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TEORIA, ESTÉTICA E HISTÓRIA

DA ARQUITETURA,
URBANISMO E ARTES - PÓS-
MODERNO AO
CONTEMPORÂNEO
AULA 3

Prof. José Marcos Novak


CONVERSA INICIAL

Arquitetura é, antes de tudo, a materialização física do abrigo em diversas


categorias. A utilização de materiais e técnicas que promovam segurança e
conforto faz parte das condições essenciais para a manutenção da vida. Mas
não é só isso. A arquitetura é também o estabelecimento de uma ideia, um
princípio criativo ou “algo a mais” que transforme o resultado final desse abrigo
em espaço provido de algo incomum ou “diferente”, que exprima uma marca
própria, ou seja, uma identidade em seu tempo e contexto físico.
Etimologicamente, o termo arquitetura vem do grego arkhitekton, que é
uma união de arkhé (principal) e tekhton (construção). A palavra passou para o
latim como architectus até chegar ao português. Desse modo, uma tradução
plausível de sua origem poderia girar em torno de algo que expressa a
construção dotada de protagonismo, ou seja, que a distingua da simples
sucessão de etapas construtivas.
Assim, identificamos o tema desta etapa: analisar a arquitetura não
apenas como uma reunião de materiais e técnicas para o objetivo único, que
trata das questões do abrigo, mas que amplia toda cultura, além de condições
estéticas, econômicas, políticas e religiosas que mantenham o ser humano em
sua universalidade. De outro modo, o horizonte estético, somado aos
movimentos históricos e estilísticos específicos, serão inseridos principalmente
sob a necessidade de se analisar a sociedade como um todo, suas práticas
culturais, religiosas e políticas, criando-se pontes com diversas atividades, como
o design, a arte, o patrimônio artístico e cultural, bem como a paisagem e o meio
ambiente.
Recomendação: <https://youtu.be/4VQL4WnvQMA>. Acesso em: 15 fev.
2023.

CONTEXTUALIZANDO

Desde o início do século XIX, quando a Revolução Industrial padronizou


certos princípios da arquitetura, em que a produção em série transformou
sistemas construtivos tradicionais em linhas de montagem, o mundo assistiu a
um dos acontecimentos mais transformadores para a arquitetura.
O mundo globalizado tem fundamentado inúmeras condutas de
estandardização a partir das descobertas relativas à industrialização. Muito foi

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operado com vantagens, mas ainda sofremos carências para que tais
descobertas sejam aceitas sob um ponto de vista ético. A crítica levantada pelas
vanguardas europeias desempenhou nas artes e na arquitetura um papel
importantíssimo dentro desse aspecto, mas o que vemos hoje está muito distante
de um nível satisfatório.
O modernismo e o estilo internacional pautaram seus princípios sob o
signo da ruptura, mas precisa ampliar seus conceitos da indústria, reformulando
e aplicando questões humanistas na busca por atribuições éticas que contribuam
de maneira satisfatória na arquitetura para que ela seja um meio de integração
para a humanidade. Nem tudo é aceito de modo satisfatório, pois a reprodução
indistinta de edifícios e modelos urbanos tem trazido também sistemas
reducionistas que não puderam atender às principais demandas da humanidade.
A arquitetura não pode ser considerada uma atividade uniforme tanto sob
aspectos técnicos quanto estéticos diante das inúmeras culturas distribuídas
pelo mundo; tampouco é linear ao tomar a linha do tempo como uma categoria
histórica na evolução humana. Desse modo, torna-se necessário fundamentar
cada cultura e sua época de maneira que seja possível, em um primeiro
momento, conhecer a abrangência da atividade humana para que em seguida
cada momento histórico possa ser reconhecido como uma referência histórica a
inspirar cada vez mais as ações criativas dos arquitetos e urbanistas.
Recomendação: <https://youtu.be/x2k-b5uvm28>. Acesso em: 15 fev.
2023.

TEMA 1 – ARQUITETURA E CULTURA

Cultura é o termo que designa o conjunto de todo tecido social que


abrange conhecimento, arte, moral, leis e costumes. Em sua evolução, o homem
prioriza todas as ações e qualidades ligadas à cultura, o que quer dizer que não
existe cultura sem ele. Todas as expressões de uma sociedade são permeadas
por diversas referências que incluem particularidades de inúmeras regiões
específicas ao redor do mundo.
Para se propor um estudo mais detalhado, é necessário analisar cada
região continental, sintetizando certas expressões como base para se
compreenderem traços da arquitetura. Assim, cada um dos cinco continentes
estudados por meio de exemplares da arquitetura abrangendo traços de sua
evolução no tempo nos dá um panorama do seu legado.
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Por fim, é muito importante compreender que cada cultura jamais poderá
ser reconhecida apenas dentro do território ou continente que a originou. As
inúmeras influências se intercambiaram sobre outras correntes que
atravessaram fronteiras, pois estas, por sua vez, são meros estabelecimentos
geopolíticos cuja base é infinitamente diversa.
Considerando o que vivenciamos hoje, percebemos que a era industrial
e pós-industrial nos proporcionou um conjunto infinito de ideias colocadas em
um campo muito vasto de ações criativas.
Recomendação: <https://youtu.be/0vNrykcfijI>. Acesso em: 15 fev. 2023.

