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DIÁLOGOS URBANOS E
PAISAGÍSTICOS (FUNDAMENTOS
DE URBANISMO)
AULA 2
CONVERSA INICIAL
Aqui, você terá contato com o conceito de morfologia urbana, e compreenderá as diferentes
estratégias de pesquisa e análise das formas da cidade, a fim de poder reconhecer os reflexos concretos
da morfologia urbana nos espaços e paisagens. Para isso, vamos analisar os elementos que compõem o
estudo da morfologia urbana, suas dimensões, e não podemos deixar de mencionar os aspectos
normativos que fazem parte e influenciam a forma urbana.
Vamos dar um zoom no elemento da quadra e usaremos dois exemplos de cidades que usam a
quadra como balizadora de sua forma. E, ao final, falaremos sobre a terminologia da dissolução da
quadra e citaremos dois exemplos de Curitiba, que, por meio do seu planejamento urbano, definem a
morfologia da cidade.
CONTEXTUALIZANDO
Antes de iniciarmos nossos estudos de morfologia urbana, é importante destacar ainda que o Brasil
possui a maior parte de sua população concentrada em áreas urbanas, o que, por consequência, torna o
planejamento urbano de fundamental importância. Nesse sentido, Turbay e Cassilha pontuam que o
“Brasil é um país que tem cerca de 85% de sua população concentrada em áreas urbanas, distribuídas
em cidades das mais variadas características. Esta razão impõe que se determinem políticas urbanas
como forma de fundamentar a governança dos territórios urbanos.”
Por isso é que a compreensão de morfologia urbana é muito interessante. O estudo da forma da
cidade garante um diagnóstico da cidade e um forte embasamento de planejamento do futuro, para se
definir políticas públicas e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem nas
cidades.
Como já visto, a cidade e o meio urbano são organismos vivos que evoluem e se desenvolvem ao
longo do tempo, de forma natural ou planejada, de acordo com as características sociais, políticas e
culturais de uma determinada sociedade. Ou seja, uma cidade pode sim ser considerada um organismo
vivo, que cresce sobre si e, por isso, está sempre em transformação, influenciando e sendo influenciada
pelo meio em que se insere e pela sociedade que nela vive.
(2020), citando Maretto (2014), aponta que “a morfologia urbana pode ser compreendida como um
estudo das formas urbanas e também dos atores e processos responsáveis pela sua transformação.”
Como se pode ver, a morfologia urbana não se restringe apenas ao estudo das formas e estruturas de
uma cidade, mas também das pessoas e processos que a projetaram ou nela intervieram, ainda que
extraoficialmente, para que se chegasse a um determinado desenho do centro urbano, e que são
fundamentais para se compreender o conjunto de regras e princípios que deverão ser aplicados no
planejamento futuro da cidade.
Para exemplificar, em um primeiro momento temos, a seguir, as três primeiras imagens referentes
a diferentes cidades: Nova York, Curitiba e Rio de Janeiro, com diferentes origens, economias e
paisagens.
Crédito: RAW-Films/Shutterstock.
Como visto nos itens anteriores, a cidade e o meio urbano são organismos vivos que evoluem e se
desenvolvem ao longo do tempo, de forma natural ou planejada, de acordo com as características
sociais, políticas e culturais de uma determinada sociedade, sendo que a morfologia urbana se dedica ao
estudo e compreensão do desenho da cidade e de todos os atores e processos que levaram a esse
desenho, em determinado momento.
Amaral (2017) indica alguns elementos que são fundamentais para esse estudo:
a própria forma, compreendida como o espaço geográfico, sua origem e relevo, incluindo o
sistema viário, o padrão de parcelamento das quadras e dos lotes, os edifícios e espaços abertos
correlatos às formas construídas;
a resolução ou escala, de modo a se perceber o edifício e o seu lote, a rua e o quarteirão, a cidade e
a região; e
o tempo, compreendido como períodos morfológicos (períodos históricos e períodos evolutivos),
fatos históricos e inovações materializadas na cidade.
A questão da escala, no planejamento urbano, já foi abordada aqui. Faz-se, agora, um breve resumo
dos pontos mais importantes dessa temática, para nosso presente estudo.
