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Faculdade de Letras
Como aluna de ensino particular durante todo meu ensino básico, cresci em um
ambiente privilegiado educacionalmente, tendo como objetivo a entrada no sistema público
de ensino superior. Filha mais velha de uma família grande do subúrbio, aprendi a entender a
educação como investimento no futuro, apesar de inicialmente contraditório, vejo semelhança
com o estudo realizado pelas autoras Zaia Brandão, Diana Mandelert e Lucilia de Paula
(2005), pois apesar de ser de uma família composta por 3 filhas, devido aos recursos
financeiros, e ao fato de ser a mais velha, portanto a que primeiro início um vida no sistema
educacional mais caro, coube a mim o privilégio de ter um maior investimento em melhores
escolas e um maior suporte pedagógico externo do que as minhas irmãs mais novas, que
estudaram em escolas menores de bairro.
Segundo Fatima Alves e Mariane Kolinski (2012), a escolha da família sobre uma
educação diferenciada tem efeito sobre a aprendizagem do aluno, diferente de alunos que
fazem escolhas mais tradicionais, como estudar próximo de sua moradia, até mesmo por
problemas de mobilidade urbana. No meu caso, percebo que essa escolha de sair de uma
geografia de proximidade, enfrentar um trajeto desgastante diário, foi um diferencial na
qualidade dos meus estudos. Ainda assim, não consegui atingir o objetivo de alcançar a vaga
na escola pública por meio da prova de seleção de conhecimento do aluno.
Apesar do ‘‘fracasso’’ falando num tom bem objetivo, minha família é fruto de
conquistas de seleção social. Uma família ligada ao militarismo há 3 gerações, aprovados em
seus cargos oficiais após anos em cursinhos para passar no processo seletivo, percebo um
capital cultural intimamente ligado ao conceito de Weber, a seleção social, com
favorecimento do êxito individual, onde a educação é como regra um fator de mobilidade
social, como Pierre Bourdieu (1966) explica, buscando atingir uma classe mais alta através de
empregos bem remunerados, ou de estratificação do nível social familiar na classe média.
Para Pierre Bourdieu (1966), o capital cultural mais o Ethos (atitude da família)
combinados definem uma conduta escolar que cria uma diferença entre as classes sociais.
Com uma conduta escolar pré-estabelecida para mim, e um capital cultural face a instituição
escolar definida como instrumento para alcanças e conservar meu status familiar, e na
continuidade de buscar uma vaga em instituições escolares de ensino público superior, nos
mudamos para outro município onde a oferta escolar era melhor.
Era uma escola conhecida pelo nível socio econômico médio de seus alunos e sua
eficácia comprovada no ranking de aprovação. O conteúdo era transmitido com altas
expectativas acadêmicas, um maior incentivo dos professores, pois concursos era temática
presente o tempo todo durante as aulas, as aulas eram super estruturadas, com ambientes
concentrados e abordagem focada, matérias específicas para cada professor, especificando o
conteúdo em três áreas matemáticas diferentes para cada professor, ou três áreas específicas
de linguagens também com professores específicos, bem similar ao estudo apresentado pelos
pesquisadores David Reynolds e Charles Teddlie em 2000.
Percebo que o contexto socio econômico ao qual cresci, assim como os valores
culturais da minha família foram fundamentais e grande ditadores da minha trajetória escolar.
A escolha de escolas de nível socio econômico médio, com eficácia notável, também me
constituiu como aluna, que conseguiu aprovação em concurso público para o nível superior,
sem nenhuma reprovação acadêmica, com uma cultura estudantil positiva, com forte conceito
educacional social de Weber, em contraste com a trajetória escolar das minhas irmãs, que
sempre ficaram em escolas mais próximas, de nível social econômico baixo, com
reprovações, parando no ensino básico, confirmando a teoria educacional de Weber que
norteia o investimento da minha família na educação.
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