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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.

Caderno de Hematologia  
Aula 01 (07/10): Hemoterapia (​assíncrona:​ h​ ttps://www.loom.com/share/folder/3b6f52c416f8444c9efb06ecd00702d6​ ​) 
Ao final do estudo, os alunos devem saber: 
● A diferença entre hemocomponente e hemoderivado 
● Como avaliar as indicações de transfusões de concentrados de hemácias.   
● Indicações  para  transfusões  de  concentrados  de  plaquetas,  plasma  fresco  congelado  e 
crioprecipitado.  
● Reconhecer as reações transfusionais agudas e sua fisiopatologia.  
 
NOÇÕES BÁSICAS DE HEMOTERAPIA 
Aspectos Históricos 
1900: descoberta dos grupos sanguíneos A, B e O 
1907:  Postulado  de  Ottemberg:  "  A  transfusão  só  é possível quando o soro do receptor não 
aglutina as hemácias do doador". 
Esse  postulado  nos  guia  até  hoje  para  transfusões  sanguíneas,  já  que  sintetiza  que  não  se 
pode  transfundir  um sangue não compatível com o receptor. Como um indivíduo pode ter ou 
não  antígenos  em  suas  hemácias,  o  processo  de  aglutinação  ocorrerá  quando  o  sangue  do 
doador  tenha  um  antígeno  que  não  esteja  presente  no  sangue  do  receptor.  Neste  caso,  o 
sistema  imune  reconhecerá  esse  corpo  estranho  e  reagirá,  aglutinando  as  hemácias, 
podendo levar a morte. 
 
No Brasil, fazemos a​ prova de compatibilidade maior​ quando há doação de sangue: 
Pega-se  uma  amostra  do  sangue  do  doador  (que  é  colhida  após  encher  a  bolsa  de  doação 
de  sangue)  e  coloca-se  essa  amostra  para  reagir  in  vitro  com  o  soro  ou  com  o  plasma  do 
receptor  (transfusão  de  hemácias).  Se  não  houver  aglutinação,  o  sangue  doador  pode  ser 
transfundido  para  o  receptor.  Se  houver  aglutinação,  guarda-se  o  sangue  para  fazer  uma 
prova cruzada com outro receptor que precise, para uma posterior transfusão.  
 
Diferença entre soro e plasma: 
Quando  coletamos  o  sangue  num  tubo  sem  anticoagulante, 
haverá  formação  de  coágulos  de  fibrina  (com  hemácias, 
plaquetas  e  leucócitos),  e,  acima  destes  coágulos,  vai  estar  o 
s​oro​,  ​s​em  fibrinogênio  (como  não  há  anticoagulante,  o 
fibrinogênio foi "usado" para formar os coágulos logo abaixo).  
 
Quando  coletamos  o  sangue  num  tubo  com  anticoagulante, 
não  ocorrerá  a  formação  de  coágulos.  Assim,  no  fundo  do 
tubo  estarão  as  hemácias;  logo  acima  uma  camada  fina  de 


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plaquetas  e  leucócitos;  e  no  topo  estará  o  ​plasma  (com  fibrinogênio,  já  que  não  houve 
coagulação sanguínea). 
 
Aglutinação 
A aglutinação é a ferramenta de trabalho do imunohematologista: 
 
→ Técnicas em tubo:   
1. Teste da Antiglobulina Direto (Coombs Direto) ​(pós-possível aglutinação) 
https://www.biomedicinapadrao.com.br/2010/11/teste-de-coombs-direto.html  
O  teste  de  Coombs  ou  Teste  da  Antiglobulina  Direto  (TAD)  é  uma  técnica  laboratorial  para 
determinar  se  os  eritrócitos  foram  fixados  in  vivo  ​(opsonizados)  por  imunoglobulinas, 
complemento, ou ambos. 
O  teste  de  Coombs  direto  detecta  anticorpos  ligados  aos  eritrócitos​,  produzidos  pelo 
próprio organismo ou recebidos por uma transfusão de sangue. 
 

 
É usado principalmente na investigação de: 
- Reações transfusionais hemolíticas​; 
- Doença  hemolítica  do  recém-nascido​:  o  teste  de  Coombs  direto  é  aplicado  no 
recém-nascido  com  sangue  Rh-positivo  cuja  mãe  possui  sangue  Rh-negativo.  O 
teste  verifica  se  a  mãe  produziu  anticorpos  contra  o  antígeno  e  se  estes  se 
deslocaram pela placenta para o bebê. 
- Anemia hemolítica autoimune​; 
- Hemólise induzida por drogas​. 


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● Um  ​resultado  negativo  do  teste  significa  que  o  sangue  não  tem  anticorpos  ligados  aos 
eritrócitos. 
● Um  ​resultado  positivo  do  teste  significa  que  o  sangue  tem  anticorpos  contra  os 
eritrócitos.  Pode  ser  causado  por  uma  ​transfusão  incompatível  ou  estar  relacionado  a 
certas condições, como a ​anemia hemolítica ou a doença hemolítica do recém-nascido​. 
 
2. Teste de Coombs Indireto ​(pré-possível aglutinação) 
O  teste  de  Coombs  indireto  ​detecta  os  anticorpos  que  estão  no  soro​.  Estes  anticorpos 
podem  atacar  os  eritrócitos,  mas  não  estão ligados a eles​. Normalmente, o teste de Coombs 
indireto  é  ​realizado  para  revelar  a  presença  de  anticorpos  no  sangue  de  um  receptor  ou 
doador  antes  de  uma  transfusão​.  Também  pode  ser  útil  no  pré-natal,  para  proteger  os 
bebês no início de uma gravidez caso a mãe possua sangue Rh-negativo. 

 
● Um  ​resultado  negativo  do  teste  significa  que  o  sangue não possui anticorpos livres que 
possam  atacar  eritrócitos.  No  caso  de  transfusões,  o  ​sangue  do  receptor  é  compatível 
com  o  do  doador​.  Além  disso,  um  teste  negativo  de  Coombs  indireto  para  o  fator  Rh 
(titulação  de  anticorpos  Rh)  em  uma  ​mulher  grávida  Rh-negativo  significa  que  ela  não 
desenvolveu  anticorpos  contra  o  sangue  Rh-positivo  do  bebê​,  ou  seja,  a  sensibilização 
Rh não ocorreu. 
● Um  ​resultado  positivo  do  teste  significa  que  o  sangue  analisado  é  i​ncompatível  com  o 
sangue  do  doador​.  Se  o  teste  de  título  de  anticorpos  Rh  for  positivo  em  uma  mulher 
grávida  ou  que  planeja  engravidar,  isso  quer  dizer  que  ela  tem  anticorpos  contra  o 
sangue  Rh-positivo  (​sensibilização  ao  Rh​).  Portanto  deverá  realizar  o  teste  no  início  da 
gravidez  para  verificar  o  tipo  sanguíneo  do  bebê.  Se  o  bebê tiver sangue Rh-positivo, a 
situação da mãe será acompanhada durante a gravidez para evitar riscos à criança. 
 
→ Técnica de gelcentrifugação:  
O  objetivo  é  ​determinar  a  tipagem  sanguínea  ABO  e  RhD  em  amostras  de  pacientes  e 
doadores  de  sangue,  verificando  a  presença/ausência  de  antígenos  e  anticorpos do sistema 
ABO e do antígeno D do sistema Rh. 
Esse  gel  utilizado  possui  os  anticorpos que reagirão ou não com os antígenos presentes nas 
membranas das hemácias.  
É realizado em amostras de sangue coletadas em tubos com anticoagulante EDTA. 


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Antígenos eritrocitários 
Existem  344  antígenos  eritrocitários  humanos  identificados,  sendo  315  incluídos  em  algum 
dos 36 grupos sanguíneos.  
Há também coleções de antígenos e séries de antígenos de baixa e de alta frequência. 
Os  de  maior  importância  transfusional  são  os  sistemas  ABO  (3  antígenos)  e  o  Rh  (47 
antígeno). 
 
Características, indicações e doses de hemocomponentes 
Hemocomponentes  =  separação  dos  componentes  do  sangue  através  de  uma  técnica 
puramente  mecânica  (centrifugação).  A  centrifugação  gera:  concentrado  de  hemácias, 
concentrado  de  plaquetas,  concentrado  de  leucócitos  e  concentrado  de  plasma  fresco 
precipitado. 
Hemoderivados  ​=  são  as  frações  do  sangue  total  que  separamos  através  de  métodos 
físico-químicos.  Dão  origem a fatores de coagulação (fator 8 para hemofílicos A, fator 9 para 
hemofílicos B); albumina; etc. 
 
Transfusão de Hemocomponentes 
Deve-se considerar: 
- Indicações (ex: anemia com sintomatologia mais grave) 
- Pensar  em  alternativas  à  transfusão  (ex:  anemia  ferropriva  não  grave:  ao  invés  de 
optar por transfusão de hemácias, é preferível fazer uma complementação de ferro). 
- Benefícios  devem  ser  maiores  que  os  riscos (apesar dos riscos serem menores que a 
transfusão  de  sangue  total,  eles  existem.  Por  isso  deve-se  sempre  procurar 
alternativas  e  só  optar  por  transfundir  quando  realmente  necessário,  quando  o 
paciente for grave e/ou sua condição precisar ser revertida de forma rápida).  
 
1) Concentrado de Hemácias 
● Objetivo: aumentar a liberação de oxigênio para os tecidos. 
● Indicação:  quando  os  tecidos  estão  em  sofrimento,  com  escassez  de  oxigênio, 
precisando de reversão sob risco de desfecho maléfico. 
● O  armazenamento do concentrado de hemácias é feito numa temperatura entre 2 a 6 ºC 
(em geladeira; transporte necessita de gelo). 
● Bolsa possui em torno de 250-350 ml.  
● Uma  unidade  de  concentrado  de  hemácias  no  adulto  gera um aumento de 3 a 4 pontos 
no hematócrito e 1-2g de hemoglobina​. 
● Dose pediátrica: 10 a 15 mL/kg de peso.  
● As  transfusões  geralmente  estão  indicadas  quando  a  hemoglobina  cai  a  menos  de 
7g/dL  (quando  a  hemoglobina  chega  a  7g/dL,  já  há  sinais  de  hipoperfusão  tecidual, 
principalmente cerebral). 
● São raramente indicadas quando hemoglobina > 10g/dL. 


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● Situações especiais: 
→  coronariopatas  ou  pneumopatas  podem  precisar  de  níveis-alvo  de  hemoglobina 
superiores  a  11  g/dL  (uma  hemoglobina  de  11  ou  10,  por  exemplo,  pode  ser 
considerada anemia nesses pacientes) 
→  em  pré-operatório:  hemoglobina  precisa  estar  >  10  para  maiores  de  65  anos  e 
hemoglobina > 8 para mais jovens. 
 
● Doenças hematológicas:  
→  anemia  falciforme:  pensar  em  transfusão  quando  Hg<5g/dL  ou  queda  >  20%  do  basal. 
Investigar  a  sintomatologia  do  paciente  (cansaço,  incapacidade  de  realizar  suas  atividades, 
etc). 
 
→  anemia  hemolítica  autoimune:  ​NÃO  TRANSFUNDIR​,  somente  quando  paciente  instável 
(com  risco  iminente  de  síndrome  coronariana  ou  AVC).  Se  os  indivíduos  produzem 
autoanticorpos  contra  o  próprio  sangue,  é  provável  que  faça reação contra os componentes 
do  sangue  transfundido  e  as  hemácias transfundidas sofram hemólise também, o que só vai 
agravar o quadro; por isso é melhor evitar. 
 
→ paciente em quimioterapia (leucemias, linfomas): transfundir quando Hg < 8g/dL. 
 
2) Concentrado de Plaquetas 
● São pequenas bolsas amarelas, de 50 a 70mL (transfusão rápida!). 
● Armazenamento  entre  18  a  22ºC  (temperatura  ambiente  dos  laboratórios).  Se  a 
temperatura  ambiente  do  local  for  maior  (ex:  RJ),  deve-se  armazenar  em  caixa  térmica, 
com gelo se for transportar (sem o gelo entrar em contato direto com a bolsa).  
● As  bolsas  precisam  permanecer  sendo  "chacoalhadas"  por  aparelho,  para  que  não 
ocorra coagulação. 
 
Obs: a transfusão de concentrado de plaquetas possui 2
​ problemas​ a que se deve atentar: 
→  ​necessidade  de  vários  doadores  diferentes​:  as  unidades  são  pequenas  (50-70ml),  e  a 
dose  recomendada  é  de  1  unidade  a  cada  10kg.  Isso  significa  que  várias  unidades  são 
transfundidas,  e  cada  uma  é  proveniente  de  um  doador  diferente.  Isso  aumenta  o  risco  de 
exposição do receptor a doenças.  
→v
​ alidade muito curta​: as plaquetas duram cerca de 3-5 dias apenas. 
 
● Dose: 
→ 1 unidade a cada 10kg de peso corporal 
Obs:  pacientes  de  70kg  pode-se  transfundir  5  unidades  (de  5  doadores  diferentes). 
quando  transfundimos  plaquetas,  pelas  bolsas  serem  pequenas,  transfundimos  várias 


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unidades,  e  cada  unidade  vem  de  uma  bolsa  de  sangue  total  diferente;  ou  seja,  são  de 
doadores  diferentes.  Por  isso  recomenda-se  usar  5  e  não  7  unidades,  pela  exposição 
alta.  
Obs: pacientes de 80-90kg pode-se transfundir 7 unidades. 
 
→ 1 unidade de aférese para adulto 
→ dose pediátrica: 10 a 15 mL/kg de peso (mesma da hemácia) 
 
Obs: AFÉRESE 
Aférese  significa  “separar”  ou  “retirar”.  Portanto,  através  da  doação  por  aférese  é  possível 
retirar apenas uma das células do sangue total. 
 
Contraindicações: 
● púrpura trombótica trombocitopênica (PTT): não é contraindicação absoluta 
● púrpura  trombótica  idiopática  (PTI):  indivíduo  produz  anticorpos  (auto  anticorpos) 
contra  plaquetas;  então  não  adianta  transfundir  plaquetas, porque os anticorpos vão 
atuar  nelas  e  destruí-las  em  questão  de  horas.  O  que  é  feito,  nesses  casos,  é 
imunossupressão (pulsoterapia, pulsoterapia+imunoglobulina).  
● trombocitopenia  pela  heparina:  a  indicação  é  suspender  a  heparina  e  esperar  a 
recuperação. 
 
Indicações: (decorar!) 
● < 100.000 plaquetas: antes de cirurgia de SNC, cirurgia oftalmológica  
● <  50.000:  antes  de  procedimentos  invasivos,  cirurgias  ou  qualquer  outra  ação que tenha 
riscos de sangramentos. 
● <  20.000:  em  casos  de  febre  (ex:  paciente  em  meio  à  quimioterapia,  com  neutropenia 
causada  pela  quimioterapia,  deve-se  transfundir  as  plaquetas  porque  a  tendência  da 
infecção é reduzir os trombócitos cada vez mais). 
● <  10.000:  sempre, mesmo em pacientes aparentemente hígidos, de forma profilática para 
evitar possíveis sangramentos. 
 
Observações: D
​ oses especiais 
● <  30.000  plaquetas:  transfundir  em  todos  os  recém-natos  (quer  sejam  prematuros,  a 
termo,  baixo  peso  ou  peso  normal),  pois  há  riscos  de  sequelas  graves  se  houver 
sangramentos.  O  limite  de  normalidade  aqui  é  esticado  (em  adultos  é  10.000)  para 
30.000,  porque  neonatos  possuem  maiores  riscos  de  complicações  e  gravidade caso um 
sangramento venha a ocorrer. 
● <  5.000  plaquetas:  pacientes  com  anemia  aplástica  de  forma  profilática.  O  limite  de 
normalidade  de  plaquetas  aqui  é  enxugado  (adultos  sem  anemia  aplástica:  10.000), 
porque  na  anemia  aplástica  pode  haver  formação de autoanticorpos contra as plaquetas, 


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o  que  torna  o  paciente  refratário  à  transfusão  de plaquetas. Por isso, evita-se ao máximo 


transfundir.  
 
3) Plasma fresco congelado 
● Volume médio da bolsa de 180mL. 
● Armazenamento é feito na temperatura < -20ºC, tendo validade de 1 ano. 
● Contém t​ odos os fatores da coagulação​. 
● Objetivos:  ​deter  ou  prevenir  sangramentos  quando  há  distúrbios  da  coagulação 
presentes​. 
● Dose (pediátrica ou adulta): 10 a 20 mL/kg de peso  
→ é um volume muito grande!  
→ possui riscos transfusionais 
 
Contraindicações: 
● desnutrição 
● hipoalbuminemia  
● sangramento sem coagulopatia 
● hemofílicos  (transfundir  apenas  o  fator  deficiente,  e  não  o  plasma  inteiro;  só  em 
emergências quando não há possibilidade de transfundir apenas o fator) 
 
Indicações: 
● coagulação intravascular disseminada (CIVD) com sangramento: INR ou PTT > 1,5 
● hepatopatas com sangramento 
● reversão  de anticoagulação pré cirurgia de emergência (ex: paciente em uso de marevan 
que  está  sangrando  muito):  é  preferível  fazer  a  transfusão  apenas  do  complexo 
pró-trombínico  (hemoderivado);  porém,  se  não  tiver  disponível  e  for  uma  situação  de 
emergência, está autorizado fazer a transfusão do plasma inteiro 
● reversão de sangramentos graves 
● transfusões maciças 
 
Obs: o plasma demora de 20 a 30 minutos para descongelar e poder ser utilizado.  
 
4) Crioprecipitado 
● É uma ​fração do plasma, rico em fibrinogênio e fatores VIII, XIII e de von Willebrand​. 
● Obs:  pacientes  com  deficiência  de  fator  de  von  Willebrand,  por  exemplo,  devem 
preferencialmente  receber  APENAS  o  fator  deficiente  (um  hemoderivado);  só  deve-se 
transfundir  o  crioprecipitado  se  não  houver  o  fator  individual  disponível  e  o  paciente 
estiver sangrando. 
● Unidade possui 10-20mL.  
● Objetivo da transfusão: distúrbio de coagulação COM sangramento.  


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● Dose (adulta e pediátrica): 1 unidade a cada 5-10kg de peso. 


Obs: a dose é maior que a da plaqueta, mas o volume de cada unidade é pequeno, então 
o volume final transfundido é baixo.  
 
Contraindicações: 
● deficiências  congênitas  de  fator  de  coagulação  quando  houver  disponível  o  composto 
industrial (fator individual)  
 
Indicações: 
● disfibrinogenemias  
● hipofibrinogenemias 
● CIVD  
● sangramento + fibrinogênio inferior a 80mg/dL 
 
Ato transfusional 
● É necessária a prescrição realizada por um médico.  
● A  solicitação  deve  estar  com  o  nome  completo  do  paciente,  ser  legível,  carimbada  e 
conter todos os dados solicitados na requisição. 
● Registrar no prontuário a conduta transfusional. 
● Termo  de  consentimento  assinado  pelo  paciente  (essa  prática  tem  se tornado cada vez 
mais comum). 
● A  ​infusão  de  hemocomponentes  deve  ser  realizada  numa  via  exclusiva​,  feita  apenas 
com  o  hemocomponente  em  si,  sem  misturar  com  alguma  medicação  ou  com  ringer 
lactato; no máximo pode ser mantida com soro fisiológico a 0,9%. 
● NÃO  AQUECER!!!!!!  (sem  microondas,  banho-maria,  infusão  em  paralelo  a  soro 
fisiológico 0,9% quente) 
 
Reações transfusionais 
Agudas: ocorrem nas primeiras 24h após a transfusão 
Tardias: ocorrem após 24h transcorridas do ato transfusional  
 
1) Reação Febril Não-Hemolítica: 
● Ocorre febre + calafrios sem hemólise das hemácias ou plaquetas transfundidas.  
● É a mais comum. A taxa de ocorrência é de 1 para 200 pacientes transfundidos.  
● Patogenia:  os  leucócitos  presentes  no  concentrado  de  hemácias  (não  se  consegue 
separar  hemácias  e  leucócitos  só  com  método  mecânico)  ou  de  plaquetas  (sobram 
resíduos  de  leucócitos)  geram  a  formação  de  anticorpos  antileucocitários  (anti-HLA 
presentes  nos  leucócitos),  o  que  gera  uma  resposta  imune  com  produção  de  citocinas, 
produzindo febre e calafrios.  
● Tratamento: antitérmicos 


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● Profilaxia:  uso  de  filtro  de  leucócitos  (pode  ser  feito  em  3  momentos:  no  momento  da 
doação  do  sangue,  na  bancada  do  laboratório  pré-transfusão  ou  na  beira  do  leito  no 
momento  da  transfusão  via  equipamento  especializado).  O  uso  desse  filtro  é 
recomendado  para  pacientes  que  serão  submetidos  a  muitas  transfusões  ou 
transfusões de grande volume.  
 
2) Reação Febril Hemolítica Imune 
● Ocorre  aglutinação  in  vivo  do  sangue  transfundido  mesmo  com  uma pré prova cruzada 
in vitro negativa para a aglutinação.  
● Ocorre devido a uma reação por incompatibilidade ABO ou por outros anticorpos.  
● Pode ser intravascular ou extravascular. 
● Taxa de ocorrência: 1 a cada 20.000 - 60.000 pacientes transfundidos. 
● Manifestações:  febre,  calafrios,  dor  no  acesso,  dor  lombar  e  abdominal,  icterícia,  CIVD, 
insuficiência renal, urina escura por hemoglobinúria.  
● Tratamento:  diuréticos,  hidratação  venosa  vigorosa  a  fim  de  manter  diurese  de  100 
ml/h, hemodiálise para retirar a hemoglobina da urina, suporte intensivo 
● Profilaxia:  atenção,  treinamento,  uso  de  equipamentos  de  informática,  chips  de 
identificação 
 
3) Reação Febril por Contaminação Bacteriana 
● Incidência desconhecida. 
● Causada  por  bactérias  contaminantes  do  hemocomponente  (flora  do  doador, 
manipulação errônea da bolsa). 
● Manifestações: febre, cianose, hipotensão arterial, choque.  
● Tratamento: antibioticoterapia, suporte  
● Profilaxia:  antissepsia  adequada  do  local  da  punção  e  manipulação  adequada  das 
bolsas. 
 
Obs:  paciente  que  apresenta  febre  pós-transfusão  pode  ser  qualquer  uma  das  3  reações 
descritas  acima  (por  leucócito,  por  hemólise  ou  por  bactéria);  como  há  chance  de  ser  uma 
reação  por  contaminação  bacteriana,  é  preciso  colher  exames  pós-transfusionais 
(hemograma,  bioquímica,...)  para  avaliar  se  é  uma  reação  imunológica  ou  leucocitária. Fazer 
também  hemocultura  da  bolsa  que  foi  transfundida  e  hemocultura  do  paciente  receptor  da 
transfusão.  
 
4) Injúria Pulmonar Aguda associada à Transfusão (TRALLI) 
● É  uma  insuficiência  respiratória  que  aparece  sem  outra  causa,  após  6h  do  início  da 
transfusão.  
● Incidência de 1 a cada 5.000 pacientes transfundidos.  

