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Ética (do grego antigo: ethos "caráter", "costume") é o conjunto de padrões e valores

morais de um grupo ou indivíduo.[1][2] Contudo, em Filosofia, a ética, filosofia


ética (do grego ἠθική [φιλοσοφία]) ou filosofia moral (do latim mos, mores) é a disciplina
filosófica que estuda os fundamentos da ação moral, procurando justificar a moralidade de
uma ação e distinguir as ações morais das ações imorais e amorais. A Ética procura
responder a várias questões de âmbito moral, sendo as principais: Como devemos
viver? ou Como devemos agir?.

Desenvolvimento
Na filosofia clássica, a ética não se resumia apenas aos hábitos ou costumes socialmente
definidos e comuns, mas buscava a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo
de viver e conviver, isto é, a busca do melhor estilo de vida, tanto na vida privada quanto
em público. A ética incluía a maioria dos campos de conhecimento que não eram
abrangidos na física, metafísica, estética, na lógica, na dialética e nem na retórica. Assim,
a ética abrangia os campos que atualmente são
denominados antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, às vezes política,
e até mesmo educação física e dietética,[carece de fontes] em suma, campos direta ou
indiretamente ligados ao que influi na maneira de viver ou estilo de vida. Um exemplo
desta visão clássica da ética pode ser encontrado na obra Ética, de Spinoza. Os filósofos
tendem a dividir teorias éticas em três áreas: metaética, ética normativa e ética aplicada.
Porém, com a crescente profissionalização e especialização do conhecimento que se
seguiu à revolução industrial, a maioria dos campos que eram objeto de estudo da
filosofia, particularmente da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas
independentes. Assim, é comum que atualmente a ética seja definida como "a área da
filosofia que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas"[7] e busca
explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento humano, bem como
fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Neste sentido, ética
pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana e a moral é a qualidade
desta conduta, quando julga-se do ponto de vista do Bem e do Mal.
A ética é intrinsecamente relacionada à definição da moralidade, ao questionamento e
julgamento sobre quais são os bons e maus valores no relacionamento humano
(axiologia), pois seu campo de estudo é esclarecer o que pode ou deve ser
uma normatividade de conduta, se há alguma possível de se definir. Apesar da conotação
negativa de moral como vinculada à obediência a costumes e hábitos recebidos, sua
definição essencial é a mesma de ética e, ao contrário, busca fundamentar as ações
morais de forma racional.[8][9][10] A ética também não deve ser confundida com a lei, embora
com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre
com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a
cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por
outro lado, a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética.

Três pensadores fundamentais para entender a ética


Desde a Antiguidade, os filósofos, estudiosos e pensadores tentam compreender e
analisar os princípios e os valores de uma sociedade e como eles ocorrem na prática.

Podemos citar vários pensadores, que em distintas épocas refletiram sobre a ética. Os
pré-socráticos, os sofistas, Platão, Sócrates, os Estóicos, os pensadores Cristãos,
Spinoza, Nietzsche, dentre outros dedicaram-se vivamente ao tema.
Destes pensadores, destacamos Aristóteles, Maquiavel e Kant, por cada uma representar
um momento de virada em relação à produção do tema.

1. Aristóteles
Com a passagem da filosofia naturalista do período pré-socrático para a filosofia
antropológica marcada por Sócrates, o conhecimento volta-se para a compreensão das
relações humanas.

Assim, Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) traz avanços para o desenvolvimento da ética
como uma área própria do conhecimento.

O filósofo buscou investigar sobre os princípios que orientam as ações e o que seria
uma vida virtuosa.

Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles escreve sobre sua compreensão acerca da
virtude e da finalidade da vida, a felicidade.

Aristóteles compreende que a ética pode ser ensinada e exercitada e dela depende a
construção de um caminho que conduza ao bem maior, identificado como a felicidade.

Para isso, as ações devem estar fundamentada na maior das virtudes e base para todas as
outras, a prudência.

2. Maquiavel
Nicolau Maquiavel (1469-1527), em sua obra O Príncipe, foi responsável pela
dissociação da ética dos indivíduos da ética do Estado.

