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REVISÃO

Criopr eser
Criopreser
eservvação de células-
pr
proogenitor as hema
enitoras topoéticas
hematopoéticas
Cryopreservation of hematopoietic progenitor cells

Gil Cunha De Santis1, Karen de Lima Prata2

RESUMO
O transplante autólogo de células-progenitoras hematopoéticas (CPH) requer, na maioria das vezes, a
sua criopreservação a fim de manter sua viabilidade até o momento da infusão, que pode se dar meses
ou anos depois da coleta. A criopreservação adequada das CPHs é feita ao submeter a suspensão
celular a velocidades lentas de congelamento (1 a 3ºC/minuto), e com o emprego de substâncias
chamadas crioprotetoras, sendo a mais usada o dimetilsulfóxido (Me2SO4), um agente coligativo que
diminui o conteúdo de água livre tanto no espaço intra como no extracelular. Portanto, este composto
diminui o tamanho e o número dos cristais de gelo. O descongelamento das CPHs é feito rapidamente.
A suspensão celular pode então ser infundida sem posterior manipulação ou ser submetida a lavagem
para remover o Me2SO4, restos celulares e hemoglobina livre, potencialmente tóxicos tanto para o paci-
ente quanto para as células.

Palavras-Chave: Células Progenitoras Hematopoéticas. Criopreservação. Transplante. Dimetil Sulfóxido.

Introdução para a sua viabilidade, como é frequente com o em-


prego de tanques convencionais. Também importante
A expansão do papel do transplante de células- foi a ampliação do conhecimento sobre o comporta-
progenitoras hematopoéticas em doenças hematoló- mento das CPHs submetidas ao congelamento, desde
gicas, neoplásicas e genéticas, e a propagação dos sua descrição inicial em 1955.1
serviços de transplante têm exigido melhoria na capa- As fontes clássicas de CPH são a medula ós-
citação dos serviços quanto à manipulação e à crio- sea (MO), o sangue de cordão umbilical e placen-
preservação destas células. São várias as inovações tário e o sangue periférico (SP) após a mobilização
tecnológicas que podem ser arroladas nos últimos anos, das células-progenitoras hematopoéticas. Aparente-
dentre elas o desenvolvimento de equipamentos como mente, as CPHs oriundas destas fontes apresentam o
o BioArchive, que permite armazenamento prolonga- mesmo comportamento à criopreservação. Todavia,
do de unidades de CPH (principalmente de sangue de seu cultivo ex vivo tem se tornado cada vez mais fre-
cordão umbilical e placentário - SCUP) sem expô-las quente, o que pode influir nesse comportamento, de
a variações de temperatura potencialmente deletérias modo a requerer protocolos específicos para a crio-

1. Médico Hematologista e Hemoterapeuta do Centro Regional Correspondência:


de Hemoterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Fundação Hemocentro de Ribeirao Preto. Rua Tenente Catão
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Roxo, 2501. Bairro Monte Alegre.
(CRH-HCFMRP-USP), Hemocentro de Ribeirão Preto. 14051-140 - Ribeirao Preto, SP - Brasil
Mestrado e Doutorado em Ciências Médicas na área de
Hematologia pela USP. Artigo recebido em 06/10/2008
2. Médica Hematologista e Hemoterapeuta do CRH-HCFMRP- Aprovado para publicação em 29/01/2009
USP, Hemocentro de Ribeirão Preto. Mestre em Ciências
Médicas na área de Hematologia pela USP.

