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Trechos retirados do material de qualificação de doutorado em

Educação na UFF de Helenice Aparecida Bastos Rocha

1. Saberes para além da História: As aulas na turma 502

Às quartas-feiras, as duas aulas de História da turma 502 acontecem depois do recreio.

Antes dessa aula, eles já assistiram duas aulas de Português e uma de Matemática. Estes

meninos e meninas de onze anos são novos na escola e moradores de bairros próximos à

escola. São crianças que vieram de escolas públicas municipais bem consideradas na

comunidade, próximas ao CEIM.

A quase totalidade dos alunos se auto-avalia positivamente, vem de uma trajetória

escolar sem reprovações, com boas notas e tem uma relação familiar com a leitura,

declarando gostar de ler e de estudar. Em relação aos textos que já tiveram que ler na

escola, declaram ser de fácil leitura. Na banca de jornais, escolheriam majoritariamente a

revista de Ciências, e a seguir a de História. Percebem-se muito atentos na aula de

Matemática, seguido da aula de Língua Portuguesa e da aula de História. A aula que é

motivo de sua maior desatenção é a de Educação Artística: tiveram um desentendimento

com a professora, que os desqualificou e eles não aceitaram, ficando muito magoados. A

seguir, em termos de desatenção vem a aula de Francês. Interessantemente, quando estava

em sala acompanhando a aula de História, um aluno fazia sua avaliação das aulas com a

colega do lado “Eu não gosto da de Francês, que grita e canta o hino francês...e da de

Artes também, essa daí [fala apontando com o queixo] eu acho boa.” Ou seja, a atenção

deliberada parece estar, pelo menos nessa idade, associada, entre outros fatores, à relação

afetiva positiva ou negativa estabelecida entre o professor e o aluno.

Questionados acerca da finalidade do estudo da História, que é um tema que estão

estudando neste momento, alguns deram a resposta já estudada em sala: que era estudada

para entender o passado. Outros tantos, para entender o passado, relacionando-o ao


presente e ao futuro (esta é a moral da história contada por Mônica em uma de suas aulas)

e uma outra terça parte, para entender a História. No momento de dizer qual era o tema

de seu estudo no momento, e de descrevê-lo, foram menos exitosos. Menos da metade da

turma se lembrou o que estava estudando. Da outra metade, muitos declararam não

lembrar, alguns deram respostas relacionadas a outras disciplinas e alguns não

responderam. Uma interpretação possível é a de que todos os conteúdos ali eram novos

para eles, e não se organizavam sob um título apenas, como o de outras séries, como

poderemos ver. Assim, teriam tido dificuldade de nomear com apenas um rótulo o

conjunto de temas que estavam estudando em História.

Enfim, em março, a turma 502 está animada com a sua entrada na escola, possuindo

alta expectativa no início de sua trajetória. Poucos alunos se mostram excessivamente

agitados, conforme se vê pela fala reguladora da professora Mônica, que passo a

apresentar.

Com trinta e sete anos, casada e mãe de dois filhos, formada em História na UFF,

Mônica é a única professora do grupo do Ensino Fundamental que representa a segunda

geração da família com formação em nível superior. Mônica decidiu-se pelo curso de

História (realizado entre 84 e 88) motivada pela curiosidade de saber a origem das coisas.

Além disso, as novelas de época, entre elas Escrava Isaura e A Sucessora formaram o

cenário afetivo para sua decisão. Considera que seu curso foi de ótima qualidade na parte

específica de História, citando nomes de professores, mas na parte específica de

licenciatura deixou a desejar, sendo muito boa apenas a disciplina de Prática de Ensino,

onde sua professora a levou a se identificar com o magistério.


Mônica citou, entre os livros importantes em sua formação como leitora, “O Nome

da Rosa”, “Viva o Povo Brasileiro” e “Memorial do Convento”. E afirmou escrever

estórias para crianças, revelando uma afinidade com este público que extrapola seu lugar

de professora de quinta série.

Parecem ter funcionado enquanto agências formadoras de Mônica como

professora (no início de sua carreira) as escolas particulares em que trabalhou,

especialmente a que mais se caracterizava por um trabalho de orientação construtivista.

Isto porque Mônica realiza um trabalho original na série em que trabalha, construído

passo a passo, em grande parte elaborado por ela (e reelaborado, levando em conta as

peculiaridades da clientela), que sinaliza ter sua matriz teórico-metodológica no

construtivismo de corte piagetiano. Por conta do seu tempo de atuação com a série, treze

anos contínuos, seu trabalho vem se aperfeiçoando cada vez mais.

Após sua graduação, o investimento acadêmico de Mônica foi em dois cursos de

línguas e o do mestrado em História, que concluiu recentemente. Realiza pesquisas como

pesquisadora contratada durante uma parte do ano e considera essa dupla atividade

(professora e pesquisadora) muito boa para o enriquecimento de sua atividade

profissional). Efetivamente, percebe-se que ela apresenta condições de extrapolar o

trabalho que realiza, mas parece satisfeita com a atividade docente tal como realiza,

procurando extrapolar em outra área de atuação. Também não procura divulgar seu

trabalho, sendo discreta quanto ao que realiza, mas colocando-se como autoridade, por

conta de seus resultados e tempo de atuação na série. Aqui temos mais uma faceta do

individualismo citado alhures. Mesmo os professores que parecem realizar um trabalho

muito interessante não desejam abri-lo, aparentemente para preservar o espaço de sua

individualidade. Diante da pergunta sobre se troca muitas experiências com outros

professores, afirmou que não. Sua experiência foi construída sozinha e ela “passa” aos
outros muito pouco do que construiu. Troca um pouco com a professora da outra escola

(municipal), em que atua com 7a e 8a séries. Mônica é disciplinada e tem dia certo para

planejar suas aulas da semana e para corrigir as tarefas que passa para os alunos, que

sempre valem notas parciais. Tem oito turmas, situadas em três séries, totalizando vinte e

quatro tempos semanais de trabalho. No total, trabalha nas duas escolas três dias da

semana.

Em relação aos recursos didático-pedagógicos utilizados e preferidos por ela,

Mônica registrou uma observação em seu questionário: que os recursos apresentados na

lista são complementares e não mais ou menos importantes. Assim, marcou-os pela

freqüência de seu uso, na seguinte ordem: aula expositiva, livro didático, documentos

históricos, jogos e desenhos, vídeo, jornais, literatura, excursões a museus, exposições.

Mônica se dirige à 502 e a pesquisadora a segue. A professora alta, magra, clara e

sempre com as roupas arrumadas entra na sala, cumprimenta seus alunos com sua

seriedade simpática e começa a aula retomando os desenhos que haviam sido feitos por

eles na aula passada. Dias antes, as pesquisadoras tiveram a oportunidade de observar a

professora examinando metodicamente os desenhos dos alunos na sala dos professores e

lançando a pontuação da tarefa realizada. Parecia também estar fazendo a articulação

prévia do uso que faria do material em aula.

Pollyana acomodou-se em uma das carteiras da sala que fica no prédio mais novo e

ventilado da escola, com amplas janelas que dão acesso a uma área interna. A sala é

relativamente conservada, bem como o próprio prédio. Diferentes alunos a observam, mas

conservam-se atentos à aula – como se não houvesse nada muito fora do habitual (mais

tarde alguém pergunta à pesquisadora “o quê ela era”). O mobiliário estava organizado
em cinco fileiras individuais de mesas e cadeiras e o espaço é suficiente para a circulação

em sala. A turma parece curiosa, alegre e simpática. Estão todos sentados e parecem ser

calmos e colaborativos. Segundo o depoimento de professores, dias depois, “não é tanto

assim”.

