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USOS DA MEMÓRIA NA ESCOLA MUNICIPAL JOÃO BELO

EM JACOBINA-BA

Esse estudo está inserido no Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional


em Educação e Diversidade através da linha de Pesquisa Cultura Escolar, Docência e
Diversidade que se ocupa da formação profissional, da cultura escolar e da relação entre
universidade e escola básica, nesse sentido a presente pesquisa toma como objeto de
investigação os usos da memória no cotidiano escolar da Escola Municipal João Belo no
município de Jacobina.

Quando propomos nos debruçar sobre os usos da memória dentro do universo


escolar estamos pretendendo analisar os significados que a memória tem entre os
sujeitos da pesquisa, como elas são produzidas e preservadas, quem as estão produzindo
e em quais circunstâncias, como os sujeitos se expressam dentro de uma rede social
construída dentro da escola, que se configura enquanto campo de poder e disputas.

Muitas memórias são propagadas na escola, nas aulas de história principalmente.


Durante essas aulas tomamos conhecimento de muitas memórias, que foram
selecionadas para serem apresentadas dentro daquele componente curricular, muitas
vezes elas não fazem o menor sentido para o aluno e nem para a comunidade ao qual
aquela escola está inserida.

Ao adentrar no estudo sobre o ensino de história com o curso de licenciatura em


História no ano de 2007 e ao longo dos anos fui percebendo enquanto aluna e enquanto
professora da rede municipal de educação do município de Jacobina o quanto os alunos
detestavam a disciplina e não se reconheciam enquanto sujeito históricos construtores
de história. Sem conhecer sua história, a história da cidade, da comunidade, os alunos
não se interessavam pelas aulas e não davam a devida relevância à disciplina e parecia
que nada daquilo que era trabalhado em sala de aula contribuía para a identidade do
aluno e nem para sua postura critica e social diante da sua realidade. Isso fez surgir um
certo interesse de minha parte em procurar entender porque esses alunos se sentiam tão
distante e sem interesse pela disciplina ministrada em sala de aula.

Entretanto durante a graduação era muito exposto à crítica que se fazia ao


discurso positivista e elitista, principalmente no campo da historiografia onde as
minorias reivindicavam suas memórias que por muito tempo foram silenciadas. Mas,
atualmente dentro das nossas escolas em Jacobina, dentro da escola João Belo será que
esse discurso ainda permanece? Por que será que muitos alunos ainda não se identificam
com as memórias que são apresentadas durante as aulas de história? Será que as
memórias locais, a cultura local e a experiência dos alunos e suas memórias são trazidas
para debate em sala de aula?

São indagações que convergem para a problemática dessa pesquisa: Como está
sendo usada a memória na Escola Municipal João Belo durante as aulas de História?
Como essas memórias estão contribuindo para a construção da identidade e do
sentimento de pertença desses sujeitos?

Nesse sentido, o universo escolar é tratado como singular e os usos da memória


como particulares no intuito de buscar um maior aprofundamento no trato da memória
na escola, em especial nas aulas de história e nas relações cotidianas estabelecidas entre
os agentes que perpassam por esse espaço.

Esse trato individualizado é uma abordagem um tanto recente no campo de


investigação educacional e a falta desse tipo de pesquisa acabou construindo uma lacuna
nos estudos referente às diversidades culturais e a estudos mais intrínsecos. Baseada no
método de pesquisa estudo de caso a presente pesquisa procura estudar a memória com
um olhar particularizado. Explorando uma das qualidades do estudo de caso que é a
análise mais aprofundada de um determinado objeto de estudo.

Para tanto, buscaremos através de dispositivos de pesquisas como observações,


história oral e análise de fontes explorar, construir dados e fazer a análise sistemática
dos mesmos para apresentação dos resultados da pesquisa. E por fim elaborar
coletivamente um plano de ação para a construção de um centro de memória escolar,
que é o grande legado que essa pesquisa pretende deixar na Escola Municipal João
Belo.

Os elementos que constituem as culturas e as identidades, são cada vez mais


múltiplos e diversificados, devido aos anseios capitalistas que incitam uma busca pela
repetição criando uma cultura global. Essa gama de fatores fez com que o homem
moderno desenvolvesse uma insegurança em relação ao seu eu e o seu estar no mundo.

Essa insegurança, fez com que o homem buscasse na história e conseqüentemente


nas suas memórias respostas e elementos que tentassem suprir suas angustias e seus
medos frente a essa neutralidade humana advinda da globalização. Nesse sentido,
percebe-se nas últimas décadas certo “culto” à memória, uma busca por memórias tanto
individuais quanto coletivas que de certa maneira pudessem suprir um esvaziamento de
referências que o homem traz como conseqüência do mundo moderno.

