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José Otávio Costa Auler Junior

Hospital das Clínicas da FMUSP


Ponto 27: Reposição Volêmica e Transfusão
aula 1

• Hemoterapia
• Grupos e compatibilidade
• Sangue estocado: tipo e alterações
• Sangue e frações: indicações, cuidados e
complicações
• Doenças transmissíveis
Hemoterapia Histórico
• 1818 Dr. James Blindel, 1a transfusão com sucesso em humano com
hemorragia pós-parto
• 1900 Landsteiner, descoberta dos grupos sanguíneos (ABO)
• 1905 George Crill na Cleveland Clinic 1a transfusão em cirurgia
• 1940 Levine, sistema RH
• Década 1980, ‘ Testes sorológicos e Risco Transfusional’
• 2016 Decisão de Transfundir ato complexo

• Transfusão sanguínea ocorre em até 10% pacientes hospitalizados


• Transfusões estão associadas com aumento do custo e da morbimortalidade
• Nos EUA em 2012, a Joint Commission identificou a transfusão sanguínea como
um dos 5 procedimetos terapêuticos realizados em excesso

Cortesia Dra Roseni Rodrigues


Histórico
I e II guerras mundiais:
Principais descobertas

Descoberta do sistema ABO


1º transfusão entre da segurança transfusional
espécies diferentes

1818 1942

1667 1901

1º transfusão bem-sucedida
de homem para homem John S. Lundy

Limiar transfusional:
hemoglobina de 10 g/dL
Cortesia Dra Sueli Zeferino
Grupos Sanguíneos
e
Compatibilidade
Exames imuno-hematológicos para a
qualificação do sangue do doador

• Tipagem ABO e RhD.


• Pesquisa de anticorpos antieritrocitários irregulares.
• A tipagem ABO será realizada testando-se as
hemácias com reagentes anti-A, anti-B e anti-AB.
• Tipagem reversa, testando-se o soro ou plasma de
amostra da doação com suspensões de hemácias
conhecidas A1 e B e, A2 e O.

MS portaria 158 de 04 /02/2016


Exames imuno-hematológicos para qualificação
do sangue do doador

• O antígeno RhD será determinado colocando-se as


hemácias com antissoro anti-RhD (Anti-D). Se a
reação for negativa para a presença do antígeno RhD,
será efetuada a pesquisa do antígeno D-fraco com
dois antissoros anti-RhD (anti-D).
• RhD positivo: pesquisa do antígeno D-fraco resultar
positiva.
• RhD negativo ambas as provas resultarem negativas.

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Compatibilidade transfusional

• O sangue total e os concentrados de hemácias


serão ABO compatíveis.
• "RhD-positivo recebem sangue total ou
concentrado de hemácias "RhD-positivo" ou "RhD-
negativo".
• "RhD-negativo" recebem sangue total ou
hemácias "RhD-negativo” (excepcional desde que
não apresentem sensibilização prévia).

MS portaria 158 de 04 /02/2016


Compatibilidade transfusional
• Plasma devem ser ABO compatíveis com o
receptor e não necessitam de provas de
compatibilidade.
• Crioprecipitado não necessitam de provas de
compatibilidade e, em crianças de até 10 (dez)
anos ou 35 kg, serão isogrupo ou ABO
compatíveis.
• O plasma contido nos concentrados de plaquetas
será ABO compatível com as hemácias do
receptor.
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Sangue estocado tipo
e
alterações
Sangue total coletado

• Sangue total coletado em solução CPDA -1


validade de 35 dias ou 21 dias em ACD, CPD
• Eritrocitários
• Plasmáticos
• Plaquetários
Componentes eritrocitários

• Concentrado de hemácias
• Concentrado de hemácias lavadas
• Concentrado de hemácias com remoção da
camada leucoplaquetária
• Concentrado de hemácias desleucocitado
• Concentrado de hemácias congeladas
• Hemácias rejuvenescidas
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Soluções de preservação
Lesão de estocagem do concentrado de
hemácias com CPDA-1
Dias estoque 0 35
Dextrose - fonte de energia
% celulas viáveis após 100 71
transfusão Citrato - anticoagulante (quela o cálcio livre)
pH (37ºC) 7,6 6,71 Fosfato de sódio – substrato 2,3DPG
ATP (%valor inicial) 100 45 Adenina preserva ATP
2,3 DPG (%valor inicial) 100 <10

