Você está na página 1de 20

São Paulo, 11 de abril de 2023

Eu, Thiago Ramos da Silva, RF 915.270.9/1, venho através desta apresentar defesa
em relação às acusações apontadas em denúncia apresentada na UE anexada em
mensagem enviada para a DRE pela diretora da UE, Sra Vânia Claudia Autiere dos
Anjos.
Há aproximadamente três semanas atrás, durante regência de aula em substituição
no 9 ano A, o aluno Eduardo proferiu um xingamento contra seu colega de sala,
mandando “tomar no c*” em alto e bom som, nesse momento interrompi a aula e
chamei atenção do aluno para o comportamento descabido e o questionei se ele
agia dessa maneira perante seus pais ou se gostaria que eu fizesse a convocação
dos responsáveis para que ele gritasse aquele insulto no ouvido dos mesmos. Na
mesma semana fui convocado na direção para prestar esclarecimentos, pois a
escola havia recebido uma denuncia de uma mulher que não quis se identificar,
relatando por ligação telefônica que seu “sobrinho” de acordo com ela, havia
proferido o palavrão e eu havia respondido o seguinte: (sic)”Se você soubesse o
quanto é bom, você cobraria.” Expliquei a diretora Vânia e a vice, Verônica, que
esse não é um comportamento meu, nem esse tipo de linguajar faz parte de meu
vocabulário, que chamo atenção de todos os alunos em relação ao vocabulário, não
admitindo a utilização de palavrões proferidos no local de trabalho. Além disso, a
suposta tia questionou a minha sexualidade e minha concepção religiosa, ao afirmar
que sou ateu e assumidamente gay, e foi além, questionando minhas redes sociais,
no caso citado a rede social Instagram, relatando o conteúdo de minhas publicações
que segundo ela é incondizente com um professor. O que me trouxe surpresa, já
que sou assumidamente gay e praticante religioso e nunca em momento algum
expus minhas redes sociais que é aberta, a alunos ou responsáveis, não podendo
controlar quem vê meu perfil e publicações, que são de foro pessoal e não
interferem em hipótese alguma com a prática pedagógica.
Algo que veio à tona nesse momento e fiz questão de expor aos membros da
gestão presentes, é que dias antes, eu havia recebido mensagens de um perfil
anônimo, com xingamentos de cunho racista e homofóbico e até mesmo ameaça de
morte. Como o perfil que enviou as mensagens é um perfil fake, na ocasião não dei
importância, mas ao tomar conhecimento da denúncia achei bastante suspeito, pois
o cunho das mensagens é bastante similar ao conteúdo da denúncia. Comuniquei
que iria até uma delegacia para registrar um boletim de ocorrência, porém, como o
perfil que havia enviado as mensagens havia me bloqueado eu deixei de lado, não
mais dando importância.
Hoje,11/04/2023, durante a penúltima aula, fui convocado a diretoria e ao chegar fui
informado de nova denúncia, devido a aula ministrada na semana anterior, em que
trouxe uma roda de conversa o tema Sexualidade e Identidade de Gênero, que
faz parte de meu projeto pedagógico de aula, o qual por sinal aplico há
aproximadamente seis anos, anteriormente na rede de ensino estadual, juntamente
com o projeto que trata sobre Racismo Estrutural, sendo os dois projetos TEMAS
TRANSVERSAIS, presentes no Currículo da Cidade.
Na denúncia, a pessoa que se identifica como Aline Duarte Tenório, apresentou o
conteúdo dessa aula, gravado em parte, questionando o conteúdo da aula
ministrada, diz que eu tenho conduta contrária às minhas atribuições pedagógicas,
não sei informar com qual competência a mesma pratica esse julgamento, cita que
durante a gravação eu cito “coisas irrelevantes e graves” e que “os assuntos não
estão na grade curricular”. a mesma distorce uma fala minha a descontextualizando,
ao afirmar que eu cometi ato criminoso ao afirmar que nem a sociedade nem os pais
influenciam na vida dos alunos, quando a frase se referia a sexualidade e orientação
sexual em que explanei que estudiosos do comportamento e sexualidade humanos,
apontam que a orientação sexual é um direcionamento afetivo/sexual de foro íntimo
e que nada nem ninguém no mudo conseguem modificar. Ela ainda me acusa de
má conduta, proferir palavras pornográficas e induzir as crianças a práticas
pornograficas, algo que nunca em momento algum aconteceu.
A aula em questão foi ministrada especificamente nessa sala por eu ter percebido a
necessidade de elucidar esse tema, visto que um dos alunos dessa classe vem
sendo vítima constante de bullying de cunho homofobico por parte de seus colegas,
ao perceber essa situação, comuniquei a direção que faria uma mediação assim
que fosse possível, ao acompanhar a professora Ana Paula em sua aula de
Geografia, no nono A, e tomar ciência que faria correção e visto dos cadernos dos
alunos, eu pedi para aproveitar o momento e realizar uma roda de conversa para
abordar o tema, no que foi concedido. Durante a roda de conversa a professora me
alertou que o aluno Eduardo, o mesmo do episódio anterior, ao ser chamado ter seu
caderno vistado comentou que não entendia o porquê daquele assunto e que se
sentia desconfortável com o tema. A professora Ana Paula de maneira discreta me
sinalizou a fala do aluno e logo em seguida eu fiz a seguinte observação:
Se algum de voces nao quiser participar da conversa, não gostar do assunto que
estamos debatendo ou se sentir incomodado me avise, não deixarei de tratar do
tema, pois se trata de aula, mas permitirei que se retire para a coordenação e
realize uma outra atividade. alguém deseja se retirar? Ninguém se manifestou de
maneira contrária e continuamos a roda de conversa até o sinal sonoro comunicar o
término da aula.
No corpo do email enviado a DRE pela diretora Vânia Claudia Autieri dos Anjos, a
mesma cita que há inúmeras denúncias contra mim, por não possuir boa postura em
sala de aula, que minhas aulas de cj trazem o conteúdo sobre o tema Sexualidade e
que esse conteúdo é incompatível com a idade dos alunos, são denúncias
descabidas, uma suposta tia que questiona a reação de um professor mas não
questiona o comportamento do aluno com palavrões absurdos num ambiente
acadêmico, minhas redes sociais de sendo julgadas sem mérito algum, já que não
cabe análise se não faz parte da prática pedagógica e nem mesmo sei como foi
descoberta, um projeto pedagógico completamente embasado na grade curricular,
que foi aplicado em uma única aula, com acompanhamento da professora regente
sendo desqualificado e deturpado ao ponto de ser referido como incompatível com
série e idade, para provar a validade de tal conteúdo, segue o plano de aula em
anexo, juntamente com os prints das ameaças realizadas pelo perfil fake citado
anteriormente e peço que por gentileza a professora ana paula seja ouvida para
maiores esclarecimentos.

