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Roteiro para elaboração do Relatório de Estágio II

Discente: Ana Clara Rodrigues Duarte


Docente responsável: Profª Jéssica Cristine de Melo
Curso: História – UNIFAL-MG

1. INTRODUÇÃO
Meu objetivo, ao escrever esse relatório, é materializar as reflexões e percepções que
fui tendo ao decorrer da disciplina de Estágio Supervisionado em História II. Para isso,
recorrerei às anotações realizadas no meu caderno de campo durante meu período na escola e
às discussões teóricas realizadas ao longo do semestre. Tendo em vista que o estágio não se
resume ao momento de aplicar/colocar em prática a teoria obtida nos períodos anteriores, foi
um espaço extremamente importante para a minha reflexão intelectual sobre a escola, as
relações e a atuação docente.
Como eu participo do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência), a instituição para a realização do estágio foi a mesma que faço PIBID. A
instituição em questão é a Escola Estadual Samuel Engel, localizada na rua Rua São Sebastião
do Paraíso, 45, no bairro Residencial Oliveira. Acompanhei a docente Cristiane de Ávila
Silva, em suas aulas de História para as turmas do 8° ano do Ensino Fundamental II, no
período da tarde. Uma particularidade deste estágio, foi a possibilidade de acompanhá-la e
participar dos encontros realizados com os estudantes que participam do ICEB (Iniciação
Científica na Educação Básica).
Os problemas e desafios que foram mais evidentes durante esse período relacionam-se
às questões envolvendo discussões étnico-raciais e de gênero. Mais especificamente a postura
da professora diante a essas questões e as incoerências perceptíveis entre o seu discurso e a
sua prática pedagógica.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Observação do Contexto Escolar
O prédio da escola é relativamente recente: a escola funciona lá desde o ano de 2011.
É localizada em um bairro novo e que não se localiza próximo à área central. O prédio em si é
bem estruturado: todas as salas têm projetor e uma tela para a projeção, cadeiras e mesas
novas, cortina, além de duas quadras e um amplo espaço repleto de árvores.
Para analisar o perfil social-econômico-racial da instituição e a comunidade na qual
ela está inserida, recorrerei ao Projeto Político Pedagógico (PPP) de 2020. De acordo com o
Censo Escolar de 2019, apresentado no PPP, o número de matriculados na escola era de 1017,
sendo 54% pertencentes ao gênero masculino e 46% ao feminino. Nessa mesma linha, cerca
de 99% dos alunos residem na área urbana e 1% na área rural; enquanto 70% residiam
próximo a localidade na qual a escola está inserida. O índice socioeconômico da escola é
considerado alto, tendo cerca de 27% dos alunos exercendo alguma atividade remunerada.
Já na esfera da autodeclaração racial, a distribuição por cor foi: 70% autodeclarados
brancos, 20% parda, 4% preta, 2% indígena e 4% não declarada. Neste ano de 2023, a
professora Cristiane desenvolveu, novamente, um projeto para o ICEB (Programa de
Iniciação Científica na Educação Básica) voltado às discussões étnico-raciais. Tal ação
demonstra uma preocupação vinda dela com a questão, mas também permite-nos pensarmos a
abertura que a direção da instituição deu para a realização de tal proposta. Visto que há um
incentivo por parte destes últimos para a realização das atividades e discussões propostas pela
professora Cristiane.
Referente a relação da comunidade com a escola, um dado que destacou-se no PPP foi
um levantamento com os estudantes sobre a participação dos pais deles na vida escolar e as
porcentagens foram as seguintes: cerca de 55% dos responsáveis acompanham parcialmente
sua vida escolar, 22% totalmente e 23% não acompanham. A nota obtida na pesquisa de
participação da comunidade na vida escolar, foi de 4 em uma escala de 0 a 10. Tanto em
conversas com a vice-diretora da escola quanto com a professora, a participação da maioria
dos pais restringe-se às reuniões realizadas bimestralmente.