Medicina (Ribeirão Preto) 2009;42(1): 36-47


Medicina (Ribeirão Preto) 2009; 42 (1): 36-47 De Santis GC, Prata KL. Criopreservação de
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preservação de cada um dos diferentes produtos de específicos quanto à sua estabilidade quando suspen-
CPH. 2 sas em meio anisotônico. A exposição das células a
Em geral, a criopreservação de CPH é consi- meio hipertônico que exceder os limites de sua tole-
derada obrigatória para transplantes autólogos e para rância pode provocar alterações da membrana celu-
os bancos de sangue de cordão umbilical e placentá- lar, particularmente no que diz respeito à permeabili-
rio (BSCUP), enquanto os transplantes alogênicos ge- dade, à integridade e à função. Cada tipo celular tam-
ralmente são realizados com a infusão a fresco das bém apresenta um limite distinto de resistência à ex-
CPHs, sem a sua criopreservação. Alguns serviços posição a meio hipotônico. Além das características
fazem transplantes autólogos com CPH não-criopre- do meio, também é importante a temperatura da sus-
servadas (ver abaixo). pensão celular, que pode retardar ou acelerar a movi-
mentação de água e eletrólitos entre a célula e o meio
Princípios da criopr eser
criopreser
eservvação de que a envolve.
A manutenção da viabilidade da célula sub-
células
metida ao processo de criopreservação depende basi-
O resfriamento de células a temperaturas pou- camente de sua capacidade de resistir a dois tipos de
co superiores a 0ºC reduz o seu metabolismo, mas não lesão: a desidratação e o dano mecânico decorrente
o abole, de modo que as células continuam a sofrer da formação de cristais de gelo no seu interior4 (Figu-
um processo de deterioração progressiva, apenas em ra 1). Em geral, estes dois tipos de lesão estão corre-
menor velocidade. Além disso, as vá-
rias vias metabólicas sofrem
heterogeneamente as consequências
das baixas temperaturas, o que, de
seu lado, é fator adicional para a per-
da da viabilidade das células expos-
tas a baixas temperaturas por muito
tempo. Os efeitos mais conhecidos
do resfriamento são a diminuição da
atividade da bomba de sódio, a mu-
dança de fase dos lipídios da mem-
brana (que pode interferir com a fun-
ção de enzimas) e a precipitação de
substâncias (que pode resultar em al-
teração da composição das soluções
e do seu pH). Adicionalmente, quan-
do o resfriamento se dá rapidamen-
te, pode ocorrer lesão e morte celu-
lar por mecanismos ainda mal esta- Figura 1: Tipos de lesão que podem ocorrer durante a criopreservação celular.
belecidos, um fenômeno denomina-
do “choque térmico”. Por isso, para
conservar células e tecidos por período prolongado, se lacionados à velocidade com que a suspensão celular
faz necessário congelá-los a temperaturas que inter- é congelada: o primeiro, em baixas velocidades, en-
rompam as vias metabólicas celulares. Contudo, o pro- quanto o segundo, em altas velocidades.
cesso de congelamento por si já implica riscos para a A formação de cristais de gelo requer pelo me-
manutenção da viabilidade celular. nos um evento inicial de nucleação, que depois aumenta
Os mecanismos precisos das lesões celulares progressivamente de tamanho por incorporação de mo-
pelo congelamento ainda são matéria de debate. Es- léculas de água livre e se expande por toda a solução
peculou-se inicialmente que estes mecanismos pode- ou suspensão celular na dependência da velocidade e
riam estar relacionados com o conteúdo celular de sais intensidade da queda de temperatura e da composição
ou as características de composição da membrana do soluto. O congelamento rápido resulta na formação
celular.3 Todos os tipos celulares apresentam limites de muitos pontos de nucleação, que surgem quase que

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simultaneamente, o que confere a cada cristal um ta- gou o glicerol para a preservação de espermatozóides
manho relativamente menor do que aquele que surge de aves.5 O glicerol se mostrou eficaz também para a
com velocidades mais baixas de congelamento. criopreservação de hemácias, plaquetas e vários tipos
Quando se trata de suspensão celular, em geral de células nucleadas. Esta molécula diminui a desna-
a nucleação de gelo ocorre primeiramente no espaço turação das proteínas expostas a baixas temperaturas
extracelular, principalmente em baixas velocidades de e é atóxica para as células, mesmo em altas concen-
congelamento. Os pontos iniciais de formação dos trações. Contudo, a sua penetração nas células ocor-
cristais de gelo recrutam moléculas de água e, de cer- re lentamente, o que constitui uma limitação em seu
ta forma, “expulsam” o soluto para as porções ainda emprego para a criopreservação de diversos tipos
líquidas da solução, que, por sua vez, têm o seu ponto celulares.
de congelamento progressivamente reduzido à medi- Dez anos depois do relato das propriedades
da que a concentração de soluto aumenta. A solução crioprotetoras do glicerol, Lovelock e Bishop demons-
mais concentrada (e com maior viscosidade) se loca- traram que a substância dimetilsulfóxido era eficaz na
liza mais próxima das células, que, expostas ao meio criopreservação de esperma bovino.6 O Me2SO é um
hipertônico, sofrem processo de desidratação. Em composto higroscópico polar, incolor e inodoro, usado
determinado momento, a concentração de solutos tor- pela indústria como solvente. Esta é uma substância
na-se tão alta que ocorre o fenômeno da vitrificação, de baixo peso molecular, composta por um grupo
quando então cessa todo movimento de água e, con- sulfóxido, que é hidrofílico, e dois grupos metila, que
sequentemente cessa o aumento do tamanho dos cris- são hidrofóbicos. O Me2SO é metabolizado em dimetil-
tais de gelo. Nos congelamentos realizados em alta sulfona e dimetil-sulfeto, eliminados por via renal e
velocidade pode ocorrer a formação de cristais de gelo exalado pelos pulmões, respectivamente. Sua meia-
concomitantemente nos espaços intracelular e extra- vida é de aproximadamente 20 horas. A dimetil-sulfona
celular. Dependendo do tamanho dos cristais, pode tem meia-vida de 72 horas e o dimetil-sulfeto é expi-
ocorrer lesão mecânica das organelas subcelulares e rado durante aproximadamente 24 horas, o que con-
da membrana celular. Idealmente, o processo de con- fere odor característico ao hálito do paciente.
gelamento deve evitar que ocorra a formação de cris- O Me2SO é o crioprotetor mais usado para a
tais de gelo no interior das células e induzir o processo criopreservação das CPHs, em geral nas concentra-
de vitrificação. ções entre 5 e 10%. A função deste agente parece ser
As maneiras de evitar esses dois tipos de lesão essencialmente coligativa, ou seja, de “captura” das
celular são basicamente duas: aplicar velocidade de moléculas de água livre, o que leva a redução da quan-
congelamento ideal para o tipo de célula em questão, tidade de gelo formada, diminuição da temperatura do
e empregar agentes crioprotetores que minimizem a ponto de congelamento e aumento do ponto de vitrifi-
formação de cristais de gelo e diminuam a intensidade cação. Esta substância penetra em tecidos e células
da desidratação celular (Tabela 1). numa velocidade maior que a do glicerol à temperatu-
ra ambiente, o que constitui vantagem apreciável. No
Tabela 1 entanto, nesta temperatura, o Me2SO é mais tóxico
Fatores a considerar durante processo de criopreser- que o glicerol, inclusive para as CPHs, o que motivou
vação de CPH a maioria dos serviços a estabelecer protocolos que
Volume do produto (necessidade de redução de volume) prevêem sua adição lenta à suspensão celular e início
do congelamento tão logo tenha terminada a adição.
Tipo de solução crioprotetora
Douay e colaboradores mostraram perda significativa
Concentração de células nucleadas de precursores de granulócitos e macrófagos após in-
Velocidade de congelamento cubação da suspensão celular com Me2SO.7 Entre-
tanto, estudos posteriores não confirmaram este acha-
Previsão de uso clínico (tipo de armazenagem)
do.8,9 No Centro Regional de Hemoterapia do Hospi-
tal das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Agentes crioprotetores Preto da Universidade de São Paulo (CRH-HCFMRP-
USP), foram analisadas unidades de sangue de cor-
A primeira vez em que um agente crioprotetor dão umbilical expostas ao Me2SO e mantidas por tem-
foi usado tem mais de meio século, quando se empre- pos progressivos a 4ºC e a 37º C.10 Foi observada pro-

