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Todo o conhecimento, para todos ção anterior, antes do 25 de abril, praticamente

Rui Tavares (historiador) não chegava às classes baixas) (…).


In Público, 10 de Setembro de 2018 Há coisas que só se aprendem na universida-
de e que são hoje em dia cada vez mais impor-
A partir de hoje cerca de cinquenta mil jovens tantes: mobilizar grandes quantidades de infor-
(…) irão, talvez, condicionados por um discurso mação; distinguir entre formas de obter essa
acerca do mercado de trabalho e da empregabi- informação, validá-la e apresentá-la; saber rela-
lidade, dos cursos que dão dinheiro e dos que cionar teorias filosóficas, políticas, sociais e cien-
dão poder e influência e todas as outras obses- tíficas; escolher os seus professores e criar o seu
sões com que a sociedade, incluindo pais e polí- próprio currículo; ganhar habituação à troca de
ticos, pretende delimitar a universidade. Sempre ideias de uma forma sustentada e sistemática.
que tenho oportunidade, tento dizer-lhes o con- Se me disserem que tudo isto se pode fazer
trário. Não que o resto não seja importante. Mas na net, dir-vos-ei que não se pode fazê-lo convi-
a universidade, na sua essência, tem a ver com vendo num ambiente humano e pessoal, inter-
ideias: ideias sobre como as coisas são, sobre geracional e interclassista. Cara a cara, e em
como elas deveriam ser, ideias sobre as ideias. edifícios onde nos sintamos em casa.
A universidade é ela própria uma ideia, e uma Este último aspecto é crucial (…). O alarga-
das melhores que já tivemos: a de construir um mento da experiência universitária a todos, que
lugar exclusivamente dedicado ao conhecimen- podemos atingir numa geração, é essencial para
to. Isso, e as festas e os amigos e os namoros. que possamos passar outra mensagem vital para
Mas só quem leva a sério a radical liberdade de essa mesma geração e as que vierem a seguir: a
conhecer e discutir ideias que a universidade universidade é a vossa casa sempre que quise-
proporciona poderá encontrar em si a capacida- rem. Sintam-se à vontade para voltar a ela, sem
de de levar a sério as outras coisas da vida práti- pedir licença, quando a vossa profissão mudar,
ca pós-universitária e a possibilidade de ser bem quando precisarem de aprender mais, quando
sucedido nelas. tiverem dúvidas.
(…) Desde que na Idade Média se começou a (…) Tal como é importante que as universida-
chamar universidade a este tipo de lugar, é o seu des façam aquilo para que elas servem hoje em
universalismo que tem sido a chave para a en- dia, é importante que elas façam cada vez mais
tender. Universalismo de conhecimento, enten- aquilo que algumas já vão começando a fazer:
da-se (e por isso quando digo aqui universidade abrirem-se à comunidade e proporcionar diver-
quero englobar também o ensino politécnico, sos tipos de experiência de conhecimento a um
artístico, e todas as formas de ensino superior). público cada vez mais diverso.
O universalismo é de tal forma importante para Com os desafios que temos à frente — da au-
a universidade, e a universidade para a humani- tomação ao autoritarismo — a universidade não
dade, que me pergunto mesmo se a humanidade pode abandonar a sua ambição universalista.
não precisa, para os seus atuais desafios, de ser Disso depende provavelmente a democracia, a
mais ambiciosa em relação à universidade, jun- nossa capacidade de lidar com a mudança e o
tando ao seu universalismo de conhecimento nosso papel na globalização.
dois outros universalismos: de acesso e temporal Portugal chegou tarde ao acesso mais gene-
(…). ralizado à universidade (…) seria bom que, em
Disse no início que mais de metade dos jo- vez de chegarmos de novo atrasados, antecipás-
vens portugueses de 18 anos entraram ontem na semos o tipo de universidade de que o futuro vai
universidade. Quando eu entrei na universidade, precisar. Talvez isso até nos ajudasse a encontrar
há 25 anos, éramos apenas entre um décimo e o caminho para o tipo de economia que preci-
um quinto a fazê-lo — e considerávamo-nos com samos de vir a ser. Mas esse é um ganho que só
razão parte de um grande movimento de gene- vem se antes tivermos levado a sério aquilo para
ralização do ensino superior (que ainda na gera- que a universidade serve.

