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TUTORIA UCXII – CENÁRIO 7 TESTES PRÉ-FUSIONAIS

HEMOCOMPONENTES E HEMODERIVADOS As amostras para exames pré-transfusionais


devem ser colhidas em tubos secos sem
INTRODUÇÃO anticoagulante, mas com aditivos (tampa vermelha
Os componentes sanguíneos compreendem os ou de borracha) com 10 mL de sangue.
produtos finais produzidos a partir do sangue Os testes pré-transfusionais realizados na
total. amostra de sangue do paciente incluem
O sangue total (400 a 500 mL) é coletado em obrigatoriamente segundo a legislação: a
bolsas plásticas, em presença de solução) tipagem ABO e Rh(D), a Pesquisa de anticorpos
contendo anticoagulante e aditivos para Irregulares (PAI), a Prova de compatibilidade
preservar a função das hemácias. (PC) e a redeterminação da tipagem ABO e
Rh(D) da bolsa / doador. E estes demoram em
Observação: A sobrevida das hemácias média 40 minutos.
armazenadas depende do tipo de solução
preservante utilizada, sendo 21 dias no CPD, 35 TIPAGEM ABO E Rh(D)
dias no CPDA-1 e 42 dias em ADSOL. Os antígenos eritrocitários de grupos
O sangue total (ST) é, na sequência, sanguíneos são estruturas macromoleculares
centrifugado (processo físico) para originar os localizadas na superfície extracelular da
componentes sanguíneos. membrana eritrocitária, herdadas geneticamente
e definidas por sequências de aminoácidos
Cada unidade de ST fracionado pode produzir específicas (antígenos proteicos) ou por
cinco hemocomponentes diferentes. Três carboidratos ligados a essas proteínas ou lipídios.
componentes são os mais frequentemente
produzidos: Concentrado de hemácias (CH), Mais de 352 antígenos são conhecidos e estão
Concentrado de plaquetas (CP) e Plasma organizados em 36 sistemas de grupos
fresco congelado (PFC). sanguíneos reconhecidos pela Sociedade
Internacional de Transfusão Sanguínea (ISBT).
• O PFC pode ser subsequentemente
processado para originar o crioprecipitado e O conhecimento a respeito desses antígenos é de
o plasma isento de crio (plasma fundamental importância na medicina
sobrenadante do crio, plasma comum etc.). transfusional, pela possibilidade de
aloimunização (formação de anticorpos
• O PFC também pode ser remetido para a
indústria de processamento de plasma para quando há exposição do indivíduo a antígenos
não próprios) e consequente formação de um
produção dos derivados do plasma. Esse
quadro hemolítico.
processo envolve a formação de lotes que são
submetidos a processos industriais para O sistema ABO foi o primeiro a ser descrito e é
purificação das principais proteínas até hoje considerado o mais importante na
plasmáticas que possuem demanda prática transfusional. Os antígenos ABO não
terapêutica: albumina, imunoglobulinas e estão restritos apenas à membrana dos eritrócitos,
fatores de coagulação. podendo ser encontrados também em grande
Observação: No passado, os derivados variedade de células como linfócitos, plaquetas,
plasmáticos foram responsáveis pela transmissão medula óssea, células sinusoidais do baço,
de agentes infecciosos, como as hepatites e o HIV, endotélio capilar venular e arterial, mucosa
para uma elevada porcentagem de receptores. gástrica, além de secreções e outros fluidos como
Atualmente, os produtos industriais oriundos do saliva, urina e leite. Por isso são considerados
plasma recebem tratamentos específicos e antígenos de histocompatibilidade.
comprovadamente eficazes para inativação ou
redução dos patógenos porventura presentes, que
incluem pasteurização, filtração, microfiltração e
tratamentos com solventes/detergentes,
psoralenos, azul de metileno, riboflavina e/ou luz
ultravioleta.

