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De acordo com Riegl (1903, apud CHOAY, 1996, pp. 25-6), "o monumento é uma criação deliberada
(gewollte) cuja destinação foi pensada a priori, de forma imediata, enquanto o monumento histórico não é, desde
o princípio, desejado (ungewollte) e criado como tal; ele é construído a posteriori pelos olhares convergentes do
historiador e do amante da arte, que o selecionam na massa de edifícios existentes, dentre os quais os
monumentos representam apenas uma pequena parte. Todo objeto histórico pode ser convertido em testemunho
histórico sem que para isso tenha tido, na origem, uma destinação memorial."
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Conceito de adulteração histórica de uma obra desenvolvido pelo crítico e historiador da arte Cesare Brandi,
resultado de qualquer das seguintes ações: "reconstrução de um monumento, ainda que com a mesma matéria do
local de onde foi extraído o material original; a remoção da obra de seu local primitivo; a repristinação que julga
abolir o lapso de tempo entre a conclusão da obra e o presente; a restauração de ruínas; e a produção de um
monumento no mesmo modo e estilo do original." (MAGALHÃES; XAVIER; SANTOS; CORDEIRO, 2018).
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denominada estilística houve uma anti-intervencionista radical, defendida por John Ruskin
(RUSKIN, 2008) e conhecida como “conservação romântica”, a qual propunha conservações
periódicas que assegurem a sobrevivência do edifício, mas que condenava a restauração.
Para além dessas duas visões, no final do séc. XIX, o restauro passou a ser entendido
como ação que deveria respeitar o valor documental dos monumentos. A essa terceira postura
deu-se o nome de restauro filológico.3 Restaurador desse período foi Camillo Boito, segundo
quem os monumentos não poderiam ser relegados à ruína ou à morte, muito menos se deveria
chegar a uma unidade formal baseada em analogias estilísticas. No Congresso de Engenheiros
e Arquitetos realizado em Roma em 1883, propôs critérios de intervenção em monumentos
históricos, dentre os quais destacamos “ênfase no valor documental dos monumentos, que
deveriam ser preferencialmente consolidados a reparados e reparados a restaurados” (KÜHL,
2002, p. 21), completamentos de partes deterioradas ou faltantes de material diverso ou com
incisão de data de sua restauração, e acréscimos e renovações, se necessários, de caráter diverso
do original, mas sem destoar do conjunto. Esses princípios foram retomados em Os
Restauradores, conferência realizada um ano depois (BOITO, 2003). Pode-se afirmar que Boito
contribuiu para a formulação dos “princípios modernos de restauração” na medida em que
defendeu o interesse por aspectos conservativos, o respeito à matéria da pré-existência,
incluindo a manutenção dos acréscimos de épocas passadas, entendendo-as como parte da
história da edificação, e a distinção das intervenções. Posteriormente, no séc. XX, a Carta de
Atenas, de restauração, de 1931, reiterou esses princípios visto que recomendou-se que não
fosse admitida a reconstrução, mas apenas anastilose, ou ação de recomposição por meio da
qual as partes desmembradas retornam às posições iniciais cada vez que o caso permitir, e
materiais novos necessários a esse trabalho são sempre distintos.
Outro nome de destaque da segunda metade do séc. XIX, e que antecipou o debate do
segundo pós-guerra, foi Alois Riegl. Riegl propôs diferentes tipos de valor atribuídos aos
monumentos, agrupados em valores de rememoração –de antiguidade, valor histórico e valor
de rememoração intencional - ou de contemporaneidade - valor de uso prático e valor de arte,
esse subdividido em valor de arte relativo e valor de novidade (CUNHA, 2006). O esquema de
categorias de Riegl foi importante porque expôs a contradição que há entre as diferentes
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Em referência aos métodos da filologia, ou preservação do texto como chegou até hoje, em que são admitidos
apenas elementos diferenciados, como tipo e cor da letra e notas à margem do escrito.
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exigências para a preservação dos monumentos, necessárias e cujos conflitos devem ser
administrados pela atividade de restauração, a qual requer juízo crítico.
A partir de meados do séc. XX, o restauro filológico mostrou-se insuficiente para tratar
de aspectos de conformação e figurativos, como o tratamento de lacunas por meio de “neutros”.
