Você está na página 1de 19

CAPÍTULO

E. E. BISPO DOM GASTÃO

Ana Beatriz Zanin


Ana Julia Escrivano
Ariane Godoi Delbone
Leticia de Oliveira Pariz
Marcos Ferrari

2024
Introdução

Este capítulo, trata de relatos de experiências dos estagiários da escola


estadual Bispo Dom Gastão sob orientação da professora Talissa Lopes Ferreira.
Eles atuaram no ensino fundamental ciclo I - 1°ano ao 5° ano, com alunos público
alvo da educação especial, conhecendo as demandas, necessidades e gestão do
ensino.
Pensou-se na estrutura de um relato de experiência baseando-se na
necessidade da construção do conhecimento pautado nas suas diversas
metodologias e modalidades, possibilitando colaboração para o progresso da
ciência.
O conhecimento científico, advindo dos RE, beneficia o meio acadêmico e a
sociedade, por contribuir na melhoria das intervenções e possibilitar o usufruto de
futuras propostas de trabalho, respectivamente (Mussi,Flores,Almeida, 2021).
Os estagiários desenvolveram trabalhos e intervenções significativas neste
tempo atuando juntamente com os alunos e os professores, experiências ricas que
serão descritas ao longo deste capítulo.
RELATO DE EXPERIÊNCIA RESIDENTE “AD”

O presente relato é resultante de um trabalho desenvolvido através do


programa de Residência Pedagógica em uma escola estadual de São Carlos,
intitulada E.E. Bispo Dom Gastão, em uma turma no Ensino Regular, primeiro ano
do ensino fundamental, em que haviam três alunos público alvo da educação
especial.
O aluno denominado neste capítulo como “NL” foi acompanhado ao longo de
quatro meses. Apesar de ser matriculado no primeiro ano, sua idade não era
equivalente ao ano escolar, além de suas habilidades terem sido consideradas pela
coordenação avançadas para o primeiro ano.
Desse modo, a gestão decidiu que no ano seguinte ele seria avançado para o
terceiro ano, ano escolar correspondente à sua idade. Em decorrência dos fatores
mencionados anteriormente, podemos dizer que as atividades desenvolvidas tiveram
duas perspectivas, a primeira era ao adiantamento de conteúdos do terceiro ano
para que o aluno fosse absorvendo os respectivos temas de ensino, a segunda
foram intervenções pensadas no contexto que cerceia o desenvolvimento dos alunos
com deficiências.
Pois, nas últimas décadas, houve um comprometimento político-social no
processo de entendimento e na implementação prática da visão social da
deficiência, que busca intervir nas múltiplas barreiras sociais e atitudinais,
identificadas em elementos que são externos às pessoas com deficiências,
obstáculos esses que geram exclusão e desigualdade nos mais diversos contextos.
A intervenção descrita neste capítulo será referente à segunda perspectiva,
ou seja, com foco na cultura escolar, mais especificamente dentro da sala de aula.
Foram realizadas três atividades sequenciais que visavam promover reflexões sobre
o reconhecimento da diversidade e a importância da valorização das diferenças.
A primeira atividade foi planejada para ser uma leitura cantada de um livro
chamado “Tudo bem ser diferente” da autora Todd Parr, a segunda foi uma caixa
misteriosa com um espelho dentro, em que os alunos deveriam responder a questão
que a residente fez, pois ela havia dito que na caixinha a foto de alguém diferente e
quem eles imaginavam ser.
Para finalizar a proposta, foi pensado que as crianças do primeiro ano
realizassem um desenho, para que pudessem aguçar sua imaginação e criatividade
ao expressarem livremente coisas que elas desejam ser ou ter, independentemente
de qual desejo fosse. É válido ressaltar que ao longo a condução da intervenção foi
pensada para indagar e promover reflexão dos alunos acerca da importância do
respeito às diferenças, pois elas nos fazem únicos e é por causa delas que
aprendemos e evoluímos muito mais ao estamos em um coletivo de existências.
Além de constantemente gerar o auto empoderamento das crianças em ser quem
elas quisessem, independente das características físicas ou psíquicas.

