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TECNOLOGIAS AMBIENTAIS

EM EDIFÍCIOS E CIDADES
AULA 5

Prof.ª Wívian P. P. Diniz


CONVERSA INICIAL

A arquitetura pode ser ouvida? A maioria das pessoas diria


provavelmente que, como a arquitetura não produz sons, não pode ser
ouvida. Mas ela tampouco irradia luz e, no entanto, podemos vê-la.
Vemos a luz que ela reflete e desse modo adquirimos uma impressão
da forma e do material. Recintos de formatos e materiais diferentes
reverberam de modo diverso. (Steen Eiler Rasmussen)

Entraremos no mundo do conforto acústico, fundamental para que a


saúde das pessoas seja mantida ao habitarem espaços construídos.
Vamos entender o problema da poluição sonora nas grandes cidades e
quais atividades que produzem ruídos são mais nocivas ao nosso bem-estar
físico e psicológico. Conheceremos como o som é produzido, como se propaga
e como ele interage com as edificações.
Após essa compreensão inicial, podemos considerar as estratégias para
tratamento acústico nos nossos projetos, incluindo o isolamento e a absorção
sonora como as principais estratégias. São diversas as normas técnicas que
determinam critérios adequados ao conforto acústico humano e vamos conhecê-
las.
Por fim, apresentaremos alguns programas computacionais que podem
auxiliar no processo projetual por meio de simulações.

CONTEXTUALIZANDO

Um dos maiores problemas de saúde pública, atrelado à vida moderna


em contextos urbanos, é a poluição sonora. Presente no ambiente por meio do
ruído – som indesejado –, é considerada uma das formas de agressão e
desconforto ao ser humano, ao meio ambiente e até à fauna da região, pois
interfere na comunicação entre vários animais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição sonora é
considerada um problema de saúde pública mundial, sendo que essa instituição
se baseia em normas técnicas que estabelecem o limite máximo tolerável ao
ouvido humano entre 50 e 60 dB1 – sendo essa inclusive a faixa sonora da voz
humana média.
Caso sejamos expostos a altos índices sonoros superiores a 60 dB
durante cerca de oito horas seguidas diariamente, surgem os primeiros danos à

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Decibel dB(A) – valor ponderado que leva em consideração os valores correspondentes de
igual sensação sonora do aparelho auditivo humano. Portanto, 0 dB representa o limite inferior
de audibilidade e 140 dB o limite superior de dor.
nossa saúde, como dificuldades de aprendizagem, falta de concentração e
ansiedade. Acima dos 65 dB, em razão do estresse causado, o colesterol
aumenta e a imunidade diminui. Após os 70 dB, podem ocorrer zumbidos, tontura
e as chances de infarto aumentam. Expostos a ruídos com intensidade superior
a 85 dB, as estruturas fisiológicas da audição são afetadas e progressivamente
ocorrem perdas auditivas e até surdez. O ruído de 140 dB ou mais pode danificar
permanentemente a nossa capacidade auditiva.
Desse modo, a poluição sonora é determinada por dois fatores: o tempo
de exposição e o nível do ruído. Atualmente cerca de 5% das causas de insônias
são por ruídos no ambiente.
Nas cidades, o trânsito é um dos principais causadores da poluição
sonora. Nas moradias, o uso de aparelhos domésticos e atividades caseiras
podem ocorrer simultaneamente e, assim, aumentar o nível de ruído em nossas
casas e na de nossos vizinhos.
Nos locais de trabalho, em atividades de longa duração e que requerem
alta e contínua concentração, um nível sonoro acima de 90 dB afeta
negativamente a produtividade, levando a um gasto de energia
aproximadamente 20% maior para realizar uma tarefa. Na figura 1 a seguir,
temos a escala de decibéis referente a diversas fontes de ruídos do nosso
cotidiano para efeitos de exemplificação.

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Figura 1 – Escala dos ruídos emitidos por diversas fontes sonoras em decibéis

Crédito: VectorMine/Shutterstock.

Saiba mais
O Brasil, juntamente com o Canadá, o Chile, os Estados Unidos (nas
Américas), a Alemanha, a Áustria, a Espanha e a Suíça (na Europa) são
signatários do Dia Internacional de Conscientização sobre o Ruído? É possível
conhecer mais sobre essa iniciativa no website do projeto. Disponível em:
<https://www.inadbrasil.com/objetivos/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

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TEMA 1 – ENTENDENDO O SOM

O som é a sensação auditiva produzida pela vibração mecânica das


partículas de um meio elástico (gasoso, sólido ou líquido) – no vácuo, não existe
som – se propagando como ondas até o aparelho auditivo humano. A velocidade
de transmissão do som é diretamente proporcional à distância entre as
moléculas constituintes do meio. Ou seja, no meio gasoso (como o ar) a
velocidade do som é de 340 m/s, sendo maior nos líquidos e maior ainda nos
sólidos. No Quadro 1 a seguir, temos alguns materiais e suas respectivas
velocidades da propagação do som.