Outros produtos sanguíneos incluem o sangue


de cordão umbilical e as células progenitoras
do sangue periférico que se destinam ao
tratamento de doenças onco-hematológicas,
nas quais é feita a ablação da medula óssea do
receptor.
O segundo sistema dos grupos sanguíneos de presença de anticorpo classe IgM reativo e/ou
importância clínica é o sistema Rh, cuja história anticorpo classe IgG.
começou com a descrição da doença hemolítica
perinatal (DHPN). O sistema Rh é o mais Anticorpos de classe IgM são considerados de
complexo do homem e o alvo mais frequente de importância transfusional quando reagem a partir
aloimunizações produzidas por transfusões ou de 30°C, devendo-se nestes casos, selecionar
por gestação. O sistema Rh é o mais polimórfico sangue antígeno negativo para a transfusão.
e imunogênico de todos os sistemas de grupos
sanguíneos. Os antígenos Rh são
exclusivamente eritrocitários. As hemácias Rh
positivo e Rh negativo referem-se à presença ou
ausência do antígeno D.

PESQUISA DE ANTICORPOS IRREGULARES


(PAI)

Anticorpos irregulares - são todos os anticorpos


anti-eritrocitários encontrados no soro ou
plasma, que não sejam de ocorrência natural
(anti-A e anti-B). A imunização a antígenos
“estranhos” pode ser resultado de gravidez e/ou
transfusão de sangue anterior e eventualmente,
a causa da imunização pode não ser identificada.

Este teste pode ser usado para pesquisar


eritrócitos compatíveis para transfusão, na
avaliação pré-natal, na avaliação da Doença
Hemolítica Peri-Natal (DHPN), na avaliação de SANGUE TOTAL E HEMOCOMPONENTES:
alguns processos patológicos, na resolução de DESCRIÇÃO E INDICAÇÕES
problemas de reações transfusionais e nos testes
de triagem de doadores. O processamento do ST deve ocorrer em sistema
fechado de bolsas, resultando na produção de
Dentre os anticorpos irregulares temos os hemocomponentes que poderão ser submetidos a
clinicamente significativos que são reativos modificações (leucorredução, irradiação, lavagem
geralmente in vitro a 37°C e/ou em fase de etc.) e visando manter um arsenal hemoterápico
antiglobulina e levam a um encurtamento da que atenda às necessidades específicas dos
sobrevida eritrocitária de hemácias transfundidas. pacientes.
PROVA DE COMPATIBILIDADE (PC) CONCENTRADO DE HEMÁCIAS (CH)
É um teste que tem como finalidade garantir que Características: uma unidade de CH é obtida de
os eritrócitos transfundidos tenham uma uma unidade de ST após fracionamento ou, mais
sobrevida aceitável, e que não haja destruição raramente, por aférese. Seu volume é de
significativa das próprias hemácias do aproximadamente 250-300 mL, seu hematócrito
receptor. A prova de compatibilidade deve ser deve ser inferior a 80% (65-75%), resultando em
realizada sempre que o paciente for usar conteúdo de hemoglobina, ou 55-65%, no caso de
concentrados de hemácias. acréscimo de solução aditiva (por exemplo,
ADSOL). Portanto, além das hemácias, há
É necessário se fazer uma prova de
pequeno volume de plasma e de solução
compatibilidade para cada bolsa de sangue que
anticoagulante/preservante. As unidades de CH
ele for utilizar.
devem ser armazenadas em refrigerador à
No resultado se observado a ausência de temperatura de 4±2°C, por até 35 (CPDA-1) ou 42
aglutinação em todas as etapas do teste indicando dias (solução aditiva). Esse produto não contém
ausência de anticorpos irregulares contra granulócitos ou plaquetas viáveis e a massa
antígenos presentes nas hemácias da unidade eritrocitária é igual àquela contida na unidade
transfundida. de sangue total da qual o CH foi obtido.

A presença de aglutinação após incubação em Indicações:


temperatura ambiente indica presença de
(1) Aumentar rapidamente a capacidade de
anticorpos classe IgM, cujo antígeno
transporte de oxigênio em pacientes com
correspondente está presente na unidade de
diminuição da massa de hemoglobina,
hemácias. A presença de aglutinação após
como acontece, por exemplo, na anemia com
incubação em temperaturas de 37°C indica
repercussão hemodinâmica em indivíduos particularmente em indivíduos idosos, crianças,
normovolêmicos; e em pacientes com cardiopatas e renais crônicos.
sintomas anêmicos significativos ou com
comorbidades que requeiram níveis mais CONCENTRADO DE HEMÁCIAS LAVADO (CHL)
elevados de hemoglobina, como, por Características: é o CH lavado e ressuspenso
exemplo, na doença coronariana obstrutiva, com solução salina estéril. O volume final é de
e na DPOC; aproximadamente 200 mL, o hematócrito entre 50-
(2) Nas anemias crônicas, os mecanismos 75% e a hemoglobina mínima de 40 g/unidade. A
compensatórios são acionados, sendo lavagem remove a maior parte do plasma e dos
fundamental tratar a etiologia da anemia leucócitos, das plaquetas e dos grumos
(reposição na deficiência nutricional de ferro, celulares. O conteúdo de proteínas do
controle da hemólise imune, uso da sobrenadante final deve ser inferior a 0,5
eritropoietina na anemia hipoproliferativa g/unidade. Sua validade, após a lavagem, é de
secundária à quimioterapia e à insuficiência 24 horas, pois a abertura do sistema significa risco
renal crônica-IRC); não se descartando, aumentado para a contaminação bacteriana, além
entretanto, a possibilidade de haver de remover a solução preservante.
necessidade de transfusão de concentrado
de hemácias se os sintomas se tornarem Indicações:
proeminentes, exigindo reversão rápida da
(1) A Principal indicação de uso do CHL é
anemia;
aumentar a capacidade de transporte de
(3) Consiste na base do tratamento de
oxigênio em pacientes que apresentaram
pacientes com talassemia maior,
reação alérgica grave ou recorrente,
independentemente de sintomas anêmicos, e
associada à transfusão;
faz parte de protocolos específicos na
(2) Pacientes com anticorpos contra proteínas
anemia falciforme em situações não
do plasma, especialmente anti-IgA;
necessariamente relacionadas com
(3) Paciente deficientes de IgA;
deficiência de liberação de oxigênio, e é muito
(4) Presença de anticorpos maternos (anti-HPA-
indicada em onco-hematologia;
1).
(4) Os pacientes com hemorragia aguda, além
(5) Alguns autores também recomendam seu uso
de não terem ainda seus mecanismos
em transfusão intrauterina e em neonatos, no
compensatórios ativados, estão
caso de não haver disponibilidade de CH com
hipovolêmicos, com disfunção orgânica e com
menos de 5-7 dias, a despeito de seus
sintomas de anemia que precisam ser
benefícios nessas situações não terem sido
distinguidos dos sintomas de hipovolemia. As
comprovados.
primeiras medidas instituídas nesses
casos envolvem a reposição da volemia, Observação: A lavagem do CH já foi recomendada
com coloides e cristaloides, e a reposição de para prevenir a reação febril não hemolítica
procoagulantes, quando necessário. Com o (RFNH), pois é capaz de reduzir um pouco o
restabelecimento rápido da volemia, pode- número de leucócitos (reduz a 107/unidade) e as
se avaliar a extensão da perda; e a citocinas do hemocomponente. Atualmente,
transfusão de CH está recomendada em entretanto, a utilização de filtros leucorredutores
perdas volêmicas superiores a 25-30% da tem ocupado o lugar da lavagem na prevenção de
volemia. RFNH, em razão de sua maior eficiência e
praticidade.
Observação: É importante enfatizar que não há um
nível de hemoglobina abaixo do qual a transfusão Dose: uma unidade de CH lavado eleva a
de CH estaria automaticamente indicada. Como hemoglobina em aproximadamente 1 g/dL em
regra geral, pacientes com concentração de Hb indivíduos adultos.
acima de 9- 10 g/dL não requerem a transfusão de
CH, enquanto, com concentração de Hb abaixo de Contraindicações/riscos: são os mesmos do