À releitura do restauro filológico incluído o tratamento da imagem, deu-se o nome de restauro
crítico. Entre os representantes dessa linha está Cesari Brandi, segundo quem o restauro
consistem em “o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua
consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à sua transmissão
para o futuro” (BRANDI, 2004, p. 30). De sua experiência à frente do frente do Instituto Central
de Restauração de Roma, Brandi formula dois axiomas: “restaura-se somente a matéria da obra
de arte” (BRANDI, 2004, p. 31), e “a restauração deve visar ao restabelecimento da unidade
potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um
falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo” (BRANDI,
2004, p. 33). O primeiro axioma resulta em reconhecer que a intervenção deve estar limitada à
matéria, que é o que se degrada, e não no processo mental, sobre o qual seria impossível de
agir, o que implicaria em se trabalhar com suposições sobre um “estado original”, condenável
por ser uma recriação fantasiosa. O segundo axioma implica no reconhecimento do restauro
como ação que requer juízo crítico para ser possível alcançar a unidade potencial da obra sem
sacrificar a veracidade do monumento, entendido como portador de valores históricos e
artísticos. A Carta internacional sobre a conservação e o restauro de monumentos e sítios,
conhecida como Carta de Veneza, de 1964, do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios,
organização não governamental associada à UNESCO, é pautada, entre outros, nos princípios
do restauro crítico.
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conservação crítico-conservativa, as instâncias estética e histórica coexistem e interagem por
meio da dialética; nela, portanto, o juízo é baseado em ambas as instâncias. São promovidas,
dentro de limites, a remoção de adições e a reintegração de lacunas. E a terceira vertente propõe
manutenções ou integrações, refazendo argamassas e pinturas, reintegrando lacunas e
reproduzindo partes sem valorizar os sinais de degradação, utilizando-se para isso de técnicas
do passado. Contudo, apesar das diferenças entre as correntes de restauro atuais, não se trata de
abordagens completamente divergentes entre si, posto que compartilham de bases teórico-
metodológicas e técnico-operacionais construídas ao longo de pelo menos dois séculos.
Giovanni Carbonara, em seu artigo “È proprio necessaria una ‘nuova teoria’ del restauro?
Considerazioni sul volume di Salvador Muñoz Viñas”, publicado na segunda edição da revista
Opus, em 2018, o autor questiona a visão de Muñoz Viñas. Segundo Carbonara, na “teoria
clássica”, à qual ele prefere chamar de teorias "tradicionais", o critério de verdade, como
mencionado no libro de Muñoz Viñas, inexiste, "pelo menos absolutamente, pois a restauração
sempre foi submetida a avaliações culturais, subjetivas e comunicativas, para a definição de
seus limites " (CARBONARA, 2018, p. 173, tradução nossa). A resposta à pergunta proposta
para título do artigo seria que “talvez hoje não seja o momento de fundar uma ‘nova’ teoria,
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Muñoz Viñas emrpega o termo “Restauração” para se referir à restauração em seu sentido amplo, ou seja,
sinônimo de “conservação e restauração”, e “restauração” para distinguir o procedimento de “conservação”.
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mas sim, na esteira de uma longa e respeitável tradição, desenvolver e expandir aquisições
anteriores, com atos de refinamento e integração conceitual.” (CARBONARA, 2018, p. 163,
tradução nossa).
No primeiro capítulo (Cos'è il restauro?), Muñoz Viñas informa que, na “teoria clássica”,
adota-se o critério da perceptibilidade da intervenção para distinguir conservação de
restauração, sendo a conservação empregada para se referir ao trabalho que não aspira produzir
alterações perceptíveis no objeto, e restauração para o trabalho que tem por objetivo modificar
aspectos perceptíveis. Contudo, reconhece que na prática, as atividades se superpõem, mas
defende que a definição dos conceitos é necessária para superar ou reduzir essa ambiguidade.
Para esse capítulo, Carbonara argumenta que são definições retiradas de dicionários e que não
levam em conta o desenvolvimento histórico dos termos e a reflexão disciplinar sobre o assunto,
“que considera essencialmente as intenções que orientam os diferentes tipos de operações” (p.
165, tradução nossa). A questão seria muito mais complexa e remonta precisamente aos
princípios orientadores do restauro, como “‘mínimo intervenção’, que têm um papel
fundamental na conservação, ou o de ‘autenticidade’ (material) a ser respeitada tanto quanto
possível para que o objeto permaneça histórica e cientificamente questionável da forma mais
clara.” (CARBONARA, 2018, p. 166, tradução nossa).