Quadro 1 – Velocidade da propagação do som em diversos meios, em m/s

Material Velocidade m/s


ar 344
borracha 40 a 150
chumbo 1.320
água 1.482
madeira 1.000 a 5.000
concreto 3.400
alumínio 5.150
vidro 5.000 a 6.000
Fonte: Diniz, 2023.

O ruído pode ser caracterizado como a sensação psicológica resultante


de um ou mais sons desagradáveis ao ouvido humano. No entanto, a noção de
ruído é subjetiva e depende de quem o percebe, pois a conceituação de “som” e
“ruído” depende da sensação e varia de indivíduo para indivíduo. A música é o
maior exemplo disso. Para algumas pessoas, uma música pode soar harmoniosa
e prazerosa, enquanto para outras a mesma música pode ser insuportável de
escutar.
Na NBR 10151/2019, constam valores de níveis de ruído permitidos para
ambientes externos, diurno e noturno, em função do tipo de ocupação da área.

Quadro 2 – Nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos, em dB(A)

Tipos de áreas Diurno Noturno


Áreas de sítios e fazendas 40 35
Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de 50 45
escolas
Área mista, predominantemente residencial 55 50
Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55
Área mista, com vocação recreacional 65 55
Área predominantemente industrial 70 60
Fonte: ABNT, 2019, p. 3.

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1.1 Caracterização do som

O som possui três propriedades básicas, juntamente com outras:

• intensidade – é a amplitude da onda sonora (nível da pressão ou volume


de som), o que entendemos como o volume sonoro. Quanto aumentamos
ou diminuímos o volume em um aparelho de som, estamos aumentando
ou diminuindo a intensidade do som;
• altura – é o que nos faz perceber se um som é grave ou agudo. Por
exemplo, cada nota musical tem seu som característico, que é
reproduzido por frequências sonoras de alturas diferentes;
• timbre – é o que nos possibilita diferenciar os diversos sons.
Quando ouvimos o timbre de um instrumento musical, sabemos se é uma
flauta ou um piano. Também diferenciamos a voz humana pelo timbre, se
é masculina e feminina.

O som puro é um som que está associado a uma onda sonora com uma
frequência única e definida. A vibração de um diapasão dá origem a um som
puro ou simples, também designado como som harmônico. Um som complexo
está associado a uma onda sonora resultado da sobreposição de várias
frequências de vibração.

Figura 2 – Representação de um som puro (diapasão) e de sons complexos


(piano e flauta)

Fonte: Diniz, 2023.

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1.2 Ondas e som

O som é uma onda longitudinal, desse modo, se propaga na mesma


direção da vibração da fonte sonora. Sendo uma onda mecânica, só é capaz de
se propagar em meios físicos e apresenta propriedades como:

• frequência – é o número de vibrações que a onda sonora completa em


um segundo, medida em Hertz (Hz). Define a altura da onda sonora, ou
seja, quanto maior a frequência do som, mais agudo é. Sons de baixas
frequências são chamados de sons graves. As notas musicais de um
piano, por exemplo, têm frequências de 27,5 Hz (baixa frequência, som
grave) a 4.400 Hz (alta frequência, som agudo). Os seres humanos são
capazes de perceber sons entre 20 Hz e 20.000 Hz;
• comprimento de onda (λ, lambda) – é o espaço necessário para que a
onda sonora produza uma oscilação completa, ou seja, a distância entre
duas cristas ou dois vales de uma onda (Figura 3). Metade de um
comprimento de onda é o equivalente à distância entre uma crista e um
vale.

Figura 3 – Representação da frequência e do comprimento de onda, de uma


onda sonora

Fonte: Diniz, 2023.

