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ISSN 2358-5145

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Número 14, 2016

MEDICINA VETERINÁRIA TRANSFUSIONAL


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Dr. Luiz Eduardo Ristow
(31) 99156-0580 tecsa.com.br/chat Diretor Técnico - RT | CRMV-MG 3708

sac@tecsa.com.br
EDITORIAL

TECSA Laboratórios, Qualidade certificada há 17 anos!


TECSA foi o primeiro laboratório da América Latina com certificado ISO 9000 em todos os segmentos de negócios tais como:
Análises e Exames Veterinários, Análises e Exames Industriais e Assessoria Científica. Desde 1994 a empresa busca excelência
nos serviços prestados dispondo de instalações bem elaboradas e equipe multidisciplinar de profissionais aptos a atender as
necessidades dos clientes. Além da certificação ISO, é credenciado junto ao Ministério da Agricultura em vários segmentos.
O TECSA é hoje reconhecido no mercado como Padrão Ouro em análises e serviços. A concessão do certificado ISO só é feita
quando todas as atividades de rotina do laboratório estão detalhadamente procedimentalizadas e os funcionários bem treinados
para compreender e cumprir as regras. Nada muda sem que todos os colaboradores sejam avisados e treinados, o certificado
foi concedido pela empresa Norueguesa DET NORSKE VERITAS (DNV) com sede no Rio de Janeiro. Esta empresa é
reconhecida por seu trabalho junto a indústria naval que exige segurança máxima. Mas a padronização na qualidade dos serviços
não significa que não possa haver tratamento diferenciado e personalizado para os clientes. Esta é a filosofia do TECSA: Mais
que resultados, COMPROMETIMENTO com VOCÊ.

Implantação da ISO 17025 – Conquista do TECSA Laboratórios para o mercado diagnóstico


O TECSA Laboratórios tem sido sinônimo de Segurança e Inovação em diagnóstico. Mais uma vez constatamos que o
caminho trilhado tem sido correto, devido ao grande apoio que recebemos dos colegas e clientes e pelo reconhecimento dado pela
Indústria Farmacêutica Veterinária aos trabalhos do TECSA neste último ano. Desde 2002 o TECSA implantou os quesitos
da NORMA ISO 17.025 (Ex ISO GUIA 25), específica para Laboratórios de medição e ensaios. Muito mais apropriada para
acreditar a qualidade em laboratórios de análises, a ISO 17.025 é reconhecida pelo Ministério da Agricultura e seus parâmetros
são utilizados para o credenciamento de laboratórios aos programas de sanidade animal . Durante vários meses, toda a equipe
técnica foi treinada por consultores específicos para esta Norma e se viu envolvida na implantação de ítens que constam deste
Sistema de Qualidade e que não estão presentes na norma ISO 9001. Com isto, logo no primeiro mês, todos os procedimento
para realização dos exames seguiam controles mais rígidos e com evidencias mais claras. Esta é mais uma conquista única do
TECSA Laboratórios para o mercado Veterinário do Brasil, colocando em destaque internacional os nosso meios de diagnosticar
doenças e de monitorar a sanidades de nossos animais. Compartilhamos com vocês a agradecemos o apoio de sempre.

Bons Negócios e muita Saúde a todos.

Dr. Luiz Eduardo Ristow


Diretor Técnico

PARA SABER MAIS:


ISO é uma palavra grega e também a sigla de uma instituição internacional. A palavra vem do grego, que significa igual. Portanto,
padrão, e por isso utilizada como abreviação de um importante organismo internacional INTERNATIONAL STANDARTIZATION
ORGANIZATION, uma organização não governamental fundada em 1947, cuja sede fica em Genebra (Suíça) e sua diretoria e
composta por 143 representantes de diversos países. A função da ISO e justamente distribuir certificados de qualidade e padronização
de serviços. Depois de conseguido o documento, a empresa ainda é submetida a inspeções semestrais. O documento ISO é reconhecido
internacionalmente.
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ÍNDICE

31. BIOLOGIA MOLECULAR 32. BIOQUÍMICA


06. HEMATOLOGIA 31. ACOMPANHAMENTO DA EFICÁCIA 32. ELETROFORESE DE PROTEÍNAS
06. DOENÇAS TRANSMITIDAS POR CARRAPATOS - BABESIOSE E DE TRATAMENTO PELO PCR REAL 35. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
ERLIQUIOSE MONOCÍTICA CANINA DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO TIME X DAGNÓSTICO CLÍNICO
14. QUANDO E COMO UTILIZAR HEMOCOMPONENTES?
17. CUIDADOS NA HORA DE REALIZAR UMA TRANSFUSÃO SANGUÍNEA
19. ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNE-MEDIADA
22. ISOERITRÓLISE NEONATAL E A IMPORTÂNCIA
DA TIPAGEM SANGUÍNEA EM FELINOS
24. COLETA, CONSERVAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE
AMOSTRAS DESTINADAS AO COAGULOGRAMA
26. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS CAUSADAS
PELA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA
28. INTERPRETANDO O RDW EM MEDICINA VETERINÁRIA
30. MONITORAMENTO DO PACIENTE TRANSFUNDIDO 38. DERMATOLOGIA 40. PATOLOGIA CLÍNICA
38. PÊNFIGO EM CÃES E GATOS 40. INTERNALIZAÇÃO DA
ROTINA LABORATORIAL

Colaboraram neste número:


Dr. Alexandre Augusto A. Torres, Dr. Eduardo Maia, Dr. Frederico Miranda Pereira, Dr. Guilherme Stancioli, Dr. João Paulo Fernandez Ferreira, Dr. João Paulo Franco, Dr. Luiz Eduardo Ristow,
Dra Isabela de Oliveira Avelar, Dra. Dyeme Ribeiro de Souza.
Todos membros da Equipe de Médicos Veterinários do TECSA Laboratórios.
Além do Médico Patologista Dr. Afonso Alvarez Perez Jr.

Contribuíram também para este número os renomados Colegas:


Dra. Mitika Kuribayashi Hagiwara, Dra. Luciana de Almeida Lacerda, Dra. Simone Gonçalves, Dr. Rubens Antônio Carneiro, Dr. Marthin Raboch Lempek, ORTIZ, M. C., ALVES, R. H. C,, TESTA, M.
F., SOUSA, C. R., LEMOS, R. L. O.

Obs.: os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam necessariamente, a visão e opinião do TECSA Laboratórios.

EXPEDIENTE
Editores/Publishers: CIRCULAÇÃO DIRIGIDA
Dr. Luiz Eduardo Ristow . CRMV-SP 5560S . CRMV-MG 3708 . ristow@tecsa.com.br A revista VetScience® Magazine é uma publicação do Grupo TECSA dirigida somente
Dr. Afonso Alvarez Perez Jr. . afonsoperez@tecsa.com.br aos médicos veterinários, como parte do Projeto JORNADA DO CONHECIMENTO,
Equipe de Médicos Veterinários TECSA . tecsa@tecsa.com.br criado pelo mesmo. Este projeto visa a universalização do conhecimento em Medicina
Laboratorial Veterinária. A periodicidade é Bimestral, com artigos originais de pesquisa
Diagramação: Sê Comunicação . se@secomunicacao.com.br clínica e experimental, artigos de revisão sistemática de literatura, metanálise, artigos
Contatos e Publicidade: de opinião, comunicações, imagens e cartas ao editor.
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ISSN: 2358-1018
HEMATOLOGIA

DOENÇAS TRANSMITIDAS POR CARRAPATOS -


BABESIOSE E ERLIQUIOSE MONOCÍTICA CANINA
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Mitika K. Hagiwara (Prof. Senior – FMVZ-USP)
Dentre as doenças transmitidas canis, o que torna muito menos frequente saliva do carrapato durante o repasto
por carrapatos aos cães destacam- o diagnóstico de ambas as infecções em sanguíneo no cão, na forma de
se a babesiose, por sua distribuição cães daquelas regiões. Além das infeções esporozoítos, os quais aderem a parede
mundial e a erliquiose monocítica citadas, o R. sanguineus é considerado o das hemácias, são internalizados por
canina, por sua ampla prevalência nos vetor de Anaplasma platys, que infecta endocitose e se multiplicam por fissão
países tropicais. A babesiose é causada plaquetas e causa a trombocitopenia binária em seu interior. O rompimento
por Babesia canis (subespécies B. canis cíclica tropical e o Hepatozoon canis, da hemácia parasitada libera os
canis, B. c. vogeli e B. c. rossi) e Babesia que infecta neutrófilos. Ambas as merozoítos na circulação sanguínea, os
gibsoni. No Brasil a Babesia c. vogeli é infecções são consideradas mais quais infectam novas hemácias, até que o
a principal subespécie que infecta os benignas e os cães infectados podem sistema imune do hospedeiro seja capaz
cães e é, dentre as subespécies, a menos permanecer assintomáticos por toda a de desenvolver imunidade humoral e
patogênica. A erliquiose monocítica vida. Entretanto, em algumas ocasiões celular, eliminando totalmente o agente
canina (EMC) é causada por Ehrlichia podem ser observados citológica ou ou confinando-o, tornando-se assim o
canis, uma bactéria do gênero Ehrlichia, molecularmente em co-infecções por cão portador assintomático da infecção.
família Anaplasmataceae que engloba outros agentes transmitidos pelo mesmo • Há evidências de que existe
vários patógenos de interesse humano e vetor, sem no entanto, terem claramente transmissão transestadial e transovariana
veterinário e se caracterizam por serem definidos seu papel no desenvolvimento da babesia no vetor. Isto significa que
bactérias intracelulares obrigatórias. ou agravamento do quadro clínico. pode ocorrer a perpetuação do agente
Ambas as infecções são transmitidas A babesiose e a EMC, principalmente infeccioso no carrapato, de uma geração
por um mesmo vetor, Rhipicephalus a última, estão tão disseminadas entre a outra, sem haver necessidade de
sanguineus, o carrapato marrom do cão, os cães, acompanhando a distribuição repasto em um hospedeiro infectado.
que se encontra amplamente distribuído cosmopolita do vetor Rhipicephalus Some-se a isso a ampla disseminação
no Brasil, inclusive nas grandes urbes, sanguineus, de tal sorte que devem ser do carrapato e sua capacidade de
principalmente nas regiões de clima incluídos no diagnóstico diferencial das reprodução (até quatro gerações de
subtropical ou tropical (Figura 1). morbidades, principalmente quando há carrapatos no período de um ano) e
a menção a existência de carrapatos, as entende-se porque a babesiose é tão
manifestações clínicas são vagas e quando disseminada no Brasil.
trombocitopenia (discreta a moderada) • As manifestações clínicas
e leucopenia são demonstradas no como febre, prostração, esplenomegalia
exame hematológico do animal. A e anemia progressiva ocorrem na primo-
tendência geral é a de imputar a EMC infecção, sendo sua ocorrência pouco
a causa da trombocitopenia iniciando provável nas infecções subsequentes.
imediatamente o tratamento com A imunidade eliciada pela infecção
doxiciclina o que se constitui em grave protege o cão contra o desenvolvimento
equívoco, perdendo-se a oportunidade da doença nas infecções posteriores (as
Figura 1: Infestação por Rhipicephalus sanguineus. de investigar outras possíveis causas chances são muito grandes de ocorrer
A face medial da orelha é um dos locais preferidos
pelo carrapato.
dessa alteração hematológica. A seguir, repetidas infecções pela Babesia c. vogeli),
apresentamos uma breve discussão servindo a inoculação dos esporozoítos
Apenas a espécie tropical de R. sobre alguns aspectos mais relevantes como estímulo antigênico adicional.
sanguineus parece estar envolvida de ambas as infecções, com ênfase no • A doença ocorre, portanto,
na transmissão de ambos os agentes diagnóstico e no tratamento. principalmente nos adultos jovens e
infecciosos, já que, nos estados brasileiros em qualquer idade naqueles que vivem
da região sul, onde o clima é mais Babesiose Canina livres da infestação por R. sanguineus e
ameno, os carrapatos da mesma espécie Considerações gerais de por diversos motivos, são apresentados
carecem da competência para albergar e relevância clínica pela primeira vez ao vetor. É pouco
transmitir, tanto B. c. vogeli quanto E. • A babesia é transmitida pela provável que cães que vivem em contato
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HEMATOLOGIA

permanente ou intermitente com o esplenomegalia e, com histórico de Figura 2: Trombocitopenia em cães infectados
por Babesia canis. Nadir plaquetário observado
vetor apresentem a forma clínica da contato recente com, ou de terem precocemente ao redor do 4o. dia pós-infecção;
babesiose tardiamente em sua vida, frequentado locais onde sabidamente são discreto aumento e posterior queda ao redor de
9-15 dias, coincidindo com a parasitemia primária
implicando em que os resultados dos encontrados os carrapatos transmissores e secundária. Cães tratados com dipropionato de
testes sorológicos e moleculares devem da Babesia canis. imidocarb na dose de 7,0 mg/kg de peso no 14o dia
ser cuidadosamente interpretados tendo • O diagnóstico clínico nesses apresentaram rápido aumento das plaquetas, logo
após a aplicação. Cães não tratados apresentaram
em mente os aspectos epidemiológicos animais é confirmado quando são aumento gradativo do número de plaquetas
inerentes ao parasito, vetor e hospedeiro. encontradas inclusões intraeritrocitárias aproximando-se dos valores basais ao redor 40 dias,
coincidindo com o desenvolvimento da imunidade
• Em geral, a febre é observada no exame microscópico do esfregaço de humoral.
ao redor do quarto dia pós-infecção, sangue periférico corado pelos métodos
coincidindo com o primeiro pico de convencionais. Exames negativos no • Ocorre Leucopenia
parasitemia que em seguida regride entanto não excluem o diagnóstico de (neutropenia) , durante a fase inicial de
para se tornar novamente evidente ao babesiose, haja vista a baixa parasitemia parasitemia e leucocitose (neutrofilia)
redor da segunda semana de infecção, em alguns casos, na dependência do durante o período de parasitemia
quando ocorre o segundo pico de momento em que está sendo realizada a secundária e a partir da terceira
parasitemia. A intensa parasitemia e pesquisa. semana de infecção, linfocitose, estas
a destruição das hemácias parasitadas • Hemácias parasitadas podem são as principais alterações vistas no
resultam no desenvolvimento de anemia ser vistas mais frequentemente nos leucograma. A presença de linfócitos
e complicações secundárias decorrentes esfregaços de sangue obtido por punção reativos com grânulos azurrófilos é
do processo hemolítico. da ponta da orelha. indicativa de intensa resposta imune
• A Babesia canis vogeli é • O hemograma é altamente do cão, com o desenvolvimento da
considerada a menos patogênica esclarecedor, principalmente alguns dias imunidade humoral e a subsequente
dentre as demais babesias de modo após o início da infecção e mais ainda, se restrição a replicação da babesia.
que muitas vezes a infecção pode forem obtidas pelo menos duas amostras
transcorrer silenciosamente ou com o de sangue com intervalos de 24 a 48horas. Testes Sorológicos
desenvolvimento de discreta anemia, Rápida queda do hematócrito sugere a São úteis na identificação de
sem outras manifestações clínicas ocorrência de processo hemolítico e a portadores assintomáticos com baixo
evidentes. presença de hemácias policromatófilas grau de parasitemia, nos quais não se
e a reticulocitose (> 60.000 ret/uL) obtém a confirmação parasitológica pela
Diagnóstico indicam o caráter regenerativo do pesquisa de inclusões intraeritrocitárias
O diagnóstico da babesiose canina processo anêmico apontando para uma de Babesia sp. Em geral, nesses animais
baseia-se na presença de sinais clínicos possível causa extra medular da anemia. o título de anticorpos é alto. Entretanto,
sugestivos, no exame físico e na história • Trombocitopenia transitória mesmo após a esterilização da infecção,
clínica do animal. Em geral, são cães pode ser observada na fase aguda inicial, os cães podem permanecer reagentes por
adultos jovens que se apresentam com os cães apresentando número um longo período de tempo, mantendo
com prostração, febre, perda de peso, de plaquetas < 50.000/ L, o que pode baixo título de anticorpos. O valor
membranas mucosas pálidas, icterícia, predispor a hemorragias (Figura 2). diagnóstico do teste é baixo na ausência
de sinais clínicos e histórico do paciente.

Testes moleculares (PCR)


Na atualidade, PCR clássica ou a
PCR em Tempo Real são amplamente
utilizadas no diagnóstico de doenças
infecciosas ou parasitárias, inclusive
para a detecção de DNA de Babesia
canis vogeli em amostras de sangue
periférico. A alta sensibilidade analítica
do teste permite a detecção de mínimas
quantidades de DNA do agente sendo,
portanto, útil nos casos suspeitos da
hemoparasitose em que o diagnóstico
não foi confirmado pela pesquisa do
parasita no sangue periférico.