Para Maquiavel, o estado é organizado e opera a partir de uma lógica própria. Assim, o
autor cria uma distinção entre a virtude moral e a virtude política.

Esse pensamento representou uma mudança bastante relevante em relação à tradição da


Idade Média, fortemente baseada na moral cristã, associando o governo a uma
determinação divina.

3. Kant
Immanuel Kant buscou elaborar um modelo ético em que a razão é o fundamento
primordial. Com isso, o autor contrariou a tradição que compreendia a religião e a figura
de Deus, como o princípio supremo da moralidade.

Kant, em seu livro Fundamentação da Metafísica dos Costumes, afirma que os


exemplos servem apenas como estímulo, assim, não se pode criar modelos éticos
fundamentados na classificação de alguns comportamentos desejados ou que devem ser
evitados.

Para o filósofo, a razão é responsável por governar a vontade e orientar as ações, sem
ferir a ideia de liberdade e autonomia, própria dos seres humanos.

Kant encontra na autonomia e na razão, a fonte do dever e um princípio ético


fundamental, capaz de compreender e formular regras para si mesmo.
O imperativo categórico proposto por Kant é a síntese da operação racional capaz de
guiar as ações humanas a través da ordem (imperativo):

Age de tal maneira que a máxima de sua ação possa ser tomada como máxima
universal.

O que é ética? Qual é a diferença entre ética e moralidade?