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1.3 Fenômenos do som

As fontes de ruído que interferem no conforto acústico das edificações são


classificadas como internas ou externas. As principais fontes internas são
equipamentos sonoros, impactos no piso do andar superior, conversas e
atividades dos vizinhos, aparelhos de climatização e instalações hidráulicas dos
banheiros. Externamente, temos as turbinas de aviões, a construção civil, o
tráfego de veículos e do transporte urbano. O som sofre alguns fenômenos,
como:

• reflexão – acontece quando o som é emitido em direção a algum anteparo


elástico e se caracteriza pela permanência da energia sonora no
ambiente. Esse fenômeno gera o eco, por exemplo;
• absorção – nenhuma superfície é perfeitamente refletora das ondas
sonoras, ou seja, uma parte da energia incidente é absorvida pelo material
constituinte da superfície. Esse fenômeno reduz a reflexão das ondas
sonoras em um mesmo ambiente, ou seja, reduz e/ou elimina o tempo de
reverberação nesse ambiente. A Tabela 2, na NBR 12179/1992,
apresenta uma relação de materiais e seus respectivos índices de
absorção acústica. A utilização desses materiais, inclusive combinados
adequadamente, possibilita gerenciar o comportamento acústico em
ambientes construídos;
• isolamento2: ocorre quando alguns materiais, aplicados à parede,
funcionam como uma barreira que impede a passagem do som para um
ambiente vizinho. Quanto mais leve a parede, mais facilmente passa a
vibrar. As salas de gravação devem receber esses materiais para evitar
que sons externos interfiram internamente;
• reverberação – as paredes de um ambiente construído refletem as ondas
sonoras presentes, caracterizando o fenômeno chamado de
reverberação. A unidade comparativa para medir a reverberação é
definida como o tempo necessário para um som diminuir sua intensidade
à milionésima parte, a partir do momento em que a fonte sonora é
eliminada. Esse decréscimo corresponde a redução de 60 dB;

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É fundamental não confundir os termos “absorção sonora” e “isolamento sonoro”. A absorção
é a capacidade de um componente construtivo de absorver total ou parcialmente a energia
sonora incidente. Já o isolamento é o conjunto de procedimentos praticados na construção civil
para inibir a transposição do som de um ambiente a outro.
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• transmissão – uma parede, na realidade, não se comporta como
obstáculo perfeito para a transmissão sonora de um ambiente para outro.
Quando as ondas sonoras atingem uma parede, esse vibrar e a própria
parede em vibração produz ondas sonoras nos ambientes vizinhos. Ou
seja, parte da energia incidente é transmitida ao ambiente vizinho pela
vibração da parede.

Vídeos
Os vídeos a seguir complementam, com animações, o que é o som.

• “O que é uma onda?”. Canal Ciência todo dia, YouTube. Disponível em:
<https://youtu.be/M2D5-zXlD6A>. Acesso em: 5 fev. 2023.

• “Como o som funciona?”. Canal Ciência todo dia, YouTube. Disponível em:
<https://youtu.be/WLM6-By0qBg>. Acesso em: 5 fev. 2023.

TEMA 2 – ASPECTOS PSICOLÓGICOS E FISIOLÓGICOS DO CONFORTO


ACÚSTICO

O sistema auditivo humano não percebe sons de frequências diferentes


com a mesma sensibilidade. Ou seja, o nosso sistema auditivo não responde de
forma linear aos estímulos sonoros, e sim de forma logarítmica. A sensibilidade
do aparelho auditivo humano varia conforme a frequência dada, ou seja, a
frequência sonora para qual temos mais sensibilidade é cerca de 250 Hz
(frequência grave). Após 1.000 Hz, ocorrem perdas auditivas progressivas até o
limite de 20.000 Hz, quando não conseguimos mais escutar. Para uma pessoa
adulta e com sistema auditivo normal, as frequências audíveis variam de 20 a
20.000 Hz.
As frequências inaudíveis são classificadas como infrassons (abaixo do
limite da audição) e ultrassons quando estão acima da capacidade auditiva
humana (acima de 20.000 Hz), conforme Quadro 3 a seguir.

Quadro 3 – Frequências audíveis

Infrassons (Hz) Frequências audíveis (Hz) Ultrassons (Hz)


Graves Médios Agudos
0 – 20 >20.000
20 – 400 400 – 1.600 1.600 – 20.000
Fonte: Diniz, 2023.

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O ouvido humano tem mais “tolerância” a frequências graves, por isso
todos os locutores e locutoras de rádio são selecionados por terem a voz mais
grave. Somos menos tolerantes às frequências agudas, desse modo, um apito
(agudo) será sempre mais incômodo do que um trovão (grave), mesmo que
ambos apresentem o mesmo nível de intensidade sonora.