INTERVENÇÃO DIVERSIDADE DE CORPOS E EXISTÊNCIAS

1ª parte - Leitura do Livro/fichas “ Tudo bem ser diferente” (20 min)

Figura 01

Fonte: autoral

No planejamento inicial a estagiária iria realizar a leitura de forma cantada,


mas como os alunos estavam dispersos a residente optou por realizar a leitura
coletivamente, de forma que cada criança iria ler duas páginas, pois o livro havia
sido confeccionado na forma de fichas.
As crianças ficaram muito empolgadas, pois elas estão em fase de
alfabetização, logo estão ávidas pela leitura, o que por conseguinte trouxe a atenção
à atividade realizada. Após a finalização da leitura, a estagiária passou na televisão
da sala o vídeo Tudo Bem Ser Diferente- Varal de histórias, para que as crianças
pudessem cantar os versinhos juntos com a contadora do canal.
Em seguida foi realizada uma conversação com os alunos, eles foram
questionados sobre a compreensão da história, eles apenas repetiam o que havia
sido lido, no geral mostraram sentimento de identificação e aceitação: “eu tenho
óculos também professora e eu gosto deles é igual da menina do livro”, “meu irmão
também é adotado”
Uma outra aluna começou a chorar porque recordou que uma criança da van
escolar em que era transportada a chamou de gorda. Então a estagiária conversou
particularmente com a aluna e deixou que ela expressasse seus sentimentos, depois
dialogou com a garota e explicou que todos os corpos tinham suas diferenças e que
isso seria a beleza de ser uma pessoa, pois ela era única. Ressaltou também
aspectos positivos da menina para que ela ressignificasse aquela fala e
internalizasse outra perspectiva. Abraçou a aluna e elas entraram para a sala.

2ª parte - Caixinha misteriosa com espelho (10 min)

Figura 02

Fonte autoral

Os alunos tinham que adivinhar de quem era a foto da pessoa diferente


dentro da caixinha misteriosa que a residente havia trazido. Uma resposta que
chamou a atenção, foi que uma aluna disse que a pessoa diferente era a professora
regular por causa da cor dela. Ela era a única pessoa preta na sala. A residente
explicou que existiam muitas características que faziam as pessoas diferentes, não
apenas a cor, como: o jeito (personalidade), origem etc, explanou ainda que por
existirmos, todos já somos diferentes independentemente de qualquer característica
física.

Mostraram- se mais empolgados na hora de responder quem era a pessoa


diferente que estava dentro da caixinha, em sua maioria falam que a pessoa tinha
uma característica física deles próprios que viam no espelho. A residente ficou
surpresa, pois as crianças tinham consciência sobre o tema abordado, logo, não foi
necessário uma explicação muito extensa. Entretanto, vale destacar que apesar de
os alunos demonstrarem compreender questões relacionadas à diversidade, eles
não estavam acostumados a formular uma resposta sobre o que pensam.

Desse modo, precisavam de um espaço aberto, pois nessa segunda parte da


atividade eles conversavam entre eles e coletivamente, falavam o que pensavam
sem muito critério.
Portanto precisavam ser estimulados a falar. Logo é válido ressaltar a importância de
criar momentos para que as crianças tenham a oportunidade de se expressarem e
formarem uma linha de raciocínio, mesmo que leve um pouco mais de tempo.

3ª etapa- Desenho livre ser o que você quiser ser (30 min)
Na última atividade os alunos deveriam desenhar o que gostariam de ser
quando fossem mais velhos, a estagiária deu exemplos dos mais variados,
entretanto eles recorreram ao “esperado” quando se indaga “o que você quer ser,
ter, fazer quando crescer”, pois fizeram um auto retrato relacionado a profissão.
Esse foi o momento em que as crianças ficaram mais silenciosas e menos
agitadas, mas ao mesmo tempo muito concentradas à proposta. Sentaram-se às
mesas e fizeram seus desenhos relacionados a escolha de profissões, como:
youtuber, bombeiro, vendedora de roupas, cantora, etc. Os desenhos foram colados
no caderno.