Nós, humanos, não vivemos sozinhos. Há uma infinidade de relações
que estabelecemos o tempo todo – com a nossa família, com os nossos
vizinhos, com os nossos amigos, com colegas de escola e trabalho, entre
outras. Todos nós somos singulares: temos vontades, pensamentos e
modos de expressão diferentes. Foi para possibilitar a vida em comum,
ou seja, a vida ao lado das outras pessoas, e para garantir que todas elas
possam agir que, ao longo dos anos, apareceu a noção de ética.
A palavra “ética” vem do grego éthikos e significa modos de ser. A ética
pode ser entendida como a reflexão sobre o comportamento moral. Se
existir um país onde usar guarda-chuva seja considerado imoral, compete
à ética pensar sobre a origem dessa norma e quais os pontos negativos de
não usar guarda-chuva, por exemplo. A ética, portanto, analisa os fatos
morais a partir das noções de bem e mal, de justo e de injusto. Ela não
diz a forma como as pessoas devem comportar-se, e sim pretende
elaborar princípios de vida para orientar as ações humanas.
Ética, liberdade e responsabilidade
A palavra responsabilidade, em seu sentido original, deriva do verbo
latino respondere, responder. Quando falamos que alguém é responsável
ou tem responsabilidade sobre alguma coisa, significa que essa pessoa
tem condições de pensar sobre seus atos.
Quando uma pessoa tem condições de pensar sobre seus atos, tanto os do
passado quanto os do presente, ela pode escolher a forma como agir no
futuro. Sobre isso dizemos que a pessoa tem liberdade. Mas os filósofos
não chegam a um consenso a respeito da liberdade humana.
Dentro da discussão filosófica, há pensadores que discutem a liberdade
humana em relação à presciência divina, como Boécio; há pensadores
que discutem a liberdade humana em relação às determinações biológica
e histórica, como Helvetius; há os que discutem a liberdade humana
acima das determinações, como Sartre; e aqueles que analisam a relação
entre a liberdade e o determinismo a partir do entendimento do ser
humano como livre e determinado ao mesmo tempo, como Espinosa.
Liberdade e Determinismo
Para Helvetius e outros deterministas, a liberdade seria uma espécie
de ilusão, pois há um aspecto biológico do qual não se pode escapar e,
sobretudo, um aspecto jurídico. Veja o que ele diz:
“Os homens não são maus, mas submissos aos seus interesses...
Portanto, não é da maldade dos homens que é preciso se queixar, mas
da ignorância dos legisladores que sempre colocam o interesse
particular em oposição ao geral. […] Até hoje, as mais belas máximas
morais não conseguem traduzir nenhuma mudança nos costumes das
nações. Qual é a causa? É que os vícios de um povo estão, se ouso falar,
escondidos no fundo de sua legislação.”*
Vamos analisar o que ele diz:
1) Ele diz que os homens buscam seus interesses, mas isso não significa
que eles sejam maus;
2) Para limitar os interesses humanos particulares, ou seja, aqueles que
beneficiam apenas um grupo pequeno ou muito restrito, é preciso haver
leis que prefiram os interesses gerais.
3) Se isso não acontece, não haverá uma mudança nos costumes, pois as
leis continuarão a permitir que os erros aconteçam.
Helvetius fala de “vício”, que também é uma noção importante para o
estudo da ética. A noção de vício opõe-se à noção de virtude, que
deriva do latim virtus (força ou qualidade essencial). Quando falamos de
virtude ética, falamos de uma qualidade essencial: a prática constante do
bem. O bem, nesse sentido, pode ser entendido como ter
responsabilidade pelas ações livres. Quando a liberdade é usada pelo
homem sem essa responsabilidade moral, falamos em vício.
Assim, se a fidelidade é uma virtude, a infidelidade é um vício. Sobre
esse vício, especificamente, Helvetius salienta:
“Na Nova Orleans, as princesas podem, quando elas se cansam de seus
maridos, repudiá-los para se casarem com outros. Neste lugar, não
encontramos mulheres falsas, porque elas não têm nenhum interesse em
ser falsas”.*
Para Helvetius, em vez de falarmos de virtude ou vício da pessoa
individualmente, deveríamos falar sobre a virtude ou vício da legislação.
O ser humano é sempre livre
Os pensadores que defendem que o ser humano é sempre livre sabem
que existem determinações externas e internas, fatores sociais e
subjetivos, mas a liberdade de decidir sobre suas escolhas é superior à
força dessas determinações. Um exemplo que poderia ser dado para
entendermos essa noção seria a de dois irmãos que têm a mesma origem
social, mas um se torna criminoso e o outro não.
Vejamos o que o filósofo francês Jean-Paul Sartre disse sobre isso:
“... Por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o
homem é liberdade. […] Não encontramos diante de nós valores ou
imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não temos nem
atrás de nós nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores,
justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas.
É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre.
Condenado porque não criou a si próprio; e, no entanto, livre porque,
uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo o que fizer.”**
Analisando o que Sartre escreveu, entendemos que, para ele:
1) Não há determinismo, logo o homem é livre para decidir.
2) Se é livre para decidir, não há desculpas ou justificativas para as ações
do homem. Ele só age de tal modo quando quer agir assim.
3) Por ser livre, o homem é responsável por tudo o que faz.
O ser humano é livre e determinado ao mesmo tempo
Entre os pensadores que defendem a relação entre liberdade e
determinismo, estão o holandês Espinosa e os alemães Marx e
Engels. Segundo eles, não há uma exclusão entre as ideias de liberdade e
de determinismo. Se há fatores objetivos que limitam a liberdade
humana, como as leis, as normais, a situação social, é possível que, pela
ação, esses limites sejam expandidos. Para isso, precisamos conhecer os
determinismos e, quanto maior for o nosso conhecimento a respeito
deles, maior será o nosso poder de ação sobre eles.
Vejamos o que o filósofo Karl Marx disse sobre isso:
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem;
não a fazem como circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com
que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.”***
Para concluir
Até aqui vimos o seguinte:
1) As normas morais variam a depender da cultura e do período
histórico.
2) Temos responsabilidade pelas nossas ações.
3) Para alguns filósofos, temos a liberdade de agir.
Nós, desde a infância, aprendemos diversos valores morais que
dependem do nosso contexto sociopolítico. A partir desses valores,
criamos uma noção do que é uma ação moralmente
correta ou moralmente incorreta. Ao passo que refletimos sobre a
nossa realidade e percebemos que somos afetados por ela, podemos
reafirmar os valores que aprendemos ou contestá-los. Assim, nós
podemos também transformar a percepção dos valores e ter a
legitimação dessa nova percepção de toda a sociedade. Não nos faltam
exemplos no decorrer da história: a abolição da escravatura, por
exemplo, fez com que a sociedade passasse a ver as pessoas negras como
pessoas com igualdade de direitos e que, portanto, não podiam
constituir-se como propriedade privada de outra pessoa.
RESPONSABILIDADE
A etimologia da palavra “responsabilidade” mostra como se considerava
“responsável” todo o indivíduo que pudesse ser convocado pelos tribunais em virtude
de
sobre ele pesar certa “obrigação”, dívida procedente, ou não, de um ato de vontade
livre.
Esse é o significado jurídico original da palavra, encontrado no direito romano.
Tratava-se,
portanto, de uma prestação determinada pela lei e que seria finalmente resolvida nos
tribunais, caracterizando-se, assim, a responsabilidade como referida ao futuro, mas
conseqüência de um ato pretérito.