As aulas já haviam começado há alguns dias, portanto Mônica já começara a

desenvolver seu trabalho e também estabelecera algumas regras de funcionamento de sua

aula. A professora encaminha a conversa com a turma durante todo o tempo da aula

ficando de pé, deslocando-se pela frente da sala, de uma ponta à outra. Apesar de estar

falando o tempo quase todo, seu tom grave e agradável de voz propicia que ninguém fique

incomodado. Pede que peguem os cadernos e alguém pergunta se é para escrever com

caneta ou lápis. Ela explica que eles é que vão definir isso. Que quando fizerem exercícios

vão responder a lápis para poderem consertar se errarem.

Parte 11 (03/03/2004)

P. Bom, isso aqui é o seguinte: Unidade I significa que estamos entrando na primeira parte
da nossa matéria e cada assunto a gente divide em unidades, tá? Então seria o primeiro
assunto nosso, em Iniciando o estudo da história. Então vamos tentar entender (++),
meninos, [fala isso chamando a atenção] que matéria é essa, né? Uma matéria diferente,
qual é o assunto dela, pra que a gente tem que estudar essa matéria, então essa primeira
unidade, a gente vai tentar entender isso. Qual é o assunto dessa matéria e porque (...)
Então, como é que a gente faz pra saber dela. Como é que a gente aprende história.

Começamos fazendo um quadro comparativo. O que será um quadro comparativo? (+++)


Um quadro que compara coisas. Comparar é dizer o que tem de parecido e diferente, né?
Então vocês fizeram isso através dos desenhos, vocês desenharam o que pra vocês era o
mundo de antigamente e desenharam o que pra vocês existe no mundo de hoje. Hoje eu vou
mostrar pra vocês os desenhos, vocês vão ver que algumas idéias do mundo de antigamente
vários alunos tiveram, vários alunos também tiveram idéias parecidas sobre o mundo de
hoje, mas vocês vão ver que também vão surgir várias idéias diferentes. E aí então a gente
vai tentar entender porque que essas coisas apareceram em antigamente e hoje.
Então eu vou mostrar os desenhos, e cada um vai dizer o que colocou aqui. E a gente vai
escrevendo, cada vez que eu colocar uma palavrinha aqui, é pra colocar aí no caderno. E
no final a gente vai poder analisar os dois lados. Então vamos lá. Quem não tiver mais o
(...) não tem problema porque ta tudo aqui na minha mão. Vou mostrar.
[Ela chama os alunos que fizeram o desenho]
Marcelo! Não lembrou então vai se lembrar. O que você fez no mundo de antigamente?

1
Utilizei notações simplificadas e modificadas a partir de Marcuschi (1991) para o registro das aulas
gravadas. Assim, o símbolo (+) indica pausa curta ou (++) longa. (...) indica palavra não compreendida
na transcrição e [a ] indica ações realizadas durante, antes ou depois do diálogo.
Aluno: Fiz o Big Bang explodindo.
P. Big Bang! E no lado do mundo de hoje, você fez o quê?
Aluno: Um carro.
P. Um carro! Vamos colocar aqui: antigamente, Big Bang...
Aluno: Professora, posso ir ao banheiro?
P. Sim...E no lado de hoje, o carro. Todo mundo sabe o que é Big Bang?
(...)
P. Bom, vamos lá. Um outro que eu achei muito bom: Igor! O que você colocou no mundo
de antigamente, Igor?
Aluno: O mundo pré-histórico.
P. O mundo pré-histórico tem o quê? Quais as características do mundo pré-histórico aqui?
Que elementos aqui indicam que isso aqui é o mundo pré-histórico?
Aluno: Tem o homem das cavernas...
P. É também... se chama,(+++). O pterodátilo é um animal que não existe mais. E no
mundo de hoje?
Aluno: Dinheiro.
P. Dinheiro, que é uma nota de um real, né? Então ele botou dinossauro, homem das
cavernas e real. Só uma questão aqui. O homem das cavernas e o dinossauro nunca se
encontraram. Por que?
A: (...)
P. Os dinossauros viveram muito antes e morreram muito antes de os homens surgirem.
Né? Não houve um encontro do homem das cavernas, bater no do dinossauro, correr atrás
do dinossauro. Não aconteceu, tá?Mas os dois elementos fazem parte do mundo de
antigamente, então vamos escrever aqui: dinossauro, homem das cavernas e do outro lado,
o real.
Ruth.
(...)
P. Então ela comparou mesmo o transporte. Botou aquele ônibus antigos, que ela acha que
é aquele ônibus...
Aluno: Aquele que vai em Chocolate com Pimenta.
P. ...é. E o avião. Chocolate com Pimenta aparece o bonde, né? Porque interior era o bonde.
Então vamos colocar aqui: bonde que é esse veículo que aparece na novela, que é todo
aberto do lado (...) ligado ao fio de eletricidade. Alguns homens nem esperavam parar, já
saltavam pra dentro porque a velocidade era baixa.

A professora observou a recorrência de desenhos. Vários deles tinham temas

como dinossauros e roupas. Surgiu o desenho de uma guerra que suscitou uma discussão

sobre esse tema e qual a época em que se pode ser colocado – se no passado ou no presente

- que durou alguns minutos. A lista do quadro comparativo ficou como exposto abaixo:

Unidade I
I - Iniciando o estudo da História

Antigamente Hoje
Big- bang Carro
Dinossauro Real (moeda)
Homem das cavernas Avião
Bonde Cidade
Campo Prédio
Vestido longo Aparelho de som
Vitrola Pijama
Camisola Navio
Arco-e-flecha Fuzil
Calhambeque Liberdade
Escravidão Relógio
Ampulheta Cemitério
Cartola Mini-saia
Carroça Bermuda
Fogão a lenha Fogão
Cristaleira Celular
Índios Calça
Fogueira Estrada
Pesca Mercado
Natureza Poluição
floresta desmatamento

Além de outras conversas que surgiram em sala a partir da atividade proposta,


como a poesia sombria que uma aluna produziu, a professora elogiou e a turma “zoou”,
a professora demonstrou uma estratégia de interação com a turma em que, quando
perguntava alguma coisa e todos respondiam, ela conseguia retirar da confusão instalada
algo para encaminhar a exposição seguinte.

Parte 2 cont. (03/03/2004)

