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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PPG


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGEd – (MESTRADO)

SAMARA GOMES AGUIAR

PROFISSÃO MULHER: AS ESPECIFICIDADES DA ATUAÇÃO ESTUDANTIL DE


ALUNAS DO MESTRADO QUE SÃO MÃES, ESPOSAS, DONAS DE CASA OU
TRABALHADORAS

Metodologia do Projeto de Pesquisa,


apresentada ao Professor Cláudio Nunes, como
requisito parcial para obtenção de nota na
disciplina Pesquisa em Educação no Programa
de Pós-Graduação em Educação da UESB.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sônia Maria Alves de
Oliveira Reis.
Linha de pesquisa 2: Currículos, Práticas
Educativas e Diferenças.

Vitória da Conquista-BA
2019
1 PRIMEIRO VAMOS DEFINIR O DESTINO

Já que viver é uma grande viagem, primeiro vamos definir nosso destino, neste caso,
nossos destinos. Para embarcar neste trabalho lhe convido a se despir de concepções arraigadas
que você muitas vezes nem sabe que possui, mas que aqui, talvez descobrirá. Neste estudo
falaremos da trajetória individual de algumas pessoas que vez ou outra a vida dá um jeito de
fazer se cruzar por aí, tanto nos caminhos materiais, quanto nos intelectuais. São pessoas
semelhantes, mas também muito diferentes, unidas por uma questão em comum, somos todas
mulheres!
Os caminhos que transformaram a sociedade no que ela é hoje não foram trilhados
apenas uma vez. Para que os conceitos e certezas que atualmente assumimos como verdadeiros
nascessem, foi necessário um percurso anterior de criação, credo, vivência e manutenção de
cada ideia, preconceito ou estereótipo.
Quando se fala em subjugação são vários os grupos que vêm à mente de início:
população negra, crianças, indígenas, mulheres, todos vitimados ao longo da história, ou em
parte dela, devido às condições que possuíam ou que lhe foram impostas.
Sobre as mulheres, não foram poucas as formas pelas quais experimentaram a opressão.
Sua capacidade de pensar racionalmente foi questionada, sua sexualidade foi reprimida, seus
sentimentos eram concebidos como histeria sempre que não seguiam o padrão de
comportamento predeterminado. Como se tudo isso não fosse suficiente, sua educação também
foi limitada. De início, por não acreditarem que a mulher teria competência suficiente para
aprender, e depois, por não acharem necessário povoar a mente delas com o que não fosse
considerado apropriado à natureza feminina.
Como resultado de todos os movimentos em que se engajaram para sua emancipação e
inclusão em diversas áreas da sociedade, as mulheres alcançaram vitórias significativas para
suas vidas, e uma delas foi a garantia de direito a educação.
Se hoje a escolarização feminina no Brasil é possível, até o século XIX não era. Foi
somente no início do referido período que nosso país começou a permitir a inserção de meninas
nas escolas, pois antes disso a educação, além de extremamente elitizada, era também muito
seletiva. Aquelas pertencentes às famílias abastadas estudavam limitadas às paredes de suas
próprias casas, isso quando o ensino acontecia, mas ainda assim era moldado pelos ideais de
uma sociedade machista1, que visava formá-las para as aptidões maternais e do lar, já que a elas
bastava tão somente a competência nos serviços domésticos.
Mesmo estando em um período histórico no qual as mudanças, plantadas em um passado
de embates e batalhas, já se tornam mais visíveis e vivíveis, não se pode ignorar todas as
consequências oriundas de uma história de negação de tantos direitos das mulheres.
Em vista disso, esta pesquisa surge como mais um fruto de minhas2 inquietudes
relacionadas à vida acadêmica feminina e suas singularidades, uma vez que, tão grande tem
sido a necessidade de compreender as especificidades do ser mulher na universidade que meu
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) também foi referente a esta temática. Nele pesquisei
acerca das dificuldades e superações que as estudantes da graduação que são mães, esposas,
donas de casa e trabalhadoras encontram no momento de adentrar, permanecer e atuar na
universidade, e ainda de quais estratégias se valem para não desistir dos estudos, já que têm
sido condicionadas socialmente a assumir inúmeras obrigações que as sobrecarrega e muitas
vezes as força a escolher entre estudar ou desempenhar funções esperadas pela sociedade.
O trabalho intitulado, “Mulher, mãe, dona de casa, esposa e trabalhadora: dificuldades
e superações para ingressar e permanecer na Universidade Pública”, (AGUIAR; PAES, 2018)
desenvolvido durante minha graduação, revelou que as mudanças desejadas pelas mulheres,
foco da pesquisa, ainda avançam a passos lentos, pois aquelas inseridas nas condições
delimitadas, na maioria das vezes, não recebem apoio do governo para dar continuidade aos
seus estudos e muitas delas, mesmo já inclusas no ambiente universitário, nem sabem que
possuem certas garantias, principalmente acerca daquelas relacionadas à maternidade.
Evidenciou ainda que o apoio da família pode ser o divisor de águas naquilo que se refere à
decisão de permanência, ou não, nos estudos. Em virtude de achados como estes é que se vê a
importância de pesquisar sobre a temática, para que deste modo tenhamos a possibilidade de
construir novos horizontes de discussão e de busca por mudanças efetivas, que visem auxiliar
as mulheres em sua trajetória no Ensino Superior, já que o atual perfil da maioria delas diverge
dos/as demais alunos/as, que assumem somente a função de estudante/s e não outras obrigações
socialmente expectadas.
A pesquisa atual será desenvolvida na pós-graduação, isso foi motivado primeiramente
devido ao fato de já ter realizado na graduação uma pesquisa que considero antecessora a essa,