O cristianismo incorporou o termo jurídico em universo conceitual mais amplo.


Estabeleceu-se, então, o vínculo da categoria jurídica de responsabilidade com a moral
do
cristianismo9. Procurou-se justificar teologicamente essa relação, partindo-se da
aceitação
de que existia uma prioridade hierárquica da lei divina no sistema normativo da
sociedade
humana. A lei divina legitimaria a lei humana e traria consigo sanções que
estabeleceriam
os critérios básicos para o julgamento das ações individuais. Ao contrário da justiça
humana, que tem por finalidade decidir litígios entre diversos sujeitos de direito, sejam
eles indivíduos, grupos sociais ou sociedade, a justiça divina ocupa-se, exclusivamente,
de
um único sujeito. A originalidade do cristianismo consistiu, assim, em considerar, em
primeiro lugar, a responsabilidade como sendo o elo entre um único indivíduo e o
Criador,
numa relação bilateral em que a pessoa tinha uma posição dependente e subordinada;
em segundo lugar, o cristianismo estabeleceu critérios para considerar alguém
responsável por atos a serem definidos em função da intenção subjetiva desse
indivíduo
em sua relação de consciência com Deus.
A responsabilidade deixa o campo estrito da juridicidade, como até então fora
considerada pelo direito romano, e vai encontrar a sua morada na consciência da
pessoa,
sendo um dos componentes da “lei moral natural”. Escreve Villey que o homem
passou a
ser responsável diante da sua consciência, da sociedade e do futuro, “esses substitutos
de
Deus” 10. Constata-se, assim, o surgimento de uma responsabilidade metaindividual,
característica da sociedade tecnocientífica e que provoca no campo das engenharias
genéticas indagações de caráter, ao mesmo tempo, éticos e jurídicos.
Como o homem destina-se por natureza a conviver com os seus semelhantes, a
função primordial da norma jurídica seria regular deveres mútuos, que tornassem
possível
essa convivência social. O direito passa a ser formulado e aplicado como um sistema
de
normas destinado a governar a conduta humana. Para que tal sistema pudesse
funcionar,
o direito passou a utilizar alguns conceitos e categorias, que forneceriam uma base
racional para a solução dos conflitos. A idéia clássica de justiça ou da justa distribuição
de
bens, como se encontrava no direito romano, esvaziou-se progressivamente do seu
sentido original. A responsabilidade passou a ser estabelecida em função da
“imputabilidade” da ação do indivíduo ao que se encontrava previsto em lei.
Introduziu-se
no conceito original a dimensão da subjetividade, que iria resguardar o exercício da
autonomia e da liberdade individual. A atribuição de imputabilidade provocará uma
conseqüência lógica na aplicação da lei, qual seja a de que os atos imputáveis ao
indivíduo
trazem consigo uma obrigação.
Por sua vez, a responsabilidade penal, que até o Iluminismo era determinada em
função de leis morais, ganhou autonomia própria. A pena justificava-se, desde os Dez
Mandamentos, como um ressarcimento à violação de uma lei divina, enquanto lei em
matéria penal copiava a lei divina. A influência do Iluminismo no corpo do Direito Penal
provocou uma revolução copernicana no Direito e na legislação. O indivíduo tornou-se
o
responsável único por seus atos, sendo que a pena passou a ser aplicada na sua pessoa
e
nela extinguindo-se, eliminando-se as penas extensivas a familiares. A pena passou a
ser
aplicada em obediência ao princípio moral de que a responsabilidade tem a ver com
ações, que são manifestações do exercício consciente da vontade do indivíduo, no uso
e
gozo de suas faculdades mentais.
O direito civil moderno ordenou-se como um prolongamento desse sistema de
moralidade. Neste contexto, o jusnaturalismo representou um conjunto sistemático de
preceitos morais a serem consagrados pelo sistema jurídico; assim, a regra cristão-
estóica
de que cada indivíduo deve cumprir a palavra empenhada, irá servir de fundamento
para a lei dos contratos – pacta sunt servanda. As raízes morais da responsabilidade
civil
encontram-se sistematizadas em regras jurídicas medievais e no pensamento de
filósofos,
como por exemplo, Tomás de Aquino 11, seguida pelos escolásticos espanhóis e os
moralistas do século XVII. Em todos, determinava-se que cada indivíduo tinha a
obrigação
de “restituir” ou reparar os danos provocados por atos culposos ou dolosos.
Esse preceito de natureza estritamente moral foi consagrado como regra de
direito. Assim, por exemplo, Grotius estabelece que entre os três axiomas a que se
reduz
o direito propriamente dito encontra-se o de reparar o dano provocado por sua culpa
(Prolegomenos: § 8) 12. O Código de Napoleão, no art. 1382, incorporou a fórmula
grociana e evita mesmo a palavra “responsabilidade”. Somente durante as primeiras
décadas do século XIX é que a doutrina jurídica irá elaborar uma teoria da
responsabilidade civil, especificamente jurídica, liberta de seus vínculos morais.