A macroescala se divide em escala regional (aquela que extrapola os limites de um único município)
e escala municipal, sendo que, nessa última, diferentemente do que ocorre com a microescala, o
planejamento se dá considerando-se o município como um todo. Já a microescala se divide em escala
urbana, escala regional urbana, escala setorial, escala de bairro e escala de vizinhança.
As diferentes escalas são todas igualmente fundamentais, desde a análise da forma e das funções
de uma quadra, das zonas verdes e do mobiliário urbano, passando pela definição e planejamento da
distribuição e pelas atividades primárias dos bairros até as interligações e conexões entre diferentes
municípios. Todos esses aspectos devem ser organizados entre si, a fim de que os diferentes espaços e
Como já destacado anteriormente, o município pode e deve ser analisado e planejado sobretudo
em razão das necessidades presentes e futuras de seus cidadãos, sendo a visão de longo prazo uma das
mais importantes habilidades que devem ser desenvolvidas pelo gestor público. Essa capacidade de
antever as necessidades da cidade paras as próximas décadas é o que diferencia o grande planejador
urbano e o que permite disponibilizar ao cidadão as melhores condições de vida e trabalho possíveis. E,
para tanto, a morfologia urbana é de fundamental importância para todos que atuam nessa área, sejam
planejadores urbanos, sejam arquitetos, sejam paisagistas.
Além dos aspectos específicos de arquitetura, urbanismo e paisagismo, é importante ter em mente
o conjunto normativo que fundamenta o planejamento urbano no Brasil.
É o que se depreende da leitura do capítulo II, denominado “Da política urbano”, especificamente
em seus art. 182-183, em que estão previstos uma série de diretrizes e instrumentos para o
estabelecimento de políticas e planejamento urbano no país:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no
plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob
pena, sucessivamente, de:
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais,
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou
de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel
urbano ou rural.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. (Brasil, 1988, grifos nossos)
Como se pode ver nos trechos destacados, o art. 182 faz a importante previsão da obrigatoriedade
da criação de um plano diretor para municípios com mais de 20 mil habitantes e realça o caráter não
absoluto do direito de propriedade que, dentre seus limitadores, tem o cumprimento de sua função
social.
Apenas 13 anos após a promulgação da CF (Brasil, 1988), houve a regulamentação de seu art. 182,
que, como vimos, traz a importante determinação relativa à criação do plano diretor pelos municípios.
Essa regulamentação se deu por intermédio da Lei n. 10.257/2001, também denominada Estatuto da
Cidade, que, em seu art. 1º, prevê que:
Art. 1º Na execução da política urbana, de que tratam os arts. 182 e 183 da Constituição
Federal, será aplicado o previsto nesta Lei.
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece
normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol
A Lei Federal n° 10257 de 2001, denominada Estatuto da Cidade, foi criada para regulamentar
os artigos nº 182 e 183 da Constituição Federal, que tratam da política urbana. O Estatuto da
Cidade “estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da
propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem
como do equilíbrio ambiental”. Esta Lei traz, em seu artigo 2º do Capítulo I, as diretrizes gerais
Muito embora algumas cidades já possuíssem seus planos diretores, o Estatuto da Cidade foi de
fundamental importância para a criação de diretrizes gerais e da obrigatoriedade da adoção de medidas
como a inclusão da participação popular nas decisões urbanas. É o que se pode ver no art. 2º, inciso II,
do Estatuto da Cidade:
Art. 2º A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais
[...]