Figura 03 Figura 04

Fonte: autoral Fonte: autoral

Dentro dos objetivos estabelecidos no plano inicial, a atividade foi executada


de maneira satisfatória, ao considerar os elementos negativos que dificultam sua
execução. O encerramento do semestre também pareceu ter influenciado a
realização da intervenção, pois os alunos apresentaram uma alteração
comportamental, caracterizada por: barulho excessivo na sala e fora dela, infringir
regras e combinados, desentendimentos entre os próprios alunos, fugas de
demanda, etc.
Desse modo, a realização das atividades foi difícil, mas dentro do possível
deu certo. A residente observou que dentre as atividades propostas, os alunos
estavam mais engajados nas atividades da leitura das fichas, pois dificilmente eles
tinham a oportunidade de fazer a leitura para a turma, ou seja em voz alta. Isso os
incentivou nessa atividade e nas outras, pois eles podiam interagir com objetos
físicos (fichas com páginas dos livros para cada aluno, caixa misteriosa com
espelho dentro e papel e lápis para os desenhos.)
Através desse tipo de intervenção fica evidente a importância de atividades
que trabalhem questões inerentes à cultura escolar, uma vez que a mesma está
intrinsecamente ligada à subjetividade dos membros da comunidade escolar. Como
afirmou Luck (2009, pág. 115), "Somos o que pensamos", o que significa que nossos
pensamentos influenciam nossas emoções e ações, moldando assim o ambiente ao
nosso redor.
Portanto, ao introduzir atividades que estimulem debates sobre diversidade e
respeito às diferenças, seja em sala de aula ou em nível institucional, estamos
dando passos importantes para promover uma mudança de mentalidade e,
consequentemente, de comportamento.
RELATO DE EXPERIÊNCIA 1º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL – a construção
da cultura colaborativa
O presente relato irá discutir a implementação de uma parceria entre
professores e residentes, apesar das tentativas e intencionalidade de ambas as
partes. Também apresentará as intervenções realizadas para suprir as lacunas
identificadas por meio da sondagem realizada pela residente.
É importante contextualizar as situações vivenciadas em sala de aula durante
o programa de Residência Pedagógica para que se possa ter um panorama geral
das atividades de ensino realizadas. A residente frequentava a escola nas segundas
e quartas-feiras. É importante destacar que as atividades realizadas em sala, em
sua maioria, eram feitas nos livros paradidáticos ou copiadas da lousa. Quando os
enunciados eram muito extensos, alguns alunos não conseguiam finalizar a tempo,
fator que interferia no desempenho das atividades. Além disso, havia a cobrança de
que copiassem o mais rápido possível para que a professora pudesse apagar uma
parte do quadro para dar continuidade aos exercícios. Ainda, há a questão de
estudantes não alfabetizados, mas copistas, os quais eram capazes de identificar as
letras e copiá-las, mas não conseguiam ler o que copiavam.
Após duas semanas de observação, foi possível realizar uma sondagem com
o estudante acompanhado pela residente a partir das ferramentas disponíveis. Foi
possível perceber que o estudante (J), apesar de se comunicar bem, apresentava
dificuldade na fluência do discurso e estava em processo de alfabetização,
reconhecendo as letras do alfabeto e identificando-as como elementos sonoros. Em
relação à Matemática, demonstrou resistência com os números e recusou-se a
escrever os números solicitados pela residente.
Para que não houvesse estranhamento entre os colegas de turma,
dificultando o processo de inclusão, foi feita uma atividade denominada “Bingo de
Palavras” com todos os estudantes da turma. Foram escritas as palavras do bingo
que foram sorteadas em pedaços de papéis, cada jogador tinha uma tabela com 6
palavras. Era sorteada uma palavra por vez e os alunos deveriam identificar em
suas respectivas tabelas e marcar as palavras sorteadas ali presentes.
Figura 05 – Exemplo de cartela do bingo de palavras

Fonte: arquivo próprio.

É interessante observar que quando os estudantes são convidados a


participar de dinâmicas em que não precisam apenas copiar da lousa ou responder
questões, demonstram-se muito mais satisfeitos com a atividade, evidenciando que
romper com estratégias passivas de aprendizagem faz com que os alunos tenham o
desejo de absorver e se engajar na proposta trazida pelo professor.

