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O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO RESTAURO

ARQUITETÔNICO NA EUROPA
Prof. José Artur Fiuza Costa

Atualmente existem conceitos bem definidos sobre como e o que preservar, manter,
conservar e restaurar, que são resultados de vários experimentos e reflexões que se
desenvolveram na Europa ao longo dos últimos séculos. Inicialmente empregava-se o
termo “restaurar” para definir as ações que se desenvolviam para se conservar ou
manter uma edificação que possuísse um valor histórico e artístico.
As idéias evoluem e as definições são abrangentes, sendo que o objetivo principal é
manter o ”original”dentro da diversidade das manifestações culturais.

Em cada época e cada sociedade buscam, valorizam ou renegam seu passado


conforme sua visão e sentimento naquele momento. O reconhecimento de uma obra
como um patrimônio ou um produto cultural e artístico resulta de uma consciência
histórica que através do tempo seguiu uma determinada trajetória.

Na época do Renascimento houve grande interesse pela cultura clássica greco-romana


e a maioria dos artistas e arquitetos deste período, se inspiraram nesta fase da
antiguidade para uma nova linguagem que achavam que poderia ser uma renovação
artística e arquitetônica. Muito comum neste período era que as edificações que não
tivessem mais uso naquele momento, fossem desmantelados ou tivessem algumas
partes retiradas e às vezes reaproveitadas, para que melhor pudessem corresponder
aos novos padrões estéticos e às necessidades vigentes. Dentro deste contexto havia
também edificações que sofreram em épocas diversas, acréscimos e complementações
que os descaracterizavam, o que levou a ações de remoção destes elementos
promovendo a volta destas obras à sua originalidade. Estas ações já demonstravam
neste tempo uma preocupação para com a conservação dos monumentos de
importância histórica que já estavam sendo considerados significativos como um
patrimônio histórico e cultural.

O movimento denominado “Iluminismo” surgido no século XVIII caracterizava-se pelo


grande interesse pela cultura greco-romana, também chamada de “clássica”, que
estava sendo divulgada pela difusão de livros e estampas sobre esta cultura, facilitou
um maior conhecimento aos artistas, arquitetos e estudiosos desta época. A revolução
francesa ocasionou uma grande onda de vandalismo nos monumentos históricos
tentando apagar o período monárquico. Nesta época o movimento “eclético” estava
em plenitude, convivendo ainda com estilos variados de arquitetura que estavam
sendo utilizados. O crescente aumento das escavações arqueológicas na Itália e a
descoberta das cidades romanas de Pompeia, Herculano e Phaestum, que haviam sido
soterradas pela erupção do Vesúvio, contribuíram também para uma maior
preocupação com a preservação e a manutenção do patrimônio artístico e
arquitetônico deste legado greco-romano.
Neste período iniciou-se o grande movimento turístico na Itália motivado pelo
conhecimento desses bens culturais, que também justificavam aquelas preservações.
Frutos destas movimentações, surgiram alguns pensamentos preservacionistas que
foram norteando as ações destinadas à conservação e a manutenção de edificações
que estavam sendo consideradas como um patrimônio histórico e artístico, como o
pensamento “racionalista” de Viollet-Le-Duc na França e o pensamento “culturalista”
de Ruskin na Inglaterra. Le-Duc colocava-se na posição do arquiteto criador da obra
para justificar os complementos executados, na busca da composição de uma unidade
estilística arquitetônica, quase sempre alterando sua originalidade e resultando num
“falso histórico”.

Essas intervenções criadas por Violet-le-Duc são duramente atacados por John Ruskin,
crítico inglês que depois de 20 anos de atuação de Viollet-le-Duc, surge com uma nova
visão para conservação dos bens culturais. Ruskin acreditava que as obras
arquitetônicas não podem receber nenhum tipo de complemento e valoriza as ruínas a
ponto de recomendar que projetos de arquitetura sejam pensados considerando
também seu estado de conservação juntamente com a marca do tempo depois de
alguns séculos. Estes dois pensamentos preservacionistas radicais influenciam todos os
países da Europa e acabam provocando o surgimento de atitudes intermediárias e
complementares que vão se atualizando e adaptando estes conceitos a diversos
países.

Numasequência desses pensamentos, vieram os historiadores austríacos, Sitte, Riegle


e Dvorak, com uma postura intermediária e se colocando na defesa de suas cidades e
dos diversos monumentos arquitetônicos que consideravam importantes patrimônios
históricos, artísticos e culturais.

Nesse aumento de preocupação de preservação destes bens culturais no século XIX em


Roma, iniciou-se um movimento de reavaliação dos monumentos arquitetônicos sob
novos conceitos como “anastilose” e “reintegração” que contribuíram para cessar as
espoliações e vandalismo que estavam ocorrendo. O processo de anastilose é a
recomposição com partes originais do monumento de forma que seja identificável e
reintegração a recomposição de partes faltantes com materiais semelhantes aos
originais de modo que não alterem o aspecto geral da edificação. Para o correto uso
do método de “anastilose” era necessário um profundo conhecimento dos estilos
arquitetônicos e algumas “reintegrações” foram executadas com materiais diferentes
dos originais, seja no intuito de consolidar estruturas em perigo, seja como
complementos estéticos, embora sejam essas soluções não usuais naquele período.

A escola italiana com Boito, Giovannoni, Beltrami e Brandi, completaram os


pensamentos preservacionistas surgidos inicialmente, com contribuições mais
detalhadas e abrangentes, inicialmente integrando a legislação italiana e depois com a
intenção de unificar estas questões em toda a Europa. Com estas contribuições,
definiram posturas de restauro colocadas em bases “científicas”, “históricas” e “críticas
e analíticas”, estendendo estes critérios para o entorno e para o contexto que
complementam as edificações, ou seja, para o ambiente urbano.
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