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Eliezer Pacheco
Os IFs foram uma ruptura com toda uma tradição elitista de nosso sistema educacional onde a
Educação Profissional era destinada aos trabalhadores, objetivando formar mão de obra para o
capital e a Superior voltada para as classes dominantes, os dirigentes. Esta lógica foi naturalizada e
considerada imutável ao longo de nossa história.. O caráter de classe de nossas universidades só
sofreria um abalo pelas políticas produzidas no Governo Lula, durante a gestão de Fernando Haddad
no MEC, como a grande expansão da oferta pública, acesso pelo ENEM(que algumas ainda resistem),
política de quotas, REUNI, PROUNI,etc. Entretanto, o mundo das ideias, das concepções, não mudam
apenas com as alterações das estruturas. Ele é mais resistente e demanda debates e disputas
ideológicas de longo prazo. Marx afirmava que os homens fazem a história, mas dentro de
circunstâncias herdadas de seus antepassados. Os IFs embora fossem uma ruptura com nossa
tradição elitista e academicista trazem, inevitavelmente, parte desta herança, além de que seus
docentes, na grande maioria, são formados nesta tradição. A Extensão como é, muitas vezes
praticada, revela muito desta concepção, onde o território e a sociedade são vistos como algo
externo estranho à Universidade que está lá fora à espera da sua ação “civilizatória “, “iluminadora”,
“libertadora”. O mundo externo não é visto como detentor de saberes, mas um receptáculo passivo,
à espera da sabedoria acadêmica. O Campus é considerado apenas os prédios e terrenos internos,
estabelecendo uma separação entre o “Câmpus” e o mundo externo, o território. Algumas vezes, a
Universidade, faz um esforço e tenta estender seu conhecimento para o
mundo externo. Esta concepção é reveladora da ideologia ainda muito forte nas mesmas, embora
do ponto de vista individual, muitos profissionais progressistas procurem desenvolver um trabalho
de extensão dentro de uma perspectiva de interação dialética com a sociedade e transformadora.
Extensão não é prestação de serviços, mas construção é disseminação de conhecimentos.
Os saberes estão fora e dentro do Campus e da interação dialética destas dois campos são
produzidos novos conhecimentos para Ensino, Pesquisa e Estensão. Neste sentido, é fundamental a
participação de alunos e alunas de todos os níveis e modalidades neste processo aprendendo,
ensinando, transformando. O mundo é um grande laboratório, biblioteca e sala de aula. “Ninguém
educa ninguém, ninguém tampouco se educa sòzinho. Os homens se educam entre sí, mediatizamos
pelo mundo(Freire)”.O Campus é todo território e não apenas os prédios e terrenos internos, no
qual Pesquisa/Ensino/Extensão devem acontecer conjuntamente como se fossem uma moeda com
três faces. Estas três dimensões tem de ser SEMPRE desenvolvidas conjuntamente, de forma
interdisciplinar, o que pressupõe planejamento conjunto. Logo EXTENSÃO é, necessariamente,
também um
atividade de ensino e pesquisa. Não existe Extensão sem Ensino e Pesquisa. Não existe Ensino sem
Extensão e Pesquisa. Não existe Pesquisa sem Ensino e Extensão . Qualquer uma destas dimensões
que não contiver as outras duas não foi pensada adequadamente. Isto deve nortear a ação
pedagógica dos IFs. Pensar que um Câmpus educa a sociedade mas também é educado por ela é
fundamental. Isto implica em romper com o sentimento de superioridade pequeno-burguesa
presente no nosso meio. Significa compreender com Paulo Freire que não existe uma hierarquia de
saberes, mas saberes diferentes. Não é fácil abandonar uma concepção secular, mas a sobrevivência
dos IFs depende da afirmação da originalidade de sua proposta. Eles não são nem Universidade, nem
Faculdade, nem Escola Técnica mas uma outra institucionalidade. Um inédito viável, como diria
Freire.Se se tornarem um simulacro, uma imitação destas instituições, eles se tornariam irrelevantes
e, portanto, dispensáveis. Não é fácil criar o novo, o inédito mas é um desafio que raramente
aparece em nossas vidas e, ao enfrentá-lo, fazemos história. Da Educação e do país. Pensar a
extensão, pesquisa e ensino como coisas ligadas dialéticamente e inseparáveis é um grande desafio.
É neste terreno, também, que os Institutos Federais podem e devem construir uma identidade
própria.
Ensino, Pesquisa e Extensão, separadamente, não atingem seus objetivos pois é através da
integração dialética dos mesmos que unimos teoria e prática, elementos constitutivos da produção
do conhecimento. Não é possível, portanto, estabelecer hierarquia ou precedência entre estas três
dimensões.(Eliezer Pacheco)