São Paulo, 11 de abril de 2023

Ass: _____________________________________________
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO PENHA
E.M.E.F. PROF JOÃO FRANZOLIN NETO.

PROJETO INTERDISCIPLINAR PEDAGÓGICO

PROFESSOR Thiago Ramos da Silva - RF 9152709

COMPONENTE CURRICULAR História 7º/ 8º/ 9º Ano

Plano de Aula - Orientação sexual e identidade de gênero

Etapa de Ensino: Ensino Fundamental II


PÚBLICO ALVO: 7º ao 9ª Período da Educação Básica
TEMA: Identidade de Gênero e Orientação Sexual nas Escolas
Eixos: VIDA, AMBIENTE E SAÚDE
Objetos de Conhecimento: Identidade de gênero e orientação sexual
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento: (EF07C23) Reconhecer as
múltiplas dimensões da sexualidade humana (biológica, sociocultural e afetiva),
valorizando e respeitando a diversidade sem preconceitos baseados nas diferenças
de gênero e/ou orientação sexual.

Objetivo: Substituir eventuais ausências de professores, atendendo os estudantes


da U.E, tendo como base a priorização curricular, e auxiliando na recuperação das
aprendizagens. Nessas ocasiões será abordado o tema Identidade de gênero e
orientação sexual, durante as aulas pretende-se desenvolver leituras e debates
acerca dessa temática, possibilitando aos estudantes desenvolvimento de práticas
de pesquisa e leitura críticas, e a partir, de suas experiências no decorrer da
elaboração desse trabalho, ampliem suas visões de mundo, visando a formação de
um cidadão participante e crítico da sociedade em que vive.
Metodologia (Regência e acompanhamento): Durante as aulas de
acompanhamento, auxiliar os estudantes na realização das atividades propostas
pelo professor regente. Nas aulas em que estiver regendo a turma, apresentar
leituras de livros, que possam ser continuados pelos estudantes, quando se
interessarem pela mesma, a partir dessas leituras incentivar os debates em sala.
Também serão trabalhados temas atuais, retirados de textos das mídias digitais, e
das revistas e jornais impressos.