6-7 g/dL, geralmente a transfusão está indicada. concentrado de hemácias.
No intervalo 6-10 g/dL, a indicação da transfusão
CONCENTRADO DE PLAQUETAS (CP)
de CH depende de criteriosa avaliação clínica.
Características: o concentrado de plaquetas (CP)
Dose: Em caso de indivíduo adulto, a transfusão
é obtido por centrifugação do sangue total (do
de uma unidade de CH eleva a concentração de
plasma rico em plaquetas ou da camada
hemoglobina em cerca de 1g/dL (ou em 3% o
leucoplaquetária) ou por aférese de um único
hematócrito).
doador. O CP obtido de sangue total deve conter
Contraindicações: anemias carenciais, sem pelo menos 5,5x1010 plaquetas, e seu volume é
repercussão hemodinâmica. A transfusão de CH de 40-70 mL, aproximadamente. O CP obtido por
pode provocar sobrecarga volêmica, aférese deve conter número superior a 3,0x1011
plaquetas, o que corresponde a 6-8 unidades outro tipo de intervenção (por exemplo,
de CP convencionais, usualmente em volume de esplenectomia, corticoterapia, plasmaférese
200-300 mL. A armazenagem do CP é feita à terapêutica etc.). É recomendável avaliar a
temperatura ambiente (22±2°C), em leve eficiência de toda transfusão de plaquetas,
agitação horizontal contínua, o que o torna mais especial mente em pacientes com transfusões
vulnerável à proliferação de bactérias. A validade repetidas de CP ou, se durante ou logo após a
é de até cinco dias, dependendo do tipo de transfusão, o paciente apresentar reação febril,
plástico da bolsa coletora. Uma pequena com ou sem calafrios ou calafrios sem febre
quantidade de hemácias está presente nos CP, e/ou referir mal-estar. Para tal, deve-se realizar
particularmente naqueles obtidos de ST e, em a contagem plaquetária após a transfusão, em
escala muito menor, também naqueles obtidos por amostra coletada 15 a 60 minutos e 24 horas
aférese. Por essa razão, embora as plaquetas não depois do término da infusão do CP. A aplicação
expressem antígenos Rh e a maioria dos pacientes da fórmula abaixo (Incremento Corrigido de
que recebem transfusão de plaquetas são Plaquetas) permite avaliar adequadamente o
bastante imunossuprimidos e incomumente façam rendimento da transfusão de CP:
resposta primária ao antígeno D, deve-se evitar a
transfusão de CP RhD-positivo em indivíduos
RhD-negativos, sobretudo em pacientes do sexo
feminino com idade inferior a 45 anos.
Diz-se que a transfusão foi eficaz quando o ICP
Indicações: (Incremento Corrigido de Plaquetas), obtido após
(1) A principal indicação clínica para a transfusão 15-60 minutos e 18-24 horas da transfusão, for
de plaquetas é o controle de sangramento superior a 7.500-10.000/µL e a 4.500/ µL,
secundário à plaquetopenia, por diminuição respectivamente. Valores inferiores sugerem
da produção na medula óssea; refratariedade.
(2) Também pode ser indicada nas ATENÇÃO: A escolha do CP para transfusão
plaquetopatias, a depender do estado clínico deve respeitar a compatibilidade ABO sempre
e da necessidade de procedimentos invasivos. que possível, uma vez que:
(3) A transfusão profilática de plaquetas pode
ser indicada para pacientes com contagens (1) Incompatibilidade ABO maior (receptor com
plaquetárias inferiores a 10.000-20.000/µL, isoaglutinina anti-A/B contra antígenos do
ou inferiores a 30.000-50.000/µL antes de doador) pode resultar em recuperação
procedimento invasivo, almejando-se plaquetária pós-transfusional diminuída (as
contagem de plaquetas em torno de plaquetas contêm antígenos do sistema ABO).
50.000/µL. A recuperação plaquetária piora se são feitas
repetidas transfusões ABO incompatíveis, pois
Dose: é determinada pelo diagnóstico, pela promove aumento de título das isoaglutininas
situação clínica e pelo peso do paciente. Uma do receptor;
unidade convencional de CP para cada 7 a 10 kg (2) Incompatibilidade ABO menor (doador com
de peso corporal do paciente eleva em geral a isoaglutinina anti-A/B contra antígenos do
contagem de plaquetas para cerca de 50.000/µL. receptor), que pode causar hemólise,
Observação: Pacientes com sangramento ativo, particularmente em receptores pequenos,