Esse fato foi anotado com precisão por Turbay e Cassilha, para quem
Por fim, o Estatuto da Cidade descreve ainda uma série de instrumentos de política urbana, como se
pode ver em seu art. 4º (Brasil, 2001). Por brevidade, destacam-se apenas alguns desses, a seguir:
Art. 4º Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos:
econômico e social;
a) plano diretor;
c) zoneamento ambiental;
d) plano plurianual;
gestão urbana por instrumentos legais e por processos participativos, mas que este
amadurecimento dependerá de uma dedicação conjunta integrada por todos os ramos da
Após dez anos de tramitação, em janeiro de 2015, publica-se o Estatuto da Metrópole (EM),
com a função de estabelecer: “diretrizes gerais para o planejamento, a gestão e a execução das
funções públicas de interesse comum em regiões metropolitanas e em aglomerações urbanas
instituídas pelos Estados, normas gerais sobre o plano de desenvolvimento urbano integrado e
outros instrumentos de governança interfederativa, e critérios para o apoio da União a ações
diretrizes gerais para o planejamento, a gestão e a execução das funções públicas de interesse
comum em regiões metropolitanas e em aglomerações urbanas [...].
Moura e Hoshino (2015) destacam ainda a importância da criação do Estatuto da Metrópole, eis
que “[...] criar RMs tornou-se uma ação meramente política nos estados, porém completamente ineficaz
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para assumir os desafios mais típicos das aglomerações que exigem a atuação coordenada entre
municípios e entre instâncias de governo, com participação da sociedade”.
Como visto, na morfologia urbana devem ser analisadas as diferentes escalas e estruturas do
desenho urbano. Não se pode perder de vista que a forma urbana é constituída por uma enorme gama
de diferentes elementos e que, para que se alcance maior eficiência, esses devem ser analisados em
partes para que, com base no entendimento de suas particularidades, se atinja a compreensão do todo.
A forma urbana pode ser classificada ainda com relação aos aspectos: quantitativo (itens que
podem ser quantificados como superfícies e fluxos); de organização funcional (itens relacionados a
atividades humanas, nos diversos espaços da cidade); e figurativo (itens relacionados à estética do meio
urbano).
O elemento urbano capaz de agregar outros elementos morfológicos, por exemplo, as edificações e
o traçado da rua, é justamente a quadra, razão pela qual esta se torna de redobrada importância para o
planejador urbano. Dessa forma, tem-se que a escala que representa a tessitura inicial da cidade são as
quadras, os quarteirões e as praças, sendo, portanto, de fundamental importância sua análise e
planejamento, bem como os reflexos destes na paisagem.
Como se pode intuir, o desenho e as formas de utilização das quadras foram evoluindo com o
passar do tempo, fato destacado por Scopel (2020):
A quadra é um elemento morfológico importante que surgiu com as primeiras civilizações e foi
evoluindo ao longo do tempo, conformando-se de diferentes maneiras e modificando seus
objetivos diante do traçado e funcionamento das cidades. A relação entre os espaços públicos e
privados foi se transformando e se sofisticando, sendo cada vez mais estudada e enfatizada
desde as civilizações gregas e romanas, onde, segundo Medina (2018), a habitação e o
Assim, estudos arqueológicos demonstram que, a princípio, as primeiras cidades, em geral, não
possuíam quadras alinhadas, o que resultava em circulações tortuosas. Isso começa a mudar com a
civilização grega. Foi a partir da arquitetura e do desenho urbano adotados na Grécia, ainda nos séculos
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VII e VI antes de Cristo, que se passou a dar uma maior relevância para o significado de público e
privado, nos centros urbanos. Por exemplo, os espaços de caráter privado serviam de plano de fundo
para os edifícios públicos, criando uma regularidade lógica que foi retomada após a era industrial.
Exemplos mais recentes dessa utilização da quadra como unidade de referência e contraponto da
rua foram a reforma de Paris e o Plano Cerdá de Barcelona, ambos do século XIX, abordados nos vídeos
a seguir: <https://www.youtube.com/watch?v=r9jcCi2UC3Y> (L’urbanisme, 2022); <https://www.youtu
be.com/watch?v=q-_mVRG2IDI> (Haussmann’s, 2015); <https://www.youtube.com/watch?v=EBguVliLB
Ow> (A reforma, 2018), acessados em 1 de junho de 2023.
Crédito: Vunav/Shutterstock.
Crédito: V_E/Shutterstock.
o Plano Cerdá para a cidade de Barcelona marcou um avanço com relação à formulação e ao
desenho das quadras. A ideia era desenhar a malha da cidade a partir de um sistema articulado
de quadras, e isso acabaria evidenciando a mudança na relação entre público e privado,
Outro exemplo emblemático dessas transformações é a cidade de Paris, onde foi realizada a célebre
intervenção liderada por Haussmann, que consolidou a aderência à unidade da quadra, contemplando-a
segundo uma lógica própria.
