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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - CCH


Julianne Alvarenga Bruno 90750
Licenciatura Em Química

MEMORIAL DESCRITIVO

Autobiografia narrativa, apresentada como Avaliação 1 da disciplina de


EDU – 144, Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental
e Médio, do Departamento de Educação da Universidade Federal
de Viçosa-UFV, campus Viçosa.

VIÇOSA

2022
O presente trabalho é um memorial descritivo de minha carreira acadêmica e
consequentemente profissional, sou Julianne Alvarenga Bruno, curso Licenciatura em Química,
e entrei na UFV em 2016. Neste memorial eu irei apresentar minhas memórias e feitos ao longo
dessa jornada e analisando os acontecimentos conforme as leituras solicitadas e minhas opiniões
formadas com as discussões em sala de aula.
Quanto a estrutura do memorial, ele será divido por etapas escolares. Assim, cada
capítulo do mesmo é uma etapa de minha vida acadêmica.

1.0 – Ensino Fundamental

Toda a minha vida escolar foi em escola pública. Eu cursei até o sétimo ano do Ensino
Fundamental na Escola Estadual Presidente Tancredo Neves, no bairro Pedra Azul em
Contagem na região metropolitana de BH. Era uma escola perto de casa, daquelas onde toda a
família é conhecida dos professores. Minha avó inclusive trabalhava na escola o que me
proporcionava uma excelente alimentação, não somente pelo cardápio e pelas bons alimentos
que a escola comprava, mas por ser feito pela minha vovó e ter esse privilégio.

Ao chegar no meu oitavo ano (antiga sétima série, quando eu cursei), troquei de escola para
uma escola municipal em Belo Horizonte, chamada Escola Municipal Dom Orione na região
da Pampulha. Por ser uma escola municipal era necessário possuir endereço residencial em Belo
Horizonte. Eu como criança, não sabia e não sei como foi resolvido a situação na época, mas
lendo o texto “Políticas públicas e gestão da educação em tempos de redefinição do papel do
estado” da Vera Maria Vidal Peroni, creio que a resolução para esse problema se deu através
de algo comum para a nossa “cultura” que podemos observar através do trecho

Quando no Brasil se fala em descentralização, depende de como a sociedade


pode controlá-la. É possível admitir que, até agora, os grandes avanços no Brasil e na
América Latina em geral não ocorreram por meio do direito local, mas por pressão
social sobre o Estado. Na América do Sul, localismo na maioria das vezes significa
clã parental e suas variantes: genrismo, afilhadismo, compadrio, pistolão, quem indica
(QI), concurso facilitado, etc. (VIEIRA, 1998, p.13).

Como eu possuo parentes na região, acredito que esse foi o facilitador. Por ser uma escola
municipal, quando terminava o ensino fundamental os estudantes eram encaminhados para uma
escola estadual para cumprirem o ensino médio e essa era uma excelente oportunidade para
estudar em escolas públicas em condições melhores em Belo Horizonte. A educação é um
direito social para todos, constando no artigo 6º da Constituição Federal de 1988, como traz
Saviani em detalhes no artigo “O direito à educação e a inversão de sentido da política
educacional” mostrando todas as falhas de implementação desse direito para com a sociedade
ao longo dos anos e é triste pensar que devido a alguns privilégios, eu pude ter acesso a um
ensino melhor, em uma escola com mais estrutura e infraestrutura do que vários colegas que
estudavam comigo que tiveram esse direito negado ou sucateado.

2.0 – Ensino Médio

Quando eu estava terminando o Ensino Fundamental, nós podíamos escolher três opções de
escola para cursar o Ensino Médio. Acabei sendo mandada para a Escola Estadual Professor
Moraes, em Belo Horizonte, onde cursei todo o ensino médio.

Era uma escola pequena, com estrutura física bem ruim, mas o ensino de lá era muito bom.
Hoje em dia fazendo licenciatura, vejo como os meus professores sempre tentaram levar o
melhor para nós e nos incentivar em diversas atividades extracurriculares, interdisciplinares e
etc., que promoviam não só aquele conhecimento especifico das disciplinas mas a conexão entre
as mesmas e nosso cotidiano, juntamente com o estimulo as relações sociais.