Ainda, partindo da sondagem foi feita uma intervenção com números a partir
do seguinte recurso feito pela residente:

Figura 06 – Recurso utilizado para intervenção de Matemática

Fonte: arquivo próprio.

A atividade consistia em desmistificar a forma que os alunos enxergavam os


números e mostrar que os conceitos matemáticos estão em muitas coisas
corriqueiras do cotidiano. Os alunos foram divididos em dois grupos e foi feita uma
narrativa de que o Zé (nome dado ao recurso) precisava ser alimentado. Portanto,
ele se alimentaria com diferentes objetos por vez. Para isso, os alunos precisariam
procurar esses objetos e quem não encontrasse ficaria devendo uma quantidade de
objetos para a próxima rodada.

Exemplo: “O Zé quer comer 5 borrachas”. Se o aluno colocasse 5 borrachas,


ganharia um ponto. Mas se faltasse 1 borracha, o aluno ficaria devendo essa
quantidade na próxima rodada, acumulando 1 objeto, sem contar o que seria pedido
naquela respectiva rodada. Se, hipoteticamente, fosse pedido na próxima rodada 7
meias, o aluno deveria colocar 1 borracha (que estava devendo) e mais 7 meias
para pontuar. Após colocar os objetos, a residente retirava os objetos de dentro da
boca e fazia a contagem de um objeto por vez para conferir junto com os estudantes
se estava correto.

Foi interessante observar que trazer a mesma proposta do que é visto no


dia-a-dia na escola em um formato diferente e mais dinâmico faz com que os
estudantes se sentissem motivados a participar e se envolver na atividade. Além
disso, trabalharam muito bem em equipe, ajudando uns aos outros a encontrar os
objetos faltantes e a realizar as contas das quantidades de objetos conforme
aumentavam a proporção.
Devido às diferenças de calendário e à necessidade do cumprimento
do planejamento estabelecido, realizar um planejamento em conjunto foi um desafio.
Nesse sentido, a experiência em campo apesar de proveitosa e engrandecedora
para a formação, trouxeram conflitos entre teoria e prática, em que se sabe a
necessidade de realizar o trabalho colaborativo, mas a realidade em que estão
inseridos os profissionais envolvidos para que a prática desse trabalho se concretize
não são favoráveis à cultura colaborativa. Portanto, é válido ressaltar que as críticas
relacionadas à discrepância entre teoria e prática não tem o intuito de culpabilizar os
professores regentes e as suas práticas, mas de analisar a raiz do problema: o
sistema de ensino e os moldes ao qual estão todos inseridos – professores, gestão,
residentes, estagiários e estudantes.
A experiência proporcionada pelo Programa de Residência Pedagógica foi
primordial para a consolidação de uma identidade profissional e para
estabelecimento de relações entre teoria e prática. Além disso, as vivências em
campo com as orientações contribuíram para uma prática mais atenta às
especificidades de formação e demandas, inclusive para uma percepção mais
sensível dos indivíduos que constituem o espaço educacional.
O trabalho realizado demonstrou que as aulas não precisam ser
simplesmente um ambiente de absorção de conteúdo, mas de construção de um
conhecimento que faça sentido. Portanto, pode-se afirmar que os ciclos vivenciados
no Residência Pedagógica não se caracterizam apenas como efetivação de
atividades a serem desenvolvidas, mas de um processo crítico e reflexivo firmado
nas reais demandas e particularidades dos alunos.