1.1 Ásia

Recomendação: <https://youtu.be/kgl1iqVmc0Q>. Acesso em: 15 fev.


2023.

O mais vasto, populoso e culturalmente diverso e antigo continente do


planeta, a Ásia concentra o princípio do seu processo civilizatório, incluindo
culturas com mais de 4 mil anos. Existem, portanto, inúmeras influências e bases
históricas a serem consideradas diante desse contexto. As religiões também se
formaram mediante bases culturais muito importantes, pois a Ásia é também o
berço de muitas religiões que se abriram para o mundo, principalmente as
monoteístas como o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Somam-se a elas
as grandes bases das religiões desse continente, como o budismo, o
confucionismo e o hinduísmo.
Recomendação: <https://youtu.be/9sV_TotCWzg>. Acesso em: 15 fev.
2023.
Nas artes e na arquitetura, a Ásia influenciou direta e indiretamente toda
a cultura ocidental da antiguidade, mas permaneceu quase esquecida durante a
Idade Média; a exceção foi a Espanha, dominada pelos árabes por quase 800
anos.
Entre os séculos XV e XVII, durante era das grandes navegações, o
Ocidente passou a manter relações com a Ásia por meio do comércio. As nações
europeias – primeiramente Espanha e Portugal e em seguida França e Inglaterra
– foram as precursoras no estabelecimento de colônias em países asiáticos,
principalmente por parte da Inglaterra. Desse modo, se deram os primeiros
trânsitos culturais.

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Recomendação: <https://youtu.be/HXjita1ghs8>. Acesso em: 15 fev.
2023.
O estilo vitoriano presente no auge da revolução industrial, que tornou a
Inglaterra a nação mais poderosa do mundo, marcou o reinado da Rainha Vitória
entre 1837 e 1901. Foi um estilo opulento e suntuoso que agregou diversas
influências, incluindo as culturas asiáticas, principalmente do subcontinente
indiano, e transformou a arquitetura, o design do mobiliário e a moda.
Outro estilo de origem asiática muito difundido na Europa se refere ao
japonismo, que ocorreu durante a segunda metade do século XIX. Influenciou a
arte impressionista e o art nouveau. O Japão exerceu influência sobre muitas
correntes artísticas e arquitetônicas do século XX por expressar simplicidade,
leveza e essência dos materiais. Frank Lloyd Wright não apenas se inspirou
naquele país como também se mudou para lá por um período de sua vida.
Realizou várias obras com citações muito evidentes oriundas da cultura nipônica.
Recomendação: <https://youtu.be/pZ9phSrQcgo>. Acesso em: 15 fev.
2023.

Figura 1 – Taj Mahal – Índia – 1648

Créditos: saiko3p / Shutterstock.

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Figura 2 – Tempo zen budista – Japão

Créditos: Andrzej Dziba / Shutterstock.

1.2 África

Ao comparar a Ásia com a África, surge uma questão: a Ásia se manteve


como o berço da civilização, e a África certamente é o local de origem da espécie
humana. Estudos mostram que milhões da anos atrás os primeiros hominídeos
partiram da África Central estabelecendo correntes migratórias por todos os
demais continentes. Esse caráter primitivo define a África até hoje. Dividindo o
continente, teremos duas regiões separadas pelo grande deserto do Saara.
Assim, a região subsaariana sustenta o lado mais primitivo e latente de culturas
ancestrais ligadas ainda à organização social de tribos.
Recomendação: <https://youtu.be/a0_pRrk5NJY>;
<https://youtu.be/ma8Ra7bDjRY>. Acesso em: 15 fev. 2023.
A África mediterrânea se constitui por uma sobreposição de várias
influências, porém com a base originária mantida cultura do Egito Antigo. Os
macedônios, os gregos, os romanos e os árabes já dominaram os egípcios, e
desse modo há muitos testemunhos culturais, artísticos e arquitetônicos
espalhados pelo norte da África que expressam essa diversidade cultural.

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Recomendação: <https://youtu.be/1oS-HF4h2Wk>;
<https://youtu.be/PBduOC3MEYA>. Acesso em: 15 fev. 2023.