K (mEq/L) 4,2 78,5

Hb (mg/dL) 82 65

Nome dias
ACD citrato ácido dextrose 21
CPD citrato fosfato dextrose 21 5 dias

CPDA-1 citrato fosfato dextrose adenina 35


SAG-M*, AS- 42
Soluções aditivas ao CPD
1*, AS-3, AS-
*manitol
5* 42 dias

Cortesia Dr Joel Avancini e Dr Carlos R Jorge


Concentrado de hemácias

• Hemoglobina: maior que 45/gr unidade


• Hematócrito: 50 a 80%
• Grau de hemólise: menor que 0,80% da massa eritrocitária
• Microbiológica: negativa
• Tempo de armazenamento (entre 4 +- 2 graus C) em ACD 21
dias em CPDA 35 dias
• pH decai com o tempo (6,6  21 dias e 6,3  31 dias) e K
acima de 5mEq/L)
• ACD: citrato ácido e dextrose CPDA: citrato ácido fosfato e
dextrose adenina

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Alterações bioquímicas
Lesões de estocagem do CH com CPDA-1
Dia do estoque 0 35
% cels. Viáveis(24hs.pós-tx) 100 71
pH (37oC) 7,6 6,71
ATP(% do valor inicial) 100 45±12
2,3-DPG(% do valor inicial) 100 <10
K+ plasmático (mmol/L) 4,2 78,5
Hb plasmático(mg/L) 82 658
Cortesia Dr Joel Avancini
Sangue e frações:
indicações,
cuidados
e
complicações
Componentes plasmáticos

• I – plasma fresco congelado (PFC);


• II – plasma fresco congelado dentro de 24 horas: plasma
separado de uma unidade de sangue total por
centrifugação e congelado completamente entre 8 (oito) e
24 (vinte quatro) horas após a coleta, (PFC24); -20oC
por 12 meses e 24 meses a -30oC;
• III – plasma isento do crioprecipitado (PIC);
• IV – plasma comum, não fresco, normal ou simples (PC);
• V – crioprecipitado (CRIO).

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Plasma 2a centrifugação Concentrado
Rico Plaquetas
Whole
Sangue plaquetas
Total
blood
1a centrifugação
PFC

Concentrado Plasma PFC


HEMOCOMPONENTES Hemácias Fresco fracionamento

Sangue total
Crioprecipitado
Concentrado de Hemácias
Concentrado de Plaquetas 1 unidade sangue fornece:
Plasma Fresco Congelado •1 unidade concentrado hemácias
Crioprecipitado •1 unidade plasma fresco congelado
•1 unidade crioprecipitado
•1 unidade plaquetas

Cortesia Dr Joel Avancini


Hemoderivados

HEMODERIVADOS
• Albumina
• Imunglobulinas
• Concentrado de
Fator VII, VIII, IX
• Complexo
Protrombínico (II,
VII,IX, X)
• Concentrado de
Fibrinogênio

Cortesia Dr Joel Avancini e Dr Carlos R Jorge


Reposição de sangue total e frações, indicações,
cuidados e complicações

A reposição de hemoderivados possuem


indicações específicas que devem ser seguidas a
risca no sentido de prevalecer sempre o
benefício em relação ao risco
Hemoderivados

Hemoterapia

Jose Otavio Costa Auler Junior

http://www.slideshare.net/karol_ribeiro/aula-infuso-de-sangue-e-derivados
Concentrado de hemácias: uso específico

• Repor hemoglobina e assegurar o transporte de oxigênio.


• Bolsa convencional: correção da anemia aguda ou crônica.
• Lavadas: profilaxia de reações alérgicas.
• Camada leucoplaquetária removida ou desleucocitado.
• Hemácias congeladas (hemácias raras conservadas em
temperatura (65oC negativos), na presença de um agente
crioprotetor: glicerol ou amido hidroxilado por até 10 anos.
• Rejuvenescidas: são as hemácias tratadas por métodos que
restabeleça os níveis normais de 2,3 DPG e ATP.

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Cada UNIDADE importa

Transfundir Uma Unidade

Avaliar o Paciente

Não Aumente o Risco


sem
BENEFÍCIO

Cortesia Dr Joel Avancini


Gatilho para transfusão de concentrado de hemácias

GATILHO INDICAÇÃO (Hb não deve ser o único fator decisivo)

< 7 g/dL transfusão pode estar associada a diminuição 


mortalidade e é provavelmente apropriada

menores gatilhos podem ser aceitáveis em 


pacientes assintomáticos e compensados

cirurgia associada a perda sangue >20% volume 


< 7 a 9 g/dL sanguíneo
pode ser apropriada para controle sintomas 
anemia
< 10 g/dL só apropriada em situações especificas 
perda sanguínea aguda >30-40% do volume 
sanguíneo
cardiopatia isquêmica, DPOC, >65 anos 
1 unidade transfundida aumenta Hb em 1g/dL
Hemocomponentes irradiados

• O objetivo é inativar os linfócitos viáveis dos


produtos sanguíneos. Reduzir o risco de doença do
enxerto contra hospedeiro na transfusão
intrauterina.
• Recém-nascidos de baixo peso ou prematuros.
• Portadores de imunodeficiências congênitas graves .
• Pacientes recebendo terapia imunossupressora
como pós-transplante de medula óssea.