10 
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● É  causada  por  anticorpos  anti-HLA  leucocitário  presentes  no  plasma  do  doador,  que 
agem  contra  os  leucócitos  presentes  no  sangue  do  receptor,  gerando  uma  reação 
inflamatória  de  aumento  de  permeabilidade  capilar  pulmonar,  muito  parecida  na 
tomografia  com  SARA  (pulmão  fica  branco).  Pode  ainda  haver  complicações  como 
infecção  bacteriana  associada  secundária,  principalmente  quando  o  paciente  necessita 
de ventilação mecânica.  
● Geralmente  ocorre quando mulheres são doadoras, principalmente mulheres multíparas, 
porque  a  formação  desses  anticorpos  (autoanticorpos)  anti-HLA leucocitário ocorre nas 
gestações  (mesmo  que  não  venham  a  fazer mal para os fetos, podem fazer mal quando 
ocorre a doação e transfusão).  
● Tratamento: suporte ventilatório 
● Profilaxia:  identificar  o  doador  -  chamar  a  doadora  para  informar;  se  quiser  continuar 
doando,  não  deve-se  usar  o  plasma;  alguns  serviços  vão  orientar  para  o  doador/a 
doadora em questão não doar mais.   
 
5) Reações Alérgicas  
● São bem comuns e costumam ser leves e agudas.  
● Incidência de 1 a 2% dos pacientes transfundidos.  
● Ocorre  devido  a  uma  reação  entre  os  anticorpos  do  receptor,  que  atuam  contra 
proteínas presentes no sangue do doador.  
● Leve: pápulas, prurido 
● Moderada: grandes placas de urticária  
● Grave: broncoespasmo, anafilaxia, edema de glote  
● Tratamento:  conforme  a  gravidade  (anti-histamínicos,  corticoides,  broncodilatadores, 
adrenalina)  
● Profilaxia:  anti-histamínico  ou  corticoides  cerca  de  30min  antes  das  transfusões; 
lavagem  de  bolsa  em  casos  de  alergia  grave  (se  for  transfusão  de  hemácias  apenas, 
pode-se colocar soro fisiológico para retirar o máximo do plasma ali presente) 
 
6) Sobrecarga Volêmica 
● Em  pacientes  com  função  cardíaca  limítrofe,  pode-se  acabar  causando  um  edema 
pulmonar agudo (paciente fica encharcado).  
● Manifestação: edema agudo de pulmão cardiogênico.  
● Tratamento: diuréticos, suporte ventilatório 
● Profilaxia:  fracionar bolsas de hemácias em cardiopatas (aplicar em duas etapas); uso de 
diuréticos;  velocidade  de  infusão  controlada  (não  infundir  rápido  demais),  porém  a 
duração deve durar no máximo até 4 horas.  
 
Slides da aula prática: 
https://drive.google.com/file/d/140ENoLJktSnvDXCuG3jUg4ezt6Sqwa8k/view  

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Aula 03 (14/10): Métodos Diagnósticos em Hematologia (assíncrona - monitores) 


 
Exames de Medula Óssea: Aspirado e Biópsia 
Há  várias  doenças  que  podem  afetar a medula óssea e sua produção de células sanguíneas: 
leucemias, deficiência de ferro, deficiência de B12, anemia aplásica, etc.  
→  podem  alterar  a  produção  quantitativamente:  produzir  menos  que  o necessário, produzir 
mais que o necessário 
→ podem alterar a proporção das células produzidas 
→ podem alterar a função das células produzidas 
Além  disso,  essas  doenças  podem  ainda  acometer  uma  linhagem  apenas  (ex:  só  hemácias) 
ou mais de uma linhagem de células (ex: hemácias e leucócitos).  
Quando  ocorrer  suspeita  de  qualquer  uma  dessas  doenças  e  de  que  a  medula  óssea  esteja 
sendo acometida, a investigação deve ser realizada através do aspirado e/ou da biópsia.  
Obs: utiliza-se lidocaína em ambos os exames para anestesiar as estruturas (pele, músculo…) até o periósteo.  
 
Medula Óssea 
A  medula  óssea  é  um  tecido  líquido-gelatinoso  que  preenche  a  cavidade  interna  de  vários 
ossos  e  é  responsável  pela  produção  das  células  e  componentes  do  sangue.  Na  infância,  a 
maior  parte  de  medula  é  vermelha  (MOV),  ou  seja,  produtora  de  células  sanguíneas. 
Contudo,  com  o  passar  dos  anos,  esse  tecido  produtor  vai  sendo  substituído por gordura, a 
chamada  medula  óssea  amarela.  Nos  adultos,  somente  algumas  partes  de  alguns  ossos 
possuem  MOV:  epífises  dos  ossos  longos  e  ossos  chatos  (costelas,  corpos  de  vértebras, 
osso ilíaco, esterno e crânio). 
→ o osso ilíaco é o principal osso utilizado para realizar os exames 
→  a  medula  óssea  está  presente  na  porção  esponjosa  dos  ossos  (é  preciso  ultrapassar  a 
porção cortical para chegar lá).  

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Aspirado de MOV 
É um exame citológico, que avalia a função da medula óssea a partir das suas células.  
O  aspirado  de  medula  óssea,  por  analogia, é como se fosse um exame de sangue. Ao colher 
uma  amostra  de  sangue,  podemos  fazer  inúmeros  exames  (hemograma,  bioquímica, 
glicemia,...).  O  mesmo  acontece  com  o  aspirado:  a  amostra  de  células  da  medula  pode  ser 
submetida a diversos exames, dependendo do que se precisa: 
→ c​ ultura​: na suspeita de doenças infecciosas  
→ c​ itogenética 
→ i​ muno-histoquímica 
→ c​ itometria de fluxo  
→b
​ iologia molecular  
→  ​mielograma​:  é  como  se  fosse  um  esfregaço  de  sangue  periférico,  porém  realizado  com 
sangue  da  medula  óssea.  Retira-se  uma  amostra  de  sangue  da medula óssea do paciente e 
distende-o numa lâmina, submetendo esta ao microscópio. 

 
Assim,  ​o aspirado de medula é apenas a retirada de uma amostra que vai ser submetida a 
alguma pesquisa específica​ de acordo com cada caso.  
 
1. Mielograma 
Retira-se  uma  amostra  de  sangue  da  medula  óssea  do  paciente  (aspirado)  e  distende-o 
numa lâmina, submetendo esta ao microscópio. 

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O  mielograma  é  um  ​estudo  quantitativo  e  qualitativo  das  células  da  medula  óssea​,  que 
avalia o aspirado de medula óssea quanto a(o): 
→ número de células (​celularidade​) 
→d
​ iferenciação, maturação e distribuição ​das células precursoras 
→  pesquisa  de  ​indícios  de  malignidade  (quantidade  de  blastos;  >20%  de  blastos  faz 
diagnóstico de leucemia). 
→  pesquisa  de  ​células  estranhas  ao  tecido  (outras  neoplasias  além  da  leucemia,  agentes 
infecciosos). 
 
2. Imuno-histoquímica (IHQ) 
Metodologia  diagnóstica  de  ​identificação  de  antígenos  em  tecidos  biológicos  através  do 
princípio  da  ligação  específica  anticorpo-antígenos​.  Os  marcadores  utilizados  e  buscados 
dependem da suspeita clínica.  
É  realizada  em  ​tecidos  sólidos  (amostras  sólidas)  e  as  ​células  não  precisam  estar  vivas​. 
Pode-se realizar esse exame de duas formas: 
 
1) Metodologia Direta 
Anticorpo  conjugado  reage  diretamente com o antígeno presente na amostra, e essa ligação 
gera um sinal que será visto no exame.  
Utiliza apenas um anticorpo e é um procedimento mais simples e rápido. 
Sensibilidade: relativamente baixa (pequena amplificação de sinal). 
 
2) Metodologia Indireta 
Anticorpo  primário  não-marcado  com  substância  produtora  de  sinal  reage  com  o  antígeno 
do  tecido  presente  na  amostra  e  um  anticorpo  secundário  marcado  reage  com  o  anticorpo 
primário,. O sinal gerado, então, é fruto da ligação anticorpo secundário-anticorpo primário.   
Poucos  anticorpos  secundários  conjugados  são  gerados  e  necessários  para  o  exame,  o que 
é uma vantagem. 
Sensibilidade:  relativamente  alta.  Ocorre  elevada  amplificação  de  sinal  pela  ocorrência  de 
diversas  reações  de  anticorpos  secundários  com  diferentes  sítios  antigênicos  do  anticorpo 
primário. 
 
Indicações e Vantagens: 
→ identificação do tecido de origem de neoplasia morfologicamente indiferenciada 
→ diferenciação entre neoplasias malignas e benignas 
→ identificação de subtipos de neoplasias 
→ detecção de células neoplásicas metastáticas 
→ identificação de estruturas, organismos e materiais secretados pelas células 
  
 

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Desvantagens: 
→  imunorreatividade  cruzada  entre  as  células  dificulta  a  interpretação  da  positividade 
celular para alguns antígenos; 
→  dificuldade  de  utilização  de  mais  de  um  marcador  para  caracterizar uma mesma célula: é 
preciso  fazer  uma  lâmina  para  cada  marcador  que  se  deseje  pesquisar  (ex:  em  suspeita  de 
linfoma anaplásico: 1 lâmina para o marcador ALK, 1 para CD30 e 1 para EMA); 
→ elevado consumo de tempo na rotina laboratorial 
 
3. Citometria de Fluxo Multiparamétrica 
Técnica  que  visa  a  ​caracterização  fenotípica  célula  a  célula​,  de  maneira  individualizada, 
através da ​mensuração de parâmetros morfofuncionais​.  
Utiliza-se  também  de  marcadores  (como  na  IHQ),  porém  as  ​células  precisam  estar  vivas  ​e 
em suspensão​ (amostra líquida)​. 
Vantagens: 
→ rápida execução 
→ avaliação celular em materiais escassos 
→ quantificação de populações celulares 
→ análise de antígenos em células vivas 
→ alta sensibilidade 
→ baixo custo (aparelho é caro, mas a longo prazo o exame torna-se barato) 
 
Existe também a metodologia direta e a indireta.  
 
4. Citogenética 
É o campo da genética que estuda a p
​ arte macroscópica do DNA​. 
 
1) Cariotipagem 
É  a  ​análise  dos  cromossomos  quanto  ao  número  e  quanto  à  estrutura​.  Muito  usado  em 
pré-natal  na  suspeita  de  doenças  genéticas.  Na  hematologia  não  se  usa  tanto,  mas  dois 
exemplos de doenças que podem ser diagnosticadas por esse método são: 
→ l​ eucemia mieloide crônica (LMC)​: cromossomo 22 pequeno (​cromossomo philadelphia​) 
→ l​ infoma de burkitt​: translocação entre o 8 e o 12 
 
2) FISH (Hibridização In Situ por Imunofluorescência) 
Partículas  fluorescentes  que  se  ligam  a  determinadas  sequências  de  DNA,  sendo  possível 
identificar o gene de interesse ou microdeleçõe​s (que não se consegue ver na cariotipagem).  
É  indicado  quando  se  tem  um  fenótipo  clínico  sugestivo  de  alguma  anomalia  genética  que 
não  pode  ser  vista  no  cariótipo  ou  quando  se  tem  suspeita  de  doenças  hematológicas  de 
caráter  genético  ou  hereditário  que  não  podem  ser  diagnosticadas  apenas  com  o  exame 
macroscópico de cariótipo.  

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5. Biologia Molecular 
Análise  da  base  molecular  do  DNA​;  aqui  não  mais  se  analisa  os  cromossomos,  mas sim as 
sequências micro das​ bases nitrogenadas​ do DNA e outras estruturas microscópicas.  
O  ​PCR  (reação  em  cadeia  de  polimerase)  consiste  numa  ​amplificação  do gene de interesse​, 
sendo  possível  ​pesquisar  repetições  de  trincas,  rearranjos  ou  translocações  que  não  seriam 
identificadas  nos  exames  de  citogenética.  O  PCR  funciona  ainda  como  uma  ​etapa  prévia 
para  outros  exames​,  como  por  exemplo  o  sequenciamento de DNA, a fim de que amplifique 
os genes.  
Na hematologia, é usada para diagnóstico e prognóstico de leucemias e linfomas.  
 
Biópsia de MOV 
É  um  ​exame  histológico​,  que  avalia  a  ​função  da  medula  óssea  e  os  tecidos  que  a 
compõem, que a estruturam e que a circundam​.  
Exemplos de indicação:  
→  ​mielofibrose​:  quando  toda  a  medula  óssea  vermelha  do  corpo  é  substituída  por  medula 
óssea amarela e fibrose.  
→​ linfomas​: para realizar a estadiamento e saber de qual linfoma se trata. 
 
É  possível  ​realizar  apenas  a  biópsia  ou  realizar  o  aspirado  em  conjunto  com  a  biópsia​, 
quando os dois se complementam para dar o diagnóstico.  
 
BIÓPSIA E ASPIRADO: QUANDO SOLICITAR CADA 
https://www.fleury.com.br/medico/manuais-diagnosticos/hematologia-manual/biopsia-m
edula-ossea  
 
Eletroforese de Proteínas 
É  um  método  de  separação  de  proteínas  séricas.  As 
principais  proteínas  são  a  ​albumina  e  as  globulinas  (alfa1, 
alfa2, beta1, beta2 e gama)​.  
 
Descrição do exame 
1º: coletar amostra do soro do sangue 
2º: colocar o soro em um meio com gel de agarose 
3º:  usar  corrente  elétrica  para  separar  os  componentes 
proteicos (migram no gel de acordo com seu peso e carga) 
4º: analisar a migração das proteínas no gel  
 
 
 
 

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Interpretação dos resultados  

  

 
 
A principal indicação para realizar a eletroforese de proteínas na hematologia é o 
mieloma múltiplo, que se apresenta com um pico monoclonal na porção das 
gama-globulinas (hipergamaglobulinemia). Não é a única forma de apresentação; 
pode-se ter um pico monoclonal em fração beta, por exemplo; mas o pico monoclonal da 
fração gama é o mais comum. 
 
Indicações: 
Pacientes  que  tenham  sinais  e  sintomas  sugestivos  de  distúrbios  como  ​mieloma  múltiplo​, 
macroglobulinemia de Waldenström ou amiloidose primária: 
- anemia inexplicada, dor nas costas, dor nos ossos, fadiga; 
- fratura patológica inexplicável ou lesões líticas; 
- neuropatia periférica inexplicada; 
- hipercalcemia secundária a possível malignidade; 
- hipergamaglobulinemia; 
- formação de Rouleaux observada em esfregaço de sangue periférico; 

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- insuficiência renal com sedimento de urina suave 


- proteinúria inexplicada  
- proteinúria de Bence Jones 
- infecções recorrentes 
 
Eletroforese de Hemoglobina 
Teste  de  triagem  que  identifica  hemoglobinas  normais  e  anormais,  avaliando  a  sua 
quantidade. 
Os intervalos de referência são os seguintes (em %): 
HbA1: 95-98% HbC: ausente 
HbA2: 1,5-3,5% HbS: ausente 
HbF (fetal): < 2 (dependente da idade) 
 
Resultados 
1) Normal (HbA): hemoglobina predominantemente concentrada na faixa de Hb do adulto 
2) Hemoglobina S em heterozigose (HbAS): traço falciforme 
3) Hemoglobina S em homozigose (HbSS ou HbSF) 
4) Talassemia beta menor ou em heterozigose (HbA2 aumentada)  
5)  Talassemia  beta  maior  ou  em  homozigose  (HbAF  aumentada  -  hemoglobina  fetal  maior 
que 20%) 

Obs: faixa S = anemia falciforme  


 
Indicações: 
Identificar hemoglobinopatias: 
- avaliação da anemia hemolítica inexplicada; 
- anemia microcítica não relacionada à deficiência de ferro, doença crônica ou toxicidade por 
chumbo; 
- esfregaço periférico com características anormais dos eritrócitos (por exemplo: células alvo 
ou células falciformes); 
- história familiar positiva de hemoglobinopatia; 
- resultados da tela neonatal positiva; 
- resultados positivos no teste de células falciformes ou solubilidade 
 

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Aula 04 (14/10): Linfomas e LLC - Lavínia (assíncrona) 


https://drive.google.com/file/d/1819doUu3WYy0zccQkLyAZRj8QZ2bcak1/view  
“Ao final do estudo, você deverá saber a respeito de LLC e linfomas: 
O que são 
Diferença entre linfomas B, T e LLC 
Epidemiologia básica de LLC, linfomas indolentes, linfomas agressivos, linfoma de Hodgkin (idade e frequência) 
Compreender a etiologia e patogênese dos linfomas e da LLC 
Classificação de Ann Arbor – Cotswolds em linfomas 
Manifestações clínicas, diagnóstico e prognóstico 
Agentes infecciosos envolvidos na patogênese de linfomas 
(Não cobrarei tratamento)​” 
Sistema Linfoematopoiético 
É  um  sistema  interligado  que  compreende  todos  os  linfonodos,  vasos  linfáticos,  timo,  baço, 
fígado e medula óssea.  
A  medula  óssea  é  a  fábrica  das  células  sanguíneas,  estando  presente  nos  ossos  longos  e 
chatos de crianças e em adultos principalmente em ossos chatos (bacia, esterno e costelas).  
Todas  as  células  linfoides  são  derivadas  de  um  mesmo  progenitor  hematopoietico,  que  dá 
origem a linhagens linfoides, mieloides, eritroides, além de monócitos e megacariócitos.  
Por  meio  da  ativação  ordenada  e  sequencial  de  uma série de fatores de transcrição, a célula 
primeiro  torna-se  comprometida  com  a  linhagem linfóide e, só então, dá origem às células B 
e células T. 
A  célula  linfoide  começa  sua diferenciação em célula B quando inicia o rearranjo das cadeias 
de imunoglobulinas.  
A  célula  linfoide  começa  sua  diferenciação  em  célula  T  quando  realiza  a  migração  para  o 
timo e o rearranjo dos receptores de células T.  
 
Obs:  Embora  as  neoplasias  linfóides  muitas  vezes  possam  reter  o  fenótipo  de  superfície 
celular  de  células  linfóides  em  diferentes  estágios  de  diferenciação,  essas  informações  são 
de  pouca  relevância  e  assimilação.  O  chamado  estágio  de  diferenciação  de  um  linfoma 
maligno  não  prediz  sua  história  natural.  Por  exemplo, o linfoma clinicamente mais agressivo 
é  o  Linfoma/Leucemia  de  Burkitt,  que  tem  o  fenótipo  de  uma  célula  B  madura  do  centro 
folicular  com  IgM.  Leucemias  com  superfície  imunológica  celular  com  fenótipo  de  células 
mais  primitivas (por exemplo, pré-B ALL, CD10 +) são menos agressivos e mais passíveis de 
cura 
terapêutica do que a aparência "mais madura" das células da leucemia de Burkitt.  
Além  disso,  o  estágio  aparente  de  diferenciação  da  célula  maligna  não  reflete  o  estágio  em 
que as lesões genéticas deram origem à malignidade.  
 
Origem dos linfócitos​:  
Linfócitos T 
Possuem  origem  na  medula  óssea  e  sofrem  maturação no timo (primeiro ocupam o córtex e 
depois migram para a medula, onde se diferenciam em TCD4 e TCD8). 

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A  leucemia  aguda  de  linfócitos  T  ​são de linfócitos T imaturos (näive), antes de receberem a 


especificação de TCD4 ou TCD8. 
O ​linfoma​ é a doença clonal de linfócitos T já maduros (diferenciados em TCD4 e TCD8). 
 
Linfócitos B 
Os objetivos do desenvolvimento dos linfócitos B são: 
- produzir IgM 
-  diferenciação  em  plasmócitos  produtores  de  imunoglobulina  (IgM,  IgG,  IgA,  IgE)  após 
encontro com o antígeno 
Aproximadamente  75%  de  todas  as  leucemias  linfoides  e  90%  de  todos  os  linfomas 
possuem origem em células B.  
Possuem  origem  na  medula  óssea  (células  B  näive).  A  neoplasia  clonal  de  linfócitos  B 
imaturos (näive) é a ​leucemia aguda de linfócitos B​.  
Com  o  processo  de  maturação  iniciado  (ainda  na  medula  óssea),  esse  linfócito  B  se  dirige 
para  os  linfonodos,  onde  podem  ocupar:  centro  germinativo,  zona marginal, zona do manto. 
Uma  neoplasia  que  acomete  os  linfócitos  B  que  já  sofreram  maturação  é  um  ​linfoma  de 
células B​ (dependendo do local onde ocorreu essa maturação maligna).  
Neoplasia clonal de plasmócitos: são as g
​ amopatias​, que a principal é o ​mieloma múltiplo​.  
Neoplasia de células B de memória: l​ eucemia linfoide crônica (LLC)​ e tricoleucemia. 
 
Transformação Maligna, Linfomas e Classificação 
O  termo  ​linfoma  ​designa  um  conjunto  de  doenças  linfoproliferativas  malignas  que 
apresentam  significativa  heterogeneidade  clínica  e biológica. Todos os linfomas originam-se 
nas  células  do  sistema  linfoide:  os  linfócitos  e  seus  precursores.  Qualquer  uma  das 
subpopulações  de  linfócitos  (linfócitos  B,  T  ou  NK),  em  seus  diferentes  estágios  de 
maturação,  pode  sofrer  transformação  maligna.  Cada  subtipo  de  linfoma,  geralmente, 
mimetiza  um  estágio  específico  da  diferenciação  linfocitária,  em  termos  de  características 
morfológicas,  imunofenotípicas  e  genéticas,  sendo  essas  características  os  pilares  que 
sustentam  o  diagnóstico  e  a  classificação  dos  mais  de  cinquenta  diferentes  subtipos  de 
linfomas reconhecidos atualmente. 
O  termo  linfoma  compreende  tanto  os  linfomas  de  Hodgkin  quanto  os  linfomas  não 
Hodgkin.  
O  ​linfoma  de  Hodgkin  é  responsável  por  12%  dos  casos  de  linfoma,  sendo 
caracterizado  pela  presença  de  células  grandes  e  facilmente  identificáveis  no  linfonodo 
acometido,  conhecidas  com  ​células  de  Reed-Sternberg​.  Essas  células  –  as  únicas 
verdadeiramente  neoplásicas  no  linfoma  de  Hodgkin  –  são  geralmente  observadas  em 
número  reduzido,  em  meio  a  uma  mistura  de  células  inflamatórias  e  estromais  no  tecido 
tumoral. 
O  predomínio  de  um  microambiente  inflamatório  e a relativa escassez das células de 
Reed-Sternberg  fizeram  com  que,  durante  décadas,  pairassem  algumas  dúvidas  sobre  a 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

classificação  inequívoca  do  linfoma  de  Hodgkin  como  um  tipo  de  câncer,  ao  invés  de  uma 
doença  inflamatória  ou  infecciosa.  Apenas  na  década  passada  passou-se  a  preferir  a 
denominação  linfoma  (ao  invés  de  “doença”)  de  Hodgkin,  por  ter  sido  demonstrado  que  as 
células de Reed-Sternberg são clonais​, e ​quase sempre derivadas de linfócitos B maduros 
que sofreram transformação maligna​. 
Os  ​linfomas  não  Hodgkin​,  muito  mais  comuns,  também  são  predominantemente 
derivados  de  linfócitos  B,  sendo  que  apenas  cerca  de  10%  dos  casos  originam-se  de 
linfócitos  T  ou  NK.  Ao  contrário  do  linfoma  de  Hodgkin,  os  linfomas  não  Hodgkin  não  têm 
um  tipo  celular  característico,  apresentando  expressiva  heterogeneidade  morfológica, 
imunofenotípica  e  genética.  Outra  diferença  é  que  nos  linfomas  não  Hodgkin  há  um 
contingente  menos  significativo  de  células  inflamatórias  e  estromais  no  tecido  tumoral,  e  a 
grande  maioria  das  células  são  clonais​,  derivadas  de  um  precursor  linfoide  comum  que 
sofreu transformação neoplásica. 
Como os LNH são uma classe muito heterogênea, podemos ter: 
- linfomas indolentes X linfomas agressivos  
- linfomas de alto grau X linfomas de baixo grau 
-  linfomas  de  células  B,  linfomas  de  células  T,  linfomas  de  células  natural  killer/NK 
(são mais raros) e linfomas associados à imunodeficiência. 
 
