da usucapião especial de imóvel urbano
A usucapião de imóvel urbano já fora tratada no art. 183 da Constituição e, da mesma forma, o
Estatuto definiu que quem possuir por cinco anos ininter- ruptos e sem oposição uma área ou
edificação de até 250m2, utilizando para moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio,
conquanto que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Vale lembrar que o
texto consti- tucional vedou a usucapião de imóveis públicos (art. 183, §3o).
O art. 10 do Estatuto trata da usucapião coletiva. Em imóveis de mais de 250m2 ocupados por
população de baixa renda com finalidade de moradia, por cinco anos ininterruptos ou mais,
sem oposição, e que não há a possibilidade de identificar cada possuidor, haverá a
possibilidade de usucapião coletiva, desde que os possuidores não sejam proprietários de
outro imóvel rural ou urbano. Sobre o assunto, Oliveira (2001, p. 29-30) expõe que:
Efetivamente, a usucapião coletiva está voltada para a promoção da justiça e para a redução
das desigual- dades sociais. A histórica negação da propriedade para grandes contingentes
populacionais residente em favelas, invasões, vilas e alagados, bem como em loteamentos
clandestinos ou em cortiços pode ser corrigida por este instrumento, cuja meta é o
atendimento das funções sociais da cidade e da propriedade, possibilitando a melhoria das
condições habitacionais dessas populações, tanto em áreas urbanas já consolidadas, como em
áreas de expansão.
A usucapião coletiva será declarada pelo juiz e será atribuída fração ideal de terreno a cada
possuidor, mas frações diferenciadas estão previstas em caso de acordo escrito entre os
condôminos. O condomínio especial é indivisível e não é passível de extinção, a não ser que
haja deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos.
2.3.5 Do direito de superfície
O direito de superfície é um instrumento que permite ao proprietário urbano conceder a
outrem o direito de superfície de seu terreno, mediante escritura pública registrada em
cartório, por tempo determinado ou não, que poderá ser onerosa ou não. Oliveira (2001, p.
30) explica que:
O direito de superfície surge de convenção entre particu- lares. O proprietário de imóvel
urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado poderá atender às exigên-
Planejamento urbano e Estatuto da Cidade 137 PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Fundamentos
da educação ambiental. In: PHILIPPI JR.,
Arlindo. Curso de gestão ambiental. Barueri: Manole, 2014. p. 469-492.
RIBEIRO, Ana Clara Torres; GRAZIA, Grazia de. Experiências de orçamento participativo no
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Unidade 4
Impactos do processo de urbanização:
a ocupação do
espaço urbano
Rosimeire Midori Suzuki Rosa Lima
Objetivos de aprendizagem: Você será levado a compreender a im- portância da integração do
saneamento no desenvolvimento urbano, além de conhecer aspectos da política nacional de
resíduos sólidos.
Seção 1:
Seção 2:
Impactos do processo de urbanização
Nesta seção, você conhecerá os principais impactos ambientais decorrentes das atividades
humanas e saberá quais as características do meio que influem ou são afetadas pelo processo
de urbanização.
Saúde, saneamento e meio ambiente
Nesta seção, haverá uma discussão sobre os temas saneamento e desenvolvimento urbano e
os impactos decorrentes dessa relação. Serão discutidos, ainda, aspectos referentes à gestão e
ao gerenciamento dos resíduos e a Política Nacional de Resíduos Sólidos.