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Desleucocitação
• Prevenção de reação transfusional febril não
hemolítica (pacientes sensibilizados).
• Profilaxia de aloimunização leucocitária, aplicando-se
a pacientes em programa de transfusão crônica
(talassemia e com doença falciforme).
• Redução da transmissão de citomegalovírus (CMV)
em substituição a componentes soronegativos para
CMV (imunodeprimidos).
• Não é recomendada a utilização de filtros de
desleucocitação em beira de leito.

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Crioprecipitado

• PFC deve ser descongelado a 4 ± 2oC e centrifugado


nessa mesma temperatura.
• Contém glicoproteínas de alto peso molecular: fator VIII,
fator de von Willebrand, fator XIII e fibrinogênio.
• Deve conter 150 mg de fibrinogênio por unidade.
• Doze meses, em temperatura entre -20 e -30oC.
• Dois anos à temperatura de -30oC ou inferior.
• Indicação deficiência de fibrinogênio e na deficiência de
fator XIII, quando o fator purificado não estiver
disponível.
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Plasma fresco
Indicações

Correção de deficiência hereditária de fator V


e
correção de fator XI
Crioprecipitado

Fibrinogênio, Fator VIII, Fator XIII e Fator de von Willebrand e fibronectina

GATILHO INDICAÇÃO

Na ausência do concentrado fibrinogênio nas deficiências congênita •


ou adquirida do fibrinogênio
Fibrinogênio < 1 gm/L
Na ausência de concentrado de fatores específicos na: hemofilia A •
(Fator VIII), na deficiência fator XIII e na doença de von Willebrand

10 unidades contêm 2 g de fibrinogênio


Concentrado de plaquetas

• CP obtido de sangue total (suspensão de plaquetas


em plasma)
• CP obtido por aférese (evitar a transmissão de
citomegalovírus - CMV)
• CP desleucocitados;
• Pool de plaquetas (preparados vários plasmas ricos
em plaquetas).
• CP devem ser conservados a 22 ± 2oC, sob agitação
constante em agitador a validade dos CP é de 3 (três)
a 5 (cinco) dias.
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Transfusão de plaquetas
1 unidade de concentrado de 1 unidade aumenta contagem em 5 a 10.000/µL
plaqueta contém 55.000/µL 1 unidade de aférese plaquetária contém 240.000/µL (volume de 200 mL)
(volume 50 mL) 1 unidade aumenta contagem em 30 a 60.000

< 10.000/µL na falência medula óssea


colocação de cateter venoso central
biópsia de medula óssea
punção lombar raquídea crianças
< 20.000/µL
na falência medula óssea com febre e antibióticos
presença manifestações hemorrágicas menores
adultos com tumores submetidos a quimio/ou radioterapia
< 40.000/µL punção lombar raquídea
(< 80.000 para punção lombar epidural)
< 80.000/µL punção lombar epidural
cirurgia médio porte
< 50.000/µL
biópsia hepática
cirurgia oftalmológica, neurocirurgia, politrauma ou TCE
< 100.000/µL
coagulopatia perioperatória
Independente da contagem no sangramento com distúrbio função plaquetária
Recomendações atuais

•Política transfusional restritiva resulta:


• Menor mortalidade
• Menor morbidade
• Menor tempo internação
• Menor taxa de infecção pós-operatória

• Transfusão de Única Unidade


• Avaliar o paciente após cada transfusão
• Se a condição do paciente melhorou após a primeira
transfusão PORQUE dobrar o risco só para aumentar a
hemoglobina?

