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2ª Série do Ensino Médio “A”

Caroline Barone, Eduardo Volpate, Felipe S. Garcia, Isabelle Salles,


Luciano H. Romano

A transformação da
moral
“O Relativismo e o Subjetivismo”

Taquaritinga-SP
Outubro/2017
A transformação da moral
Dissemos que o sistema moral de cada grupo social é elaborado ao longo do
tempo de acordo com os valores reconhecidos por aquele grupo como
significativos para a convivência social.
Num primeiro momento, esses valores são adquiridos pelos indivíduos como
uma herança cultural. Cada indivíduo assimila, desde a infância noções do que
é bom e desejável, e também do que é ruim, desaconselhável ou repugnante.
De acordo com esses valores, ele passará a julgar como bons ou maus o seu
próprio comportamento e dos outros.
No entanto, é importante notar que, apesar desse caráter social, a oral tem
também um aspecto pessoal. Ou seja, embora herdemos um conjunto
estabelecido de normas morais chega um momento em nossas vidas em que
podemos refletir sobre ele, aceitá-lo consciente e livremente ou rejeita-lo. Por
isso dissemos anteriormente, na comparação entre normas morais e normas
jurídicas, que o comportamento moral se caracteriza essencialmente pela livre
escolha do indivíduo. Portanto, a liberdade é a base da conduta moral.
Na relação entre indivíduo e sociedade, o indivíduo pode reafirmar e consolidar
a moralidade existente. Mas ele pode também negá-la e, dessa forma,
contribuir para transformação dessa moralidade. Assim, podemos caracterizar
essa relação entre sociedade e indivíduo como dialética, ou seja, uma relação
de mútua influência entre dois polos, em que:
Por um lado, o indivíduo, um ser singular, é levado, através da educação, à
universalidade expressa nos costumes e normas morais. Isso significa que
cada indivíduo assimila os princípios morais consolidados como próprios do ser
humano até então.
Por outro lado, os indivíduos, não assimilando passivamente esses princípios,
podem contestá-los ou interferir em sua formulação, de acordo com as novas
condições histórico-sociais, e acabar por transformar as normas e costumes
morais.

O Relativismo e as diferentes éticas


O Relativismo
O relativismo é a negação de que existem certos tipos de verdades universais
e que é possível interpretar o mundo de maneiras diversas, ou seja, a forma de
vida e de pensamento da sociedade antiga não é a mesma dos dias de hoje,
pois, muitas coisas que consideramos absurdas nos dias de hoje, eram
normais no meio daquela sociedade. Como, por exemplo, à agressão a
dignidade da mulher, vendo-a como um simples objeto do homem. No
relativismo vemos também que a ideia de bem e mal é variável de acordo com
a sociedade e o tempo, portanto as regras morais se diferem de uma
sociedade para a outra.
Principais tópicos:
 A negação de que existem certos tipos de verdades universais.
 A diferente maneira de interpretar o mundo
 Não há princípios morais universalmente válidos: todos os princípios
morais são validos relativamente à cultura ou a escolha individual.
 As regras morais se diferem de uma realidade social para outra.
 Ideia de bem e mal é variável de acordo com a sociedade e o tempo.