1
Modelo de sociedade em que os homens possuem o poder, ainda que simbólico, e por isso ditam regras e muitas
vezes leis, que normatizam a vida das mulheres, cerceando a liberdade feminina em diversos aspectos.
2
Optei por utilizar a primeira pessoa do singular na escrita porque não há como falar de singularidades femininas
na academia sem me incluir. Mesmo não sendo mãe ou esposa minha condição de mulher já me insere em certas
especificidades de condição estudantil que este trabalho aborda.
que tornou possível perceber as falhas na efetivação de políticas públicas destinadas às
mulheres graduandas. A investigação oriunda do TCC ampliou meu olhar em relação à situação
das mulheres na universidade, estivessem elas na graduação ou na pós-graduação, já que, em
conversas informais com professoras que já eram mestras e doutoras, pude perceber que os
dilemas que cada uma delas narrava enfrentar eram muito característicos e se diferenciavam de
acordo com o segmento educacional em que elas se encontravam.
A instigação para a pesquisa é justificada ainda diante do fato de compreender que as
mulheres, tanto coletiva, quanto individualmente são um substantivo marcado por diversas
limitações impostas, dadas às relações de gênero, social e historicamente construídas, que
ocasionaram inúmeras consequências para diversas áreas de suas vidas. O primeiro reflexo
disso foi em sua escolarização, que aconteceu tardiamente, assim como sua entrada no mercado
de trabalho. Houve ainda a negação de muitos direitos, fato que em algumas esferas perdura até
hoje. Todavia, mesmo diante de tantos dilemas, essa classe3 também é sinônimo de resistência
e luta, já que tem sido por meio delas que vêm alcançando seu merecido espaço num mundo
que está sendo metamorfoseado manualmente por elas.
Para elucidar todos os dilemas que serão pesquisados, a questão central desta
investigação intui pensar: de que maneira as desigualdades das relações de gênero influenciam
na atuação estudantil de alunas nos Programas de Pós-Graduação de Caetité-BA e Vitória da
Conquista-BA?
Em virtude desta indagação inicial o objetivo geral deste estudo procura: analisar a
influência das especificidades da condição feminina na atuação acadêmica de estudantes que
são mães, esposas, donas de casa ou trabalhadoras nos cursos de pós-graduação do PPGEd4 -
UESB e PPGELS5 - UNEB.
Para atender a este objetivo a investigação busca conhecer o processo de escolarização
da mulher no Brasil, especificamente no Ensino Superior; refletir sobre como as desigualdades
existentes nas relações de gênero influenciam na atuação estudantil de alunas da pós-graduação
que são mães, esposas, donas de casa ou trabalhadoras, discutir as especificidades da condição
feminina na pós-graduação, tendo em vista as diferenças e desigualdades de gênero.
Existem algumas informações complementares, no sentido de melhor conhecer os
pormenores dos delineamentos de um projeto investigativo, que nem sempre cabem ser citadas