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volveria o favorecimento da vitrificação do espaço ex-


tracelular e, por isso, em associação com um criopro-
tetor penetrante, reduziria a intensidade das lesões pro-
vocadas pela desidratação celular, e formaria uma ca-
mada em torno das células, o que as protegeria da
lesão mecânica pelos cristais de gelo formados no es-
paço extracelular. É possível que a utilização do HEA
permita aplicar à suspensão celular velocidade de con-
gelamento menos estrita. Em razão dessas proprieda-
des, este agente tem sido usado principalmente quan-
do do congelamento a temperatura não-programada,
como aquela feita em congelador mecânico a 80ºC
negativos. Problema potencial do emprego de políme-
ros como o HEA e a polivinil-pirrolidona são os possí-
veis danos à membrana celular, como demonstrado
com hemácias.12
Figura 2: Quantificação de unidades formadoras de colônias
granulócito-monócito (CFU-GM) de sangue de cordão umbilical e
Um protocolo alternativo ao uso de Me2SO a
placentário expostas ao Me 2 SO e incubadas por tempos 10% foi descrito por Stiff e colaboradores, que conse-
progressivos, a 37ºC. guiram bons resultados com a associação de Me2SO
a 5% com HEA a 6%.13 Entretanto, outros autores
gressiva perda da capacidade de formação de colôni- concluíram que associar o HEA ao Me2SO a 5% não
as de GM-CSF, principalmente à temperatura de 37º era imprescindível para uma boa recuperação de
C (Figura 2). Por isso, recomendamos iniciar
congelamento logo após a adição da solução Tabela 2
crioprotetora. Relação de alguns agentes crioprotetores
Como as células são relativamente sen-
síveis ao chamado estresse osmótico, a adi- Composto Representantes Peso molecular
ção e a remoção das soluções hipertônicas Sulfóxidos Dimetil-sulfóxido 78,13
que contêm os agentes crioprotetores deve
ser feita cuidadosamente, de modo a não ul- Alcoóis hidratados Metanol 32,04
trapassar sua tolerância osmótica. A exposi- Etanol 46,07
ção súbita das células a meios hipertônicos e,
posteriormente, isotônicos pode levá-las à rup- Dióis Etileno glicol 62,07
tura e à perda da viabilidade. Propileno glicol 76,09
Além do glicerol e do Me2SO, há ou-
Trióis Glicerol 92,09
tros agentes crioprotetores, como: propileno
glicol, acetato de trimetilamina, trehalose, Poliálcoois Manitol 182,17
hidroxetilamido (HEA) e outros (Tabela 2). Sorbitol
Particularmente importante dentre eles é o
HEA, usado também como expansor da vo- Monossacarídeos Glicose 180,16
lemia e como agente sedimentante de eritró- Xilose 150,13
citos, empregado para a separação de leucó-
citos, principalmente para a coleta de granu- Dissacarídeos Sacarose 342,30
lócitos.11 O HEA é uma macromolécula (há Lactose 360,31
apresentações comerciais com diferentes pe- Trealose 378,33
sos moleculares) que tem reduzido efeito os-
Polissacarídeos Dextrana 1-200 x 104
mótico para o seu peso molecular e que não
se difunde para o interior das células, sendo Hidroxietilamido
por isso denominado de crioprotetor não-pe- Heterocíclicos Polivinil-pirrolidona 3-36 x 104
netrante. Os mecanismos crioprotetores do
HEA não são plenamente conhecidos, mas en- Proteínas/peptídeos Albumina (soro) 66 x 103