RELATO DE EXPERIÊNCIA 4º ano E.F

Neste relato será apresentado o desenvolvimento, planejamento e rotina da


turma do 4º ano do ensino fundamental, realizado por uma das residentes do
Programa Residência Pedagógica, do curso de Licenciatura em Educação Especial,
durante o ano de 2023.
Para iniciar o dia, a professora regente costumava fazer a leitura de algum
texto antes de iniciar o conteúdo. Esses textos traziam assuntos diversificados,
aumentando o repertório das crianças e despertando sua curiosidade. Após a leitura,
a professora buscava trabalhar as atividades propostas pelos livros didáticos,
seguindo a Base Nacional Comum Curricular, a orientação da coordenação da
escola, da Secretaria de Educação e do governo do estado de São Paulo.
Para aplicação da intervenção nos alunos, foi decidido junto com a professora
que seriam feitas atividades mais focadas em português e matemática com os
alunos. A maioria das atividades foram propostas pela professora, utilizando
atividades montadas e trazidas por ela. Essas atividades foram montadas levando
em consideração as dificuldades observadas nos alunos, através de sondagens
feitas pela professora regente e pela residente, que também observava os alunos,
uma vez que estava sempre ao lado observando e auxiliando estes alunos.
Para colocar as atividades em prática, a estagiária lia e explicava o que
deveria ser feito. Em algumas das atividades, a residente apenas explicava e
deixava que os alunos fizessem sozinhos, com a finalidade de conseguir ver o que
estavam errando e o que estavam acertando, para que assim pudesse conversar
com a professora, relatando o que conseguiram fazer com autonomia e, através
disso direcionar as próximas atividades para as áreas de maior dificuldade dos
alunos.
Ao final das aulas, após fazer as atividades propostas pela professora, a
residente sempre pedia para que os alunos fizessem algum tipo de atividade de
leitura e escrita, com a finalidade de avaliar o que foi aprendido ou não pelos alunos
no dia ou em dias anteriores, já que em alguns dias não dava tempo devido a
demanda das atividades. Como aprendido durante todo o curso de licenciatura em
educação especial, a avaliação é um recurso de grande importância, pois através da
avaliação podemos observar as dificuldades e as facilidades do aluno, e também,
observar se a prática do professor está de acordo com o que o aluno precisa para
uma melhor aprendizagem.
A estagiária/residente fazias as avaliações para conseguir ver a evolução dos
alunos, e também, para se avaliar e ver onde deve mudar a sua estratégia para que
consiga ensinar os alunos da melhor maneira possível.
Sobre a experiência da residente, é válido afirmar que o programa de
residência pedagógica foi de grande importância para sua formação pessoal e
profissional, pois juntar a teoria com prática e poder observar a instituição de ensino
internamente durante o ano letivo, faz com que a experiência seja completa e cheia
de informações para o repertório dos residentes.
Durante o ano, foi possível observar os avanços e retrocessos dos alunos, o
que possibilitou fazer modificações nas atividades e na forma como eram
explicadas, para que assim pudéssemos alcançar os objetivos individuais de cada
aluno. No começo do ano de 2023, alguns alunos, que estavam entrando no 4º ano
do ensino fundamental I, não sabiam ler e escrever a maior parte das palavras,
conseguindo escrever apenas o nome e se estivesse olhando um modelo.
Com o passar do tempo e com o auxílio da residente e da professora regente,
começaram a escrever frases curtas, até que foram evoluindo e passaram a elaborar
pequenos textos. Não podemos esquecer que com a evolução da escrita, também
houve evolução na leitura desses alunos, pois começaram a ler aos poucos com os
estímulos oferecidos pela residente.
Foi muito gratificante conseguir observar os avanços dos alunos, pois ler e
escrever são coisas que precisamos fazer em nosso dia a dia, em diferentes
circunstâncias. Os alunos agradeceram pelos ensinamentos e por conseguirem
terminar o ano fazendo leituras, e isso fez com que os resultados da experiência no
Residência Pedagógica ficassem mais estampados e com a sensação de dever
cumprido.
Sendo assim, o programa abriu muitas oportunidades durante os dezoito
meses, deixando os residentes mais confiantes e preparados para sua futura vida
profissional, e tudo será colocado em prática após sua formação acadêmica.
Relato de experiência 3° Ano EF