Mecanismos genéticos, epigenéticos e moleculares relacionados ao desenvolvimento de 
malignidade: 
- instabilidade genômica 
- aumento da proliferação celular  
- resistência à apoptose  
- escape do sistema imunológico  
- mudanças no microambiente 
- parada de maturação 
 
Características Clínicas Suspeitas: 
As  características  clínicas  suspeitas  dizem  respeito  a  dados  da  anamnese e do exame físico 
que  precisamos  prestar  atenção  e  conduzir  de  forma  a  pesquisar  a  presença  ou  não  de  um 
linfoma como diagnóstico.  
É  importante  salientar  que  a  apresentação  clínica  tanto  do  LH  quanto  do  LNH  é  muito 
similar,  salvo  algumas  particularidades  de  subtipos  mais  agressivos  de  linfoma.  Assim,  não 
se  pode  fechar  diagnóstico  apenas  com  exame  físico  ou  exame  de  imagem,  precisando-se 
de  exames  mais  específicos,  como  biópsia,  estudos  moleculares  e  imunohistoquímica,  para 
determinar a celularidade daquela neoplasia.  
 
1. Linfonodo 
● pétreo 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

● aderido a planos profundos 


● indolor 
● linfonodos > 2cm (​versus linfonodos < 2cm geralmente são reacionais a infecções​) 
 
2. ​Sintomas B​ (linfomas Hodgkin e não-Hodgkin) 
● febre (pode ser intermitente, um pico febril por dia, em dias alternados) 
● suores noturnos 
● perda de peso não-intencional, superior a 10% do peso basal nos últimos 6 meses 
 
3. Visceromegalias 
● hepatomegalia 
● esplenomegalia 
 
Condução de linfonodomegalia com características de malignidade 
1. História Clínica 
2.  Biópsia  excisional/a  céu  aberto:  análise  histológica  e  imunofenotípica  (quando  é retirado 
líquido) 
3. Sorologias: HIV, hepatites virais, HTLV, EBV, HSV 
4. Hemograma Completo 
5. Hematoscopia (análise do sangue periférico) 
6. TC ou PET-TC de tórax, abdome e pelve: estadiamento inicial 
Obs:  PET-TC  não  é  disponível  no  SUS  e  os  planos  de  saúde  não  costumam  liberar  esse 
exame para estadiamento inicial, apesar de ser o ideal  
7. VHS: necessário para estadiamento (paciente inflamado) 
8. LDH: pode refletir a carga tumoral pelo turnover celular 
 
Avaliação de Pacientes com Linfoma de Hodgkin 
Normalmente inclui:  
● hemograma completo 
● velocidade de hemossedimentação (VHS) 
● estudos de bioquímica refletindo a funcionalidade de órgãos vitais, como o fígado; 
● tomografia computadorizada do tórax, abdômen e pelve 
● biópsia da medula óssea.  
Na  maioria  dos  casos,  esses  estudos  permitirão  a  atribuição  de  um  estágio  anatômico  e  o 
desenvolvimento de um plano terapêutico. 
 
Obs:  PET-TC/PET-Scan  (tomografia  por  emissão  de  pósitrons)  não  é  absolutamente 
necessário  como  um  teste  primário,  servindo  mais  no  momento  de  conclusão  da  terapia, 
visto  que  permite  realizar  a  avaliação  de  anormalidades  radiográficas  persistentes, 
particularmente do mediastino.  

22 
Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
Avaliação de Pacientes com Linfoma Não-Hodgkin 
Normalmente inclui:  
● hemograma completo 
● velocidade de hemossedimentação (VHS) 
● estudos de bioquímica refletindo a funcionalidade de órgãos vitais, como o fígado; 
● tomografia computadorizada do tórax, abdômen e pelve 
● biópsia da medula óssea 
● níveis séricos de LDH 
● níveis séricos de beta-2-microglobulina 
● eletroforese de proteínas séricas 
● sorologias: HIV, EBV, HTLV-1, HHV, hepatites  
● endoscopia digestiva alta com biópsia para pesquisa de ​H. pylori​ (para linfoma MALT) 
 
Estadiamento de Ann Arbor 
A  avaliação inicial de pacientes com LH ou LNH é feita de forma similar, e o estadiamento de 
ambos  os  grupos  de  linfoma  são  feitos  a  partir  do  Estadiamento  de  Ann  Arbor,  criado 
inicialmente  para  Linfoma  de  Hodgkin,  porém  atualmente  utilizado  também  para  Linfoma 
Não-Hodgkin. 

 
 
Estágio  I​:  apenas  uma  cadeia  linfonodal  afetada,  independente  do  número  de  linfonodos 
acometidos  
Estágio II​: duas ou mais cadeias linfonodais afetadas, supradiafragmáticas 
Estágio III​: duas ou mais cadeias linfonodais afetadas, supra e infradiafragmáticas  
Estágio  IV​:  diversas  cadeias  linfonodais  acometidas  +  acometimento  extranodal  (ossos, 
vísceras, pele) 
Em conjunto ao estágio, pode-se acrescentar: 
S​: se baço acometido 
E​: se doença extranodal 
B​: se houver sintomas B  
Bulky 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
Exemplos​:  

 
 

Observação:  
Os  ​Linfomas  de  Hodgkin  se  espalham  de  forma  ordenada  de  um  grupo  de  linfonodos 
para outro grupo (disseminação linfonodo a linfonodo, por contiguidade). 
Os  ​Linfomas  não-Hodgkin  se  espalham  de  maneira  não  ordenada,  e podem começar em 
qualquer lugar do corpo. 

 
 
Estadiamento de CotsWolds (Ann Arbor modificado):  

 
 
Linfoma de Hodgkin 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

Responsável por 1% das neoplasias em jovens e por 18% de todos os linfomas.  


O  Linfoma  de  Hodgkin  é  caracterizado  pela  presença  de  ​células  de  Reed-Sternberg​,  que 
são  células  gigantes,  multinucleadas,  com  núcleo  bilobulado  (aspecto  em  “olho  de  coruja”), 
mergulhadas em um infiltrado inflamatório característico. 
Até  hoje  não  se  sabe  qual  tipo  celular  é  acometido;  acredita-se  que  são  células  que  seriam 
encaminhadas para a apoptose.  
As  evidências  sugerem  que  o  LH  tenha  origem  em  células  B,  mas  ainda  não  se  sabe  ao 
certo. 
O Linfoma de Hodgkin divide-se em:  
● LH  com  Predominância  Linfocitária  Nodular  ​(apresenta  marcadores  diferentes  em 
relação  ao  LH  clássico,  tendo  apresentação  diferente  e  requerendo  um  tratamento 
diferente) 
● LH clássico 
Este, por sua vez, subdivide-se em:  
➢ Esclerose Nodular 
➢ Rico em Linfócitos 
➢ Celularidade Mista 
➢ Depleção Linfocitária 
 
Possui uma ​distribuição bimodal​: faixa dos 20 e dos 80 anos 
➢ Pacientes  de  idades  mais  novas  nos  EUA  são  acometidos  mais  comumente  pelo 
subtipo Esclerose Nodular 
➢ Pacientes  mais  velhos,  pacientes  infectados  com  HIV  e  pacientes  de  países  de  3º 
mundo  apresentam  mais  comumente  os  subtipos  Celularidade  Mista  ou  Depleção 
Linfocitária.  
 
Apresentação​: linfonodomegalias grandes, principalmente cervical e mediastinal. 
Imuno-histoquímica​: ​CD15+, CD30+​ (em geral) 
Prognóstico​: de 42 a 84% de sobrevida livre de doença em 5 anos 
Infecção pelo HIV​ é um fator de risco para o desenvolvimento de LH. 
Apesar  de  ainda  não  estar  bem  definido,  sugere-se  que  a  infecção  pelo  EBV  possa 
predispor ao desenvolvimento de LH. 
Tratamento​: quimioterapia, acrescida ou não de radioterapia (depende do estadiamento). 
 
Linfoma de Hodgkin Clássico 
O  Linfoma  de  Hodgkin é um tumor caracterizado pela presença de células neoplásicas raras, 
de  origem  em  células B (genes de imunoglobulina são reorganizados, mas não expressados) 
em  uma  massa  tumoral  que  é  amplamente  policlonal  e  com  expressivo  infiltrado 
inflamatório,  provavelmente  produzido  em  reação  às  citocinas  produzidas  pelas  células 
tumorais. 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

● A  maioria  dos  pacientes  apresenta-se  com ​linfadenopatia palpável​, principalmente em: 


pescoço, área supraclavicular e axila.  
● Mais  da  metade  dos  pacientes  pode  apresentar  adenopatia  mediastinal  no  momento 
do diagnóstico, sendo inclusive esta a apresentação inicial em muitos casos.  
● 1/3  dos  pacientes  possui  ​sintomas  B​:  febre,  suores  noturnos  e  perda  de  peso  não 
intencional maior que 10% nos últimos 6 meses. 
● Ocasionalmente,  o  LH  pode  se  apresentar  como  ​Febre  de  Origem  Obscura  (FOO)​, 
sendo  mais  comum  em  pacientes  mais  idosos  com  LH  tipo  Celularidade  Mista  em  sítio 
abdominal.  
● Raramente,  a  febre  persiste  por  dias/semanas,  sendo  seguida  por  um  intervalo  afebril, 
com,  então,  subsequente  recorrência  da  febre.  Esse  padrão  configura  a  ​Febre  de 
Pel-Ebstein​.  
● Ocasionalmente podem haver manifestações não usuais do LH: 
➢ acometimento cutâneo (prurido, eritema e atrofia) 
➢ degeneração cerebelar paraneoplásica  
➢ síndrome nefrótica 
➢ anemia hemolítica imune  
➢ trombocitopenia 
➢ hipercalcemia 
● O diagnóstico é dado por biópsia.  
● Avaliação dos pacientes com diagnóstico de LH:  
➢ hemograma completo 
➢ velocidade de hemossedimentação (VHS) 
➢ estudos bioquímicos (LDH) 
➢ raio X de tórax 
➢ escaneamento por TC de tórax, abdome e pelve 
➢ biópsia de medula óssea 
➢ PET-scan: é mais utilizado para documentar a remissão do linfoma 
● LH  tipo  Celularidade  Mista  e  LH  tipo  Depleção  Linfocitária:  mais  prevalentes  em 
pacientes HIV+ 
● Diagnósticos  diferenciais:  processos  inflamatórios,  mononucleose  e  síndromes 
mono-like, LNH 
 
Linfoma de Hodgkin com Predominância Linfocitária Nodular 
● Há ​predominância de pequenos linfócitos​, e as c​élulas de Reed-Sternberg são raras​.  
● Representa menos de 5% dos casos totais de LH.  
● Tende a ter um curso crônico e relapso 
● Pode  sofrer  transformação  para  Linfoma  Não-Hodgkin  Difuso  de  Grandes  Células  B 
(porém não se usa a terminologia de Transformação de Richter) 
● Tratamento: é controverso.  

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
 
Linfoma Não-Hodgkin (LNH) 
São linfomas mais comum em pessoas mais velhas e no sexo masculino. 
É um grupo de linfomas que podem ser: 
● De células B ou de células T 
● De alto grau ou de baixo grau  
● Associados  a  agentes  infecciosos  (por  isso  é  importante,  na  avaliação  inicial,  pedir  as 
sorologias): 
➢ HIV​: ​predisposição ao L
​ infoma Não-Hodgkin Agressivo de Células B 
➢ HTLV-1​:  muito  prevalente  no  Brasil, na Ásia e no Caribe. O vírus HTLV (existem dois 
subtipos,  mas  aqui  estamos  tratando  do  HTLV-1)  possui  a  mesma  forma  de 
transmissão  que  o  HIV  (transmissão  vertical,  via  sexual,  materiais  perfurocortantes, 
acidentes  com  material  biológico,  transfusão  sanguínea)  e  pode  gerar  duas 
consequências danosas ao indivíduo infectado:  
○ LNH  de  linfócitos  T  -  Linfoma  Leucemia  de  Células  T  do  Adulto  (ATLL)​: 
período  de  latência  longo,  o  linfoma  aparece  muitos  anos  após  a  infecção  pelo 
vírus 
○ Paraparesia  Espástica  Tropical/Mielopatia  Associada  ao  HTLV-1​:  distúrbio 
neurológico  que  ocorre  mais  frequentemente  e  possui  um  período  de  latência 
menor  quando  comparado  ao  linfoma.  É  uma  doença  viral  imunomediada, 
lentamente progressiva e incapacitante da medula espinhal. 
➢ EBV​: pode estar associado ao desenvolvimento de: 
○ LNH subtipo B
​ urkitt 
○ Linfomas  Não-Hodgkin  Agressivos  em  pacientes  imunocomprometidos,  como  o 
Linfoma  de  Células T/NK, tipo nasal (LNKTN)​, um dos linfomas mais agressivos 
que existem. 
➢ HHV8​: O herpesvírus humano 8 está associado ao desenvolvimento de: 
○ Linfoma  Primário  de  Efusão/Linfoma  Primário  de  Cavidades  em  pessoas 
infectadas  com  HIV:  é  um  tipo  raro  de  linfoma  não  Hodgkin  de  linfócitos  B 
maduros  com  morfologia  de  células  grandes  e  que  se  manifesta  com  derrame 
cavitário, geralmente em uma cavidade serosa. 
○ Doença  de  Castleman  multicêntrica:  linfadenopatia  difusa  associado  a  sintomas 
sistêmicos de febre, mal-estar e perda de peso. 
➢ H.  pylori​:  induz  o  desenvolvimento  de  Linfoma  MALT  Gástrico​.  Há  evidências  de 
pacientes  tratados  com  antibioticoterapia  para  erradicação  da  bactéria  que 
apresentaram  regressão  do  linfoma  MALT.  O  desenvolvimento  do  Linfoma  MALT 
ocorre  devido  a  uma resposta imune vigorosa em resposta à presença da bactéria na 
mucosa  gástrica,  e o estímulo antigênico crônico acaba por levar ao desenvolvimento 
da neoplasia. 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

Obs: Linfomas MALT de pele podem ser relacionados com a infecção por Borrelia sp.  
Linfomas  MALT  de  intestino  delgado  podem  ser  relacionados  com  infecção  por 
Campylobacter jejuni.  
 
Pacientes  com  ​imunodeficiência​,  seja  ela  primária  (geneticamente  determinadas)  ou 
secundária (adquiridas), são mais predispostos a desenvolverem LNH.  
➢ primárias:  imunodeficiências  genéticas  herdadas,  Síndrome  de  Sjögren,  Artrite 
Reumatoide  
➢ secundárias: HIV+, transplantados 

 
 
Linfomas Não-Hodgkin de células B:  
1. Linfoma Difuso de Grandes Células B 
● Corresponde a 31% de todos os LNF, sendo o LNH mais comum. 
● Acomete  linfócitos  B,  marcador  ​CD20+  (importante  porque  pode  ser  usado  no 
tratamento o ​rituximab​, que melhorou muito a sobrevida de pacientes com esse câncer)  
● É  de  alto  grau,  extremamente  agressivo,  requerendo  tratamento  assim  que 
diagnosticado. 
● Possui 3 subtipos principais, de prognósticos diferentes: 
➢ Centro Germinativo 
➢ Células B Ativadas 
➢ Primário de Mediastino  
● Estudos  citogenéticos  e  de  genética  molecular  não  são  necessários  para  realizar  o 
diagnóstico.  
● Esse  linfoma  pode  se  apresentar  como  uma  doença  primária  do  linfonodo  ou  em  sítios 
extranodais.  
➢ Mais  de  50% dos pacientes terão algum sítio extranodal acometido no momento do 
diagnóstico, sendo os sítios mais comuns o trato gastrointestinal e a medula óssea. 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

➢ Como  qualquer  órgão  do  corpo  pode  ser  acometido,  é  indispensável  realizar  uma 
biópsia diagnóstica.  
➢ Exemplos:  linfoma  difuso  de  grandes  células  B  pancreático,  linfoma  difuso  de 
grandes  células  B  cerebral,  linfoma  de  efusão  pleural.  Essas  diferentes 
apresentações possuem diferentes prognósticos.  
● Mais  de  50%  dos  pacientes  vão  se apresentar no momento do diagnóstico com linfoma 
disseminado  (a  biópsia  de  medula  óssea  demonstra  esse  envolvimento  da  medula, 
caracterizando um linfoma).   
● Sobrevida global de 10-65% em 5 anos 
● Tratamento:  quimioterapia  acrescida  ou não de radioterapia (mas geralmente não se faz 
a radioterapia) 
 
Obs:  o  linfoma  difuso  de  grandes  células  B  acomete  linfócitos  B  que  estão  constantemente 
em  divisão  celular;  assim,  a  quimioterapia  consegue  ser  curativa  e  o  paciente  tem  chances 
de se curar totalmente da neoplasia.  
 
2. Linfoma Folicular 
● Corresponde a 22% dos LNH 
● Linfócitos  B  ​CD20+:  ​o  linfoma  folicular  é  composto  por  células  pequenas  clivadas  e 
células  grandes  em  proporções  variadas,  organizadas  num  padrão  de  crescimento 
folicular.  A  confirmação  do  imunofenótipo  da  célula  B  (CD20+)  e  a  existência  de 
expressão anormal da proteína BCL-2 confirma o diagnóstico.  
● É preciso considerar coexistência com Linfoma Difuso de Grandes Células B​*.​   
● É de baixo grau, não requerendo tratamento urgente. 
● O principal diagnóstico diferencial é a hiperplasia folicular reativa. 
● Geralmente  os  pacientes  são  assintomáticos,  apesar  de  disseminado  (isso  é  perigoso 
porque  acaba  diagnosticando  muito  tardiamente).  Geralmente  o  paciente  só  começa  a 
ser  sintomático  quando  a  linfonodomegalia  começa  a  comprimir  grandes  vasos  e 
vísceras, que é quando se é indicado o tratamento. 
● Quando  sintomáticos,  a  apresentação  mais  comum  é  linfadenopatia  nova  e  indolor.  É 
típico  ocorrer  envolvimento  linfoide  em  múltiplos  sítios  distintos.  Qualquer  órgão  pode 
ser acometido pelo Linfoma Folicular, e acometimento extranodal pode ocorrer.  
● A  maioria  dos  pacientes  não  apresenta  sintomas  B  associados  à  linfadenopatia  (febre, 
suor e perda ponderal). 
● *Síndrome  de  Richter​:  transformação  do  linfoma  folicular  de  baixo  grau  num  linfoma 
agressivo (linfoma difuso de grandes células).  
● Tratamento:  
➢ Pacientes  assintomáticos:  watch&wait  (WW).  Como  25%  dos  pacientes  com 
Linfoma  Folicular  apresentam  regressão  espontânea  do  tumor,  sem  qualquer  tipo 
de  terapêutica,  a  conduta  de  WW  é  a  escolha  para  pacientes  assintomáticos,  e 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

inclusive  é  a  conduta  de  escolha  também  para  pacientes  mais velhos com estágios 


avançados  da  doença,  em  que  um  tratamento  agressivo  com  quimio  e  radio  não 
possui muito benefício em uma idade de fim de vida.  
➢ Pacientes sintomáticos: tratamento com quimioterapia e radioterapia. 
 
Obs:  o  linfoma  folicular  acomete  células  B  mais  quiescentes  (sofrem  divisão  celular,  ficam 
quiescentes,  muito  tempo  depois  fazem  outra  divisão,  adotam  comportamento  quiescente 
novamente),  diferentemente  do  Linfoma  Difuso  de  Grandes  Células  B.  Assim,  a  quimioterapia,  que 
age  justamente  na  divisão  celular  desenfreada,  não  consegue  ser  curativa,  apenas  faz  um  ganho  de 
sobrevida  ao  paciente.  O  linfoma  folicular  acaba  sendo  uma doença crônica, que o paciente terá para 
sempre  (o  lado  bom  é  que  nem  sempre  precisará de tratamento; se permanecer assintomático a vida 
inteira, não precisa de quimioterapia).  
 
3. Linfoma de Burkitt (LLA tipo L3) 
Obs: L
​ LA = leucemia linfoide agud​a 
 
● É o linfoma mais agressivo que existe.  
● Acomete linfócitos B C
​ D20+ 
● É  de  alto  grau,  podendo  todas  as  células  estarem  em  divisão: 
Ki-67  em  até 100% (O biomarcador Ki-67 é produzido durante a 
fase  ativa  da  proliferação  celular,  ou  seja,  sua  presença  indica  que  a  célula  está  em 
crescimento e divisão celular ativa). 
● 3 formas principais de apresentação: 
➢ endêmico: associado ao EBV 
➢ esporádico 
➢ associado ao HIV/associado à imunodeficiência 
● Pode  ser  confundido,  ao  exame  histopatológico,  com  Linfoma  Difuso  de  Grandes 
Células B. 
● Apresentação comum: linfadenopatia periférica ou massa intraabdominal.  
● Como  geralmente  acometem  a  região  cervical,  rapidamente  podem  comprimir  a 
traqueia, necessitando de tratamento urgente assim que diagnosticados. 
● É  o  tumor  humano  mais  rapidamente  progressivo,  com  alta  propensão  a  dar 
metástase  para  o  SNC.  Por  isso,  a  avaliação inicial desse linfoma deve sempre incluir 
a análise do líquor para excluir metástase.  
● Qualquer  atraso  no  diagnóstico  e  na  instituição  de  terapia  pode  afetar  muito  o 
prognóstico do paciente. 
● Tratamento: quimioterapia agressiva, sendo muito responsivos ao tratamento. 
● Taxa  de  cura  (maior  quanto  mais  precoce  o  tratamento  for  instituído):  60-90%  dos 
casos tratados 
 
O linfoma de Burkitt é muito agressivo, mas se o tratamento for instituído a tempo, é muito curável.  