Scopel (2020) cita ainda uma outra forma de desenho, a insinuação da quadra, afirmando que,
“Nesse caso, não há a negação da rua corredor, e as edificações ainda retomam os alinhamentos e
marcam esquinas, porém há a possibilidade de acesso ao interior da quadra.” Essa constante evolução
levou à dissociação das quadras, sobretudo dos novos tipos de ocupação do quarteirão, a partir do final
do século XX, que será objeto do próximo item.
Já nas primeiras décadas do século XX, o funcionalismo começou a questionar o vínculo entre o
sistema viário e a edificação sobre a quadra. Nesse sentido, Noto e Silva (2019, p. 463) destacam que:
Até este momento [início do século XX], estava implícita a relação hierárquica entre a forma
urbana geral e os elementos particulares edificados: o edifício era, até ali, um desdobramento
das lógicas implícitas estabelecidas pelo quarteirão, um elemento de composição numa
estrutural, ocupacional), não deve se submeter a premissas alheias à sua lógica particular.
A ideia de meramente desenhar a quadra com amplos espaços vazios no interior foi sucedida por
uma utilização mais racional, que busca potencializar as áreas verdes e ordenar os edifícios de forma
mais lógica. Essa nova forma de planejamento levou à retirada do papel da rua como elemento de
ocupação do centro urbano e privilegiou ainda a substituição da diversidade pela racionalidade.
Outro efeito da evolução tecnológica da sociedade, sobretudo da forma de transporte, foi a rápida
substituição da matriz animal pela matriz mecanizada, pública ou particular, facilitando o deslocamento
e abrindo espaço para a criação de quadras mais extensas. É o que ensinam Noto e Silva (2019, p. 465),
ao afirmarem que “O quarteirão perdeu a raiz de sua necessidade: a rua não seria mais o único lugar do
pedestre, uma vez que as distâncias a serem percorridas passam a contar com o auxílio da mecanização.
Os espaços públicos puderam, assim, multiplicar-se em dimensão e frequência”. Dessa forma, a quadra
sem ruas é um modelo típico desse movimento, em que se verificam agrupamentos implantados em
vastas extensões de terrenos que têm o conjunto edificado como sua unidade formal.
Pode-se citar ainda a adoção do desenho, em que se percebe uma sequência de alinhamentos e
afastamentos, bem como a reprodução idêntica de edificações. A intenção desse movimento modernista
era descontruir o conceito então predominante, buscando uma maior integração entre edificação e rua,
entre calçadas e praças e entre áreas livres e áreas construídas etc.
Para Noto e Silva (2019), existem duas categorias que dissolvem o modelo tradicional de quadra,
que são, nas palavras de Scopel:
A primeira é a implantação de torres isoladas nas porções de terra vazias com a rua distante,
possibilitando que as edificações possam ser locadas com maior liberdade. A segunda
Nesse modelo, os edifícios deixam de se organizar de acordo com a lógica do sistema viário,
privilegiando, por exemplo, o afastamento, a fim de obter melhor incidência solar, o que, ao final, lhes
retira toda a função morfológica. Esse modelo de superquadras consiste em epítome do urbanismo
funcionalista, por ser claramente observado no planejamento de Brasília. Esse modelo, em que se
privilegia o automóvel em detrimento do pedestre, vem sendo fortemente contestado desde a segunda
metade do século XX.
Nos anos 1960, a maioria das cidades brasileiras estava sofrendo com o impacto das migrações
para as capitais, comprometidas com uma ocupação inadequada principalmente nas áreas
Prefeitura o engenheiro Ivo Arzua, porque foi uma época em que o Município começou a tomar
iniciativas de alargar as ruas para mais espaço para os automóveis. Era uma visão muito voltada
a sistema viário, e isto levava a quase uma descaracterização da história da cidade: alargar a
Em suma, o que não se deve perder de vista é que não existe um único modelo perfeito, pronto e
acabado e sim o desafio constante, para aqueles que atuam nessa área, de buscar não apenas
acompanhar as mudanças da sociedade, mas sim antecipá-las a fim de adaptar o planejamento para o
hoje e, sobretudo, paras as décadas vindouras.