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CPH.14, 15 Também foi demonstrado que a recupera- Quando a suspensão celular é exposta a tem-
ção da hematopoese em pacientes com mieloma múl- peraturas progressivamente mais baixas (velocidade
tiplo e linfoma submetidos a transplante autólogo com de 1-3ºC por minuto), notam-se as várias fases do con-
células congeladas com Me2SO a 5 ou 10%, sem o gelamento, que podem ser expressas na forma de uma
HEA, era idêntico, o que favoreceria a escolha da curva de temperatura da amostra (Figura 3). A pri-
menor dose deste crioprotetor.16 Concentrações infe- meira fase corresponde ao início do processo de con-
riores de Me2SO, como 3,5%, associadas a outros cri- gelamento, enquanto as células ainda se encontram
oprotetores (HEA) talvez possam ser utilizadas com em suspensão. Esta fase dura até que a suspensão
resultados aceitáveis.17 atinja temperatura inferior ao ponto de congelamento
(em geral, inferior a 10ºC negativos). Inicia-se então a
Velocidade de cong elamento
congelamento segunda fase, denominada de transição, na qual ocor-
re aumento súbito da temperatura da amostra até que
Foram desenvolvidos vários protocolos para o se atinja o ponto de congelamento, quando então ela
congelamento de produtos de CPH, que requerem o se mantém por alguns minutos. Esta é uma fase consi-
emprego de equipamentos que permitem o congela- derada crítica para a viabilidade das células e parece
mento a temperatura programada ou congeladores estar diretamente correlacionada com a morte celu-
mecânicos a 80ºC negativos. Depois de preparada, a lar.18 É neste momento que ocorre a liberação do ca-
bolsa com a suspensão celular é colocada entre duas lor de fusão, durante a transformação de fase líquida
placas metálicas a fim de que a velocidade de conge- em sólida. No diagrama ilustrativo do processo de con-
lamento seja igualmente distribuída em todo o seu vo- gelamento, esta fase aparece com um platô. A partir
lume. O conjunto bolsa/placas metálicas é então in- de então, inicia-se a terceira fase do processo, quando
troduzido preferencialmente em equipamento para a amostra já se encontra em estado sólido. Também
congelamento a velocidade programada. Alternativa- nesta fase, parece ser importante que a velocidade de
mente, como mencionado acima, ele pode ser coloca- congelamento seja relativamente lenta. Velocidades de
do em congelador mecânico a 80ºC negativos e pos- congelamento inferiores a 5ºC/minuto permitem uma
teriormente transferido a tanque de nitrogênio líquido maior recuperação de colônias CFU-GM quando com-
(L2N), ou então armazenado no próprio congelador a parada com velocidade superior a 10ºC.19
80ºC negativos, até o momento do uso. A velocidade
ideal de congelamento das CPHs é de 1 a 3ºC por
Concentração celular
minuto, velocidade atingida em unidades de CPH com
volumes de 100-150mL quando se usa congelador Os produtos de CPH em geral não são subme-
mecânico a 80ºC negativos. tidos a purificação antes de seu congelamento, de modo

A B

Figura 3: Curvas de temperatura durante a criopreservação da suspensão celular. A) Diagrama que exemplifica as diversas fases do
processo. B) Exemplo prático de uma curva de congelamento obtida em nosso serviço.

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que as CPHs se encontram misturadas com outras razão, sistemas fechados como aquele proporcionado
células obtidas por ocasião de sua coleta, e que po- pelo emprego do equipamento BioArchive, com seu
dem exercer influência sobre o processo de criopre- processo semi-automatizado de manuseio, podem tra-
servação. No entanto, unidades de SCUP e MO têm zer vantagens significativas quanto à manutenção da
costumeiramente o seu volume reduzido antes de sua viabilidade das CPHs. Contudo, sistema como este
criopreservação, principalmente à custa da remoção requer disponibilidade financeira muitas vezes acima
de hemácias e plasma, o que provoca aumento signi- das possibilidades da maioria dos serviços.
ficativo da concentração das células nucleadas. Em
contrapartida, o SP geralmente não é submetido a re- Descongelamento e infusão
dução de volume e a sua concentração de células
nucleadas é superior àquela observada nos dois pro- O descongelamento de um produto de CPH é
dutos mencionados anteriormente. É interessante para feito rapidamente, em geral em banho-maria durante
os serviços de criopreservação e para os pacientes alguns poucos minutos, até o desaparecimento visual
que as unidades de CPH tenham volume reduzido a dos cristais de gelo. A bolsa com as células deve ser
fim de economizar espaço nos tanques de armazena- envolta em protetor plástico e imersa em água aquecida
gem e de diminuir o volume de Me2SO infundido. a 37-40ºC. Para evitar maior risco de contaminação
Contudo, elevadas concentrações de células nucleadas por microrganismos eventualmente presentes na água
poderiam comprometer a viabilidade das CPHs pre- do banho-maria, pode-se tratá-la com antisséptico
sentes na unidade. Rowley e colaboradores observa- iodado, ou então proceder ao descongelamento a seco,
ram que produtos de CPH poderiam ser congelados que oferece recuperação semelhante ao método men-
com concentração celular tão elevadas quanto 3,7 x cionado acima.24
108/mL sem comprometimento de sua viabilidade, A infusão de CPHs criopreservadas tem sido
verificada após o descongelamento.20 Entretanto, é associada a reações adversas, em sua maioria leves e
possível que concentrações celulares mais elevadas de curta duração. Entretanto, reações mais graves
possam comprometer a recuperação das CPHs após foram relatadas. Essas reações são atribuídas à infu-
o descongelamento. Ainda não está definido o limite são de Me2SO, de restos celulares e ao conteúdo de
superior de concentração celular que seja aceitável. células não-mononucleares presente no produto.25 As
reações podem ser do tipo cardiovascular e não-car-
Ar maz
Armaz ena
mazena
enaggem diovascular. A maioria dos pacientes apresenta náu-
sea, calafrios, sensação desagradável em orofaringe
A armazenagem das CPHs visa manter a sua e, mais raramente, hipotensão, dispnéia e arritmias
viabilidade até o momento de sua administração, que cardíacas26; 27. O Me2SO pode induzir a liberação de
pode se dar meses ou mesmo anos após a coleta. A
temperatura de armazenagem deve, portanto, propor-
cionar bloqueio completo de todas as vias enzimáticas
das células, o que equivale dizer que deve ser tão bai-
xa quanto possível e certamente não superior a 80ºC
negativos. A medula óssea mantida a 196ºC negativos
apresenta melhor recuperação quando comparada a
sua armazenagem a 79ºC negativos.21 Por isso, a mai-
oria dos serviços tem armazenado unidades de CPH
em tanques de nitrogênio líquido, tanto na fase líquida
quanto na fase de vapor, o que permite adequada re-
cuperação das células mesmo uma década depois da
sua criopreservação.22, 23
É importante salientar que unidades armazena-
das em congeladores mecânicos ou na fase de vapor
do LN2 podem ser expostas a temperaturas mais ele-
Figura 4: Exemplo de uma unidade de células hematopoéticas de
vadas quando da abertura de sua tampa, que, se for sangue periférico criopreservada e acondicionada em estojo
frequente, pode ocasionar dano às células. Por esta metálico.