Leitura complementar
Indicamos, a seguir, o Manual ProAcústica de Acústica Básica, um guia
prático e orientativo para que todos os envolvidos no processo tenham
informações mais claras a respeito dos conceitos básicos e terminologias
utilizadas em acústica. Ele é uma realização da ProAcústica Associação
Brasileira para a Qualidade Acústica. Disponível em:
<https://www.proacustica.org.br/manuais-proacustica/manual-acustica-
basica/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

TEMA 3 – DESEMPENHO ACÚSTICO NAS EDIFICAÇÕES

O estudo da propagação sonora em edificações está relacionado a


fenômenos acústicos – a absorção e o isolamento das ondas sonoras – que
representam estratégias fundamentalmente diferentes para o conforto acústico.
No senso comum, o isolamento sonoro pode ser facilmente confundido com a
absorção sonora, equívoco que causaria prejuízos na funcionalidade do projeto
de arquitetura.
Absorção sonora é a capacidade do material de transformar energia
sonora em energia mecânica e térmica. Por exemplo, a espuma acústica serve
para absorver o som que incide sobre ela, não possibilitando que reflita nas
superfícies e retorne ao ambiente. Ou seja, ao se absorver o som e não o
reverberar, ou ainda, ao se evitar a reverberação excessiva do som dentro do
ambiente, o tornamos compreensível. Nesse caso, a fonte sonora e o receptor
estão no mesmo ambiente.
No isolamento sonoro, a fonte e o receptor estão em ambientes distintos.
O objetivo dessa estratégia é impedir que o som atravesse paredes e lajes com
o uso de materiais que sejam ineficientes, como condutores sonoros, ou seja,
materiais que diminuam parcial ou totalmente a intensidade sonora de um
ambiente para outro. Desse modo, o isolamento visa impedir que ruídos externos
penetrem em um ambiente interno ou evitar que o som interno a um ambiente

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alcance ambientes vizinhos. Nas edificações, o uso das propriedades isolantes
de um material é essencial para o conforto das pessoas e, consequentemente,
para que haja um convívio tranquilo com a vizinhança.
Alguns materiais utilizados para o isolamento térmico apresentam
também propriedades de isolamento acústico. É o caso da lã de rocha e de
painéis de algodão ou fibra de madeira, que possibilitam um conforto acústico e
térmico em edificações de climas que indiquem o isolamento térmico como
estratégia bioclimática.
Para a construção de salas de gravação de som, por exemplo, é
necessário utilizar ambos os tratamentos, o isolamento para que o som não
interfira nas atividades vizinhas e a absorção para o controle da reverberação
sonora.
Uma curiosidade sobre o vidro: ele é um excelente isolante sonoro, mas
não absorve o som. Isso significa que o controle da reverberação interna em
ambientes com muito vidro é mais difícil, embora evite que sons externos
penetrem no ambiente quando as frestas são bem vedadas.

Saiba mais
Na página indicada na plataforma Archdaily, podemos encontrar diversos
artigos relacionados ao conforto acústico em edificações. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/tag/acustica>. Acesso em: 5 fev. 2023.

3.1 Qual tratamento acústico devemos utilizar? Absorção ou isolamento?

Quando temos uma fonte sonora em um ambiente fechado, as ondas


acústicas geradas são refletidas pelas superfícies internas desse ambiente
conforme forma e escala do local.
A intensidade do som refletido, por sua vez, depende da capacidade de
absorção dos materiais que compõem as superfícies, denominada “coeficiente
de absorção α (alfa)”3. Esse coeficiente é estabelecido conforme as
características físicas do material (porosidade, rigidez) e da frequência do som
(graves, médios ou agudos) e apresenta melhor efetividade em materiais
porosos (espumas) e fibrosos (lãs, tecidos e forros minerais).

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α = 0,01 significa absorção de 1% da energia da onda sonora e devolução de 99% para o
ambiente. Para o porcelanato, α = 1,00 significa absorção de 100% da energia da onda sonora
e devolução de 0% para o ambiente. Por exemplo: um vão aberto na parede.
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Saiba mais
Na página da empresa Logacústica, temos acesso a uma tabela
apresentando os principais materiais utilizados na construção civil, os
coeficientes de absorção relacionados. NRC – Coeficiente de Redução de Ruído
(Noise Reduction Coefficient). Disponível em: <https://logacustica.com/
coeficientes-de-absorcao-sonora/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

Muitas vezes ficamos em dúvida sobre qual solução empregar para


resolver problemas acústicos nas edificações; isolamento ou absorção sonora?
Embora os dois recursos sejam frequentemente considerados semelhantes, já
aprendemos que são estratégias diferentes para o tratamento acústico de
ambientes internos. Ou seja, entendemos como tratamento acústico um
processo composto por etapas, iniciadas com a identificação e análise dos ruídos
internos e externos ao ambiente, diagnóstico da situação e recomendação de
intervenções necessárias para se obter uma condição acústica adequada ao
conforto humano, sempre relacionadas às normas técnicas que regulamentam o
conforto acústico.
Para identificação dos níveis de ruídos presentes, dentro e fora da
edificação, são necessários medidores de nível de pressão sonora,
popularmente conhecidos como decibelímetros (Figura 4). É importante salientar
que esses equipamentos precisam estar certificados e calibrados por entidades
competentes.