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HEMATOLOGIA

Tratamento Fármaco Dose Via Observações


Dipropionato de imidocarb é o dipropionato de imidocarb 5,0 a 6,6 mg/kg, duas doses SC Prevenção dos efeitos colinérgicos.
com intervalo de 14 dias Atropina (0,04 mg/kg/SC) 15 minutos antes
babesicida de escolha para o tratamento entre as doses.
da babesiose canina. Apresenta boa diaceturato de 3 a 5mg/kg , dose única SC Efeitos colaterais: ataxia, salivação e
4,4’diazoamino diarreia.
eficácia contra B. canis, porém seu dibenzamidina
uso pode estar associado a efeitos Figura 3: Tratamento da babesiose canina.
colinérgicos, e nessas condições, deve
Erliquiose Monocítica Canina manter e transmitir o agente infeccioso
ser precedido pela aplicação de atropina. ao cão.
Os organismos do gênero Ehrlichia
Embora menos frequentemente, Patogenia
são transmitidos aos respectivos
também se indica o uso de diaceturato O agente é inoculado no cão pela
hospedeiros através da picada dos
diaminazene, que possui menor margem picada do carrapato durante o repasto
carrapatos infectados. Assim se explica a
de segurança e pode estar associado sanguíneo. É necessário que o carrapato
alta prevalência da erliquiose nas regiões
a efeitos colaterais indesejáveis que permaneça fixado no cão pelo menos
tropicais e subtropicais devido a ampla
incluem ataxia, ptialismo e diarreia. oito horas para ocorrer a transmissão
distribuição geográfica dos vetores.
• O tratamento é indicado em efetiva do agente infeccioso. A Ehrlichia
No Brasil, a ocorrência e prevalência
cães que apresentam histórico e quadro invade as células mononucleares do
da erliquiose canina acompanham a
clínico compatível com babesiose, hospedeiro na forma de corpúsculos
distribuição de Ripicephalus sanguineus,
com anemia hemolítica, de caráter elementares inibindo a fusão do
o carrapato transmissor da infecção.
regenerativo, rapidamente progressiva fagosomo e lisossomo, possibilitando
• A erliquiose monocítica
ainda que a pesquisa de inclusões assim o escape do sistema imune. A
canina (EMC) é transmitida aos
intraeritrocitárias tenha sido frustrante. replicação do microrganismo e sua
cães por Ripicephalus sanguineus. O
• PCR em tempo real pode ser disseminação por órgãos como o
microrganismo é adquirido pelo vetor
útil para a confirmação do diagnóstico. fígado, baço e tecido linfoide resultam
no estágio de larva ou ninfa, por ocasião
Com a quantificação do agente este teste em intenso processo inflamatório e
do repasto sanguíneo em cão infectado e
é importante para o acompanhamento resposta imunológica. É a fase aguda
persiste na glândula salivar do carrapato
de tratamento. da infecção, que persiste por cerca de
até a forma adulta.
• Testes sorológicos não quatro semanas. Passada essa fase, a
• Não há transmissão
permitem diferenciar infecção presente infecção é gradativamente controlada
transovarina de E. canis; ocorre apenas a
de infecção passada, sendo de pouca pela resposta imune do hospedeiro,
transmissão transtadial. A nova geração
utilidade para a decisão clínica de tratar porém o microrganismo pode
de carrapatos oriunda de uma fêmea
o animal. permanecer nas células mononucleares
infectada está livre da infecção erliquial
• Não há indicação de por longo período de tempo, sem que o
até realizar o primeiro repasto sanguíneo
tratamento em cães com resultados animal apresente qualquer manifestação
em um cão portador.
de PCR positivos, sem o componente clínica aparente. É a fase subclínica ou
• A prevalência da erliquiose
clínico indicativo de infecção aguda. assintomática da infecção. A persistência
canina em cães domiciliados é de cerca
de 9 a 10 % e em cães de rua, de 20 %. da infecção resulta na fase crônica da
• Mesmo em ambientes onde há infecção com a gradual deterioração
Terapia Adjunta das condições gerais e evolução para
cães com erliquiose, apenas 6 a 10 % dos
Acelerada queda do hematócrito em pancitopenia terminal. As alterações
carrapatos estão infectados por E. canis.
24 – 48 horas requer rápida intervenção clínicas e laboratoriais que podem
• Apenas as espécies tropicais de
terapêutica, com o uso de babesicida e ocorrer durante a evolução da erliquiose
Ripicephalus sanguineus são capazes de
transfusão sanguínea, de preferência são apresentadas a seguir (figura 4.)
concentrado de hemácias quando o
Fase Aguda Fase assintomática Fase crônica
hematócrito se aproxima rapidamente 2 – 4 semanas meses a anos meses a anos
de 15%. Em geral nesses casos há
Febre, anorexia, prostração, perda de Sem manifestações clínicas Anemia
intensa resposta reticulocítica, com os peso, esplenomegalia, linfadenomegalia, detectáveis Infecções secundárias
reticulócitos alcançando facilmente alterações oculares, neurológicas, DRC
respiratórias, gastrointestinais
valores > 300.000 a 400.000/L.
Manutenção da volemia, com o uso de Anemia arregenerativa Anemia arregenerativa Pancitopenia variável
Trombocitopenia (discreta) Hipergamaglobulinemia
fluidos e eletrólitos intravenosos, de Leucopenia variável Leucopenia (ou não) Relação A:G < 5,0
acordo com a necessidade do paciente Aumento de ALT e FA variável Uréia e creatinina variáveis
em questão. Não há indicação para Hipoalbuminemia Trombocitopenia (ou não)
Aumento de proteína C reativa variável
a suplementação de ferro, a não ser Hipergamaglobulinemia
naqueles casos em que houve profusa variável
hemorragia externa. Figura 4: Manifestações clínicas e alterações laboratoriais nas diferentes fases da erliquiose monocítica canina

8
HEMATOLOGIA

Figura 4: Petéquias e sufusões em um cão com


trombocitopenia causada pela infecção por E. canis

Diagnóstico
O diagnóstico de EMC constitui-se
em um grande desafio para o médico
veterinário. A erliquiose deve ser
suspeitada quando houver histórico
de infestação por carrapatos (figura
1) ou viagem para locais onde a
doença ocorre frequentemente e os
sintomas apresentados pelo animal
forem compatíveis com a infecção por
E. canis, principalmente as alterações
de hemostasia. A confirmação do
diagnóstico é baseada nas alterações
hematológicas e bioquímicas, pesquisa
de inclusões de E. canis, testes
sorológicos e testes moleculares.

Alterações Hematológicas
• Durante a fase aguda, pode ser
encontrada trombocitopenia moderada
a grave, acompanhada de discreta a
moderada anemia e leucopenia. A
trombocitopenia é a principal alteração
hematológica e pode ser acompanhada
de megaplaquetas. A anemia nessa
fase é em geral não regenerativa, o que
a diferencia da anemia causada por
Babesia canis (altamente regenerativa);
os parâmetros eritrocitários tendem
a retornar aos valores basais após a
fase aguda. A leucopenia é devida
principalmente a linfopenia, mas
a neutropenia também pode ser
encontrada.
• Nesta fase podem ser
encontradas mórulas em monócitos do
sangue periférico, embora a pesquisa
seja difícil e laboriosa. Porém a pesquisa
pode ser otimizada, preparando-se
esfregaços a partir da nata leucocitária
ou ainda, preparados com sangue obtido
por punção da ponta de orelha. Mórulas
dificilmente serão encontradas nas fases

9
HEMATOLOGIA

subclínicas ou crônicas da infecção. medula óssea e disfunção das células da


• Cães que não receberam medula óssea, resultando-se assim em
tratamento ou que receberam pancitopenia, refratária ao tratamento
tratamento inadequado ou incompleto cm doxiciclina. O prognóstico nessas
podem progredir para a fase subclínica. condições é reservado.
Nesta fase, discreta a moderada
trombocitopenia com o volume Alterações bioquímicas
plaquetário médio maior, indicam • As anormalidades da
distúrbio na trombocitopoiese. Embora bioquímica sanguínea incluem
seja dada pouca atenção aos leucócitos, hipoalbuminemia, elevadas atividades
a leucopenia moderada, devido a séricas de alanina aminotransferase
neutropenia e linfopenia, é também (ALT) e fosfatase alcalina (FA) na fase
encontrada nesses animais. Se a aguda da infecção. Hiperproteinemia,
trombocitopenia pode ser considerado hiperglobulinemia, hipoalbuminemia
indicador da persistência de infecção, e baixa relação albumina: globulina
a leucopenia associada a primeira na fase crônica da infecção (figura 5).
sugere a necessidade de se realizar A hiperproteinemia é resultante da
esforços diagnósticos adicionais para hiperglobulinemia; na eletroforese do
o esclarecimento dessas alterações soro sanguíneo pode ser observada
hematológicas. hiperglobulinemia policlonal, embora Figura 5: Perfil eletroforético de cão com erliquiose
crônica. Observar pico de alfa-2 globulina (seta
• A fase crônica da erliquiose também possa ser observada gamopatia fina) e de gamaglobulina (seta larga)
é caracterizada por hipoplasia da monoclonal.

10
HEMATOLOGIA

teste repousa no resultado negativo em


um animal doente há mais de quinze
dias, cujo histórico, clínica e patologia
clínica geraram suspeita de se tratar de
infecção por E. canis. Nessas condições,
devem ser pesquisadas outras causas
responsáveis pelas condições mórbidas
do cão.
• Testes moleculares (PCR ou
PCR em tempo real). É um método
com alta sensibilidade para detecção
de mínimas quantidades de DNA do
agente infeccioso, fornecendo resultados
positivos antes mesmo da soroconversão.
Na prática, podem ocorrer resultados
negativos falsos por falhas inerentes a
técnica e, na fase crônica a sensibilidade
da prova tende a se tornar mais baixa
pela ausência de E. canis no sangue.
Resultados positivos falsos podem
ser devidos a contaminação das
amostras durante o processamento.
Para o diagnóstico definitivo, ambas
as provas devem ser interpretadas em
conjunto. Na fase crônica da infecção a
sensibilidade da PCR tende a ser mais
Testes Sorológicos de poder ser realizado durante o baixa, fornecendo resultados negativos,
• O teste de imunofluorescência atendimento (point of care test). O porém deve ser detectada a presença
indireta para pesquisa de anticorpos é resultado do teste é qualitativo (positivo/ de alto título de anticorpos em virtude
o teste mais frequentemente usado, é negativo) e constitui-se em limitação da estimulação antigênica ocorrida nas
considerado o teste padrão-ouro e indica do teste a baixa sensibilidade em soros fases anteriores.
exposição a Ehrlichia canis. O resultado com títulos <320 e possibilidade de
positivo em apenas um teste pode indicar reações cruzadas com outras espécies de Tratamento
apenas exposição prévia ao agente, Ehrlichia e Anaplasma. Os resultados O tratamento da erliquiose
não representando necessariamente desse teste também devem ser canina consiste no uso de agentes
doença atual. A interpretação dos interpretados associados as informações antibacterianos e na instituição de
resultados do teste deve ser realizada clínicas e de patologia clínica, pois não terapia de suporte. Antimicrobianos
simultaneamente aos achados permitem diferenciar infecção presente eficazes incluem tetraciclinas e
clínicos e aos resultados de outros de infeção passada. O valor maior deste cloranfenicol (Figura 6).
testes laboratoriais. Recomenda-se a
realização de teses sorológicos pareados
para a confirmação do diagnostico.
Aumento significativo dos títulos de
anticorpos pode indicar infecção ativa.
Na nossa experiência clínica, os cães que
estão ativamente infectados apresentam
altos títulos de anticorpos, no mínimo
> 640. Cães reagentes na diluição 1:40
são considerados positivos por outros
autores.
• Teste baseado em tecnologia
ELISA (Dot-ELISA) está disponível
comercialmente para detecção de Figura 6: Antimicrobianos e regimes terapêuticos para o tratamento da erliquiose canina
anticorpos anti-E. canis com a vantagem
11
HEMATOLOGIA

Como regra geral, quanto mais infecção crônica, os resultados da PCR positivo por longo período de tempo.
precocemente for iniciado o tratamento permaneceram positivos nesses cães, • Negativação do teste molecular
dos cães na fase aguda da infecção, bem como nos carrapatos que foram em três avaliações consecutivas em
melhor o prognóstico e a resolução da colocados para fazerem o repasto nesses intervalos regulares.
infecção. Os cães que se encontram animais. A doxiciclina possui espectro • Indicadores da persistência da
na fase crônica da infecção em geral de ação limitado em relação a outras infecção.
não respondem ao tratamento por bactérias patogênicas. Assim, em cães • Melhora clínica, porém
causa das alterações multissistêmicas e com infecção crônica que apresentam persistência de trombocitopenia e
severa mielossupressão. O prognóstico infecções bacterianas secundárias como leucopenia variáveis.
é reservado, nessas condições. A abscessos, pneumonia secundária ou • Os cães permanecem reagentes
doxiciclina é o antibiótico de escolha, infecções urinárias devem receber outro com variáveis títulos de anticorpos, em
embora também possam ser empregados antimicrobiano de amplo espectro. geral bastante altos.
minociclina e oxitetraciclina, com Nessas condições, recomenda-se o uso • Negativação intermitente do
resultados satisfatórios. Entretanto, de cloridrato de ceftiofur (7,5 mg/kg /IV teste molecular. Nessas condições, é
a doxiciclina apresenta inúmeras ou IM/ 24 horas) ou ciprofloxacina (10 indicada a realização do teste molecular
vantagens sobre os demais mg/kg/IV/ 12 horas). O cloranfenicol em material obtido do baço.
antimicrobianos. é uma opção para o tratamento da • O estímulo antigênico
• A doxiciclina é uma erliquiose principalmente nos casos persistente resulta no aumento
tetraciclina semissintética, lipossolúvel de infecções persistentes, refratárias a de globulinas (gamaglobulina) e,
que é facilmente absorvida e produz doxiciclina. Pelo seu amplo espectro consequentemente, hiperproteinemia.
altas concentrações sanguíneas, antimicrobiano, atua ainda no combate A relação albumina globulina tende a
tissulares e intracelulares. Alta as infecções bacterianas secundárias ser mais baixa, principalmente se houver
concentração intracelular é mandatória, em cães com erliquiose. Quanto a concomitantemente a diminuição da
já que a Ehrlichia canis é um organismo dipropionato de imidocarb apresenta síntese de albumina. Relação A:G < 5,0
intracelular obrigaatório. eficácia discutível no tratamento da é altamente sugestiva de persistência de
• Possui maior meia-vida e infeção por E. canis. Entretanto, como infecção (figura 7).
maior penetração no sistema nervoso pode ocorrer coinfeção por Babesia
central quando compa. canis ou Hepatozoon canis, organismos
• Excreção basicamente transmitidos pelo mesmo vetor e que Prognóstico e Considerações Finais
intestinal, o que reduz o potencial de eventualmente podem agravar o quadro Em geral o prognóstico é bom,
nefrotoxicidade especialmente em clínico, o dipropionato de imidocarb quando o diagnóstico e o tratamento
animais com lesão renal decorrente da pode ser usado em conjunto com a são realizados na fase aguda da infecção
infecção por E. canis. doxiciclina quando a presença desses e na fase subclínica, quando ainda
• Apresenta baixa ligação com agentes for detectada por citologia ou não houve dano medular grave. Uma
cálcio, evitando-se assim o acúmulo e por técnicas moleculares. vez instalada a pancitopenia ou grave
possíveis alterações na coloração dos comprometimento orgânico como a
dentes. DRC, o prognóstico torna-se reservado.
Monitoramento do tratamento Assim, em cães que vivem em regiões
A doxiciclina é indicada na dose A resposta ao tratamento deve ser ou locais onde a EMC é encontrada
de 10mg/kg/a cada 24 horas, por 28 a monitorada, por se tratar de agente sistematicamente, recomenda-se
30 dias. Entretanto, em alguns casos intracelular obrigatório que pode causar que cães com trombocitopenia e
esse regime terapêutico mantido por infeção persistente e permanecer por leucopenia moderadas, associadas ou
seis semanas ainda não foi eficaz em meses a anos no organismo do cão. não a hiperproteinemia e baixa relação
eliminar a infecção. A discrepância entre Após o tratamento realizar a avaliação A:G sejam vasculhados quanto a
os resultados obtidos por diferentes do hemograma, testes sorológicos possibilidade de infecção crônica por E.
autores quanto a duração e eficácia do (quantitativo, IFI) e PCR ou canis, procedendo a pesquisa e titulação
tratamento, pode estar relacionada a preferencialmente, PCR em tempo real. de anticorpos anti-Ehrichia canis e a
duração da infecção antes de se iniciar Indicadores da resolução da infecção realização de PCR para detecção de
o tratamento. O tratamento padrão foi após o tratamento: material genético do organismo. Se
eficaz em cães com infecção aguda ou • Melhora clínica e normalização necessário, realizar punção aspirativa
subclínica, o mesmo não ocorrendo hematológica. do baço com agulha fina, submetendo
com os cães com infecção crônica. • Queda no título de anticorpos, o material obtido para os testes
Após o tratamento dos cães com embora permaneça sorologicamente moleculares.

12
HEMATOLOGIA
Figura 8. Alterações clínicas e laboratoriais nas diferentes fases da erliquiose monocítica canina
Fase Aguda Fase assintomática Fase crônica
2 – 4 semanas meses a anos meses a anos

Febre, anorexia, prostração, Sem manifestações clínicas detectáveis Anemia


perda de peso, esplenomegalia, Infecções secundárias
linfadenomegalia, alterações DRC
oculares, neurológicas,
respiratórias, gastrointestinais
Anemia arregenerativa Anemia arregenerativa (discreta) Pancitopenia variável
Trombocitopenia Leucopenia (ou não) Hipergamaglobulinemia
Leucopenia variável variável Relação A:G < 5,0
Aumento de ALT e FA Trombocitopenia (ou não) variável Uréia e creatinina
Hipoalbuminemia Hipergamaglobulinemia variável variáveis
Aumento de proteína C reativa

Figura 7: Alterações clínicas e laboratoriais nas diferentes fases da erliquiose monocítica canina

Patogenia da erliquiose canina

EXAMES REALIZADOS PELO


Fase aguda
TECSA LABORATÓRIOS
Picada do carrapato e Invasão dos Eliminação ou
transmissão do leucócitos perpetuação do
agente mononucleares e agente
disseminação
orgânica CÓD - EXAME PRAZO/DIAS

793 - PERFIL PCR REAL TIME PARA


HEMOPARASITAS - EHRLICHIA E BABESIA - 4
Desaparecimento dos sintomas e QUALITATIVO
Pancitopenia
persistência da estimulação
(Aplasia medular) antigênica 326 - PERFIL COMPLETO PARA
HEMOPARASITAS 2
Fase terminal Fase crônica

Figura 8: Patogenia da erliquiose canina 327 - BABESIA - SOROLOGIA IGG 3

632 - BABESIA- SOROLOGIA IGM 3

633 - BABESIA CANINA -


MÉTODO PCR REAL TIME QUALITATIVO 5

667 - EHRLICHIA - IGG - RIFI 3

666 - EHRLICHIA - IGM - MÉTODO RIFI 3

771 - EHRLICHIA SP - 7
MÉTODO PCR REAL TIME QUANTITATIVO

13
HEMATOLOGIA

QUANDO E COMO UTILIZAR HEMOCOMPONENTES?