Figura 3 – Riad – Marrakech

Créditos: art4stock / Shutterstock.

Figura 4 – Arquitetura tradicional africana

Créditos: Mehmett.07 / Shutterstock.

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1.3 Oceania

Recomendação: <https://youtu.be/nBtmJV2DJ9A>;
<https://youtu.be/74_HWoyIuIU>. Acesso em: 15 fev. 2023.

Isolada dos outros continentes, a Oceania, dividida entre a Australásia,


Melanésia, Polinésia e Micronésia, foi o último continente a ser conhecido pelos
europeus, porém igualmente ocupado pela colonização europeia, principalmente
inglesa e francesa.
Os povos originários presentes nesse grande arquipélago de mais de 400
mil ilhas sustentam um vasto passado; todavia, assim como na África, eles
apresentam características bem específicas. A cultura da Oceania está muito
associada ao contexto oceanográfico no qual vivem os habitantes.
Recomendação: <https://youtu.be/JsgK1afNGVc>. Acesso em: 15 fev.
2023.
Sua influência sobre o Ocidente é bastante relativa. Inspirou alguns
artistas do impressionismo, e hoje alguns arquitetos que realizaram obras em
determinadas regiões do arquipélago utilizaram técnicas tradicionais como fonte
de inspiração. Um célebre projeto do arquiteto italiano Renzo Piano construído
na Nova Caledônia em 1991 demarca bem essa sintonia entre obra e seu
contexto. Piano empregou métodos tradicionais do local inspirados nas casas
das aldeias de Kanak. O resultado e o sucesso foram imediatos, e hoje é um dos
locais mais visitados na região.

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Figura 5 – Reno Piano – Centro Cultural – Nova Caledônia – 1991

Créditos: Kirsten Covington / Shutterstock.

Recomendação: <https://youtu.be/WdCi2AqsflU>. Acesso em: 15 fev.


2023.

1.4 Europa

Recomendação: <https://youtu.be/9qlgL3ehVDQ>. Acesso em: 15 fev.


2023.

Todo o processo civilizatório do Ocidente, tal como o conhecemos hoje,


se iniciou em território europeu por volta de 600 a.C. na Grécia. Analisando a
questão de modo abreviado, veremos que as antigas civilizações egípcias,
persas, fenícias, hebraicas e principalmente mesopotâmicas abriram caminho
para outras culturas, como as minoicas, micênicas e cicládicas. Estas, por sua
vez, formaram os povos do hélade, os quais, antes da conquista romana, se
estabeleceram como a Grécia Antiga mediante uma síntese de inúmeras
culturas. Trata-se da maior herança ocidental que os romanos não apenas
valorizaram com o devido respeito como a tornaram um símbolo para toda a
história da humanidade.

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Hoje a Europa se divide em sub-regiões que se fortaleceram com a queda
do Império Romano, o qual procurou sempre estender suas conquistas sem que
cada um dos povos dominados se submetesse a uma única língua. Assim, o
continente se manteve coeso e também independente em cada uma de suas
línguas originárias e seus respectivos costumes.
No campo das artes e da arquitetura, a Europa concentrou, a partir do
Império Romano, a grande maioria de nossas heranças culturais. Com o
cristianismo, e em seguida a Igreja Católica, a Europa durante a Idade Média
erigiu uma parcela significativa do patrimônio cultural de todo o mundo. Um
grande campo de descobertas se deu a partir do Renascimento por meio da
retomada das heranças greco-romanas; com elas surgiu o classicismo como um
conceito que se transformou em uma linguagem obrigatória graças a seu estilo
simples e elegante. A linhagem filosófica europeia também se tornou eloquente
e fundamental para a construção de uma sociedade que, por meio do
pensamento humanista, estabeleceu princípios utilizados até hoje entre a política
e todos os campos científicos.
Todo esse legado se uniu à Revolução Industrial a partir do século XIX,
mas somente em virtude de posturas éticas e estéticas socialistas foi que as
afirmações das vanguardas europeias puderam avançar para o século XX. Os
sangrentos conflitos das duas grandes guerras levantaram um campo sombrio e
também serviram como lições a serem colocadas em pauta para toda a
humanidade.
Recomendação: <https://youtu.be/lXPrTVe7WSQ>. Acesso em: 15 fev.
2023.
A pauta arquitetônica e urbana do século XX foi estabelecida na Europa
por um grande número de arquitetos e urbanistas, mas a técnica e a poética de
Le Corbusier, Mies van der Rohe e Alvar Aalto se tornaram as grandes sínteses
de um novo tempo, capaz de abrir caminho para outros tempos futuros como
vêm ocorrendo nos dias de hoje.
Recomendação: <https://youtu.be/ad0bEwl3CLo>;
<https://youtu.be/37d4kT8NZgM>. Acesso em: 15 fev. 2023.