OBJETIVOS GERAIS:
Apresentar aos alunos os conceitos e noções de “Identidade de Gênero e
Orientação Sexual”, fazendo com que busquem compreender as diferentes
manifestações da sexualidade humana, e como estas manifestações se
estabelecem na sociedade, nas famílias e na escola. Abordar situações de
preconceito e discriminação por diferenças de gênero e orientação sexual. Discutir o
papel da escola na promoção dos direitos sexuais dos indivíduos, se tornando um
ambiente acolhedor às diferentes manifestações da sexualidade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Discutir os conceitos de sexo, gênero e sexualidade provocando os alunos à
refletirem acerca destes conceitos e suas implicações na atual sociedade, fazendo
com que os alunos identifiquem a promoção da igualdade e da equidade de gênero
no contexto educativo e de seu contexto social, discutir com os estudantes como
eles percebem os papéis de gênero em sua comunidade, a partir da percepção de
si. No primeiro momento, queremos que os alunos apresentem de forma
espontânea algumas características arquetípicas e estereotipadas dos gêneros,
dessa forma, podemos acessar o imaginário construído na região e evitamos
discursos que universalizam a experiência de opressão das minorias. É de suma
importância que a escola seja uma instituição que promova a construção de
conhecimentos científicos, além de criar meios de desconstruir os mais diversos
preconceitos, pois a igualdade de gênero deve ser discutida no âmbito dos direitos
humanos, para promover o respeito entre as pessoas.
“A escuridão não pode expulsar a escuridão, apenas a luz pode
fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio, só o amor pode fazer
isso.”
Martin Luther King Jr. (1963)

Para aprofundar-se no assunto e ampliar o campo dos debates, recomendamos as


seguintes leituras complementares:

- páginas 321 até 325 dos Parâmetros Curriculares Nacionais (disponível neste link:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/orientacao.pdf );

“Em 2018, a Matriz de Saberes do Currículo da Cidade – Ensino Fundamental foi


revisada, concomitante aos processos de atualização curricular da Educação
Infantil, da Educação Especial com os Currículos de Língua Brasileira de Sinais –
Libras e de Língua Portuguesa para Surdos e da Educação de Jovens e Adultos,
incluindo assim todas as etapas da Educação Básica, contemplando desta maneira
as especificidades de bebês, crianças, adolescentes, jovens e adultos.
6. Abertura à Diversidade Saber: Abrir-se ao novo, respeitar e valorizar diferenças e
acolher a diversidade;Para: Agir com flexibilidade e sem preconceito de qualquer
natureza, conviver harmonicamente com os diferentes, apreciar, fruir e produzir
bens culturais diversos, valorizar as identidades e culturas locais, maximizando
ações promotoras da igualdade de gênero, de etnia e de cultura, brincar e
interagir/relacionar-se com a diversidade.”
CURRÍCULO DA CIDADE Ensino Fundamental COMPONENTE CURRICULAR:
HISTÓRIA SÃO PAULO, 2019 PARTE 1 –INTRODUTÓRIO 35
file:///C:/Users/escola/Downloads/CC-Historia.pdf

“No ensino das Ciências Naturais, desde os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs
(BRASIL, 1997), afirmava-se a necessidade de que os conhecimentos prévios dos
estudantes fossem considerados e que, também, possibilitassem relações entre o cotidiano
do estudante e as novas construções permitidas pelas abordagens em sala de aula.
Apareceram, entre os objetivos do ensino de Ciências nos PCNs, ações para experimentar,
construir explicações, relatar e comunicar fatos e conceitos, valorizar atitudes e
comportamentos face aos seres vivos e ao ambiente. Essas ações deveriam ser
trabalhadas na relação direta com os blocos temáticos das Ciências Naturais propostos
para o Ensino Fundamental, nos quais se pretendiam abordar temas sobre: Ambiente, Ser
Humano e Saúde, Recursos Tecnológicos e Terra e Universo. Outra novidade trazida pelos
PCNs, que também impactou o ensino de Ciências, foram os temas transversais. Esses não
eram conteúdos curriculares exclusivos do componente, mas representavam aspectos a
serem trabalhados a fim de que a formação dos estudantes pudesse ocorrer de modo geral
e pleno. Portanto, ética, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural e orientação sexual
eram temas propostos transversalmente ao currículo, uma vez que não representam
componentes curriculares do núcleo comum, mas, sim, atitudes que os cidadãos expressam
em suas atividades. Mais recentemente, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Básica (BRASIL, 2013) afirmavam que a formação dos estudantes por meio das
disciplinas deveria considerar princípios éticos, estéticos e políticos. Da mesma forma, por
não serem componentes curriculares de uma disciplina específica, esses princípios
deveriam ser colocados em prática nas diferentes aulas de todas as disciplinas que
compõem o currículo escolar.”
(Ensino Fundamental CURRÍCULO DA CIDADE PARTE 2 – CIÊNCIAS
NATURAIS 67 file:///C:/Users/escola/Downloads/CC-Ciencias.pdf )