A RESPONSABILIDADE COMO QUESTÃO FILOSÓFICA: A RESPOSTA KANTIANA


A responsabilidade, entretanto, antes de ser jurídica, permanece como uma
questão filosófica, pois suscita a indagação a respeito da unidade da pessoa, sobre a
identidade pessoal, a respeito de quais são os limites da autonomia racional e como se
situa a questão da alteridade. A idéia de responsabilidade justifica-se como sendo a
espinha dorsal da vida social em virtude da qual os homens concebem-se uns aos
outros
como pessoas morais, i.e., seres capazes de atos racionais que se formalizam através
de
direitos e deveres. Considerar alguém responsável, ou não, por um ato, consiste em
estabelecer o núcleo moral pétreo da vida social, que se molda por atitudes de
aprovação
ou reprovação em relação ao outro. O problema filosófico dos fundamentos da
responsabilidade encontra-se, assim, em verificar se os critérios sobre os quais
atribuímos
responsabilidades podem ser considerados como critérios morais, racionalmente
estabelecidos.

A responsabilidade legal parece necessitar de uma justificativa moral. O


problema da responsabilidade legal, principalmente aquela necessária em virtude das
aplicações científicas e técnicas da contemporaneidade, necessita de um horizonte
hermenêutico mais amplo. O papel organizador dos sistemas jurídicos na sociedade
exige
o estabelecimento de critérios específicos para que se determinem os níveis e
características da responsabilidade, critérios esses a serem positivados em lei. A
positivação legal dos critérios de responsabilização representou o passo definitivo
dado
pela teoria positivista do direito, que rompeu com a tradição, onde as raízes da
responsabilidade encontravam-se na moralidade.
Neste contexto, a teoria do direito prevê três tipos de responsabilidade legal –
civil, penal e coletiva - que suscitam problemas diferenciados para a justificativa dos
seus
fundamentos. A responsabilidade, entretanto, não consegue separar-se como
pretende o
positivismo jurídico em duas esferas de atuação nitidamente separadas, pois mantém
uma dupla função: submete a pessoa livre ao julgamento de sua consciência ou faz
com
que o sujeito de direito responda pelas conseqüências de suas ações nas relações
sociais.
Tanto a responsabilidade moral, como a responsabilidade jurídica, terminam por
encontrar sua justificativa comum na possibilidade de comunicação entre os homens.
A noção de responsabilidade subjacente, na obra de Kant, supõe uma idéia de
inter-subjetividade, que rompe os quadros do individualismo abstrato, argumento
principal da crítica ao filósofo alemão. A responsabilidade será determinada pela
imputação de um ato a um indivíduo. Ocorre a imputação quando o sujeito é
considerado
como causa livre de uma ação. A imputação jurídica implica na atribuição de efeitos
jurídicos, previstos em lei, à ação individual. A idéia de responsabilidade moral,
argumenta Kant, refere-se ao princípio do querer, que é bom em si mesmo13,
enquanto
que a idéia de responsabilidade jurídica implica na qualificação de um ato interpretado
como um fato conforme ou não ao estabelecido na lei positiva.