Diferentes éticas:
Podemos dizer que a reflexão ética se inicia no mundo ocidental na Grécia
Antiga, no século V a.C., quando se acentua o desligamento da compreensão
de mundo baseada nos relatos míticos.
Os sofistas rejeitam o fundamento religioso da moral e consideram que os
princípios morais resultam das convenções sociais. Por essa época destaca-se
o esforço de Sócrates no sentido de se contrapor à posição dos sofistas,
buscando os fundamentos da moral não nas convenções, mas na própria
natureza humana. Seu discípulo Platão, no diálogo chamado Eutifron, mostra
Sócrates discutindo inicialmente sobre as ações do homem ímpio ou santo
conforme a ordem constituída, para então se perguntar em que consiste a
impiedade e a santidade em si, independentemente dos casos concretos.
Daí para frente, muitas foram as soluções dadas pelos filósofos para a questão
referente à natureza do bem moral.
Para Aristóteles, todas as atividades humanas aspiram a algum bem, dentre os
quais o maior é a felicidade; mas para ele a felicidade não consiste nos
prazeres nem na riqueza: considerando que o pensar é o que mais caracteriza
o homem, conclui que a felicidade consiste na atividade da alma segundo a
razão.
Para os hedonistas (do grego hedoné, "prazer"), o bem se encontra no prazer.
Em um sentido bem genérico, podemos dizer que a civilização contemporânea
é hedonista quando identifica a felicidade com a aquisição de bens de
consumo: ter uma bela casa, carro, boas roupas, boa comida, múltiplas
experiências sexuais. E, também, na incapacidade de tolerar qualquer
desconforto, seja uma simples dor de cabeça, seja o enfrentamento sereno das
doenças e da morte.
Para os filósofos e teólogos medievais, como Santo Tomás de Aquino, a
felicidade plena só se encontra na vida futura, realizando-se em Deus.
Variadas têm sido as soluções encontradas para as questões éticas no
decorrer da história da filosofia, mas desde a expansão do cristianismo a
cultura ocidental ficou marcada pela tradição moral cujo fundamento se
encontra nos valores religiosos e na crença na vida depois da morte.
Nessa perspectiva, os valores são considerados transcendentes, porque
resultam de doação divina, o que costuma levar à identificação do homem
moral com o homem temente a Deus.
No entanto, a partir da Idade Moderna, culminando no movimento da
Ilustração no século XVIII, a moral se torna laica. Portanto, ser moral e ser
religioso deixam de ser inseparáveis, tornando-se perfeitamente possível
admitir que um homem ateu seja moral, e, mais ainda, que o fundamento dos
valores não se encontra em Deus, mas no próprio homem.