A Matriz de Saberes estabelecida pela SME fundamenta-se em: 1. Princípios


éticos, políticos e estéticos definidos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais
(BRASIL, 2013, p. 107-108),
“4. Valores fundamentais da contemporaneidade baseados em “solidariedade,
singularidade, coletividade, igualdade e liberdade”, os quais buscam eliminar todas as
formas de preconceito e discriminação, como orientação sexual, gênero, raça, etnia,
deficiência e todas as formas de opressão que coíbem o acesso de bebês, crianças,
adolescentes, jovens e adultos à participação política e comunitária e a bens materiais e
simbólicos.” PARTE 1 –INTRODUTÓRIO 2
“Ademais, é importante o desenvolvimento da consciência do próprio corpo, incluindo o seu
funcionamento, cuidados com a saúde e o respeito a si mesmo e ao outro, em busca da
melhoria da qualidade de vida individual, coletiva e ambiental, enfatizando o respeito à
diversidade que constitui a sociedade em todas as suas dimensões, seja em relação à
orientação sexual, identidade de gênero, relações étnico-raciais e culturais, pessoas com
deficiência, entre outras.” PARTE 2 – CIÊNCIAS NATURAIS
79file:///C:/Users/escola/Downloads/CC-Ciencias.pdf

QUADRO DE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO POR


ANO DE ESCOLARIDADE NO CICLO AUTORAL
7º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Eixos: VIDA, AMBIENTE E SAÚDE


Objetos de Conhecimento: Identidade de gênero e orientação sexual
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento: (EF07C23) Reconhecer as
múltiplas dimensões da sexualidade humana (biológica, sociocultural e
afetiva), valorizando e respeitando a diversidade sem preconceitos baseados
nas diferenças de gênero e/ou orientação sexual. PARTE 2 – CIÊNCIAS NATURAIS
/103 file:///C:/Users/escola/Downloads/CC-Ciencias.pdf

Orientação sexual e identidade de gênero: escola precisa saber incluir

KAREN CARDIAL, 1 DE OUTUBRO DE 2021

Os danos ocasionados pelo desrespeito à diversidade chegaram a números


assustadores: 54% dos assassinatos de pes­soas trans do mundo inteiro acontecem
no Brasil, segundo a ONG Transgender Europe, e a expectativa de vida dessas
pessoas é de 35 anos, constata a Associação Nacional de Travestis e Transexuais
(Antra). Ao mesmo tempo, os brasileiros são os que mais consomem pornografia
trans. Especialistas também alegam que LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais,
transexuais, travestis, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e mais) têm
mais transtornos mentais, depressão, ansiedade, suicídio, automutilação e
autolesão por conta de dificuldades na escola. Vale lembrar que o preconceito, a
discriminação, o estigma e a violência são impostos desde cedo ao dia a dia da
sociedade.
Referências do que é de menino e de menina são passadas para as crianças e é
preciso desconstruir isso. Questões de gênero devem ser trabalhadas na escola.
Com os pequenos, o esforço é para o entendimento e respeito à diversidade,
porque é nessa fase que começam a distinguir nariz grande, nariz pequeno, orelha
grande, orelha pequena, cabelo diferente, pele negra, pela branca, dando início aos
bullyings pelo outro ser diferente. Então, trabalhar uma cultura de que a diferença é
normal e bonita melhorará a vida de todos que sofrem discriminação.

A transexualidade não se relaciona com a orientação sexual, mas se refere à


identidade de gênero. Dessa forma, corresponde às pessoas que não se identificam
com o gênero atribuído em seu nascimento. As travestis também são incluídas
nesse grupo. Porém, apesar de se identificarem com a identidade feminina,
constituem um terceiro gênero.

Questão de sobrevivência

“É na escola que acontecem as piores situações”, registra Saulo Vito Ciasca,


médico psiquiatra pela USP e coordenador titular da área da saúde da Aliança
Nacional LGBTI+. Ao falar com um adolescente, é comum Ciasca insistir que ele
sobreviva a essa escola: “Aguenta firme porque isso vai passar, é uma fase”. A
experiência na escola é terrível, espaço de discriminação e preconceito, onde a
desinformação toma conta. É fundamental entender como é que se desenvolve a
orientação sexual e a identidade de gênero, diz Ciasca, também coordenador da
pós-graduação em psiquiatria sanar.

A partir de estudos, há evidências de que tanto a identidade de gênero, que é como


o indivíduo se identifica (sou menino, sou menina, sou travesti, sou não binário),
quanto à orientação sexual (atração para onde está orientado o desejo), têm uma
matriz biológica determinada por questões genéticas, estruturais e cerebrais. E
também diferenças na quantidade de hormônios dentro do útero, ensina Ciasca.
“Você não muda a orientação sexual de ninguém”, conclui o médico.

