O documento discute a obra de Michel Foucault sobre a relação entre o indivíduo e o cuidado de si no mundo greco-romano. Aborda temas como a cultura de si, o corpo, prazeres sexuais, casamento, jogo político e virgindade.
O documento discute a obra de Michel Foucault sobre a relação entre o indivíduo e o cuidado de si no mundo greco-romano. Aborda temas como a cultura de si, o corpo, prazeres sexuais, casamento, jogo político e virgindade.
O documento discute a obra de Michel Foucault sobre a relação entre o indivíduo e o cuidado de si no mundo greco-romano. Aborda temas como a cultura de si, o corpo, prazeres sexuais, casamento, jogo político e virgindade.
- FOUCAULT, Michel. 2007. “Eu e os outros”. In: História da Sexualidade 3:
Cuidado de si. - _____________________. “O Corpo”. In: História da Sexualidade 3: Cuidado de si. (Texto para Seminário) - ________________. 2018. “Ser virgem: Virgindade e conhecimento de si”. In: História da Sexualidade 4: Confissões da Carne. A Cultura de Si - Século II do mundo helenístico e romano: crescimento da austeridade sexual por pensadores e médicos. - Insistente questão dos prazeres, em particular os prazeres sexuais, a relação que se tem com eles e o uso que deve ser feito deles. - Com raras exceções, essas ideias moralistas não demandaram intervenção por parte do poder público ou legislações coercitivas. Sua marca é a atenção para consigo mesmo, vigilância do corpo e da alma em um regime de moral austera. - Intensificação da relação consigo pela qual o sujeito se constitui sujeito do seus atos. Tipo de individualismo que confere cada vez mais importância aos aspectos privados da existência, aos valores da conduta pessoal e ao interesse do sujeito por si próprio. Desenvolvimento de uma “cultura de si”, que fundamenta sua necessidade, orienta seu desenrolar e organiza sua prática.
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A arte de viver sob o signo do cuidado de si - Embora os gregos já tivessem atenção com o cuidado de si, além de ter se estendido a várias doutrinas filosóficas, tomou a forma de uma atitude, de se comportar e viver, constituiu-se uma prática social, que norteou relações interindividuais, trocas, instituições, enfim tornou-se um modo de conhecimento, a elaboração de um saber e de um trabalho sobre si. - Essa cultura de si estava em correlação direta com o pensamento e as práticas médicas, tendo o corpo como alvo não mais de aumento do vigor físico, mas de combate aos males da alma e à fragilidade causada pelas doenças. Reconhecimento da vulnerabilidade humana e da necessidade de se cuidar e ser cuidado. - Desenvolvimento da reflexão sobre a moral dos prazeres, produzindo efeitos sobre a elementos constitutivos da subjetividade moral do sujeito. - O prazer sexual, enquanto elemento ético, é da ordem da força: luta entre o sujeito e a dominação do seu desejo, sua submissão a critérios éticos e estéticos, seu autocontrole e sua verdade .
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Eu e os outros - Mudanças na prática matrimonial e nas regras do jogo político geraram impactos na ética dos prazeres e na moral de tradição masculina, levando a essa nova problematização da relação do sujeito consigo, a uma nova estilística da existência. - Um conjunto de medidas marca progressivamente o avanço da autoridade pública sobre a instituição matrimonial, marcando outras transformações de que ele é tanto efeito como serve de instrumento e ligação. O casamento vai se tornando cada vez mais uma união livremente consentida entre o casal, sustentando a relação pessoal, o compartilhamento da vida, ajuda mútua e apoio moral. A mulher ganhou em independência. Surge a ideia de uma comunidade conjugal com valor superior a de seus integrantes (o “indivíduo conjugal”). Paradoxos da prática matrimonial - Busca apoio na autoridade pública, mas torna-se mais importante na vida privada; libera-se de imperativos econômicos e sociais, generalizando-se como prática; passa a ser mais coercitiva para o casal e, ao mesmo tempo, mais favorável a atitudes independentes. Isola o casal do campo das demais relações sociais. - O “estado de casamento” se torna forma de vida, existência compartilhada, vínculo pessoal e posição dos parceiros nessa relação. - O homem deve regular sua conduta não somente por seus status, privilégios e função doméstica, mas também a partir do seu papel relacional, que envolve reciprocidade afetiva e dependência mútua. - Constituição do homem como sujeito moral na relação de conjugalidade. O Jogo Político
- Séc III: declínio das cidades-Estado enquanto entidades autônomas e o recuo da
vida política e valorização da vida pessoal. Ressalta-se a mudança nas condições para o exercício do poder, em que as elites buscam uma nova maneira de expressão e relação com o seu status, suas funções, atividades e obrigações. - A ética anterior voltava-se para uma articulação entre o poder sobre si e o poder sobre os outros, agora torna-se mais difícil a relação entre o que se é, o que se pode fazer e o que se é obrigado a realizar, enfim problematiza-se o sujeito ético de suas próprias ações. - Cultura de si: procura definir o princípio de uma relação consigo que estabelecerá as formas e as condições pelas quais uma ação política será possível ou impossível, aceitável ou inaceitável, caracterizando-se por: 1) relativização (política uma escolha livre e voluntária / é uma vida e uma prática/ engajamento pessoal / mediação e inserção em jogo complexo);
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2) Atividade política e ator moral (a razão governa o governante / a arte de governar a si próprio / trabalho ético sobre si). 3) Atividade política e destino pessoal (cada um é artesão de sua própria moralidade.