Cortesia Dr Joel Avancini


Riscos Transfusionais
Doador Paciente

Riscos transfusionais podem ser reduzidos por:

• Selecão apropriada do doador de sangue


• Testes pós-doação para reduzir risco infecção transfusional
• Testes de compatibilidade e de grupo sanguíneo
• Uso apropriado do sangue e hemocomponetes
• Controle de qualidade rigoroso
Testes Doador: HIV Ab, HIV NAT, VHC Ab, VHC NAT, VHB Ag, Ab, HBc Ab,
VDRL, VWN (Nile) NAT, HTLVI/II Ab, CMV Ab, Cultura Bacteriana (Plaquetas)
Os riscos e as complicações em transfusão de
sangue
1. Infecção
2. Imunomodulação
3. Reações transfusionais
4. Aloimunização
5. Erros médicos (sangue trocado)
6. Lesão pulmonar aguda associada transfusão (TRALI)
7. Sobrecarga circulatória associada a transfusão
8. Sobrecarga de ferro
9. Lesões associadas a idade de sangue
10. Custos
Efeitos Adversos da Transfusão
Agentes emergentes

Tryanosoma cruzi
1:100

Monkey pox
Leishmania
Influenza
Bacteria

Babesia
CHIKV
PTLVs

XMRV
DENV
SARS
vCJD

WNV
1:1000

SFV
ICL
Risco por unidade

1:100000

1:1000000

HCV
1:1000000 HBV
HIV
< 1984 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

Critérios HBsAg HIV Ag HCV Ag p24 Ag HCV e WNV NAT HBV NAT Zika
de HIV NAT
doação
revisados Hepatite NANB vCJD T cruzi

Adaptado de Perkins HA et al. Transfusion. 2010;50:2080-99.


Infusão de plaquetas: efeitos adversos

• Febre – HLA/citocinas
• Rh aloimunização
• GVHD-Graft versus hosts disease
• TRALI 1/1500 a 1/10000
• Anafilaxia – anticorpos IgA
• Hemólise moderada – anti-IgA ou anti-IgB
• Hipotensão (apesar do filtro de leucócitos)

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Plasma fresco

• Está associado com aumento do risco de TVP


em cirurgias de neoplasias ginecológicas

• Contraindicado para corrigir INR pré-operatório


nos hepatopatas crônicos

• Associado a maior risco infeccioso

B. Spiess,EACTA 2012
Riscos transfusionais

Transfusões empíricas
Em razão da demora de obtenção de resultados dos exames*

Mecanismos imunomoduladores – TRALI


efeito adverso fatal mais reportado no caso de transfusões de plasma**

Outros Efeitos Adversos


Hipervolemia
Recorrência câncer
Risco trombose
Risco infecção

Hughes G. 2008. Emerg Med J 25: 127. ** Wallis J P. 2004. Transfusion. 44.
*

P. Innerhofer, J. Kienast / Best Practice & Research Clinical Anaesthesiology 24 (2010) 2 1–14.
Insuficiência Respiratória Aguda

Transfusões de qualquer produto hemoderivado foi associado a maior risco


de desenvolvimento de insuficiência pulmonar aguda
(IPA) em pacientes gravemente enfermos*
RALI

10
Razão de chance ajust ada para IPA/T

6 p > 0,05

0
Eritrócito PFC Plaquetas
0 0 0-4 >4
Unidades 0-4 >4 0 0-1 >1

Razões de chance ajustadas para o desenvolvimento de IPA/TRALI


como uma função do número de transfusões de hemoderivados (p < 0,05).

Hasrat Khan et al. CHEST 2007; 131:1308-1314


Lesões de associadas ao armazenamento do sangue

• A duração média de armazenamento: 11 vs 20 dias para mais sangue.

Em 1 ano, a mortalidade foi significativamente menor nos pacientes que


receberam sangue novo (7,4% vs 11,0%, P <0,001).
Suspeita de Reação Transfusional

Excluir edema cardiogênico + Rx tórax

Notificar banco de sangue

Enviar etiquetas das bolsas e amostra da bolsa


Enviar amostra de sangue do paciente
CHEST 2004;126; 1
Conclusões
• Evite sempre que possível a transfusão sanguínea ou de
hemocomponentes
• Use alternativas transfusionais
• Transfusão é uma parte da terapêutica
• Prescrição baseada em algoritmos transfusionais atuais e
individualizada
• Nível hemoglobina não deve ser o único indicador
• A indicação médica transfusional deve ser clara
• O risco, benefício e alternativas transfusionais devem ser
apresentados ao paciente
• O paciente deve assinar consentimento informado
• Siga rigorosamente os protocolos institucionais
Créditos

• Joel Avancini
• Ludhmila Hajjar
• Sueli Zeferino
• Carlos R Jorge
• Roseni Rodrigues
• Ministério da Saúde
José Otávio Costa Auler Junior
E-mail: auler.junior@hc.fm.usp.br

Obrigado!

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