3
A mulher enquanto classe é uma designação feita por Angela Davis (2016) em seu livro Mulheres, raça e classe.
4
Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Campus de Vitória
da Conquista-BA.
5
Programa de Pós-graduação em Ensino, Linguagens e Sociedade, Campus VI, Caetité-BA.
na questão de pesquisa ou nos objetivos, em vista disso, penso ser importante especificar, logo
de início, sobre as participantes deste trabalho, que serão alunas (mães, esposas, donas de casa
ou trabalhadoras) ingressantes no Mestrado em Educação (PPGEd) em 2019.1 e do Mestrado
em Ensino (PPGELS) no mesmo semestre.
Diante de tudo o que foi exposto, este estudo pretende contribuir, não só para ampliar
os estudos e reflexões sobre a singularidade da atuação feminina na pós-graduação, mas
também para desnaturalizar as situações de sobrecarga de tarefas a que essas mulheres se
sujeitam cotidianamente para corresponder a todas as expectativas, históricas e sociais,
depositadas sobre elas.

2 TECER O CAMINHO É FUNDAMENTAL

Quando comparamos a construção de uma pesquisa com a tecelagem de uma peça de


artesanato podemos perceber várias semelhanças que ligam ambos os processos em diversos
aspectos. É função do/a tecelão/ã (pesquisador/a), por exemplo, delimitar qual a melhor linha
(teoria) para entrelaçar (analisar) os pontos (dados). Se escolhe uma linha inadequada às
necessidades do que pretende fazer a peça não fica de qualidade, e tem então que iniciar do zero
para construir uma nova. É de sua responsabilidade também definir previamente qual peça
pretende tecer, seu tamanho (amostragem), em qual lugar será usada (lócus) e outras
informações que parecem irrelevantes aos olhos menos atentos, mas que para o/a tecelão/ã
(pesquisador/a) são os fundamentos de sua arte (ciência).
Tendo em vista a breve analogia, este capítulo objetiva descrever as opções
metodológicas tecidas durante o planejamento da pesquisa. De forma intencional, esta seção
tem esse nome porque a palavra tecitura significa um conjunto de fios que se cruzam, e partindo
disto, acredita-se que toda investigação é construída por fios que se entrelaçam, muitas vezes
se embaraçam, mas que no fim têm como objetivo a construção de algo a ser utilizado.

2.1 Escolha teórico-metodológica

Um trabalho que se propõe a conhecer e discutir acerca da vida e do cotidiano de


mulheres inseridas em condições bastante específicas deve ter muita cautela no momento de
analisar todos os dados, colhidos e produzidos, no decorrer do estudo. Diante da intenção de
dar destaque à experiência de vida das pessoas, o método de pesquisa fenomenológico mostra-
se como o mais adequado (MOREIRA, 2002). À vista disso a natureza desta investigação foi
encaminhada para analisar as informações obtidas através do prisma da Fenomenologia, pois
trata-se de um novo modo de fazer Filosofia, ou ciência, deixando de lado especulações
metafísicas abstratas e entrando em contato com as “próprias coisas”, ressaltando as
experiências vividas (HUSSERL, 1907-1986, apud MOREIRA, 2002).
Aqueles/as que não se debruçam em leituras mais aprofundadas sobre este método
muitas vezes podem defini-lo, ou limitá-lo, ainda que inconscientemente, apenas como o estudo
dos fenômenos, todavia ele vai muito além disso.
Moreira (2002) cita cinco informações importantes a respeito da Fenomenologia. A
primeira é que ela é um movimento filosófico, cujo objetivo básico é a investigação direta e a
descrição dos fenômenos tal qual experimentados na consciência. Numa sociedade marcada
pelo sedentarismo, sobretudo o mental, onde certezas impregnadas que não dão abertura para
mudanças e evoluções são comuns, dizer que um estudo se baseia num conceito de mobilidade
é no mínimo incomum, já que muitas pesquisas têm perseguido justamente o contrário, aquilo
que é estanque, sem visar a motricidade das coisas, neste caso dos fenômenos.
Diz também que é uma escola de filosofia cujo propósito principal é o de estudar os
fenômenos (aqueles vivenciados nos vários atos da consciência) ou aparências da experiência
humana e acrescenta afirmando que é a descrição e o estudo das aparências e assim
caracteriza-se como a descrição da experiência. De uma forma simples a palavra aparência
significa aquilo que é aparente, ou seja, algo que podemos ver com clareza, sem muita
dificuldade. A exemplo da ponta de um iceberg que se constitui como sua parte visível,
enquanto que sua parte oculta na água é seu pedaço não aparente. Este exemplo explana bem
qual será a ótica de leitura dos dados alcançados, pois, partindo do pressuposto de que toda
aparência é a sucessão de fatos e fatores, não serão analisados apenas os dados que as
percepções conseguem apreender, mas também os processos que os fizeram resultar naquilo.
Ainda fala que é um método filosófico restrito à análise cuidadosa dos processos
intelectuais dos quais somos introspectivamente conscientes. As duas últimas palavras da frase
anteriormente mencionada acionaram um gatilho em relação à conjuntura que este estudo
objetiva analisar. Mesmo com as crescentes discussões a respeito da condição feminina na
sociedade ainda se acredita que as mulheres, foco deste estudo, não possuem consciência sobre
sua situação. A Fenomenologia, nesta perspectiva vem para mostrar que a consciência é um
processo interno e que mesmo quando não se manifesta, existe, e esse fato em si já oferece
possibilidades de mudanças no cenário em que está atuando.
Considerando todas essas definições a Fenomenologia caracteriza-se, portanto, e
sobretudo como uma ciência cujo propósito é descrever fenômenos particulares ou a aparência
das coisas, como experiência vivida. A experiência vivida no mundo da vida de todo dia é o
foco central da investigação fenomenológica. É no cotidiano que os maiores embates se
revelam, e para compreendê-los em sua complexidade e abrangência este método apresenta-se
como o mais apropriado.