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Figura 4 – Medição de ruído urbano por meio do uso do decibelímetro

Crédito: Tonaquatic/Adobe Stock.

3.1.1 Isolamento sonoro

Conforme já foi dito, o isolamento sonoro é uma estratégia para


tratamento acústico de um ambiente (interno e/ou externo) com o objetivo de
evitar a transferência de um som de um ambiente para outro.
Como o som se propaga em qualquer meio material, seja gasoso, líquido
ou sólido, o controle do som em ambientes construídos é complexo e não basta
somente fechar portas e janelas, pois o som continuará a ser transmitido por
vibração das paredes, lajes e sistemas prediais. Dessa maneira, o correto é que
os projetos arquitetônicos sejam planejados considerando o tratamento sonoro
para que essa estratégia seja implementada ainda na construção das
edificações. Caso isso não seja possível, será necessário reformas posteriores,
onerando os moradores e causando dificuldades a eles.
É fundamental entender que o isolamento sonoro protege internamente
as pessoas da interferência de ruídos externos (também chamados de ruídos
aéreos) causados pelo trânsito, obras de engenharia. Da mesma forma, evita
que sons produzidos por uma determinada atividade no entorno, como bares e

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locais de eventos, incomodem as residências vizinhas. Ou seja, o isolamento é
indicado quando a fonte sonora e a pessoa estão em ambientes diferentes.
Para o isolamento sonoro, são usados materiais de construção em
diversas espessuras, como tijolo maciço, bloco de concreto ou cerâmico. Ou
seja, quanto maior o peso de um material, maior será o seu isolamento. Também
são aplicados materiais industrializados específicos para essa função.
Um segundo tipo de ruído, de impacto ou estrutural, ocorre quando o som
percorre os elementos construtivos por meio da vibração da sua estrutura
material. O exemplo mais comum é o ruído causado quando vizinhas do
apartamento acima do nosso caminham com sapatos de salto.
Para o isolamento desse tipo de ruído, é usado um recurso com
capacidade de amortecimento acústico entre a laje e o piso final, conhecido
como “piso flutuante” (Figura 5). Esse sistema pode utilizar polímeros e cargas
minerais na forma de mantas, evitando assim que o impacto dos passos seja
transmitido para a laje que, ao vibrar, transmite o ruído para o apartamento
localizado abaixo desse.

Figura 5 – Instalação de piso flutuante

Crédito: Adwo/Adobe Stock.

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3.1.2 Absorção sonora

A absorção sonora é fundamental em projetos de teatros, auditórios e


salas de gravação porque esse recurso possibilita equalizar e adequar a
distribuição das ondas sonoras produzidas dentro do ambiente pelos materiais
que revestem o próprio ambiente. Nos teatros e salas para audições de música
acústica, por exemplo, esse controle é obtido pelo uso de materiais que têm a
capacidade de absorção sonora e, consequentemente, o controle da
reverberação. O tempo de reverberação (TR) é calculado para que toda a sala
seja alcançada pelo som, mas sem causar um atraso muito grande, situação que
causaria confusão para a compreensão correta do que está sendo escutado.

Saiba mais
As salas secas ou mortas, conhecidas nos estúdios de gravação, são
ambientes com reverberação mínima, em que os sons são absorvidos pelos
materiais de revestimento quase que totalmente. Uma sala viva, por sua vez, é
reverberante e mantém os sons no ambiente pelo tempo que for determinado
(teatros). Para um exemplo, acesse a página da Sala São Paulo e conheça
porque ela é considerada de extrema qualidade acústica. Disponível em:
<http://www.salasaopaulo.art.br/paginadinamica.aspx?pagina=acustica>. Acesso
em: 5 fev. 2023.