Quando a escola não acolhe

“O bullying acontece e existem escolas que têm uma boa orientação e outras que
fecham os olhos para não verem”, lamenta a médica, que é coordenadora de saúde
da ONG Mães pela Diversidade, em São Paulo. “Certa vez, numa reunião da
escola, a professora, em relação aos constantes bullyings que meu filho sofria, me
disse: “Nós já falamos para os alunos que seu filho não é gay”, e Hercowitz
respondeu: “Vocês estão agindo errado, devem falar: E daí se ele for? Vocês não
estão sabendo lidar com isso”, desabafou a médica.

Ciasca atendeu mais de 100 crianças e mais de 300 adolescentes trans no


ambulatório do Hospital das Clínicas, o AMTIGOS (Ambulatório Transdisciplinar de
Identidade de Gênero e Orientação Sexual), e quando perguntava a um adulto
desde quando começou esse sentimento diverso, este lhe respondia: “desde que eu
me conheço por gente, desde sempre”.

O médico lembra que aos quatro ou cinco anos podem começar a brincar com
crianças de outro gênero, querer roupas de outro gênero e reivindicar essa
identidade. Quando agem assim por mais de um ano, muitas vezes afirmando “não
sou menino, sou menina”, vem o sofrimento e a constatação de que há algo
“errado”. É quando Ciasca faz o diagnóstico.

Importância da escuta

Ao receber uma criança que está há mais de um ano deprimida, triste, irritada, sem
querer ir à escola, sem se relacionar, fechada no quarto, apresentando choros
constantes, a orientação que o médico dá é: “Vocês já tentaram escutar e respeitar
a vivência dela? Deixá-la se expressar nesse gênero que ela diz ser, para ver como
é?” A resposta da família é sempre o receio de influenciar a criança, explica Ciasca.

As pessoas têm muito medo, achando que podem confundir as crianças, que ao
conhecerem as diversidades ficarão confusas, podendo então decidir se serão
meninos ou meninas, prossegue o médico, que ressalta tratar-se de uma questão
cerebral, estrutural e genética.

O que se preconiza para crianças que estão na escola reivindicando determinado


gênero por muito tempo (não é demais repetir que não são quaisquer crianças que,
de repente, querem brincar de ser menino ou menina, há um diagnóstico baseado
no tempo de sofrimento) é que façam o processo de transição social: mudança de
nome, de roupa e mudança de pronome, discorre Ciasca.

“A criança não faz cirurgia, tampouco faz uso de hormônios. A transição social é
completamente reversível. Se a criança não está se sentindo bem com isso, pode
usar outra roupa, outro nome e pronto. Deve-se respeitar o tempo da criança e
ajudá-la a se sentir bem”, complementa o médico, autor do livro Saúde LGBTQIA+:
práticas de cuidado transdisciplinar (ed. Manole).

Bloqueio puberal

Com os adolescentes, o quadro muda. Ao entrarem na puberdade podem vir a


sofrer por conta disso, explica Ciasca. Nesse caso, é feita uma avaliação se o
adolescente tem critérios de elegibilidade, que é quando uma equipe transdisciplinar
formada por profissionais da saúde (psicólogo, psiquiatra, endocrinologista) entende
que há indicação para fazer o bloqueio puberal. Esse tratamento é realizado desde
1970 em crianças que têm a puberdade precoce, seguindo bloqueadas até os 11 ou
12 anos, para que possa continuar seu crescimento. “Não há nos últimos 30 anos
nenhuma evidência de qualquer problema decorrente do bloqueio puberal”, garante
Ciasca.

“Se sua filha de seis anos começa a ter a puberdade precoce, o pediatra indicará o
bloqueio puberal, que ao ser retirado a puberdade acontecerá normalmente. Seguro
e completamente reversível”, finaliza.

Da casa à escola

O IBGE, no último censo, deu conta de 10% da população ser LGBTI+, embora
acredita-se ser um número subestimado, porque a pesquisa é muitas vezes feita
dentro de casa. Estima-se que haja cerca de 16% a 18% da população LGBTI+ em
algum espectro dessas possibilidades. Sendo assim, dentro das escolas 10% de
crianças e adolescentes podem ter orientação sexual ou identidade de gênero
diversa, registra Marcelo Limão, especialista em diversidade sexual e de gênero e
saúde mental no trabalho pelo IPq-USP, além de conselheiro da ONG Mães pela
Diversidade.