As memórias são retroalimentadas, construídas, modificadas, passando por


procedimentos de seleção e se perpetuando, independente da nossa vontade. No entanto
é necessário estudar qual tratamento damos a essas memórias e quais interpretações do
passado estão sendo consolidadas e se transformando em memórias coletivas por um
determinado grupo social para servir de base na construção das identidades dos
indivíduos.

Nesse sentido o que impulsionou a proposta desse trabalho foi a necessidade de


saber como essas memórias coletivas estão sendo incluídas na relação de ensino-
aprendizagem na escola durante as aulas de história nas séries inicias do Ensino
Fundamental, em específico, na Escola Municipal João Belo na cidade de Jacobina –
Bahia.

O estudo da memória se justifica no sentido de entendermos que ela se configura


como elemento fundamental na construção da identidade individual ou de um grupo e se
mostra como um elo que liga pessoas, fator que colabora no reconhecimento dos
indivíduos enquanto cidadãos do um mundo, pertencente a um lugar e a uma cultura
local.
Escolhemos como lócus de pesquisa o espaço escolar porque percebemos a escola
como campo privilegiado, palco de múltiplas relações sociais e de socialização de
culturas, lugar de construção de conhecimento e de formação individual e coletiva. A
escola, portanto abarca em sua função social esse papel de socializar culturas e construir
conhecimentos na coletividade que são fundamentais para colaborar para os indivíduos
construírem suas identidades e agir de maneira crítica na sua realidade.

Frente a isso a memória garante assim a continuidade e a estabilidade de grupos


sociais, torna o passado presente capturando o tempo por meio de estratégias praticadas
por atores que o revivem. Aqui, eles são os alunos, professores e a comunidade local,
que dentro dos seus espaços de convívio estabelecem uma dinâmica especifica de
construir e tratar suas memórias individuais e coletivas, tornando assim essa pesquisa
um trabalho singular e com um olhar micro para uma realidade determinada para
desvelar como uma comunidade escolar insere suas memórias coletivas no cotidiano
escolar, como são trabalhadas na escola dentro da disciplina de história, e
conseqüentemente perceber que memórias fazem parte da sua construção de suas
identidades.

Sendo assim, esse trabalho poderá ser uma fonte de estudo e análise importante
para pesquisadores e estudiosos que se debruçam sobre a memória coletiva trabalhada
na escola nos primeiros anos do Ensino Fundamental, proporcionando assim uma
contribuição na discussão da relação entre ensino de história e memória.

Dentre alguns estudos que temos sobre essa relação estão os trabalhos da
professora Rosimar Serena Siqueira Esquinsani da UPF-RS, que discute Memória e
patrimônio Cultural pelo olhar da escola1, temos também os trabalhos de Carlos
Henrique Farias de Barros desenvolvidos na Universidade Salgado de Oliveira (PE)2,
Isabel Cristina Durli Menin e Eliana Merla da Universidade de Caxias do Sul -RS que
discutem memória cotidiana, o espaço da sala de aula e o fazer pedagógico no ensino de

1ESQUINSANI, Rosimar Serena Siqueira. Memória e patrimônio Cultural pelo olhar da escola: a leitura como
política e opção metodológica. História Unisinos, Passo Fundo, RS, V. 13, n.1, p.78-83, Jan/Abril. 2009.

2BARROS, Carlos Henrique Farias de. Ensino de História, Memória e História local. Criar Educação, Criciúma,
SC, V. 2, n. 2, p.1-23, Jun/Dez. 2013.
História3, temos também o trabalho de Regina Maria de Oliveira Ribeiro da Faculdade
de Educação da USP que aborda em seus estudos a relação entre representações do
passado, história e memória em sala de aula4.

Dentre os trabalhos que estão mais difundidos no Brasil podemos citar os


trabalhos de Ernesta Zamboni, Selva Guimarães Fonseca, Marcos Silva, Dea Fenelon,
Circe Bittencourt que em partes de seus estudos tratam da relação entre o ensino de
história e a memória.

Diante da bibliografia que existe, acreditamos que este trabalho poderá contribuir
com alguns desses estudiosos da área de educação e de história, mostrando que a
pesquisa estará inserida no contexto atual de discussão dos temas, sendo aplicável tanto
na área acadêmica, na social e na área profissional.

Enquanto professora do ensino fundamental da rede municipal de educação de


Jacobina, numa posição de cidadã jacobinense, professora, e estudante do curso de
Mestrado Profissional em Educação penso que os interesses que incitam essa pesquisa
são os de contribuir para uma educação de qualidade neste município, subsidiar estudos
e colaborar para discussões críticas e produtivas sobre o tema memória dentro da
unidade escolar onde será feita a pesquisa, que é a escola onde exerço minha profissão.
E, ainda, num movimento de troca de informações, levar o conhecimento produzido da
escola para a academia, em específico o curso de Licenciatura em História que funciona
a mais de 20 anos na Universidade do Estado da Bahia (Uneb) campus IV- Jacobina.