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
4. Linfoma de Células do Manto 
● Acomete mais homens: 4H:1M 
● Principalmente indivíduos na 7ª década de vida  
● Geralmente  muito  agressivo  (apesar  de  poder  ter  apresentações  indolente): 
aproximadamente  70%  dos  pacientes  estarão  no  estágio  4  da  doença  no  momento  do 
diagnóstico, com acometimento frequente da medula óssea e do sangue periférico.  
● A  apresentação  mais  comum  é  linfadenopatia  palpável  acompanhada  de  sintomas 
sistêmicos 
● O  órgão  extranodal  mais  acometido  é  o  trato  gastrointestinal.  Pacientes  com  polipose 
linfomatosa no intestino grosso geralmente possuem Linfoma de Células do Manto.  
● De  difícil  tratamento,  independente  de  ser  agressivo  ou  indolente:  sobrevida  de  5-7 
anos 
● As  células  B  neoplásicas  regularmente  expressam  de  forma  exarcebada  a  proteína 
BCL-1 
● Tratamento:  quimioterapia  seguida  de  transplante  autólogo  de  medula  óssea  (as 
células-tronco  do  próprio  paciente  são  removidas  de  sua  medula  óssea  ou  sangue 
periférico antes do transplante, sendo armazenadas até o momento do transplante). 
 
5. Linfoma de Zona Marginal 
Possuem sobrevida grande: sobrevida em 5 anos > 90% 
Apresentações possíveis: 
A) Linfoma Nodal de Zona Marginal​: linfoma confinado ao linfonodo  
 
B) Linfoma  Extranodal  de  Zona  Marginal  Tipo  MALT​:  linfoma  que  acomete  as 
mucosas.  Um exemplo é o linfoma associado à infecção pela H.pylori, que é o linfoma 
extranodal mais comum. 
➢ O  diagnóstico  pode  ser  feito  a  partir  do  padrão característico de infiltração dos 
linfócitos pequenos, que são células B monoclonais CD5 negativas. 
➢ Algumas  vezes  pode  ocorrer  transformação  para  Linfoma  Difuso  de  Grandes 
Células B. 
➢ Sítios  possíveis:  estômago  (mais  comum),  órbitas,  intestino,  pulmões,  tireoide, 
glândulas salivares, pele, tecidos moles, bexiga, rins e SNC.  
➢ Pode  se  apresentar  como  uma  massa  nos  exames  de  imagem  e  ser  associado 
com sintomas locais (ex: desconforto epigástrico).  
 
Obs: o linfoma MALT gástrico pode ser curado através de antibioticoterapia + IBP, 
podendo nem precisar de quimioterapia ou radioterapia, dependendo do 
estadiamento 
 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

C) Linfoma Extranodal de Zona Marginal Esplênico​: geralmente são indolentes. 


 
 
Linfomas Não-Hodgkin de células T: 
● São  bem  menos  prevalentes  que  os  linfomas  não-Hodgkin  de  células  B, 
correspondendo a 15% de todos os LNH.  
● Costumam ser muito agressivos. 
● Podem ter origem em células T imaturas (blastos) ou células T maduras.  
● Subtipos: 
➢ cutâneos 
➢ periféricos 
 
Aqui, vamos tratar das desordens de células T maduras periféricas:  
 
1. Linfoma Leucemia de Células T do Adulto (ATLL) 
● Geralmente apresenta-se como um linfoma cutâneo 
● Acomete células T
​ CD4 
● Corresponde a 9,6% dos LNH T 
● Epidemiologia: Brasil, Japão, Caribe, América do Sul 
● É  uma  manifestação  da  ​infecção  pelo retrovírus HTLV-1​. Esse vírus pode gerar o ATLL 
ou a paraparesia espástica tropical.  
● Pacientes  podem  ser  infectados  pelo  HTLV-1  através  de:  transmissão transplacentária, 
leite materno, transfusão sanguínea, via sexual e através de objetos perfurocortantes.  
➢ pacientes  infectados  através  do  aleitamento  materno possuem maiores chances de 
desenvolver o linfoma. 
➢ pacientes  infectados  durante  a  idade  adulta,  por  via  sexual  ou  transfusional 
possuem  maiores  chances  de  desenvolver  a  paraparesia  tropical  espástica  (possui 
tempo de latência menor para desenvolver).   
Obs:  não  existe  um  screening  de  sorologia  para  HTLV-1  na  gestação  e  nos  bancos 
de  sangue,  o  que,  se  fosse  imposto,  reduziria  em  muito  a  transmissão  e  a 
apresentação maléfica que esse vírus pode ter.  
 
● Possui 4 subtipos de apresentação inicial: 
➢ Linfomatoso (5%): mortalidade elevada 
➢ Agudo (6%): mortalidade elevada 
➢ Crônico (27%) 
➢ Latente (63%) 
 
● Um  subconjunto  de  pacientes  tem  uma  clínica  latente  curso  e  sobrevida  longa,  mas  a 
maioria dos pacientes apresenta-se com uma d
​ oença agressiva​, manifestada por: 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

➢ linfadenopatia 
➢ hepatoesplenomegalia 
➢ infiltração cutânea 
➢ infiltrados  pulmonares:  devido  ao  tumor  em  si  ou  devido  a  infecções  oportunistas 
decorrentes da imunodepressão gerada pela neoplasia 
➢ hipercalcemia 
➢ lesões ósseas líticas 
➢ níveis elevados de LDH 
● As lesões cutâneas podem ser pápulas, placas, tumores e ulcerações. 
● Não  é  comum  ter  envolvimento  de  medula  óssea,  sendo, então, incomum haver anemia 
e trombocitopenia.  
● O  exame  do  sangue  periférico  demonstrando  células  TCD4  anormais,  pleomórficas 
(“células  em  flor”),  em  associação  com  sorologia  positiva  para  o  HTLV-1,  fecha  o 
diagnóstico.  
● Apesar  de  ser  responsivo  à  quimioterapia,  a  remissão  completa  é  incomum,  tendo 
média de sobrevivência de 7 meses.  
● Tratamento: antirretroviral + INF (interferon) o
​ u​ quimioterapia 
 
2. Micose Fungoide ou Linfoma Cutâneo de Células T (LCCT) 
● Acomete linfócitos TCD4 
● Células com núcleo cerebriforme  
● Acomete mais a faixa etária dos 50 anos, sendo mais comum em homens e em negros. 
● Apresentação: placas e nódulos cutâneos. 
● É  um  linfoma  ​indolente​:  geralmente  o  paciente  possui  história  de  muitos  anos  de 
eczema e lesões dermatológicas antes do diagnóstico ser corretamente estabelecido.  
● Nos  estágios  iniciais,  a  biópsia  pode  ser  difícil de interpretar, só sendo possível fechar o 
diagnóstico após observar e acompanhar o paciente com o tempo.  
● Em  estágios  avançados,  a  micose  fungoide  pode  se  espalhar  para  linfonodos  e  órgãos 
viscerais.  
● Pacientes com micose fungoide podem desenvolver: 
➢ eritroderma generalizado (eritrodermia esfoliativa) 
➢ Síndrome  de  Sézary​:  é  a  leucemização  da  micose  fungóide,  com  a  circulação  de 
células tumorais (linfócitos) no sangue apresentando aspecto cerebriforme. 
● O tratamento é paliativo. 
 
3. Linfoma Anaplásico de Grandes Células T ALK + 
● Compreende <5% dos LNH de células T (pouco prevalente) 
● Acomete mais jovens (aproximadamente na faixa dos 30 anos) e homens (70%).  
● Metade dos pacientes podem apresentar sintomas sistêmicos e níveis elevados de LDH. 
● Apresentação extranodal e sistêmica comum (ex: coluna, ossos, músculos)  

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● Raramente ocorre acometimento gastrointestinal ou da medula óssea. 


● Frequentemente há e
​ nvolvimento cutâneo. 
● Sobrevida global em 5 anos = 79% 
● As células neoplásicas são células T​ CD30+  
● Frequentemente  ocorre  superexpressão de ALK (proteína cinase de linfoma anaplásico), 
ou seja, são linfomas ​ALK+ 
➢ o marcador histoquímico ALK, quando positivo, confere bom prognóstico 
➢ a minoria dos casos é ALK- 
● Apesar de anaplásico, é o linfoma agressivo com maior taxa de sobrevivência (>75% em 
5 anos) após o tratamento. 
● Tratamento: quimioterapia. 
 
Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) 
Observação: O linfoma linfocítico de pequenas células (LLPC) é considerado uma variante tumoral da 
leucemia linfocítica crônica e, por conseguinte, a mesma doença. 
 
Apresentação 
A LLC é uma neoplasia de c​ élulas B​. Pode-se apresentar como linfoma ou como leucemia: 
● Quando  é  estritamente  nodal,  acometendo  apenas  o  linfonodo,  apresenta-se  como 
LINFOMA  NÃO  HODGKIN.  ​Quando  se  apresenta  como  linfoma  (acometimento 
estritamente linfonodal), é responsável por cerca de 7% de todos os LNH. 
● Quando  há  linfonodos  acometidos  e  células  clonais  circulantes  na  corrente  sanguínea, 
apresenta-se como ​LEUCEMIA.​ A
​ LLC é o tipo mais comum de leucemia linfoide. 
 
Epidemiologia 
Acomete mais idosos, e é muito raro ocorrer em crianças.  
É o tipo de leucemia mais frequente nos países ocidentais. 
 
Quando Suspeitar 
Geralmente,  a  LLC  constitui um achado incidental quando o paciente realiza um hemograma 
completo  por  alguma  outra  razão.  Contudo,  pode-se  realizar um escaneamento para buscar 
uma possível LLC a partir de algumas apresentações clínicas e laboratoriais: 
● fadiga, infecções frequentes e linfadenopatia nova 
● anemia hemolítica autoimune 
● trombocitopenia autoimune  
● aplasia de hemácias  
 
Características diagnósticas: 

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● Linfócitos  >  5.000/mm3  sustentadamente  (mais  de  3-6  meses).  Se  o  paciente 
apresentar  essa  linfocitose  sustentada,  na  ausência  de  infecções  e  viroses,  ​pesquisar 
LLC​.  
● Células  B  monoclonais  expressando  antígeno  ​CD5​:  importante  para  diagnóstico,  visto 
que apenas a LLC e o Linfoma de Células do Manto são CD5+ 
● Caráter indolente:  
Quando  se  apresenta  como  linfoma,  a  anormalidade  mais  comum  é  a  linfadenopatia 
assintomática, acrescida ou não de esplenomegalia. 
 
Manifestações:  
● esplenomegalia 
● anemia 
● trombocitopenia  
● linfonodomegalia múltipla e disseminada 
● linfocitose 
 
Métodos Diagnósticos:  
● imunofenotipagem 
● imuno-histoquímica  
 
O que pesquisar num paciente com diagnóstico de LLC 
Os  pacientes  com  LLC  de  células  B  típicas  podem  ter  o  curso  da  doença  complicado  por 
anormalidades imunológicas, como: 
➢ anemia hemolítica autoimune 
➢ trombocitopenia autoimune 
➢ hipogamaglobulinemia  
 
Forma  linfomatosa  (restrita  ao  linfonodo,  sem  células  neoplásicas circulantes): ​Linfoma Não 
Hodgkin Linfocítico de Pequenas Células. 
A  forma  linfomatosa,  estritamente  nodal,  é  o  LNH  Linfocítico  de  Pequenas  Células,  no  qual 
ainda não ocorre a linfocitose, porque as células neoplásicas não estão circulantes. 
Quando  a  neoplasia  sai  do  linfonodo  e  ocorre  a  circulação  de  células  neoplásicas  com 
linfocitose, caracteriza-se a LLC.  
 
Transformação para linfoma agressivo: ​Transformação/Síndrome de Richter  
A  transformação  de  Richter  é  a  transformação  da  LLC  em  um  linfoma  agressivo,  como 
um linfoma difuso de grandes células B.  
 
Critérios para instituir o tratamento: 

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A  LLC  é  uma doença de idosos e, por ser indolente, não são todos os casos que precisam de 
tratamento. 
Deve-se tratar quando ocorre: 
● aumento celular rápido 
● anemia 
● trombocitopenia 
● compressão de estruturas 
 
Tratamento:  
Quimioterapia ou imunoterapia, dependendo do caso. 
 
Obs: Leucemia Linfocítica Aguda (LLA) 
Pode  ser  subdividida  em  3  subtipos: L1, L2 e L3, sendo o L3 o Linfoma de Burkitt (neoplasia 
de células B maduras). 

 
Em  contraste  à  LLC,  a  LLA  acomete  mais  crianças  e  jovens,  com  um  segundo  pico  (menor) 
de prevalência na faixa etária dos idosos.  
A  avaliação  clínica  precisa  ser  completada  com  hemograma  completo,  estudos  químicos 
para  avaliar  a  função  de  órgãos  vitais,  biópsia  de  medula  óssea  com  subsequente  estudos 
genéticos  e  imunológicos  e  punção  lombar.  Mais  para  frente,  é  preciso  que  se  faça  uma 
pesquisa para excluir envolvimento oculto do SNC.  
 
Desordens Linfoma-Like: 
● Hiperplasia Linfóide Reativa Atípica 
● Reação a drogas, como fenitoína e carbamazepina 
● Desordens imunes: artrite reumatóide e lúpus eritematoso sistêmico  
● Infecções virais: EBV, CMV 
● Infecções bacterianas 
● Doença  de  Castleman:  linfadenopatia  localizada  ou  disseminada,  podendo  ter sintomas 
sistêmicos. Associada à infecção pelo HHV8.  
● Doença de Rosai-Dorfman 
● Papulose Linfomatóide 
 
Apêndices: 

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Aula 05: Casos Clínicos de Linfomas e Métodos Diagnósticos (síncrona) 

 
 
- Solicitar imunofenotipagem e hematoscopia 
-  Quando  o  paciente  apresenta  linfócitos  muito  aumentados,  a  primeira  hipótese  pode  ser 
infecção  viral,  porém  a  linfocitose  vai  caindo  com  o  passar  do  tempo,  diferente  de  um 
linfoma;  
-  Imunofenotipagem  de  sangue  periférico  e  não  de  MOV,  já  que  há  uma  linfocitose 
exacerbada,  que  são  linfócitos  clonais,  então  possuirão  os  mesmos  marcadores  fenotípicos 
dos  linfócitos  que  estão  sendo  formados  na  medula.  Faz-se  imunofenotipagem  da  MOV 
quando  há  uma  pancitopenia,  porque  no  sangue  periférico  pode  não  ter  nenhuma  célula 
patológica, já que há poucas células, então precisa procurar na medula; 
- A hipótese diagnóstica é uma LLC, que envolve células (linfócitos) já maduras; 
-  LLC:  >  5000  linfócitos  mantidos  por  mais  de  3  meses;  paciente  assintomático;  pode  ter 
linfonodomegalias  ou  visceromegalias;  a  biópsia  de  linfonodo  vai  mostrar  um  linfoma 

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linfocítico  de  pequenas  células,  que  pode  estar  restrito  ao  linfonodo  (linfoma  linfocítico  de 
pequenas células linfonodal) ou pode estar presente no sangue periférico também (LLC);  
 

 
 
- Paciente HIV+ com linfonodomegalia súbita com febre: hipóteses 
→ EBV, mononucleose: prescrever sorologia EBV 
→ CMV:  
→ Tuberculose ganglionar: biópsia de linfonodo 
→ Linfadenopatia persistente generalizada por conta do HIV 
Obs:  essas  doenças  infecciosas  podem  cursar  com  linfonomegalia  de  crescimento  súbito, 
mas  que  vai  reduzindo  com  o  passar  dos  dias.  Já  a  linfonomegalia  de  linfoma  cresce  cada 
vez  mais,  sem  parar,  sem  reduzir,  podendo  chegar  até  o  ponto  de  não  permitir  que  o 
paciente fique com a cabeça reta.  
 
-  O  exame  padrão-ouro  para  acometimento  linfonodal  e  linfonodomegalia  é  a  biópsia. 
Porém, precisa-se realizar a propedêutica adequada antes:  
→ linfonodos fistulizados não indicam linfoma  
→  linfonodos  não  aderidos  a  planos  profundos,  dolorosos,  eritematosos  falam  mais  a  favor 
de doenças infecciosas 
→  quando  o  linfonodo  possui  características  mais  infecciosas,  não  precisa  fazer  biópsia 
excisional, basta uma punção por agulha fina  
→  desconfiar  de  linfoma:  massa  mais  endurecida,  que  cresce  cada  vez mais e rapidamente, 
pode  ser  doloroso,  mas  sem  outros  sinais  flogísticos  =  nesse  cenário,  deve-se  realizar  a 
biópsia excisional  
 
- O linfoma mais provável é o Linfoma de Burkitt associado ao HIV: 
→  a  cada  dia  o  linfoma  duplica  de  tamanho,  crescimento muito acelerado, pode até obstruir 
a traqueia, configurando uma emergência hematológica  
→  o  exame  padrão-ouro  é  a  biópsia  incisional;  contudo,  a  biópsia  normal  demora  muito  a 
sair  o  resultado  (ainda  vai  pra  IHQ,  etc),  então  é  preciso  fazer  uma  biópsia  com  congelação 
em  sala  para  ter  um  resultado  ali  na  hora,  porque  o  paciente  corre  risco  de  vir  à  óbito  por 
compressão de estruturas vitais pelo tamanho do linfonodo aumentando cada vez mais.  

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Obs:  quando  a  linfonodomegalia  é  pequena,  pode-se  pedir  para  retornar  dali  a  48h  para 
analisar se houve crescimento linfonodal nesse intervalo  
Obs: linfonodomegalias pequenas e múltiplas falam mais a favor de causas infecciosas  
Obs:  pacientes  que  relatam  crescimento  de  linfonodo  muito  rápido  (ex:  “há  duas  semanas 
não  estava  assim”),  devemos  correr  com  a  biópsia  e  congelação  para  ter  um  diagnóstico 
rápido,  porque  pode  rapidamente  comprimir  a  traqueia  e  o  paciente  vir  a  óbito  por 
insuficiência respiratória  
Obs:  em  pacientes  muito  graves,  com  linfonodomegalia  monstruosa,  já  com  dificuldade  de 
respirar,  deve-se  fazer  a  biópsia  e  instituir  imediatamente  a  quimioterapia, mesmo antes do 
resultado da biópsia, porque o paciente está correndo risco de vida 
 

 
-  Paciente  jovem,  linfonodomegalia  com  evolução  de  6  meses  (evolução prolongada), febre, 
suor noturno e perda ponderal importante = LINFOMA DE HODGKIN  
→ se fosse um paciente idoso, pensaríamos em linfoma folicular 
→ paciente jovem: LINFOMA DE HODGKIN! 
→  febre  +  suores  patológicos  noturnos  +  perda  ponderal  maior  que  10%  nos  últimos  6 
meses = SINTOMAS B 
→ febre de Pel Ebstein: é uma febre de padrão intermitente típica de linfoma Hodgkin 
→  o  linfoma  de  Hodgkin  atinge  qualquer  idade,  porém  possui  dois  picos  (20-30  anos  e 
50-60 anos) 
 
- Apresentação clínica são os sintomas B e as linfonodomegalias 
 
- Estadiamento: IIB 
→ atinge duas cadeias acima do diafragma: cervical anterior e cervical posterior 
→ possui sintomas B  
 
- Hoje dividimos o LH em LH Clássico e LH com Predomínio ??? 

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→  não  precisa  saber  todas  as subclassificações do LH clássico, porque o tratamento dos LH 


clássicos é o mesmo 
 
Obs:  o  estadiamento  Ann  Arbor  foi  feito  para  linfoma  de  Hodgkin  (LH);  contudo,  pode-se 
usar para linfomas não-Hodgkin (LNH) 
→ isso porque o LH possui uma disseminação linfonodo a linfonodo, por contiguidade 
→  doença  IE  =  1  cadeia  linfonodal  acometida  no  mediastino,  que  é  contígua  à  pleura,  e  a 
pleura  foi  invadida  pelo  linfoma  (acometimento  pleural  contíguo  ao  linfonodo  doente);  1 
cadeia  linfonodal  acometida  contígua  ao  pâncreas  e  uma  porção  do  pâncreas  acometida 
pela neoplasia é IE também 
→ doença IV = doença APENAS à distância 
 
 
 

 
 
- Linfomas T são muito raros, e muitas vezes são tratados mesmo sem o diagnóstico correto  
 
-  Linfomas  T  são  muito  relacionados  à  infecção  pelo  HTLV-1,  que  é  um  vírus  endêmico  no 
Brasil, no Japão e na Índia 
→  geralmente  o  paciente  que  desenvolve  o  linfoma  T  é  aquele  que  foi  infectado  com  esse 
vírus durante a gestação (transmissão vertical) 
→  pacientes  que  são  infectados  pelo  HTLV-1 por via sexual geralmente não desenvolvem o 
linfoma T porque não dá tempo de desenvolver, a evolução é bem lenta 
 
- Linfomas T também podem ser relacionados à HIV, HHV 
 
-  A  sorologia  mais  importante,  já  que  o  paciente  tem  um  linfoma  T  que  são  linfomas 
periféricos gerados a partir de uma infecção viral, no Brasil = HTLV-1 
→ se o HTLV-1 for negativo, não vai ter ATLL (linfoma T de adultos) 
→  se  o  HTLV-1 for positivo, não fecha diagnóstico de ATLL, ainda precisa fazer biópsia com 
os marcadores de IHQ, porque pode ser outro linfoma 
→ diagnóstico ATLL = HTLV-1 + linfoma 
→ DD de nódulo violáceo: linfoma cutâneo, micose fungoide (menos parecido, mas pode ser) 
 

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-  Quando  se  suspeita  de  linfoma  ou  já  possui  diagnóstico  de  linfoma  =  PEDIR  TODAS  AS 
SOROLOGIAS!  
→ HIV, HTLV-1, hepatites, CMV, EBV, HHV 
→ não se pode tratar com quimioterapia um paciente com infecção viral em curso 
 
 

 
 
-  É  um  LNH  Folicular,  ou  seja,  um  linfoma  indolente,  de  divisão  celular  lenta  e  pausada. 
Como  a  cura  de  linfoma  se  dá  a  partir da divisão celular, não há cura. O que se faz é tratar o 
linfoma  indolente  quando  ele  incomoda.  Enquanto  assintomático,  não  necessita  de 
tratamento. Pode começar a precisar de tratamento quando:  
→ compressão de estruturas por massa linfonodal grande  
→ trombose  
→ aumento cervical importante por linfonodomegalia  
 
- O LNH Folicular é WATCH&WAIT: acompanhar e só tratar quando há sintomatologia 
→  acompanhar  de  6  em  6  meses;  se  o  paciente quiser acompanhar mais de perto, pode ser 
de 3 em 3 meses 
 
- Aumento abrupto de um linfonodo cervical num cenário de LNH Folicular Indolente: 
→  ​Transformação  de  Richter​:  transformação  de  um  linfoma  indolente  em  um  linfoma 
agressivo 
→  A  Síndrome  de  Richter  clássica  diz  respeito  a  um  LLC  que  evolui  com  um  linfoma difuso 
agressivo, porém tem sido usada a outros linfomas como o folicular: 
LLC → linfoma difuso LNH Folicular → linfoma difuso  
Obs:  geralmente  essa  transformação  de  agressividade  é  para  um  linfoma  difuso,  mas  nada 
impede que ocorra para um Burkitt, por exemplo 
 
Obs:  a  quimioterapia  é  a  mesma  para  LNH  Folicular  sintomático  e  para  LNH  com 
transformação de Richter 
 

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Aula 6 (24/10): Síndromes Mieloproliferativas - Lavínia (assíncrona) 


 
SÍNDROMES MIELOPROLIFERATIVAS CRÔNICAS 
Definição 
Também podem ser chamadas de Neoplasias Mieloproliferativas.  
São  doenças  clonais  crônicas,  que  são  geradas  a  partir  de  um  precursor  comum,  o 
hemocitoblasto  ou  células-tronco  hematopoiética  (todas  as  doenças  listadas  abaixo 
possuem o mesmo tipo celular como origem, a célula precursora mieloide). 
➢ Policitemia Vera: predomínio de hiperplasia eritrocítica ou megacariocítica  
➢ Trombocitemia Essencial: predomínio de hiperplasia eritrocítica ou megacariocítica  
➢ Mielofibrose Primária: predomínio de hiperplasia eritrocítica ou megacariocítica  
➢ Leucemia Mieloide Crônica: predomínio de neutrofilia  
 
As  três  primeiras  desordens  (PV,  TE  e  MP)  possuem  muita  sobreposição  e  podem 
transformar-se uma na outra.  
 