1.5 América

A América era completamente desconhecida para os europeus até que os


espanhóis e os portugueses a conquistaram graças aos avanços tecnológicos
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desenvolvidos para a navegação em oceano aberto. A partir da sua descoberta
no final do século XV, iniciou-se todo o processo de colonização, envolvendo a
aniquilação dos povos originários que nela habitavam.
A fase de estabilização dos territórios em relação aos seus
conquistadores moldou as respectivas culturas tal como as conhecemos a partir
dos domínios estabelecidos entre a América do Norte, a América Central e a
América do Sul, sendo esta dividida por meio de um acordo entre Espanha e
Portugal.
Assim, a arquitetura sofreu as devidas influências durante os séculos XVI,
XVII e XVIII, até que no século XIX cada nação, lutando pela independência de
seus colonizadores, se afirmaram em seus respectivos territórios: a América do
Norte, então dominada pelos ingleses e também franceses; e a América Central
e a América do Sul, pelos espanhóis (exceto o Brasil, colonizado pelos
portugueses).
Com a independência de cada nação, surgiu o desejo por uma linguagem
própria, e a arquitetura assim se afirmou segundo seus princípios culturais,
políticos e também geográficos de acordo com cada localidade.
Podemos citar um personagem que expressou não apenas como um dos
principais arquitetos dos Estados Unidos, mas também de todo o mundo. Trata-
se de Frank Lloyd Wright, que procurou estabelecer uma síntese entre o
racionalismo europeu, inserindo nele a essência da habitação dos povos
originários dos Estados Unidos. Wright criava seus espaços começando sempre
do centro espacial que representava o fogo do qual parte um sistema de eixos
sobre os quais desenvolvia a circulação e os espaços do programa.
Além dessas referências, a arquitetura orgânica de Wright se aproximou
também das culturas pré-colombianas e dos pueblos presentes também entre
territórios norte-americanos no passado.
Recomendação: <https://youtu.be/dm6TVAqsLSU>. Acesso em: 15 fev.
2023.

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Figura 6 – Frank Lloyd Wright – Hollyhock House – 1922

Créditos: Wangkun Jia / Shutterstock.

No México, Luis Barragán expressou a cultura e o clima em suas obras


por meio de uma associação das cores quentes típicas de elementos do país
com os espelhos d’água em tons azuis mais frios para amenizar a sensação
térmica dos desertos. As imensas perspectivas retilíneas das paredes com
texturas rugosas evocam a linha do horizonte e os planos arenosos daquela
região.
Recomendação: <https://youtu.be/ZU76DVOYVgY>. Acesso em: 15 fev.
2023.

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Figura 7 – Luis Barragán – Casa Gilardi – México – 1978

Créditos: Mathilde Marrest / Shutterstock.

O papel do Brasil na tradição da América foi sintetizado por Oscar


Niemeyer, um arquiteto que traduziu como ninguém as linhas curvas da
paisagem brasileira. Utilizava-se também das retas e ângulos do racionalismo
europeu, mas sempre associando a leveza da estrutura como dominante nos
espaços, de modo que o amplo céu azul permeasse as obras com sua máxima
presença. Niemeyer criou a arquitetura da miscigenação típica do Brasil ao unir

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massas ortogonais às imensas lajes curvilíneas sob as quais a liberdade de
movimentos é sugerida.

Figura 8 – Oscar Niemeyer – Museu de Niterói – 1996

Créditos: Donatas Dabravolskas / Shutterstock.

Recomendação: <https://youtu.be/LMtX6HNXX_k>. Acesso em: 15 fev.


2023.

Sua base de inspiração está também entre as construções coloniais ao


associar sempre o branco das paredes que remetem diretamente às superfícies
caiadas das tradicionais construções portuguesas.