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histamina, o que explicaria a hipotensão e as reações Por causa das reações adversas acima menci-
anafiláticas que já foram associadas à sua infusão. onadas, a maioria dos serviços preconiza a adminis-
Há pelo menos dois relatos de casos de parada cardí- tração profilática de medicamentos, dentre os quais
aca atribuídas à infusão de produtos de CPH criopre- anti-histamínicos e corticosteróides, antieméticos e
servadas28;29. Também foram relatados hiperosmola- antipiréticos. Além disso, e para diminuir a toxicidade
lidade, elevação das aminotransferases, hemólise e potencial da hemoglobina livre, é recomendada hidra-
complicações neurológicas30,31. tação vigorosa no dia da infusão das células. Eventu-
A dose letal de Me2SO para 50% dos indivídu- almente, em casos especiais, quando houver alta pro-
os (DL50) é de 2,5 g/Kg para cães e de 11g/Kg para babilidade de ocorrência de sobrecarga volêmica (in-
macacos.32 A DL50 para humanos não é conhecida, fusão de medula óssea), pode ser necessário o uso de
mas recomenda-se que não ultrapasse 1 g/Kg/dia. diuréticos.
Eventualmente, pode-se fracionar as infusões em mais Um possível problema durante a infusão das
de um dia caso a dose de Me2SO seja considerada células é a formação de grumos, que podem obstruir o
elevada.33 As reações adversas associadas à infusão filtro e provocar a retenção e perda de parte das CPHs.
de sangue de cordão umbilical parecem ser menos Este fenômeno tem sido explicado como decorrente
frequentes, pois em geral o seu volume é reduzido, de da ruptura dos granulócitos durante o processo de
modo que a quantidade de Me2SO e de hemoglobina congelamento e descongelamento com a liberação de
livre seriam insuficientes para causar reações graves, DNA. Para evitar ou minimizar este risco, recomen-
mesmo levando-se em consideração o baixo peso do da-se a adição de solução de citrato de sódio à sus-
receptor, na maioria das vezes, crianças. pensão celular e a sua infusão relativamente rápida
Uma alternativa para a profilaxia das reações tão logo tenha ocorrido o descongelamento. A absten-
adversas pode ser a lavagem da suspensão celular, ção do uso de filtro (em geral de 170 µm) poderia
que visa remover a maior parte do Me2SO, da hemo- evitar a retenção de parte das células, entretanto, é
globina livre e dos restos celulares. Este procedimen- razoável supor que os grumos infundidos seriam dire-
to pode ser feito pelo emprego de técnicas semi-auto- cionados à circulação pulmonar e poderiam provocar
matizadas ou automatizadas com o auxílio de lavado- quadro de insuficiência respiratória ou contribuir para
ras de células34; 35; 36. No CRH-HCFMRP-USP, rea- o seu agravamento.
lizamos a lavagem (semi-automatizada) na minoria das
vezes, pois se trata de procedimento trabalhoso e re- Tabela 3
lativamente demorado (2-4 horas). O uso de lavado- Reações adversas à infusão de CPHs lavadas e não-
ras automáticas de células proporciona uma diminui- lavadas, dose de células CD34+/Kg infundidas e dia
ção significativa do tempo de processamento e do ma- da enxertia de neutrófilos, observados no CRH-
nuseio do produto, entretanto, resulta em maior dis- HCFMRP-USP.
pêndio de recursos financeiros, pois, além do equipa- Não-lavadas Lavadas
mento, requer o uso de kits descartáveis. De fato, (91) (19) p
temos observado no CRH-HCFMRP-USP uma re-
dução significativa da incidência das reações adver- Rubor facial 56 1 0,0022
sas imediatas, como por exemplo, náusea/vômitos, Náusea/ vômito 49 2 0,0222
eventuais naqueles que recebem unidades de CPH
Cólica 21 1 ns
lavadas e frequentes naqueles que recebem produtos
não-lavados. Também observamos redução da inci- Diarréia 6 0 ns
dência de complicações graves. No CRH-HCFMRP-
Dispnéia 5 1 ns
USP, dois pacientes desenvolveram insuficiência re-
nal aguda e um outro, encefalopatia transitória após a Cefaléia 10 0 ns
infusão de bolsas não-lavadas, enquanto nenhuma I.R.A. 2 0 ns
dessas complicações foi observada no grupo de paci-
entes que recebeu CPHs lavadas. Não foi observada Encefalopatia 1 0 ns
diferença entre a dose de células CD34+/Kg infundi- CD34 x 106/kg 4,63 3,63 ns
das ou dia da enxertia de neutrófilos entre os dois gru-
pos (Tabela 3). N500 10 11 ns