P. Bom, vamos ver se (...) a partir disso tudo o que vocês fizeram! Vocês fizeram muita coisa,
não é? Fizeram coisa à beça. Dá pra discutir mais de uma hora, só que eu vou me prender
em 3 pontos que eu acho que são fundamentais. Antes vamos (...) as palavrinhas. Eu usei a
palavrinha “antigamente” e a palavrinha “hoje” porque eu não sabia se vocês já conheciam
as outras duas palavrinhas que eu gostaria de ter usado: “passado” e “presente”. Né?
Passado seria o mundo de antigamente. É o que já aconteceu! Quem falou que é o pretérito
aí? É o que já foi! Tá? E hoje, a gente tá... Igor, shhhh...vamos falar menos, Igor!! Hoje a
gente chama de presente! Por isso que quando eu faço a chamada você falam: presente!
Dá pra botar a sua pastinha em baixo da mesa, vira pra frente...
Então, passado e presente. São as palavrinhas que estão na história. Mais do que
antigamente e hoje. São palavras que aparecem mais no livro de vocês e vocês têm que
conhecer o significado. Todo mundo já sabia o que era passado e o que era presente? Ótimo!
Então agora vamos ao que interessa aqui! Vocês percebam uma coisa: vocês colocaram no
mundo de antigamente coisas do tipo dinossauro, homem das cavernas, calhambeque... não,
agora ninguém vai escrever nada! Agora é pra ouvir! Calhambeque, tô selecionando alguma
assim... e bonde. Vocês acham que esses quatro elementos que eu marquei aqui, fizeram parte
do mesmo mundo, da mesma época?
Turma: Não!!!
P. Não! Mas vocês todos colocaram no lado de antigamente! Então nós temos aí uma questão
que é a seguinte: todos fazem parte do passado, porém não do mesmo passado, da mesma
época passada. Os dinossauros fizeram parte do mundo que existiam há 60 milhões de anos.
Marcelo!!! Se você não prestar atenção aqui, você não vai entender nada.
O mundo dos dinossauros, foi um mundo que existiu há 60 milhões de anos. E do homem das
cavernas? (+++) um milhão de anos atrás! Tá? Um milhão! Então já (...) de uma época
bem diferente da outra. Milhões de anos de diferença, porém nós concordamos que ambos
fazem parte do passado. O bonde! O bonde existe, existiu há cerca de 100 anos atrás. Então
olha a diferença de um passado pro outro. O calhambeque também. Cerca de 100 anos
também.
Então, shhh...olha só, Igor! Que que vocês então têm que pescar desse assunto (...)? a gente
fala em passado, a gente tá falando de coisas muito diferentes. O dinossauro era de um
mundo completamente diferente do mundo do homem das cavernas e pertenceu a um estilo
de vida completamente diferente do que existia na época do calhambeque e do bonde. Então
quando a gente fala “vou estudar o passado”, pode ser um período enorme de tempo! Então
a gente procura dividir esse passado em pedaços, pra gente entender o que a gente vai
estudar. Por enquanto eu só vou dividir o passado em dois pedaços grandes: o passado
distante da gente, esse oh, que tá lá longe e esse outro passado que tá perto de nós, o
calhambeque. Ele falou “na minha rua tem um vizinho que tem um calhambeque”, né? Lá
no bairro do Rio, em Santa Tereza, tem um bairro que existe um bonde ainda. Não é mais o
mesmo transporte usual, mas ainda existem alguns, então essas coisas que ainda estão por
aí, em pouca quantidade, mas existem, elas fazem parte do passado perto de nós. Então,
presta atenção nas duas palavrinhas: passado remoto e passado próximo. Passado próximo
é aquele que aconteceu há pouco tempo e a gente ainda consegue observar alguma coisa
dele, ou conversar com pessoas que viveram ele e o passado distante, a gente chama de
passado remoto, é aquele que tá lá 300, 400, 500 anos pra trás da gente e que a gente não
tem mais nenhum indício, nenhuma sobrevivência dele. Só sobraram pequenos restos.
Aluna: Professora. Lá no Rio, ainda tem trem lá.
P. Tem. Trem, é um meio de transporte que surgiu há quase 200 anos, há mais de 200 anos
o trem, e ainda existe. Então, vamos aproveitar isso que ele falou e dizer o seguinte: tem
coisas que pertencem ao passado mas também pertencem ao presente e continuaram a
existir. Que não acabaram, que não sumiram, que ainda permanecem em nossa vida. O trem
é um meio de transporte criado há 200 anos, mas que continua a existir. Fala!
(Aluna fala algo, a professora responde muito baixo)
Olha só. A palavra remoto, vocês sabem o que significa? Remoto!
Vocês não têm na casa de vocês o controle remoto? E o que que ele ajuda vocês a fazer?
Alunos: Pra trocar de canal, na televisão também tem botão pra gente trocar!
P. Qual é a vantagem...
[Crianças fazem muito barulho]
P. Então oh! Você não precisa se aproximar do objeto que você quer mudar. Você à
distância, você controla. Remoto significa distante. Então o controle remoto é um controle a
distância! Passado remoto é aquilo que já passou e tá muito distante da gente! Tá distante
de nós! Passado remoto. E passado próximo tá perto da gente! Tá? Vou colocar depois no
quadro. A última coisa que eu quero que vocês verifiquem aqui! Comparando antigamente
com hoje, passado com presente (++) Fernanda, vamos prestar atenção? Comparando
antigamente com hoje, vocês notam mais coisa parecida ou coisa diferente?
[ a turma responde mas não é possível transcrever]
Diferente? Ou parecida?
Quanta coisa se repetiu dos dois lados, gente?
Aluno: Poucas coisas.
P. Poucas coisas!! Ele falou o trem, que ele lembrou agora e já tem aqui, né? Poucas coisas
que a gente pode dizer que permaneceram iguais. A maioria das coisas passou por que?
Aluno: Uma transformação!
P. Uma transformação!! Então esta palavrinha “transformação” ou mudança, é muito
importante pra gente, porque a nossa matéria, ela se dedica a estudar o porque dessas
mudanças aconteceram, onde é que mudou, porque o homem mudou. Então a mudança da
nossa... da vida do homem em sociedade, é o que interessa pra gente. Brendal, vamos prestar
atenção!
Olha só. O que o Português estuda?
A língua! (...) a língua portuguesa, que a gente fala e escreve.
O que Matemática estuda? Os números! Como é que a gente agrupa eles, soma, divide,
multiplica.
Ciências estuda o que? Estuda o corpo humano, os seres vivos, né?
E a História?
(...)
P. Estuda as mudanças que o homem atravessou ao longo do tempo. Mudanças no corpo
do homem? Não! Mudanças nos hábitos do homem, nos objetos que ele usa, na forma dele
se governar. Então, a história vai estudar como é que o homem vem se modificando, as
sociedades em que o homem vive vieram se transformando. Vou escrever isso no quadro,
pra gente fechar essa idéia. Na próxima aula a gente faz um exercício e uma avaliação.
Vamos pegar o caderno pra copiar!!

A professora escreveu no quadro para os alunos copiarem:

Conclusões:

1) Fatos que já aconteceram ou coisas que existiram pertencem


ao passado, fatos que estão acontecendo ou coisas que existem
pertencem ao presente.
2) O passado que está distante de nós é chamado de passado
remoto, o passado que está mais perto (mais de 200 anos)
chama-se passado próximo.
3) Percebemos que, com o passar do tempo, o mundo e o homem
sofreram grandes mudanças. O que mudou? Como mudou>
Por que mudou? Onde? Quando?
Ë isso que a História procura responder.

Mônica deixou a sala por alguns momentos e a turma continuou quieta. Quando ela

voltou, enfatizou a necessidade de um caderno organizado. Enquanto isso as crianças saíam

bastante da sala para "ir ao banheiro" ou "beber água", sem qualquer restrição imposta por ela.

A professora esperou os alunos copiarem o que estava no quadro para poder começar a explicar

o que ela chamou de conclusão para o assunto da aula, avisando que na próxima eles começariam

com os exercícios de avaliação.

O mês de março teve em torno de cinco semanas de aulas Isto significou para a

turma 502 aproximadamente quinze aulas de História. Esta é uma das disciplinas novas

para estes alunos, como Francês e Educação Física. Mas, entre elas, talvez seja a mais

difícil de descobrir o que exatamente seja.

A professora Mônica organizou as aulas de março incluindo os conteúdos

relativos a uma introdução à História: o sentido do estudo da História; fontes; cronologia:


marcos históricos, linha de tempo, períodos: década, século, milênio; leitura e escrita de

datas com utilização de notação a .C. e d.C. conversão de escrita de datas e séculos (com

o uso de algarismos romanos); e articulado a essas noções algumas que podem ser

consideradas mais abstratas, como quem é sujeito da História e a transformação na

História.