Simone Gonçalves
(Médica Veterinária - Responsável pelo Hemovet – Laboratório e Centro de Hemoterapia Veterinário)

Sangue Total (ST) piorar ainda mais o quadro clínico do hemácias de uma bolsa de sangue total,
O sangue total é classificado em fresco animal. Para estes casos, a indicação de porém em menor volume beneficiando
e estocado. Por definição, o sangue total concentrados de plaquetas é soberana. pacientes que apresentam cardiopatia
é denominado de fresco até 8 horas em Em geral, a dose recomendada para ou nefropatia concomitante.
relação à coleta sem refrigerá-lo, ou seja, cães é de 20 mL/kg de sangue total para O concentrado de hemácias, também
mantido em temperatura ambiente (20- elevar 10 % o hematócrito. Em geral, denominado de papa de hemácias, é
24°C). Ele contém um número máximo uma unidade de sangue total felino obtido após a primeira centrifugação
de plaquetas funcionais se permanecer (50mL) aumenta mais ou menos 5 % refrigerada do sangue total (figura
em temperatura ambiente até 6-8 do hematócrito de um gato de 5kg. 1). Ele possui uma quantidade bem
horas após a coleta. Após este período, Desta forma, o objetivo da transfusão reduzida de plasma o qual foi transferido
o sangue total passa a ser chamado de sanguínea em felinos é alcançar um em seu maior volume para outra bolsa
estocado, mantido refrigerado (2-6°C), hematócrito de pelo menos 20% que, satélite. Desta forma, minimiza-se a
entretanto ocorre a perda de grande parte segundo os autores, é suficiente para ocorrência de reações transfusionais não
das características hemostáticas sendo, estabilizar um gato doente. A meia vida hemolíticas, pois a quantidade de plasma
portanto, indicado apenas para correção das hemácias compatíveis transfundidas transfundida é muito reduzida quando
de anemia em pacientes hipovolêmicos. na espécie canina é de 21 dias e 35 dias comparada ao sangue total. O volume
Em geral, o sangue total refrigerado para felinos. médio de uma bolsa de concentrado de
permanece viável por um período de hemácias de cães é de 250-300 mL e
35 dias quando mantido em CPDA-1 de 25 mL para gatos. Recomenda-se a
(citrato-fosfato-dextrose-adenina – 1) diluição do CH com NaCl 0,9% antes
que é a solução preservativa mais comum Concentrado de Hemácias do uso (10 mL de NaCl 0,9% para 30-
das bolsas sanguíneas disponíveis no (CH) – Cães e Gatos 40 mL de concentrado de hemácias de
mercado. A principal indicação do O concentrado de hemácias é a primeira cães e 10 mL de NaCl a 0,9% para CH
sangue total fresco ou estocado é a escolha no tratamento de anemias em felino) para diminuir a sua viscosidade
hemorragia aguda em que a reposição pacientes normovolêmicos, ou seja, na e melhorar o fluxo sanguíneo. A dose
de hemácias e da volemia é requerida. maioria dos casos atendidos na rotina recomendada para cães é 10 mL/kg
É contraindicada a administração clínica resultante de hemorragia crônica, para elevar 10% o hematócrito. Um
de sangue total fresco como terapia hemólise ou eritropoiese ineficiente. concentrado de hemácias para gatos
para pacientes trombocitopênicos não A vantagem deste hemocomponente é eleva em torno de 5-10% o hematócrito
anêmicos devido à possibilidade de que ele possui a mesma quantidade de de um gato de 5 kg.

14
HEMATOLOGIA

Indicação e Velocidade de Plasma Fresco Congelado Concentrado de Plaquetas


Administração ( ST e CH ) (cães e gatos) (disponível apenas para cães)
Em geral, a transfusão de sangue total O plasma fresco congelado é obtido A terapia com concentrados
não é indicada quando a hemoglobina após a centrifugação do sangue total de plaquetas é a primeira escolha
é maior que 10g/dL. Pacientes com devendo ser congelado até 6 a 8 horas no tratamento de pacientes
valores entre 7 e 10 g/dL, a decisão para após a coleta para preservação de suas trombocitopênicos ou com
transfundir será individual dependendo propriedades. Este hemocomponente trombocitopatias. O uso de concentrado
de vários fatores, dentre eles, quando permanece com suas características de plaquetas permite a transfusão de
clínico do animal, possibilidade viáveis por 1 ano congelado ( -18°C grande quantidade de plaquetas sem
de intervenção cirúrgica ou não, a – 30°C). Ele contém fatores a transfusão simultânea de eritrócitos
sangramento presente, perda sanguínea de coagulação (incluindo von ou plasma. Assim, são minimizados
aguda ou crônica. A transfusão está Willebrand), anti-trombina III, efeitos colaterais associados com
habitualmente indicada para valores albumina, imunoglobulinas, proteínas administração de outros componentes
abaixo de 7 g/dL de hemoglobina. A e antiproteases como a α1antitripsina e sanguíneos desnecessários e, portanto,
transfusão sanguínea com sangue total a α2macroglobilinas além de contribuir diminuindo os riscos de reações
ou concentrado de hemácias deve ser para elevação da pressão coloido transfusionais hemolíticas. Existem
administrada em até 4 horas para reduzir osmótica. É indicado no tratamento de duas indicações para a transfusão de
o risco de contaminação e colonização coagulopatias (hereditárias, síndromes plaquetas: terapêutica e profilática.
bacteriana. A administração mais rápida paraneoplásicas, hepatopatias, A transfusão terapêutica é indicada
é indicada em pacientes com hemorragia dicumarínicos) e expansor agudo em trombocitopenia grave (< 50.000
aguda ou hipovolêmicos. O cuidado deve de volume na ausência de colóides plaquetas/μL) acompanhada de sinais
ser redobrado em pacientes nefropatas sintéticos. A dose recomendada para o e sintomas de sangramento como
ou cardiopatas devido ao risco de plasma fresco congelado é de 10 a 30 petequeias, sufusões, hematoquesia,
sobrecarga circulatória. A velocidade mL/kg podendo ser administrado em 1 hematoemese e epistaxe. A transfusão
de administração recomendada é: 0, 25 hora e repetido conforme o necessário. profilática é indicada para prevenir
mL/kg na primeira meia hora passando Antes de sua administração, deve- a ocorrência de sangramentos
posteriormente para 10 a 20 mL/kg/ se submetê-lo ao descongelamento durante procedimentos cirúrgicos
hora em pacientes normovolêmicos e 2 em banho-maria com um envoltório sendo desejável pelo menos 100.000
a 4 mL/kg/hora em cães cardiopatas ou plástico. plaquetas/μL no pré operatório ou,
nefropatas. ainda, em casos de trombocitopenia
15
HEMATOLOGIA

severa (< 10.000 plaquetas/μL) em simultânea ou a diluição com algumas


que há risco de hemorragia súbita. A soluções cristalóides pode ocasionar
dose recomendada é de 1 concentrado consequências deletérias. A solução de
de plaquetas (= 50 a 70 mL) para cada Ringer Lactato não deve ser utilizada,
10 kg que poderão ser administrados pois contém cálcio que poderá se ligar ao
em torno de 1 hora com velocidade citrato presente no anticoagulante das
reduzida nos primeiros 15 minutos para bolsas de sangue e levar a formação de
verificação de reações transfusionais. microêmbolos. Por outro lado, soluções
É contraindicada a refrigeração ou o hipotônicas como glicose a 5% podem
aquecimento deste hemocomponente resultar em hemólise do componente Figura 1: Fracionamento de sangue total felino
antes de sua administração devido sanguíneo. A solução recomendada em plasma fresco congelado (parte clara superior)
e concentrado de hemácias (parte avermelhada
à alteração de sua função. Deve para administração concomitante
inferior)
ser armazenado e transfundido em ou diluição do hemocomponente é
temperatura ambiente (20-24°C) e no a solução fisiológica a 0,9%. Não é
máximo até 3 horas após a retirada do necessário aquecer a bolsa de sangue
agitador de plaquetas. total ou concentrado de hemácias em
banho-maria antes do uso. Esta prática
Crioprecipitado vem sendo cada vez menos utilizada
(apenas para cães) devido ao risco de contaminação do
O crioprecipitado é um sangue, pois o plástico da bolsa é poroso.
precipitado branco obtido através do Atualmente, é recomendado manter a
descongelamento lento do plasma bolsa de sangue total ou concentrado de
fresco congelado. Ele contém uma hemácias 30 minutos em temperatura
Figura 2: Concentrado de hemácias da esquerda
concentração elevada do fator VIII, ambiente antes de sua administração. de coloração avermelhada com suas características
von Willebrand e fibrinogênio. Além Se optar pelo aquecimento, recomenda- macroscópicas preservadas. Concentrado de
hemácias da direita de coloração enegrecida
disso, contém os seguintes fatores se colocar um envoltório plástico na indicando comprometimento da qualidade deste
de coagulação: IX, XI e XIII. Este bolsa para evitar a penetração da água hemocomponente como hemólise ou contaminação
hemocomponente permanece viável bacteriana
do banho-maria cuja temperatura
por 6 meses congelado a pelo menos - não deverá estar mais alta que 37°C
20°C. O crioprecipitado é indicado EXAMES REALIZADOS PELO
para evitar hemólise, precipitação do TECSA LABORATÓRIOS
no tratamento de coagulopatias fibrinogênio e degradação de proteínas
hereditárias (Hemofilia e Doença e dos fatores de coagulação. Os níveis de CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
de von Willebrand) e hemorragias citocinas se elevam durante o período
810 - PERFIL PCR DOADORES DE SANGUE -
por hipofibrinogenemia. Este de estocagem dos produtos sanguíneos PCR PARA EHRLICHIA, BABESIA, 7
hemocomponente é administrado (sangue total ou concentrado de LEISHMANIA CHAGASI QUALITATIVO
na dose de 1 unidade (= 40 a 50 mL) hemácias). Recomenda-se que pacientes 715 - PERFIL TIPAGEM SANGUINEA+CHECK
para cada 10 kg podendo ser repetido nefropatas, hepatopatas, anemia UP GLOBAL DE FUNÇÕES+HEMOGRAMA 1
conforme necessário para o controle CANINO
hemolítica e em terapia intensiva sejam
do sangramento. A transfusão pode transfundidos com hemocomponentes 44 - HEMOGRAMA COMPLETO – FELINO 1
ser realizada em torno de 1 hora. É com menos de 14 dias de
recomendado o descongelamento deste armazenamento. Não se recomenda o
hemocomponente antes do seu uso reaproveitamento das bolsas de sangue 39 - HEMOGRAMA COMPLETO – CANINO 1
protegido com um envoltório plástico. para outro paciente após a violação
das mesmas devido à contaminação 712 - PERFIL TIPAGEM SANGUINEA+
Considerações Gerais bacteriana que ocorre cada vez que se CHECK UP GLOBAL DE FUNCOES+ 1
Os produtos sanguíneos devem ser HEMOGRAMA FELINO
rompe o sistema estéril. Não utilizar
administrados por via intravenosa com hemocomponentes com alterações
um equipo que contenha um filtro de 713 - TIPAGEM SANGUINEA DE CÃES 1
macroscópicas como coloração e
tamanho padronizado de 170 µm para partículas em suspensão. O sangue total
retenção de coágulos e debris durante a ou concentrado de hemácias escurecidos 710 - TIPAGEM SANGUINEA DE GATOS 1
administração. A Associação Americana podem indicar contaminação bacteriana
dos Bancos de Sangue não recomenda ou hemólise acentuada comprometendo
a administração de medicamentos no a viabilidade do hemocomponente 788 - CHECK UP GLOBAL DE FUNÇÕES 1
mesmo acesso venoso que o produto COM HEMOGRAMA
e com chances do animal apresentar
sanguíneo. Além disso, a administração reações transfusionais graves. (figura 2)

16
HEMATOLOGIA

CUIDADOS NA HORA DE REALIZAR


UMA TRANSFUSÃO SANGUÍNEA
Dra. Luciana de Almeida Lacerda
(Médica Veterinária especialista em Hematologia e Hemoterapia – Blut’sCentro de Diagnósticos Veterinários – Porto Alegre, RS)

Ao realizar uma transfusão pré-estabelecidos para tal. É importante evitar que coágulo, fibrina ou debris
sanguínea, ou seja, infusão endovenosa realizar inspeção visual do produto celulares entrem na circulação do
de sangue total ou subprodutos quanto à presença de bolhas de ar, paciente. Deve-se utilizar um equipo
(hemocomponentes e hemoderivados), coágulos e qualquer coloração incomum para cada bolsa infundida. Em geral,
o médico veterinário deve ter alguns ou turvação (crescimento bacteriano utiliza-se um cateter de acordo com o
cuidados com as etapas do processo pode resultar em formação de bolhas; calibre e fragilidade da veia de acesso.
transfusional: presença de hemólise pode acarretar Parece dispensável o comentário, mas
em coloração anormal ou turvação). é necessário lembrar que o material
Cuidados com o Produto Amostras do produto a ser infundido deve ser estéril e deve se manter livre de
a ser Transfundido devem ser armazenadas para possíveis contaminações do ambiente.
Seja qual o for o hemocomponentes testes em caso de reação transfusional.
ou hemoderivado, o profissional Cuidados com os Testes
responsável deve se certificar da origem Cuidados com o Pré-transfusionais
do produto. O hemocomponente deve Material Utilizado Prova-cruzada (ou teste de
ser de um doador comprovadamente Além do uso de EPIs (equipamento compatibilidade) e tipagem sanguínea
sadio através de exame físico e testes de proteção individual – ex. avental, devem ser realizados antes de cada
laboratoriais (incluindo triagem para luvas). A escolha do material adequado transfusão. A tipagem para o sistema
agentes que possam ser transmitidos para a transfusão também é um fator AB em gatos e para DEA 1 em cães está
pelo sangue). O produto deve estar importante. O profissional deve disponível no Brasil, mas o profissional
dentro da validade e deve ter sido escolher um equipo que contenha um deve ter em mente que existem outros
armazenado de acordo com critérios filtro (específico para transfusão) para tipos sanguíneos, portanto o teste de

17
HEMATOLOGIA

compatibilidade deve ser realizado em volume em bolsas menores para que o


conjunto. Antes de qualquer transfusão hemocomponente não fique exposto à
é essencial que o médico veterinário temperatura ambiente por muitas horas.
procure entender a doença de base, o
motivo pelo qual o paciente necessita Cuidados ao Finalizar
de transfusão, caso contrário as o Procedimento
consequências do procedimento podem Após a transfusão, o paciente deve
confundir o caso clínico. permanecer em observação para
Figura 1: Testes de compatibilidade em tubo
acompanhar a evolução do quadro de ensaio: Teste compatível (esquerda) e
Cuidados com a Instalação clínico e detectar possíveis complicações. incompatível na prova maior (direita).
do Hemocomponente
Antes de iniciar o procedimento, o EXAMES REALIZADOS PELO
profissional deve procurar a posição de TECSA LABORATÓRIOS
maior conforto do paciente e que permita CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
o acesso venoso e o fluxo sanguíneo do
vaso acessado. O vaso selecionado deve 810 - PERFIL PCR DOADORES DE SANGUE -
PCR PARA EHRLICHIA, BABESIA, 7
ser exclusivo para a transfusão, não deve LEISHMANIA CHAGASI QUALITATIVO
conter hematomas ou lesões próximas,
o que pode ser um desafio em pacientes 808 - TESTE DE REAÇÃO CRUZADA PARA 1
TRANSFUSÃO CANINA
crônicos, muito jovens ou idosos que
passaram por outros procedimentos. O
hemocomponente deve ser instalado 44 - HEMOGRAMA COMPLETO – FELINO 1
e a velocidade deve ser controlada de
acordo com o estado clínico do paciente.
39 - HEMOGRAMA COMPLETO – CANINO 1
O acesso venoso pode ser mantido com
solução fisiológica 0,9%.
715 - PERFIL TIPAGEM SANGUINEA+
CHECK UP GLOBAL DE FUNÇÕES+ 1
Cuidados na Monitorização HEMOGRAMA CANINO Figura 2: Transfusão de concentrado de
eritrócitos felino.
do Paciente 712 - PERFIL TIPAGEM SANGUINEA+
Monitorar o paciente durante toda CHECK UP GLOBAL DE FUNÇÕES+ 1
a transfusão: verificar a frequência HEMOGRAMA FELINO
cardíaca, a temperatura e a frequência
respiratória do animal receptor a cada 713 - TIPAGEM SANGUINEA DE CÃES 1
20 ou 30 minutos. Os primeiros 15
minutos devem ser acompanhados junto
710 - TIPAGEM SANGUINEA DE GATOS 1
ao paciente para identificação precoce
de possíveis reações transfusionais.
O profissional responsável deve 788 - CHECK UP GLOBAL DE FUNÇÕES 1
manter as anotações realizadas sobre COM HEMOGRAMA
o procedimento no prontuário do
paciente. Em pacientes normovolêmicos Referências Bibliográficas

(pacientes com anemia severa crônica), DAY, M.J.; BARBARA, K.. Manual of Canine and Feline Haematology and Transfusion
Medicine. Gloucester, UK: BSAVA, 2012.

cardiopatas ou com anemia hemolítica


DAY, M.J.; MACKIN, A.; LITTLEWOOD, J. Manual of Canine and Feline Haematology and
Transfusion Medicine. Gloucester, UK: BSAVA, 2000.
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imunomediada (AHIM), a velocidade Medbook - EditoraCientífica Ltda., 2008. 200p
HELM, J.R.; KNOTTENBELT, C. Blood transfusions in dogs and cats 1. Indications. In
de transfusão deve ser a mais lenta Practice, 32: 184-189, 2010.
HELM, J.R.; KNOTTENBELT, C. Blood transfusions in dogs and cats 2. Practicalities of

possível. Nestes casos, é possível pedir blood collection and administration. In Practice, 32: 231-237, 2010.
TOCCI, L.J. Transfusion medicine in small animal practice. Vet Clin North Am: Small
Figura 3: Transfusão de plasma fresco congelado
ao serviço de hemoterapia que separe o AnimPract. 40(3):485-94, 2010.
YAGI K.; HOLOWAYCHUK M., eds. Manual of Veterinary Transfusion Medicine and Blood
canino.
Banking. Ames: Wiley Blackwell, 2016.