No segundo capítulo (Gli oggetti del restauro), Muñoz Viñas defende que os objetos de
Restauração não são considerados como tais porque são antiguidades, obras de arte, objetos
históricos ou bens culturais, mas porque servem como símbolos: “Os objetos de Restauração se
caracterizam por gozarem de uma consideração especial por parte de certos sujeitos… são
signos de aspectos intangíveis de uma cultura, de uma história, de algumas vivências, de uma
identidade…” (MUÑOZ VIÑAS, 2021, p. 46). Segundo Muñoz Viñas, é possível rastrear esse
caráter simbólico em textos como a Carta de Veneza de 1964, na qual se descrevem objetos de
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restauração como “imbuídos de uma mensagem” e, portanto, as atividades de Restauração são
melhor definidas substituindo os aspectos perceptíveis pela capacidade simbólica. Assim, por
exemplo, a conservação é o trabalho que não aspira produzir alterações na capacidade simbólica
do objeto, e restauração para o trabalho que tem por objetivo modificar essa capacidade
simbólica. Por sua vez, Carbonara argumenta que a capacidade simbólica dos objetos de
Restauração é uma proposição conhecida. De acordo com Carbonara, “com novas palavras, o
autor apresenta algumas conhecidas proposições fundadoras do restauro como, neste caso, o
'reconhecimento' (Brandi) do 'valor' do artefato, entendido hoje de forma mais ampla do que no
passado.” (CARBONARA, 2018, p. 166, tradução nossa). Ademais, reduzir objetos de
Restauração àqueles portadores de capacidade simbólica seria uma conclusão redutiva, pois
seria possível “desfrutar esteticamente de um objeto e, ao mesmo tempo, extrair dele a
mensagem comunicativa simbólica que ele transmite" (CARBONARA, 2018, p. 168, tradução
nossa).
No terceiro capítulo (Verità, oggettività e restauro scientifico), Muñoz Viñas afirma que
de acordo com a “teoria clássica” da Restauração, essa “se apresenta como a atividade
encarregada de garantir que o objeto tratado se ache em seu estado autêntico, real – em seu
estado de verdade” (MUÑOZ VIÑAS, 2021, p. 91). As teorias clássicas difeririam quanto a
qual seria esse estado, mas sua existência seria um pressuposto comum. Em substituição às
quatro categorias elencadas por Muñoz Viñas quanto ao estado autêntico segundo as teorias
clássicas – aquele original, ou prístino, ou pretendido pelo autor, ou o estado atual) –, ele propõe
“o reconhecimento de que podem existir vários protoestados” (MUÑOZ VIÑAS, 2021, p. 97),
ou “estados de verdade”, pois “todos os estados pelos quais atravessa um objeto desde sua
criação são testemunhos fiáveis e verdadeiros de sua história.” (MUÑOZ VIÑAS, 2021, p. 98).
Quanto a isso, Carbonara escreve nunca ter lido em autores como Cesare Brandi, Paul Philippot
e Renato Bonelli qualquer referência ao conceito de “verdade”, tampouco essa classificação em
quatro categorias.
No quarto capítulo (Il declino di verità e oggettività), Muñoz Viñas afirma que “a Verdade
objetiva não pode converter-se no critério primordial para o trabalho de Restauração” (MUÑOZ
VIÑAS, 2021, p. 110). A Restauração seria e deveria ser reconhecida, portanto, como sendo
baseada no gosto, o qual influi a priorização da Restauração de uns objetos sobre outros, a
prevalência de um protoestado sobre outros, e a recriação desse protoestado de uma forma ou
de outra. Ainda com relação a essa subjetividade nas decisões, Muñoz Viñas classifica os
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trabalhos de Restauração em quatro aspectos, a saber: de tal maneira que o espectador possa
reconhecer o objeto como está acostumado, ao que ele chama de “inércia icônica”; que o objeto
deve ser adaptado ao que o espectador pressupõe, ao que ele denomina “preconceito histórico”;
no respeito à materialidade, ao que Muñoz Viñas chama de “fetichismo material”; e ao
referendo dos especialistas. A esse respeito, Carbonara esclarece que essa objetividade que
Muñoz Vinãs atribui às “teorias tradicionais” não se encontra em teóricos qualificados
(CARBONARA, 2018, p. 169, tradução nossa):
No quinto capítulo (Breve incursione nel mondo reale), Muñoz Viñas defende que uma
consequência do apetite dos teóricos clássicos pela Verdade tem sido a influência cada vez
maior da ciência na Restauração. Sem um texto canônico, a conservação científica basear-se-ia
em pressupostos que assumem que a Verdade deve prevalecer, e que a Verdade deve ser
determinada por métodos científicos, fornecidos pelas ciências duras. De acordo com Muñoz
Viñas, esses pressupostos têm sido fortemente criticados por diversos autores, que acreditam
que a Restauração lida principalmente com questões imateriais, como arte, significados ou
sentimentos, embora processos científicos poderão ser utilizados quando houver necessidade
de informação científica, mas que as principais decisões e critérios serão sempre produto da
vontade do sujeito. Com relação a esse capítulo, Carbonara concorda sobre a insuficiência das
ciências duras: “ao tratar do assunto, o Autor observa acertadamente que 'quanto melhor o nosso
conhecimento, mais nos conscientizamos das enormes lacunas do próprio conhecimento', daí
sua reflexão sobre a 'insuficiência das ciências duras' (CARBONARA, 2018, p. 172, tradução
nossa).