infecção, febre, esplenomegalia ou aloimunizados quando for transfundida grande quantidade
por antígenos HLA ou plaquetários podem de plasma incompatível, ou CP de doadores
apresentar incremento pós-transfusional abaixo do com altos títulos de anti-A/B, o que é mais
esperado. Esses pacientes necessitam de maior comum em doadores do tipo O.
dose de CP. Observação: Muitos pacientes não apresentam
Observação 2: Pacientes aloimunizados por qualquer sinal ou sintoma dessa
antígenos HLA, sem refratariedade clínica, incompatibilidade, embora a maioria apresente
necessitam da seleção de doador com identidade um teste direto da antiglobulina positivo.
de antígenos de histocompatibilidade (HLA). Entretanto, CP de doadores com alto título de
Nesse último caso, recomenda-se a irradiação das isoaglutinina poderá provocar hemólise
unidades selecionadas. significante, ou até fatal. Nesses casos, a
prevenção de hemólise aguda pode ser feita
Contraindicações: a transfusão de CP reduzindo-se o volume plasmático das unidades
geralmente não está indicada para pacientes de CP ABO incompatíveis e evitando-se o uso de
com plaquetopenia secundária à destruição CP ABO incompatível de unidades com alto título
periférica das plaquetas (hiperesplenismo, de isoaglutininas (anti-A com título superior a 200).
plaquetopenia imune, púrpura trombocitopênica Vale ressaltar, entretanto, que uma transfusão
trombótica). Essas condições clínicas requerem necessária não deve ser adiada se prejudicar o
paciente somente pela questão da eventual transfusão de concentrado de
compatibilidade ABO. plaquetas (por exemplo, anemia aplástica,
plaquetopatias hereditárias);
A transfusão de concentrado de plaquetas, quando (3) Indicada também para reduzir o risco de
houver disparidade ABO, em pacientes não transmissão do CMV em pacientes CMV-
refratários, deve obedecer a uma ordem de negativos, principalmente se
prioridade, de acordo com o ABO do imunossuprimidos, e para reduzir a
hemocomponente. mortalidade e disfunção de órgãos em
pacientes submetidos a cirurgias
cardiovasculares;
(4) Prevenção da transmissão transfusional do
príon causador da variante da doença de
Creutzfeldt-Jakob (v-CJD). Para prevenir sua
transmissão transfusional, alguns países de
primeiro mundo adotaram a leucorredução
universal.
HEMOCOMPONENTES LEUCORREDUZIDOS
Observação: Os filtros empregados para a
Características: uma unidade de sangue total, remoção de leucócitos são caros e, em nosso
uma unidade de concentrado de hemácias e uma meio, devem ser usados quando a indicação
unidade de concentrado de plaquetas contêm clínica for evidente.
aproximadamente 1x109, 1x108 e 1x107 leucócitos,
respectivamente. Considera-se leucorreduzido o
CH que apresente menos de 5x106
leucócitos/unidade. O concentrado de plaquetas
convencional leucorreduzido deve possuir número
de leucócitos inferior a 0,85x106
leucócitos/unidade, totalizando até 5x106
leucócitos por dose adulta de CP. Os concentrados
plaquetários obtidos por aférese devem conter
menos de 5x106 leucócitos/unidade. A prevenção
da transmissão do citomegalovírus (CMV) e da
aloimunização a antígenos do sistema HLA requer
redução do número de leucócitos para níveis
inferiores a 5x106 por unidade. A maneira mais
efetiva de fazê-lo é por meio do uso de filtros Observação: As indicações clínicas de uso de
leucorredutores. A filtragem pode ser feita pré- hemocomponentes leucorreduzidos se aplicam
estocagem, logo após a coleta do sangue igualmente não só ao concentrado de hemácias
(preferentemente, até 72 horas da coleta), com a como também ao concentrado de plaquetas, pois
utilização de filtros “em linha” ou acoplando-se ambos apresentam risco de induzir a
um filtro de leucócitos por meio de uma aloimunização aos antígenos do sistema HLA,
conexão estéril, ou então durante a transfusão, desencadear a reação febril não hemolítica e
por meio de filtragem “à beira do leito”. transmitir o citomegalovírus (CMV).
Observação: A maioria dos dispositivos de coleta HEMOCOMPONENTES IRRADIADOS