Esse trabalho tem a intenção de contribuir para o fomento da pesquisa no campo


da memória na sua relação com o ensino de história na cidade de Jacobina, desvelando
alguns aspectos que contribuem para a formação de uma memória coletiva baseada em
aspectos da cultura local devido aos poucos estudos que se tem feito tendo como base
essa temática e essa relação entre história e ensino.

3MENIN, Izabel Cristina Durli. Avós em experiências: a memória cotidiana, o espaço da sala de aula e o fazer
pedagógico no ensino de história. Lhiste, Porto Alegre, RS, V.2, n.3, p. 897-914, jul/dez. 2015.
MENIN, Izabel Cristina Durli. O ensino da História local: Historiografia, práticas metodológicas e memória
cotidiana na era das mídias interativas no município de Veranópolis.Caxias do Sul: UCS, 2015.

4
RIBEIRO, Regina Maria de. A “máquina do tempo” Representações do passado, história e memória na sala de
aula. São Paulo: USP, 2006.
De acordo com a pesquisadora Ana Maria Monteiro da UFRJ 5 essa é uma lacuna
que precisa ser superada, tanto no campo da educação quanto no campo da História.
Segundo a professora estudos no campo educacional ficam a desejar em pesquisas
voltadas para as disciplinas específicas e conceitos das mesmas, restringindo muitas das
suas pesquisas apenas para as técnicas de transmissão das disciplinas. Por outro lado, no
campo da história os trabalhos que são feitos sobre ensino muitas vezes faltam subsídios
para analisar os processos educativos.

Ainda como proposta de pesquisa, o presente trabalho procurará meios de


implantar de forma colaborativa, junto a comunidade escolar, um centro de memória
dentro da unidade escolar João Belo. Entendemos que após todo um estudo de campo e
a elaboração de um trabalho escrito, que contribuirá as várias demandas como acima
citado, se faz necessário deixar para aquela instituição no sentido de ajudá-los
efetivamente nas suas demandas em relação ao ensino de história e o trato da memória,
um centro de memória.

Construir um lugar de memória, em acordo com Pierre Nora, contemplando o


sentido pleno do termo. Material, simbólico e funcional. Um lugar fixo onde as
memórias das pessoas, que vivenciaram e vivenciam a escola, pudessem construir um
lugar. Um lugar para além da guarda, um lugar de discussão e questionamentos, de
criticas, de intervenção, de parceria. Um lugar onde a memória fosse transformada em
História. História da coletividade, da comunidade, capaz de promover a critica, a
discussão, a participação e a construção de outras histórias. Não um lugar de fruição
apenas, mas o lugar de todos e de todas as memórias, o lugar para estar e fazer. Espaço
de recordação, servindo de elemento de construção de identidade e de sentimento de
pertencimento daquelas pessoas, estreitando assim a relação entre as pessoas e o lugar.

5 MONTEIRO, Ana Maria. Ensino de história: entre história e memória. UFRRJ, Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/pesquisa-pratica-educacional/artigos/artigo1.pdf. Acesso em:
16 julho. 2016.
REFERÊNCIAS

BARROS, Carlos Henrique Farias de. Ensino de História, Memória e História local.
Criar Educação, Criciúma, SC, V. 2, n. 2, p.1-23, Jun/Dez. 2013.

ESQUINSANI, Rosimar Serena Siqueira. Memória e patrimônio Cultural pelo olhar da


escola: a leitura como política e opção metodológica. História Unisinos, Passo Fundo,
RS, V. 13, n.1, p.78-83, Jan/Abril. 2009.

MENIN, Izabel Cristina Durli. Avós em experiências: a memória cotidiana, o espaço da


sala de aula e o fazer pedagógico no ensino de história. Lhiste, Porto Alegre, RS, V.2,
n.3, p. 897-914, jul/dez. 2015.
MENIN, Izabel Cristina Durli. O ensino da História local: Historiografia, práticas
metodológicas e memória cotidiana na era das mídias interativas no município de
Veranópolis.Caxias do Sul: UCS, 2015.
MONTEIRO, Ana Maria. Ensino de história: entre história e memória. UFRRJ, Rio de
Janeiro. Disponível em:
http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/pesquisa-pratica-
educacional/artigos/artigo1.pdf. Acesso em: 16 julho. 2016.

RIBEIRO, Regina Maria de. A “máquina do tempo” Representações do passado,


história e memória na sala de aula. São Paulo: USP, 2006.

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