Hercowitz, pediatra que atende em clínica privada e no Centro de Especialidades


Pediátricas do Hospital Israelita Albert Einstein, reforça o papel da escola em
reconhecer que estatisticamente há alunos com questões de diversidade de gênero,
sexual e/ou de corpos e entender que essas pessoas são vítimas frequentes de
bullying, pois fogem dos padrões impostos pela adolescência, fase de muita
insegurança. “A escola precisa reconhecer que isso pode estar acontecendo lá
dentro”, frisa Hercowitz.

A pediatra entende que o colégio deve coibir qualquer tipo de bullying assim que ele
surge. Essa prática tem efeito contagioso. Preconiza que na sua função de ensinar
a escola deve mostrar que existem pessoas diferentes.

Se conhecer e conhecer o outro

“Particularmente, acho que numa aula de biologia deveria ser ensinado que existem
corpos diferentes. Você imagina a criança intersexo nunca ouvir falar da
possibilidade de ela existir? Ou aquela que tem dois pais e a escola fica o tempo
todo falando de pai e mãe? Sem ser uma imposição, assim como existe a
diversidade racial, diversidade intelectual, física, isso também deve ser mostrado”,
opina a médica.

“Ser LGBT não é ensinado, tampouco essas pessoas escolheram ser assim. Se
fosse uma opção não haveria nenhum LGBT, porque todos têm história de
sofrimento”, conclui Hercowitz.

Quando um adolescente percebe que a piada que seu pai fez a vida inteira o está
ridicularizando, quando nota, segundo a especialista, que a imitação de trejeitos se
refere a ele, que é diferente da grande maioria, e que essa maioria não o aceita (os
adolescentes, além de impulsivos, não suportam isso, preferem desaparecer), num
momento de grande tristeza pode pular de uma janela e infelizmente não terá mais
volta.

“Para mim é muito claro o papel fundamental da escola na saúde dessas pessoas.
O processo primário de socialização da criança é em casa. O momento de ir para a
escola é o segundo processo de socialização. Em geral, na nossa cultura, as
famílias não vão aceitar essa ideia de ter uma criança LGBT e já terá uma negativa
em casa. A possibilidade de reverter isso é na escola”, incentiva Marcelo Limão.

Disponível em :https://revistaeducacao.com.br/author/karen-cunha/

Sexualidade Refere-se às construções culturais sobre os prazeres e os


intercâmbios sociais e corporais que compreendem desde o erotismo, o desejo e o
afeto, até noções relativas à saúde, à reprodução, ao uso de tecnologias e ao
exercício do poder na sociedade. As definições atuais da sexualidade abarcam, nas
ciências sociais, significados, ideias, desejos, sensações, emoções, experiências,
condutas, proibições, modelos e fantasias que são configurados de modos diversos
em diferentes contextos sociais e períodos históricos. Trata-se, portanto, de um
conceito dinâmico que vai evolucionando e que está sujeito a diversos usos,
múltiplas e contraditórias interpretações e que se encontra sujeito a debates e a
disputas políticas (GÊNERO, 2009). A sexualidade humana é um tema que gera
polêmicas e muitas controvérsias, uma vez que envolve questões afetivas, papéis
esperados e desempenhados em uma sociedade, e também comportamentos. De
forma geral, ela envolve quatro aspectos.

O primeiro é o gênero, que corresponde ao sexo da pessoa. Assim, temos o sexo


feminino e o masculino. Temos também aqueles que nascem com características
sexuais tanto de um sexo quanto de outro: os hermafroditas. Quanto a estes, seu
gênero costuma ser considerado de acordo com as características físicas
predominantes – femininas ou masculinas. No entanto, em alguns países, são
adotados como um terceiro sexo.
O segundo aspecto da sexualidade humana é a orientação sexual. Ela diz respeito à
atração que se sente por outros indivíduos. Ela geralmente também envolve
questões sentimentais, e não somente sexuais. Assim, se a pessoa gosta de
indivíduos do sexo oposto, falamos que ela é heterossexual (ou heteroafetiva). Se a
atração é por aqueles do mesmo sexo, sua orientação é homossexual (ou
homoafetiva). Há também aqueles que se interessam por ambos: os bissexuais (ou
biafetivos). Pessoas do gênero masculino com orientação homossexual geralmente
são chamados de gays; e as do gênero feminino, lésbicas.

Alguns consideram, ainda, os assexuais, que seriam aqueles indivíduos que não
sentem atração sexual; e os pansexuais: pessoas cuja identificação com o outro
independe de seu gênero, orientação, papel e identidade sexual (estes dois últimos
serão explicados mais adiante). Há outras fontes que adotam que a pansexualidade
pode também abranger o interesse sexual por outros animais, ou até mesmo outros
seres vivos e objetos.