Como é possível perceber por essa aula, a primeira que acompanhamos, a

professora realiza um trabalho em seqüência, de modo que estabelece tarefas para os

alunos que vão ser a matéria prima da próxima aula e ao mesmo tempo produz as noções

a serem trabalhadas.

Nesse sentido, nessa aula, a partir dos desenhos elaborados na aula anterior, ela

estava trabalhando principalmente a oposição de passado e presente, e adiante a distinção

entre passado próximo e remoto. Trabalhou a idéia de transformação em História e a

relação da disciplina História com a transformação social.

Analisemos alguns momentos dessa aula mais detalhadamente. Na aula seguinte, ela

iria pedir-lhes a elaboração de uma história de suas vidas. Dela, ela vai retirar não só um

conhecimento maior sobre seus alunos, mas a reflexão sobre o que é fonte (de informação

e histórica) e sobre o que é marco (significativo na vida da criança, portanto histórico para

ela própria e histórico para uma sociedade). Vejamos um fragmento dessa outra aula por

sua relação e ênfase de diferenças na própria vida privada e cotidiana, seguida de sua

diferenciação da vida social mais ampla:

Parte 3 (12/03/2004)

[...]
P. Agora a segunda pergunta que eu falei que faria para quem tivesse feito a redação. Vocês
escolheram falar do passado de um jeito, porque, que tipo de coisa vocês separaram para
escrever sobre ele?
[Nesse trecho, a professora fala junto com os alunos]
P. Quando começaram a estudar, o que mais? Então ele falou de hábitos dele, ela falou de
uma data importante, quando ela começou a estudar, que mais? Isso. Alguém falou de algum
aniversário, alguma festa? Importante? O dia que alguém da família morreu? Ou algum
animal morreu? Nascimento de um irmão, de um primo? Então olha só, vamos prestar
atenção. Alguém, alguém aqui escreveu sobre o que almoçou ano passado no mês de março?
(++) escreveram sobre isso? (++) alguém aqui escreveu a que horas foi dormir no dia 11
de março de 2001? (++) alguém escreveu que horas foi fazer xixi anteontem? (++) Mas vem
cá, essas coisas não aconteceram na vida de vocês?Vocês não almoçaram ano passado, não
fizeram xixi anteontem? Não foram dormir no dia 11 de março de 2001? (++). Brendal,
vamos prestar atenção agora! (+) Porque que isso não interessou a vocês na hora de
escrever?
(turma fala toda junto)
P. Dá vergonha ou você não sabe? Você sabe? Não tem importância, mas a gente não precisa
comer, fazer xixi, e dormir? Então, faz parte da nossa vida, é importante para nos manter
vivos. Porém , dona Juliana, não foi importante (...) ficar vivo, não foi importante no sentido
de ter deixado alguma marca na nossa vida. Quando (...) aprendeu a andar de bicicleta,
aquilo foi importante para ele, um acontecimento único, o dia que a gente aprende a andar
de bicicleta é um dia só na vida, depois a gente já aprendeu, já sabe. Mas aquele dia produziu
uma mudança para ele. Antes ele não sabia, depois daquele dia ele soube. O dia que você
foi batizado é um dia só. Você não é batizado todo dia. Então aquele batizado, ele de alguma
maneira deixou alguma marca na sua vida. Ele produziu alguma mudança na sua situação.
Esses momentos, Wesley, esses momentos que não se repetem, que são momentos que
marcam uma alegria, uma tristeza, uma mudança para a gente tem um nome também: marcos
históricos. Marco porque marca. É fácil da gente entender. Marco histórico é aquele
momento que nos deixou marcas. Que fez a gente sentir coisas diferentes, que não são do dia
a dia. Então a morte de um cachorro que a gente gosta é um marco histórico na nossa vida,
o nascimento de um irmão é um marco histórico na nossa vida. (++) E num país? será que
alguém saberia dar um marco histórico de um país?
(turma fala)

P. O Descobrimento. A chegada dos europeus. Isso aconteceu, e transformou completamente


essa terra. A Segunda Guerra Mundial que o Brasil participou, que morreu gente lá e
conseqüentes mudanças dentro do país. Então, eu quero saber marcos históricos que são
aqueles momentos que trazem mudanças e que de uma maneira mexem com aquela sociedade
e aquele povo. (++) Tá? Posso colocar isso no quadro?
Vou botar o que são fontes históricas e o que são marcos históricos. Vamos lá., copiando...

Cabe mais uma vez o destaque da administração necessária da confusão instalada

com a falação simultânea, em que a professora seguramente procura recuperar as falas

das crianças e constituir um texto que signifique o que estão tentando exprimir, bem

como ela própria. Mônica organiza o texto conclusivo sobre o conteúdo tal como

apresentado a seguir (fragmento destacado):

Unidade I
[...]
b) Marcos históricos: são os acontecimentos considerados importantes
pelos historiadores, fatos que marcaram uma sociedade e provocaram
transformações.
(...)

2. Explosões de confusão e alegria: a turma 505

Como uma aula pode acontecer numa sala em que sempre há alguém provocando,

brincando, zombando do outro, em diferentes partes da sala? Pois essa é a pergunta que

fiquei me fazendo durante as aulas de História que acompanhei nesta turma. Os alunos

que tentavam estudar ali (e eram relativamente poucos) pareciam peixes fora d’água em

tamanha confusão. Tentavam criar um isolamento, pelo silêncio e pela quietude, entre si

e os demais e desempenhar suas tarefas. Durante as aulas de Ciências, que acompanhei

quase em igual número2 às aulas de História, essa agitação se reduzia, mas ainda assim

os pólos de confusão, os alunos mais agitados e que falavam provocando os demais com

piadinhas ou zombarias, não paravam e não deixavam os outros se aquietarem.

Nesta turma, tive a oportunidade de acompanhar as aulas de Educação Física tanto

na quadra quanto na Sala de Jogos. Essa observação foi muito proveitosa, pois parecia

que ali a maioria se encontrava em seu ambiente. Aquilo que em sala de aula era estranho,

desagradável, como gritar, pular, trapacear na brincadeira, ali acontecia sem problemas.

Quase todos demonstraram gostar muito de participar dessas aulas, nos dois espaços. Na

quadra, os meninos aceitam participar de qualquer atividade com toda a disposição. Entre

algumas meninas parece haver um pouco de resistência, aparentemente associada com

restrições religiosas sobre a expansão e a exibição corporal (justamente as meninas que

tentavam estudar em sala). Na sala de jogos, a maioria dos meninos e meninas que em

2
Eu possuía disponibilidade para acompanhar as aulas imediatamente antes ou depois da aula de História.
Como a anterior era Educação Física, que raramente era na quadra, dediquei-me a acompanhar as aulas
de Ciências. Além disso, houve um dia de tentativa de troca fracassada de aulas entre Ciências e História
que acabou propiciando a Ciências ficar mais tempo com a turma e História ficou sem aulas.
sala procuravam estudar e não se misturar com os colegas bagunceiros preferiam jogos

em que o corpo ficava mais quieto, controlado, como damas e dominó. Com algum

controle e participação do professor de Educação Física, eles se alternam entre as

diferentes atividades, parecendo querer aproveitar ao máximo o tempo existente. Durante

as atividades nessa sala pude ver os alunos conversando animadamente e, quase aos gritos.