No sexto capítulo (Dagli oggetti ai soggetti), Muños Viñas afirma que a Restauração não
pode mais ser considerada uma atividade neutra. Posto que os conceitos de autenticidade e
objetividade não podem ser tomados como certos, e que a possibilidade de Restauração
científica ou objetiva é uma ilusão, o restaurador ou os sujeitos devem deixar de perseguir um
objetivo inatingível e assumir atuação de forma criativa. Nesse ponto, Munõs Viñas cita autores
como Cosgrove, para quem deve-se recorrer à criatividade artística ou mesmo subversiva para
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escapar das limitações teóricas impostas pela “verdade histórica”: “Uma restauração mais
criativa, menos respeitosa com a ideologia canônica, mais aberta ao radicalismo, à iconoclastia
e ao inventado poderia desenvolver a tarefa necessária de manutenção da tradição ao mesmo
tempo que não se dobraria a seu poder de distorção" (COSGROVE, 1994 apud MUÑOZ
VIÑAS, 2021, ap. 150). Carbonara ressalta que “são todas afirmações que, tomadas
literalmente, podem revelar-se muito perigosas e minar em sua raiz o sentido da conservação
material e da transmissão de testemunhos culturais” (CARBONARA, 2018, p. 173, tradução
nossa), e que (CARBONARA, 2018, p. 174, tradução nossa):
No sétimo capítulo (Le ragioni del restauro), Muñoz Viñas afirma que as "teorias
clássicas" da Restauração se fundamentam na primazia dos valores históricos e dos valores
artísticos, mas que “não é possível respeitar as marcas da história de cada objeto e, ao mesmo
tempo, eliminá-las mediante a restauração para devolver um objeto a um estágio de sua
evolução revelado pela História” (MUÑOZ VIÑAS, 2021, p. 158), e que “é essencial e
absolutamente impossível restaurar algo, por exemplo a unidade potencial da obra de arte, ao
mesmo tempo que se respeitam as marcas do tempo. Torna-se necessário escolher e, de fato, se
escolhe.” (MUÑOZ VIÑAS, 2021, p. 158). Para resolver a esses problemas, na teoria
contemporânea, as decisões de Restauração deveriam ser expressas por meio dos conceitos de
valor (simbólico, religioso, identitário, econômico, turístico, pessoal, sentimental…) e de
função, ou utilidade que cada objeto tem para cada pessoa ou grupo (como expressão de
ideologias e de identidades). Em outras palavras, a Verdade ou a ilusão da Verdade seria
somente desejável na medida em que contribui para a eficácia funcional dos objetos, ou seja,
uma vez que resulta útil. Sem entrar no mérito dos exemplos dados por Muñoz Viñas,
Carbonara lembra que essas questões são bem conhecidas e têm sido objeto de discussão e
exploração há algum tempo: “... basta pensar na reconstrução da Cidade Velha de Varsóvia,
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nos anos imediatamente posteriores à Segunda Guerra Mundial ou, com maior desapego, ao da
Frauenkirche de Dresden, ou à 'instância psicológica' sobre a qual Roberto Pane escreveu”
(CABONRARA, 2018, p. 175).