Todas as desordens possuem: 
● origem numa célula progenitora hematopoiética multipotente 
● hiperprodução  de  uma  ou  mais  linhagens  de  elementos  sanguíneos,  sem  displasia 
significante (as células só se proliferam, sem demonstrar anormalidades) 
● predileção  por  hematopoiese  extramedular  (porque  a  medula,  por  estar  tão 
funcionante com a proliferação de células, vai falhando gradualmente) 
● predileção por mielofibrose (porque a medula acaba falhando) 
● possibilidade  de  desenvolver  leucemia  aguda  ​(caracterizando  um processo de agudização 
de quadros que são crônicos) 
 
Essas  doenças  podem  atingir  uma  ou mais linhagens (ex: podem atingir somente eritrócitos, 
ou podem atingir eritrócitos + plaquetas).  
➢ Maturação  Terminal​:  ​essas  células  neoplásicas  aparecem  no  sangue  periférico 
completamente  maduras  (diferentemente  das  leucemias,  nas  quais  as  células 
sanguíneas  doentes,  liberadas  para  o  sangue  periférico,  são  células  novas,  menos 
diferenciadas, os blastos). 
 
As  doenças  mieloproliferativas  crônicas  são  muito  semelhantes  entre si (por isso o grupo se 
chama  Síndromes  Mieloproliferativas), não apenas nas manifestações geradas, mas também 
na  determinação  genética.  A  ​mutação  JAK2​,  por  exemplo,  está  presente  em  várias  destas 
doenças  (PV,  TE  e  MF). Por isso é tão difícil, mas ao mesmo tempo tão importante, realizar o 
diagnóstico diferencial entre elas.  
A presença de mutação JAK2 fala a favor de doença de caráter clonal. 

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A célula HSC é a célula-tronco hematopoietica, a afetada pelas síndromes mieloproliferativas. 
 

 
Essa  imagem  é  importante  para  as  síndromes  mieloproliferativas,  pois  mostra  que  a  origem  delas 
pode  estar  numa  mutação  de  um  alelo  do  gene  JAK2,  e  que,  dependendo  do  ponto  onde  essa 
mutação ocorreu nesse gene JAK2, doenças diferentes podem ser geradas.  
Policitemia vera: mutação no gene JAK2 V617F ou mutação no éxon 12 da JAK2. 
 
 
POLICITEMIA VERA (PV) 
Nessa doença, os progenitores mieloides produzem muitas hemácias, de forma clonal.  
Trata-se  de  uma  ​proliferação  eritroide  clonal  exacerbada​,  num  contexto  de  normalidade  de  EPO, 
ausência  de  EPO  ou  hipóxia  (ou  seja,  proliferação  de  hemácias  que  não  pode  ser  explicada  por 
aumento de EPO ou por estímulo à baixa concentração de oxigênio).  
Importante diferenciar com:  
➢ os  tumores  renais,  que  podem  levar  a  um  aumento  de  eritropoietina,  gerando  aumento  da 
produção de hemácias; contudo, essa eritrocitose não é de caráter clonal. 
➢ condições  de  hipóxia,  como  elevada  altitude  e  DPOC,  que  vão  induzir  a  maior  formação  de 
hemácias a fim de otimizar o máximo possível a captação de oxigênio (que já é pouca).  
 

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Pensando  em  um  caráter  de  consulta  em  medicina  geral,  e  não  em  hematologia,  é preciso pesquisar 
outras  causas  para  o  aumento  de  células  sanguíneas,  antes  de  considerar  causas  hematológicas, 
como  as  síndromes  mieloproliferativas,  porque  é  muito  mais  comum  o  paciente  ter  um  aumento 
celular  reacional  a  infecções,  inflamações  e  deficiências,  do  que  por  doenças  hematológicas  que  são 
raras.  
 

 
 
Características:  
● Outras  séries  podem  estar  aumentadas,  além  das  hemácias,  como  plaquetas  e  leucócitos​: 
pode  haver  aumento  de  hemácias  em  concomitância  ao  aumento  de  outra  série  celular,  ou 
também  pode  se  mostrar,  inicialmente,  com  um  aumento  de  outra  série,  sem  eritrocitose 
associada.  Isso  pode  dificultar  o  diagnóstico,  já  que  se  sobrepõe  às  outras  síndromes. 
Exemplo:  paciente  que  se  mostra  com  trombocitose,  não  podemos  descartar  PV  porque  é  uma 
possível  apresentação  dessa  doença.  Assim,  a  ausência  de  eritrocitose  não  descarta  a 
possibilidade  de  PV.  Na  prática,  diante  de  um  paciente  suspeito, devemos suspeitar de todas as 
síndromes mieloproliferativas.   
● 96%  dos  casos  são  JAK2  (V617F)  positivo​:  6%  são  JAK2  éxon  12  positivo  e  2%  são  JAK2 
negativos 
● É uma doença de pessoas mais idosas, principalmente acima de 60 anos. 
● É uma doença rara: 2 casos a cada 100.000 pessoas ao ano 
 
Sinalização da via JAK-STAT 
Por  conta  dessa  mutação  no  gene  JAK2  (que  troca  uma  valina por uma fenilalanina: ​V617F​), quando 
a  EPO  (que  está  em  concentrações  normais)  se  ligar  ao  receptor  na  célula-tronco  hematopoiética, 
haverá  uma  sinalização  permanente  da via JAK-STAT, com consequente produção clonal ininterrupta 
das hemácias. Assim, a mutação na JAK2 causa ativação constitutiva. 

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No contexto da PV, a ativação constitutiva da JAK2 explica: 
➢ a hipersensibilidade da medula a níveis normais de eritropoietina 
➢ a formação de colônias eritroides independente de estímulo da EPO 
➢ a resistência à apoptose na ausência de EPO.  
Obs:  95%  dos  pacientes  expressam  a  mutação  JAK2  V617F,  seja  em  heterozigose  ou  em 
homozigose.  O  restante  dos  pacientes,  em  sua  maioria,  expressam  a  mutação  no  éxon  12  da  JAK2, 
não sendo diferentes clinicamente daqueles que expressam a V617F. 
 
Apresentação Clínica 
É fruto da presença excessiva de hemácias no leito capilar: 
● Pletora​: paciente com o rosto vermelho.  
● Hipertensão  arterial  sistólica​:  devido  à  eritrocitose  descontrolada,  que  gera  hiperviscosidade 
sanguínea. 
● Eritromelalgia​:  efeito  do  excesso  de  hemácias  no  leito  capilar,  fazendo  com  que  as  pontas  dos 
dedos  fiquem  túrgidas,  acompanhado  de dor e mudança de temperatura (calor), podendo até ter 
espasmo arterial. Pode confundir-se com fenômeno de Raynaud.  
A eritromelalgia é um complexo sintomático (eritema, queimação e dor) das extremidades.. 
● Úlceras​:  como  as  hemácias  estão  em  grande  quantidade,  elas  não  conseguem circular de forma 
adequada  no  leito  capilar.  Assim,  o  oxigênio não é devidamente entregue aos tecidos (devido ao 
tráfego congesto de hemácias), podendo predispor ao aparecimento de úlceras. 
● Distúrbios visuais. 
● Zumbido​: devido à eritrocitose descontrolada, que gera hiperviscosidade sanguínea. 
● Cefaleia​: devido à eritrocitose descontrolada, que gera hiperviscosidade sanguínea. 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

● Astenia. 
● Prurido​, agravado com banho quente (ainda não se sabe a explicação dessa manifestação). 
● Esplenomegalia​:  visto  que  o  baço  é  o  órgão  responsável  pela  reciclagem  de  hemácias,  acaba 
ocorrendo  esplenomegalia  porque  há  muitas  hemácias  na  circulação,  sobrecarregando  a  função 
esplênica. 
● Trombose  ou  sangramento​:  a  trombose da PV não é primariamente relacionada à trombocitose, 
e  sim  à  eritrocitose.  Contudo,  a  PV  pode  cursar  com  trombocitose,  o  que  acaba  por  contribuir 
com  a  propensão  à  formação  de  coágulos  e  trombos.  Qualquer  vaso  pode  ser  afetado  pela 
trombose, mas os principais são os da vasculatura cerebral, cardíaca e mesentérica. 
Sangramentos e hemorragias podem ocorrer devido ao excesso de hemácias.  
 

 
➢ De  10  a  15%  dos  pacientes  com  PV,  no  estágio  inicial  da  doença,  podem  não  apresentar  um aumento 
de hemácias, e sim um aumento de plaquetas, que pode se confundir com Trombocitemia Essencial.  
➢ 20%  dos  pacientes  podem  evoluir  com  metaplasia  de  medula  óssea,  e  muitos terão o desenvolvimento de 
fibrose de medula óssea (mielofibrose) e evolução para leucemia mieloide aguda. A fibrose ocorre, em parte, 
porque  a  medula  fica  hiperfuncionante  com  a  doença,  sofrendo,  posteriormente,  uma  falência;  em  outra 
parte,  pode  também  ocorrer  a  liberação  de  interleucinas  pelas  células  clonais,  que  recrutam  e  ativam 
fibroblastos  na  medula,  levando  ao  desenvolvimento  da fibrose. Contudo, esse é outro momento de dúvida 
diagnóstica:  ​até  que  ponto  pode-se  dizer  que  a  PV  evoluiu  com  fibrose  (o  que  é  possível)  ou  que  na 
verdade  não  era  uma  Mielofibrose  desde  o  início,  mas  que  cursou  com  proliferação  clonal de hemácias 
numa fase inicial? 
 
Diagnóstico 
Segundo a OMS, é preciso haver:  

2 critérios maiores + 1 critério menor  


OU  
hemoglobina aumentada (que é um critério maior) + 2 critérios menores 

Critérios maiores:  
● Hemoglobina aumentada​: > 18,5 g/dL em homens e > 16,5 g/DL em mulheres 
● JAK2+ 
 
Critérios menores: 
● Panmielose na biópsia de medula óssea: todos os precursores muito aumentados. 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

● Níveis baixos de EPO 


● Formação de colônias eritroides endógenas (EEC) in vitro: não realizado no Brasil 
 
Obs: hematócrito também vai estar muito aumentado. 
Obs:  como  clínicos,  a  suspeita  precisa  surgir  quando  temos  um  paciente  com  hemoglobina  e  hematócrito 
aumentados  e  uma  depleção  de  EPO,  e,  em  seguida,  solicitar  pesquisa  genética  de  gene  JAK2  (V617F).  Na 
ausência  da  variante V617F, recomenda-se a realização do exame de sequenciamento do éxon 12 do gene JAK2 
para pacientes com PV. 
Obs:  Quando  a  PV  se  apresenta  com  eritrocitose  +  leucocitose  e/ou  trombocitose  e/ou  esplenomegalia,  é  mais 
fácil realizar a suspeição. 
Contudo,  quando  a  única  manifestação  é  o  aumento  da  hemoglobina  ou  do  hematócrito,  é  muito  difícil  fazer  o 
diagnóstico  só  com  o  hemograma,  visto  que,  a  não  ser  que  Hb  >  ou  igual a 20g/dL ou Hematócrito > ou igual a 
60%,  é  impossível  distinguir  a  eritrocitose  verdadeira  de  desordens  que  causam  hemoconcentração  por 
contração de volume plasmático. Por isso é essencial prosseguir a pesquisa diagnóstica com estudo citogenético.  
 
Prognóstico 
Teoricamente,  18  meses  de  vida  sem  tratamento  (mas,  na  realidade,  pacientes  podem  viver  por 
décadas): 
➢ quadros trombóticos 
➢ evolução para fibrose de medula óssea  
➢ progressão para leucemia aguda 
 
Tratamento 
O tratamento é sintomático, não há cura.  
Em  algum  momento,  o  paciente  vai  evoluir  para  uma  mielofibrose  ou para uma leucemia mieloide 
aguda.  
● Medicamentos citorredutores  
● Flebotomia:  paciente  vai  em  bancos  de  sangue  para  realizar  sangrias,  sendo  o  sangue 
descartado, e não doado. A flebotomia periódica serve para manter os níveis de hemácia normais 
e  também  para  induzir  um  estado  de  deficiência  de  ferro,  que  previne  a  acelerada  reexpansão 
clonal das hemácias. 
● Uso constante de anticoagulantes devido à propensão a quadros trombóticos. 
● Inibidor de JAK2: Ruxolitinib (na prática não é disponível, nem no SUS, nem no privado). 
 
Obs:  com  exceção  de  casos  em  que um acesso venoso não pode ser conseguido para a realização de 
flebotomia, a quimioterapia n
​ unca ​é a escolha para reduzir a massa eritrocitária. 
Obs:  a  anticoagulação  é  sempre  feita  em  pacientes  com  plaquetas  acima  do  limite  superior  de 
normalidade (LSN) e hemácias acima do LSN, prosseguindo com monitoramento do exame. 
 
TROMBOCITEMIA ESSENCIAL (TE) 
Também chamada de Trombocitose Essencial.  
Devido  a  um  número  aumentado  de  ​megacariócitos  neoplásicos presentes na medula óssea, haverá 
aumento da produção de plaquetas, com m
​ assa plaquetária elevada de forma sustentada​.   
 
Plaquetas > 450.000/mL (aumento sustentado) 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

É uma doença de diagnóstico de exclusão: 


É  importante  pontuar  que  o  aumento  plaquetário  é  comum  a  diversas  condições  clínicas  normais  do 
dia-a-dia,  como  fases  agudas  de  quadros  infecciosos/inflamatórios  (trombocitose  reativa)  e 
deficiência  de  ferro  (anemia  ferropriva).  Contudo,  nestas  condições,  o  aumento  não  é  sustentado  e 
eventualmente os níveis plaquetários normalizar-se-ão.  
Assim,  diante  de  um  paciente  com  plaquetas  acima  de  450.000,  é  essencial  descartar  infecção  em 
curso,  estados  inflamatórios  (atenção  especial  para  doenças  reumatológicas,  como  gota  e  artrites)  e 
deficiência de ferro.  
 

 
 
Deve-se  suspeitar  de  TE  diante  de  um  paciente  com  aumento  sustentado  de  plaquetas,  que  possui 
provas inflamatórias (proteína C reativa e VHS) negativas e níveis normais de ferro.  
Só  se  faz  estudos  de  medula  óssea  para  esclarecimento  em  pacientes  que  comprovadamente 
possuem níveis normais de ferro e marcadores inflamatórios negativos.  
 
Características: 
● Acomete mais idosos, principalmente > 50 anos.  
● Acomete mais mulheres. 
● É uma doença rara, com 2,5 casos em 100.000 habitantes ao ano.  
● Mutação ​JAK2 positiva ​em 50% dos casos, no ponto de corte V
​ 617F 
● Mutação no gene M
​ PL​ em 4% (não se faz no SUS) 
● Mutação no gene​ calR (​ não se faz no SUS) 
 
Apresentação Clínica e Laboratorial: 
Ocorre pelo número aumentado de plaquetas no sangue periférico: 
● Trombose 
● Eritromelalgia​:  obstrução  de  leito  capilar  pelo  número  aumentado  de  plaquetas  (que  pode, 
inclusive,  chegar  a  4  milhões).  As  pontas  dos  dedos  ficam  túrgidas,  acompanhados  de  dor, 
podendo até ter espasmo arterial, lembrando o fenômeno de Raynaud. 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

● Hemorragia​: atenção para pontos de corte acima de 1 milhão de plaquetas.  


Para  as  plaquetas  aderirem,  ao  endotélio  em  também  entre  si,  é  preciso  que  haja uma ligação a 
partir  do  fator  de  von  Willebrand  (FvW).  Com  um  número  excessivo  de  plaquetas,  o  FvW  é 
muito utilizado, havendo um desequilíbrio entre a proporção de plaquetas e a proporção do FvW, 
isto  é,  a  produção  do FvW não acompanha a produção aumentada de plaquetas. Com isso, resta 
pouco fator disponível, gerando uma ​pseudodeficiência de fator de von Willebrand / deficiência 
adquirida  do  fator  de  von  Williebrand​.  Isso  resulta  em  quadros  hemorrágicos,  pois  faltará  o 
fator para realizar a hemostasia normal do organismo.  

 
 
 
● Leucocitose com neutrofilia (pode ocorrer em outras SMP, como a LMC). 
● Anemia  não  é  usual  (inclusive  é  um  fator  importante  para  o  diagnóstico;  quando  a 
trombocitose  ocorre  por  disfunção  comum  à  série  eritrocitária,  já  que  plaquetas  e  hemácias 
possuem  uma  célula  progenitora  comum,  a  trombocitose  ocorre  em  concomitância  a  uma 
anemia;  um  exemplo  disso  é  a  anemia  ferropriva:  a  deficiência  de  ferro  gera  redução  dos 
eritrócitos,  com aumento reativo das plaquetas. Contudo, quando há níveis muito elevados de 
trombócitos e as hemácias se encontram normais, podemos descartar déficit de ferro). 
● Esfregaço  de  sangue  periférico  pode  mostrar  aumento  do  número  de  plaquetas,  algumas 
podendo ser muito grandes.  
 
Diagnóstico 
● Contagem sustentada de plaquetas > 450 mil 
● Biópsia de medula óssea demonstrando hiperplasia megacariocítica 
● Diagnóstico  de  exclusão:  deve-se  ​diferenciar  de  policitemia  vera,  mielofibrose  primária  e 
leucemia mieloide crônica​ (são doenças irmãs, se parecem muito) 
● JAK2+ em 50% dos pacientes: ​pode ser TE, PV ou mielofibrose primária (MF​) 
● Excluir trombocitose reativa.  
 
Obs:  A  contagem  elevada  de  plaquetas  pode  dificultar  a  aspiração  da  medula​,  mas  a  ​biópsia  da 
medula  geralmente  revela  megacariócitos  hipertrofiados  e  hiperplasiados,  bem  como  um  quadro 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

geral  de  aumento  da  celularidade  da  medula.  Se  a  reticulina  da  medula  estiver  aumentada,  outro 
diagnóstico deve ser considerado (em especial a mielofibrose). 
 

 
MPN = síndromes mieloproliferativas 
ET: trombocitemia essencial 
PV: policitemia vera 
 

Prognóstico 
● Transformação para ​mielofibrose (MF)​ em até 10% dos casos: 
○ Isso  é  controverso,  porque  em  muitos  casos,  na  verdade,  o  diagnóstico  correto  é 
mielofibrose  primária,  a  qual,  num estágio inicial, pode produzir muitas plaquetas, causando 
uma trombocitose reacional, confundindo com um diagnóstico de TE.  
○ Nos  casos  de  mielofibrose (MF), já desenvolvida, o paciente apresenta depleção de todas as 
séries sanguíneas (hemácias, plaquetas e leucócitos).  
● Transformação para ​leucemia mieloide aguda (LMA)​ em até 2% dos casos.  
● Os  pacientes  que  não  evoluem  para  MF  e  LMA,  possuem  expectativa  de  vida  normal  (a  TE  é  a 
síndrome mieloproliferativa com melhor expectativa e qualidade de vida).  
 
Tratamento 
● AAS: em baixas doses para anticoagulação.  
A  anticoagulação  deve  ser  considerada  caso  a  caso.  Para  trombocitoses  abaixo  de  1  milhão  de 
plaquetas  (não  há  ponto  de  corte  definitivo,  é  só uma estimativa), o perigo maior é a coagulação 
e  a  formação  de  trombos;  assim,  a  anticoagulação  com  AAS  é  indicada.  Para  aumento  de 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

plaquetas  superior  a  1  milhão,  o  perigo  maior  são  as  possibilidades  de  sangramentos,  devido  à 
deficiência  adquirida  fator  de  von  Willebrand;  nesses  casos,  a  anticoagulação  é  contraindicada, 
porque pode na verdade piorar o risco de hemorragias.  
● Citorredução: quando necessário; com hidroxiureia. 
 
MIELOFIBROSE PRIMÁRIA (MF) 
É  a  ​proliferação  clonal  de  megacariócitos  (dão  origem  às  plaquetas)  e  granulócitos  (leucócitos)​, 
que,  ​a  partir  de  citocinas  e  fatores  de  crescimento de fibroblastos, vão atrair fibroblastos e causar 
a fibrose medular​.  
Obs: os fibroblastos são policlonais, não fazendo parte do clone de células neoplásicas.  
É  um diagnóstico difícil de ser realizado na ausência de marcadores clonais específicos, visto que uma 
grande  lista  de  desordens  benignas  e  malignas  podem  cursar  com  mielofibrose  e  esplenomegalia, 
incluindo a Policitemia Vera e a Trombocitose Essencial: 

 
 
Características 
● JAK2 positivo​ em 60% dos pacientes.  
● Mutação  no  gene  do  receptor  de  trombopoetina: ​MPL positivo em 8% dos pacientes (não se faz 
no SUS).  
● Mutação no gene c​ alR 
● Eritropoiese  extramedular​:  como  a  medula  óssea  do  paciente  encontra-se  fibrótica,  é  preciso 
que  as  células  sanguíneas  sejam  produzidas  em  outro  local,  no  caso  o  baço,  que  fica  enorme 
(considerável​ esplenomegalia​).  
 