TEMA 2 – ARQUITETURA E RELIGIÃO

Durante a antiguidade, a arquitetura religiosa ocupou o centro dos


interesses da sociedade. Certamente as obras mais significativas que
perduraram até os dias de hoje possuem um caráter espiritual ou religioso.
Sob esse ponto de vista, percebemos que a arquitetura manteve uma
expressão sólida enquanto a sociedade estabeleceu uma hierarquia de poder
em que as religiões como um todo ocuparam o topo dessa escala. Isso ocorreu
por quase toda a história da humanidade e no Ocidente até o século XVIII, com
o fim do absolutismo. A partir da Revolução Francesa e também durante o
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advento da Revolução Industrial, o poder da Igreja se relativizou tanto com o
início do liberalismo quanto as políticas socialistas.
Os aspectos religiosos no mundo antigo buscaram materializar a
eternidade, mesmo que grande parte dos templos e edifícios religiosos se
encontre hoje em ruínas. As correntes religiosas – sejam politeístas, sejam
monoteístas, sejam panteístas – estabeleceram templos que se tornaram
monumentos de emblema universal, mas a grande pergunta que se faz nos dias
atuais é se a arquitetura religiosa é ainda relevante.
A era contemporânea questiona a questão da religião na arquitetura, mas
suas bases continuam nos referenciando como nunca, pois os avanços (tanto
técnicos quanto estéticos) foram decisivos não apenas para cada momento
histórico, mas também em relação ao acervo e ao patrimônio estabelecido.
É importante ressaltar que a maioria das religiões não possui um modelo
único de arquitetura para o espaço sagrado, mesmo que muitos templos
construídos tenham sido readaptados ao longo de cada momento histórico. Um
exemplo é a Catedral de Santa Sofia, em Istambul. Mesmo que hoje os minaretes
estejam presentes para se adaptar à religião islâmica, ela foi construída durante
o Império Bizantino para o cristianismo até a tomada de Constantinopla em 1453.
Há outros casos dessas tipologias, como o Pantheon romano construído para
homenagear deuses pagãos e que permanece hoje quase inalterado; durante
séculos, serviu como espaço de culto católico. O ponto em comum é que as
estruturas para o sagrado, independentemente da religião, compartilham
tipologias no uso da escala monumental e da a luz para evocar sentimentos de
contemplação e piedade.
Recomendação: <https://youtu.be/IjpLGTdYFfA>. Acesso em: 15 fev.
2023.
Algumas das mais importantes obras de arquitetura ao longo da história
da humanidade se devem à espiritualidade. Todavia, os monumentos de hoje
têm se utilizado das referências mediante conexões mais sutis. Um exemplo diz
respeito a Louis Kahn, grande estudioso no assunto, que chamava a dimensão
espiritual da arquitetura de “imensurável” e procurava aplicar esse conceito em
todo seu trabalho.
Recomendação: <https://youtu.be/jCuHGwBE7D8>. Acesso em: 15 fev.
2023.

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Le Corbusier foi outro arquiteto que se utilizou da luz e do sentimento de
silêncio e recolhimento para atender a princípios espirituais. Sua maior obra,
embora construída sob escalas bem reduzidas, evoca o princípio do silêncio e
do sagrado como base compositiva do espaço.
Recomendação: <https://youtu.be/hEkQvR-el3M>. Acesso em: 15 fev.
2023.
O trabalho de um arquiteto é atender a uma demanda solicitada, mesmo
que sua pessoa não esteja ligada aos princípios dela. É o caso de Oscar
Niemeyer quando projetou a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida,
conhecida como Catedral de Brasília, inaugurada em 31 de maio de 1970. Ateu
por convicção, ele criou um monumento de luz e grande leveza, evocando os
princípios cristãos como poucos exemplos no mundo.

Figura 9 – Panteão – Roma – 125

Créditos: Gabriele Maltinti / Shutterstock.

Um exemplo bem contemporâneo dessa tipologia é o Mosteiro de Novy


Dvur, na República Tcheca, criado por John Pawson em 1999. Para quem
costuma imaginar um ambiente sombrio quando se pensa em um mosteiro, o
trabalho de Pawson mostra como certos estereótipos estão equivocados.

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Trata-se de uma adaptação a um edifício existente, mantendo o vocabulário
barroco que celebra a luz com grande protagonismo.

Recomendação: <https://youtu.be/rcW7guIvUuc>. Acesso em: 15 fev.


2023.

TEMA 3 – ARQUITETURA E SOCIEDADE

A sociedade segue um padrão em que seu fundamento básico se


estabelece por meio da vida organizada em grupos de indivíduos, mas também
pressupõe variantes morais e éticas hoje estudadas basicamente pela sociologia
e a antropologia. Uma sociedade se faz por cidadãos sujeitos às mesmas leis e
autoridades políticas.
Ao estudar a problemática urbana e arquitetônica simultaneamente,
vamos perceber o quanto a questão transformou o modo de vida das pessoas
ao longo da história. Nesse âmbito, podemos afirmar que não existe arquitetura
sem a cidade, pois o que caracteriza a sociedade urbana é que ela partilha de
interesses mútuos orientados a um objetivo comum.