2.2 Tipo de pesquisa

O delineamento metodológico que se aspira utilizar nesta investigação está


fundamentado na abordagem qualitativa, pois nela “a preocupação do pesquisador não é com a
representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da compreensão
de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma trajetória [...]”
(GOLDENBERG, 2004, p. 14), e assim, já que neste estudo pretendo analisar as trajetórias de
alunas, que na condição singular do ser mulher, carregam histórias cheias de simbolismos que
a rigidez das numerações não pode limitar, esta é a abordagem que melhor atende às
necessidades dele.
O mérito da investigação de campo se dá no ponto em que ela auxilia na maior
compreensão do/a pesquisador/a sobre seus/uas sujeitos/as e sobre o contexto em que estão
inseridos/as, facilitando o entendimento e as futuras análises desse ambiente e dos fenômenos
que nele acontecem. Esse enfoque é bastante versátil pois amplia os campos de entendimento
acerca do objeto de estudo e isso aumenta as possibilidades de interpretação, expandindo assim
as formas de analisar a questão delimitada para a pesquisa e demais indagações que podem
surgir no decorrer do processo.
A pesquisa de campo, sendo aquela [...] que pretende buscar a informação diretamente
com a população analisada, exigindo do pesquisador um encontro mais direto (GONSALVES,
2001), também dialoga com as intenções deste estudo, já que neste tipo de abordagem o/a
investigador/a precisa ficar frente à frente com o local e com as pessoas que deseja investigar,
e isso confere ao trabalho maior viabilidade de análises, já que é possível interpretar
comportamentos, gestos e até mesmo recusas que não seriam acessíveis caso o/a pesquisador/a
não estivesse em contato direto com suas fontes.

2.3 Os contextos e as participantes da pesquisa

Os loci desta pesquisa são a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de


Vitória da Conquista e também a Universidade do Estado da Bahia, campus VI, que fica
localizado em Caetité. A escolha por ambas as universidades e respectivos campi se deu
primeiramente porque sou oriunda da cidade de Caetité, que recentemente6 recebeu o Programa
de Pós-Graduação em Ensino, Linguagem e Sociedade (PPGELS). Já a UESB foi escolhida
porque sou mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd) da instituição.
Delimitei como perfil de mulheres a serem investigadas as alunas da pós-graduação dos
dois programas, que são mães, esposas, donas de casa ou trabalhadoras.
A proposta de pesquisar em ambos os contextos, Vitória da Conquista e Caetité, surge
da intenção de realizar uma breve comparação entre o perfil das alunas, já que percebi, em
relação à UESB, que a maioria das mulheres que serão pesquisadas são de cidades distantes de
Vitória da Conquista. Elas se deslocam muitos quilômetros para estudar. Já as discentes da
UNEB são da própria região e diante disso, meu intento é compreender as diferenças e
semelhanças que existem na rotina dessas mulheres, tanto das que estudam relativamente perto
de onde moram, como é o caso das alunas do PPGELS, quanto das que se deslocam muitos
quilômetros para dedicar-se ao mestrado, a situação das mestrandas do PPGEd.