Por meio das observações e sondagens realizadas no início do programa, foi


possível identificar que a maior necessidade que o aluno demandava era com
relação ao foco e tempo de concentração para a realização das atividades, e
também avançar no ciclo de alfabetização e letramento.
Os principais objetivos durante o período de atuação foram: desenvolver de
forma contínua, diversas estratégias para melhorar a atenção e o foco do aluno,
trabalhando com os estímulos e preferências demonstradas pelo aluno, adaptando
as atividades (enunciados mais objetivos, e de fácil entendimento) para favorecer o
processo de aprendizagem e foco do aluno, que durava cerca de três minutos e
depois ele ficava disperso até a professora chamar atenção.
A principal estratégia usada para aumentar a concentração do aluno, foi um
combinado com o aluno que ele poderia se distrair por alguns minutos após um
tempo fazendo a atividade, esse modelo demonstrou estar funcionando, aos poucos
o aluno foi ficando mais concentrado nas atividades, cansando menos na hora de
fazer, e também começou a fazer mais sem auxílio. A intenção foi diminuir o tempo
livre e os intervalos, cada vez mais, ou até mesmo criar uma estratégia mais
eficiente, porém por conta da falta de professora regente, e de muitas professoras
diferentes, a sala toda ficou bem atrasada, e os alunos me viam como referência da
sala por estar acompanhando eles há algum tempo, então eles vinham tirar as
dúvidas e pedir ajuda para mim, aumentando muito a demanda com a sala toda e
alguns dias não dando tempo de dar atenção ao aluno PAEE.
Com a chegada da professora regente, a sala em geral melhorou o
comportamento, e a professora começou a passar atividades mais direcionadas ao
letramento para o aluno PAEE e para outros dois alunos que ainda não estavam
alfabetizados nos dias que eu não estava presente. E quando eu estava em sala,
eram feitas modificações nas atividades que estavam sendo passadas para a sala.
É importante considerar também todo o contexto em que o aluno está
inserido, pois de acordo com Pellegrini (1996, apud CORDAZZO, et al., 2008,
p.428), o ambiente é um fator de grande influência no desenvolvimento infantil e nos
seus comportamentos, fazendo necessário o estudo da criança e o meio em que ela
interage. Alguns fatores acabam sendo desfavoráveis para a concentração do aluno,
como a sala com muitas crianças e pouco espaço, o barulho vindo das outras
classes e do pátio, e outros estímulos visuais espalhados pelo ambiente, e também
o aluno tem bastante faltas nas aulas. Além da sala ter ficado um grande período do
ano letivo sem uma professora regente fixa, cada dia ou semana era uma professora
diferente, não havendo um planejamento para a turma, muitas aulas com temas
repetidos ou até mesmo atividades repetidas, e conteúdos atrasados. Mesmo com
as barreiras encontradas, foi possível desenvolver vários aspectos com o aluno do
público alvo da educação especial, e com os demais alunos da sala, principalmente
na esfera social e comportamental, em que no início do programa quando ele estava
no 2° o aluno era bastante tímido, tinha pouca interação e bastante dificuldade de se
comunicar e falar de maneira mais natural, sentava bem no fundo da sala mesmo
havendo lugares disponíveis mais a frente, não falava com a professora para tirar as
dúvidas, e no fim do programa, com o aluno já indo para o 4°ano, ele estava muito
comunicativo, não só comigo, mas levanta e ia até a mesa de outros alunos para
falar ou comentar algo, também passou a falar com as professoras, até mesmo as
eventuais, para fazer perguntas e tirar dúvidas, começou a sentar na mesa da frente
por desejo próprio, também começou a levantar a mão para responder oralmente
nas atividades que a professora fazia perguntas para a sala. A fala dele está fluindo
melhor, de maneira menos mecânica, a concentração ainda precisa melhorar
bastante, mas já consegue realizar algumas atividades sozinho, inclusive nos dias
que eu não estava presente para acompanhar.

O Projeto Político Pedagógico e a Educação Especial na E. E. Bispo Dom


Gastão.

O Projeto Político Pedagógico (PPP) é o alicerce sobre o qual uma instituição


de ensino fundamenta suas práticas e objetivos educacionais. Ele não apenas
delineia as diretrizes pedagógicas, mas também expressa a identidade da escola,
seus valores, visão de futuro e compromisso com a formação integral dos alunos.
Segundo Veiga (1995) “o Projeto Político Pedagógico é mais do que um simples
documento; ele é o reflexo dos valores, princípios e objetivos que norteiam a prática
educativa de uma instituição de ensino.” Neste contexto, a análise crítica do PPP da
Escola E.E. Bispo Dom Gastão torna-se imperativa, pois revela não apenas a
eficácia das estratégias educacionais adotadas, mas também as áreas em que a
escola pode aprimorar sua atuação para garantir uma educação de qualidade e
inclusiva.
O PPP é mais do que um documento burocrático; é um manifesto que reflete
os ideais e propósitos da comunidade escolar. Ele funciona como um guia que
orienta a
prática pedagógica, proporcionando um norte para os educadores e demais
membros da equipe escolar. Portanto, uma análise cuidadosa do PPP não se limita
à verificação de sua conformidade com as normativas educacionais vigentes, mas
também busca compreender como ele traduz os princípios democráticos e inclusivos
da educação em ações concretas.