3.1 Arquitetura social

Desde o surgimento da polis na antiguidade grega, a ideia de uma


sociedade coesa em torno do espaço da cidade é discutida. Em sua estrutura
física, continha uma série de edifícios públicos, os templos dedicados aos
deuses, a ágora (praça pública) onde se discutiam as questões sociais, políticas
e comerciais.
Recomendação: <https://youtu.be/rVBtLMRRA6Y>. Acesso em: 15 fev.
2023.
Durante o Império Romano, havia também a identidade social presente
no espaço urbano como um meio destinado à comunidade que era independente
do espaço privado. Com a sua queda na Idade Média, a sociedade se moldou
em torno de uma hierarquia dividida entre o clero, os guerreiros e os
camponeses. Surgiram os burgos em torno dos castelos, e assim a cidade se
estruturou a partir do renascimento comercial e de um considerável aumento da
população a partir da diminuição dos conflitos por volta do século X.
Para a arquitetura, mais especificamente a partir do início da Era
Moderna, o termo sociedade se originou da necessidade da reavaliação urgente
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da moradia tradicional devido ao crescimento vertiginoso das cidades decorrente
do surgimento das indústrias. Naquele momento, a insalubridade entre os
espaços habitacionais exigiu dos urbanistas e arquitetos um grande esforço
político e criativo. Surgiu assim o conceito de habitação social, devido ao conflito
entre políticas de baixos salários, dificuldade de acesso à produção imobiliária,
de um lado, e as constatações e denúncias da situação, do outro. As comissões
de inquérito, o jornalismo de denúncia, os relatórios médico-sanitários e as
denúncias na produção literária ou mesmo iconográfica constituíram uma
referência para as proposições de reforma urbana e os programas de habitação
social. Durante o século XIX até a Primeira Guerra Mundial, as experiências
sociais aplicadas à arquitetura foram decisivas para promover a evolução dos
espaços urbanos como um todo.
Ao analisar essa questão durante o decorrer do século XX, percebemos
que o interesse pelo tema que une a arquitetura e a sociedade se orienta pela
necessidade da reconstrução das cidades destruídas pelas guerras. Na
Alemanha vieram as primeiras ideias socialistas, com políticas voltadas à
estética e que uniam a arte e a arquitetura. Baseada nos princípios do Arts and
Crafts surgiu a Bauhaus como uma escola que transformou para sempre os
meios de produção para promover a sociedade de massa.

3.2 Fim da Segunda Guerra Mundial

As primeiras unidades habitacionais apareceram como uma alternativa


para reformular tanto a malha urbana das cidades totalmente destruídas pela
guerra quanto pela necessidade de se criarem moradias de baixo custo para
atender à população desabrigada.
Recomendação: <https://youtu.be/usdUcwP9lT0>. Acesso em: 15 fev.
2023.
Entre 1947 e 1953, foi criado dentro de um programa de reconstrução
francês o mais famoso empreendimento social para suprir essa necessidade: a
Unidade de Habitação de Marselha de Le Corbusier. O projeto deu origem ao
conceito conhecido como Cité Radieuse (cidade radiosa), que procurava
resgatar em um edifício a dinâmica da vida urbana. Inúmeras ideias avançaram
por todo o mundo, mas o modelo mais bem-sucedido desse princípio foi a cidade
de Brasília, concebido por Lucio Costa e Oscar Niemeyer em 1960.

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3.3 Sociedade contemporânea

Podemos dizer que existiu uma sociedade pré-industrial quando os


setores primários, principalmente a agricultura, eram mais importantes. A partir
da primeira revolução industrial no fim do século XVIII, todas as atividades de
transformação foram desenvolvidas, dando origem à sociedade industrial. Já o
conceito de sociedade pós-industrial surgiu no mundo desenvolvido entre os
setores de serviço.
Para a arquitetura e o urbanismo, a sociedade pós-industrial se moldou
mais especificamente na chamada pós-modernidade; assim a sociedade, tal
como a conhecemos hoje, se revelou pela força dos meios de comunicação de
massa de forma decisiva. O surgimento da televisão, do computador portátil e
da internet transformou as relações sociais de modo avassalador.
Os desafios para o desenvolvimento desse modelo ainda despertam
grandes dúvidas, mas por meio do conhecimento e da compreensão plena do
oficio da arquitetura e do urbanismo, muitos caminhos serão desbravados.
Recomendação: <https://youtu.be/1LvRoyXxwC4>. Acesso em: 15 fev.
2023.