Me recordo de uma aula de sociologia do primeiro ano em que a professora pediu para que
escrevêssemos um texto defendendo ou criticando a política de cotas para negros, mas com
argumentos. Eu li apenas os textos básicos do livro didático e como uma pessoa que até o
momento estava cercada de privilégio, hoje em dia eu enxergo que sempre tive muitos
privilégios em relação aos estudos, critiquei a política de cotas e usei o “belíssimo” argumento
que seria preconceito com os próprios negros porque eles possuem a mesma capacidade.
Posteriormente, quando comecei a aprender e a adquirir consciência de raça e por ser uma
mulher negra, que esse posicionamento mudou drasticamente, por entender que a população
negra teve o seu direito a educação negado por muito tempo, que historicamente eles estiveram
fora da escola por muitos motivos e fatores. E citando a Vera Maria Vidal Peroni, no texto que
estudamos “Políticas Públicas e Gestão Da Educação Em Tempos De Redefinição Do Papel Do
Estado” que

“A escola historicamente não atendeu a todos, o direito à educação requer que


pensemos uma escola para os que historicamente estiveram fora. Neste sentido, pensar
a escola como no passado, quando não era para todos, pouco ou nada resolve, já que
a grande questão atual é como incorporar os que estiveram fora e como a escola vai
ser de qualidade para todos, já que ela foi pensada para aqueles que tiveram
estabilidade social, econômica e possibilidades culturais. A escola para os sujeitos em
vulnerabilidade social, com todos os seus problemas, passa a ser o grande desafio.
Expulsar o aluno da escola é o que historicamente foi feito; assim, a questão é como
não apenas ter acesso, mas permanecer e ter acesso ao conhecimento a que tem direito.

Esse trecho é justamente uma boa argumentação do porque existem as políticas públicas
e porque elas são necessárias atualmente, nossa educação está longe de ser para todos e é
necessário que pensemos em formas de se inserir toda a população que possui esse direito
negado como a sua manutenção nos espaços de conhecimento, tanto a escola, universidade,
museus e etc.

Hoje em dia, como aluna de graduação, estudante de licenciatura, tenho a oportunidade


de estudar mais a fundo as políticas sociais e públicas e porque elas são extremamente
necessárias. E também tenho que reconhecer que mais uma vez, eu tive o privilégio de
frequentar uma universidade, tenho assistência estudantil que me auxilia na permanência nesse
espaço e o quanto essas assistências são fundamentais não apenas para mim, mas para centenas
de estudantes que estão na Universidade atualmente.

Ps: No Natal desse ano, briguei na ceia justamente por causa desse assunto. É doloroso ver que
as pessoas não sabem separar o pessoal, de toda um grupo social. Com base nesses argumentos
históricos, com tudo que eu aprendi e estou aprendendo nas aulas, tentei conversar e explicar
porque as cotas para as pessoas negras (inclui-se pretas e pardas) existem, e o contra argumento
que eu ouvi foi que as cotas não deveriam existir, porque aquela pessoa que é branca, não
conseguiu entrar em uma universidade pública.

3.0 – Ensino Superior - Graduação

Então, o que posso dizer sobre minha graduação? O primeiro ponto, não queria
licenciatura, entrei como ABI e eu queria ser uma Química de bancada de laboratório. O
desmonte da educação possui tantas facetas, como falta de infraestrutura, falta de salários
adequados aos professores, turmas com excesso de pessoas e etc., que acaba faltando incentivo
para a profissão docente e foi assim que eu cresci. A minha mãe largou o magistério, então essa
não era uma opção para mim, mas foi a que me conquistou na universidade. No meu segundo
ano em viçosa, em 2017, tive a oportunidade de entrar para o PIBID, confesso que inicialmente
impulsionada pela bolsa, mas que foi a porta de entrada para uma nova paixão. Acompanhei
uma turma de segundo ano do Ensino Médio e aprendi mais com o programa e com os
estudantes do que eu pude passar para eles, não tenho dúvida.

Mas, um ponto que eu queria mencionar, é como uma escola é tratada diferente das
outras conforme o tanto que elas podem “produzir”. Através das reflexões feitas em aula e pelo
estudo dos textos propostos, agora eu sei que se trata de uma forma do neoliberalismo de
investir naquele que fornece um retorno, como se fosse uma empresa. Tive a oportunidade de
trabalhar em duas escolas estaduais nesse tempo, uma com boa estrutura, com laboratórios,
salas grandes, enquanto a outra que trabalhei posteriormente mal tinha espaço em sala de aula
para caber todos os estudantes sentados. Em uma conversa com professores dessa escola,
realmente foi mencionado que a outra escola “melhor” realmente recebia um repasse maior de
verba. E é impressionante em como a redefinição do papel do estado realmente se faz presente,
mas como que uma escola que recebe estudantes de condições sociais complicadas pode possuir
uma boa avaliação, sem possuir a verba adequada para investir nesses estudantes e sua
recuperação? E assim, o ciclo sempre se mantém.