Entretanto, justamente pela algazarra criada, nesses dois ambientes ficou impossível

acompanhar as conversas entre os alunos com alguma chance de compreendê-los.

Se associarmos a estes registros as informações ou representações sobre

escolarização e leitura do aluno e de sua família registrados no questionário, teremos

elementos para pensar em trajetórias escolares diferenciadas em uma mesma escola para

turmas tão díspares em relação a sua forma de estar naquele espaço. Na turma 505 um em

cada quatro alunos declara vir de famílias em que o aluno é o primeiro a se escolarizar,

sendo que diversos alunos declaram precária escolarização para seus pais. Não se

diferencia das demais turmas na resposta da motivação para o estudo, apontando o desejo

de tornar-se alguém no futuro. Mas se distancia em especial no aspecto da leitura. No

questionário perguntei se o aluno se incluía entre as pessoas que gostavam de ler na

família. Em duas outras turmas houve equilíbrio entre os que se incluíram ou não. Na

turma 502, 21 alunos se incluíram entre os leitores da família e nesta turma apenas 7

alunos se incluíram entre as pessoas da família que gostam de ler. Ainda assim, com salva-

guardas (“um pouco”, “às vezes”).

Outro aspecto em que essa turma se destacou das demais foi o da retenção em

alguma série. Nesta turma, de 33 alunos 28 foram retidos em alguma série do ensino

fundamental e 2 foram retidos mais de uma vez. Apenas na quinta série 12 alunos foram

retidos, sendo que 10 já eram alunos da escola e 2 vieram transferidos.


Chamo a atenção para que, mais do que números frios, temos aqui dramas de cada

um dos alunos e da suas famílias, já minimamente caracterizadas em relação à

escolarização e relação com a escrita, ao não verem seus esforços (mesmo que difusos ou

dispersos) resultarem em aprovação escolar ao final do ano. Também existe o outro lado

desse drama: o de professores e da escola, em tentar propiciar a esses alunos, diante de

suas dificuldades, a única alternativa que lhe parece existir: o de fazê-los repetir a série

mais uma vez, tendo a chance de aprender o que ainda não foi aprendido. Seguramente

essa decisão não é tomada de modo confortável por todos os professores. Este foi,

inclusive, um dos pontos de debate de uma das reuniões do grupo de História de que

participei. Um dos professores presentes divergia dos demais, ao afirmar que, ao

promover os alunos a qualquer preço pra a série seguinte, a escola dava aos jovens uma

visão errônea do que era a avaliação social em geral. Estranhamente, na 505 o clima

(externalizado) não era o de um fracasso escolar individual. Talvez pela solidariedade

estabelecida entre tantos da turma, pareciam não ter ainda se dado conta dos problemas

que já enfrentavam, pois continuavam alegres e agitados.

Por outro lado, o perfil que se elabora aqui é o de uma turma que tem relativa

consciência de sua dificuldade. Ao registrar as notas que tiram em História, alunos da

turma distribuíram essas notas entre o 1 e o 10, com grande concentração na faixa da nota

5. Em relação à leitura autônoma dos livros didáticos, um dos pontos que em sala percebi

como de dificuldade na turma, a avaliação que fazem é pouco clara, mas distribuída. Há

alunos que avaliam como difícil, outros de dificuldade média e um número expressivo

considera essa leitura fácil. Esta turma escolheria majoritariamente a revista de Ciências

na banca de jornais, demonstrando um grande interesse por essa área temática.

Sua atenção consciente se dirige mais para a aula de Língua Portuguesa, seguida

da aula de Matemática e de Ciências. E sua falta de atenção é percebida majoritariamente


em relação à aula de História e depois em relação a Francês. Interessantemente, ao ser

indagada sobre o tema que estudavam em História, a grande maioria respondeu dentro do

tema de estudo. Existem, entretanto, algumas diferenças importantes entre esta turma e a

outra turma acompanhada na série, que não conseguiu esse resultado nesta pergunta.

Além da 505 contar com um número relativamente alto de repetentes, que conhecem

superficialmente o programa, o tema adiantado pela professora era mais unitário que o da

outra turma, diluído em vários sub-tópicos, como já foi relatado.

De qualquer modo fica uma dúvida. Será que, em sua agitação, a turma 505

consegue compreender alguma coisa que nós, professores adultos, supomos impossível

naquela algazarra?

Cláudia, a professora desta turma e também da sexta série, é a professora com maior

carga horária do conjunto dos professores de história do Ensino Fundamental. São

dezessete turmas em quatro séries (incluindo duas disciplinas na quinta série; História e

Geografia), totalizando quarenta horas-aula semanais (nesta escola e em outra). Atribui a

esta carga (horária e de diversidade) - diretamente relacionada por ela ao baixo salário - a

“pouca criatividade” (adjetivo atribuído pela professora) de suas aulas. Logo de início,

atribuiu relevância aos livros didáticos como apoio ao trabalho docente, o que explica sua

busca por livros didáticos no início do ano, remanescentes do ano anterior. Lamentou não

ter condições (como transporte) para sair com os alunos para passeios didáticos de

História, pois entende que, sem eles, a História fica muito abstrata para os alunos mais

novos. Enfim, de acordo com sua fala, a disponibilidade de recursos como livros didáticos

e passeios, potencializa um ensino melhor.


Repete em diferentes momentos (com a pesquisadora e com a turma) que está cansada

de atuar com os alunos menores, e como está em vias de se aposentar em uma de suas

matrículas, pretende passar a atuar somente com turmas e séries mais adiantadas,

preferivelmente do Ensino Médio. Entende que estes alunos estão em melhores condições

de estudar a História. Afirmou que, dependendo da turma em que está, nem se lembra do

salário que ganha, pois os alunos retribuem a aula que estão recebendo com uma atenção

redobrada e sinais de que continuariam em sala até mesmo no recreio.

Adiante em sua entrevista e em alguns momentos de suas aulas, comenta que não se

sente bem trabalhando com as turmas de alunos com defasagem de idade na quinta

(especialmente) e sexta séries, potencialmente repetentes e com problemas. Segundo ela,

os pequenos ainda estão perdidos (a ser orientados) e os que passam da faixa etária...se

perdem e perdem o interesse. Avalia que esses alunos deveriam estar em outro lugar, no

ensino supletivo, ou estar recebendo outro tipo de acompanhamento. Sua fala sugere que

se sente despreparada para lidar com os alunos dessas turmas, “Os sobreviventes do

sistema acordam e chegam ao Ensino Médio”. Ainda assim, “...as turmas começam

inchadas no Ensino Médio e terminam reduzidas”.

Mesmo com sua preferência por séries posteriores, apresentou-se fazendo um

trabalho diferenciado (dentro do projeto da série e da disciplina), que incluiria a realização

de desenhos como forma de expressão da compreensão do conteúdo e um trabalho gradual

de construção de conceitos. Ao ser indagada sobre as dificuldades dos alunos, se

ocorreriam em todas as séries ou se somente nas séries mais baixas, afirmou que

compreende que tais dificuldades existem de forma mais crítica nas séries mais baixas (5a

e 6a). No Ensino Médio, modalidade em que ministra aulas à noite, considera que estas

dificuldades já estão superadas enquanto problema pela maioria dos alunos.


Atualmente com cinqüenta e três anos, casada e mãe de dois filhos, Cláudia exerceu

a maior parte de sua carreira como professora da Educação Infantil na rede pública

estadual. Compreende que essa experiência foi fundamental para seu crescimento

profissional, pois atribui sua paciência com os alunos e sua compreensão de que até

mesmo os alunos do E.M. estão em um processo de aprendizagem - o que se exige que

lhes explique bem a matéria - à perspectiva aprendida na Educação Infantil. Até então,

sua formação era a do antigo curso normal (realizado entre 1966 a 1968).