Apresentação clínica e laboratorial 
Não  há  sinais  ou  sintomas  específicos.  Muitos  pacientes  são  assintomáticos,  sendo  o  diagnóstico 
considerado  quando  descobre-se  o  baço  aumentado  e/ou  anormalidades  no  hemograma  numa 
consulta de rotina (ou seja, a suspeita tem que vir do médico generalista).  
● Esplenomegalia 
● Síndrome  anêmica​:  redução  de  hemácias  por  produção  reduzida.  As  causas  da  anemia  são 
multivariadas e incluem:  
➢ eritropoiese ineficaz na MOV não compensada por hematopoiese extramedular esplênica 
➢ hemodiluição devido à esplenomegalia 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

➢ sequestro esplênico 
➢ hemorragias secundárias a trombocitopenia ou hipertensão portal 
➢ deficiência de ácido fólico 
➢ inflamação sistêmica  
➢ hemólise autoimune 
● Trombocitose reacional  
● Leucoeritroblastose​:  liberação  de  precursores  mieloides  no  sangue periférico, que não deveriam 
estar  ali,  como  mielócitos  e  pró-mielócitos,  assim  como  de  hemácias  nucleadas  (hemácias 
imaturas).  
● Dacriócitos​:  hemácias  em  formato  de  lágrima.  A  deformação  ocorre  quando  as  células,  sendo 
produzidas  pela  hematopoiese  extramedular,  passam  nas  fenestrações  entre  cordões  e  sinus 
medulares  do  baço,  sofrendo  estiramento  além  dos  limites  da elasticidade. Pode ser encontrado 
também nas talassemias, anemias hemolíticas e em pacientes esplenectomizados. 
● Suores noturnos, fadiga e perda ponderal​ podem ocorrer. 
● Aumento de LDH e fosfatase alcalina​ são normais  
● Aspirado  de  medula  óssea  pode  não  ser  possível  devido  à  fibrose,  contudo a biópsia de medula 
óssea  revelará  uma  medula  hipercelular  com  trilinhagem  hiperplásica  e,  em  particular,  números 
aumentados de megacariócitos em aglomerados e com núcleos grandes e displásicos. 
● Radiografias  de  ossos  podem  demonstrar  osteosclerose  devido  à  deposição  de  tecido  fibrótico 
na medula óssea. 
 
Esfregaço de sangue periférico​ mostra características de eritropoiese extramedular: 
➢ hemácias em formato de lágrima (​ dacriócitos) 
➢ hemácias nucleadas ​(leucoeritroblastose) 
➢ mielócitos (​ leucoeritroblastose) 
➢ pró-mielócitos ​(leucoeritroblastose) 
➢ mieloblastos ​(leucoeritroblastose) 
 
Dinâmica da mielofibrose 
Primeiro ocorre um aumento de células, com posterior pancitopenia. 
 

PRÉ-DOENÇA E ESTÁGIO INICIAL  EVOLUÇÃO E ESTÁGIO AVANÇADO 

Hemoglobina alta  Hemoglobina reduzida 

Trombocitose reativa (plaquetas altas)   Trombocitopenia (plaquetas reduzidas) 

Baço normal  Baço aumentado 

Eritromieloblastos ausentes no sangue  Eritromieloblastos presentes e em grande 


periférico  quantidade no sangue periférico 

LDH baixa  LDH alta 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
Prognóstico 
● 3 a 15 anos de sobrevida, dependendo do estágio da doença ao diagnóstico. 
● Hipertensão portal 
● Eventos tromboembólicos  
● A doença pode progredir, na sua evolução final, para: 
○ leucemia mieloide aguda em até 30% dos casos (numa fase blástica da mielofibrose) 
○ insuficiência  medular  com  falência  medular  final,  causando  óbito  por  infecções  e 
sangramentos.  
 
Tratamento 
É paliativo, com ​estímulo à medula óssea e às séries (​ eritrócitos, plaquetas, leucócitos).  
Inibidor  de  JAK2:  Ruxolitinib​.  Também  é  usado  na  PV,  podendo  adiar  a  evolução  da  mielofibrose  e 
até mesmo em alguns casos reverter um pouco da fibrose.  
 
 
LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA (LMC) 
É  a síndrome mieloproliferativa mais prevalente. Apesar de ser explicada por um evento genético, não 
há relação familiar e hereditária.  
● É uma​ doença clonal de granulócitos​, correspondendo a 10-15% das leucemias.  
● Cromossomo Filadélfia 
A  genética  da  LMC é consiste  numa translocação entre o cromossomo 9 e o 22, a t(9:22), dando 
origem  a  um  novo  cromossomo,  formado  por  uma  porção  do  cromossomo  9  (contendo  a 
proteína  BCR)  e  uma  porção  do  cromossomo  22  (contendo  a  proteína  ABL).  Esse  novo 
cromossomo  gerado  é  o  cromossomo  Filadélfia,  contendo  a união de ​BCR+ABL​, que forma uma 
oncoproteína  tirosino-quinase.  Essa  oncoproteína  é  responsável  pela  proliferação  e  maturação 
das  células  clonais,  além  de  resistência  à  apoptose  das  células  clonais  e  adesão  celular  de 
neutrófilos.   
➢ BCR+ABL  é  um  marcador  genético  crucial  na LMC. Um exame genético positivo para essa 
mutação fecha o diagnóstico de LMC.  

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

➢ A  translocação  (9;22)  está  presente  e  pode  ser vista nas células hematopoiéticas mieloides e 


eritroides, nos megacariócitos e nos monócitos. Em menor grau, pode ser vista em linfócitos B 
e T. Contudo, não é visualizada em outras células corporais.  

 
 
Exame FISH 
A mutação BCR+ABL é pesquisada através  
do​ exame FISH: 
A)  Exame  normal.  BCR  e  ABL  cada  uma  no  seu 
cromossomo.  
B) Paciente com LMC 
 
BCR: vermelha ​ A
​ BL: verde 
 
Fases da LMC 

 
 
1) Fase Crônica (5-9% de blastos no sangue periférico) 
Presença  de  ​muitos  neutrófilos  maduros  e  imaturos  (com desvio à esquerda), neutrofilia condizente 
com  paciente  séptico  e  chocado;  contudo  paciente  assintomático,  sem  evidências  de  infecção.  Isso 
gera suspeita e é preciso conduzir com FISH para mutação BCR+ABL.  
Duração média de 5-6 anos. 
 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

2) Fase Acelerada (10-19% de blastos no sangue periférico) 


Paciente já com blastos no sangue periférico (​até 19% de blastos no sangue periférico​).  
Obs: a presença de muitos blastos periféricos é característica da leucemia mieloide aguda (ver abaixo). 
Duração média de 6-9 meses.  
 
3) Fase de Crise Blástica (>20% de blastos no sangue periférico) 
É  uma  leucemia  mieloide  aguda,  ou  seja,  houve  ​transformação  da  LMC  para  LMA​,  quando paciente 
possui >
​ 20% de blastos no sangue periférico​.  
Duração média de 3-6 meses. 
Se a crise blástica não for resolvida com ITK, pode-se indicar o transplante de medula óssea.  
 
Apresentação Clínica e Laboratorial 
● Esplenomegalia  
● Perda ponderal 
● Astenia 
● Suores noturnos 
● Leucocitose com neutrofilia  
● Linfocitose e monocitose; infecções recorrentes na fase de LMA 
 
Diagnóstico 
● Citogenética​:  
➢ pesquisa de cromossomo Filadélfia: c​ ariotipagem com banda G  
➢ exame F
​ ISH 
● Biologia molecula​r: pesquisa quanti ou qualitativa de BCR+ABL 
● Descartar infecções graves (depende se o paciente apresenta-se sintomático ou não) 
 
Tratamento: Inibidores de Tirosina-Quinase (ITK) 
Os ITK realizam ​a separação da união entre BCR e ABL​. 
Imatinibe, Dasatinibe, Nilotinibe, Posatinibe. 
Essa  terapêutica  com  ITK  foi  tão  ​importante  para  a  doença  que, atualmente, pacientes tratados com 
ITK podem descontinuar o tratamento após 5 anos e não apresentarem recidiva da LMC. 
Obs:  os  inibidores  de  tirosina-quinases  geram  como  efeito  colateral hipotireoidismo em grande parte 
dos pacientes (15-84%).  
 
Tratamento por Fases 
1) Fase Crônica (5-9% de blastos na MO) 
Inibidor de tirosina-quinase. 
80 a 90% sobrevida livre de doença em 5 anos.  
 
2) Fase Acelerada (10-19% de blastos da MO) 
Aumento da dose do ITK ou troca de ITK.  
 
3) Crise Blástica (>20% de blastos na MO) 
Como se trata de uma leucemia mieloide aguda, o tratamento é quimioterapia.  

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
 

 
 
 
Aula 07 (28/10): Casos Clínicos de Síndromes Mieloproliferativas - Lavínia (síncrona) 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

Análise dos exames: 


Hemoglobina e hematócrito normais; 
Leucócitos normais, porém com neutrofilia; 
Plaquetas aumentadas (limite superior de normalidade = 450.000);  
 
Obs:  observar  que  as  frações  de leucócitos são dadas em porcentagens, ou seja, para analisar o valor 
é preciso que se faça a porcentagem em cima do número total de leucócitos! Ou seja: 
70% de 9.000 = 6.300 neutrófilos → aumentados 
25% de 9.000 = 2.250 linfócitos → normal 
 
Obs: neutrófilos são subdivididos em bastões, mielócitos, pró-mielócitos, etc.  
 
Raciocínio clínico: 
Como  clínicos  e  médicos  gerais,  nós  não  pensamos  em  trombocitose  essencial  como  primeiro 
diagnóstico. É preciso excluir primeiramente: 
→  deficiência  de  ferro:  contudo,  com  trombócitos  tão  aumentados,  seria  difícil ter uma deficiência de 
ferro  tão  acentuada  sem  anemia  ao  hemograma.  Para  esclarecer,  é  preciso  solicitar:  ferro  sérico, 
cinética  de  ferro  (ferritina,  transferritina,  saturação  da  transferrina,  TBIC).  Não  pode  solicitar  só 
ferritina porque ferritina também é marcador inflamatório! Então pode confundir mais que esclarecer.  
EM TODO PACIENTE COM TROMBOCITOSE, DEVE-SE PEDIR CINÉTICA DO FERRO! 
→  infecções:  pode  ser  uma  trombocitose  reacional.  Solicitar  VSH,  proteína  C reativa, EAS (se houver 
suspeita  de  infecção  do  trato  urinário).  Nesse  caso  o  paciente  é  ambulatorial,  mas  se  fosse  um 
paciente internado poderia solicitar hemocultura. Em saúde privada, pode pedir procalcitonina. 
→  inflamações:  se  houver  clínica  inflamatória  (dor  no  ombro,  dor  no  joelho),  nunca  esquecer  das 
afecções  reumatológicas.  Solicitar  FAN,  fator  reumatoide.  O  paciente  também  pode  ser  inflamado 
cronicamente  (DM,  alcóolatra  com  esteatose  hepática,  etc);  é  preciso  examinar  o  paciente  direito  e 
pesquisar  dados  na  anamnese!  Em  pacientes  em  que  há  suspeita  de  inflamação,  deve-se  solicitar: 
hepatograma (transaminases, FA, gama-GT), ureia e creatinina.  
 
Obs:  quando  recebemos  pacientes  trazendo  exames  tão  alterados,  ou  com  alterações  tão 
importantes,  vale  a  pena  pedir  para  repetir  o  exame,  em  laboratório  diferente,  pois  os  laboratórios 
erram.  Considerando  esse  caso,  com  trombocitose  tão  acentuada,  deve-se  pedir  para  repetir  o 
hemograma  com  urgência,  no  dia  seguinte.  Se  fosse  trombocitose  mais  leve  (ex:  600.000),  pode-se 
solicitar  com  menos  urgência.  É  preciso  solicitar  a  repetição  do  exame  até  mesmo  para  avaliar  se  a 
trombocitose é sustentada (no caso de suspeição de doenças mieloproliferativas).  
 
É preciso considerar também o contexto do paciente: 
Paciente  1:  homem,  56  anos.  Não  faz  perda  de  sangue  por  menstruação,  a  deficiência  de  ferro 
torna-se menos provável.  
Paciente  2:  é  mulher,  nova,  26  anos,  pode  ter  perda  menstrual,  pode  ter  deficiência  de ferro (normal 
em pacientes em idade fértil).   
 
Hipóteses Diagnósticas Hematológicas: 

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Podem  ser  qualquer  uma  das  síndromes  mieloproliferativas  (policitemia  vera,  trombocitemia 
essencial, mielofibrose primária e leucemia mieloide crônica).  
ex: professora conta o caso de uma paciente com aumento plaquetário não acentuado (700.000), sem 
nenhuma  outra  série  aumentada,  que  repetiu  exames  por  3  meses,  com  esse  nível  plaquetário 
sustentado,  com  JAK2  negativo.  Pediu  BCR+ABL  e  veio  positivo,  fechando  diagnóstico  de  LMC. 
Perceber  como  pode  se  confundir  =  a  trombocitose  sustentada  faria  pensar  em  trombocitose 
essencial,  mas  na  realidade  qualquer  uma  das  síndromes  mieloproliferativas  podem  cursar 
primeiramente  com  trombocitose  (ou  com  aumento  de  alguma  outra  série),  e  só  depois  de  muito 
tempo se mostrar no sangue periférico com a sua característica principal.  
Mielofibrose pode ter aumento de qualquer série no início da doença.  
Para  conduzir,  deve-se  pedir os marcadores genéticos (que estão disponíveis no SUS) para pesquisar 
TODAS as síndromes: 
➢ JAK2 mutação na quebra V617F 
Na  policitemia  vera:  92%  são JAK2(V617F) positivo, 6% são JAK2 éxon 12 positivo e 2% são 
JAK2 negativos.  
➢ BCR+ABL  (por  banda  G  ou  FISH,  dependendo  da  disponibilidade  do  serviço  de  saúde  em 
questão) para LMC 
Pesquisa de cromossomo filadélfia por banda G (citogenética): MAIS BARATO, mais realizado 
no SUS 
OU 
Pesquisa de BCR+ABL por FISH (mais caro, R$2.000,00) 
 
Pacientes  com  trombocitose  podem  coagular,  mas  também  podem  sangrar  (devido  à 
pseudodeficiência  de  fator  de  von  Willebrand,  já  que  a  produção  de  FvW  não  é  proporcional  à 
produção de plaquetas).  
➢ em  trombocitoses  muito  acentuadas,  como  a  partir  de  um  milhão,  a  preocupação  principal deve 
ser o sangramento. 
➢ em  trombocitoses  menos acentuadas (como menores de um milhão), a preocupação principal é a 
coagulação, precisando prescrever AAS para anticoagulação. 
Obs: na verdade, não tem um corte definitivo, é preciso avaliar caso a caso.  
 
Na prática, deve-se pedir JAK2 com BCR+ABL sempre, porque se: 
➢ JAK2 positivo e BCR+ABL negativo = já descarta LMC 
➢ BCR+ABL positivo: diagnostica LMC 
 

 
 

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Leucócitos aumentados = pensar em infecção ou leucemia!  


Neutrófilos  =  104.000  (neutrofilia  importante,  porém  paciente  praticamente  bem).  Se  fosse infecção, 
paciente não estaria bem. Então precisamos pensar em causas hematológicas.  
 
Primeiros diagnósticos a se pensar num paciente ambulatorial: 
→ quadro infeccioso (porém, como não tem quase sintomatologia, pensar nas próximas) 
→ quadros hematológicos 
→  CA  de  pulmão:  muitos  pacientes  podem  ter  exame  todo  normal  e  ter  leucocitose  com  neutrofilia. 
Solicitar radiografia de tórax.  
 
Primeiros diagnósticos a se pensar num paciente internado: 
→  quadro  infeccioso  importante,  como  sepse  =  solicitar  hemocultura,  urinocultura,  e  começar  ATB 
empírico.  O  desvio  à  esquerda  de  uma  sepse  é  igualzinho  ao  desvio  à  esquerda  de  uma  leucemia 
mieloide  crônica.  Assim,  não  se  deve  deixar  passar  a  possibilidade  de  sepse!!!!!!  Porque  é  mais 
urgente que a leucemia.  
 
A plenitude pós-prandial pode falar a favor de esplenomegalia.  
Paciente  com  leucocitose  =  sempre  pedir  para  repetir  o  exame!  Se  vier  igual,  deve-se  solicitar 
pesquisar BCR+ABL por banda G ou FISH. 
 
DIAGNÓSTICOS PROVÁVEIS: 
→ infecção  
→ CA de pulmão 
→ síndromes mieloproliferativas  
 
CONDUTA: 
→ repetir exames  
→  se  leucocitose  sustentada,  e  sem  sintomatologia,  encaminhar  pro  hematologista,  pesquisar 
BCR+ABL 
 
Obs:  a  anticoagulação  é  sempre  feita  em  pacientes  com  plaquetas  acima  do  LSN  e  hemácias  acima 
do LSN, prosseguindo com monitoramento por exame. 
 
Aula (01/11): Gamopatias Monoclonais - Prof. Marilza (assíncrona) 
 
GAMOPATIAS MONOCLONAIS 
São  condições  benignas  ou  malignas de ​produção desproporcional, pelos plasmócitos, de um único 
componente  proteico  gamaglobulinêmico  em  detrimento  de  outros  da  mesma  categoria​.  Tem 
comportamento clonal de linhagem diferenciada linfocitária B.  
Pode  se  expressar  pela  presença da molécula inteira da imunoglobulina ou de seus fragmentos no 
sangue e na urina​.  
 

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As  gamopatias  monoclonais  são  um  grupo  de desordens associadas com proliferação monoclonal de 


plasmócitos,  sendo  ​também  conhecidas  como  paraproteinemias,  disproteinemias  ou 
imunoglobulinopatias​.  
Caracterizam-se  pela  produção e secreção de uma proteína monoclonal - imunoglobulina (Ig) - ou um 
fragmento  de  Ig.  A  ​imunoglobulina  monoclonal  também  é  chamada  de  proteína  M,  pico  M  ou 
paraproteína​.  
A  Ig é composta por duas cadeias polipeptídicas pesadas da mesma classe e subclasse (IgG, IgA, IgD, 
IgE e IgM) e duas cadeias polipeptídicas leves do mesmo tipo (kappa ou lambda).  
A  confirmação  da  presença  da  proteína  monoclonal  é  essencial  para  diferenciar  as  gamopatias 
monoclonais  das  gamopatias  policlonais,  uma  vez  que  as  primeiras  são  entidades  neoplásicas  ou 
potencialmente neoplásicas enquanto as últimas resultam de processos inflamatórios ou infecciosos. 
 
São chamadas de ​discrasias plasmacíticas​, visto que fogem da normalidade esperada do plasmócito: 
➢ Proliferação  potencialmente  maligna ou maligna de linfócitos e plasmócitos dentro da medula 
óssea. Essas células acometidas vão levar à: 
➢ Produção  e  secreção  de  proteína  monoclonal  em  estrutura  completa  (componente  M)  ou 
de seus fragmentos (cadeia pesada e cadeias leves - kappa e lambda)​. 
 

 
 
Fisiopatogenia  
A  partir  de  fatores  ambientais,  como  determinantes  genéticos,  estimulação  antigênica,  irradiação  e 
drogas,  a  mutação  gênica  ocorre.  Esta,  em  associação ao microambiente da medula óssea, acaba por 
gerar clones de células anormais.  
A  eletroforese  de  proteínas  consegue  mostrar  a  proporção  de  cada  proteína  no  sangue,  a  partir  da 
maior  proporção  de  cadeia  alfa,  beta  e  gama  de  cada  uma.  Na  região  das  imunoglobulinas  (região 
final  da  curva),  o  normal  é  ter  base  mais  alargada  (que  começa  na  IgM  e  vai  até  a  IgG)  e  o  topo  da 
curva  é  mais  ovalado/achatado  (conforme  mostrado  abaixo),  já  que  a  região é formada pela soma de 
todas as frações de imunoglobulinas, que, em conjunto, formam a curva das imunoglobulinas. 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
 
Em  eletroforeses  anormais  de  gamopatias  monoclonais,  a  base  da  curva  (gama)  é  estreita 
(demonstrando  não  haver  a  contribuição  de  vários  componentes  de  imunoglobulinas)  e  o  seu topo é 
alto  e  também  estreito,  em  forma  de  agulha,  configurando  o  ​pico  monoclonal  gama​, que demonstra 
que  aquela  curva  é  formada  majoritariamente  por  apenas  uma  classe  de  imunoglobulina.  Abaixo,  a 
ilustração de uma eletroforese anormal, ao lado de uma normal para título de comparação.  

 
A eletroforese só é capaz de demonstrar que há um pico gama ocorrendo, sem, contudo, conseguir 
discernir qual imunoglobulina está sendo responsável pelo pico. Já a imunoeletroforese é capaz de 
diferenciar as classes de Ig.  
 
Principais Gamopatias Monoclonais 
● Mieloma Múltiplo​: carro-chefe 
● Plasmocitoma​:  é  um  mieloma  múltiplo concentrado em uma massa 
tumoral única 
● Leucemia  de  Células  Plasmáticas​:  ao  contrário,  é  o  mieloma 
múltiplo disseminado 
● Macroglobulinemia de Waldenstrom​: um linfoma 
● Doença da Cadeia Pesada ​(de Franklin) 
● Amiloidose Sistêmica​ (Primária) 
● Gamopatia Monoclonal de Significado Indeterminado (maioria dos 
casos) 
 
26%  dos  pacientes  com  gamopatia  monoclonal  indeterminada  evoluem  para  uma  das  formas 
determinadas  (maioria  para  mieloma,  mas  também  pode  evoluir  para  linfoma,  amiloidose, 
macroglobulinemia).  

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A  maioria  dos  pacientes,  independente  da  gamopatia  que  apresentam,  cursam  com  pico  de  IgG​, 
como mostra o gráfico acima.  
 
Suspeita Diagnóstica 
Ao  se  detectar  a  presença  de  um  pico  monoclonal,  deve-se  pesquisar  se  há  algum  dano  orgânico 
associado  a  esta  gamopatia.  Caso  haja,  devemos  prosseguir  como  um  caso  de  mieloma  múltiplo 
sintomático.  Caso  não  haja,  devemos  avaliar  os  níveis  de  proteína  M e plasmócitos da medula óssea, 
para discernir entre uma gamopatia indeterminada ou um mieloma múltiplo assintomático:  

 
 
 
Gamopatia Monoclonal de Significado Indeterminado 
É a gamopatia mais comum.  
A  proteína  M  predominante  na Gamopatia Monoclonal de Significado Indeterminado é a IgG (55,5%), 
seguida da IgM (20%), IgA (10%), biclonal (8%), cadeia leve (6%) e IgD (<0,5%). 
 
Diagnóstico 

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1.  Nas  GMSI,  a  imunoglobulina  ou  seus  fragmentos  são  produzidos  de  forma  anormal,  mas 
essa  produção  não  atinge  um  nível  alto  compatível  com  o  diagnóstico  de  mieloma  múltiplo 
(abordado mais à frente).  
2. Talvez o critério mais pronunciado.  
3.  Esses  critérios  condizem  com  ausência  de  dano  orgânico  associado  à  gamopatia,  que 
caracteriza a GMSI.  
 