TROCANDO IDEIAS
planejamento urbano da cidade de Curitiba e o segundo exemplo refere-se ao Plano Gestão de Risco
Climático (PGRC) Bairro Novo do Caximba.
de aterro ilegal de antigas cavas, resultado da extração de areia e com material contaminado e resíduos
da construção civil apresentando, em dezembro de 2017, 1.693 domicílios, em condições precárias,
construídos de material aproveitado (compensados, lonas e outros recursos de baixa qualidade).
Objetivando atenuar as extremas condições de vulnerabilidade socioambiental verificadas, iniciou-se um
robusto conjunto de ações integrando diversas áreas setoriais, a comunidade e a sociedade civil
organizada, que culminaram na elaboração do Projeto Gestão de Risco Climático Bairro Novo do
Caximba. O projeto propõe alternativas para desenvolver a resiliência local e promover a adaptação à
mudança do clima, especialmente com relação a inundações, bem como atuação no processo de
ocupação dessa área de vulnerabilidade ambiental e socioeconômica.
participam do projeto pelo Governo do Estado do Paraná; e há parceria com a Associação dos
Empresários da Cidade Industrial de Curitiba (Aecic).
Ainda participam do projeto organizações não governamentais (ONGs) com atuação local e a
iniciativa privada. A equipe intersetorial municipal coordena o trabalho, numa abordagem bottom-up
(de baixo para cima), por meio de reuniões, audiências, workshops e parcerias, num tipo de governança
em equipe.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
O PGRC Bairro Novo do Caximba pode ser considerado um bom exemplo de projeto de
planejamento urbano que contempla as dimensões explicitadas anteriormente. O projeto busca
soluções aos impactos físico-territoriais, ambientais e sociais, de forma sustentável e com características
inovadoras. Ele foi desenvolvido adotando-se conceitos de mitigação e adaptação às mudanças
climáticas e construído em conjunto com a população do local, em um processo único de inovação
social.
a. o reassentamento das famílias, que serão realocadas para áreas próximas (em um raio de até 700
metros), em locais seguros, respeitando as normas ambientais e incorporando critérios de
adaptação e soluções baseadas na natureza;
b. a utilização de matéria-prima da região e a contratação de mão de obra da própria comunidade,
com o objetivo de valorizar a economia local e reduzir as emissões de gases de efeito estufa;
c. a otimização das infraestruturas existentes (equipamentos públicos e de transporte), garantindo a
resiliência dos equipamentos e serviços;
d. a adesão da comunidade à proposta (em função de um trabalho de construção coletiva, em forma
de bottom-up, em que houve constante e intensa interação com os moradores que efetivamente
participaram e influíram na formatação do projeto);
e. envolvimento multisetorial do Poder Público e privado, contando com a interação de diversas
São essas soluções do projeto que fazem do PGRC Bairro Novo do Caximba um verdadeiro
laboratório de ideias diante dos desafios não só da mudança do clima, mas do planejamento urbano e
da inclusão social.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília,
5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em: 21 maio 2023.
_____. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jul. 2001.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: 21 maio
2023.
_____. Lei n. 13.089, de 12 de janeiro de 2015. Diário Oficial da União, Brasília, 13 jan. 2015.
Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13089.htm>. Acesso
em: 21 maio 2023.
L’URBANISME selon Haussmann: la transformation de Paris au XIXᵉ siècle. Intellego, 29 dez. 2022.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=r9jcCi2UC3Y>. Acesso em: 21 maio 2023.
PROGRAMA de Gestão Climática Bairro Novo Caximba. Utag, [202-]. Disponível em:
<https://utag.ippuc.org.br/index.php/novo-caximba-afd>. Acesso em: 21 maio 2023.
ROCHA, D.; HAYAKAWA, I. Traços de Curitiba: 50 anos de planejamento urbano. Edição das
autoras. Curitiba, 2020.