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SEMANA 2

EIXO TEMÁTICO:
Agir e poder.

TEMA/TÓPICO:
Ser e dever ser.

HABILIDADE(S):
Conhecer algumas entre as diversas posições filosóficas a respeito do bem e do mal.
Analisar e compreender os fundamentos da ética em diferentes culturas.

CONTEÚDOS RELACIONADOS:
Definição de ética e moral, ética clássica e ética religiosa.

TEMA: Ética e moral - parte 2


Olá, estudante!
Daremos continuidade nesta semana, aprofundando um pouco sobre a origem da ética e da moral para
compreendermos como se dá a constituição de nossa identidade como ser individual, cultural e social.
Toda cultura e sociedade institui uma moral, que é válida para todos os seus membros. Culturas e so-
ciedades fortemente hierarquizadas ou de classe podem até mesmo ter morais distintas para cada uma
delas. No entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita de uma ética. Esta
pressupõe uma disciplina filosófica, uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o significado
dos valores morais, do caráter pessoal e dos costumes que neles se baseiam.
Embora sejam usados em conjunto e muitas vezes como sinônimos, os conceitos de ética e moral são
diferentes entre si, tanto no que diz respeito ao significado quanto à origem etimológica das palavras.
“O céu estrelado por sobre mim e a lei moral dentro de mim.” Immanuel Kant
Ética vem do grego ethos , e literalmente significa morada, refúgio. Em termos filosóficos está ligada
ao modo de ser, caráter, natureza e índole. A palavra moral tem origem no termo latino mores, e seu
significado está ligado aos costumes e tradições, aos “combinados” sociais.
Portanto, a partir da análise etimológica já é possível definir que a ética está mais ligada ao indivíduo,
enquanto a moral tem relação mais próxima com a sociedade. Além disso, costuma-se admitir que a
ética é um processo de reflexão sobre a moral.

Ética
Se refere ao modo de ser de um indivíduo, a natureza, o caráter e a postura adotados diante de uma
dada situação. Ações éticas são individuais, são uma escolha de cada ser humano, e partem de seu pro-
cesso de reflexão sobre o mundo e a vida. Evidentemente, como o indivíduo sempre está inserido em
um contexto social, histórico, político etc, toda a reflexão ética se baseia numa moral, ou seja, recebe
influência direta do meio no qual existe este indivíduo.

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Moral
O conceito de moral pode ser definido como um conjunto de regras, valores e normas, estabelecidas
num determinado contexto histórico e social, que definem e norteiam o comportamento e o julgamento
dos indivíduos. A moral está ligada aos padrões culturais vigentes, costumes, valores e tradições, ele-
mentos necessários para o convívio dos indivíduos.

Uso da ética e da moral


A lei que define a prioridade no atendimento de idosos e gestantes, bem como assentos reservados
para os mesmos, expressa a moral de uma sociedade. Vejamos agora o seguinte exemplo: Maria não
cedeu o assento à mulher grávida. Percebemos aqui que, mesmo Maria tendo conhecimento das regras,
não a cumpriu. A ética é resultado da decisão de cada um.
Agora um exemplo para entendermos a moral como uma construção histórica. No passado, não era mo-
ralmente aceito que mulheres usassem calças. Atualmente a peça é usada por homens e mulheres. Os
momentos históricos e os contextos sociais influenciam na criação das regras morais, que sofrem alte-
rações ao longo do tempo. O músico brasileiro Belchior escreveu numa canção: “No presente, a mente,
o corpo é diferente. E o passado é uma roupa que não nos serve mais”.
Quando nós falamos em ética, nós não falamos apenas de teorias, práticas, filosofia, teologia, mas tam-
bém falamos da própria vida humana. A ética é sempre aplicada no nosso dia a dia, no trabalho, na esco-
la, na família, etc. Ela está ligada diretamente à construção do nosso caráter, e ao exercício da liberdade
humana. A ética é um estudo (teoria) no que se refere à conduta humana, do bem e mal, do certo e erra-
do de acordo com cada costume, comportamento e cultura de cada região.

Ética Grega Antiga


“ A reflexão grega neste campo surgiu como uma pesquisa sobre a natureza do bem moral, na busca de
um princípio absoluto da conduta.” (VALLS,1994, p.24)
Mas em que consiste este bem moral? Qual é o maior dos bens? Seria a felicidade, o dinheiro, as honras,
o prazer? E o que é este “Bem Supremo” de que tanto falam os filósofos gregos? Para Platão, Sócrates e
Aristóteles este Bem Supremo só pode ser alcançado mediante a prática de uma vida virtuosa, tendo a
razão como guia de nossas ações.
Para Sócrates, uma vida virtuosa depende do conhecimento de si mesmo. Ele afirma que o mais im-
portante está dentro de cada um de nós; que quanto melhor nos conhecermos, maiores serão nossas
virtudes; e que em nosso interior está a pureza de viver pelas nossas próprias escolhas. Assim, Sócra-
tes inaugura o chamado sujeito moral, ou agente moral, aquele que saber o que faz, conhece as causas
e os fins de suas ações. Este saber conduz o indivíduo à reflexão e à conscientização de suas atitudes
e de seu caráter.
Se devemos a Sócrates o início da filosofia moral, devemos também a Aristóteles a distinção entre sa-
ber teórico ou contemplativo e saber prático. O saber teórico é o conhecimento de seres e fatos que
existem e agem independentemente de nós e sem nossa interferência, isto é, de seres e fatos naturais
e/ou divinos. Já o saber prático é o conhecimento daquilo que existe como consequência de nossa ação
e, portanto, depende diretamente de nós, de nossas decisões. A ética e a política, por exemplo, são sa-
beres práticos. O saber prático pode ser de dois tipos: práxis ou técnica. Na práxis, o agente, a ação e a
finalidade do agir são inseparáveis. Exemplo: Somos aquilo que fazemos e o que fazemos é a finalidade
boa ou virtuosa. Já na técnica tem como finalidade a fabricação de alguma coisa diferente do agente.
Exemplo: Um carpinteiro, ao fazer uma mesa, realiza uma ação técnica, mas ele próprio não é essa ação
nem a mesa produzida por ele.