HEMOCOMPONENTE DOSE VELOCIDADE


Sangue total (ST) 10 a 22 mL/kg 1 a 4 mL/kg/hora
Concentrado de eritrócitos com solução aditiva 10 a 15 mL/kg 2 a 4 mL/kg/hora
Plasma fresco congelado 10 a 30 mL/kg 2 a 6 mL/kg/hora
Concentrado de plaquetas (CP) 1 unidade para cada 10 kg 2 a 6 mL/kg/hora

18
HEMATOLOGIA

ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNE-MEDIADA


Prof. Dr. Rubens Antônio Carneiro
(Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG)
Dr. Marthin Raboch Lempek
(Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG)

Introdução da destruição por imunoglobulinas ou de água e eletrólitos causando edema


A hemólise consiste em necrose do pelo sistema complemento (hemólise celular e lise. Esta ativação ocorre
eritrócito e tem ocorrência no fim da sua intravascular) ou ainda, pela remoção também com IgM, ligando também com
vida. Quando a taxa de hemólise in vivo promovida pelo sistema monocítico C1. Este complexo pode ser fagocitado
aumenta, trata-se então de um estado fagocitário (hemólise extravascular). pelos macrófagos do fígado.
patológico. A hemólise patológica pode Ocorre quando o sistema imune de um
ser definida como um aumento da animal produz anticorpos que se ligam
destruição de eritrócitos, diminuindo direta ou indiretamente seus próprios
seu tempo de vida. A hemólise pode eritrócitos (IgA SE) e provocam a
ser caracterizada como intravascular e sua destruição. As moléculas IgASE
extravascular. Na hemólise intravascular, podem ser IgG, IgM ou IgA, e o
a destruição do eritrócito ocorre dentro grau de lise vai depender do tipo e
do vaso sanguíneo ou do coração (não quantidade de anticorpo que se liga ao
incluindo fagocitose por macrófagos eritrócito e também do envolvimento Figura 1: Ilustração exemplificando os métodos de
teciduais enquanto passam pelo baço, do complemento de fixação. hemólise. Fonte: Google
fígado ou medula óssea). A causa
geralmente pode estar relacionada a Patofisiologia:
hemoglobinemia e hemoglobinúria. A O IgG geralmente só provoca
hemólise extravascular ocorre fora do hemólise quando há uma grande
sistema arterial-capilar-venoso e não quantidade de anticorpos. A ativação
está relacionada com hemorragia. Esta do sistema do complemento e ligação
hemólise ocorre dentro de macrófagos, as proteínas causam a lise de eritrócitos.
por isso é chamada de hemólise O complemento 1 (C1), produzido no
extravascular. Isto ocorre quando fígado, através de uma série de reações
eritrócitos cobertos por imunoglobulinas enzimáticas, lideram um ataque a
são fagocitadas pelos macrófagos. A membrana do eritrócito através de
anemia hemolítica imunomediada C8C9C5bC6C7 que por permitir
(AHIM) é definida como uma redução a abertura de pequenos orifícios na Figura 2: Ilustração de hemácias normais e
do número de eritrócitos em decorrência membrana da célula, permitem o influxo hemácias danificadas. Fonte: Google

19
HEMATOLOGIA

imunológica. Em felinos pode estar Pacientes


associada ao FeLV (vírus da leucemia É mais comum em animais jovens
felina), doenças linfoproliferativas, e de meia idade, em geral castrados.
micoplasma e reações a várias drogas. Níveis elevados de estrógenos tem sido
Pode-se ligar a AHIM a infecções observado em algumas fêmeas com
como parasitas, vírus, riquétzias, fungos, AHIM e ainda em fêmeas com ciclo
bactérias, neoplasias, intoxicações, estral anormal.
transfusões sanguíneas, medicamentos
Figura 3: Esferócito Fonte: Google (cefalosporina, penicilina) defeitos Achados Laboratoriais
eritrocitários. Artigos conseguem Dentre as alterações laboratoriais
Sintomas relacionar a vacinação recente com observadas, a ocorrência de anemia
As causas de anemia podem ser dividas quadros imune-mediados. moderada a intensa é frequentemente,
em regenerativas e não regenerativas. As apresentando hematócrito inferior a
regenerativas estão relacionadas com 15%, com características regenerativas
hemorragias e processos hemolíticos. Os (macrocitose,policromasia,reticulocitose
processos hemolíticos se devem a várias eritroblastose), é considerada como
causas como imune-mediadas, defeitos patognomônica desta afecção; no
eritrocitários, parasitismo, bactérias, entanto, casos de AHIM sem sinais
substâncias químicas e microangiopatias. de eritroregeneração são frequentes
A AHIM é reconhecida como causa em 50% dos casos, devendo-se ater
frequente do desenvolvimento de cuidadosamente à sua ocorrência. Outras
quadros anêmicos agudos em cães, alterações como anemia regenerativa,
podendo ter diferentes manifestações ou arregenerativa, esferocitose,
clínicas, como esplenomegalia quando hemoglobinemia e hemoglbinúria,
Figura 4: Mucosas pálidas de um felino como
os macrófagos são esplênicos e exemplo de sinal clinico de anemia. leucocitose, trombocitopenia. Azotemia,
hepatomegalia quando os macrófagos Fonte: Google
são hepáticos. As anemias imune-
mediadas geralmente são regenerativas
caracterizadas por reticulocitose,
0)@
policromasia e anisocitose, mas podem <'-
ser arregenerativas quando os anticorpos
ou complementos se direcionarem contra
os precursores eritrocitários na medula
óssea. A AHIM pode ser primária,
também chamada de idiopática, mas na
maioria das vezes é secundária, advinda
de anticorpos resultante de uma reação
20
HEMATOLOGIA

hiperproteinemia, aumento de enzimas bilirrubina maior que 10 mg, e falta autores acreditam que pode aumentar
hepáticas e bilirrubinas, podem ser de resposta a corticoterapia. Essa a hemólise, acentuando os sintomas
encontradas em animais acometidos associação é onerosa e pode causar nos animais acometidos. Outra
pela AHIM. efeitos indesejáveis. Os mais comuns forma de tratamento de suporte é a
são azatioprina, ciclofosfamida, realização de Esplenectomia, esta por
Diagnóstico ciclosporina, danazol. sua vez, permite a remoção de fontes de
Para se obter um diagnóstico linfócito B e macrófagos ativados. Tem
confiável, existem alguns exames Azatioprina: que se ter em mente que o baço pode
laboratoriais disponíveis como o Teste É a forma mais efetiva de inibir a ser potencial recurso de hematopoiese
de Coombs, o Exame da medula função de linfócitos T, mas também extramedular. Podemos realizar
óssea e o Coagulograma, que podem afeta linfócitos B. Pode ser usada também a Plasmaférese, que é uma
ser ferramentas indispensáveis na concomitante com prednisona, na técnica que visa a transfusão do plasma
identificação de animais com AHIM. dose de 2mg/kg SID. Após quatro sanguíneo de um cão doente ou um cão
semanas de remissão, a terapia pode doador. A utilização de Eritropoietina,
Tratamento ser descontinuada. O hemograma deve visando controlar a produção de células
Terapia Imunossupressora -
ser realizado a cada semana devido à vermelhas do sangue e a realização de
Glicocorticoides:
ação mielossupressora. Pode ocorrer Imunoglobulina intravenosa.
Os glicocorticoides diminuem
hepatotoxicose e pancreatite.
a afinidade das imunoglobulinas a
membrana eritrocitária e altera a função EXAMES REALIZADOS PELO
Ciclofosfamida: TECSA LABORATÓRIOS
ou reconhecimento do complemento
Inibe a resposta primária e secundária.
ao receptor dos macrófagos, inibindo
Pode provocar anorexia, sinais
o reconhecimento do sistema CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
gastroentéricos, mielossupressão, queda
Fagocítico monocitário ao IgG, IgM
de pelos, cistite hemorrágica. Inicia-se a 39 - HEMOGRAMA COMPLETO -
e C3b. Diminui ainda a produção 1
dose de 200mg/m² IV e continua com CANINO
de imunoglobulinas, a esferocitose
50mg/m² por mais quaro dias e a cada
e a cascata de complemento. Inibe a
semana até estabilização do VG.
produção de citocinas (Interleucina 44 - HEMOGRAMA COMPLETO -
FELINO 1
6 (IL-6; IL-1 e interferon gama)
Ciclosporina:
necessários para a geração e função de
Age no impedimento de ativação
linfócito T. A escolha entre prednisona e
de linfócitos e macrófagos. Bloqueia 591 - PERFIL COAGULOGRAMA 1
dexametasona vai depender do uso BID
a liberação de célula T Helper. Tem
ou SID. A prednisona é usada na dose
graus variáveis de absorção intestinal,
de 2mg/kg BID via oral ou injetável. A
causando vômitos, diarreia e anorexia. 132 - MIELOGRAMA 4
dose de dexametasona é de 0,5 – 1,0mg/
A dose recomendada é de 10mg/kg oral
kg SID. A prednisona deve ser mantida
BID deve ser descontinuado por duas
na dose máxima por duas semanas ou até 814 - COOMBS DIRETO
semanas quando o VG estabilizar. 3
o volume globular (VG) se estabilizar, o (ANEMIA HEMOLITICA IMUNOMEDIA)
que é alcançado em torno de 3 – 14 dias.
Danazol:
Após a estabilização do VG, o desmame
É um Andrógeno sintético que 271 - FIV / FELV – LEUCEMIA E
deve ser feito com 25% da dose a cada IMUNODEFICIENCIA FELINA 1
diminui a produção de IgG e reduz
duas a quatro semanas. O tratamento
a ligação de anticorpos ás células
pode durar cerca de 3- 6 meses. O VG
vermelhas. Inibe a ativação e ligação
deve ser checado duas vezes por semana
a membrana eritrocitária e diminui o
até a estabilização. Referências Bibliográficas
número de receptores nos macrófagos.
1) Schalm’s Veterinary hematology – sexta edição – 2010 -1206pag
Antimetabólitos: A resposta com aumento do VG pode DOUGLAS J. WEISS

Existe sempre uma questão quando durar três semanas pode ser iniciada com K. JANE WARDROP

adicionar outro imunossupressor ao corticosteroides. As dosagens variam de 2) Immune-mediated hemolytic anemia: understanding the nemesis
Sheila McCullough

tratamento. A presença de VG baixo 5mg/kg via oral BID ou 4mg/kg TID. Vet Clin Small Anim
33 (2003) 1295–1315
e ainda aglutinação, não devem ser
Tratamento Suporte 3) Fundamentos de Patologia clínica veterinária

parâmetros para adição de outro Steven L. Stockham


Dependendo dos sintomas, pode ser Michael A. Scott – segunda Edição 2011 – 726pag
medicamento. A indicação para sua
necessário transfusões sanguíneas e 4) Anemia hemolítica imunomediada não regenerativa em um cão
associação seria a continuidade da Leonardo Pinto Brandão1 Júlia Habu Ikesaki2 Samantha Ive Miyashiro3
ou substitutos de hemoglobina. O uso
aglutinação, presença de hemólise Maria Luisa Franchini2 Mitika Kuribayashi Hagiwara4
da transfusão é controverso e alguns Ciência Rural, Santa Maria v.34, n.2, p.557-561, mar-abr, 2004
intravascular, concentração de
21
HEMATOLOGIA

ISOERITRÓLISE NEONATAL E A IMPORTÂNCIA


DA TIPAGEM SANGUÍNEA EM FELINOS

Introdução machos tipo A ou AB, pode dar origem somente quando existem gatos tipo B
A isoeritólise neonatal é uma hemólise a gatinhos tipo A ou AB. O colostro na população.
(destruição das hemácias) que ocorre em das gatas tipo B contém anticorpos As raças Devon Rex, Angorá Turco,
recém-nascidos, e que resulta de uma anti-A em elevado título, os quais vão Van Turco, Exótico de pelo curto,
incompatibilidade de grupos sanguíneos ser transferidos para o recém-nascido, Pêlo curto Britânico e Cornish Rex,
entre estes últimos e a mãe. É uma causando hemólise, intravascular e extra apresentam uma prevalência do tipo
doença mais conhecida nos humanos vascular dos seus eritrócitos. B bastante alta, com percentagens que
e nos cavalos, mas pode também Os tipos sanguíneos são definidos variam de 30 a 60%. Por outro lado, a
acometer felinos e quase sempre fatal. A por antígenos espécie-específicos raça Siamês e outras relacionadas com
ocorrência em felinos atualmente é rara presentes na superfície dos eritrócitos. o Oriental de pêlo curto, assim como
devido à disponibilidade da técnica de A maior parte dos antígenos é um o Tonquinês, possuem exclusivamente
Tipagem sanguínea em gatos e da ação componente integral de membrana tipo sanguíneo A.
de tipificação do grupo sanguineo cada composto por carboidratos complexos
vez maior dos criadores e veterinários associados a proteínas ou lipídeos
Sinais Clínicos
tanto para os acasalamentos quanto para inseridos na membrana eritrocitária.
Os gatos afetados nascem saudáveis,
transfusões sanguíneas. São determinados por pelo menos
ativos e procuram alimentar-se do leite
dois alelos (A, b) no mesmo locus. O
da mãe. Os primeiros sinais clínicos
Tipos Sanguíneos dos Gatos alelo tipo A parece ser completamente
surgem apenas algumas horas ou dias
Os gatos podem ter sangue dos dominante sobre o alelo b. Portanto,
após a ingestão do colostro, sendo que,
grupos A, B, ou AB, sendo que A e gatos com fenótipo A podem ter
em alguns casos, os gatos recém-nascidos
AB são dominantes em relação ao B genótipo A/A ou A/b, enquanto que
podem falecer antes do desenvolvimento
(um gato tem de herdar B de ambos somente gatos homozigotos para o
de qualquer sintomatologia. Os sinais
os pais para ser B). Gatos com grupo alelo b (b/b) expressam quantidades
clínicos dos filhotes afetados variam
sanguíneo B possuem naturalmente suficientes do antígeno eritrocitário B e
de gravidade de acordo com o grau de
anticorpos anti-A, podendo reagir logo não possuem antígeno A. Um terceiro
hemólise podendo ser hemoglobinúria,
no primeiro contato (não é necessário alelo, AB, que é recessivo em relação ao
fraqueza, icterícia, anorexia, dispnéia
haver um primeiro contato, como alelo A, mas dominante sobre o alelo B,
e, eventualmente morte da maioria
gestação ou transfusão de sangue, para ainda é estudado, mas acredita-se que
dos filhotes. Os sintomas vão de
haver sensibilização, ou seja produzir seja determinante para a herança do
fraqueza, icterícia, necrose da ponta
anticorpos contra A, para só reagir num tipo sanguíneo AB.
da cauda, hemoglobinúria até morte
futuro contato). Estes anticorpos anti-A O tipo sanguíneo A é o mais comum,
súbita. Também podem surgir sinais
estão presentes em grande quantidade porém nota-se que a proporção dos
secundários como mucosas pálidas,
no soro e são fortemente hemolíticos gatos tipo B varia conforme a região
taquicardia, taquipnéia (relacionados
(fortemente reativos). Gatos de grupo A geográfica. A prevalência de gatos tipo
com a deficiente oxigenação), colapso e
possuem poucos anticorpos anti-B, que B também varia muito entre raças,
morte, geralmente na primeira semana
são também pouco reativos. enquanto que gatos tipo AB são raros.
de vida.
O acasalamento de fêmeas tipo B com Os gatos tipo AB são encontrados
22
HEMATOLOGIA

de fenótipo B. Quando é necessário que


se faça o cruzamento de progenitores
incompatíveis, os filhotes devem ser
retirados do contato com as fêmeas
progenitoras e a alimentação deve ser
realizada com colostro e leite de gatas
compatíveis. Todos os gatos devem ter
o tipo sanguíneo determinado como de
praxe em seus cartões de vacina, para
poder ajudar na identificação destes
animais e evitar futuros problemas com
a Isoeritrólise neonatal felina.