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A infusão de CPH deve ser feita através de tores desenvolveu infecção que pudesse ser atribuída
cateter implantado em veia central por duas razões ao inóculo.42 Por fim, artigo recente revelou contami-
básicas: garantir que as células de fato foram infundi- nação de 1,6% (119) de produtos de CPH, mas ape-
das no sistema circulatório (em veia periférica nem nas um dos receptores apresentou hemocultura posi-
sempre é possível ter certeza de que isso tenha ocor- tiva para o mesmo microrganismo isolado no inóculo.
rido) e evitar a dor e a flebite quando a infusão é feita A sobrevida dos receptores que receberam produtos
em veia periférica, pois a suspensão celular com contaminados não foi diferente daquela observada nos
Me2SO a 10% tem alta osmolaridade. As inconveni- pacientes em geral.43
ências de usar cateter central são: infecção e trombo-
se no lúmen do cateter, que podem ocorrer em até Criopr eser
Criopreser
eservvação de CPH em tr ans-
trans-
50% dos casos37 e acidentes decorrentes de sua im- plante alogênico
plantação. Uma alternativa seria o uso de cateter cen-
tral introduzido por veia periférica, o que poderia re- No caso de transplante alogênico, os serviços
duzir as complicações relacionadas à sua implanta- de transplante usam mais frequentemente CPHs não-
ção, como a hemorragia.38 criopreservadas que, na maioria das vezes, são infun-
didas no mesmo dia da coleta. Esta conduta se deve à
Contaminação dos produtos de CPH crença de que células não submetidas às potenciais
lesões decorrentes do processo de congelamento e
A contaminação da medula óssea, do sangue descongelamento, ofereceriam melhor e mais rápida.
de cordão umbilical ou do sangue periférico por mi- O uso de CPHs criopreservadas permite maior flexi-
crorganismos pode ocorrer durante a coleta, a mani- bilidade de programação da coleta e de sua infusão. A
pulação, a armazenagem, o descongelamento ou a in- infusão de CPHs congeladas tem sido mais frequente
fusão do produto. Em geral, o SP oferece menor risco em dois tipos de situação: quando se considera o doa-
que a MO e o SCUP, até por ser em geral menos dor não confiável, e se teme uma eventual recusa à
sujeito a manipulação. doação após início do condicionamento do receptor,
Os agentes infecciosos mais frequentemente ou por razões logísticas, relacionadas tanto ao doador
isolados das culturas são da flora cutânea normal, como quanto ao receptor, como a disponibilidade de compa-
Staphylococcus coagulase-negativos e Propionibac- recimento do doador, o local de moradia, os meios de
terium acnes.39 Microrganismos potencialmente pa- transporte disponíveis e dentre outros.
togênicos, como o Staphylococcus aureus, e outros Além destas considerações, devem-se levar em
menos frequentes (ex. actinomiceto) também podem conta as possíveis diferenças biológicas entre os trans-
ser encontrados.40 plantes com CPH criopreservadas e “frescas”. Por
Na maioria das vezes, o produto pode ser in- exemplo, não se sabe ainda se há diferença quanto à
fundido sem cuidados especiais, na dependência do composição celular entre produto criopreservado e
tipo de microrganismo contaminante, das condições não-criopreservado. Também não foram identificadas
do paciente e da falta de opções alternativas de trata- diferenças significativas quanto à qualidade da enxer-
mento para a doença de base. Caso o risco de sepse tia e à incidência e gravidade da doença do enxerto-
seja considerado elevado, pode ser útil a administra- contra-hospedeiro (DECH). São poucos os trabalhos
ção profilática de antibióticos aos quais o microrga- que comparam os resultados clínicos entre grupos de
nismo seja sensível. Kelly e colaboradores observa- pacientes transplantados com CPHs criopreservadas
ram apenas 1,0% (15) de contaminação em 1.502 pro- e não-criopreservadas. Shinkoda e colaboradores des-
dutos de CPH (MO e SP), dos quais 11 eram cocos creveram o caso de dois irmãos, gêmeos univitelinos,
Gram-positivos, 2 bacilos Gram-positivos e 2 bacilos que tiveram leucemia mielóide aguda com a diferença
Gram-negativos. Treze pacientes foram transplanta- de 1 mês e ambos foram submetidos a transplante de
dos com produtos contaminados, mas em apenas um CPHs provenientes de outro irmão HLA-idêntico,
caso atribuiu-se a bacteremia por Staphylococcus entretanto, um deles recebeu células frescas, e o ou-
epidermidis à inoculação pelo produto de CPH.41 tro, células criopreservadas. Não foi observada dife-
Outros autores encontraram resultados semelhantes: rença quanto ao tempo de recuperação hematológica
37 de 3.078 (1,2%) produtos de CPH contaminados ou quanto à gravidade da DECH.44 Como sugere o
por bactéria (86,5% com Staphylococcus coagulase- relato de casos mencionado acima, parece não haver
negativos) foram infundidos, mas nenhum dos recep- diferença quanto à recuperação hematológica e à