Já na década de noventa realizou na UFF o curso de História (de 92 a 96). Gostou

de seu curso, citando nominalmente professores de quem apreciou muito os cursos.

Posteriormente ao curso de História, realizou pequenos cursos de extensão que não

enumerou. Sua especialização foi em Historia do Brasil, e finalmente o mestrado em

Literatura brasileira, também na UFF, em que acabou tematizando novamente a História.

Acerca da motivação para fazer o curso de História, Claudia afirmou ter sempre

gostado dessa disciplina, de ler livros sobre seus temas e depois de fazer pesquisa também

nessa área. Enumerou, entre os livros de sua literatura predileta, Cem anos de Solidão,

Imperatriz no Fim do Mundo, As Barbas do Imperador e Avesso do Retrato, registrando

a observação “muitos outros”. Declarou ter gostado de viajar às cidades históricas

mineiras.

A professora registra que prepara suas aulas nos finais de semana, em um espaço

próprio de sua casa, onde reúne livros didáticos, jornais e revistas de onde possa retirar

materiais para suas aulas. Sobre a troca com outros professores, informou que não

acontece muito. Que ocorre mais com Mônica, a partir da identificação que ambas

possuem em relação a algumas posturas em sala de aula. A respeito do uso de recursos

didático-pedagógicos, Cláudia afirma usar aula expositiva e livro didático. E marcou no


questionário materiais e recursos que usaria: jornais, vídeo, cinema, jogos e documentos

históricos (com a restrição de que nem sempre é possível usar o que se prefere).

Todas as aulas de História nesta turma vieram ocorrendo logo após as aulas de

Educação Física. Isto, além de gerar um certo atraso na chegada dos alunos, que vinham

do banheiro e vestiário, provocava neles uma grande agitação física e psicológica, pois

chegavam em grande movimento e expansão física. Eu vinha antes para a sala e ficava

ali, aguardando a chegada de todos. Observava o clima de agitação e brincadeira com que

iam chegando, ainda sob o efeito da aula de Educação Física. A professora também

chegava depois, pedindo que se aquietassem, para fazer a chamada. Esse era seu ritual de

abertura da aula. Sentar-se à mesa, fazer a chamada, fazer algumas anotações e leitura de

alguns materiais pessoais e depois então dava as instruções a respeito do que seria feito

na aula. Habitualmente ficava sentada à mesa, de onde lia o texto do livro didático e o

comentava. Levantava-se no momento de escrever exercícios no quadro.

Observei que, nesta turma, os professores chegavam como que prontos para uma

guerra, pois logo perceberam logo que com muita facilidade, a confusão se instalava e

depois... A de Ciências tentava controlá-los bem desde o início. A professora de História

chegava habitualmente com o semblante um pouco carregado, com o cenho franzido,

evidenciando estar contrariada. Mas, mesmo quando algum aluno fazia alguma coisa fora

do normal, como pular ou gritar, não havia descontrole em sua voz, falando em tom baixo

e equilibrado. Nestas ocasiões a professora perguntava o que era aquilo, pedia que

parasse, em tom quase queixoso.


A transcrição das aulas desta turma será apresentada com o contraste da leitura

em voz alta (em letra marrom) para diferenciá-la da fala da professora no continuum da

fala que não é leitura.

Parte 1 (08/03)

P: Se vocês gritarem dessa maneira que, primeiro vocês vieram lá de fora, Camila dá um
tempinho, vocês vieram agora da aula de Educação Física, com o maior calor, né, então
você chegam aqui sem sossego, ainda aos gritos com o colega do lado aí vai ficar uma
coisa assim impossível da gente conseguir. Então vamos acalmar, para vocês melhorarem
do calor, já coloquei presença para todo mundo que entrou depois, para todo mundo com
presença então vamos sossegar senão vocês não vão conseguir nem fazer nada.
Pessoal, vamos abrir o livrinho para gente continuar que eu acho que falta um pedacinho
do capítulo dois, a gente começou a leitura, mas a gente leu só uma parte. Vamos dar uma
olhadinha em que página a gente estava.
Eu acho que paramos na dezessete. Vê se não foi assim, o calendário. A última coisa que a
gente leu não foi o calendário? Quem é que continua?
Iuri... (...)
Iuri, cadê seu livro?
A: Tá aqui.
P: Abre aí na página 17.
(...) nós paramos no calendário. Então eu estou na página dezessete embaixo da gravura.
Essa gravura ela está explicando o seguinte: os calendários apresentam o sistema temporal
para a localização das atividades humanas, como a agricultura, as caças, as festas, o
trabalho, ou seja cada atividade dessa é feita num determinado tempo, tá, numa
determinada a etapa do tempo. Uma determinada data. Ao lado, ilustração francesa do
século quinze, representando diversas atividades agrícolas conforme que o mês do ano.
Abaixo dessa gravura, tem assim: Os povos criaram diferentes calendários de acordo com
seus conhecimentos, critérios e necessidades. Não se sabe exatamente quando foi criado o
primeiro calendário, mas supõe-se que tenha sido entre 2000 e 3000 o anos antes do
nascimento de Cristo. Provavelmente foram os chineses, os egípcios ou os sumarianos, que
inventaram com base em observação do sol e da lua. Os antigos gregos, gente olha a
conversa, adotaram (...) para a contagem de tempo, a realização da primeira olimpíada em
776 antes do nascimento de Cristo. Os antigos romanos contavam o tempo a partir da
fundação de Roma que teria acontecido em 753 antes do nascimento de Cristo. Os povos
cristãos têm como marco base a contagem de tempo o nascimento de Cristo, por isso são
chamados de calendários cristãos. Então vamos marcar (...) em calendário cristão. Então
vamos continuar. Origem do calendário cristão. Em 532, um monge, eu acho até que já li
isso para vocês e eu expliquei...
A: Já, já.
P: Não já? O monge que se dedica a vida religiosa, fica no mosteiro... então vamos aqui
para baixo. Segundo, vamos marcar logo o segundo, segundo o calendário cristão as datas
anteriores ao nascimento de Cristo recebem a abreviatura a.C. que significa antes de Cristo.
E as datas posteriores, o que quer dizer posteriores? Que vem antes ou depois? (++)
Depois. Ao seu nascimento podem vir acompanhadas ou não da abreviatura d.C. depois de
Cristo, podem vir ou não, tá pessoal? Não é o usual, a gente não escreve assim (+) 8 de
março de 2004 d.C. . Tá? Porque a gente está vivendo esse ano, se a gente está vivendo isso,
a gente já sabe que é depois de Cristo. Tá? Então as datas depois de Cristo não usam, só as
antes, que é para exatamente situar a gente que foi antes do nascimento de Cristo. Quando
o 1 no calendário cristão é identificado como o ano nascimento de Cristo, vamos marcar
até aí. Assim como outros calendários, um cristão agrupa o tempo em dias, semanas, meses
e anos. Os períodos maiores são agrupados de dez em dez anos, década, de 100 em 100
anos, século, de 1000 em 1000 anos, milênio. Então vamos marcar de assim até milênio. O
século é uma unidade de tempo muito utilizada no estudo da história. Costuma indicar os
séculos por algarismos romanos, pois essa é uma tradição que vem da Roma antiga.
Exemplos: séculos XV, século XVII, século XX. O modo básico de saber a que século
pertence determinado ano é somar 1 ao número de centenas do ano, por exemplo, o ano de
1997, o número de centenas é dezenove, temos então dezenove mais um, século vinte. Assim
1997 pertence ao século vinte. No entanto quando o ano termina em zero, como, por
exemplo, 1900, é uma exceção à regra. Nesse caso o número de centenas indicam século
1900, século XIX. Isso significa que o ano de 1900 ainda pertence ao século XIX, entretanto
o ano de 1901 pertence ao século vinte. Na tabela seguinte você poderá ver a que século
corresponde cada ano até o ano 2000. Tá, aí ele coloca essa tabelinha que vocês podem
utilizar pra gente fazer exercícios.
Períodização histórica. Já trabalhamos isso aqui, periodização da história é a divisão da
história em fatos importantes é mais ou menos, que tiveram mais ou menos as mesmas
características então os historiadores dividiram isso em períodos históricos. Que eu
coloquei o ali no quadro pra vocês, que antes da história vêm o que mesmo, hein? Qual é o
período que vem antes da história? (++) A pré-história. Muito bem. Quando aqui nós
dizemos que a história é parecida? (++) Como é que eu sei que daí para frente os
historiadores consideraram esses períodos, períodos na história? O que aconteceu, qual foi
o fato muito importante que determinou esse aparecimento da história? (++) Vai lá. Pode
falar.(++) O que que aconteceu pessoal? Lá, antes da pré-história, o homem da pré-história
ele tinha uma escrita? Não, não é? Ele se comunicava através de que?
A: Através de desenhos.
P: De desenhos, de sinais, não é? Mas o desenho (...) e aí quando ele começa a registrar,
tá, os seus acontecimentos através de sinais que nós determinamos de escrita? Nós vemos
surgir o que? (++) Acabei de falar pessoal... a história. Então a história, o acontecimento
marcante que vai determinar que estamos estudando a história é quando o homem começa
a registrar seus acontecimentos através de dois sinais, nós chamamos de escrita. Não eram
sinais como os que nós utilizamos hoje. Eram sinais diferentes, tá, mais que tinham,
passavam mensagens, então é a escrita. Vocês têm que prestar atenção na hora que eu estou
falando por que vocês esquecem. Aí daqui a pouco eu pergunto de novo e vocês estão
viajando e esquecem novamente.
Cada período, cada período histórico deve apresentar características consideradas
significativas e importantes (...) diferente de outros períodos. Mas todo (...) histórica estão
de acordo com o ponto de vista de quem a elaborou. O tipo de periodização muito utilizada
e tradicional que divide a história em grandes períodos é a pré-história, idade antiga,
Antiguidade, idade média ou medieval, idade moderna e idade contemporânea. Esta divisão
foi feita por historiadores europeus que no século XIX davam maior importância aos (...)
escritos e aos fatos políticos. Por isso todo o período anterior a invenção da escrita foi
chamado pré-história. Como eram europeus, todos marcos que dividem as idades da
história são acontecimentos ocorridos na Europa. Então nós vamos marcar de vejamos até
Europa e vamos encerrar hoje aqui, essa materiazinha. Pode ficar com o livro... oi? Vejamos
até Europa. Que gravura é essa aí gente, hein? Do lado aí. Como é que nós chamamos essa
gravura? (++) alguém lembra? Alguém que estava aqui no ano passado, lembra?
(++)Como é que chama esta figura aí?(++) Ninguém lembra?(++) Então eu vou contar
só depois. Se vocês lembrassem...