O dimensionamento correto da absorção em ambientes técnicos, como


os citados anteriormente, tem como objetivo diminuir os níveis de pressão sonora
no local e melhorar as condições de propagação e inteligibilidade dos sons
emitidos. Para isso, é necessário que o profissional que desenvolve o projeto
acústico tenha formação complementar a respeito.
Geralmente uma edificação não necessita de preparo especial para
receber absorvedores acústicos, que podem ser aplicados em diversas
superfícies e para diversos usos, como restaurantes, salas de aula, escritórios e
apartamentos. O importante é entender que o recurso da absorção sonora visa
tratar as fontes de sons produzidas dentro do mesmo ambiente em que estão as
pessoas que devem escutá-las.
Os materiais indicados para absorção sonora são porosos ou fibrosos,
pois essa característica possibilita que a onda sonora, ao passar pela sua
estrutura material, sofra atrito com essa estrutura e seja dissipada. São exemplos

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de materiais indicados para absorção sonora as fibras minerais, os painéis
perfurados, espumas acústicas, lã mineral e tecidos (com espessuras variadas).
Por fim, algumas vezes o ambiente precisará do recurso de isolamento e
de absorção sonora atuando juntos. Na sequência, trazemos algumas leituras e
vídeos para ampliar a nossa compreensão. Elas demonstram como desenvolver
projetos acústicos para auditórios e escolas.

Leitura complementar
• Como garantir isolamento acústico do drywall em projetos residenciais.
Associação Brasileira do Drywall. Disponível em: <https://drywall.org.br/
blogabdrywall/como-garantir-isolamento-acustico-do-drywall-em-projetos-resi
deciais/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

• Revista Acústica e Vibrações. Publicação científica da Sociedade Brasileira


de Acústica (Sobrac). Disponível em: <https://revista.acustica.org.br/
acustica>. Acesso em: 5 fev. 2023.

• Manual ProAcústica para Qualidade Acústica de Auditórios. Guia prático e


orientativo com boas práticas para os projetos de acústica de auditórios. 2019.
Disponível em: <https://www.proacustica.org.br/manuais-proacustica/manual-
proacustica-qualidade-acustica-de-auditorios/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

• Manual ProAcústica para Qualidade Acústica em Escolas. Guia prático e


orientativo para que arquitetos, construtores, consultores de acústica,
fornecedores, profissionais da educação e projetistas tenham informações a
respeito dos critérios técnicos e boas práticas na elaboração do projeto
acústico para escolas. 2019. Disponível em: <https://www.proacustica.org.br/
manuais-proacustica/manual-proacustica-qualidade-acustica-em-escolas/>.
Acesso em: 5 fev. 2023.

Vídeo
• Canal Acústica em Foco. Acústica na medida certa, YouTube. Disponível em:
<https://www.youtube.com/@acusticaemfoco>. Acesso em: 5 fev. 2023.

• Playlist Conforto Acústico 4SMA. Canal Mayara Fernanda Pontes Peres. 14


vídeos. YouTube. Disponível em: <https://youtube.com/playlist?list=
PLW9RG_6K6ZIlqKRw45n5ntJjOkalEi64v>. Acesso em: 5 fev. 2023.

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TEMA 4 – ACÚSTICA URBANA

A condição sonora nas cidades afeta diretamente a qualidade de vida das


pessoas que vivem ali. Por isso, o estudo e controle do ruído urbano tem
recebido cada vez mais atenção dos pesquisadores e gestores das grandes
cidades.
O ruído causado pelo tráfego pesado e constante nas ruas, as
construções ao lado das casas e aviões passando no céu afeta a nossa saúde
física e psicológica. Desse modo, o mapeamento e gerenciamento de ruído
urbano são estratégias adotadas em muitos países inclusive no Brasil. O
mapeamento de ruídos na cidade de São Paulo é um projeto piloto nesse
sentido.

Saiba mais
Projeto do Mapa de Ruído em São Paulo. Disponível em:
<https://www.mapaderuidosp.org.br/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

Sobre o Mapa de Ruído. Disponível em: <https://www.proacustica.org.br/


iniciativas/mapa-de-ruido/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

O gerenciamento dos ruídos nas cidades possibilita a prevenção e


redução desse inconveniente antes que ele atinja níveis danosos à nossa saúde.
A identificação dos ruídos originados por casas noturnas, indústrias ou tráfego
de veículos é o primeiro passo para o gerenciamento do ruído urbano. Depois, é
realizado o mapeamento dos ruídos por meio do registro sistemático e
individualizado. Os dados levantados são então analisados por meio de um
dispositivo de cálculo, para criar métricas de ruído.
A modelagem digital da propagação do ruído requer uma grande
quantidade de informações acerca da área mapeada, por esse motivo é
importante que os sistemas de captura de ruídos possam realizar interface com
sistemas de informações geográficas (GIS) ou outros sistemas de mapeamento
cartográfico.

Leitura complementar
Indicamos a leitura da dissertação de mestrado do Felipe do Valle, que
detalha os fundamentos da acústica urbana. VALLE, F. do. Comportamento
acústico e design de grandes espaços urbanos: cânion e túnel – Curitiba, 2020.