2.2. Observação do Espaço Pedagógico


As minhas observações restringem-se às práticas pedagógicas desenvolvidas pela
professora Cristiane com duas salas do 8º ano do Ensino Fundamental II. É importante
pontuar que são salas bem diferentes entre si, a primeira, o 8º1 é uma sala mais quieta, que
tem como particularidade dois estudantes transsexuais; o 8º2, em contrapartida, é uma sala
mais agitada e é composta majoritariamente por meninos. Embora haja essas diferenciações,
ambas são salas participativas e construíram uma boa relação com a professora.
Outro aspecto que merece destaque para compreender a forma como ela construiu essa
relação com os alunos, é referente ao fato de que ela retornou a dar aula para essas turmas no
segundo semestre de 2023, após as férias do meio do ano. Isso devido ao seu afastamento pelo
auxílio à maternidade. A questão central é que o professor que estava substituindo-a avaliou a
maioria dos estudantes com nota superior a 22/23 pontos nos dois bimestres anteriores.
Conforme explicou a professora, isso afeta muito a forma como os alunos se relacionam e se
comportam na sua aula, visto que a maioria precisava de poucos pontos para passar
posteriormente.
Inicialmente não entendi muito bem essa colocação da professora, mas depois de
algumas conversas compreendi que a distribuição de notas, para ela, é um elemento que deve
ser mobilizado a favor do professor, como uma “ferramenta” de troca entre os estudantes com
os professores. Isso, claro, não indica que ela vai dar notas ruins para os alunos, mas sim uma
nota condizente com as atividades realizadas por eles. No mais, achei a sua prática
pedagógica bem semelhante às tradicionais, digo isso em relação a passar a matéria no
quadro, explicar, depois passar uma atividade e dar visto.
O momento que destoou, um pouco, desse padrão tradicional, foi quando ela realizou a
leitura do livro “Você é livre!”, de Dominique Torres. Esse livro foi distribuído pelo
Ministério da Educação e é para ser trabalhado com as turmas do 6º ao 9º ano. É um
romance-reportagem que discute escravidão moderna e liberdade no século XXI, no Níger,
um paíse africano. Achei extremamente importante e interessante ela se dispor a trabalhar
essas questões com a turma, mas não entendi a forma como ela propôs fazer isso: ela leu o
livro para cada turma, ao longo de três semanas, para no final aplicar uma prova. Achei a
leitura extremamente massante, visto que era apenas ela que lia.
Referente às interlocuções e interações do público com a instituição, não vi uma
abertura muito grande. Acredito que seja uma relação em que exista um diálogo básico e uma
mínima troca para o bem-estar dos alunos que estudam lá. A experiência que eu tive ao longo
desses um ano frequentando a instituição por causa do PIBID, é que é uma escola mais aberta
para discussões relacionadas à diversidade. Embora isso seja uma cultura da escola em si,
acredito na influência por parte direção da escola, que é composta exclusivamente por
mulheres professoras de História, que se mostram abertas ao diálogo e ao acolhimento dos
alunos.
Tanto dentro da sala de aula quanto nas reuniões com os estudantes do ICEB, não foram
trabalhadas questões direcionadas à memória, ao patrimônio, à história local e ao ensino de
história. Foram poucas e sucintas falas da professora sobre essas discussões. Ao longo da
leitura do livro “Você é livre!”, para os 8º anos, ela fazia pausas pontuais para fazer um
paralelo com a escravidão moderna trabalhada no texto com o que aconteceu no Brasil.
Nesses momentos fazia afirmações sobre a importância de conhecermos a história da
escravização no brasil e como ela afeta a nossa sociedade nos dias atuais.

2.3 – Relato de experiência


Algo que venho pensando bastante ao longo da realização do estágio, diz respeito a
importância de nós, enquanto professores e futuros professores, termos um olhar atento e
sensível para os alunos. Relutei bastante em trazer essa discussão para o campo do relato de
experiência, mas é algo que há tempos vem me causando incômodo e reflexões. Em conversas
com colegas de estágio e PIBID, pude notar que esse desconforto é coletivo e gera uma
indignação conjunta. No entanto, nos encontramos imobilizadas diante da situação e não
sabemos se cabe a nós abordarmos a professora para conversarmos sobre isso.
Acho importante fazer uma contextualização do ambiente em que essas violências
acontecem: ICEB. O grupo que participa do projeto é composto, majoritariamente, por alunos
do ensino fundamental II e alguns poucos do ensino médio. Entre esses dez alunos, três são
pessoas transexuais. Um em específico, é uma pessoa que identifica-se com o gênero
masculino. As violências são direcionadas a ele, visto que a professora não chama-o pelo seu
nome social. Em agosto de 2023, quando as reuniões começaram, ele contou para quem
estava lá que era um menino transexual e seu nome. Imediatamente a professora já pediu
desculpas pelas futuras vezes em que ela não chamaria-o pelo seu nome social e sim pelo seu
nome “morto”.
Nesse momento já me gerou um grande desconforto, porque passou a ideia de que ela
não faria esforço nenhum para chamá-lo pela forma como ele se identifica. Nas próximas
reuniões e dentro da sala de aula, ela continuou chamando-o pelo seu nome “morto”. Essa
postura me gera um grande desconforto e inquietamento, visto que é nítido na expressão do
aluno o constrangimento por ser chamado pelo seu antigo nome. E a isso soma-se o fato
desses três alunos transexuaias, na primeira reunião do grupo, ao serem questionados e
instigados a refletir sobre o porquê estão participando do projeto, afirmaram que estão lá pelas
discussões propostas pela professora, mas também por saberem que aquele não seria um
espaço em que seriam hostilizados e que se sentiam confortáveis de estarem lá.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral, esse estágio foi um alerta, para mim, sobre a necessidade de ser uma
professora mais atenta às questões apresentadas pelos alunos. Além de evidenciar a
necessidade de uma abordagem mais sensível e inclusiva, especialmente em relação à
diversidade de gênero, bem como uma busca por estratégias de ensino mais dinâmicas e
participativas, visando não apenas à transmissão de conteúdo, mas também ao engajamento e
ao respeito aos alunos em suas individualidades e identidades.
Assim, destacar como é crucial que os educadores estejam abertos ao diálogo e à
reflexão constante sobre suas práticas pedagógicas, especialmente quando se trata de questões
sensíveis e de inclusão. Promover um ambiente escolar acolhedor, onde a diversidade seja não
apenas reconhecida, mas celebrada, é essencial para o desenvolvimento integral dos alunos.

4. REFERÊNCIAS
ROCHA, Helenice Aparecida Bastos. Aula de história: evento, ideia e escrita. História &
Ensino, Londrina, v. 21, n. 2, p. 83-103, jul./dez. 2015.

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras.
Educ., Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, abr. 2002.

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