TEMA 4 – ARQUITETURA E DESIGN

Os objetos do cotidiano estão presentes junto à evolução humana desde


fases muito remotas, passando pela antiguidade, Idade Média e o início da Idade
Moderna. Entretanto, foi a partir da Revolução Industrial, durante a segunda
metade do século XIX, quando se estabeleceu a produção em série integrada à
criação de utensílios, que entraram em cena movimentos como Arts and Crafts,
cujo propósito foi concretizar uma revisão crítica entre a massificação
desenfreada da indústria ante uma arquitetura mais humanizada.
Assim nasceu o designer como o indivíduo criador que insere a arte e
valores éticos entre as etapas de produção do seu trabalho. Por sua vez, o
resultado dessa elaboração marcou o início de uma nova condição para o
trabalho. O papel do pré-modernismo a das vanguardas estéticas foi
fundamental para fomentar a produção do mobiliário e dos utensílios, mesmo
que não tivesse ainda uma adequação entre as novas ideias e os meios de
produção.

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4.1 A Bauhaus

Em 1919, surgiu na Alemanha a Bauhaus, sob a direção de Walter


Gropius. O objetivo foi a criação de uma escola de arte que manifestasse total
influência no design e na arquitetura. Na época e até os dias de hoje, nada
ampliou tanto o sentido revolucionário e pioneiro do design quanto a Bauhaus.
Sob uma ótica socialista, com inspiração nas vanguardas europeias, em que o
produto da indústria deve expressar qualidades baseadas tanto nos meios de
produção industrial quando nos valores humanos e artísticos, ela constitui uma
das principais bases para se compreender o design em sua essência.

Figura 10 – Walter Gropius – Bauhaus – Alemanha

Créditos: Claudio Divizia / Shutterstock.

4.2 O design contemporâneo

A partir dos anos de 1950, com a retomada da indústria, a era pós-


Segunda Guerra Mundial viveu um momento de triunfo e de grandes conquistas

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criativas. Os Estados Unidos se consolidavam como a nação mais bem-sucedida
do mundo, enquanto a Europa vivia os últimos momentos de reconstrução em
plena renovação de ideias. A arquitetura se manteve unida com todos os
princípios apresentados pelas vanguardas europeias, e sua integração com a
arte e o design estava em sintonia entre os grandes mestres.
Recomendação: <https://youtu.be/wRI6GipShAU>. Acesso em: 15 fev.
2023.
No mundo globalizado em que vivemos, a arquitetura e o design se
tornaram indissociáveis. Com a indústria consolidada, os meios de comunicação,
as redes sociais e os pontos de consumo amplamente intercambiáveis, o design
passou a ter um protagonismo indispensável em muitas áreas de atuação.

Figura 11 – Philippe Starck – Juicy Salif – 1990

Créditos: Luis Segovia / Shutterstock.

TEMA 5 – ARQUITETURA, PATRIMÔNIO, PAISAGEM E MEIO AMBIENTE

Com a evolução da modernidade, por meio de seus postulados radicais


de rompimento com o passado, surgiram questões importantes, entre elas os

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destinos para o patrimônio cultural, artístico, arquitetônico e urbanístico: quais
seriam os caminhos necessários para se conservarem obras históricas
existentes integral ou parcialmente? Os museus seriam os únicos edifícios
adequados para preservar acervos da cultura? A arquitetura e as cidades como
espaço de memória para a humanidade deveriam sofrer transformações em
função do progresso emergente que o modernismo havia proclamado? Quais
seriam os critérios para a preservação, conservação e restauro dessas obras?
Como é possível perceber, surgiram inúmeras indagações que a
modernidade como um todo não estava conseguindo equacionar em função do
crescimento das cidades e sua voraz necessidade de renovação estabelecida
pelo progresso. Deste modo, ocorreram inequívocas discussões a respeito
desse tema colocadas na agenda da preservação e conservação dos bens
culturais por meio das cartas patrimoniais. Trata-se de documentos que definem
conceitos e medidas para ações com diretrizes de conservação, manutenção e
restauro.

5.1 A Carta de Atenas e a Carta de Veneza

Durante o século XX, foram elaboradas mais de 40 cartas, as quais vêm


sendo constantemente complementadas. A Carta de Atenas (1933) e a Carta de
Veneza (1964) são as mais importantes. A primeira tratou de estabelecer
métodos de crescimento e novos rumos para as cidades modernas, porém os
aspectos mais significativos com relação aos bens culturais foram tratados na
Carta de Veneza, que definiu planos internacionais para conservar e restaurar o
patrimônio numa ação interdisciplinar. Segundo a Carta de Veneza, o patrimônio
pode ser entendido como:

• o monumento histórico é definido como uma criação isolada, sítio urbano


ou rural que testemunha uma civilização particular;
• posteriormente descreve sua finalidade visando preservar tanto a obra
propriamente dita (bem material) quanto o seu testemunho histórico (bem
imaterial);
• não pode haver elementos que descaracterizem a obra em si nem o
entorno;
• fica proibido o deslocamento do monumento, salvo em casos relevantes
definidos por interesses nacional ou internacional; e

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• a restauração é tratada como ação que respeita a integridade da obra
original e, caso haja a inserção de elementos, é imprescindível que não
sejam falsos e que se distinguem das partes originais.
Recomendação: <https://youtu.be/pV0bOyOQmMo>. Acesso em: 15 fev. 2023.