Parte 2

Fragmento 1 (15/03)
[ Depois da correção dos exercícios da aula anterior, a professora solicita que os alunos
(na ordem do diário, leiam em voz alta a continuação do capítulo no tópico Cronologia.
Alguns não querem ler. Quem lê, o faz em voz muito baixa, inaudível. A professora vai
comentando o conteúdo relativo a cada trecho lido. No trecho abaixo, a aluna acabou de
ler um trecho sob título cujo título Periodização Tradicional.]
(...)
P: Repentinamente. Aí tem um pontinho. Obrigada, Daiane. Ele tá explicando, que essa
periodização, História Antiga, Idade Média, Idade Moderna, ele diz que um dos motivos é
que é o estudo de algumas regiões da Europa. Que outra coisa que fala, que não pode ser
generalizada naquele período, que eles dizem na Europa, alguns historiadores de História
Antiga, da Idade Antiga, e outros países, outros pedaços do continente, olha conversa, na
hora da prova vai se afundar. Não é só por causa de uma prova não, (...) principalmente. A
gente não pode dizer, por exemplo, que no período que ocorria a Idade Média lá na Europa,
outros países do Oriente Médio ou da África, pudessem ser classificados têm Idade Média.
Então a gente tem que ficar atento quanto a essa divisão, porque essa divisão se refere à
Europa. Realmente é o que nós estudamos. A História é instrumental da Europa.

Parte 3 (25/03)

[Nesta aula a professora inicialmente corrigiu exercícios da aula anterior (ainda relativos
ao conteúdo de cronologia ministrado no mês de fevereiro e início de março) e depois pediu
que pegassem os livros para iniciar a leitura do capítulo 3, referente à Pré-história. Começa
uma confusão pela falta de livros.]

P: Pessoal, vamos pegar o livro, por favor.


Oh, gente, eu não posso fazer nada, se vocês não trazem livro, o que eu vou fazer?
Eu tive o cuidado de dar livro pra vocês, eu não posso fazer nada! A única coisa que eu faço
é lamentar.

(um aluno fala algo)