2.4 Procedimentos metodológicos

Intuindo alcançar os objetivos aqui traçados, defini alguns instrumentos de investigação


que melhor atendem à demanda desta pesquisa. De início, pretendo aplicar um questionário,
pois ele se mostra como o meio mais rápido para a obtenção de informações, sendo bastante
eficaz por não exigir treinamento de pessoal (GIL, 2010). O questionário conterá perguntas
abertas e fechadas, as primeiras visando conhecer o perfil geral das participantes e as segundas
para aumentar o repertório de análises e singularizar as vivências delas.
Essa ferramenta foi escolhida porque permite realizar um levantamento mais extensivo
em relação ao perfil das colaboradoras, fornecendo desta maneira os subsídios necessários para
identificar e selecionar as mulheres que melhor se encaixam no perfil delimitado para a
investigação.
Objetivo também, realizar entrevistas semiestruturadas e episódicas. A primeira com o
intento de coletar informações mais particulares em relação à visão das alunas sobre o modo
como sua trajetória acadêmica vem acontecendo. Esse instrumento pode ser definido como um
processo de interação social entre duas pessoas, entrevistador/a e entrevistado/a, no qual o/a

6
A primeira turma ingressou no semestre de 2019.1.
primeiro/a assume como finalidade a obtenção de informações úteis ao estudo que está
desenvolvendo, por parte do/a segundo/a (HAGUETTE, 1997).
Nesta perspectiva, a entrevista episódica, é definida por Bauer; Gaskell (2002, p. 127),
como aquela que:

[...] permite ao entrevistado decidir que tipo de situação mencionar a fim de


esclarecer determinado tipo de experiência. Por isso, a entrevista episódica
tem mais a ver com a obtenção de narrativas de diferentes tipos de situações,
do que de situações que já foram de antemão definidas de acordo com critérios
fixos. Numa entrevista episódica, dá-se especial atenção ao sentido subjetivo
expresso no que é contado, a fim de descobrir a relevância subjetiva e social
do tema em estudo.

Ela surge com o intento de narrar as experiências singulares que as mulheres, pessoas-
fonte deste estudo, passam, devido ao fato de serem mulheres e estarem sujeitas às condições
que o patriarcado lhes impõe cotidianamente. Esse tipo de entrevista é concebido como o mais
adequado, pois seu foco está na subjetividade de cada uma, para depois transformar, ou não,
essa singularidade em regularidade.
Além disso, partindo do pressuposto de que para um trabalho ser considerado sólido e
confiável ele deve estar fundamentado em clássicos da área, a revisão bibliográfica também
será feita, pois:

[...] é um importante estágio na elaboração do quadro inicial. Se o pesquisador


utiliza teorias e conceitos para estudar fenômenos, a leitura é um hábito que
deve ser cultivado. Pela leitura, o pesquisador fica conhecendo o que outros
pesquisadores e autores disseram a respeito do fenômeno que pretende
estudar. (DOXSEY; RIZ, 2002-2003, p. 35).

Diante disso, ela se mostra bastante útil no processo de maturação e fortalecimento de


uma hipótese, já que se sustenta em dados e informações já consolidados para respaldar novos
dados e informações que estão em desenvolvimento.

2.5 Procedimentos para a análise dos dados coletados

Algumas das finalidades da análise de dados são expor, interpretar, relacionar e


compreender tudo aquilo que foi coletado durante o período de investigação. Todas as
informações obtidas, depois de processadas, devem servir para responder às indagações
levantadas a priori e no decorrer do estudo.
Como esta pesquisa perpassa, antes de tudo, por uma revisão de literatura, decidi que
para analisar as informações obtidas me valeria da proposta de triangulação de dados oferecida
por Flick (2009, p. 62), que afirma a importância de uma pesquisa bibliográfica percorrer por
quatro instâncias primordiais, "a literatura teórica sobre o tema a ser estudado; leitura de
pesquisas empíricas realizadas anteriormente sobre o tema, ou similares; literatura sobre
metodologia da pesquisa; literatura teórica e empírica para a contextualização, comparação e
generalização das descobertas".
Frente a isso, os dados obtidos e produzidos serão inicialmente examinados à luz da
análise de conteúdo, pois ela é o processo pelo qual se dá significado às informações que são
alcançadas durante a investigação. Consiste ainda, na transformação desses dados em
conclusões e conhecimentos relevantes para o estudo:

Do ponto de vista operacional, a análise de conteúdo inicia pela leitura das


falas, realizada por meio das transcrições de entrevistas, depoimentos e
documentos. Geralmente, todos os procedimentos levam a relacionar
estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas
(significados) dos enunciados e articular a superfície dos enunciados dos
textos com os fatores que determinam suas características: variáveis
psicossociais, contexto cultural e processos de produção de mensagem. Esse
conjunto analítico visa a dar consistência interna às operações. (MINAYO,
2007 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009).