Donor = Doador
Recipient = Receptor

EXAMES REALIZADOS PELO


TECSA LABORATÓRIOS

CÓD - EXAME PRAZO/DIAS


Teste de Tipagem do tipo sanguíneo em gatos e cães, com
Para o teste de tipagem sanguínea interpretação mais simples e com menor 710 - TIPAGEM SANGUINEA DE GATOS 1
o sangue total deve ser colhido margem de erro. O Tecsa realizou uma
e acondicionado em tubos com parceria com a Alvedia e é representante
exclusivo deste Kit em toda a América 712 - PERFIL TIPAGEM SANGUINEA+-
anticoagulante, preferencialmente CHECK UP GLOBAL DE 1
EDTA. O princípio de todos os métodos do Sul para comercialização e análises FUNÇÕES+HEMOGRAMA FELINO
utilizados para tipagem sanguínea na internas.
medicina veterinária é a visualização 44 - HEMOGRAMA FELINO 1
de reações de hemoaglutinação entre os Conclusão
antígenos da superfície das hemácias e Concluiu-se que apesar de a
um reagente contendo antisoro mono isoeritrólise neonatal ser rara, possui alta
ou policlonal específico. Recentemente, taxa de mortalidade. A melhor forma
um laboratório de Lion, na França de prevenção é a tipagem sanguínea
(Alvedia, Lion, França) desenvolveu dos progenitores, principalmente
um método rápido de determinação daqueles de raças com alta frequência
23
HEMATOLOGIA

COLETA, CONSERVAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE


AMOSTRAS DESTINADAS AO COAGULOGRAMA
PONTOS CRÍTICOS PRÉ-ANALÍTICOS NO DIAGNÓSTICO
DE DISTÚRBIOS DE COAGULAÇÃO
Introdução citrato de sódio é um quelante de cálcio
Os exames de coagulação são que reage com o cálcio livre do sangue
amplamente utilizados na prática formando sais insolúveis. A ausência
médica veterinária. Sua solicitação está de cálcio livre impede a efetivação do
indicada para a avaliação da hemostasia mecanismo de coagulação sanguínea.
por meio dos exames convencionais É o anticoagulante mais utilizado para
incluídos no coagulograma e na conservação dos exames que avaliam
investigação de doenças hemorrágicas e a coagulação e que necessitam do uso
trombóticas. Em associação com outros do plasma do paciente. As amostras
exames complementares laboratoriais, o para os testes de coagulação devem
coagulograma é também um exame de ser coletadas em tubos contendo
triagem muito realizado na rotina de citrato de sódio a 3,2%, respeitando
Figura 1: Representação esquemática da cascata a proporção de 9 partes de sangue
pré-operatórios. de coagulação conforme avaliada pelos testes
de triagem da coagulação in vitro do perfil total para 1 parte de anticoagulante
coagulograma. A formação de fibrina é o ponto final e o preenchimento estabelecido no
de cada teste.
Fonte: STOCKHAM e SCOTT, 2011. próprio tubo. Se a proporção não for
Coagulograma respeitada (preenchimento abaixo ou
No perfil coagulograma estão Fatores Pré-Analíticos acima do nível do tubo), pode haver
inclusos os seguintes testes: Tempo Determinantes resultados inadequados para testes
de tromboplastina parcial ativada É muito importante conhecer os dependentes de cálcio. Amostras
(TTPA), Tempo de protrombina (TP) fatores que afetam a qualidade da citratadas em excesso podem apresentar
e Dosagem de fibrinogênio. É um amostra antes do início dos testes de atividade de coagulação reduzida
eficiente método de análise do sistema coagulação para obtenção de resultados (tempos prolongados) ao passo que
de coagulação como um todo, o TP confiáveis e de qualidade, mesmo amostras subcitratadas, podem ser
avalia a deficiência de fatores envolvidos que todo o processo de controle de hipercoaguláveis (tempos reduzidos).
na via extrínseca ou comum da cascata qualidade esteja satisfatório. As decisões Mesmo com volume correto de
de coagulação, enquanto o TTPA avalia e conclusões que seguem os resultados sangue, o hematócrito (Ht) pode afetar
o sistema intrínseco e comum da cascata de exames só serão válidas se os fatores o resultado de TP e TTPA. Na vigência
de coagulação. Portanto, como ambos pré-analíticos forem confiáveis. Sendo de anemia (Ht<25%), o plasma pode
avaliam indiretamente a via comum, assim, é indispensável o conhecimento ser subcitradado porque há excesso
devem ser utilizados em conjunto para sobre o preparo do paciente, a coleta, o plasma para a mesma qualidade de
se chegar a uma melhor interpretação transporte e a manipulação das amostras, citrato, podendo resultar em tempos
de resultados, da seguinte forma: TTPA sempre seguindo procedimentos de coagulação falsamente mais curtos.
aumentado e TP normal indicam determinados e que foram validados Já na presença de eritrocitose (Ht >
alteração da via intrínseca; TTPA pelo laboratório. 55%), o plasma pode ser citratado em
normal e TP aumentado indicam excesso, porque há menos plasma com
alteração na via extrínseca; e, ambos os Coleta e Conservação a mesma concentração de citrato, o que
tempos aumentados indicam alteração das Amostras pode prolongar o tempo de coagulação.
da via comum ou de vários fatores Para a coleta desses exames, é Nestes casos é recomendado recalcular
concomitantemente (por exemplo, fundamental que o médico veterinário a concentração de citrato de sódio
insuficiência hepática). O fibrinogênio esteja devidamente treinado e necessária para anticoagular volumes de
é uma proteína de fase aguda positiva, capacitado para a função, pois são sangue com hematócritos alterados. O
consumido durante a coagulação à exames sensíveis, e qualquer falha mais indicado para coleta, são materiais
medida que é convertido em fibrina na técnica pode afetar diretamente que contenham vácuo, diminuindo a
pela trombina, avaliando, portanto, a via seus resultados, além de ter um papel manipulação das amostras, uma vez
comum da cascata de coagulação. importante na qualidade do processo. O que a agitação mecânica excessiva pode

24
HEMATOLOGIA

contribuir para a ativação da coagulação. de plaqueta acima de 10.000/mm³, e Fibrinogênio) deve ser realizado
Após a coleta, as amostras devem ser ocorre liberação de fator plaquetário 4 em conjunto, preferecialmente no
homogeneizadas, gentilmente, por (PF4), levando à possíveis alterações de plasma citratado fresco, podendo
inversão de 5 a 10 vezes, para garantir resultados. ser adequadamente armazenado sob
o contato de toda a amostra com o refrigeração (4°C) por até 24horas.
anticoagulante. Amostras coaguladas Armazenamento e Estes cuidados são fundamentais para
ou com formação de agregados de Estabilidade das Amostras garantir acurácia no resultado de todos
fibrina são inadequadas para realização Com relação a estabilidade e ao os exames. Resultados deturpados em
dos testes. Amostras hemolisadas, por armazenamento de amostras para decorrência de condições pré-analíticas
fatores in vitro, também não devem ser exames de coagulação, é importante inadequadas, alterariam a interpretação
testadas, pois existe a possibilidade da seguir algumas orientações básicas e clínica, comprometendo gravemente o
cascata de coagulação e das plaquetas obrigatórias. Em geral, as amostras para diagnóstico de distúrbios de coagulação.
terem sido ativadas pelos mesmos teste de TTPA são menos estáveis ​​do
fatores responsáveis pela hemólise. que para a realização do TP. Para TP,
o sangue total é estável à temperatura
ambiente por quatro horas, e o plasma,
à temperatura ambiente (24°C) por EXAMES REALIZADOS PELO
24 horas, sob refrigeração (4°C) até TECSA LABORATÓRIOS
48horas, podendo ocasionalmente
quando necessário, ser congelado (-70 °
C) por duas semanas. Em contrapartida,
o teste TTPA deve ser priorizado, uma
CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
vez que amostras armazenadas em
condições não padronizadas podem 591 - PERFIL COAGULOGRAMA 1
degradar-se rapidamente, levando a
um resultado falsamente alterado. As 346 - TEMPO DE PROTROMBINA (TP) 1
amostras de sangue total destinadas ao
Figura 2: Tubos para coleta de sangue à vácuo teste de TTPA, devem ser encaminhadas 347 - TEMPO DE TROMBOPLASTINA
contendo citrato de sódio a 3,2%. PARCIAL ATIVADA (TTPA) 1
Fonte: Google imagens. para processamento em até 4 horas,
ao mesmo tempo que, o plasma, à
186 – FIBRINOGÊNIO 1
A comunicação com a área técnica temperatura ambiente (24°C), é estável
laboratorial, caso haja alguma por 12 horas e, sob refrigeração (4°C),
43 - CONTAGEM DE PLAQUETAS 1
intercorrência no momento da coleta, é por até 24horas. Em diversos estudos
importante para uma adequada análise consultados, as amostras congeladas
39 – HEMOGRAMA COMPLETO 1
crítica dos resultados e para avaliar designadas para TTPA, apresentaram
se as alterações foram decorrentes de diferenças significativas nos resultados 333 – PERFIL HEPÁTICO 1
problemas pré-analíticos. Nesse caso, normais e prolongados, quando
é fundamental que seja feita uma processadas em 6 e 12 horas após a
nova coleta. Após a coleta do sangue, coleta. Sendo o congelamento, portanto,
as amostras devem ser armazenadas um meio inadequado para armazenar
em local adequado ou devem ser amostras de plasma destinadas a testes
imediatamente encaminhadas para de TTPA. Em contraste com o TP
processamento, de acordo com o fluxo e TTPA, as variações induzidas pelo
já definido pelo responsável do setor armazenamento e congelação nos níveis Referências Bibliográficas
de coleta. Uma boa recomendação de fibrinogênio se apresentaram mínimas ALESCI, S.; BORGGREFE, M. C.; DEMPFLE, E. Effect of freezing
caso a amostra não seja imediatamente e irrelevantes para a interpretação method and storage at−20 °C and−70 °C on prothrombin time, aPTT and

encaminhada para processamento, clínica. As alterações relevantes na plasmafibrinogen levels. Thrombosis Research, 124, Elsevier Ltd, 2009,
p.121–126.
é, na primeira hora após a coleta, concentração do fibrinogênio ocorreram PAES, P.R.O.; LEME, F.O.P.; CARNEIRO, R. A. Hematologia dos
centrifugar a amostra de sangue total apenas em amostras armazenadas por Animais Domésticos. Belo Horizonte: FEPMVZ, 2009. 119p.

para separar somente o plasma e estocá- mais de 18 meses.


STOCKHAM, L. S.; SCOTT, M. A. Fundamentos de Patologia Clínica
Veterinária. 2.Ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2011. p.213-262.
lo. A centrifugação deve ser feita em alta RAO, L.V.; et al. Stability of prothrombin time and activated partial

rotação e por tempo aproximado de 10 Considerações Finais thromboplastin time tests under different storage conditions. Clinica
Chimica Acta, 300, 2000 p. 13–21.
a 15 minutos, para evitar o excesso de Em síntese, para uma avaliação RIZZO, F.; et al. Measurement of prothrombin time (PT) and activated

plaquetas remanescentes no plasma. Na eficiente da cascata de coagulação como partial thromboplastin time (APTT) on canine citrated plasma samples
following different storage conditions. Research in Veterinary Science, 85,
centrifugação inadequada, com presença um todo, o coagulograma (TP, TTPA 2008, p.166–170.

25
HEMATOLOGIA

ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS CAUSADAS


PELA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

Introdução além de várias dermatopatias, principal responsável pela hematopoese,


A Leishmaniose Visceral é onicogrifose sem contar as inúmeras quando esta se encontra parasitada, no
uma doença infecciosa sistêmica alterações hematológicas e bioquímicas início da infecção podemos verificar
caracterizada pelo elevado potencial de que podem ser observadas no decorrer que sua função de eritropoese e
morbidade e letalidade. Esta doença é da doença. granulopoese se encontram dentro
causada pelo protozoário Leishmania Os principais órgãos acometidos dos níveis normais de referência. Com
chagasi (infantum), considerado um são: baço, fígado, linfonodo e medula a progressão da doença, podemos
parasita intracelular obrigatório óssea, que estão diretamente ligados identificar que alguns animais começam
que infecta as células do sistema ao sistema hematopoiético, responsável a desenvolver uma anemia associada
mononuclear fagocitário de mamíferos pela produção e regulação das células a leucopenia e trombocitopenia. A
suscetíveis de infecção, quando o animal do sangue. Normalmente anemia e anemia é caracterizada como de
está infectado, este pode desenvolver neutropenia são os achados mais comuns origem multifocal, surgindo devido à
alterações clínicas e alterações nos em exames de animais acometidos, combinação de fatores como hemólise,
exames de rotina que além dos porém, outras alterações podem ser mecanismos autoimunes, destruição
sorológicos, muitas vezes, auxiliam no evidenciadas. de eritrócitos, sequestro esplênico e
diagnóstico da Leishmaniose Visceral redução na hematopoese pela medula.
Canina. Principais Alterações Essas anemias podem ser descritas
Para a confirmação do diagnóstico, Encontradas como normocíticas e normocrômicas,
podem ser realizados exames sorológicos, A Leishmaniose Visceral é uma apresentando níveis bastante inferiores
exames de imunohistoquímica e doença que pode evoluir gradativamente aos valores de referência para os animais
pesquisa de Leishmania sp. em lâminas e de várias formas diferentes, podendo da mesma espécie. Na leucopenia
com esfregaços de linfonodos infartados, ser identificada com leves alterações podemos identificar uma acentuada
baço e medula óssea. Cerca de 60% dos hematológicas ou com expressivas redução na contagem de basófilos,
animais acometidos pela Leishmaniose alterações dependendo do momento neutrófilos e eosinófilos. A presença
são assintomáticos. Alguns podem em que o animal é identificado. Os de neutropenia pode ser recorrente
apresentar alguns sinais clínicos que linfonodos, baço e principalmente da hipoplasia medular decorrente da
não são patognomônicos como perda a medula óssea são os principais infecção pela leishmaniose. Ocorre um
de peso, febre, espleno e hepatomegalia sítios onde podemos encontrar este moderado aumento na contagem de
protozoário. A medula óssea é o
26
HEMATOLOGIA

EXAMES REALIZADOS PELO


TECSA LABORATÓRIOS

CÓD - EXAME PRAZO/DIAS

39 - HEMOGRAMA COMPLETO -
CANINO 1

788-CHECK UP GLOBAL DE
FUNCOES COM HEMOGRAMA 1

109 - PROTEINA TOTAL E FRAÇÕES 1

316 – PERFIL COMPLEMENTAR PARA 1


LEISHMANIOSE
83 - LEISHMANIOSE CANINA
(DPP + ELISA + RIFI) 2

447 – LEISHMANIOSE DILUIÇÃO TOTAL 2

582 – PERFIL LEISHMANIOSE (DP-


P+ELISA+RIFI) E PROTEÍNAS TOTAIS 1

680 - LEISHMANIA CHAGASI –


MÉTODO PCR REAL TIME QUANTITATIVO 7

456 – LEISHMANIOSE –
MÉTODO IMUNOHISTOQUÍMICA 6
macrófagos, em alguns casos, podendo a alguns fatores como alteração na
ser visualizado a presença de formas parede vascular causada por vasculite 408 – PESQUISA DE LEISHMANIA SP. 4
amastigotas de Leishmania sp. no devido à presença de imunocomplexos
citoplasma de macrófagos infectados, circulantes, pode estar relacionado
podemos evidenciar também uma também a presença de imunoglobulinas
discreta linfocitose com uma presença antiplaquetárias. Outras alterações como
marcante de plasmocitose. hiperglobulinemia e hipoalbuminemia
podem ser evidenciadas em alguns
animais, estas podem ser identificadas
devido ao comprometimento hepático
e ou devido a proteinúria em casos de Referências Bibliográficas
animais nefropatas e ou desnutridos. ÇELIK, Ü. et al. Immune Hemolytic Anemia in Association with Visceral
Leishmaniasis.

Conclusão J.Pediatr.Inf., 1: 36-8, 2007;

Para a realização do diagnóstico COUTINHO, J.F.V.; XIMENES, M.F.F.M.; JERÔNIMO, S.M.B.;

de Leishmaniose Visceral Canina CARVALHO, G.F.;


Figura 1: Figura utilizada para ilustrar QUEIROZ, P.V.S.; BATISTA, L.M.M.; CARLOTA, F.C.A. Estudo
macrófagos fortemente infectados por formas é imprescindível a realização de clínico-laboratorial
amastigotas de Leishmania sp., macrófagos de um exames específicos (Sorológico, PCR e histopatológico em cães infectados naturalmente por Leishmania
Hamster infectado por Leishmania infantum.
Fonte: Imagem retirada do “The Journal of -RT, Imunohistoquímica, Pesquisa chagasi. Revista
Universidade Rural, Série Ciência da Vida, v.25, n.1, p.123-124, 2005;
Infectious Disease” disponível em: http://jid. direta) e também exames laboratoriais
oxfordjournals.org/content/207/8.cover-expansion
de rotina (hemograma, exames BANETH, G.; KOUTINAS, A.F.; SOLANO-GALLEGO, L.;
BOURDEUA, P.;

A trombocitopenia está presente de bioquimicos, etc.). Assim, pode-se FERRER, L. Canine leishmaniosis - new concepts and insights on

forma acentuada nos casos crônicos diagnosticar precocemente essa doença, an expading
zoonosis: part one. Trends in Parasitology, v.24, p.324-330, 2008
da doença, normalmente os animais principalmente em animais que ainda
cronicamente infectados apresentam não apresentaram sinais clínicos e adotar BOURDOISEAU, G.; BONNEFONT, C.; MAGNOL, J.P.; SAINT-
ANDRÉ, I.;
sinais clínicos como gengivorragias, medidas que aumentam a sobrevida CHABANNE, L. Lymphocyte subset abnormalities in canine leishmaniasis.

epistaxe e até em alguns casos, dos animais infectados e medidas Veterinary

hemorragias. Isso pode ocorrer devido preventivas/profiláticas que reduzam os Immunology and Immunopathology, v.56, n.3-4, p.345-351, 1997.