Na Escola E.E. Bispo Dom Gastão, o PPP é concebido como um instrumento


que visa não apenas transmitir informações burocráticas sobre a instituição, mas
também informar sobre questões pedagógicas utilizadas na escola. No entanto, ao
examinarmos mais de perto o conteúdo do PPP, surgem questões importantes que
demandam reflexão e ação por parte da comunidade escolar. Esta análise crítica se
propõe a explorar essas questões, destacando tanto os aspectos positivos quanto as
lacunas identificadas no PPP da Escola E.E. Bispo Dom Gastão. Ao fazê-lo, visa
contribuir para o aprimoramento do documento e, consequentemente, para a
melhoria da qualidade da educação oferecida pela escola. Afinal, o PPP não é
apenas um registro estático das intenções educacionais da escola, mas sim um
instrumento dinâmico que deve ser constantemente revisado e atualizado para
atender às necessidades em evolução dos alunos e da sociedade como um todo.

O PPP da Escola E.E. Bispo Dom Gastão apresenta-se como um plano de


ações que busca promover um ensino integrado e o desenvolvimento integral dos
alunos, visando sua inserção no mundo acadêmico e profissional. No entanto, uma
lacuna significativa observada é a ausência de um tópico específico dedicado à
educação especial. A falta de abordagem sobre estratégias de inclusão, atendimento
às necessidades específicas dos alunos com deficiência e a formação de
educadores especializados compromete a efetividade do PPP em garantir uma
educação de qualidade para todos.

Além disso, o número de educadores especiais mencionados no documento


(4) em relação à quantidade de alunos com necessidades especiais (13) sugere uma
defasagem na oferta de suporte especializado, o que pode impactar negativamente
o atendimento às demandas desses alunos e a promoção de uma educação
inclusiva. A falta de correspondência entre a demanda e a oferta de profissionais
especializados pode resultar em sobrecarga de trabalho para os educadores, além
de comprometer a qualidade do atendimento educacional oferecido aos alunos com
necessidades especiais. Outro aspecto relevante a ser considerado é a avaliação do
processo de ensino e aprendizagem, que, embora seja mencionada no PPP, carece
de detalhamento sobre como as avaliações institucionais são conduzidas e quais
medidas são adotadas com base nos resultados obtidos. Uma avaliação institucional
eficaz é fundamental para identificar fragilidades e potencialidades da escola, bem
como para subsidiar a elaboração de planos de ação voltados para a melhoria
contínua da qualidade educacional.

A gestão pedagógica delineada no PPP da Escola E.E. Bispo Dom Gastão


reflete um compromisso com a construção de um ambiente escolar colaborativo e
centrado no aluno. A abordagem adotada busca integrar todos os elementos
constitutivos da comunidade escolar, promovendo um ensino voltado para os
interesses dos alunos e fundamentado em diretrizes como os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), o
Projeto Ler e Escrever, o EMAI e as Expectativas de Aprendizagem. A
participação pedagógica é incentivada por meio de um sistema de comunicação
constante, que envolve pais, responsáveis, educadores e demais membros da
comunidade escolar, proporcionando oportunidades para contribuições, sugestões e
diálogo. As reuniões no início do ano, as bimestrais e as Assembleias Gerais são
citadas como momentos importantes de engajamento dos pais e responsáveis na
vida escolar dos alunos. Essas oportunidades de interação não apenas fortalecem a
parceria entre escola e família, mas também contribuem para o sucesso do coletivo
escolar. Além disso, a disponibilização de um horário para atendimento aos pais e
responsáveis, visando oferecer suporte em diversas áreas, demonstra um
compromisso com o acompanhamento integral dos alunos e o fortalecimento dos
laços entre escola e comunidade.