Ela se constitui enquanto uma das partes mais delicadas e importantes da pesquisa, pois
é neste momento que as significações serão atribuídas de acordo com o que se coletou e
produziu no campo, podendo conduzir a investigação à caminhos não planejados, mas
necessários à compreensão do problema delimitado para análise.

2.6 Cuidados éticos

As instituições que realizam a produção de conhecimentos, principalmente daqueles


ligados à sociedade, seus/suas partícipes e os fenômenos que eles/as provocam, por inúmeras
vezes têm sua credibilidade posta em cheque, pois os saberes que produz são vistos como menos
valorosos, já que grande parte das vezes transcendem às quantificações e tudo isto pode denotar
menos confiabilidade, já que o campo empírico em que muitas pesquisas estão ancoradas é
mutável e nem sempre é possível realizar uma investigação semelhante, mesmo que o/a
pesquisador/a se valha dos mesmos métodos, procedimentos, instrumentos e amostragem, pois
os/as sujeitos/os são diferentes e volantes e isso os torna inesperadamente incertos.
Em vista disso, uma série de precauções éticas devem, e serão adotadas aqui para dar
mais sustentabilidade às informações coletadas e produzidas durante esta investigação. Os
principais são a participação voluntária no estudo, a livre escolha pela desistência, mesmo no
meio do processo e a ocultação dos nomes verdadeiros dos/as participantes. Tudo isso é exposto
no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que também será entregue. Ele
mostra ao/a colaborador/a todos os seus direitos quando aceita participar de uma pesquisa, pois
concebendo que todo estudo envolve riscos e que estar em contato com seres humanos é tornar
e tornar-se vulnerável às mais inimagináveis situações é fundamental deixar explícito tudo o
que assegura aqueles/as que se dispõem a participar.
Todas essas questões são normatizadas pelo Conselho Nacional de Saúde, uma instância
vinculada ao Ministério da Saúde, que dentre tantas leis, normas e portarias as quais
regulamenta apresenta duas resoluções imprescindíveis àqueles/as que pretendem desenvolver
pesquisa com seres humanos. A primeira é a Resolução Nº 510, de 07 de abril de 2016, que cita
cada uma das obrigações do/a pesquisador responsável pelo estudo para com os/as
colaboradores/as (BRASIL, 2016). Já a Resolução Nº 466, de 12 de dezembro de 2012 aborda,
entre muitas coisas, acerca da importância de realizar a devolutiva dos achados da pesquisa à
comunidade acadêmica, e também à sociedade civil (BRASIL, 2012).
Todos os cuidados serão empregados visando construir um estudo que seja o mais
fidedigno possível, e para que tenha a qualidade e capacidade de tornar-se inspiração para uma
possível continuidade da pesquisa e até mesmo tornar-se subsídio para outros estudos.

Referências

AGUIAR, Samara Gomes; PAES, Valquíria Normanha. Mulher, mãe, dona de casa, esposa
e trabalhadora: dificuldades e superações para ingressar e permanecer na universidade
pública. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Departamento
de Educação, DEDC Campus XII, Uneb, Guanambi, 2018.

BRASIL. Resolução Nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, do


Ministério da Saúde. Diário Oficial da União 2012; 12 dez. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html>. Acesso
em: 12 jul. 2019.

______. Resolução Nº 510, de 7 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde, do


Ministério da Saúde. Diário Oficial da União 2016; 7 abr. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2016/res0510_07_04_2016.html>. Acesso em:
12 jul. 2019.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.


DOXSEY, Jaime Roy; RIZ, Joelma de. Metodologia da pesquisa científica. ESAB – Escola
Superior Aberta do Brasil, 2002-2003. Apostila.

FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. Uwe Flick; tradução Joice Elias Costas. 3.
– ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Universidade


Aberta do Brasil – UAB/UFRGS; Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da
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HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na Sociologia. 5. – ed.


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HUSSERL, Edmund. (1907). A idéia da fenomenologia. Tradução Artur Morão. Lisboa,


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MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. – 10. ed. São Paulo:
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