Em síntese: momento de reelaboração do domínio de si, de revisão da superioridade
sobre si como núcleo ético essencial, de crise da subjetivação diante da dificuldade na maneira pela qual o indivíduo se constitui como sujeito moral de suas condutas e na aplicação das regras sobre si. Não desaparece o “heuautocratismo”, mas dá lugar a certo equilibro entre desigualdade e reciprocidade matrimonial, bem como dá lugar a certa dissociação entre poder sobre si e poder sobre os outros. Os prazeres tão ligados à correlação entre exercer o domínio sobre si, sobre a casa e sobre os outros foi, então, modificado.
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Confissões da Carne - Foucault foca o prazer sexual na perspectiva histórica de uma genealogia do sujeito de desejo/de uma ética do sujeito e no horizonte das artes da existência, via padres e oradores cristãos dos primeiros séculos. - Importância dos textos sobre virgindade, tema já encontrado na moral pagã (proibidos o adultério, a fornicação e corrupção de crianças). Mas a prática cristã se distinguiu em 2 ptos: outra significação à abstinência; fixou outra abrangência e outros instrumentos. - Necessidade de afastamento do cristianismo à tendência do encratismo (interdição à relação sexual a todo cristão para a obtenção da salvação). Então, precisava-se definir qual a experiência virginal privilegiada, “rara” e positiva. Esse quadro trouxe à tona minúcias da relação do indivíduo consigo mesmo, com seu pensamento, corpo e sua alma. - Concepção cristão da carne se estabelece a partir da prática da virgindade, de uma mística cristã da virgindade. - Documentos do sec III, ainda sem o desenvolvimento da vida monástica: a jovem em sua casa e o círculo das virgens. - Duas tendências: atribuir à abstenção um valor enqto meio para se aproximar de uma existência santificada; e o estabelecimento de uma moral rigorosa da abstinência que conferiu estatuto particular à virgindade. - Como virtude e ápice de todas as virtudes, como preparação à realização dos tempos, a virgindade deve ser não uma rejeição do corpo, mas um trabalho da alma sobre si. É um modo de relação entre Deus e ahumanidade, movimento da salvação, em que Deus e a criatura não se comunicam mais pela Lei e a obediência à Lei, uma vez que a virgindade não é uma maneira de se submeter ao que foi ordenado: é um exercício da alma sobre si, que a transporta até a imortalização do corpo e à união com Cristo. - Lugar central do sexo na subjetividade ocidental marca-se já na formação desta mística da virgindade. - Séc IV: propagação da vida monástica: ascese da castidade (pureza) / prazeres sexuais associados ao mal (combate espiritual frente à tentação, não à falta). - Subjetivação que relega a segundo plano uma ética sexual centrada sobre a economia dos atos. Esta subjetivação é indissociável de um processo de conhecimento que faz da obrigação de procurar e de dizer a verdade de si mesmo uma condição indispensável e permanente desta ética. Se há subjetivação, implica uma objetivação indefinida de si por si (não sendo adquirida de uma vez por todas, não possui término e é preciso levar o mais longe o exame e a vigilância dos pensamentos). Esta subjetivação em forma de busca da verdade de si se efetua mediante relações complexas com os outros e a alteridade dentro de si. - Decifração do desejo é condição para uma existência purificada, retorno do tema da “força” e da “lei”, desviando a questão da arte e da techne em favor do desenvolvimento das práticas da ascese. - A confissão aos outros, a submissão a seus conselhos, a obediência permanente aos diretores (poder pastoral) são indispensáveis ao combate da tentação espiritual.