índices de transmissão.
27
HEMATOLOGIA

INTERPRETANDO O RDW
EM MEDICINA VETERINÁRIA

Introdução Também podemos classificar as reestabelecer a concentração sanguínea


A anemia pode ser definida como a anemias de acordo com os mecanismos de hemácias dentro do intervalo de
diminuição da concentração sanguínea patofisiológicos de formação da referência. Durante este processo
de hemácias, hemoglobina e/ou volume anemia. Desta forma as anemias ocorre a liberação de células eritróides
globular(VG) de um animal. Entretanto, podem ser hemolíticas, hemorrágicas mais jovens, ou imaturas, na corrente
apenas constatar a existência da anemia ou hipoproliferativas. Por último, sanguínea, chamadas de reticulócitos. Os
representa uma avaliação superficial da classificamos as anemias de acordo reticulócitos apresentam volume celular
condição fisiopatológica do paciente. com a existência de resposta medular maior comparado a uma hemácia adulta
A análise de parâmetros como o em regenerativas ou arregenerativas. A e, por este motivo, quando começam a
volume corpuscular médio (VCM), utilização do RDW juntamente com atingir uma concentração significativa
a concentração de hemoglobina outros parâmetros hematológicos para na corrente sanguínea, ocorre um
corpuscular média (CHCM), a analisar o eritrograma de um animal consequente aumento no VCM.
concentração de reticulócitos, representa uma maneira eficiente de Quando o VCM assume valores acima
características hematoscópicas e o enquadrar a anemia dentro destas do intervalo de referência definido para
RDW permitem classificar o processo classificações. a espécie nós definimos esta anemia
anêmico e auxiliar na determinação da como macrocítica. A reticulocitose
sua causa, prognóstico e alternativas VCM não é a única causa de macrocitose,
terapêuticas. A literatura relacionada O VCM é um índice eritrocitário porém quando observada em um
com hematologia veterinária relata responsável por informar o volume animal anêmico sugere a existência
amplamente a existência de três tipos de médio de cada eritrócito. Conforme de um processo regenerativo medular
classificações básicas para as anemias. a anemia vai se instaurando, a medula eritróide ativo ou prévio. Entretanto
As anemias podem classificadas de óssea começa a receber o estímulo a reticulocitose é considerada o
acordo com as alterações apresentadas da eritropoietina secretada em maior achado confirmatório de existência de
por seus índices eritrocitários em quantidade pelo rim para produzir resposta medular e pode ser aferida
macrocíticas, normocíticas, microcíticas, e liberar mais células eritróides na precisamente através da mensuração de
hipocrômicas e normocrômicas. corrente sanguínea na tentativa de sua concentração sérica ou altamente

28
HEMATOLOGIA

sugerida através da observação de visa quantificar a heterogeneidade do Entretanto, para que possamos realizar
policromasia na hematoscopia. Além volume celular eritrocitário presente em este tipo de interpretação devemos
da macrocitose, outros parâmetros uma amostra, ou traduzir em números associar a avaliação do RDW com a
que podem sugerir a existência de contínuos o grau de anisocitose avaliação de outros parâmetros como o
resposta medular são presença de eritrocitária presente em uma amostra VCM. Presença de anemia associado a
corpúsculos de howelljolly, hipocromia, de sangue animal. Esta ferramenta RDW dentro do intervalo de referência
metarrubricitose e RDW aumentado. O diagnóstica representa o coeficiente sugere anemia arregenerativa. Para que
VCM também pode alterar-se para baixo de variação da curva de histograma do a melhor interpretação diagnóstica seja
quando uma população eritrocitária volume eritrocitário e é calculada através obtida, a avaliação do RDW nunca deve
é formada predominantemente por da razão entre o desvio padrão desta ser feita de maneira isolada à avaliação
células eritróides microcíticas ou curva pelo VCM (ou média exibida dos outros parâmetros hematológicos.
com volume celular reduzido. As pela curva) da amostra, conforme fica
anemias microcíticas costumam ser demonstrado pela fórmula e figura a
causadas pelo desenvolvimento de uma seguir. EXAMES REALIZADOS PELO
TECSA LABORATÓRIOS
deficiência de ferro que, em cães e gatos
adultos, normalmente é causada por CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
hemorragias crônicas.
39 - HEMOGRAMA COMPLETO -
CANINO 1
Anisocitose
44 - HEMOGRAMA COMPLETO -
A anisocitose (FIG 1) é uma FELINO 1
alteração morfológica celular observada
146 - HEMOGRAMA COMPLETO -
através da microscopia óptica em EQUINO 1
esfregaço sanguíneo, ou hematoscopia.
245 - CONTAGEM DE
É caracterizada pela diferença de RETICULOCITOS - PET 1
diâmetro celular e pode ser quantificada Figura 2: Histograma da distribuição dos diferentes
volumes eritrocitários presentes na amostra de 717 - CONTAGEM DIFERENCIAL |DE
em discreta, moderada e intensa ou sangue analisada. O RDW é proporcional à largura RETICULOCITOS FELINO 2
em cruzes (1+, 2+ e 3+). É esperado da curva destacada na figura. Fonte: Adaptado de
Thrall (2007).
que quando hemácias de diferentes 132 - MIELOGRAMA 4
tamanhos comecem a compor a Desta forma, quando o RDW
população eritróide em concentrações apresenta valores acima do intervalo de
mais expressivas seja possível observar a referência podemos imaginar que exista
presença de anisocitose na hematoscopia. um número aumentado de hemácias
Quanto maior a concentração destas de diferentes volumes, ou tamanhos na
células com volume alterado na circulação. Estas hemácias de tamanho Referências Bibliográficas
concentração sanguínea, maior será o alterado podem ser microcíticas, CAPORAL, F. A., COMAR, S. R. Evaluationof

grau de anisocitose observado. macrocíticas ou um conjunto dos dois


RDW-CV, RDW-SD, and MATH-1SD for
thedetectionoferythrocyteanisocytosisobservedbyopticalmicroscopy. J
tipos de hemácias, dependendo do BrasPatolMed Lab, v. 49, n. 5, p. 324-331, 2013.

tipo de processo formador da anemia a HODGES, J., CHRISTOPHER,


Diagnosticaccuracyofusingerythrocyteindicesandpolychromasiato
M. M.

que o animal está submetido. Também identifyregenerative anemia in dogs. Journalofthe American Veterinary
Medical Association. v.238, p. 1452-1458, 2011.
podemos esperar que, possivelmente LASSEN, E. D., WEISER, G. Tecnologia Laboratorial em Medicina

este número de hemácias com volume Veterinária. In: Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária, 1ª ed.,
Roca, São Paulo, 2007. p. 7-30.
alterado ainda não seja suficiente para JAIN, N. C. Essentials ofVeterinaryHematology. Lea &Febiger,
deslocar o valor do VCM para cima ou Philadelphia, 1993.

para baixo do intervalo de referência e, MEYER, D. J., HARVEY, J. W. VeterinaryLaboratory Medicine:


InterpretationandDiagnosis. 3rd ed. Saunders, St. Louis, 2004. p. 52-80.
por este motivo, o RDW é considerado RIZZI, T. E., MEINKOTH, J. H., CLINKENBEARD, K. D. Normal

Figura 1: Anisocitose moderada em um esfregaço um parâmetro mais sensível ou precoce Hematologyofthe Dog. In: Schalm’sVeterinaryHematology, 6th ed.,
Wiley-Blackwell, Iowa, 2010. p. 799-809.
de sangue de cão. Fonte: http://www.koofers. para detectar as variações de volume STOCKHAM, S. L., SCOTT, M. A. Fundamentals ofVeterinary
com"www.koofers.com
celular existentes em uma amostra de ClinicalPathology. 2ª ed. BlackwellPublishing, Iowa, 2008.
p. 151-153/158-172.
RDW sangue decorrentes de reticulocitose TVEDTEN, H. LaboratoryandClinicalDiagnosisof Anemia. In:

O RDW é a sigla para a expressão em ou deficiência de ferro. Caso o tipo de Schalm’sVeterinaryHematology, 6th ed., Wiley-Blackwell,
Iowa, 2010. p. 152-160.
inglês “Redcell Distribution Width” que, hemácia predominante seja o macrocítico WEISS, D. J. Normal Hematologyofthe Dog. In: Schalm’sVeterinary

em tradução direta para o português, podemos suspeitar da existência de um Hematology, 6th ed., Wiley-Blackwell, Iowa, 2010. p. 167-170.

significa amplitude de distribuição processo regenerativo medular frente à


eritrocitária. É um parâmetro que anemia e caso seja microcítico podemos
suspeitar de deficiência de ferro.
29
HEMATOLOGIA

MONITORAMENTO DO
PACIENTE TRANSFUNDIDO
A maior incidência de transfusão urina (URINA ROTINA – EAS). Além de transfusão é emergencial, deve-
sanguínea é em pacientes críticos com disso, vale ressaltar que é de extrema se então avaliar criteriosamente as
anemia decorrente de perda de sangue, importância a avaliação dos doadores. funções biológicas através do CHECK
hemólise ou não produção de eritrócitos Para tanto, além de um exame clínico UP GLOBAL DE FUNÇÕES,
pela medula óssea. Em geral as alterações completo, hemograma e proteinograma, principalmente as funções relacionadas
clínicas decorrem da hipóxia tecidual recomenda-se a pesquisa de agentes ao fígado e rins (Perfil Hepático e Perfil
e dos mecanismos compensatórios tais infecciosos como hemoparasitoses e Renal) e é claro, determinar e tratar o
como aumento no débito cardíaco, viroses. distúrbio primário. A coleta de sangue
diminuição da viscosidade do sangue, Para cães recomenda-se a sorologia para a realização de hemogramas com
diminuição da afinidade do oxigênio à para Brucelose, Leishmaniose, o intuito de avaliar a viabilidade das
hemoglobina e vasoconstrição periférica. Ehrlichiose, Babesiose, Tripanossomose, células transfundidas deve ser feita com
As principais alterações clínicas são Dirofilariose e Lyme. No caso de felinos, 1h, 24h e 72 horas após a transfusão.
palidez de membranas mucosas, apatia, é de extrema importância a realização
menor tolerância ao exercício, aumento de exames de triagem para FIV, FELV e EXAMES REALIZADOS PELO
da frequência respiratória, aumento da PIF. Um ponto chave e importantíssimo TECSA LABORATÓRIOS
frequência cardíaca e sopros cardíacos. para o sucesso de uma transfusão, além CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
da obtenção de histórico de transfusões
prévias, a ser considerado tanto para 39 - HEMOGRAMA COMPLETO -
PET E ANIMAIS SILVESTRES 1
doadores quanto para receptores, é a
compatibilidade sanguínea. Esta pode 788-CHECK UP GLOBAL DE
FUNCOES COM HEMOGRAMA 1
ser realizada através de TIPAGEM
SANGUÍNEA e provas cruzadas. 109 - PROTEINA TOTAL E FRACOES 1
Durante o procedimento de transfusão,
é importante a avaliação a cada 15 273 - FERRO SERICO 2
minutos das frequências cardíaca,
Figura 1: Banco de sangue animal.
respiratória e temperatura na primeira 231- CAPACIDADE LIVRE DE
Fonte: http://cdn.phys.org/newman/gfx/news/ LIGACAO DE FERRO 2
hires/2013 hora e na ausência de reações adversas, a
cada hora do restante da transfusão. 234 - URINA ROTINA 1
A indicação da transfusão de sangue
deve ser baseada principalmente no 713 - TIPAGEM SANGUINEA DE CAES 1
histórico e severidade dos sinais clínicos,
além dos parâmetros laboratoriais 710 - TIPAGEM SANGUINEA DE GATOS 1
do animal. É importante monitorar
o paciente que recebe transfusão 668 - PERFIL DOENCA TRANSMITIDA
PELO CARRAPATO 3
sanguínea para detectar precocemente
a ocorrência de reações transfusionais e 83 - LEISHMANIOSE CANINA
(DPP + ELISA + RIFI) 2
avaliar sua melhora clínica.
Figura 2: Transfusão sanguínea. 361 - CORONAVIRUS FELINO - SOROLO-
Fonte: site http://www.vetnext.com GIA (PERITONITE INFECCIOSA 1
A avaliação pré-transfusional do FELINA - PIF)
paciente pode ser realizada pela Caso haja alguma reação, deve- 271 - FIV / FELV - LEUCEMIA E 1
mensuração do volume globular, se interromper o procedimento IMUNODEFICIENCIA FELINA
hematócrito e concentração imediatamente, administrar soluções
de hemoglobina através do cristaloides intravenosas e se possível,
HEMOGRAMA COMPLETO. Pela avaliar o débito urinário e a pressão
dosagem de PROTEÍNAS TOTAL E sanguínea.No período pós-transfusional,
FRAÇÕES, na qual serão verificadas as deve-se avaliar a frequência respiratória, Referências Bibliográficas
concentrações de albumina e globulinas. coloração de mucosas e o TPC (tempo Disponível em: http://cdn.phys.org/newman/gfx/news/hires/2013

Coloração de mucosas, frequências de preenchimento capilar), atentando Disponível em: http://www.vetnext.com

cardíaca, respiratória e temperatura. para quaisquer alterações no paciente.


Além da coloração e composição da Além disso, como o procedimento
30
BIOLOGIA MOLECULAR

ACOMPANHAMENTO DA EFICÁCIA DE
TRATAMENTO PELO PCR REAL TIME
DIAGNÓSTICO QUANTITATIVO PARA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA
Atualmente estão disponíveis diversas proporcional a um determinado produto fornecem maior eficiência à reação e,
metodologias para o diagnóstico da da PCR. A detecção de fluorescência consequentemente, ao diagnóstico e
Leishmaniose Visceral Canina (LVC). indica a presença ou ausência das monitoramento durante a terapêutica
O diagnóstico laboratorial pode ser feito regiões pesquisadas, de forma rápida, da leishmaniose.
através do exame parasitológico direto, precisa e sensível.
por meio de métodos imunológicos: a Quando solicitar testes
Imunofluorescência indireta (RIFI) ou Dúvidas mais Freqüentes moleculares por PCR Real Time
ensaios imunoenzimáticos (ELISA), Quais as vantagens da Técnica na detecção das leishmanioses?
por método de imuno-histoquímica e, PCR Real Time na detecção das A abordagem quantitativa pode
mais recentemente, através de métodos Leishmanioses? ser útil no monitoramento da carga
moleculares de amplificação do ácido • Monitoramento da carga parasitária em tecidos caninos em
nucléico (PCR e PCR-Real Time). parasitária: quantificação da expressão fase de tratamento e pós-tratamento.
Cada metodologia tem particularidades gênica em diferentes amostras Assim, é possível identificar recidivas da
que devem ser conhecidas pelo clínico biológicas. leishmaniose, acompanhar a evolução
no momento da requisição e da • Detecção rápida da da patologia e avaliar a eficiência
interpretação do exame.  Leishmania: graças à amplificação e de um tratamento farmacológico.
à detecção simultânea dos produtos a Consequentemente, o teste fornece
PCR – Reação em cada ciclo realizado, a PCR Real Time informações para a otimização do
Cadeia de Polimerase representa uma significativa redução tratamento e quanto ao prognóstico da
Vários estudos demonstram que de tempo na realização nos testes infecção.
a PCR é altamente específica e moleculares. O TECSA Laboratórios realiza todos
mais sensível do que os métodos • Especificidade: no PCR Real os testes para um diagnóstico completo,
parasitológicos clássicos utilizados para Time para Leishmania é utilizado juntamente com a avaliação do Clínico
o diagnóstico da LVC. A utilização da material genético específico desse Veterinário.
PCR permite a detecção do parasita parasita, garantindo que apenas  Observações:
com uso de sondas específicas de forma material genético de Leishmania chagasi • Todas as amostras devem ser
não invasiva, através da amplificação do (responsável pela Leishmaniose visceral) coletadas em frasco estéril.
cinetoplasto da Leishmania sp. A PCR seja alvo da reação. • Enviar as amostras refrigeradas em
pode ser utilizada em qualquer amostra • Sensibilidade: a seleção da até 72 horas.
biológica, incluindo pele, sangue, biópsia sequência alvo determina a sensibilidade • A confiabilidade, especificidade
de linfonodo e medula óssea. Reações e a especificidade do teste. Uma e sensibilidade do teste dependem
falso-negativas podem ocorrer quando maior sensibilidade é atingida quando do cumprimento de todas estas
a quantidade de DNA está abaixo da sequências de DNA presentes em recomendações.
sensibilidade de detecção do teste. cópias múltiplas são utilizadas, como, EXAMES REALIZADOS PELO
por exemplo, a região conservada dos TECSA LABORATÓRIOS
PCR- Real Time minicírculos de DNA do Cinetoplasto CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
A técnica PCR Real Time é uma (kDNA). O kDNA apresenta cerca 483 - LEISHMANIA CHAGASI - MÉTODO
categoria de PCR que permite a detecção de 10.000 minicírculos de DNA PCR REAL TIME QUALITATIVO 5
e quantificação em tempo real de uma distribuídos em uma região conservada
680 - LEISHMANIA CHAGASI - MÉTODO
região específica do material genético. e uma região variável. Iniciadores PCR REAL TIME QUANTITATIVO 5
Para que isso ocorra, são empregadas específicos para amplificar esta região
sondas específicas para o fragmento alvo, conservada são úteis na detecção 408 - PESQUISA DE LEISHMANIA SP. 4
marcadas com fluoróforos. Durante a de todas as espécies de Leishmania,
amplificação do DNA, essas sondas se enquanto aqueles direcionados para a 83 - LEISHMANIOSE CANINA
(ELISA + RIFI) 1
ligam ao fragmento alvo e são inativadas região variável permitem a diferenciação
enzimaticamente. Ao serem inativadas, de cada espécie ou complexo de espécies 447 - LEISHMANIOSE CANINA (ELISA +
ocorre emissão de fluorescência, que é RIFI ) COM DILUIÇÃO TOTAL 2
existentes. Tais particularidades

31
BIOQUÍMICA

ELETROFORESE DE PROTEÍNAS

A eletroforese refere-se à migração função é a manutenção da pressão inflamatórios agudos ou crônicos,


de solutos ou partículas carregadas em coloidosmótica e o transporte de diversas infecciosos e imunes, neoplasias e após
um meio líquido sob a influência de um substâncias. A hipoalbuminemia traumas e cirurgias. Já a redução dessas
campo elétrico. As distâncias percorridas pode estar presente em inúmeras proteínas ocorre na hepatite viral aguda,
pelas proteínas variam, formando doenças e é altamente inespecífica. má absorção, enfisema pulmonar, jejum
bandas, essas são denominadas albumina, Em algumas condições pode-se prolongado e síndrome nefrótica.
alfa-1-globulina, alfa-2-globulina, observar a redução dessa proteína:
betaglobulina e gamaglobulina. É inflamação aguda ou crônica, doença
utilizada para auxiliar o diagnóstico de hepática, glomerulopatias, lesão tubular,
disproteinemias, gamopatias e processos enteropatia perdedora de proteínas,
inflamatórios. Os resultados devem ser doença inflamatória intestinal, linfomas,
dados sempre em valor percentual da leucemia, desnutrição protéica,
concentração das diversas frações e na hipertireoidismo e uso de corticóides.
forma gráfica.