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sobrevida. Contudo, Eckardt e colaboradores mostra- transplantados de CPH com DECH grave51. São pou-
ram que o grupo submetido a transplante com CPHs cos os estudos sobre a criopreservação desse tipo de
criopreservadas apresentou menor incidência de célula, mas, aparentemente, seu comportamento não
DECH .45 Outros autores não confirmaram este acha- difere daquele das CPHs, de modo que as CTMs po-
do. Stockschlader e colaboradores compararam os re- dem ser adequadamente congeladas com o emprego
sultados obtidos com o transplante de medula óssea do Me2SO, em geral a 10%, e manter sua capacidade
realizado em 80 pacientes subdivididos em dois gru- de profileração e diferenciação.52
pos de igual tamanho amostral, sendo que um deles As CEs têm o potencial de proliferar indefi-
recebeu MO criopreservada e ou outro MO não- nidamente em cultura e podem se diferenciar em qual-
criopreservada. O agente crioprotetor foi o Me2SO quer tipo celular. Estas características tornam estas
(concentração a 10%) e o congelamento foi feito a células particularmente atraentes para uso em medi-
temperatura programada. O tempo de armazenagem cina regenerativa, o que pode se tornar uma realidade
teve a mediana de 17,5 dias (3-455). Os autores não nos próximos anos. Diferentemente das CTMs, as
observaram diferença quanto à recuperação hemato- CEs são muito mais frágeis e sofrem danos durante o
lógica, à sobrevida no dia +100 ou quanto à incidência processo de congelamento e descongelamento quan-
e gravidade da DECH.46 do empregados os protocolos em vigor para outros
Pacientes transplantados com medula óssea tipos de células nucleadas, o que torna sua recupera-
criopreservada apresentam maior incidência de rea- ção inferior àquela observada com as CTMs e CPHs.53
ções adversas imediatas à infusão, como: náusea e Além disso, as CEs também parecem sofrer certo grau
vômitos, febre e calafrios, quando comparados com de diferenciação induzido pelo processo de criopre-
pacientes transplantados com medula óssea fresca. servação. Acredita-se que a principal causa da morte
Estes sintomas foram em geral de curta duração e das CEs seja a formação de cristais de gelo no
não relacionados a sequelas.47 Outra complicação mais citoplasma durante o processo de congelamento, o que
comum com o uso de medula óssea criopreservada é poderia ser evitado pelo emprego do método da vitrifi-
o maior risco de contaminação bacteriana, provavel- cação.54 Em conclusão, os protocolos de criopreser-
mente pela maior manipulação do produto.48 Entre- vação desse tipo celular ainda não estão bem estabe-
tanto, como afirmado anteriormente, acredita-se que, lecidos.
na maioria dos casos, a contaminação não tenha re-
percussão clínica.49
Outro fator que deve ser levado em considera-
Transplante de CPHs não-criopreser
eser--
não-criopreser
ção no contexto do transplante alogênico é a compati- vadas
bilidade ABO entre doador e receptor. É razoável su- Como a maioria dos regimes de condicionamen-
por que a incompatibilidade ABO maior possa acres- to requer vários dias para se completar (ex. 6 dias
cer risco para o paciente, particularmente quanto ao para o BEAM), a criopreservação das CPHs é consi-
comprometimento da função renal, mesmo levando- derada necessária para manter a sua viabilidade celu-
se em consideração o pequeno volume de hemácias lar até o momento de sua infusão. Entretanto, as CPHs
no produto de CPH obtido por aférese. Evidentemen- podem aparentemente ser armazenadas de maneira
te, quando se tratar de grandes volumes, como ocorre adequada, em suspensão, por até 9 dias à temperatu-
em transplante de células coletadas da MO, é conve- ra de 4ºC,55 principalmente se conservadas em meio
niente reduzir volume de hemácias e, eventualmente, de cultura.56 Em geral, a maioria dos serviços inicia o
lavar a suspensão celular para remover o Me2SO. processo de criopreservação das CPHs em até 48-72
horas de sua coleta. Contudo, alguns serviços optam
Criopr eser
Criopreser
eservvação de células mesen- por realizar transplante autólogo sem submeter as cé-
quimais estromais multipotentes lulas ao processo de criopreservação, uma vez que as
(CTM) e células-tronco embrioná- CPHs conservam a sua viabilidade à temperatura de
rias (CE) geladeira por alguns dias. Esta opção tem como obje-
tivo reduzir os custos do transplante e, desta forma,
As células mesenquimais estromais multipoten- viabilizar a sua implementação. As vantagens do uso
tes50 têm sido usadas clinicamente para reparar teci- de CPHs não-criopreservadas encontram-se enume-
dos e órgãos ou como agente imunossupressor em radas na Tabela 4.