5.2 O pós-modernismo e o patrimônio histórico

A grande contribuição crítica do pós-modernismo para arquitetura como


um todo se refere ao diálogo entre o presente e o passado. O historicismo e o
contextualismo se tornaram um dos pontos-chave no debate pós-modernista, e
mesmo que muitas vezes tenha sido tratado de forma puramente formalista
houve estudiosos e criadores que os referenciaram com muita profundidade
dentro do tema do pós-modernismo conceitual por meio de lideranças teóricas
europeias.
Recomendação: <https://youtu.be/lenlk7Tk-w4>. Acesso em: 15 fev.
2023.
Os sítios urbanos que integram o passado arquitetônico começaram a ser
muito mais valorizados e também preservados por intermédio desse debate
depois que o modernismo praticou a destruição, incluindo-se nela a malha
urbana tradicional das cidades.

5.3 A arquitetura, a paisagem e o meio ambiente

“As cidades estão no centro do problema e, portanto, também no centro


da solução." – Space 10
Toda a discussão entre a edificação e seu contexto rural ou urbano com
o meio ambiente é relativamente recente entre os debates da arquitetura e do
urbanismo. Desde o início da industrialização, os impactos na natureza foram
crescentes, mas só começaram a ser avaliados entre as décadas de 1960 e 1970
durante o chamado “despertar ecológico”; ou seja, iniciou-se um processo de
tomada de consciência em relação às questões ambientais.
A sustentabilidade passa a fazer parte da agenda urbana que, nesse
caso, não se distingue mais da arquitetura, pois o que entra em jogo são os
meios que garantam a sobrevivência humana além dos conceitos estéticos.
Desse modo, uma sociedade sustentável é capaz de definir seus padrões de

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produção e consumo e de dar suporte ao bem-estar e ao conforto de todos os
que participam do processo construtivo, visando à manutenção do futuro.
Nesse contexto, é tarefa da arquitetura e urbanismo promover o
desenvolvimento sustentável desde o início da escala da sua produção até suas
últimas etapas, revisando até mesmo os processos de demolição.

Figura 12 – Vista aérea de um parque em Chicago – Estados Unidos

Créditos: JaySi / Shutterstock.

TROCANDO IDEIAS

Por meio de uma pesquisa, discernir o tema “Passado x Presente”,


aplicando essa análise às questões da arquitetura, cultura, religião e sociedade.
Dividir-se em três grupos (sugere-se um sorteio). Cada grupo vai analisar
três questões específicas:

• Referências do passado;
• Modelos consagrados; e
• Personagens históricos.

Estabelecer sínteses relativas às questões por meio das discussões do


grupo.

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NA PRÁTICA

Dedicamos nosso estudo às referências da arquitetura e algumas


aplicações em tipologias contemporâneas por meio do trabalho de alguns
arquitetos consagrados. Como prática, elabore uma resenha crítica que
estabeleça uma tipologia (utilizar um exemplar da arquitetura moderna ou
contemporânea) e a relacione a exemplares do passado.
Apresente uma análise, explicando as questões levantadas e as
conclusões resultantes da pesquisa.

FINALIZANDO

Os conteúdos aqui constituem um campo de abrangência relativo à


arquitetura que deve ser considerado. Ao relacionar a arquitetura com a cultura,
a religião e a sociedade como um todo, surgirão inúmeras referências ligadas à
história da humanidade que certamente poderão elevar a criação a planos mais
sólidos. O trabalho de um arquiteto depende do conhecimento adquirido no
passado, mas sobretudo do significado que esse passado representa no
presente. Do mesmo modo, fazendo recortes com o design, o patrimônio, a
paisagem e o meio ambiente, verificaremos que o estudo da arquitetura nunca
será isolado.
A interdisciplinaridade faz parte cada vez mais do dia a dia de um
arquiteto. Desse modo, o resultado final vai depender tanto do conhecimento
teórico-histórico contido nas referências do passado quanto da prática diária
entre as múltiplas possibilidades do presente.

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REFERÊNCIAS

ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

CHING, F. D. K. Arquitetura: forma, espaço e ordem. São Paulo: Martins


Fontes, 1999.

ROTH, L. M. Entender a arquitetura: seus elementos, história e significado. São


Paulo: Gustavo Gili, 2017.

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