A moral iluminista
O século XVIII é conhecido como o Século das Luzes porque em todas as
expressões do pensamento e atividade do homem, a razão, como uma luz, se
torna o instrumento para interpretar e reorganizar o mundo. Recorrer à razão
supõe a recusa da intolerância religiosa, a rejeição do critério de autoridade.
Para Kant, maior expoente do Iluminismo, a ação moral é autônoma, pois o
homem é o único ser capaz de se de terminar segundo leis que a própria razão
estabelece.
Portanto, a moral iluminista é racional, laica (não-religiosa), acentua o caráter
pessoal da liberdade do indivíduo e o seu direito de contestação. Também é
uma moral universalista, porque, embora admita as diferenças dos costumes
dos povos, aspira por encontrar o núcleo comum de valores universais.
Em busca do homem concreto
A partir do final do século XIX e no decorrer do século XX, os filósofos
começam a se posicionar contra a moral formalista kantiana fundada na razão
universal, abstrata, e tentam encontrar o homem concreto da ação moral.
É nesse sentido que podemos compreender o esforço de pensadores tão
diferentes como Nietzsche, Marx, Kierkegaard, Freud e os existencialistas.
Dentre estes, vamos destacar brevemente a importante contribuição de
Nietzsche.
O pensamento de Nietzsche se orienta no sentido de recuperar as forças
inconscientes, vitais e instintivas subjugadas pela razão durante séculos. Para
tanto, critica Sócrates por ter encaminhado pela primeira vez a reflexão moral
em direção ao controle racional das paixões. Segundo Nietzsche, nasceu aí o
homem desconfiado de seus instintos, e essa destruição culminou com o
cristianismo, acelerando o processo de "domesticação" do homem.
A moral cristã é a moral do rebanho, geradora de sentimentos de culpa e
ressentimentos, e fundada na aceitação do sofrimento, da renúncia, do
altruísmo, da piedade, típicos da moral dos fracos.
Por isso Nietzsche defende a transmutação de todos os valores, superando a
moral comum para que os atos do homem forte não sejam pautados pela
mediocridade das virtudes estabelecidas. Para tanto é preciso recuperar o
sentimento de potência, a alegria de viver, a capacidade de invenção.
O Subjetivismo e as escolhas morais
- O Subjetivismo
O subjetivismo diferente do relativismo não olha para o todo, mas tende a
reduzir toda a existência ao sujeito, causando assim, uma interpretação das
coisas a partir do eu (subjetivo). O subjetivismo nega a distinção entre o
verdadeiro e falso já que, a interpretação das coisas é feita de forma subjetiva,
provocando uma redução da certeza ao assentimento individual, pois, como no
relativismo a visão de bem e mal é relativa ao tempo e espaço no subjetivismo
essa visão de bem e mal é feita pelo o indivíduo que tem como raiz o seu bem-
estar ou sofrimento, suas emoções pessoais de aprovação e ou desaprovação.
Portanto os seus julgamentos exprimem apenas seus gostos pessoais, ou seja,
aquilo que está ligado a si mesmo ao seu pensamento humano.
Principais tópicos:
 Tendência a reduzir toda a existência ao sujeito.
 Nega a distinção entre o verdadeiro e falso
 Reduz a certeza ao assentimento individual.
 Os julgamentos exprimem apenas gostos individuais
Assim, as condutas dos indivíduos podem variar entre dois extremos, o do
consentimento e o da negação da moral vigente, constituindo o que podemos
chamar de escolhas morais.
Na escola moral estão em jogo tanto fatores objetivos como subjetivos. Os
fatores objetivos estão relacionados aos costumes e as normas já
estabelecidas, bem como a educação e a cultura em geral. Já os fatores
subjetivos estão ligados a liberdade e a responsabilidade pessoal.
Uma primeira possibilidade de escolha é a da ação moralmente boa ou correta,
que ocorre quando o indivíduo adere conscientemente a uma norma moral e
cumpre-a, reconhecendo-a como legítima. É o caso, por exemplo, de uma
pessoa que trata de maneira respeitosa a todas as pessoas, porque entende,
como a sociedade em geral, que todas as pessoas merecem respeito.
Complementar essa opção é a da ação moralmente má ou incorreta, ou seja, a
ação que contraria uma determinada norma moral, sem, no entanto, contesta-la
como norma universal. É como se o indivíduo abrisse uma exceção para agir
contra a norma. É o caso, por exemplo, da pessoa que foi indelicada com outra
por algum motivo banal, embora reconheça que a atitude correta é a de ter
respeito por todos.
Outra possibilidade ocorre quando o indivíduo recusa conscientemente uma
norma moral por entendê-la inadequada ou ilegítima. Essa situação
caracteriza-se como um conflito ético, que aponta para uma ruptura com a
moral vigente. É o caso, por exemplo, das mulheres que usaram saias como
um comprimento bem menor do que o considerado adequado pela sociedade
de seu tempo, confrontando a moral vigente sobre o grau “permitido” De
exposição pública do corpo.
Diferente do conflito ético é a situação de niilismo ético, que se caracteriza pela
negação radical de todo e qualquer valor moral. O permissivismo moral, por
sua vez, seria uma versão deteriorada e individualista do niilismo ético, na qual,
por trás da negação dos valores vigentes, se escondem interesses particulares.
A questão moral hoje
Muitos são os problemas a serem enfrentados pelo homem contemporâneo, ao
discutir a respeito da moral: o espontaneísmo, o individualismo, o relativismo
moral, o hedonismo, a recusa da razão dominadora. Se lembrarmos ainda os
riscos de massificação do homem pelos meios de comunicação, estaremos
diante de um quadro às avessas do que poderíamos considerar como
condições adequadas de uma vida moral autêntica, já que esta supõe
consciência crítica, liberdade, reciprocidade e responsabilidade.
A questão que se coloca hoje é a da superação dos empecilhos que dificultam
a existência de uma vida moral autêntica.
Ainda mais: o esforço de recuperação da ética passa pela necessidade de não
se esquecer da dimensão planetária da sociedade contemporânea, quando
todos os pontos da Terra, essa "aldeia global", se acham ligados pelos meios
de comunicação de massa e pelos mais velozes transportes. Isso nos faz
considerar a moral além dos limites restritos dos pequenos grupos, como a
família, o bairro, a cidade, a pátria. A generosidade da moral planetária supõe a
garantia da pluralidade dos estilos de vida, a aceitação das diferenças, sem
que se sucumba à tentação de dominar o outro por considerar a diferença um
sinal de inferioridade.
Referências Bibliográficas
 NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Col. Os pensadores. São
Paulo, Abril Cultural, 1983. p. 228.
 SÉNECA. Da tranquilidade da alma, Col. Os pensadores. São Paulo,
Abril Cultural, 1973. p. 216.
 MARIA HELENA PIRES MARTINS: Professora da Escola de
Comunicação e Artes da USP, Autoras de Filosofando, Editora Moderna

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