por aférese é capaz de disponibilizar
hemocomponentes celulares leucorreduzidos, A doença do enxerto contra hospedeiro pós-
dispensando o uso de filtros de leucócitos. transfusional (DECH-PT) é decorrente da
enxertia de linfócitos T imunocompetentes
Indicações: provenientes do doador. Todos os
hemocomponentes celulares e o plasma fresco
(1) Está indicada para reduzir a frequência e a
não congelado previamente podem ser veículos
intensidade das reações febris não
para esses linfócitos (o plasma fresco congelado e
hemolíticas (RFNH); alguns serviços
o crioprecipitado não são considerados portadores
preconizam a leucorredução após dois
de risco de DECHPT).
episódios desse tipo de reação adversa;
(2) Pode ser indicada ainda para a profilaxia da Os pacientes de maior risco são os
aloimunização a antígenos do sistema HLA imunossuprimidos. Observação: indivíduos
em pacientes que apresentem grande imunocompetentes também podem sofrer dessa
probabilidade de necessitar de várias complicação transfusional. Nessa última situação,
transfusões e para os quais se considera geralmente o doador é homozigoto para um
importante evitar a refratariedade imune à
haplótipo HLA, para o qual o receptor é Características: o plasma fresco congelado
heterozigoto. (PFC) pode ser obtido por centrifugação do
sangue total ou por aférese de um único
A DECH-PT é extremamente grave e resulta no doador. No primeiro caso, o volume de plasma é
óbito de 85-100% dos indivíduos por ela de aproximadamente 180-250 mL, enquanto, no
acometidos. O quadro clínico se caracteriza por segundo, pode ser duas a três vezes maior (400-
febre, exantema maculopapular, diarreia, lesão 800 mL). Por definição, 01 unidade de PFC é
hepatocelular e pancitopenia. O início dos sinais aquela obtida de 01 unidade de ST. Após sua
e sintomas ocorre por volta de 10-12 dias após a obtenção, o PFC deve ser congelado nas
transfusão. Recém-nascidos apresentam início primeiras horas (6-8 horas da coleta). O PFC é
mais tardio do quadro clínico, por volta do 28º dia constituído por água, 7% de proteínas e 2% de
após a transfusão. carboidratos e lipídios. Assume-se que esse
A profilaxia da DECH-PT é feita com a irradiação produto contenha níveis normais dos fatores
dos hemocomponentes celulares, que tem a estáveis da coagulação (1 UI/mL), de albumina
finalidade de inativar os linfócitos existentes e de imunoglobulinas e, pelo menos, 70 UI de
nos hemocomponentes. Para assegurar que o fator VIII por 100 mL, assim como dos outros
produto tenha recebido a dose adequada de fatores lábeis. O armazenamento deve ser feito a
irradiação, etiquetas radiossensíveis são temperaturas inferiores a 20°C negativos, com
colocadas em cada lote de hemocomponente validade de 12 meses (caso seja mantido em
irradiado. temperaturas inferiores a 30°C negativos, terá
validade de 24 meses).
O concentrado de hemácias irradiado deve ser
preferencialmente produzido até 14 dias após a Observação: O plasma fresco congelado em 24
coleta e armazenado até no máximo 28 dias horas (PFC24) da coleta é o plasma separado da
após a irradiação, respeitando a data de validade unidade de sangue total, por centrifugação, e
original do componente. congelado completamente entre 8 e 24 horas da
coleta. O PFC24 contém quantidade normal de
Observação: Nos casos em que exista justificativa fator V e quantidade um pouco reduzida de fator
para a irradiação de componentes com mais que VIII. Para o uso clínico do plasma, esses dois
14 dias de coleta, a transfusão deve ocorrer em 24 produtos podem ser igualmente utilizados, pois o
horas. Diferentemente do recomendado para o conteúdo procoagulante existente no PFC24 é
CH, a irradiação do concentrado de plaquetas não suficiente para corrigir a maioria dos distúrbios
altera sua validade. clínicos da coagulação.
Principais indicações dos produtos irradiados: Indicações: as duas principais indicações são
para repor fatores da coagulação e para o
tratamento da púrpura trombocitopênica
trombótica.