No que diz respeito ao papel do professor, o texto destaca a importância do


docente como mediador e estimulador do processo de aprendizagem. A busca por
atualização constante, aliada a uma atuação competente e responsável, cria um
ambiente propício ao desempenho dos educadores comprometidos com uma
educação pública de qualidade. A diversificação das atividades em sala de aula e a
oferta de ensino diferenciado a todos os alunos, independentemente de suas
características individuais, refletem um esforço em promover uma educação
inclusiva e equitativa. No que concerne à avaliação do ensino e da aprendizagem, o
PPP destaca a importância de uma abordagem que privilegie os aspectos
qualitativos sobre os quantitativos. A análise constante do conhecimento adquirido
pelos alunos, aliada à observação de suas atitudes e responsabilidades como
educandos, contribui para uma avaliação mais abrangente e contextualizada.

As reuniões de trabalho pedagógico colaborativo (ATPCs) são mencionadas


como espaços de formação contínua dos professores, nos quais os problemas
educacionais são discutidos em conjunto e soluções são buscadas de forma
colaborativa. A escola demonstra um compromisso com a melhoria dos resultados
educacionais, buscando o avanço dos alunos em seus conhecimentos e habilidades.
A análise dos rendimentos dos alunos em avaliações internas e externas, como o
SARESP, SAEB e outras avaliações diagnósticas, permite identificar lacunas e
planejar intervenções pedagógicas mais eficazes. A ênfase na formação contínua
dos professores e no trabalho colaborativo contribui para o desenvolvimento
profissional e para a promoção de uma cultura de melhoria contínua na escola.

Portanto, a análise crítica do Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola


E.E. Bispo Dom Gastão revelou aspectos tanto positivos quanto desafiadores da
gestão pedagógica e das práticas educacionais da instituição. Ao examinar
detalhadamente o PPP, foi possível observar um compromisso evidente com a
promoção de uma educação inclusiva, centrada no aluno e orientada para o
desenvolvimento integral dos estudantes. A gestão pedagógica descrita no PPP
reflete uma abordagem colaborativa e participativa, envolvendo todos os elementos
constitutivos da comunidade escolar. A valorização da participação dos
pais/responsáveis, a ênfase na formação contínua dos professores e a análise
constante dos resultados educacionais demonstram um esforço conjunto em prol do
sucesso dos alunos.

A diversificação das atividades em sala de aula e a oferta de ensino


diferenciado a todos os alunos refletem um compromisso com a promoção da
equidade e da inclusão. No entanto, a análise também destacou algumas lacunas e
áreas de oportunidade que merecem atenção. A ausência de um tópico específico
sobre educação especial no PPP evidencia a necessidade de uma abordagem mais
abrangente e inclusiva na promoção da educação inclusiva. Além disso, a
discrepância entre o número de educadores especiais e alunos com necessidades
especiais sugere a necessidade de uma avaliação mais detalhada das demandas e
recursos disponíveis para garantir o atendimento adequado a todos os alunos.

É importante ressaltar que o PPP é um documento dinâmico e em constante


evolução. Portanto, as lacunas identificadas podem ser oportunidades de
aprendizado e aprimoramento para a comunidade escolar. O diálogo aberto e a
colaboração entre todos os membros da comunidade escolar são essenciais para
identificar desafios, buscar soluções e promover uma educação de qualidade para
todos os alunos.

REFERÊNCIAS

LUCK, Heloísa Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Editora


Positivo, 2009.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto político-pedagógico da escola: uma


construção possível. Editora Papirus, 1995.

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. Escola Estadual Bispo Dom Gastão, São


Carlos – SP, 2021.

MUSSI, Ricardo Franklin de Freitas; FLORES, Fábio Fernandes; ALMEIDA, Claudio


Bispo de. Pressupostos para a elaboração de relato de experiência como
conhecimento científico. Práx. Educ., Vitória da Conquista , v. 17, n. 48, p. 60-77,
out. 2021 . Disponível em
<http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2178-267920210005000
60&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 mar. 2024. Epub 25-Nov-2021.
https://doi.org/10.22481/praxisedu.v17i48.9010.

Você também pode gostar