É mais adequado dizer homoafetividade do que homossexualidade; assim como


heteroafetividade, em substituição ao termo heterossexualidade, e assim por diante.
Isso porque o sufixo “-sexual” tende a compreender que essas relações se reduzem
unicamente a tal aspecto (o sexual), o que não pode ser utilizado como regra.

Quanto ao termo “homossexualismo”, cada vez mais em desuso, ele é incorreto,


uma vez que o sufixo “ismo” sugere que essa orientação sexual é uma doença, o
que não pode ser considerado verdade sem que existam provas concretas disso.
"A sexualidade humana é um tema que gera polêmicas e muitas controvérsias, uma
vez que envolve questões afetivas, papéis esperados e desempenhados em uma
sociedade, e também comportamentos. De forma geral, ela envolve quatro
aspectos.

O primeiro é o gênero, que corresponde ao sexo da pessoa. Assim, temos o sexo


feminino e o masculino. Temos também aqueles que nascem com características
sexuais tanto de um sexo quanto de outro: os hermafroditas. Quanto a estes, seu
gênero costuma ser considerado de acordo com as características físicas
predominantes – femininas ou masculinas. No entanto, em alguns países, são
adotados como um terceiro sexo.

O segundo aspecto da sexualidade humana é a orientação sexual. Ela diz respeito à


atração que se sente por outros indivíduos. Ela geralmente também envolve
questões sentimentais, e não somente sexuais. Assim, se a pessoa gosta de
indivíduos do sexo oposto, falamos que ela é heterossexual (ou heteroafetiva). Se a
atração é por aqueles do mesmo sexo, sua orientação é homossexual (ou
homoafetiva). Há também aqueles que se interessam por ambos: os bissexuais (ou
biafetivos). Pessoas do gênero masculino com orientação homossexual geralmente
são chamados de gays; e as do gênero feminino, lésbicas.

Alguns consideram, ainda, os assexuais, que seriam aqueles indivíduos que não
sentem atração sexual; e os pansexuais: pessoas cuja identificação com o outro
independe de seu gênero, orientação, papel e identidade sexual (estes dois últimos
serão explicados mais adiante). Há outras fontes que adotam que a pansexualidade
pode também abranger o interesse sexual por outros animais, ou até mesmo outros
seres vivos e objetos.

É mais adequado dizer homoafetividade do que homossexualidade; assim como


heteroafetividade, em substituição ao termo heterossexualidade, e assim por diante.
Isso porque o sufixo “-sexual” tende a compreender que essas relações se reduzem
unicamente a tal aspecto (o sexual), o que não pode ser utilizado como regra.

Quanto ao termo “homossexualismo”, cada vez mais em desuso, ele é incorreto,


uma vez que o sufixo “ismo” sugere que essa orientação sexual é uma doença, o
que não pode ser considerado verdade sem que existam provas concretas disso.

Quanto ao terceiro aspecto, o papel sexual, ele está relacionado ao comportamento


de gênero que a pessoa desempenha na sociedade. Assim, envolve muitos clichês,
como por exemplo:
"1- Uma mulher “feminina”: ou seja, que se comporta de forma condizente com o
que a sociedade geralmente espera dela, nesse sentido – se maquia, é delicada,
enfim...;
2- Uma mulher que não é vaidosa e gosta de esportes violentos, é “masculinizada”;
3- Um homem delicado, sensível, “afeminado”;
4- Um homem rude, viril, é “masculino”, “másculo”;"
Observação:
Em 05/05/2011, em nosso país, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu
a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar;
permitindo com que tenham os mesmos direitos que envolvem uma união
estável entre indivíduos do sexo oposto."

Expressão de gênero
Forma como cada pessoa sente que ela é em relação ao gênero masculino e
feminino, relembrando que nem todas as pessoas se enquadram, e nem desejam se
enquadrar, na noção binária de homem/mulher, como no caso de pessoas agênero
e queer, por exemplo.

Identidade de gênero
Forma como cada pessoa sente que ela é em relação ao gênero masculino e
feminino, relembrando que nem todas as pessoas se enquadram, e nem desejam se
enquadrar, na noção binária de homem/mulher, como no caso de pessoas agênero
e queer, por exemplo.