Figura 3: Perfil eletroforético em que há perda de


alfa-1antitripsina.
Fonte: 1

Alfa-2-globulinas
As proteínas presentes nesta banda são
a haptoglobina, a alfa-2-macroglobulina
e a ceruloplasmina. Raramente é
Figura 2: Perfil eletroforético em que há perda de observada alteração nessa banda,
albumina.
Fonte: 1 uma vez que quando há diminuição
Figura 1: Perfil eletroforético.
Fonte: 1 de uma há aumento das outras para
Alfa-1-globulinas compensar. A elevação da alfa-2-
Albumina A principal proteína é a alfa- macroglobulina associada a redução da
A albumina é a proteína mais 1-antitripsina. O aumento desta albumina ocorre na síndrome nefrótica.
abundante do plasma, a sua principal geralmente ocorre quando há processos
32
BIOQUÍMICA

A haptoglobina sofre uma redução mellitus, pois nesses casos pode ocorrer aguda de doenças infecciosas; IgD,
em sua concentração quando há uma aumento do colesterol. Já a anemia por função desconhecida; IgE, reação de
hepatopatia grave, hemólise e durante deficiência de ferro leva a um aumento hipersensibilidade.
terapias com corticóides e estrógenos. da transferrina. Quando há hepatite
A ceruloplasmina aumenta durante grave pode haver sobreposição ou fusão
uma terapia com estrógenos e sofre uma das bandas beta e gama pelo aumento
queda quando há desnutrição, síndrome de IgA presentes nas cirroses hepáticas,
nefrótica e em enteropatias com perda infecções do trato respiratório e de pele
de proteínas. e na artrite reumatóide. Quando há
elevações dos complementos, pode estar
presente um carcinoma ou síndrome
de Cushing. A queda do C3 está
relacionada a doenças glomerulares. Figura 5: Padrão eletroforético de proteínas séricas
Fonte: 1
Gamaglobulinas
São os anticorpos produzidos pelos A fração gama tem dois principais
plasmócitos quando estimulados por padrões eletroforéticos, um pico
Figura 4: Perfil eletroforético das proteínas de fase antígenos. As gamaglobulinas são policlonal e um monoclonal. O pico
aguda. formadas por duas cadeias pesadas (G, policlonal ocorre quando há uma
Fonte: 1
A, M, D e E) e duas cadeias leves (kappa resposta imunológica simultânea de
Betaglobulinas ou lambda). Algumas características vários clones plasmocitários devido a
São compostas pelas seguintes importantes das imunoglobulinas (Igs) um estímulo antigênico. Esses estímulos
proteínas: transferrina, betalipoproteínas são: IgG, migra por toda a fração gama, podem ser inflamatório, imune ou
(LDL), C3 e outros componentes representa a maior parte das Igs normais infeccioso, como por exemplo em
do complemento, antitrombina III e e age contra antígenos bacterianos; IgA, sarcoides, lúpus eritematoso sistêmico
beta-2-microglobulina. O aumento migração na junção das frações beta e entre outros. Há um aumento difuso do
das betalipoproteínas geralmente gama, proteção de mucosas e fluidos padrão gama, em que há uma curva de
ocorre quando há hipotireoidismo, corporais; IgM, migração na junção base larga, pois há produção de todas as
icterícia obstrutiva, nefroses e diabetes das frações beta e gama, age na fase classes das Igs.

33
BIOQUÍMICA

alfaglobulinas aumentam em todos os


processos inflamatórios, infecciosos
e imunológicos. As betaglobulinas
aumentam quando há alteração no
metabolismo dos lipídeos ou quando
há colestase. Também há aumento nos
casos de anemia ferropriva, quando não
há síntese de transferrina. Mas a queda
dessa fração pode ocorrer quando está
em fase crônica. A fração gamaglobulina
aumentará todas as vezes que houver
processo infeccioso, inflamatório ou
imunológico. Esse aumento ocorre
de forma policlonal. Em doenças
linfoproliferativas, haverá um aumento
monoclonal. É importante que o
Médico Veterinário saiba interpretar de
forma correta este exame, pois auxilia
no diagnóstico de algumas patologias,
possui um custo acessível e fornece
os componentes principais de cada
fração protéica facilitando e guiando
Hipogamaglobulinemia/ o raciocínio clínico para as doenças
Agamaglobulinemia que apresentam padrões eletroforéticos
Consiste na redução do nível das característicos.
gamaglobulinas, geralmente sem
alteração pronunciada nas outras regiões
da globulina. Esse padrão está presente
EXAMES REALIZADOS PELO
nas hipo ou agamaglobulinemias
TECSA LABORATÓRIOS
congênitas ou secundárias, em que há
ausência de um ou mais anticorpos
Figura 6: Padrão eletroforético de pico policlonal específicos, que resulta em infecções
CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
Fonte: 1 frequentes algumas vezes fatais.

O pico monoclonal ocorre quando há 264 - ELETROFORESE DE PROTEINAS 4


produção homogênea de um único clone
plasmocitário de um tipo específico de
imunoglobulina. Como são moléculas
311 - TRANSFERRINA 2
idênticas entre si apresentam a mesma
mobilidade forética, o que produz
uma curva de base estreita, é o padrão
39 - HEMOGRAMA COMPLETO - PET E 1
que ocorre na Leishmaniose Visceral ANIMAIS SILVESTRES
Canina.
Figura 8: Esquema ilustrativo de
hipoglobulinemia/agamaglobulinemia.
Fonte: 1

Conclusão
Para que um resultado de eletroforese
de proteínas seja interpretado da forma
correta, é importante saber o que leva
às alterações em cada banda das frações
Referências Bibliográficas
protéicas. A banda de albumina sofre
1 - Eletroforese de proteínas séricas: interpretação e correlação clínica. Paula
alteração quando há alteração direta e Silva, Roberta Oliveira, Lopes, Aline de Freitas e Faria, Rosa Malena
ou indireta em sua produção, pode Delbone. 116-122, Belo Horizonte : Revista Médica de Minas Gerais, 2008,

Figura 7: Padrão eletroforético de pico monoclonal ser pela redução na ingesta ou perda Vol. 18 (2).

Fonte: 1 pela via enteral ou proteinúria. Já as

34
BIOQUÍMICA

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL X
DAGNÓSTICO CLÍNICO
QUANDO RESULTADOS OBTIDOS NÃO SÃO
COMPATÍVEIS COM ESTADO CLÍNICO DO ANIMAL
O Diagnóstico Laboratorial um diagnóstico definitivo e diferencial de coleta, armazenamento e conservação
O diagnóstico laboratorial é um para conclusão do caso. das amostras. Além desse, a bagagem
recurso diagnóstico complementar e de conhecimento científico adquirido
não conclusivo, ou seja, de apoio, que Resultados Incoerentes com na vida acadêmica e pós-acadêmica
confirma ou não uma suspeita clínica Estado Clínico do Paciente são fundamentais para a escolha do
inicial, podendo nos remeter a realização Em algumas situações, ao realizar- conjunto de exames a serem realizados
de provas adicionais para que se mos/solicitarmos suporte clínico- diante de determinado paciente, sinais e
possam elucidar cada quadro e traçar as laboratorial para auxílio na interpretação sintomas, daí a importância do processo
diretrizes terapêuticas, preventivas e de de exames e sugestão de demais provas de educação continuada na aquisição
controle para determinada enfermidade complementares aos nossos colegas, em de novos conhecimentos, reciclagem e
ou condição patológica. função de determinado quadro clínico, atualização de conteúdos. Esse é um dos
podemos nos deparar com resultados focos da VetScience Seminários. Em
que nem sempre são esperados segundo lugar, os fatores intrínsecos
Exames Laboratoriais: (resultados anormais ou normais que que devem ser levados em consideração
Uma Ferramenta de Apoio conflitam com a hipótese diagnóstica), na interpretação de resultados são
As análises laboratoriais não o que às vezes pode nos surpreender e sexo, idade, raça e gestação (influências
substituem em hipótese alguma uma boa gerar dúvidas quanto a confiabilidade biocronológicas - ciclo estral, circadiano
anamnese e exame clínico, sendo assim, do serviço prestado pelo laboratório e sazonalidade). Os fatores extrínsecos
quanto maior o número de informações de apoio. Nesse ponto o clínico deve se envolvem o jejum (mínimo de 12 horas
disponíveis ao clínico, maior a chance questionar quanto à existência de outras sempre),estresse e redução das atividades.
de fechar um diagnóstico correto. Além hipóteses diagnósticas (diagnóstico Em relação aos métodos de coleta e
disso, nem sempre é possível estabelecer diferencial). Além disso, deve-se amostras, os principais determinantes
o diagnóstico a partir de uma única enfatizar que é relativamente comum de alterações em resultados são:
avaliação, podendo ser necessário alguns exames laboratoriais acusarem tempo de garroteamento excessivo,
acompanhamento seriado com o intuito mais de uma enfermidade ou durante baixo volume de amostra, proporção
de acompanhar a evolução de uma a realização de check-ups rotineiros inadequada do volume de amostra em
provável patologia em curso, uma vez revelarem uma doença pré-existente relação ao aditivo (ex.: anticoagulante),
que deve se considerar o dinamismo que ainda não fora manifestada clinica- tipo de acondicionamento de amostra
de várias enfermidades, como período mente. Muitas vezes esquecemos que (SEMPRE use tubo fornecido pelo
de incubação, pré-patente, curso agudo vários fatores influenciam no resultado laboratório), homogeneização e
ou crônico e resposta imunológica obtido e a grande maioria deles está contaminação bacteriana, além de
individual. Todos os exames ligada às variáveis pré-analíticas, identificação do material coletado
laboratoriais oferecidos pelo laboratório basicamente no preparo do paciente, e correto/completo preenchimento
de apoio possuem valor diagnóstico coleta, armazenamento e conservação da requisição de exames. Destaca-
determinado pela sua especificidade, das amostras. Todos esses fatores se também outro fator fundamental
sensibilidade e valor preditivo (grau podem ser determinantes de uma ligado à conservação de amostras, como
de confiabilidade) e tais características errônea interpretação dos resultados oscilação de temperatura de geladeira na
são inerentes à metodologia utilizada laboratoriais e questionamentos quanto clínica veterinária, estabilidade de certos
nos ensaios. Portanto, a escolha dos ao processo analítico. componentes biológicos in vitro, além
exames a serem realizados é dependente de exposição à luz.
da sintomatologia e/ ou suspeitas Variáveis Pré-Analíticas
clínicas, além de histórico do animal e O primeiro ponto a se destacar como Exemplos de Fatores Pré-
dados epidemiológicos levantados pelo variável pré-analítica é a qualidade da Analiticos que Podem Alterar
Médico Veterinário responsável, o qual conduta profissional, em que a falta Alguns Parâmetros:
deverá posteriormente associar todas de preparo de alguns profissionais tem • Medicamentos, Vitaminas, etc
essas informações e estabelecer assim influência direta sobre o procedimento Diversas drogas podem interferir,
35
BIOQUÍMICA

in vivo ou in vitro, nos resultados de de drogas terapêuticas, é importante portanto, diminuições no nível sérico
análises laboratoriais. É importante que observar o horário da coleta em destas substâncias. Há no soro elevações
o clínico esteja atento ao que o paciente relação à ultima dose. Para muitos de lipídios, colesterol e triglicerídeos,
está tomando como ferro, minerais, medicamentos, o monitoramento é feito inclusive um aumento da atividade das
vitaminas etc. Altas concentrações de no intervalo entre as doses, utilizando- enzimas: lactato desidrogenase e da
vitamina C, por exemplo, podem elevar se, em alguns casos, a coleta durante o fosfatase alcalina, especialmente pela
os resultados das frutosaminas e do pico de concentração da droga (T4 total presença da isoenzima placentária. Com
ácido úrico, produzir falso-negativos e fenobarbital, por exemplo). frequência, ocorrem mudanças nos
para sangue oculto nas fezes e provocar parâmetros hematológicos: hematócrito
possíveis alterações na creatinina sérica. • Gestação e hemoglobina diminuem. As plaque-
O uso de contraceptivos em fêmeas A gestação provoca mudanças meta- tas podem gradualmente ter seus níveis
eleva os níveis séricos da globulina bólicas profundas e diversos exames têm reduzidos.
ligadora da tiroxina e, em consequência, seus valores modificados dependendo
os hormônios tireoidianos T3 total do período de gestação. Concentrações • Exercício Físico
e T4 total. Elevam-se também os de estrogênios e progesterona resultam A atividade física influencia e interfere
níveis séricos do ferro, triglicerídeos, em aumentos na secreção de prolactina, consideravelmente no metabolismo e
transaminase pirúvica, gamaglutamil- da globulina ligadora da tiroxina e o deve-se avaliar com cuidado os resulta-
transpeptidase, enquanto diminuem consequente aumento do T3 e T4 totais. dos obtidos de amostras coletadas
os níveis de albumina. As drogas Porém, o oposto pode ocorrer com o após exercícios. Dependendo da
diuréticas frequentemente diminuem hormônio luteinizante e o hormônio duração e da intensidade, várias são as
a concentração de potássio e elevam o folículo estimulante. Há mudanças na substâncias afetadas nas concentrações
sódio, o cálcio e a glicose. A dosagem função renal, com especial elevação dos urinárias e sanguíneas. Na fase inicial
de creatinina pode sofrer interferência níveis de filtração glomerular que levam dos exercícios, há um aumento de
de vários medicamentos, como, por a uma maior excreção da glicose, ureia, glicose e de insulina que pode levar à
exemplo, a dipirona. No monitoramento creatinina e proteína. Observam-se, hipoglicemia com a intensificação da
36
BIOQUÍMICA

atividade física. A desidrogenase láctica, exemplo, a vitamina D que sofre quando há necessidade de repetir o
a creatinofosfoquinase e a aldolase são interferência da exposição à luz solar, exame na mesma amostra ou em nova
enzimas extremamente sensíveis, que se com redução dos seus níveis no inverno, coleta posteriormente para confirmação
elevam com exercícios de pouca duração principalmente em países onde as de resultados obtidos, “analisando com
e intensidade. As glicoproteínas, estações são bem definidas. O oposto compromisso, diagnosticando com
transferrina, transaminases, ureia, se aplica ao T3 total que, por sua ação responsabilidade e orientando com
creatinina, ácido úrico e contagem de calorigênica, apresenta níveis mais ética”.
leucócitos podem elevar-se. O exercício elevados no inverno. Os valores para as
estimula a secreção do cortisol, podendo provas funcionais foram padronizados
desaparecer o ritmo circadiano. Também pela manhã, portanto elas devem ser
observam-se aumentos na excreção de realizadas, preferencialmente, neste
cortisol livre urinário e nas concentrações período.
plasmáticas de aldosterona, hormônio de
crescimento, prolactina e catecolaminas • Hemólise
(tanto plasmática quanto urinária). O A ruptura da hemácia, ou hemólise,
colesterol e os triglicerídeos diminuem, pode ocorrer por um processo mecânico
podendo permanecer assim por vários ou metabólico, seja em um processo
dias. E, diretamente proporcional à natural de renovação da célula vermelha
duração e à intensidade dessa atividade ou como consequência de doença. A Figura1: Diferentes graus de hemólise (Fonte:
física, podem surgir a hematúria e a hemólise por anemia hemolítica ou Retirado do site Capital Health)
proteinúria. por punção venosa causa elevação de
LDH, bilirrubinas, transaminases,
• Ritmo Circadiano potássio, magnésio e fosfatase ácida.
Os valores de alguns constituintes Hemólises causadas por traumatismo EXAMES REALIZADOS PELO
líquidos orgânicos variam ciclicamente durante a punção, o que se observa TECSA LABORATÓRIOS
ao longo do dia. A magnitude do efeito mais frequentemente, podem invalidar
do ritmo circadiano pode ser maior os resultados de testes de coagulação,
do que geralmente se leva em conta pela liberação de tromboplastinas. A CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
na interpretação dos exames. Além hemólise tem efeitos marcantes em
39 - HEMOGRAMA COMPLETO – CANINO 1
da influência de fatores individuais, proteínas totais, fosfatase alcalina, ferro
muitos hormônios mostram variações e fósforo, mas podendo mascarar reações 570 - PERFIL CHECK UP GLOBAL DE
FUNCOES 1
diurnas e biológicas aleatórias ao longo com anticorpos hemolisantes, portanto,
de 24 horas. O cortisol e o ACTH quando se tem extravasamento de 626 - T4 LIVRE - DIALISE
(PRE-RADIOIMUNOENSAIO) 1
apresentam valores mais elevados pela conteúdo celular, tem-se alteração de
manhã do que a tarde e a noite e são pH e consequentemente desnaturação
73 - T4 LIVRE (RIE) 1
muito influenciados pelo estresse. Em de algumas proteínas (como anticorpos)
grau menor, o TSH também apresenta podendo haver interferência em
74 - T4 LIVRE (QUIMIO) 1
uma variação circadiana, com níveis mais exames sorológicos determinando
elevados após a meia-noite e mais baixos reações inespecíficas como por exemplo
147 - T4 TOTAL (RIE) 1
em torno do meio-dia. A fosfatase ácida, em exames de brucelose (IDGA),
o potássio, a transferrina e o ferro sérico ELISA e RIFI e quaisquer outras
164 - T4 TOTAL (QUIMIO) 1
mostram-se também mais elevados pela técnicas que possuem princípios de
manhã, alterações que, neste último, reações colorimétricas. Enfim, uma
podem atingir de 30% a 50%, além de gama de variáveis pré-analíticas são 624 - T3 TOTAL (RIE) 1
sua variação intra-individual no dia-a- determinantes de alterações labora-
dia. Também os eosinófilos variam com toriais nem sempre compatíveis com o 66 - T3 TOTAL (QUIMIO) 1
a hora do dia, apresentando-se mais estado clínico do animal. Além disso,
71 - TSH - HORMONIO ESTIMULANTE 1
baixos à tarde; linfócitos e leucócitos frisa-se a importância da interação DA TIREOIDE (RIE)
têm seus valores máximos pela manhã, entre o Médico Veterinário Clínico e
845 - TSH - HORMONIO ESTIMULANTE 1
e o urobilinogênio urinário atinge sua o suporte clínico-laboratorial de forma DA TIREOIDE (QUIMIO)
excreção máxima à tarde. É também a discutir e orientar para uma melhor
578 - DIAGNOSTICO SOROLOGICO DE
quando os triglicerídeos estão mais condução da abordagem diagnóstica. No GESTACAO - DOSAGEM DA RELAXINA 1
altos, bem como o fosfato, a ureia e o TECSA Laboratórios estamos sempre
hematócrito. Outro importante fator dispostos a discutir sobre os casos
de influência é a sazonalidade. Como clínicos, resultados obtidos, indicando

