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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

PROGRAMA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA


RELATO DE EXPERIÊNCIA- CURSINHO POPULAR PRÉ ENEM
E.E. GERALDO JARDIM LINHARES

BRUNA KARLLA A. SIMÕES

BELO HORIZONTE,
24 DE NOVEMBRO DE 2023
Os cursinhos populares preparatórios para o ENEM- Exame Nacional do
Ensino Médio, exercem uma função de integrar os alunos a uma
preparação para o processo seletivo de entrada na universidade,
buscando promover uma complementação dos conteúdos ministrados
nas escolas públicas, muitas vezes insuficientes para os alunos de
baixa renda, que majoritariamente não possuem acesso a cursos
privados pré- vestibular. Em relação a isso, o cursinho popular pré-
Enem possui uma relevância que se exerce na construção e ampliação
de conhecimentos, como a interdisciplinaridade que o Enem exige,
criando possibilidades de conexões de saberes. No contexto da Escola
Estadual Geraldo Jardim Linhares, é proveitosa essa possibilidade, e
por conta disso, convidei o cursinho popular “Emancipa”, uma
organização de professores voluntários para promover este acesso.
Para a inserção dos alunos nesse processo, dois professores do
Emancipa se deslocaram ao ambiente escolar, e promoveram uma
palestra sobre o assunto, no auditório da escola composto com cerca de
45 alunos. Ao longo da palestra, houve um discurso acerca do que
significa, qual é a importância do curso pré- Enem, quais são os motivos
para realiza- ló, a mudança na vida profissional, material, e pessoal que
a universidade pode trazer, bem como relato de experiência pessoal de
maneira motivacional. Tive uma nítida percepção do impacto de tais
informações para os alunos, principalmente no momento em que
escutaram a história pessoal do professor palestrante, indicando que a
compreensão de sua história causa uma inspiração e abertura da visão
de novas possibilidades para esses jovens, que disseram não possuir
conhecimento de alguma história semelhante em seu núcleo familiar e
social próximo. Outro momento que me trouxe satisfação sobre a
realização da palestra, foi no momento final, que recolhemos os papeis
entregues anteriormente aos alunos para anotação de dúvidas. Em
meio as questões e comentários trazidos pelos alunos, estavam elogios,
empolgações, e preocupações em relação a realização do curso. Um
comentário que me inspirou, foi escrito por uma aluna não identificada,
dizendo “Eu também serei a primeira da minha família! Um pobre
estudado derruba o Estado.”, que expressa a vontade da aluna em
romper com um ciclo de falta de oportunidades de suas origens, e ao
mesmo tempo, seu desejo de transformar as políticas institucionais que
não a representam em sua classe. Diversos outros comentários iam
nesse sentido, junto a uma vontade de compreender melhor o
funcionamento do curso, como horários, local, e muitos expressavam a
surpresa em se tratar de algo totalmente voluntário. Isso pra mim foi
muito significativo como educadora. Me expõe quais são suas maiores
questões, que tanto inspiram como afligem suas ideias sobre o futuro e
seus projetos de vida: ancestralidade, questão financeira, poder político
decisório, tempo para realizar tarefas. Houve também dúvidas no
sentido de buscar saber se conseguem acesso a outros cursos
gratuitamente relacionados a arte, idioma, e atividades de seus
interesses. A hipótese levantada por mim, se trata de que muitos deles
não veem a possibilidade de alcançarem o que desejam como futuro
somente através da educação superior formal, tentando encontrar
outras alternativas pra si que permitem outros sonhos, mas de muito
difícil acesso, aparentemente. Por meio destes retornos dos alunos,
levantei percepções e hipóteses sobre suas visões de educação e futuro
atualmente, enquanto estudantes de ensino médio em escola pública,
que desejo desenvolver mais detalhadamente no artigo que irei elaborar
em conjunto com outros participantes do PIBID. Em relação ao cursinho
popular, já obtinha conhecimento acerca do trabalho do Emancipa, e vi
na prática seu projeto político pedagógico de ensino que dialoga muito
com a práxis freireana, de teoria e ação sobre a realidade. Essa teoria
ensina em suas obras, em especial Pedagogia da Autonomia, propõe
uma intervenção que aborde temas de maneira que dialogam com a
vivência dos educandos, e impulsiona maior autonomia para que
percebam sua capacidade de intervir nas decisões que afetam suas
vidas. Um estudo que traga uma inconformação com o que pode ser
transformado, a educação libertadora. Tem uma frase dessa obra que
expressa o pensamento de Freire sobre a realidade, e descreve bem
minha percepção sobre o que o cursinho trouxe a esses alunos:

“Sempre recusei os fatalismos.


Prefiro a rebeldia que me confirma como gente,
e que jamais deixou de provar que o ser humano
é maior do que os mecanismos que o minimizam.”

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia.


Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, (p 115–118).

Com isso, se inicia o projeto na escola de incentivo e prática de apoio à


construção desses saberes que possibilitam o vislumbre de novos
futuros que eles desejam, que após a divulgação do cursinho, também
se mescla com outro projeto em que levamos os alunos para conhecer a
universidade, e que acompanhamos seus primeiros contatos com o
Enem. Sabemos que não é o único caminho possível, mas acreditamos
na importância de abrir essa possibilidade para que eles planejem e
descubram seus objetivos.

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