Teoria e desenvolvimento curricular 1 Maria Helena Damião


Era uma vez… articulação entre o perfil do aluno e as aprendi-
Carmo Miranda Machado (professora) zagens essenciais que este deve fazer (conheci-
In Visão, 11 de Setembro de 2018 mentos, capacidades e atitudes). No seu art.º 4,
ponto 1, pode ler-se: (...) o reconhecimento dos
Num dia ainda ameno de Setembro, chegou à professores enquanto agentes principais do de-
escola uma simpática menina chamada Flexibela. senvolvimento do currículo, com um papel fun-
Mas a menina não vinha só. Trazia com ela uns damental na sua avaliação, na reflexão sobre as
fiéis amiguinhos que pretendiam promover na- opções a tomar, na sua exequibilidade e adequa-
quela nova instituição de ensino grandes mu- ção aos conteúdos de cada comunidade escolar.
danças, sobretudo o sucesso escolar de todos os Afinal, flexibilidade curricular e sucesso esco-
meninos que lá se encontravam. lar são as bandeiras que qualquer professor
Flexibela era apenas o petit nom que os pais competente e responsável ergue bem alto. Não
lhe tinham atribuído porque o seu nome com- há, que eu conheça, muitas outras classes profis-
pleto era muito mais complexo (Projeto de Au- sionais mais capazes e habituadas a flexibilizar
tonomia e de Flexibilidade Curricular). A menina do que os docentes. Não há, neste decreto-lei
entrou na escola acompanhada da Articulação nada de novo para os bons professores.
(de apelido Vertical), da Aprendizagem (cujo Estes sabem, desde a sua profissionalização,
apelido é Essencial), da Planificação e de vários a necessidade de compromisso com uma escola
meninos todos eles de nome próprio, Critério, só inclusiva, essa escola em que todos os alunos
mudava o apelido (Critério Português, Critério têm a oportunidade de realizar aprendizagens
Biologia, Critério Geografia, etc.). significativas e na qual todos são respeitados e
O objetivo de Flexibela e dos seus amigos era valorizados. Os professores lutaram sempre por
alargar o sucesso escolar a toda a escola e fazer uma escola que corrige assimetrias que a socie-
com que nenhum menino ou menina a abando- dade e a vida fora da escola insistem em acentu-
nasse antes de tempo. Assim decidiram começar ar. Os professores passam os seus dias, nas aulas
a criar jogos de associações a problemas do quo- e fora delas, a desenvolver ao máximo o poten-
tidiano; promoveram atividades em que as me- cial dos seus alunos.
ninas e os meninos cooperavam entre si, faziam O problema não são os professores. O pro-
jogos de escolhas, confrontavam as diferentes blema reside nas políticas educativas que mu-
opiniões e resolviam todos os problemas que dam consoante as cores do parlamento e, sobre-
lhes iam aparecendo. tudo, na ausência total de respeito pela profis-
Flexibela e os amigos estavam convencidos são docente que este e outros governos anteri-
de que só eles é que sabiam as regras destes ormente têm demonstrado.
novos jogos. Diziam mesmo a quem os ouvisse O Decreto-Lei 55/2018 de 6 de Julho parte, a
que os outros jogos que na escola se jogavam meu ver, do princípio de que os professores de
antes deles lá terem chegado não favoreciam Portugal são todos maltratados do miolo."
nem o sucesso nem a inclusão de todos os meni-
nos e meninas. Consultar: Programa pedagógico: “Vamos lá ar-
Mas Flexibela esqueceu-se que nessa escola, gumentar! Aprender a aplicar uma sequência de
muito tempo antes dela lá chegar, tinha havido e atividades pedagógicas dirigidas ao desenvolvi-
continuava a haver muitas outras Flexibelas, cuja mento do raciocínio crítico dos alunos”. Acesso:
luta diária foi e continua a ser exatamente a http://fcsh.unl.pt/media/eventos/coloquio-
mesma. 201cvamos-la-argumentar-aprender-a-aplicar-uma-
O Projeto de Autonomia e de Flexiblidade sequencia-de-atividades-pedagogicas-dirigidas-ao-
Curricular pretende promover o sucesso escolar desenvolvimento-do-raciocinio-critico-dos-
alunos201d
e a flexibilidade curricular. Para tal, propõe uma

Teoria e desenvolvimento curricular 2 Maria Helena Damião

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