37
DERMATOLOGIA

PÊNFIGO EM CÃES E GATOS


Introdução ocorrer devido à utilização de alguns com a exacerbação da produção dos
As dermatopatias são doenças que fármacos por períodos prolongados, autoanticorpos e o agravamento da
acometem o sistema tegumentar que possuem os compostos tióis em sua doença, podem ser observados eritema
provocando vários tipos de alterações, composição, ou então, por apresentarem e exsudação e em alguns casos erosões
muitas das vezes, essas alterações podem enxofre, que em sua biotransformação e ulcerações cutâneas. Quando o animal
ocorrer devido à fatores extrínsecos, mais acaba por produzir grupos tióis ativos. chega neste estágio, ele também pode
em alguns casos, elas podem ocorrer O Pênfigo Foliáceo é caracterizado apresentar outras alterações como febre,
devido à fatores intrínsecos. Dentre os por produzir autoanticorpos contra anorexia, edema de membro e em alguns
vários fatores intrínsecos que acometem um dos antígenos responsáveis pela casos linfadenomegalia.
a pele dos animais, podemos citar o adesão intercelular epidérmica, presente
complexo Pênfigo. O complexo Pênfigo nos desmossomos. A produção dos
é um grupo de doenças autoimunes autoanticorpos está diretamente ligada a
de descrição rara, porém acomete uma regulação imune anormal ou devido
cães e gatos. Dentre as variações a uma estimulação antigênica anormal.
que existem dentro do complexo, O antígeno mais provável responsável
podemos citar o Pênfigo Foliáceo, pela ocorrência do pênfigo foliáceo é a
o Pênfigo Eritematoso, o Pênfigo desmogleína 1 do grupo da caderina.
Vulgar e o Pênfigo Vegetante. Estes se Ainda não há estudos ou referências
distinguem de acordo com a forma e a bibliográficas que comprovem a
características das lesões apresentadas, predisposição sexual, porém, já existem Figura 2: Cão de 05 anos de idade apresentando
lesões com pústulas intactas na face, mais ele
variando de vesículas bolhosas, pústulas algumas raças onde foram observadas também apresenta leões na parede abdominal, no
na pele, colaretes epidérmicos, eritema predisposição para a ocorrência do tronco e nos membros.
Pênfigo Foliáceo, dentre elas, podemos Fonte: Imagem retirada do “Anatomia Patológica
e a despigmentação da área acometida. Veterinária – FMV - ULisboa” disponível em:
Dentre esses, o Pênfigo Foliáceo é citar raças como Chow Chow, Akita, http://www.fmv.ulisboa.pt/atlas/pele/pages_us/
Collie, Dachshund, Doberman, Bearded, pele035_ing.htm
a dermatopatia imunomediada de
ocorrência mais comum nos cães e nos Pinscher e Schipperkes. O pênfigo pode
gatos. ocorrer em qualquer idade do animal, Diagnóstico
mais alguns estudos indicam que a O diagnóstico do Pênfigo Foliáceo é
maior incidência do mesmo é por volta baseado no histórico clínico do animal,
dos cinco anos de idade. no exame físico, na realização de exames
hematológicos e bioquímicos para
Sinais Clínicos monitoramento. Mais são exames como
A ligação dos autoanticorpos com os esfregaços diretos das lesões, citologia
o antígeno promove a ocorrência de das pústulas e o histopatológico que
acantólise, que é caracterizada pela realmente irão identificar as alterações
separação da camada espinhosa da na epiderme causadas pelo pênfigo.
epiderme, dando origem a pústulas O diagnóstico diferencial de pênfigo
intradermicas bastante sensíveis e que inclui várias outras doenças que
quando rompidas, resultam em lesões acometem a pele dos animas, dentre
secundárias. As lesões normalmente elas podemos citar o Lúpus, Foliculite
Figura 1: Cão apresentando lesão com pústulas têm início no plano nasal podendo
no plano nasal. Bacteriana, Dermatofitose, Demodicose
se estender ao redor dos olhos e
Fonte: Imagem retirada do “Veterinary Articles/ e Leishmaniose. Para uma clara
Pemphigus Foliaceus” disponível em: http:// até o conduto auditivo dos animais
www.vmcli.com/veterinary-articles-pemphigus- elucidação e exclusão de outras possíveis
acometidos, com a progressão da doença,
foliaceus.html dermatopatias, sugere-se a realização
as áreas afetadas podem atingir todo o
do exame histopatológico. Nos exames
corpo do animal podendo chegar até a
hematológicos podemos não encontrar
Etiopatogenia virilha e acometendo os coxins causando
alterações significativas causadas
Sua etiologia ainda não está totalmente uma hiperqueratose. Estes animais
pelo Pênfigo Foliáceo, mas podemos
elucidada, porém, está relacionada à apresentam alopecia, despigmentação identificar uma leve a moderada
produção irregular de autoanticorpos da área acometida, desenvolvimento de leucocitose com neutrofilia e uma
específicos. Alguns estudos apontam pústulas, assim como o aparecimento de leve a moderada anemia normocítica
que o Pênfigo Foliáceo também pode escamas, crostas e colaretes epidérmicos,
38
DERMATOLOGIA

um processo de ativação de linfócitos


associado a uma produção de anticorpos
contra determinados componentes
específicos da pele do animal, havendo
influência direta na adesão dos
queratinócitos. Com este acumulo no
espaço intracelular, começa a ocorrer
uma separação das células com as células
adjacentes nas camadas mais superficiais,
provocando acantólise das mesmas. De
acordo com a progressão da doença e da
produção dos anticorpos autoimunes,
as lesões dérmicas começam a aparecer.
Normalmente as lesões começam a se
desenvolver no plano nasal, podendo
se estender para a rosto, fazendo com
que o animal seja levado ao consultório
veterinário para a obtenção de um
diagnóstico e um tratamento para a
remissão dos sinais clínicos.

normocrômica não regenerativa. ser coletadas em áreas onde a doença


EXAMES REALIZADOS PELO
No esfregaço direto das lesões e na ainda está ativa e sem contaminação
TECSA LABORATÓRIOS
citologia, quando bem realizados, secundária. Deve-se realizar uma
podemos identificar eosinófilos, biópsia incisional e acondicionar a CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
neutrófilos íntegros, a presença de mesma em formalina 10% e após 24
39 - HEMOGRAMA COMPLETO – CANINO 1
células acantolíticas e ausência de horas, encaminhar ao laboratório para
bactérias, o que reforça o diagnóstico, analise histopatológica.
44 - HEMOGRAMA COMPLETO – FELINO 1
porém, é preciso avaliar a presença de
células acantolíticas com cautela para Prognóstico 324 - PERFIL BIOQUIMICO 1
não confundir o diagnóstico com outras O prognóstico do Pênfigo
dermatites pustulares. Foliáceo normalmente é classificado 87 - CITOLOGIA - PET 3
como moderado à bom. Mais para
que isto aconteça, é necessário o 86 – HISTOPATOLOGIA COLORAÇÃO 4
acompanhamento de perto desse DE ROTINA (HE)
paciente, juntamente com o proprietário 650 – HISTOPATOLOGIA COM 7
COLORAÇÃO ESPECIAL
do animal, o Médico Veterinário deve
explicar que Pênfigo Foliáceo é uma 658 – PERFIL FACILITADOR 4
(CITO E HISTOPATOLOGICO)
doença autoimune, que acomete a pele
do animal e possui um prolongado 664 – GRAM CITOLÓGICO 1
tratamento terapêutico, visto que não
há cura, mais sim um controle com
Referências Bibliográficas
Figura 3: Exame citológico de uma pústula imunomoduladores. Em alguns casos
intacta de um cão com pênfigo foliáceo, podemos “Veterinary Articles / Pemphigus Foliaceus” disponível em: http://www.
durante o tratamento, pode haver
identificar a presença de queratinócitos acantolíticos vmcli.com/veterinary-articles-pemphigus-foliaceus.html;

(setas) e muitos neutrófilos não degenerados. recidivas e até infecções bacterianas


Fonte: Imagem retirada do “Canine and secundárias. Nestes casos a medicação
“Anatomia Patológica Veterinária – FMV - ULisboa” disponível em: http://

feline pemphigus foliaceus: Improving your www.fmv.ulisboa.pt/atlas/pele/pages_us/pele035_ing.htm;

chances of a successful outcome” disponível precisa ser analisada novamente


em: http://veterinarymedicine.dvm360.com/ e a infecção secundária tratada “Canine and feline pemphigus foliaceus: Improving your chances of a

c a n i n e - a n d - f e l i n e - pe m ph i g u s - f o l i a c e u s - successful outcome” disponível em: http://veterinarymedicine.dvm360.

improving-your-chances-successful- apropriadamente. com/canine-and-feline-pemphigus-foliaceus-improving-your-chances-

outcome?id=&sk=&date=&pageID=4 successful-outcome?id=&sk=&date=&pageID=4;

Conclusão Doenças autoimunes e imunomediadas. In: Dermatologia de pequenos


O histopatológico é o exame de eleição O Pênfigo Foliáceo é uma doença animais, atlas colorido e guia terapêutico. 2 ed. Editora: Roca, 2009, 528p.

para o diagnóstico de Pênfigo Foliáceo, que acomete a pele dos animais e possui Manual Colorido de Dermatologia do Cão e do Gato: Diagnóstico e
sendo que, as amostras de biópsia a um caráter autoimune, dessa forma, Tratamento. São Paulo: Revinter, 2004, 240p.
serem enviadas ao laboratório devem o organismo do animal dá início a

39
PATOLOGIA CLÍNICA

INTERNALIZAÇÃO DA ROTINA LABORATORIAL


OS RISCOS DE UM DIAGNÓSTICO NÃO ESPECIALIZADO

Nos últimos anos, a facilidade do animal depende de conhecimento, anticoagulante ou secagem inapropriada
de aquisição de equipamentos de análise crítica e de rigorosos processos das lâminas. Um CHCM alterado pode
laboratório, aliada a promessa de de controle de qualidade. Mais do que não ser causado por hemólise, como
diagnósticos rápidos e precisos, tem saber manusear uma pipeta, é preciso aprendemos na faculdade, e sim por
encantado os clínicos e gerado um ter o discernimento para transformar valores altos de Corpúsculos de Heinz
movimento em prol da abertura de absorbâncias em resultados e corrigir em um cão intoxicado ou em um gato
laboratórios internos. Embora tal enganos comumente cometidos por sadio, por exemplo. Uma contagem total
estratégia agregue de fato agilidade equipamentos criados para se adequar a de leucócitos dentro da normalidade,
ao diagnóstico, a banalização dos padrões de uniformidade. pode esconder um desvio a esquerda ou
exames laboratoriais tem trazido Confiar cegamente em equipamentos até mesmo não chamar a atenção para
consequências graves à saúde animal. é uma irresponsabilidade que pode um animal extremamente doente cujas
A ideia de equipamentos criados para resultar na morte de um paciente quando células inflamatórias não respondem
o clínico é tentadora, no entanto, não lidamos com uma ciência cuja principal mais a estímulos. Da mesma forma,
é verdadeira. Máquinas de diagnóstico característica é fugir dos padrões. animais anêmicos podem apresentar
liberam números e não resultados. Antes de assumir um laboratório valores normais de hemácias em casos
E mesmo a confiabilidade de tais interno, é preciso conhecimento para de desidratação ou em situações de
números está diretamente relacionada identificar estruturas e experiência estresse e um bom profissional com
à precisão, exatidão, repetibilidade, para perceber alterações sutis que conhecimento em análises clínicas pode
reprodutibilidade, ensaios de podem fechar um diagnóstico ou reconhecer essa situação, indicando não
proficiência, POPs, certificações, sugerir quadros específicos. As mesmas apenas um hematócrito aumentado, mas
acreditações, RDC 302... Termos alterações na morfologia de hemácias a presença de estruturas como específicas
ainda desconhecidos pelos clínicos que podem sugerir uma patologia, em hemácias crenadas e rouleaux.
veterinários. A transformação desses alguns casos estarão apenas indicando Cabe a esse mesmo profissional,
números em uma informação precisa problemas no pré analíticos ou esclarecer se alterações celulares
e condizente com o estado de saúde artefatos de técnica como excesso de observadas na microscopia são apenas

40
PATOLOGIA CLÍNICA

técnico que dita como deve ser o


funcionamento de laboratórios clínicos.
De acordo com o art. 4˚ do regulamento,
o descumprimento das determinações
previstas constitui infração de natureza
sanitária. O infrator está sujeito a
processo e penalidades previstas na lei.
Embora seu cumprimento ainda não seja
obrigatório para o segmento veterinário,
o não cumprimento dessas exigências
expõe os resultados a erros analíticos
graves, que podem ter consequências
legais.
É preciso lembrar que exames
laboratoriais são considerados
evidências e provas que podem ser
questionadas durante um processo
judicial e o veterinário responsável
pela liberação de um exame, responde
legalmente por esses resultados. A
Patologia Clínica é uma área de extrema
complexidade, que dita o prognóstico,
sugere um diagnóstico e direciona o
tratamento de um animal. Por isso, não
importa o quanto evoluído sejam os
equipamentos ou o quanto competente
sejam os clínicos; a Patologia Clínica
Veterinária sempre será uma questão de
especialidade.
artefatos de técnica, patológicas ou para atuar no segmento de análises
fisiológicas para a espécie em questão. clínicas o veterinário obrigatoriamente EXAMES REALIZADOS PELO
No caso de alterações patológicas, deve se certificar da composição correta TECSA LABORATÓRIOS
apenas o reconhecimento das estruturas de reagentes, já que nem todas as
CÓD - EXAME PRAZO/DIAS
não é o suficiente para fechar um marcas e analitos se adequam a dosagens
diagnóstico, visto que a maioria dos animais; garantir a calibração correta 334 - PERFIL
HIPERADRENOCORTICISMO 3
clínicos desconhece os significados dos equipamentos, sem engana-los com
das alterações morfológicas mais fatores de correção inseridos de forma
comuns. O responsável pela liberação aleatória; conhecer e aplicar as regras 336 - PERFIL HIPOTIREOIDISMO 3
do hemograma também deve ser capaz de westgard e auxiliar o solicitante do
621 - CORTISOL POS SUPRESSÃO
de sugerir exames complementares exame na fase pós analítica, discutindo e DEXAMETASONA - 3 DOSAGENS 1
específicos que indiquem a origem interpretando os resultados encontrados. (RADIOIMUNOENSAIO)
dessas alterações. Análises bioquímicas, Problemas nas instalações, 86 - HISTOPATOLOGICO COM 4
embora tenham interpretação aterramentos insuficientes, ruídos COLORAÇÃO DE ROTINA - HE
aparentemente mais simples também da corrente elétrica, temperatura
650 - HISTOPATOLOGIA COM 7
são responsáveis por falsos diagnósticos. inadequada, contaminação de reagentes COLORAÇÃO ESPECIAL
Apenas o conhecimento em patologia ou um simples homogeneizador
clínica, permite ao profissional avaliar colocado fora do lugar, podem ser 656 - IMUNOHISTOQUIMICA - VALOR 14
o real significado de resultados zerados responsáveis por um diagnóstico PROGNÓSTICO DE MASTOCITOMA
em provas enzimáticas que podem equivocado, tornando normal uma 788 - CHECK UP GLOBAL DE FUNÇÕES 1
ser devidos tanto ao excesso quanto a amostra alterada ou alterando a amostra COM HEMOGRAMA
ausência de atividade. Além de ser capaz de um animal saudável. Para evitar a
de prever e mensurar o efeito de uma ocorrência desses erros e padronizar 856 - PERFIL CHECK UP CARDIO-RENAL 2
fase pré analítica inadequada (coleta, as instalações laboratoriais, a Anvisa
armazenamento e envio da amostra) criou a RDC 302, um regulamento

41
Em primeira mão, nossa próxima edição:

ISSN 2358-1018
ISSN 2358-1018

umaumrevista do para
benefício Grupoo cliente
TECSA TECSA MAGAZINE
MAGA ZINE Número
Número11,
14, 2016
2016
Número 15, 2017

HEMATOLOGIA
ONCOLOGIA VETERINÁRIA
VETERINÁRIA
DISTURBIOS
UMA CIÊNCIADAQUECOAGULAÇÃO, PROVAS
EVOLUI A CADA DIA CRUZADAS, TRANSFUSÕES E ANEMIAS

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