A idéia de responsabilidade torna-se impensável quando ignoramos a definição


de pessoa formulada por Kant: “uma pessoa é um sujeito cujas ações são suscetíveis
de
imputação”, enquanto as coisas são tudo aquilo que não é suscetível de imputação. 14
A
imputação moral faz a pessoa responsável por um ato bom ou mau, enquanto,
essencialmente, ela seja a causa livre e suscetível de ser determinada, a não ser por si
mesma. A imputação jurídica, por sua vez, faz a pessoa responsável por um ato justo
ou
injusto na medida em que transgrida ou não aquilo que deve estar de acordo com a
norma jurídica. A responsabilidade moral remete-nos, portanto, a constatação da livre
subjetividade do agente.
Em conseqüência dessa idéia de pessoa humana, a responsabilidade jurídica tem
por condição a possibilidade de mediação de uma legislação externa, mais
precisamente,
escreve Kant, a mediação realizada através de leis positivas, que exclui todo elemento
de
moralidade. 15 . Kelsen sustenta que em virtude da operação de “qualificação” pela
qual
as normas jurídicas servem de esquema de interpretação e de avaliação dos fatos,
somente essas normas conferem a qualidade de atos legais ou atos classificados como
contra o direito16.
A nítida separação entre o direito e a moral, operada por Kelsen, tem como
conseqüência que: “O julgamento (Urteil) que afirma ser um comportamento concreto
justo ou injusto representa um julgamento ( Be-urteilung), portanto, uma avaliação do
comportamento. O comportamento que é um fato natural ( Seins-faktum), existente
no
tempo e no espaço, é confrontado com uma norma de justiça que estabelece um
dever (
Sollen). O resultado é um julgamento que declara ser o comportamento de tal ordem
que
está de acordo com a norma de justiça, quer dizer, esse comportamento tem um valor,
a
saber, um valor de justiça positiva; ou então, pelo contrário, o comportamento não é
de
tal ordem que possa estar de acordo com a norma de justiça, mas é justamente
contrário a ela, permite afirmar que esse comportamento é estranho a qualquer valor,
possuindo,
assim, unicamente um valor de justiça negativa”17. Na continuação, Kelsen sustenta
que
somente a realidade pode ser valorada, somente ela terá ou não terá valor. Essa
definição
da responsabilidade jurídica, determinada no contexto restrito das relações de
imputação,
termina, como escreve Goyard-Fabre, por colocar entre parênteses a interioridade da
pessoa, pois o ato acaba sendo examinado somente em função de sua conformidade
ou
não conformidade exterior a uma norma legal positiva.
A TEORIA DA RESPONSABILIDADE E A PROBLEMÁTICA DA JUSTIÇA
A insuficiência da fundamentação clássica da teoria da responsabilidade, no
âmbito da teoria do direito, evidencia-se pelos impasses encontrados na aplicação das
normas jurídicas na sociedade tecnocientífica contemporânea. A reflexão jusfilosófica
enfrenta, assim, o desafio de recuperar a dimensão perdida da idéia de
responsabilidade e
situá-la no espaço da moralidade, que lhe é próprio. Dessa forma, o debate sobre a
teoria
da justiça contemporânea poderá ser significativamente enriquecido e contribuir para
a
reformulação da teoria da responsabilidade.
Uma contribuição relevante neste sentido encontra-se no pensamento de Paul
Ricoeur (1913-2005). A reflexão de Ricoeur sobre o tema da responsabilidade ganha
importância para a cultura jurídica, na medida em que se possam estabelecer as suas
relações com uma teoria da justiça, no quadro do estado democrático de direito. As
questões analisadas pela bioética pressupõem, também, essa inserção.
Situando-se numa vertente kantiana, Ricoeur, como Kant, parte da idéia de
pessoa moral, considerada o ente capaz de assumir responsabilidades em virtude do
exercício de uma vontade autônoma e racional. Em conseqüência, essas ações,