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Disponível em: <https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/74145>. Acesso em: 5
fev. 2023.

TEMA 5 – NORMAS TÉCNICAS PARA O CONFORTO ACÚSTICO

As normas técnicas devem ser consideradas desde o início dos projetos


arquitetônicos, sendo que as normas que precisam ser atendidas são
relacionadas ao uso proposto para a edificação. Para o projeto acústico e
arquitetônico de um estúdio de gravação em um apartamento, por exemplo, é
necessário observar os requisitos das normas ABNT NBR 10151/2019 e ABNT
NBR 10152/2017. No caso de estabelecimentos que emitem níveis sonoros
elevados (restaurantes, bares e casas de show), é necessário estar de acordo
com a legislação para prevenir problemas com a municipalidade como
advertências, multas e até mesmo a interdição do local.
Entretanto, aplicar uma norma técnica sem conhecimento técnico pode
levar a erros caso ocorra uma interpretação equivocada. Existem várias normas
para aplicação acústica, sendo as principais listadas a seguir:

• ABNT – Avaliação do ruído em áreas habitadas visando o conforto da


comunidade – Procedimento. NBR 10151/2019.
• ABNT – Níveis de ruído para conforto acústico. NBR 10152/2017.
• ABNT – Grandezas e unidades de acústica. NBR 16313/2014.
• ABNT – Norma de desempenho. NBR 15575/2013.
• ABNT – Tratamento acústico em recintos fechados. NBR 12179/1992.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) desenvolveu índices


que definem o nível de ruído, bem como a pressão sonora aceitável em
diferentes ambientes na NBR 10152/2017. A ABNT NBR 10151/2019 aborda
como realizar a medição e análise do ruído em áreas habitadas.
A NBR 15575/2013 estabelece critérios e métodos para avaliação
acústica em edificações construídas, tendo como principal objetivo garantir
conforto as pessoas que vivem ali. Em caso de apartamentos e casas
geminadas, por exemplo, o limite máximo de ruídos que podem ser transmitidos
é de 48 dB para evitar o desconforto causado por saltos de sapato, animais de
estimação ou uso de ferramentas. Outra determinação importante dessa norma
é que as paredes que dividem as unidades habitacionais devem ter espessura

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maior do que 10 centímetros e conter internamente camadas de materiais
isolantes como a lã de rocha ou de vidro.

Leitura complementar
Para ampliar o uso e aplicação das normas, indicamos as leituras a seguir.

• Guia prático para consulta de normas ABNT relacionadas à acústica.


Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/222534/00112
6780.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 5 fev. 2023.

• Manual ProAcústica sobre a Norma de Desempenho ABNT NBR 15575:2021


Acústica: Guia prático sobre cada uma das partes relacionadas à área de
acústica nas edificações da Norma ABNT NBR 15575:2021 Edificações
habitacionais – Desempenho. 4. ed. 2022. Disponível em: <https://www.
proacustica.org.br/manuais-proacustica/manual-proacustica-sobre-a-norma-
de-desempenho-4edicao/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

TROCANDO IDEIAS

Aprendemos, nesta etapa, que o conforto acústico é fundamental para


executarmos nossas atividades diárias de maneira saudável. Para que isso
ocorra, é necessário que o ambiente tenha condições acústicas adequadas e
conforme as normas técnicas, minimizando os ruídos. Caso contrário, teremos
comprometido a concentração, a produtividade e a capacidade de comunicação
(clareza no entendimento da fala ou inteligibilidade).
Nas grandes cidades, é comum sermos incomodados por ruídos externos
causados pelo tráfego ou pessoas na vizinhança, problemas que podem ser
minimizados com o isolamento acústico correto nas edificações. Os materiais
utilizados na arquitetura têm propriedades acústicas inerentes e, desse modo,
transmitem, refletem ou absorvem os sons. Por isso, é importante conhecer o
comportamento acústico dos componentes construtivos que escolhemos.
Aspectos como os tipos de fontes sonoras e o tratamento acústico das paredes
e lajes interferirá na qualidade acústica do ambiente interno.
O tratamento acústico de janelas é essencial, pois é por meio delas que
grande parte do ruído externo entra nos ambientes como também sai para
incomodar nossos vizinhos. Em alguns casos, é necessário a vedação dessas
aberturas com esquadrias com eficiência acústica.

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Saiba mais
A Weiku do Brasil tem tradição na fabricação de esquadrias acústicas.
Disponível em: <https://weiku.com.br/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

Em áreas como varandas, é possível amenizar os ruídos externos com


fechamentos de vidro duplo ou utilizando plantas nesses locais. Em pequenos
ambientes, é possível instalar um jardim vertical.