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Também devemos a Aristóteles a definição de um destes saberes práticos, que é o campo das ações
éticas, ou seja, relativas às escolhas que fazemos. Trata-se do campo de saber onde tudo o que deve
ser e/ou acontecer depende de nossa vontade e de nossa ação.
“O valor fundamental da vida depende da percepção e do poder de contemplação ao invés da mera so-
brevivência”. Aristóteles
Princípios da vida moral:
Se examinarmos o pensamento filosófico dos antigos gregos, veremos que nele a ética afirma princí-
pios da vida moral como:
1. Por natureza, os humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só são alcançáveis pela conduta
virtuosa.
2. A virtude é uma excelência, alcançada pelo caráter.
3. A conduta ética é aquela na qual o agente sabe o que está e o que não está em seu poder de rea-
lizar.
O ser humano não se submete aos acasos da sorte, nem à vontade e aos desejos de outro, nem à tirania
das paixões; mas obedece apenas à sua consciência e à sua vontade racional. A busca do bem e da fe-
licidade é a essência da vida ética.

Ética e religião
A religião está de tal forma presente na vida das pessoas que uma boa parte da sociedade pauta suas
ações (ou pelo menos orienta suas ações) em torno de mandamentos divinos que são, em sua essên-
cia, regras de conduta moral. Diferente das outras religiões da antiguidade, o Cristianismo nasce como
religião de indivíduos que não se definem por seu pertencimento a uma nação ou a um Estado, mas por
sua fé num único Deus. Assim, o Cristianismo introduz duas diferenças primordiais em relação à antiga
concepção ética:
1. A ideia de que a virtude se define por nossa relação com Deus, e não com a cidade (polis), nem com
as outras pessoas;
2. A afirmação de que somos seres dotados de livre-arbítrio e que, em decorrência do “pecado origi-
nal”, o impulso espontâneo de nossa liberdade se dirige para o mal, para o pecado. Assim, confor-
me a interpretação do Cristianismo, se somos pecadores, pressupõe-se que somos incapazes de
fazer o bem e praticar virtudes apenas por nossa vontade.
Assim, a concepção cristã introduz uma nova ideia na discussão ética: a ideia do dever, isto é, de que
a virtude é a obrigação de cumprir o que é ordenado pela lei divina. O Cristianismo introduz essa ideia
de dever para oferecer um caminho seguro para nossa vontade, que, sendo livre, mas fraca, sente-se
dividida entre o bem e o mal.
A partir do dever, a ação humana pode ser entendida como intencional. O dever não se refere apenas
às ações visíveis, mas também às intenções invisíveis, que podem ser julgadas eticamente olhando-se
para as atitudes do sujeito.

PARA SABER MAIS:


Ética e Moral: Como diferenciar? Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FEASxRw2Gb0>.
Acesso em: 26 ago. 2021.
Ética a Nicômaco: Aristóteles. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xdqQKaacdVc>.
Acesso em: 26 ago. 2021.

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REFERÊNCIAS:
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2014.

ATIVIDADES
1 - Como podemos diferenciar “moral” e “ética”?
a) Não podemos diferenciar, são palavras sinônimas.
b) Moral é um conjunto de valores, e Ética é a reflexão sobre esses valores.
c) Moral é a prática da Ética no nosso dia a dia.
d) Moral é sinônimo de “ética aplicada”.
e) Nenhuma das alternativas acima.

2 - “Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a
algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhe parece um
bem; todas as comunidades visam algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas e que
inclui todas as outras têm mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens”
(Aristóteles Política.Brasília: UnB 1988)
No fragmento, Aristóteles promove uma reflexão que associa dois elementos essenciais à discussão
sobre a vida em comunidade, a saber:
a) Ética e política, pois conduzem à eudaimonia (que significa felicidade).
b) Retórica e linguagem, pois cuidam dos discursos na ágora.
c) Democracia e sociedade pois se referem a relações sociais.
d) Geração e corrupção, pois abarcam o campo da physis.
e) Nenhuma das alternativas acima.

3 - Quando e de que forma nasce a filosofia moral ou a disciplina filosófica denominada ética?

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