E no capítulo nono (Dalla teoria alla pratica), depois de apresentar três éticas presentes
na “teoria contemporânea”, chega a defender o argumento da genialidade para guiar as
intervenções e, para defende-la de excessos, afirma que não é tecnocrática, mas tampouco
populista. As diferentes éticas seraim: funcional, segundo a qual Verdade ou a ilusão da
Verdade é somente desejável na medida em que contribui para a eficácia funcional dos objetos,
ou seja, na medida em que resulta útil; sincrética, para a qual “... a melhor Restauração é a que
proporciona maior satisfação a um maior número de pessoas” (MUÑOZ VIÑAS, 2021, p. 171)
e “baseada na negociação, no equilíbrio, na discussão, no diálogo, ou no consenso”. (MUÑOZ
VIÑAS, 2021, p. 172); e ética circunstancial, pois “o estabelecimento de critérios e juízos
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éticos não pode ignorar as circunstâncias.” (MUÑOZ VIÑAS, 2021, p. 178). Em outras
palavras, as normas éticas devem ser imprecisas e não universais. Com relação a esse capítulo,
Carbonara reconhece que o deslocamento do objeto para o sujeito é aceitável, mas na
perspectiva de um equilíbrio, "sempre a ser buscado 'caso a caso', em direção às razões do
objeto e dos sujeitos" (CARBONARA, 2018, p. 176, tradução nossa), e denuncia as éticas
formuladas, chegando à conclusão de que a teoria contemporânea da Restauração não é mais
que uma revolução do senso comum (CARBONARA, 2018, p 176, tradução nossa):
Para concluir, importante ressaltar que Carbonara chama atenção para o fato de “as
palavras 'história' e 'memória', que são a base do pensamento sobre a restauração, pareçam
muito pouco, se não quase nada” (CARBONARA, 2018, p. 178, tradução nossa). De acordo
com Muñoz Viñas, na teoria contemporânea, os procedimentos metodológicos de Restauração
das teorias tradicionais têm sido alvo de crítica em função de uma busca pela Verdade a despeito
do reconhecimento atual das limitações, por exemplo, da própria disciplina da História. Com
relação a isso, contudo, Le Goff já afirmara que (1996, p. 11):
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que o passado depende parcialmente do presente. Toda história é bem
contemporânea, na medida em que o passado é apreendido no presente e
responde, portanto, a seus interesses, o que não só é inevitável, como legítimo.
Pois que a história é duração, o passado é ao mesmo tempo passado e presente.
Compete ao historiador fazer um estudo “objetivo” do passado sob sua dupla
forma. Comprometido com a história, não atingirá certamente a verdadeira
“objetividade”, mas nenhuma outra história é possível. O historiador fará
ainda progressos na compreensão da história esforçando-se para explicar, no
seu processo de análise, tal como um observador científico o faz, as
modificações que eventualmente introduz em seu objeto de observação.
A História é, portanto, “ciência do tempo” (LE GOFF, 1996, p. 52) e está apta para
orientar as ações de Restauração, o que desconstrói o argumento sobre o qual a tese de uma
teoria contemporânea da Restauração foi formulada.
Salvador Muñoz Viñas (Valência, 1963) possui formação em Belas Artes e História da
Arte. Depois de trabalhar com conservação de papel e tornar se membro do Departamento de
Conservação da Universidade Politécnica de Valência, obteve bolsas de estudos e prêmio que
lhe permitiu realizar pesquisas no “Straus Center for Conservation and Technical Studies” da
Harvard University. Em 1991, defendeu tese parcialmente baseada nas pesquisas em Harvard.
Após publicar alguns artigos sobre as “teorias tradicionais” da restauração, publicou Teoría
Contemporánea contemporánea de la restauración (2003) e Contemporary Theory of
Conservation (2004).
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REFERÊNCIAS
______. E proprio necessaria una ‘nuova teoria’ del restauro? Considerazioni sul volume de
Salvador Munoz Vinas. Opus, n. 2, p. 163-180, 2018.
CUNHA, Claudia dos Reis e. Alois Riegl e o culto moderno dos monumentos. Resenhas Online,
São Paulo, ano 05, n. 054.02, Vitruvius, jun. 2006
<https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/05.054/3138>
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KÜHL, Beatriz Mugayar. Notas sobre a Carta de Veneza. Anais do Museu Paulista, Dez 2010,
vol. 18, n. 2, p. 287-320. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/anaismp/a/ShdGtFbB4jbpfQXMtd8Y4Pf/?lang=pt>. Acesso em:
2022-06-18.
RIEGL, Alois. Der Moderne Denkmalkultus: Sein Wesen Und Seine Entstehung. Wien: W.
Braumüller, 1903. Trad. francesa de D. Wieczorek. Le Culte moderne des monument: son
essence et sa genèse. Paris: Le Seuil, 1984 apud CHOAY, Françoise. L’Allégorie du
patrimoine. Paris: Éditions du Seuil, 1996. Trad. portuguesa de Luciano Vieira Machado. A
alegoria do patrimônio. São Paulo: Ed. Unesp, 2001.
RUSKIN, John. A lâmpada da memória. Título original: The Lamp of Memory, In: The Seven
Lamps of Architecture. 1st ed. New York: Dover, 1849. Tradução de Maria Lúcia Bressan
Pinheiro. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2008.
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