Leitura complementar
No e-book Como o som nos afeta, faz-se um resumo do que
compartilhamos aqui. Disponível em: <https://ca-2.com/ebook-como-o-som-nos-
afeta/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

NA PRÁTICA

Trazemos possibilidades de programas para a simulação do


comportamento acústico. A maioria deles necessita de treinamento e
conhecimento para serem utilizados, mas com dedicação é possível incorporar
essas ferramentas na sua atividade projetual. Infelizmente os programas para
simulação acústica são mais complexos e por isso a maioria é paga, somente o
NoiseTube é gratuito.

• Indicação 1: o programa CATT-Acoustic™ v9.1 março 2022 é utilizado


para a simulação acústica de ambientes internos. Existe uma versão
demo gratuita, porém, é bastante limitada quanto aos recursos para a
simulação.

Saiba mais

Programa CATT-Acoustic v9.1. Disponível em: <http://www.catt.se/>. Acesso


em: 5 fev. 2023.

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• Indicação 2: Acoustics Simulation Software foi desenvolvido para simular


e medir a acústica do interior de edifícios. Com o tratamento apropriado
situações ao ar livre também podem ser estudadas. Dada à geometria e
as propriedades da superfície a acústica poder ser prevista, ilustrada e
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ouvida. O ODEON Combined pode ser usado tanto para acústica de
ambientes quanto controle de ruído.

Saiba mais
• Acoustics Simulation Software. Disponível em: <https://software.com.br/p/
acoustics-simulation-software>. Acesso em: 5 fev. 2023. Site em português.

• ODEON Combined. Disponível em: <https://software.com.br/p/odeon-


combined>. Acesso em: 5 fev. 2023.

• Indicação 3: O ODEON é conhecido por seu fluxo de trabalho fácil, tempos


de cálculo rápidos e precisão. O fluxo de trabalho fácil torna rápido o uso
para as tarefas mais comuns, o tempo de cálculo rápido torna os
processos de projeto iterativos possíveis e a precisão o torna confiável.
Possui uma versão demo somente para conhecimento do programa pois
não permite simular com seu próprio projeto, somente no modelo. É
bastante utilizado em escala mundial.

Saiba mais
ODEON. Disponível em: <https://odeon.dk/>. Acesso em: 5 fev. 2023.

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• Indicação 4: NoiseTube é um projeto de pesquisa iniciado em 2008


no Sony Computer Science Lab em Paris, França e atualmente é mantido
pelo Software Laboratório de Idiomas no Vrije Universiteit em Bruxelas,
Bélgica. O projeto NoiseTube propõe uma abordagem participativa para a
monitorização da poluição sonora, envolvendo o público em geral. O
aplicativo para celular permite o uso do smartphone como sensor de ruído,
o que possibilita às pessoas medirem o nível de ruído em dB(A) no seu
ambiente quotidiano. Além disso, cada usuário pode participar da criação
de um mapa coletivo de poluição sonora compartilhando dados
georreferenciados com a comunidade da plataforma.

Saiba mais
Aplicativo NoiseTube. Disponível em: <https://www.noisetube.net/>.
Acesso em: 5 fev. 2023.

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FINALIZANDO

Conversamos bastante sobre como a exposição constante a ruídos pode


levar as pessoas à perda progressiva da capacidade auditiva e até mesmo a
problemas de pressão arterial, distúrbios do sono e alterações de humor.
A nossa atribuição, como profissionais da construção civil, é indicar
elementos construtivos e sistemas prediais que promovam o conforto
acústico nas edificações, adotando estratégias para tratamento acústico nos
pisos, paredes, portas e esquadrias com vedação acústica.
Desse modo, somos responsáveis por preservar a privacidade, o sossego
e o conforto das pessoas que habitam as edificações que projetamos,
promovendo o bem-estar e qualidade de vida. Agora é começar a praticar os
fundamentos do conforto acústico nos projetos, entendendo que precisamos
conhecer a tecnologia disponível no mercado, sempre nos atualizando.

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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 10151:


avaliação do ruído em áreas habitadas visando o conforto da comunidade –
Procedimento. Rio de Janeiro, 2019.

_____. NBR 10152: Níveis de ruído para conforto acústico. Rio de Janeiro, 2017.

_____. NBR 12179: Tratamento acústico em recintos fechados. Rio de Janeiro,


1992.

_____. NBR 15575: Normas de Desempenho. Rio de Janeiro, 2013.

_____. NBR 16313: Grandezas e unidades de acústica. Rio de Janeiro, 2014.

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