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Tabela 4 identificado por meio de um rótulo (mas sem os no-


Vantagens do uso de CPHs não-criopreservadas mes do doador ou do receptor), além de aviso eviden-
Redução de custos te que proíba a sua irradiação.
Logística simplificada
Menor manipulação do produto celular Controle de qualidade
Menor necessidade de treinamento de recursos humanos O controle de qualidade dos produtos de CPH
Menor incidência e gravidade das reações à infusão não é padronizado e depende das características do
Maior facilidade de transporte e conservação serviço que os processa, das características e origem
Ausência de exposição das células ao Me2SO dos produtos, assim como das necessidades do recep-
tor. Em geral, deve-se medir o volume do produto, seu
conteúdo de células nucleadas e de CPH (em geral,
definido pela contagem de células CD34+). Também
O transplante de CPHs não-criopreservadas é importante realizar testes de esterilidade, mesmo que
tem sido mais frequente em pacientes com mieloma a unidade de CPH venha a ser infundida antes da ob-
múltiplo, pois, nesta doença, a droga mais usada para tenção de seu resultado, como costuma ocorrer com
o condicionamento é o melfalan, cuja meia-vida é cur- o transplante de MO, em geral feito no mesmo dia da
ta e se torna indetectável no plasma 6 horas após a coleta. Ensaios clonogênicos também podem ser rea-
sua administração. No entanto, pacientes com linfoma, lizados com o objetivo de avaliar a capacidade funcio-
leucemia aguda e tumores sólidos também já foram nal das CPHs, entretanto, estes testes são demorados
submetidos a transplantes bem-sucedidos com CPHs (podem requerer várias semanas de incubação), tra-
não-criopreservadas.57 balhosos e até certo ponto subjetivos, e por isso, de-
vem idealmente ser feitos sempre no mesmo labora-
Identificação do produto tório e de preferência pelas mesmas pessoas.
Pode-se ainda realizar testes para avaliar a
O erro de identificação do produto ou do re- viabilidade das células, tanto pelo emprego de mé-
ceptor pode ter consequências catastróficas para este todo que requer uso de citômetro de fluxo quanto pelo
último, de maneira que a sua prevenção deve ser ob- teste de exclusão de corante como o azul de Tripan.
jeto de padronização e treinamento periódicos. Este último é um método barato e de rápida aplica-
Para todo encaminhamento de CPH para trans- ção. As células viáveis são capazes de excluir o
plante deve haver solicitação escrita, na qual devem corante, enquanto as células não-viáveis aparecem
constar informações que garantam a correta identifi- coradas de azul. Sua principal desvantagem é a im-
cação do receptor e do doador (no caso de transplan- possibilidade de diferenciar as células mononucleares
te alogênico), o tipo produto a transplantar (CPH-SP, entre si, o que impede a definição exata do número de
CPH-MO, CPH-SCUP etc), a dose de células a in- CPHs viáveis. Em contrapartida, a avaliação da via-
fundir, o peso do receptor, a tipificação ABO e Rh do bilidade celular por citometria de fluxo, oferece a pos-
doador e do receptor e a eventual necessidade de la- sibilidade de quantificá-la especificamente na célula
vagem da suspensão celular. de interesse. As desvantagens do emprego deste mé-
Para ser transportado, o produto de CPH deve todo são decorrentes de seus custos mais elevados e
ser acondicionado em recipiente rígido e próprio para da necessidade de dispor de pessoal intensivamente
tal finalidade. Este recipiente deve ser externamente treinado.

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ABSTRACT
Autologous transplantation of hematopoietic progenitor cells requires most of the times the cryopreser-
vation of the hematopoietic progenitor cells (HPC) to maintain their viability until the infusion, which can
occur months to years after their collection. Adequate cryopreservation of HPC is realized by submitting
the cells to slow freezing velocity (1-3°C/minute) and by employing cryoprotectant agents like the dimeth-
ylsulphoxide (Me2SO4), the most used, a colligative agent that reduces the free water content into the
cellules and in the extracellular medium. As a consequence, this compound reduces the size and number
of ice. The thawing of HPC is done rapidly. The cell suspension can then be infused unmanipulated or
washed to remove Me2SO4, cellular debris and free hemoglobin, potentially toxic both to patients and to
cells.

keywords: Progenitor Cells, Hematopoietic. Cryopreservation. Transplantation. Dimethyl Sulfoxide.

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