Sexo biológico
É o que existe objetivamente: órgãos, hormônios e cromossomos. Feminino =
vagina, ovários, cromossomos xx Masculino = pênis, testículos, cromossomos xy
Intersexual = combinação dos dois

Orientação sexual
Inclinação involuntária de cada pessoa em sentir atração sexual, afetiva e emocional
por indivíduos de gênero diferente, de mais de um gênero ou do mesmo gênero.
Relembrando: as três orientações sexuais preponderantes mencionadas acima não
são as únicas. Existe uma gama de possibilidades. (Fonte: SOMOSGAY, 2014;
CADERNO, 2017)
ORIENTAÇÃO SEXUAL

A orientação sexual refere-se à capacidade de cada pessoa de ter uma profunda


atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo
gênero ou de mais de um gênero, assim como ter relações íntimas e sexuais com
essas pessoas (PRINCÍPIOS, 2006). Basicamente, há três orientações sexuais
preponderantes: pelo mesmo sexo/gênero (homossexualidade), pelo sexo/gênero
oposto (heterossexualidade) ou pelos dois sexos/gêneros (bissexualidade). Estudos
demonstram que as características da orientação sexual variam de pessoa a pessoa
(KINSEY et al., 1948). Assim, as três orientações sexuais preponderantes
mencionadas acima não são as únicas.

Não é opção, é orientação


Por Carmita Abdo 09/08/2014

Relacionar-se com alguém do sexo oposto ou do mesmo sexo não significa hetero
ou homossexualidade; importa por quem somos atraídos. Muito se comenta que as
novas gerações vêm experimentando relacionamentos sexuais com os dois sexos,
para depois decidir (ou não) qual escolher. Experimentar não é prerrogativa das
novas gerações. Além disso, a orientação sexual de uma pessoa não é definida pela
sua prática, mas pela atração. Portanto, relacionar-se com alguém do sexo oposto
ou do mesmo sexo não significa a hetero ou a homossexualidade. Importa por quem
nos sentimos atraídos sexualmente: se por pessoa(s) do sexo oposto ou do mesmo
sexo, o que indica orientação hetero ou homossexual, respectivamente. Vale
esclarecer que ninguém se torna hetero, homo ou bissexual por opção ou escolha.
Um conjunto de influências de ordem bio-psico-socio-culturais nos inclina para esta
ou aquela orientação (que não é opção) sexual. A homossexualidade (assim como a
heterossexualidade) consiste, portanto, de uma tendência, para a qual nos
orientamos, movidos pela atração. Durante muitas décadas, prevaleceram os
estudos sobre a importância das influências psicológicas nesse comportamento.
Atualmente, cada vez mais os pesquisadores acreditam que nascemos com uma
predisposição genética para esta ou aquela preferência sexual, sobre a qual se
somam elementos educacionais, sociais e psicológicos, moldando a hetero, a homo
ou a bissexualidade, entre tantas outras características sexuais. Pesquisas sugerem
que alguns fatores, os quais vão determinar a orientação sexual, estão presentes
desde cedo, mesmo antes do nascimento. Há cerca de vinte anos, os estudos
apontavam para uma região do cromossomo X (locus xq28), a qual influenciaria a
orientação sexual. Recentemente, um rastreamento do genoma humano retomou
essa influência genética, ao localizar outras regiões com genes candidatos à
predisposição para a homossexualidade, nos cromossomos 7, 8 e 10.
Mais fatores biológicos são implicados na determinação da orientação sexual: a
exposição a hormônios durante a vida intrauterina, o número de irmãos do sexo
masculino que antecedem oseguinte (resultando em resistência materna aos
androgênios), o uso de medicamentos que modificam os níveis de testosterona, na
circulação da gestante. Há evidências científicas de que esses níveis influenciam o
desenvolvimento de determinadas áreas do cérebro, como o hipotálamo,
parcialmente responsável pela atração sexual. Estudos com ressonância magnética
funcional comprovam que o hipotálamo de homens homossexuais possui
características mais similares ao de mulheres do que de homens heterossexuais.
Finalmente, a epigenética explica que um único gene não responde pela definição
da orientação sexual, mas são os mecanismos de regulação de androgênios
(hormônios masculinos) que favorecem ou impedem a expressão de genes
associados ao desenvolvimento dessa orientação. Estes genes
seriam, portanto, regulados por marcas epigenéticas, que fazem parte da variação
normal, transmitindo-se a novas gerações.
Há pessoas que se tornam cronologicamente adultas sem chegar a uma definição
de sua orientação sexual, o que depende também do amadurecimento
afetivo-emocional Contudo, ter algumas experiências com alguém do mesmo sexo,
ao longo da vida, é totalmente diferente de ser um homossexual absoluto, conforme
já argumentou Kinsey, em meados do século XX. Quem não assistiu ao filme sobre
este pesquisador, deve fazê-lo. A diversidade sexual, como todas as outras, merece
respeito e mais conhecimento. A discriminação velada é tão negativa quanto a
explicita. E só será debelada se, a partir da família, as diferenças forem
conhecidas e respeitadas.
ARAGUAIA, Mariana. "Orientação Sexual"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/sexualidade/orientacao-sexual.htm.

Você também pode gostar