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Texto Dissertativo Argumentativo sobre o tema “Mulheres na sala de aula”

Juliana da Silva Gomes

No capítulo “Mulheres na Sala de Aula” da obra “História das Mulheres no Brasil”,


Guacira Lopes Louro, doutora em educação de grande renome na história do país, traça uma
análise profunda sobre a participação feminina no cenário em que por muitos anos esteve
inserida, a escola, trazendo ao público o debate sobre questões cruciais que permeiam esse
ambiente aparentemente progressista, mas que ainda tem sequelas do passado. Nesta reflexão,
há abordagens de temas como as desigualdades de gênero persistentes e os desafios
enfrentados pelas mulheres no meio educacional durante a história e atualmente. Visto isso, é
imprescindível a análise do ponto de vista de alunas e professoras no que diz respeito a
segurança, equidade e o direito de prosperar no meio, tendo em vista questões delicadas como
o assédio, o preconceito e constante desvalorização da profissão pela presença de mulheres.
A priori, a desigualdade de gênero, apesar dos avanços conquistados, ainda reverbera
nos corredores das instituições de ensino. Uma pesquisa feita pelo G1 no ano de 2022 afirmou
que o salário masculino é 20% maior do que o feminino em várias áreas, incluindo a
pedagogia, destacando que mulheres ainda deparam com limitações de promoção e a
persistência de estereótipos que moldam as expectativas em torno de suas competências, até
mesmo que considerado um “ambiente feminino”. Ademais, Guacira reverbera que na
história, o termo “feminilização do ensino” foi utilizado no sentido difamatório, para assim
menosprezar o trabalho feito por educadoras no país e diminuir sua importância e sua eficácia
dentre todas as outras profissões. Nesse viés, é possível constatar as lacunas ainda presentes
na sociedade sobre o entendimento do papel fundamental que a educação e de suas grandes
profissionais, que do passado até os dias de hoje fizeram com que o ensino se tornasse cada
vez melhor, não apenas por serem mulheres, mas por serem qualificadas e corajosas para
escolher o magistério e fazer dele uma missão de vida.
Outrossim, questões como assédio, por sua vez, emergem como uma sombra que paira
sobre a educação. Seja no assédio entre colegas, entre professores e alunas, ou mesmo no
direcionado às professoras, pois, como abordado pelo artigo de julho de 2023 da CNN Brasil,
apenas 6% dos professores acusados de assédio foram demitidos nos últimos 10 anos das
universidades, não importando se quem denunciou era uma estudante, ou uma colega de
trabalho. Se mostra, cada vez mais, de extrema necessidade avaliar como os comportamentos
contra mulheres no meio da educação seguem tolerados por superiores, que por toda a história
escolhem o homem para sair em defesa. É uma necessidade que haja a criação de políticas
internas rigorosas, e só assim seria de alguma forma alcançada a segurança que foi
supracitada como um objetivo a se cumprir.
Além disso, ao olhar pela perspectiva das alunas, a sociedade se depara com desafios
singulares. O tratamento desigual, muitas vezes refletido em expectativas acadêmicas e
responsabilidades distribuídas de maneira diferenciada, influencia diretamente no
desenvolvimento educacional e na autoestima das estudantes, o que, somado com o fator do
ambiente ser hostil para o gênero feminino. De acordo com a filosofa e escritora Djamilla
Ribeiro, para encontrar soluções para um problema, devemos retirar ele da invisibilidade,
assim, as problemáticas envolvendo alunas e professoras no ambiente escolar só serão
resolvidas quando houver abertura sobre o assunto. Visto isso, a promoção de práticas
pedagógicas igualitárias e a desconstrução de estereótipos de gênero tornam-se, assim,
elementos-chave na busca por uma educação verdadeiramente inclusiva, com segurança para
as mulheres naquele contexto.
Além do mais, vale o ressalte, também feito por Guacira, sobre a construção social do
gênero e seus papeis. Desde o passado, os povos originários da América do Norte tinham para
si o ideal de “dois espíritos”, que significava que uma única pessoa realizava tanto atividades
tidas como femininas quanto masculinas, e isso era fortemente aceito pelos seus
companheiros, que não faziam o individuo escolher, e considerava que todos eram aptos a
fazer qualquer atividade, algo que em sociedades como a que estamos inseridos, se torna
muito distante. Logo, não basta focar apenas nas instituições educacionais, é necessário
envolver a sociedade como um todo, para que a falácia de que mulheres não podem fazer o
papel de homens ou, não podem fazer com tanta competência sejam desmentidas e
erradicadas. A construção de uma educação inclusiva e igualitária demanda não apenas
políticas educacionais reformadoras, mas também uma mudança cultural profunda,
estimulando a diversidade de vozes e perspectivas em todos os níveis da sociedade,
quebrando antigos preceitos sociais.
Ademais, para compreender integralmente a presença das mulheres na sala de aula, é
fundamental considerar as múltiplas dimensões que permeiam essa questão. Ao expandir a
análise, podemos explorar também como as mulheres enfrentam desafios específicos em
relação à maternidade e à conciliação entre a vida profissional e pessoal, o papel de mão, por
exemplo, pode ser um fator determinante na progressão profissional das mulheres no campo
educacional. A necessidade de licenças maternidade, os estigmas associados à gravidez
durante o período de trabalho e as limitações percebidas em termos de disponibilidade para
assumir funções de liderança podem influenciar a trajetória profissional das mulheres
educadoras. Essa realidade pode contribuir para a persistência de desigualdades e para a
escassez de mulheres em posições de liderança no ambiente educacional.
Visto isso, a análise da presença das mulheres na sala de aula também pode se estender
à discussão sobre a representação feminina nos currículos educacionais. A ausência ou sub-
representação de mulheres em disciplinas históricas, científicas e literárias pode reforçar
estereótipos de gênero e limitar as aspirações das alunas. Incluir conteúdos que destaquem as
contribuições significativas das mulheres ao longo da história e em diversas áreas do
conhecimento é uma maneira eficaz de combater essas disparidades e promover uma
educação mais inclusiva. Em resumo, a presença de mulheres na sala de aula não é apenas um
indicativo de avanço social, mas um ponto de partida essencial para a construção de uma
sociedade verdadeiramente justa e igualitária, no entanto, esse progresso não pode ser
considerado completo sem abordar diretamente os desafios persistentes de desigualdade,
assédio e mentalidades conservadoras que ainda permeiam o ambiente educacional.
Em suma, o caminho em direção a ambientes educacionais verdadeiramente inclusivos
requer uma abordagem holística e colaborativa. Políticas efetivas, mudanças culturais
profundas, com a quebra de preceitos e antigas crenças sobre os papéis de gênero e a
capacidade no geral, e o engajamento ativo de todos os setores da sociedade são essenciais
para criar um ambiente onde todas as mulheres possam prosperar, seja como professoras
moldando mentes ou como alunas em busca de conhecimento. Somente através desse
comprometimento coletivo podemos construir uma sociedade onde a igualdade de gênero não
seja apenas um ideal, mas uma realidade concreta na sala de aula e além, como previsto por
Guacira Lopes.

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