• Hemorragia devido à deficiência, congênita


ou adquirida, de um ou mais fatores da
coagulação, para o(s) qual(is) não se
dispõe(m) de concentrado(s) específico(s);
• Deficiência congênita ou adquirida de um
ou mais fatores da coagulação em
pacientes sem sangramento ativo, mas que
serão submetidos a procedimento invasivo
e desde que o tempo de protrombina (TP) e o
tempo de tromboplastina parcial ativado
(TTPA) estejam prolongados em pelo menos
1,5 vezes superior aos controles normais;
• Transfusão maciça (troca de uma ou mais
volemias em período inferior a 24 horas),
quando houver sangramento excessivo e
os testes TP e TTPA estiverem 1,5 vezes
maiores que os controles normais, ou
quando a dosagem do fibrinogênio estiver em
níveis inferiores a 100 mg/dL (nesse caso, o
crioprecipitado também pode estar indicado);
PLASMA FRESCO CONGELADO (PFC) • Reversão imediata dos efeitos da
anticoagulação oral em pacientes em
tratamento com anticoagulantes orais que recomendada a transfusão de mais de uma
apresentam deficiência funcional dos volemia plasmática (troca plasmática).
fatores dependentes da vitamina K (fatores
procoagulantes II, VII, IX e X); Uso não justificado de plasma fresco
congelado:
• Púrpura trombocitopênica
trombótica/síndrome hemolítico-urêmica • Hipovolemia: podem ser usadas soluções
(PTT/SHU): o tratamento dessa patologia cristaloides e coloides (albumina,
requer o emprego de grandes volumes hidroxietilamido, gelatina, dextrana), que
diários de PFC (2-5 litros), geralmente proporcionam o mesmo benefício clínico, sem
administrados durante procedimento de os riscos associados à transfusão de plasma;
plasmaférese, até o controle da doença; • Plasmaférese terapêutica: a reposição do
• Coagulação intravascular disseminada volume do plasma removido deve ser feita com
(CIVD), geralmente secundária à infecção, solução cristaloide e/ou coloide (albumina ou
choque, trauma: resulta em deficiências um coloide artificial). A exceção consiste nos
variáveis dos fatores da coagulação, tendo, casos de PTT ou SHU, em que se deve utilizar
portanto, um amplo espectro de apresentação plasma;
e um quadro clinicolaboratorial que pode • Hipoalbuminemia: quando indicada a
mudar rapidamente. A reposição com PFC reposição, deve-se utilizar solução de
pode estar indicada na CIVD aguda quando albumina. ƒ Suplementação nutricional: não há
houver hemorragia e anormalidade nos justificativa clínica para a transfusão de PFC,
testes da coagulação. Na ausência de nem mesmo nos casos de cirrose hepática ou
hemorragia, o paciente que tiver hipoproteinemia secundária à enteropatia;
prolongamento de TP e TTPa e precisar se • Tratamento de imunodeficiências: o PFC
submeter a procedimento invasivo não deve ser usado para a reposição de
programado deve receber reposição de imunoglobulina. Nessas condições, está
plasma e de crioprecipitado (se fibrinogênio < indicado o emprego dos concentrados de
100 mg/dL), assim como transfusão de imunoglobulina.
plaquetas. Pacientes com CIVD crônica e que
• “Fórmula de reposição”: o PFC não deve ser
não apresentem sangramento não devem ser
indicado automaticamente, como, por
transfundidos, a menos que tenham de ser
exemplo, após o uso de 4-6 unidades de
submetidos a procedimento invasivo;
concentrado de hemácias ou a infusão de
• Doença hepática: o PFC pode estar indicado certo volume de soluções
se houver hemorragia ativa atribuída ou
coloides/cristaloides.
agravada por distúrbio da hemostasia, ou
para sua profilaxia antes de procedimento CRIOPRECIPITADO (CRIO)
cirúrgico;
• Cirurgia cardíaca com circulação Características: o crioprecipitado (CRIO) é um
extracorpórea: com distúrbio da coagulação produto hemoterápico obtido do plasma fresco
comprovado pelos testes TP, TTPA e congelado, submetido a descongelamento em
dosagem do fibrinogênio. No entanto, na refrigerador (2° a 6°C). Dezoito a 24 horas
maioria das vezes, a hemorragia é secundária depois, submete-se o plasma descongelado à
apenas à plaquetopenia e/ou disfunção centrifugação, de modo a separar o CRIO do
plaquetária. plasma sobrenadante. O CRIO então é
recongelado em até uma hora da sua obtenção,
Dose: 10-20 mL/kg/dia em pacientes à temperatura inferior a 20°C negativos, com
normovolêmicos (pode ser fracionada em várias validade de 12 meses. Observação: Se
infusões). Quando se tenta corrigir uma armazenado em temperaturas inferiores a 30°C
coagulopatia com transfusão de plasma é negativos, terá validade de 24 meses.
importante observar a meia-vida dos