Esses  pacientes  precisam  ser  monitorados  hematologicamente  durante  toda a vida, haja vista o risco 
de  evoluir  com  formas  determinadas,  as  quais  produzem  danos  orgânicos  que  podem  inclusive  ser 
fatais. 
Um  dos  grandes  desafios  da  prática  clínica  é  determinar  a  diferenciação  entre  MM  e  MGUS  em 
pacientes  com  comprometimento  dos  órgãos  por  outras  patologias,  como,  por  exemplo:  lesão 
óssea  por  osteoporose,  lesão  renal  por  hipertensão  arterial  ou  diabetes  e  hipercalcemia  por 
hiperparatireoidismo. 
 
Mielomas 
Os  mielomas  acontecem  quando  as  células  plasmáticas,  se  multiplicando  de  forma  anormal  e clonal, 
produzem  uma  proteína  anormal  (anticorpo)  conhecida  por  vários  nomes,  incluindo  imunoglobulina 
monoclonal, proteína monoclonal (proteína M), espícula M ou paraproteína​. 
Há vários tipos: 
1. Mieloma Múltiplo Sintomático​: é o mieloma múltiplo clássico 
2. Mieloma Múltiplo Indolente​ ou​ Assintomático​ ​ou​ Smoldering  
3. Mieloma  Múltiplo  Solitário  ​ou  ​Plasmocitoma  ​ou  ​Extramedular​:  é  o  mieloma  múltiplo 
localizado, isolado fora da medula  
4. Leucemia de Células Plasmáticas​: é o mieloma múltiplo disseminado na corrente sanguínea 
 
Mieloma Múltiplo Indolente ou Assintomático (Smouldering Multiple Myeloma - SMM) 
É  o  meio  do  caminho  entre  a  gamopatia  monoclonal  indeterminada  em  evolução  para  mieloma 
múltiplo; ou seja, ainda não se apresenta como um mieloma clássico.  
O  mieloma  smoldering  possui  as  alterações  laboratoriais  em  medula  do  mieloma  múltiplo  sem, 
contudo, apresentar as implicações orgânicas do MM.  
É  importante  realizar  a  distinção  entre  a  GMSI  e  o  SMM  porque  a  primeira  apresentação  tem  uma 
progressão  muito  lenta  e  possui  probabilidade  igualmente  lenta  e  baixa  de  se  transformar  num 
mieloma  múltiplo  pronunciado,  enquanto  que  o  mieloma  indolente  já  tem  um  caráter  de  progressão 
mais rápida, com alta probabilidade de evoluir para um mieloma múltiplo (vide gráfico).  
 

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O  ​Mieloma  Indolente​,  sendo  uma  entidade  à  parte  dos  mielomas,  possui  ​critérios  diagnósticos 
diferentes: 
1.​ Células plasmáticas monoclonais na medula óssea e/ou em biópsia de tecidos 
2​. Proteína monoclonal presente no soro sanguíneo e/ou na urina  
3.  Ausência  de  critérios  diagnósticos  para  mieloma  múltiplo,  gamopatia  monoclonal  de  significado 
indeterminado ou plasmocitoma solitário de osso ou partes moles.  
Obs:  o  mieloma  indolente  possui  as  alterações  do  mieloma  múltiplo  sem,  contudo,  apresentar  as 
alterações orgânicas dos órgãos-alvo.  
 

 
 
Mieloma Múltiplo Sintomático/Clássico 
É  uma  desordem  incurável  caracterizada  pela  proliferação  de  plasmócitos  clonais,  que  produzem  e 
secretam  Ig monoclonal ou fragmento de Ig monoclonal, marcada por destruição óssea, falência renal, 
anemia e hipercalcemia, freqüentemente precedida por GMSI. 
A  etiologia  é  desconhecida,  porém  a  exposição  a  radiações,  benzeno  e  outros  solventes  orgânicos, 
inseticidas e herbicidas pode ter importância. 
O  tipo  mais  frequente  é  o  mieloma  múltiplo  secretor  de  ​proteína  M  tipo  IgG  (53%),  seguida  de  IgA 
(21%), cadeia leve (16%), IgD (2%), biclonal (2%) e IgM (0,5%). 
 
Critérios diagnósticos  
Todos os 3 devem estar presentes: 

 
Obs: visto que o mieloma possui maior prevalência em idades > 50 anos, diante de um paciente 
idoso com osteoporose, independente de haver lesão lítica ou não, é importante realizar um 
screening para pesquisar se aquela disfunção óssea não é fruto de um mieloma.  

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
Há, ainda, algumas​ considerações diagnósticas​: 
1​.  Para mielomas não secretores, as células plasmáticas monoclonais na medula óssea precisam estar 
num  nível  superior  ao  corte considerado para o mieloma múltiplo secretor (> ou = 10%), isto é, > ou = 
a 30%.  
2.  Se  lesão  tumoral  solitária  (plasmocitoma)  ou  osteoporose  sem  lesões  líticas  =  as  células 
plasmáticas  monoclonais  da  medula  óssea  também  precisam  estar  num  ponto de corte superior, isto 
é, serem > ou = a 30%.  
3.  Quando  for  indicado  o tratamento, é preciso pesquisar se não há outros sítios, além do mnemônico 
CRAB, acometidos.  
4.  A  maioria  das  células  plasmáticas  da  MO  (mais  de  90%  delas)  precisam  apresentar  um 
imunofenótipo neoplásico, com marcadores positivos CD19, CD38 e CD56. 
5. Como abordado na página anterior, o mieloma smoldering possui critérios diagnósticos à parte. 

 
 
As ​formas raras​ do MM abrangem: 
➢ MM secretor de IgD 
➢ MM secretor de IgE 
➢ MM secretor de IgM 
➢ MM não-secretor 
 

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Quadro Clínico do Mieloma Múltiplo Sintomático 

 
 
Diagnóstico do Mieloma Múltiplo Sintomático 
● História Clínica e Exame Físico 
● Laboratório: 
1. hemograma completo​: pode demonstrar anemia e plaquetopenia 
2. VHS​:  acelerado.  O  número  de  proteínas  (Ig) no sangue é tão grande, que fazem rapidamente 
as  hemácias  se  sedimentarem  no  tubo,  criando  um  verdadeiro  peso  em  cima  da  massa 
eritrocitária (por isso a velocidade de hemossedimentação é acelerada).  
3. LDH​: em doenças que afetam células linfoides, o LDH sempre se mostra aumentado.  
4. cálcio​: hipercalcemia pela destruição óssea 
5. ureia, creatinina​: altas devido à disfunção renal 
6. soro e urina:  
a. eletroforese  de  proteínas  (mostra  o  pico  monoclonal,  sem  diferenciar  qual  Ig 
envolvida) 
b. dosagem de imunoglobulinas​ (no sangue) 
c. imunoeletroforese  (diferencia  qual Ig e qual cadeia se for IgG é responsável pelo pico 
monoclonal) 
7. dosagem de beta-2-microglobulina​: fragmentos de proteína no sangue 
8. avaliação óssea​:  
a. raio X c​ omo primeira abordagem  
b. TC  para  complementar  o  raio  X  caso  seja  vista  alguma  alteração  digna  de  maiores 
esclarecimentos  
c. PET-TC​ com baixa dose para acompanhar os pacientes submetidos ao tratamento 
9. estudo  da  medula  óssea  ​(fecha  o  diagnóstico):  aspirado  de  medula  óssea  ou  biópsia  de 
medula óssea (histológico, citológico, imunofenotipagem e citogenético) 
 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
Essas lesões osteolíticas, em saca bocado, podem inclusive gerar fraturas 
espontâneas. Isso é resultado da liberação de fatores, a partir das células 
monoclonais, que estimulam a reabsorção óssea.  
 
Associação de Gamopatias Monoclonais com Outras Condições Clínicas 
 

 
Assim,  quando  um  paciente  é  diagnosticado  com  alguma  gamopatia  monoclonal,  é  importante  pesquisar  se  há 
alguma dessas doenças associadas.  
 
 
 
 
 

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Estadiamento das Gamopatias Monoclonais 


O primeiro a ser criado foi o ​Sistema de Durie e Salmon​: 

 
 
Depois, quando foram descobertas as implicações genéticas da doença, outro s​ istema (de Mayo)​ foi criado: 

 
Obs:  a  deleção  do  cromossomo  17  é  preditora  de  pior  prognóstico  e  maior 
malignidade.  
 
É  preciso  que,  em casos de pacientes diagnosticados com mieloma múltiplo, se faça pesquisa citogenética de 
deleção  de  cromossomo 17 (por método FISH), haja vista sua maior implicação em um desfecho desfavorável 
e uma sobrevida menor.  
 
Outros  sistemas  foram  sendo  criados  com  o  passar  do  tempo  e  com  a  maior  descoberta  de  repercussões  do 
mieloma no organismo. Um exemplo é o ​Sistema de Palumbo​: 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

O  estadiamento atual é o do Sistema Internacional de Estadiamento do Mieloma Múltiplo que, como diferencial, 
além  de  considerar  os  níveis  de beta-2-microglobulina para realizar o estadiamento, também considera os níveis 
de  albumina,  já  que  se  foi  comprovado  que  indivíduos  com  mieloma  múltiplo  e  baixos  níveis  de  albumina 
possuem prognóstico pior.  

 
 
 
Macroglobulinemia de Waldenström 
É uma doença linfoplasmacítica associada à imunoglobulina ​IgM monoclonal. 
Trata-se  na  verdade  de  um  linfoma  que  atinge  a  célula  linfoplasmocítica,  ou  seja,  uma célula que não deixou de 
ser linfócito, mas não se diferenciou de forma a se tornar totalmente um plasmócito, ficando no meio do caminho. 
É  ​bem  diferente  do  mieloma  por  ser  um  linfoma;  sua  apresentação  inclui  aumento  dos  órgãos linfoides​, como 
linfonodos,  fígado  e  baço.  Além  disso,  ao  invés  de  cursar  com  osteólise,  cursa  com  ​osteosclerose  ​(aumento 
anormal da densidade óssea, devido à substituição de osso trabecular/saudável por osso compacto, mais pesado, 
menos  maleável,  que vai atrofiando a medula óssea). É PanB+​, já que é uma célula linfoplasmocítica, diferente do 
mieloma.  

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Síndrome de POEMS ou Mieloma Osteoesclerótico 


● É uma síndrome que, dentro de suas apresentações, abrange as gamopatias monoclonais. 
● É responsável por 1% dos casos de gamopatias monoclonais.  
● É  resultado  de  uma  produção  excessiva  de  interleucinas,  principalmente  nos  leitos  vasculares,  resultando 
em múltiplas lesões orgânicas.  
 
A  síndrome  de  POEMS  é  uma  entidade clínica única definida pela presença concomitante de doença monoclonal 
de  plasmócitos,  polineuropatia  periférica  e  outras  manifestações  paraneoplásicas  tais  como  organomegalias, 
endocrinopatias,  alterações  cutâneas,  papiledema,  lesões  osteoescleróticas  e  sobrecarga  de  volume 
extravascular.  Para o diagnóstico da doença não é necessária a presença de todas as manifestações relacionadas 
e o reconhecimento precoce desta patologia é importante para reduzir a morbidade. 
O diagnóstico é dado na presença de ​2 critérios maiores + 1 critério menor: 
 

 
 

 
Assim,  diante  de  um  paciente  que  se  apresenta  com  pico  monoclonal  de  plasmócitos,  apresentando  essas 
manifestações, fecha-se o diagnóstico de POEMS.  
 

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Amiloidose Sistêmica Primária 


A amiloidose é uma doença rara em que proteínas dobradas de forma anormal formam fibrilas de amiloide que se 
acumulam em vários tecidos e órgãos, às vezes levando à disfunção ou insuficiência do órgão e morte. 
 
● É  uma  discrasia  de  célula  plasmática  com  envolvimento  multissistêmico,  progressão  rápida  e  sobrevida 
curta.  
● As  fibrilas  de  amiloide,  na  amiloidose  sistêmica  primária, são compostas de cadeia leve monoclonal. A mais 
encontrada é a lambda, numa proporção de 2:1 em relação à kappa.  
● É  uma  ​doença  resultante  do  depósito  das  cadeias  leves  monoclonais  nos  tecidos  (há  outros  tipos  de 
amilodose que cursam com depósito de cadeias pesadas e outras imunoglobulinas).  
● Os p
​ rincipais sítios acometidos são os rins, o fígado, o coração e os nervos periféricos.  
● Usualmente  afeta  indivíduos  com  mais  de  40  anos  de  idade,  é  mais  frequente  em  homens  (65%)  e  os 
sintomas e sinais são frequentemente inespecíficos, tais como fraqueza, fadiga e perda ponderal. 
Obs: a cadeia leve é composta pelas porções lambda e kappa.  
 

 
 

 
 
 
 
 
 
 
 

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Fluxograma de Conduta para Gamopatias Monoclonais 

 
 
Tratamento Adjuvante das Gamopatias Monoclonais 
É o tratamento direcionado para os danos orgânicos (do mnemônico CRAB) encontrados no paciente: 

 
 
Tratamento Específico das Gamopatias Monoclonais 
Não  é  curativo,  já  que  as  gamopatias  não  possuem  cura,  a  salvo  o  ​transplante de medula óssea, que é o único 
tratamento atual com possibilidade curativa​.  
São  tratamentos  direcionados  para  a  medula  óssea,  haja  vista  ela  ser  o  sítio  primário  e  produtor  das  células 
clonais e de seus fragmentos.  

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Bom para estudo: ​https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-84842007000100005  
 
Questionário para ser respondido na aula prática: 
 
1) Existem os Mielomas Múltiplos secretores de IgD e IgE? 
Sim, contudo são condições raras. 
O  subtipo  IgD  corresponde  a  2%  dos  casos  de  MM  e  caracteriza-se  por  apresentar  pequeno pico monoclonal à 
eletroforese  de  proteínas  séricas.  Clinicamente  assemelha-se  ao  MM  de  cadeia  leve,  por  apresentar  alta 
incidência  de  insuficiência  renal  e  associação  com  amiloidose.  O  envolvimento  extramedular  está  presente  em 
19%-27%  dos  casos.  Estudos  têm  mostrado  que  o  MM  IgD  confere  menor  sobrevida  quando  comparado  a 
outros tipos de MM. 
O  MM  IgE  é  uma  forma  muito  rara  de  apresentação  do  MM  e  associa-se  com  maior  frequência  à  leucemia  de 
células plasmocitárias. 
São mielomas raros e de mau prognóstico.  
 
2) Existe Mieloma Múltiplo tipo IgM? 
Sim, porém é muito raro.  
Tipo  raro  de  MM,  responsável  por  apenas  0,5%  dos  casos.  A  dor  óssea  é  o  sintoma  mais  comum,  o  que  o 
diferencia  clinicamente  da  macroglobulinemia  de  Waldenström.  A  medula  óssea  é  infiltrada  por  plasmócitos 
pequenos,  os  níveis  de  IgG  e  IgA  policlonais  são  mais  baixos  que  nos  outros  subtipos  e  há  alta  incidência  de 
translocação (11;14). 
 
3) O que é a beta-2-microglobulina? 
A  beta-2-microglobulina  (b2M)  é  uma  proteína de membrana de baixo peso molecular associada com as cadeias 
pesadas  de  proteínas  do  Complexo  de  Histocompatibilidade  I  (MHC  I),  presente  na  membrana  de  todas  as 
células  nucleadas,  principalmente  linfócitos.  Por  causa  de  seu  pequeno  tamanho,  é  capaz  de  atravessar  a 
membrana glomerular, sendo quase que completamente reabsorvida nos túbulos proximais. 
 
Ela  é  encontrada  em  baixas  concentrações,  no  plasma,  urina  e  líquor.  Porém,  há aumento de seus níveis séricos 
em  doenças  associadas  ao  aumento  da  renovação  celular.  Aumenta  em  doenças  benignas  como  inflamação 
crônica,  doença  hepática,  disfunções  renais,  algumas  infecções  virais,  entre  outros.  Entre  as  doenças  malignas, 
está aumentada em pacientes com leucemias, linfomas, Mieloma Múltiplo (MM) e alguns tumores sólidos. 
 
A  b2M  não  é  patognomônica  de  nenhuma  doença,  portanto  não  serve  como  marcador  para  o  diagnóstico 
específico. Porém, a importância de sua dosagem está na determinação de prognóstico. 
 

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Em  pacientes  com  doença  renal,  níveis  séricos  aumentados  de  b2M  com  níveis  urinários  baixos  indicam  que  o 
distúrbio  está  associado  aos  glomérulos.  Se  a  b2M  estiver  baixa  no  soro  e  elevada  na  urina,  provavelmente  o 
indivíduo apresente lesão ou doença nos túbulos renais. 
 
No  MM,  é  utilizada  como  um  fator  prognóstico  poderoso,  e  valores  <  4  mcg/mL  são  considerados  como  bom 
prognóstico.  Também  é  utilizada  como  critério  de estadiamento nessa doença e, periodicamente, para monitorar 
a efetividade do tratamento. 
 
4) A Síndrome de Hiperviscosidade é mais comum em qual tipo de mieloma? 
Pode  estar  presente  em  qualquer  mieloma,  mas  é  mais  comum  no  mieloma  de  IgM  (que  é  um  mieloma  raro), 
devido ao peso da molécula que é muito grande (a maior imunoglobulina).  
 
5) Qual o exame diagnóstico mais importante para definição diagnóstica das gamopatias monoclonais? 
Estudo de medula óssea, através de aspirado ou biópsia, com mielograma (principalmente) e imunofenotipagem. 
É o encontro de células plasmáticas na medula óssea que faz o diagnóstico.  
É  ​necessário  haver  estudo  de  medula  óssea​,  porque  a  eletroforese  de  proteína  e  a  imunoeletroforese  de 
proteína  pode  mostrar  um  pico  monoclonal,  mas  pode  não  ser  mieloma.  Por  isso  precisa  ver  a  medula.  Além 
disso, em casos de mielomas não-secretores, a eletroforese pode vir normal.  
 
6) O que é a Macroglobulinemia de Waldenström? 
É uma doença linfoplasmacítica associada à imunoglobulina IgM monoclonal. 
A  macroglobulinemia  de  Waldenstrom, também conhecida como linfoma linfoplasmocitário, é um tipo de linfoma 
não Hodgkin, em que as células cancerígenas produzem grandes quantidades da proteína macroglobulina. 
 
A  macroglobulinemia  de  Waldenstrom  é um tipo de câncer que começa nas células B. As células cancerosas dos 
pacientes  com  macroglobulinemia  de  Waldenstrom  são  semelhantes  aos  do  mieloma  múltiplo  e  do linfoma não 
Hodgkin.  O  mieloma  múltiplo  é  considerado  um  câncer  das  células  plasmáticas  e  o  linfoma  não  Hodgkin  dos 
linfócitos.  As  células  da  macroglobulinemia  de  Waldenstrom  têm  características de ambas as células e linfócitos 
e são denominadas​ linfoplasmocitárias​. 
 
As  células  da macroglobulinemia de Waldenstrom produzem grandes quantidades de um certo tipo de anticorpo 
(imunoglobulina  M,  ou  IgM),  que  é  conhecido  como  macroglobulina.  Cada  proteína  produzida  pelas  células  da 
macroglobulinemia  de  Waldenstrom  é  a  mesma,  ou seja, é uma proteína monoclonal ou apenas uma proteína M. 
O  acúmulo  da  proteína  M  no  organismo  pode  levar  a  muitos  dos  sintomas  da  macroglobulinemia  de 
Waldenstrom, incluindo hemorragia, problemas de visão e problemas do sistema nervoso. 
 
As  células  da macroglobulinemia de Waldenstrom crescem principalmente na medula óssea, onde se aglomeram 
as  células  normais  que  formam  os  diferentes  tipos  de  células  sanguíneas.  Isso  pode  provocar  diminuição  dos 
glóbulos  vermelhos  (anemia),  que  faz com que as pessoas se sintam cansadas e fracas. Ela também pode causar 
diminuição  dos  glóbulos  brancos,  o  que  torna  difícil  o  combate  às  infecções.  O  número  de  plaquetas  também 
pode cair, provocando um aumento de sangramentos e hematomas. 
 
As  células  do  linfoma  também  podem  se  desenvolver  em  órgãos,  como  o  fígado  e  baço,  provocando  inchaço  e 
consequentemente dores abdominais. 
 
7) O que é a proteína p53? 
A  p53  é  um  gene  supressor  tumoral,  que  codifica  uma  fosfoproteína  nuclear  que  desempenha  um  papel 
importante  no  controle  do  ciclo  celular,  no  reparo  do  DNA  e  na  indução  da  apoptose.  Em  condições  de  stress, 
particularmente  por  indução  de  dano  no  DNA,  a  proteína  p53  bloqueia  o ciclo celular, permitindo dessa forma o 

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reparo  do  DNA  ou  promovendo  a  apoptose.  Estas  funções  são  efetuadas  pela  capacidade  transcricional  da 
proteína  p53  que  ativa  uma  série  de  genes  envolvidos  na  regulação  do  ciclo  celular.  A  forma  mutada  da  p53  é 
incapaz de controlar a proliferação celular, resultando em reparo ineficiente do DNA e na emergência de células 
geneticamente  instáveis.  As  alterações  mais  comuns  nas  neoplasias  são  mutações  pontuais  dentro  das 
seqüências  codificantes  deste  gene.  Nas  hemopatias  malignas,  estas  mutações,  freqüentemente  do  tipo 
pontuais,  têm  sido  observadas  com  menor ocorrência do que em tumores sólidos. Nas neoplasias hematológicas 
estas  alterações  são  mais  observadas  na  crise  blástica  da  leucemia  mielóide  crônica,  progressão  da  síndrome 
mielodisplásica  para leucemia mielóide aguda, na transformação do linfoma folicular para linfoma de alto grau, na 
evolução da leucemia linfóide crônica para síndrome de Richter e recorrência de leucemias agudas. 
https://rbc.inca.gov.br/site/arquivos/n_48/v03/pdf/revisao3.pdf  
 

 
 
Aula (04/11): Casos Clínicos de Gamopatias Monoclonais - Prof. Marilza (síncrona) 
Caso Clínico 1 

 
 

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Todo  idoso  com  dor  óssea  e  síndrome  anêmica  precisamos  solicitar  eletroforese  de  proteínas  e  radiografia  do 
local da dor óssea. 
As  gamopatias  de  cadeia  leve  geralmente  não  geram  picos  monoclonais,  porque  as  cadeias  leves  das 
imunoglobulinas  são  liberadas  na  urina.  Assim,  a  eletroforese  de proteínas pode vir normal e a doença só vai ser 
acusada se for feita uma imunoeletroforese urinária. 
→  a  imunoeletroforese  de  sangue  pode  até  ajudar  um  pouco  no  esclarecimento,  mas  o  melhor  é  uma 
imunoeletroforese urinária.  
→  A  proteína  de  Bence  Jones  é  uma  proteína  monoclonal  ou  imunoglobulina  de  cadeia  leve  encontrado  na 
urina,  com  um  peso  molecular  de  22  a  24  kDa.  A  presença  da  proteína  de  Bence  Jones  na  urina  pode  ser 
sugestiva de mieloma múltiplo ou Macroglobulinemia de Waldenstrom. 
 