Outro fato, super importante da minha graduação, foram os estágios obrigatórios. Tive
a oportunidade de fazer estágio no COLUNI-UFV, é uma escola bem diferenciada das demais
e é bom para vivenciar a diferença de ensino e de oportunidades. Mesmo sendo um colégio
público, com processo seletivo de entrada, é possível observar que grande parte dos estudantes
que ali estão, também segue a lógica do mercado. São aqueles mais ricos, com maiores
condições de preparo para o ingresso no ensino médio e estrutura financeira para a
sobrevivência em Viçosa, com salvas exceções.

Infelizmente, dois dos três períodos de estágio eu fiz remotamente, devido a pandemia
do COVID 19 e novamente podemos observar que é um colégio, pois como cita Saviani, no
artigo “Crise Estrutural, Conjuntura Nacional, Coronavírus E Educação – O Desmonte Da
Educação Nacional” a escola, os estudantes e os professores, preenchem os requisitos para o
ensino remoto, contudo, que eles voltaram as aulas muito antes de todas as escolas de ensino
médio. Para mim, foi uma oportunidade de vivenciar esse momento sob outra perspectiva, não
sendo como estudante, mas como “professora”, mas concordo com Saviani quando diz que
“uma das principais funções da educação é a socialização das crianças e jovens, o que não pode
ser feito com o ensino remoto ou a distância e muito menos com o ensino dito doméstico.”, o
contato com todos não é o mesmo, quando você está fisicamente presente em uma sala de aula,
pode observar os estudantes, suas reações, a forma como estudam é perceptível a dificuldade
ou a falta dela. Mas remotamente os estudantes são meras figurinhas que muitas vezes nem ali
estão.

Através, da discussão da aula do dia 25/11 sobre o texto: “Parece revolução, mas é só
neoliberalismo o tema ficou muito na minha cabeça, por ser incomodante pensar em como a
educação vira um consumo e em como as pessoas passam a se sentir no direito de reclamar e
exigir qualquer coisa em forma de “revolução”, “protesto” e afins. Por coincidência nesse
mesmo dia, eu vi no twitter um comentário de uma colega de curso, falando o quanto deve ser
difícil ser professora hoje em dia pois se o professora faz um X na questão errada do estudante,
aparece 12385137 pessoas “cancelando” o professor por ferir os direitos humanos.

E esse comentário me fez lembrar da discussão e do texto, justamente pelo professor


estar ali fazendo a sua parte, o seu trabalho e as pessoas se sentirem no direito de reclamar por
“nada” e em como isso é claro, está visível para todos mas ninguém sabe o nome, sabe que isso
é produto, fruto do neoliberalismo.

Um outro ponto, que digamos não tem a ver com o ensino, mas correlacionado ao
conteúdo dado ao longo do início do semestre, principalmente nas últimas aulas, eu trago no
memorial a terceirização do RU (Restaurante Universitário) da UFV. Quando eu adentrei na
universidade, o restaurante ainda não era terceirizado, e eu me recordo que a comida era mais
gostosa, tinha mais sabor. Ocorria muitas vezes, o que chamávamos de open, a liberação de
vários itens na alimentação, como frango mesmo, não era restrito, ficava pelo menos um
carrinho cheio de cortes de frango e você podia pegar a vontade, steak de frango também.
Comíamos muito, ficávamos satisfeitos e as vezes até levávamos para casa. Após a
terceirização, a qualidade caiu drasticamente, como praticamente tudo que deixa de ser público
e passa a ser administrado por instituições privadas que não presam pelo bem estar social, nesse
caso do aluno, e visam mais o lucro. Nunca mais vimos comida a vontade, sempre bem
controlado e servido, além do gosto que não é mais tão bom.

Mas, é o que o estudante que passa o dia todo na universidade e não tem condições de
ficar pagando caro, pode ter.

Enfim, essas são algumas de minhas memórias que passaram por ressignificações ao
longo do tempo e principalmente por meio das discussões em sala de aula, os textos lidos e os
vídeos que foram assistidos.

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