procoagulantes. O fator V é o que tem a menor Uma unidade de CRIO tem volume de
meia-vida (cinco horas) e assim, cinco horas após aproximadamente 10-40 mL e contém pelo menos
a elevação de sua atividade, ela terá caído à 80 unidades de fator VIII e 150 mg de
metade entre o nível atingido e o nível basal do fibrinogênio (em média 250 mg/unidade). Esse
paciente, impactando na necessidade de produto também contém atividade de cofator de
manutenção terapêutica, caso persista o risco ristocetina do fator de Von Willebrand
hemorrágico. Por essa razão, se a correção for, de (aproximadamente 170 UI/bolsa), fator XIII
fato, indispensável antes de uma necessidade (aproximadamente 60 UI/bolsa), fibronectina e
hemostática (por exemplo, uma grande cirurgia), o níveis normais de ADAMTS13. Anti-A e anti-B
plasma deve ser administrado pouco tempo antes estão presentes em quantidade bem pequena
do procedimento, a fim de ter seu benefício no (1,15% do total do plasma).
momento oportuno. Para o tratamento da PTT, é
Para a transfusão, as unidades de CRIO devem em qualquer paciente com hemorragia cuja
ser descongeladas a 37°C. Podem ser utilizados causa não tenha sido determinada. O CRIO não
em unidades separadas (validade de seis horas deve ser usado para reversão de terapêutica
após o descongelamento) ou em pool, com com anticoagulante oral.
validade de quatro horas, se preparado em
sistema aberto, ou com validade de seis horas FENOTIPAGEM ERITROCITÁRIA
após o descongelamento (pool feito em sistema A fenotipagem dos receptores para outros
fechado antes da estocagem) ou seis horas após sistemas, além de ABO e RhD, não é
a confecção do pool, também em sistema fechado, obrigatória, no entanto a tipagem para os outros
após terem sido descongeladas as unidades antígenos pode auxiliar na rotina transfusional.
separadas.
Fenotipar para os sistemas de maior importância
Indicações: seu uso pode ser terapêutico ou transfusional, como RhCE, Kell, Kidd, Duffy e
profilático. A principal indicação para o uso do MNS, pode auxiliar e facilitar a identificação de
CRIO é a reposição de fibrinogênio em anticorpos irregulares encontrados.
pacientes com hipo ou afibrinogenemia,
congênita ou adquirida (por exemplo, no Recomenda-se ainda que pacientes já
consumo na CIVD e na perda nas hemorragias aloimunizados (aloanticorpos contra antígenos
maciças), ou defeitos qualitativos do eritrocitários por gestação ou transfusões prévias)
fibrinogênio, quando não se dispuser de ou aqueles com perspectiva de entrar em
fibrinogênio industrial. Quando os níveis de regime de transfusão crônica (talassemias
fibrinogênio estiverem caindo, por consumo ou intermedia ou major, anemia falciforme, pacientes
perda em curso, é boa prática transfundir CRIO oncohematológicos) sejam fenotipados, pois,
(ou, pelo menos, prepará-lo para transfusão) dessa forma, podem ser selecionados para
quando seu nível se aproximar de 100 mg dL. transfusão de concentrados de hemácias com
fenótipos semelhantes ou idênticos.
As principais condições clínicas para o uso do
CRIO são: Essa conduta previne reações transfusionais
hemolíticas em pacientes aloimunizados e
• CIVD; também uma nova sensibilização, o que
• Coagulopatia transfusional; tornaria as transfusões futuras ainda mais
• Deficiência de fator XIII, salvo quando não for complicadas.
disponível o fator industrial;
• Reversão da terapia trombolítica;
• Disfibrinogenemia, com tendência
hemorrágica;
• Estados de fibrinólise localizada (cirurgia de
próstata, com rompimento do leito prostático
ou de glândula salivar, com ruptura tissular);
• Fibrinólise sistêmica (na amiloidose
disseminada e no uso da L-asparaginase);
• Confecção da cola de fibrina.

Dose: depende do diagnóstico e da gravidade


da hemorragia. De maneira geral, uma unidade
de CRIO aumenta a concentração do
fibrinogênio em 5 mg/dL em um adulto. Em
geral, a dose mais usada é de uma unidade de
CRIO a cada 10 kg de peso do receptor. A
hemostasia adequada requer níveis de 50-100
mg/dL de fibrinogênio; entretanto, os testes
laboratoriais utilizados no seguimento de
pacientes com CIVD ou hemorragias maciças se
tornam anormais por hipofibrinogenemia se o
fibrinogênio cair abaixo de 100 mg/dL

Uso não justificado: o CRIO não está indicado


para a correção dos níveis de outros fatores da
coagulação, além daqueles mencionados
acima. Não deve ser usado para tratamento de
doença de Von Willebrand e hemofilia A.
Também não deve ser usado indiscriminadamente

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