 
 
As anormalidades começaram a acontecer entre março e setembro de 2020. 
A  anemia  presente  nas  gamopatias  monoclonais  é  anemia  de  doença  crônica,  ou  seja,  anemia  normocrômica 
normocítica.  Por  isso  tem  queda  de  hemoglobina  e hematócrito porém com VCM (tamanho) e CHCM (coloração) 
normais. 
O  reticulócito  indica  se  a  medula  óssea é regenerativa, se tem capacidade de multiplicação e proliferação celular. 
Os reticulócitos desse paciente estão normais.  
 
Outros exames: 

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Quando  o  paciente  apresentou  as  lesões  ósseas  líticas,  foram  pedidos  os  exames  (setembro/2020)  que 
constataram: 
→ hipercalcemia 
→ proteínas aumentadas no hepatograma 
→ bilirrubina indireta aumentada no hepatograma 
→ beta-2-microglobulina aumentada 
→ IgG muito aumentada 
→ ureia e creatinina aumentadas → acometimento renal 
→ ácido úrico elevado 
→ LDH discretamente elevada 
 
Entre  os  dois  exames(setembro  e  outubro), o paciente foi medicado para reduzir a calcemia, por isso os níveis de 
cálcio  reduziram,  porque  senão  ele  entraria  em  insuficiência  renal franca já que sua ureia e creatinina já estavam 
aumentadas. Quando houve correção da calcemia, ocorreu também melhora dos padrões de creatinina e ureia.  
→  essa  correção  é  feita  com:  hidratação  +  corticoide  (aumenta  a  excreção  de  cálcio  pela  urina)  +  bifosfonato 
(medicação mensal que aumenta a captação de cálcio para dentro do osso). 
 
A  maioria  dos  pacientes  com  mieloma  múltiplo  chegam  ao  hematologista  a  partir  do  encaminhamento  do 
nefrologista.  
 
A principal suspeita diagnóstica aqui é mieloma múltiplo (critérios CRAB vistos no exame).  
 

 
os valores normais de IgG vão até 1.600; nosso paciente tem mais de 11.000 

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Valores de albumina normais → já guardamos essa informação para posterior estadiamento do mieloma. 
Presença de pico monoclonal. 
 

 
 
Gamopatia monoclonal IgG cadeia Kappa.  
 
Seguimento com mielograma:  

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Granulócitos (neutrófilos, basófilos, eosinófilos e mastócitos). 
Agranulócitos (monócitos e linfócitos). 
 
Devemos ler: granulócitos → eritrócitos  
O normal é a relação 2 granulócitos para 1 eritrócito.  
Nesse exame, os granulócitos está muito muito muito mais aumentados que a série eritrocítica.  
Plasmócitos muito aumentados. 
 

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Obs: dentro mesmo da medula, mesmo que seja o local de produção de células, as células novas são apenas 5%.  
 

 
→ relação granulo/eritro: aumentada, o normal é 2:1 , aqui está 3:1  
→ 37% de plasmócitos displásicos (> 10% é o critério). 
→  Padrão  heterogêneo  de  distribuição  plasmocitária  (células  plasmáticas)  =  ou  seja,  muitos  plasmócitos 
displásicos com alguns plasmócitos normais.  
 
Citometria de fluxo do aspirado de medula óssea 

 
 

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Na  citometria,  usa-se  anticorpos  marcados  típicos  da  célula  que  desejamos  testar.  Os  antígenos  estudados  a 
partir  dos  anticorpos  administrados  estão  listados  na parte de cima do exame, de acordo com a linhagem celular 
(linhagem linfoide e linhagem mieloide). 
  
Este exame permitiu perceber que há células plasmáticas normais em meio às células displásicas.  
 

 
28% são células plasmocitárias = >10% concordante com mieloma múltiplo.  
 
Seguimento com cariotipagem por banda G: 

 
Exame normal = nenhuma alteração que justifique sua colocação em grupo de mau prognóstico.  
É importante dar seguimento com FISH (foi solicitado). 
 
Estadiamento do mieloma múltiplo: 

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1) Pelo sistema de Durie e Salmon = estádio III 
2) Pelo sistema de Palumbo = estádio II (porque o paciente não tem risco citogenético, como visto pelo cariótipo) 
3)  Pelo  sistema  internacional  =  estádio  III  (prognóstico  ruim  pela  alta  beta-2-microglobulina,  que  do  paciente  é 
maior que 11) 
 

 
A  deleção  do  cromossomo  p16  pode  passar  batido  pela  cariotipagem,  por  isso  precisa  de  verdade  realizar  o 
FISH. Essa pesquisa genética é importante porque influi diretamente no prognóstico.  
→  ​tanto  as  deleções  do  cromossomo  16  quanto  do  cromossomo  17  indicam  mau  prognóstico  do  paciente 
com mieloma.  
→ a deleção do 16 tende a ser pior que a deleção do 17, mas as duas influem no prognóstico de forma ruim.  
 

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Após  o  tratamento,  as  mudanças  dos  parâmetros  influem  numa  melhora  do  estadiamento  do  paciente  e, 
consequentemente, melhora do seu prognóstico.  
 
Caso Clínico 2 

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Sem aumento da proteína M. 
Beta-2 inalterada.  
VHS, ureia, creatinina, hematócrito todos normais.  
Suspeita de gamopatia monoclonal de significado indeterminado, pois possui todos os critérios abaixo listados: 
 

 
 

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Aula (04/11): Leucemias Agudas - Prof. Marilza (assíncrona) 
 
LEUCEMIAS AGUDAS 
Na medula óssea, há três compartimentos celulares bem divididos: 
1) pool de células progenitoras: com alta capacidade de se proliferar 
2) pool de células no caminho da diferenciação 
3) pool de células já diferenciadas 
O  pool  de  células  acometido  pelas  leucemias  agudas  são  o  ​pool  de  células  proliferativas  (progenitoras)​, 
caracterizando uma doença clonal.  
É uma doença muito grave, cursando com ​altos níveis de células blásticas​.  
 
Na leucemia, uma célula sanguínea que ainda não atingiu a maturidade sofre uma mutação genética que 
a  transforma  em  uma  célula  cancerosa.  Essa célula anormal não funciona de forma adequada, multiplica-se mais 
rápido  e  morre menos do que as células normais. Dessa forma, as células sanguíneas saudáveis da medula óssea 
vão  sendo  substituídas  por  células  anormais  cancerosas.  Nas  leucemias  agudas,  essa  substituição  ocorre muito 
rápido,  restando  pouquíssimas  células  normais  capazes  de  desempenhar  suas  funções  fisiológicas;  assim,  o 
paciente  rapidamente  evolui  para  gravidade.  Nas  leucemias  crônicas, a substituição ocorre de forma lenta, ainda 
havendo células capazes de realizar suas funções fisiológicas, tendo um curso mais arrastado e menos súbito.  
As  leucemias  agudas  podem ter origem num progenitor mieloide (dá origem às linhagens de hemácias, 
plaquetas e leucócitos) ou num​ progenitor linfoide​ (dá origem a linfócitos B e T).  
 
Leucemia Linfoide Aguda 
Possui  maior  incidência  em  crianças  entre 1 e 4 anos. Em adultos, há menor incidência – menos de 20% -, a qual 
aumenta em indivíduos após os 40 anos. 
Em  uma  medula  saudável,  as  células-tronco  tornam-se  maduras  e  adultas  por  meio  do  processo  chamado 
diferenciação.  Na  leucemia  linfoide  aguda  (LLA) surge um linfócito imaturo e danificado na medula óssea, devido 
a  um  erro  em  seu  material  genético  (DNA).  Esses  erros  genéticos  podem  dar  origem  a  uma  célula  blástica 

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leucêmica  (linfoblasto  ou  blasto  leucêmico) que fica parada nos primeiros estágios do desenvolvimento celular. A 


célula blástica imatura não amadurece e não se transforma em uma célula sanguínea funcional. 
Os  erros  genéticos  fazem  com  que  a  célula  mutante  cresça  e  se divida continuamente, ao passo que uma célula 
saudável,  cessa de se dividir e acaba morrendo. Cada linfoblasto que surge, depois do aparecimento da leucemia, 
tem  o  DNA  mutante  e  se  multiplica  incontrolavelmente.  Os  blastos  leucêmicos  rapidamente  se  acumulam  na 
medula óssea, suprimindo o desenvolvimento de células sanguíneas normais e saudáveis. Como resultado, há um 
acúmulo de linfoblastos que não funcionam e poucas células sanguíneas maduras. 
Acredita-se  que  seriam  necessários  dois  erros  genéticos  para  o  surgimento  da  Leucemia  Linfóide  Aguda.  A 
primeira  ocorreria  antes  do  nascimento (vida intrauterina) e a segunda seria desencadeada por um desarranjo do 
sistema imunológico após exposição a infecções durante a infância. 
 
Leucemia Mieloide Aguda 
Ocorre com maior frequência em​ indivíduos acima de 65 anos​. 
A  LMA  é  um  câncer  da  linhagem  mieloide  dos  glóbulos  brancos  que  se  caracteriza  pela  rápida  proliferação  de 
células  anormais  e  malignas  -  os  blastos  -  que  não  amadurecem,  não  desempenham  sua  função  e  ainda  ​se 
acumulam  na  medula  óssea,  interferindo na produção normal de outras células sanguíneas​. É o tipo mais comum 
de leucemia aguda que afeta adultos, e sua incidência aumenta com o envelhecimento. 
https://www.sanarmed.com/diferenca-leucemia-mieloide-aguda-ou-linfoide-aguda-ligas  
 
Formas de desencadeamento 
1) De novo​: sem indução conhecida, a mutação ocorre por causa idiopática.  
2)  Secundária  a  uma  doença  hematológica  prévia​:  mielodisplasias,  anemia  aplástica,  linfomas,  leucemia 
mieloide crônica, síndromes mieloproliferativas, gamopatias monoclonais como mieloma múltipla.  
3)  Secundária  a  uma  doença  não-hematológica​:  como  neoplasias  que  invadem  a  medula  óssea  (ex: 
neuroblastoma).  
 
Associações Etiológicas 
1) Viroses​: HTLV1 e 2, Epstein-Barr e Linfoma de Burkitt 
2)  Radiações  ionizantes:  ​radiações  de  alto  nível,  como  em  bombas  atômicas  e  acidentes  em  usinas  com 
liberação  de  radioatividade.  Radiações  terapêuticas  (como  radioterapia  para  câncer)  e  diagnósticas  (exames  de 
imagem)  só  representam  risco  em  pacientes  que foram expostos à quimioterapia com agentes alquilantes (outro 
fator de risco).  
3)  Quimioterápicos  antineoplásicos​:  pacientes  que  sofreram  tratamentos  longos  com  antineoplásicos, 
principalmente agentes alquilantes.  
4) Exposição química​: benzeno se deposita nas células gordurosas da medula óssea. 
5) Predisposição genética​ (ex: Síndrome de Down).  
 
Quadro Clínico Geral: 
1) Relacionado à falência do tecido hematopoiético normal​: 
● anemia 
● plaquetopenia: quadros hemorrágicos são comuns 
● leucopenia: predispõe a infecções de repetição 
● linfopenias  e  neutropenias  que  podem  ser  bem  graves,  predispondo  a  infecções  oportunistas  e 
prolongadas 
 
2) Relacionado ao comprometimento ósseo: 
● Infiltração do periósteo, com dor e artralgia 
● Destruição do osso = lesões líticas  
 

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Quadro clínico sugestivo de linhagem e classe: 


1) Adenomegalias, hepatoesplenomegalia​ = podem indicar acometimento de linhagem ​linfoide 
 
2)  Hipertrofia  gengival,  infecções  amigdalianas  expressivas,  abscessos  anorretais  =  podem  indicar 
acometimento de linhagem m
​ onocitária (macrófagos)​. 
 
3)  Distúrbios  hemorrágicos,  discrasias  graves  e  coagulação  intravascular  disseminada  =  ​leucemia  típica 
pró-mielocítica  
 
Quadro Metabólico 
● Hiperviscosidade  devido  à  hiperleucocitose  (blástica):  leva  a  importantes  fenômenos  respiratórios, 
cardiológicos, neurológicos.  
● Lise  Tumoral​:  ao  mesmo  tempo  que  as  células  estão  em elevada proliferação, também estão em acelerada 
destruição. Geralmente a lise tumoral se associa à insuficiência renal e a níveis elevados de ácido úrico. 
● Insuficiência Renal 
● Hipopotassemia​: os monócitos (macrófagos) estimulam a excreção renal de potássio 
● Hipercalcemia​: devido à destruição óssea, que libera cálcio do osso para o sangue  
● Insuficiência Respiratória 
 
Hipótese Diagnóstica 
Quadro clínico exuberante + Hemograma. 
O hemograma do paciente com leucemia aguda pode apresentar diversas anormalidades, como: 
- anemia 
- plaquetopenia 
- leucócitos muito baixos 
- leucócitos normais, porém com distribuição totalmente atípica (série blástica predominando) 
-  leucócitos  altos:  a  medula  fica  tão  abarrotada  de  células  que  estas  acabam  caindo  na  corrente  sanguínea 
(blastos). 
 
O hemograma, contudo, dá apenas um panorama geral, pois: 
- os blastos podem ser mieloides ou não-mieloides 
- a pancitopenia pode ser fruto de uma aplasia de medula 
 
Por isso, é necessário dar​ seguimento com o estudo de medula óssea (mielograma)​.  
 
Diagnóstico 
Precisa de estudo de medula óssea (​aspirado ou biópsia​).  
O primeiro exame a ser feito, a partir do aspirado ou da biópsia, é o mielograma.  
 
Finalização Diagnóstica 
● Morfologia​:  identificar  a  forma  dos  blastos,  e,  com  isso,  suspeitar  de  qual  linhagem  vem  aquela  célula.  É 
feito  com  esfregaço  de  material  retirado da medula óssea em uma lâmina​, que é submetida ao microscópio. 
A análise morfológica permite visualizar a imensidão de células blásticas na medula, que não poupam nem o 
tecido adiposo, ocupando-o também.  

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

 
● Citoquímica​:  ​técnicas  de  coloração  que  identificam  a  célula​.  As  células  neoplásicas,  contudo,  possuem 
coloração  igual  àquelas  células  a  que  elas  se  correspondem  (caso  fossem  normais);  assim,  a  morfologia 
associada  à  citoquímica  é  boa  para  fazer  a  ​diferenciação  entre  leucemia  aguda  mieloide  e  leucemia aguda 
linfoide​.  

 
 
● Imunofenotipagem​:  ​marcação  com  anticorpos,  que  reconhecem  os  antígenos  e  receptores  celulares​.  A 
imunofenotipagem ​suplantou a citoquímica, sendo usada, atualmente, em conjunto à análise morfológica​.  

 
 
Prognóstico e Tratamento: 
Os  exames  genéticos  só  são  realizados  em  grandes  centros.  No  RJ,  por  exemplo,  apenas  no  INCA.  Então 
muitos pacientes não conseguem dispor de pesquisa genética.  
 

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Citogenética​:  análise  macroscópica  do  material  genético  da  célula  neoplásica.  Permite  ​pesquisar  alterações 
cromossômicas​, trissomias, aneuploidias, que expliquem a doença. 
Uma alteração muito comum é a trissomia do 21.  
A citogenética pode ser realizada através de: 
- cariótipo por bandeamento G 
- FISH​ (Hibridização in Situ por Imunofluorescência)  
 

 
 
Biologia  Molecular:   Análise  da  base  molecular  do  DNA;  aqui  não  mais  se  analisa  os cromossomos, mas sim as 
sequências bases nitrogenadas do DNA e outras estruturas microscópicas.  
O  ​PCR  (reação  em  cadeia  de  polimerase)  consiste  numa  amplificação  do  gene  de  interesse,  sendo  possível 
pesquisar  repetições  de  trincas,  rearranjos  ou  translocações  que  não  seriam  identificadas  nos  exames  de 
citogenética.  O  PCR  funciona  ainda  como  uma  etapa  prévia  para  outros  exames,  como  por  exemplo  o 
sequenciamento de DNA, a fim de que amplifique os genes.  
  
 
Critérios Diagnósticos  
Critérios FAB - ​Consegue diferenciar a leucemia mieloide da leucemia linfoide. 
Obs: a leucemia linfoide é mais comum que a leucemia mieloide.   
 

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Prognóstico 
É baseado na a
​ ssociação entre a classificação FAB, o imunofenótipo e a cariotipagem​.  

 
 
Tipos de Leucemias 
Podem ser divididas em grupos:  
1) Precursores linfoides 
2) Precursores mieloides  
3) Origem em células dendríticas blásticas​ (muito difíceis de serem tratadas). 
 
Tratamento Inespecífico 
● Hemotransfusão 
● Antibióticos 
● Correção hidroeletrolítica 
● Profilaxia de infecções 
● Correção hemodinâmica e de funções orgânicas 
 
Tratamento Específico 
Antigamente, era apenas transplante de medula óssea alogênico (não é autólogo, o que torna ainda mais difícil) + 
quimioterapia pesada.  
● Transplante de medula óssea/transplante de células-tronco 

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Hematologia 2020.1 (Ensino Remoto) ​ I​ sabella de Araujo 2017.1 

● Poliquimioterapia  antineoplásica  citorredutora  e  mieloablativa​:  tem  perdido  espaço  frente  às 


terapias-alvo.  Os  quimioterápicos  são  usados  apenas  em  casos  de  pacientes  que  não  podem  arcar  com  a 
terapia alvo.  
● Radioterapia nos santuários (cérebro e gônadas)​: muito perigoso, por isso raramente é feito.  
● Terapia  alvo  com  produtos  biológicos  e  com  anticorpos  monoclonais​:  pouco  disponíveis  no  SUS; 
convênios já cobrem. 
http://www.oncoguia.org.br/conteudo/terapia-alvo-para-leucemia-linfoide-aguda-lla/7858/318/#:~:text
=Terapia%20alvo%20%C3%A9%20um%20tipo,vezes%20apresenta%20efeitos%20colaterais%20dif
erentes​.  
http://www.oncoguia.org.br/conteudo/terapia-alvo-para-leucemia-mieloide-aguda-lma/12378/333/  
 
Perspectivas Futuras 

 
 
Perguntas 
1) Existe alguma leucemia incurável? 
Atualmente,  é  possível  alcançar  a  remissão  completa  e  até  mesmo  a  cura em todos os tipos de leucemia aguda. 
As leucemias crônicas, por outro lado, são incuráveis.  
 
2) Para que serve o FISH?  
O  teste  de  hibridização  in  situ  por  imunofluorescência  é  um  método  de  citogenética (ou seja, analisa a estrutura 
macroscópica do DNA) realizado para detectar mutações cromossômicas.  
 
3) A leucemia aguda pode se apresentar com pancitopenia apenas? 
 
4) As leucemias podem causar lesões ósseas? 
Sim, inclusive as lesões ósseas podem ser a manifestação inicial de uma leucemia linfoide aguda.  
 
5) Quem você indicaria nos dias atuais para um transplante de medula óssea? 
Transplante alogênico 
Este  é  o  tipo  mais  comum  de  transplante  usado  para  o  tratamento  da  leucemia  aguda.  No  transplante 
alogênico, as​ células tronco vêm de um doador c​ ujo tipo de tecido se aproxima ao paciente. 
Muitas  vezes,  o  melhor  doador  é  um  parente  próximo,  como  um  irmão  ou  irmã.  Se  não  existir  um  parente 
próximo  que  possa  ser  doador,  as  células  tronco  podem ser de um voluntário cujo tipo de tecido corresponda ao 
do paciente. Às vezes, podem ser usadas células tronco do cordão umbilical. 

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Para  a  maioria  dos  pacientes  com  leucemia  mieloide  aguda, principalmente aqueles com maior risco de 


recidiva  da  doença,  é  preferível  o  transplante  alogênico.  Como a leucemia é uma doença do sangue e da medula 
óssea,  administrar  ao  paciente  suas  próprias  células  após  o tratamento pode significar devolver algumas células 
leucêmicas​.  Quando  ​as  células  do  sistema  imunológico  do  doador  são  infundidas  no  corpo,  podem  reconhecer 
quaisquer  células  leucêmicas  remanescentes  como  estranhas  e  atacá-las.  Este  efeito  não  acontece  com  os 
transplantes autólogos. 
Uma  das  complicações  comum  dos  transplantes  alogênicos  é  a  doença enxerto hospedeiro, que ocorre 
quando  as  células  tronco  do  doador  reconhecem  as  células  do  paciente  como  estranhas  e  iniciam  um  ataque 
contra  elas,  afetando  muitos  tecidos  do  corpo.  Os  sintomas podem incluir erupções cutâneas, prurido, feridas na 
boca,  náusea,  diarreia,  icterícia,  problemas  pulmonares,  fatiga  e dores musculares. A doença enxerto hospedeiro 
pode  ser  tratada  com  medicamentos  que  afetam  o  sistema  imunológico  para  tentar  controlá-lo 
(imunossupressores). 
 
Transplante não mieloablativo (mini-transplante).  
É  um  tipo  de  transplante  alogênico,  denominado  transplante de células tronco alogênicas não mieloablativo, que 
pode  ser  uma  opção  para  pacientes  idosos.  ​Para  este  tipo  de  transplante,  as  doses  de  quimioterapia  e/ou 
radioterapia  administradas  são  inferiores  às  utilizadas  para  um  transplante  alogênico  padrão.  Essas  doses  não 
são  altas  o  suficiente  para  destruir  todas  as  células  da  medula  óssea,  mas  são  o  suficiente  para permitir que as 
células  doadas  se  apoderem  e  cresçam  na  medula  óssea  do  receptor​.  As  doses  mais  baixas  de  quimioterapia 
e/ou  radiação  causam  menos  efeitos  colaterais,  o  que  torna  este  tipo de transplante mais fácil para os pacientes 
mais velhos tolerarem. 
 
Transplante autólogo 
No  transplante  autólogo  são  utilizadas  ​as  próprias  células  tronco  do  paciente​.  ​As  células  tronco  serão 
tratadas com altas doses de radiação ou quimioterapia para garantir que não existam células cancerígenas​. 
Os  transplantes  autólogos  são  muitas  vezes  realizados  em  pacientes  que  estão  em  remissão  após  o 
tratamento  inicial  e  não  têm  um  doador  compatível  para  um  transplante  alogênico.  Alguns  médicos  concordam 
que é melhor do que a quimioterapia de consolidação padrão para esses pacientes. 
O  transplante  autólogo  é  geralmente  mais  fácil  de  ser  tolerado  que  o  alogênico,  porque  recupera  as 
próprias  células  do  paciente,  o  que  reduz  o  risco  de  algumas  complicações.  Mas  a  quimioterapia  de altas doses 
ainda  pode  causar  importantes  efeitos  colaterais.  Este  tipo  de  transplante  pode  ser  realizado  em  qualquer 
paciente  com  boas  condições físicas, embora os mais idosos ou aqueles com outros problemas de saúde possam 
ser considerados inadequados para a realização de um transplante. 

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