P: Olha, eu não sei se na sala de Ângela tem não. Cadê o seu? Então deixa, pega em casa,
se você não ficar conversando. [...] Pessoal, vamos abrir na página, no capítulo 3, na página
23. Já estudamos isso, já foi explicado, vamos ver agora o que fala o autor Gilberto Cotrim.
Vamos só acompanhando, (...), eu já expliquei para vocês, e já botamos no caderno, vamos
ver agora a visão do autor Gilberto Cotrim e o que ele fala além daquilo que eu já falei.
Entre os mais antigos hominídeos está o (...) cerca de 40% do esqueleto do fóssil, o que que
é fóssil? São coisas que a gente encontra já petrificado, por muito tempo e que os
arqueólogos procuram. De sua espécie (...) foi encontrado por Donald Johnson em 1964 e
batizado de Lucy, na figura da direita vemos a reconstrução do esqueleto de Lucy feita pelo
antropólogo (...). Do lado de cá pessoal, eles acharam, olha pra frente, gente! Eles acharam
esses fragmentos aí foram compondo e viram que era o corpo de um hominídeo do sexo
feminino que faltavam algumas peças então lhes fizeram a essas peças e reconstruíram
como Lucy, esse astralopitecus (...), tá ela aqui do lado inteirinha. Não sei se vocês sabem,
olha, por que 3 juntos? Olha foi a última vez, não tem livro, desculpa o termo grosseiro,
azar! Bom, se é sorte, agora, porque no futuro será um azar muito grande! Já sabe qual é o
dia da aula, não trás fica quieto na sala! E ainda vai perturbar quem não quer ficar de
algazarra!
O esqueleto feminino é diferente do esqueleto masculino. Os ossos da bacia do esqueleto
feminino são mais largos e o cérebro é diferente também, não é o cérebro desculpa pessoal,
a caixa craniana. Onde fica o cérebro. Por isso que eles sabem que esse australopitecos era
uma fêmea. Uma mulher. E batizaram de Lucy. Vamos virar a folha na página 24.
Investigando nossas origens. Desde os tempos mais antigos nos fazemos uma pergunta
básica como o ser humano surgiu na Terra? Diferentes sociedades têm dado várias
respostas para essa pergunta. Uma dessas respostas foi elaborada pela tradição religiosa
que se encontra na bíblia no livro do Gênesis. Como é que se chama a teoria cristã e a teoria
religiosa? (+) Como se chama? (+) A teoria religiosa? (+) Qual é o nome dela?
A: Cristã?
P: Não. (+) Muito bem, criacionista. Nós vimos não tem um mês atrás. Um mêsinho não
tem. Segundo a teoria criacionista, no livro do Gênesis, no princípio Deus criou o céu e a
terra, Deus disse "haja luz" e houve luz, deus viu que a luz era boa e deus declarou o a luz
e as trevas. Deus chamou a luz, dia e as trevas, noite. Deus disse, que a terra reproduza
seres vivos segundo a sua espécie, animais domésticos, répteis feras segundo a sua espécie.
E assim se fez. Deus disse que, façamos um homem a nossa imagem e semelhança e que ele
domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos
os répteis que rastejam sobre a Terra. Deus criou o homem a sua imagem. A imagem de
Deus, ele os criou. Homem e mulher, ele os criou. Que aquilo que eu tinha dito a vocês, nós
não estamos aqui numa aula de história pra discutir religião. Nós estamos aqui para ver as
duas teorias, ver a origem do homem e não (...) se é ou se deixa de ser. O relato bíblico, vê
no livrinho de vocês aí embaixo o relato bíblico traz a idéia de que o ser humano foi uma
criação especial de Deus. As pessoas que em essência, ou seja, que verdadeiramente crêem
nessa visão religiosa defendem uma doutrina chamada criacionismo. Segundo a tese
criacionista o que diferencia o ser humano das demais criaturas vivas é a espiritualidade
que se manifesta no desenvolvimento de características como, inteligência, vontade,
sentimento, linguagem elaborada, (...) e senso de moralidade. Está marcado aí em
moralidade?
A: está.
P: Se não está, marca. De um relato bíblico até moralidade. A visão criacionista sobre a
origem humana...
(...)
P: A visão criacionista sobre a origem predominou nas sociedades cristãs até o século XIX,
século XIX, 1800, tá, 1801, a partir daí é século XIX.. Surgiram então os estudos do cientista
inglês Charles Darwin. Ele nasceu de em 1809 e morrem em 1882, que resultaram em idéias
diferentes. Em (...) após muitos anos de observação da natureza, Charles publicou "a origem
das espécies". Nesse livro, Darwin propôs o evolucionismo, teoria segundo a qual uns seres
vivos evoluíam a partir de um antepassado comum. Para Darwin, o mecanismo biológico
pela qual as espécies mudam evoluem e se diferenciam é a seleção natural, processo em que
os indivíduos mais adaptados ao meio ambiente têm mais chances de sobreviver e deixar
descendentes. Foi aquilo que nós falamos aqui sobre os dinossauros. Ou aconteceu alguma
coisa muito grave ou com passar do tempo eles não conseguiram se adaptar e foram
extintos. Que aqui a ele diz assim, que todas as espécies vem de um antepassado comum.
Qual é o nosso antepassado?
A: macaco.
P: Qual é o nosso antepassado? (+) de onde nós viemos? Quem é que deu origem ao
homem?
A: Deus!
P: Quem?
A: Deus!
P: Os hominídeos. Eu estou falando agora da teoria evolucionista. Quem está marcado,
ótimo. Quem não está, marca de a visão até descendentes. A explicação da teoria
evolucionista do Darwin é que um homem descende de algum animal semelhante ao macaco.
E não é produto de uma criação especial. Isso aí é retirado de um livro chamado "a evolução
da humanidade". As sociedades cristãs do século XIX e da Europa e da América ficaram
chocados com a tese evolucionista. Darwin foi duramente criticado por autoridades
religiosas e cientistas cristãos que não aceitavam que os humanos eram aparentados com
outras criaturas e animais. Por não entenderam o evolucionismo, muitas pessoas se
assustam até hoje com a falsa idéia de que os homens descendem do macaco. Pessoal, eu
cansei de explicar isso aqui. A nossa descendência é dos chimpanzés, do orangotango e do
macaco prego?
A: não.
P: Eu cansei de dizer isso aí. A nossa descendência é de que? Vocês acabaram de falar no
decorrente aí. As pessoas falam macaco, por que os hominídeos, os primeiros, eram mais
baixinhos, tinham pelos no corpo, ainda não estavam totalmente eretos, por isso, tá? Não
vamos achar que a gente andava pulando em árvore. Tá todo mundo com o livrinho marcado
aí até macaco? Embaixo, o último parágrafo. Aí tem a teoria dele, do Darwin, olha só o que
ele diz. Publicada em 24 de novembro de 1859 a obra "a origem das espécies" de Charles
Darwin é considerado um dos livros mais revolucionários da biologia. Suas idéias básicas
são: o processo de evolução das espécies é gradual e continuo, ou seja, não é uma coisa
rápida, e está sempre acontecendo, não é de uma hora para outra e também não para. Vocês
estão prestando atenção no que eu estou explicando? Todos os seres vivos de descendem
em última instância de um ancestral comum. Ele está querendo dizer que no final, no final,
no final quando a gente pesquisa, pesquisas, pesquisa a gente vai ver que nós tivemos um
início comum a todos os outros e daí as espécies foram se modificando e evoluindo ou
involuindo, tá, ele diz isso. O mecanismo pelo qual os seres vivos mudam e evoluem é a
seleção natural. Os indivíduos mais adaptados ao meio ambiente conseguem melhores
resultados na luta pela sobrevivência. O animal normalmente quando ele nasce com uma
deficiência, normalmente ele não sobrevive, e até o ser humano mesmo, se é uma deficiência
muito grave, tipo assim, crianças que às vezes nascem sem cérebro, acabam não
sobrevivendo. O que está acontecendo aí com um livro?
[Uma aluna reclama que, enquanto a professora explicava, colega implicou come ela
usando uma reprodução de imagem do livro (Criação do Homem, de Michelangelo).]
Aluna: Ele tá falando que aquilo ali é a minha família.
P: Eu não estou nem me incomodando, porque eu vou me reservar o direito de colocar no
dia da avaliação, são coisas que eu falei aqui na sala de aula, quem ouviu, ouviu e que quem
não ouviu, azar. Não vou ficar facilitando a vida de quem vem pra cá (...) não.
Aluna: você ouviu o que ela falou pra mim? Você tá achando que ela tá falando de mim?
P: Não, não tô falando pra ela não! Eu tô falando pra quem tava com o livrinho, virado pra
trás, amolando ela.
Aluno: Não tô falando com ela, professora!
Alna: Tá sim!
P: Poxa, to explicando uma coisa importante. aí vocês saem daqui e dizem assim:
(...)
[Quase ao final da aula, a professora pergunta a hora e vê que ainda sobram alguns
minutos. Decide utiliza-los continuando a ler.
P: Olha só, aproveitando esse espacinho, eu vou pedir para vocês lerem para ver como a
turma está lendo. Eu vou começar(++) pode ser com você. Homo (...).
[o aluno se recusa a ler, parecendo estar com vergonha]
P: Olha só, pessoal, eu não quero ler não. Eu também de repente hoje, nesse momento,
queria tá em outro lugar, mas eu tenho necessidade de estar aqui, no mesmo caso que vocês.
Tenho escolha não! Quem é que vai ler? Vamos lá!
(...)

Legenda:

A Leitura em voz alta, de texto


do livro didático

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