manifestação dessa vontade autônoma, portanto, moral, poderá ser encontrada em
duas dimensões diferentes. Na teoria kantiana da responsabilidade, a questão é
analisada em
duas dimensões. Em primeiro lugar, ao investigar as suas raízes morais e, ao mesmo
tempo, tendo o cuidado de diferenciar a responsabilidade moral da responsabilidade
jurídica. Trata-se, entretanto, de uma diferenciação e não de uma separação radical
entre
duas ordens normativas, que se excluem. Pelo contrário, no pensamento kantiano
ocorre
uma relação de complementaridade entre a moral e o direito.
No entanto, a teoria kantiana não desenvolveu o argumento sobre a possível
vinculação da idéia de responsabilidade, como formulada por Kant, e a idéia de uma
ordem jurídica justa. Essa limitação da teoria kantiana tem a ver com o entendimento
de
que a questão da responsabilidade encontra-se no espaço do indivíduo e das relações
intersubjetivas. A própria concepção kantiana do direito leva-nos, entretanto, ainda
que,
implicitamente, a considerar a responsabilidade moral e jurídica como constituindo o
fator determinante da justiça social. 19
A fundamentação kantiana, lida de uma ótica social ou coletiva, e não
individualista, pode ser utilizada no quadro do projeto de Paul Ricoeur, permitindo que
se
faça, sob a perspectiva da teoria da justiça, uma nova leitura da responsabilidade
moral e
jurídica. Na verdade, como procuraremos demonstrar, Ricoeur possibilita, através da
análise da idéia de responsabilidade, uma abordagem original da teoria da justiça. Para
que se possa chegar ao pleno entendimento do conceito de responsabilidade e suas
repercussões para uma teoria da justiça, torna-se necessário atentar para a indagação
preliminar de Ricoeur: “quem é o sujeito de direito”?20
A tradição do dogmatismo jurídico define o sujeito como a pessoa física ou
jurídica capaz de assumir direitos e obrigações, definidos em lei. A crítica preliminar de
Ricoeur consiste em desconsiderar essa definição, pois, a seu ver, ela é insuficiente
para a
construção de uma teoria da responsabilidade, que atenda às exigências da sociedade
contemporânea. Por essa razão, procura demonstrar como uma leitura
contemporânea da teoria da responsabilidade pressupõe uma investigação prévia
sobre a especificidade
do sujeito de direito no plano da antropologia filosófica.
O sujeito de direito, do ponto de vista antropológico, tem por sua própria
natureza um conjunto de valores, consubstanciados no princípio da dignidade
humana,
que o tornam digno de respeito; ao mesmo tempo, e, também, por sua própria
natureza,
tem diferentes níveis de capacidade. Segundo Ricoeur, essas capacidades do sujeito de
direito podem determinar-se, não exclusivamente, em razão do disposto na lei
positiva,
mas também, e principalmente, em função da resposta que se dê à seguinte questão
geral: “a quem se pode imputar a ação humana?”. Note-se, nesse passo, que Ricoeur
abandona o espaço restrito da legalidade jurídica – onde sujeito de direito é o ente
capaz
de direitos e deveres na ordem civil (art. 1º, Novo Código Civil Brasileiro) - e remete a
questão para uma indagação mais geral e abrangente.
A própria pergunta implica na ressalva de que existem pessoas que não podem
ser responsabilizadas por seus atos ou omissões. Dessa forma, a reflexão ético-
filosófica
parte da constatação de que a pessoa, precisamente por não ser um ente imutável no
tempo histórico, somente pode ser concebida no quadro de sua evolução moral. Na
análise das raízes da responsabilidade, Ricoeur identifica o tema central em torno do
qual
se pode acompanhar e avaliar a lenta evolução da consciência moral do ser humano.
O processo de evolução da moralidade iniciou-se, na história da humanidade,
quando o homem deu o primeiro passo em direção ao seu aperfeiçoamento moral.
Esse
aperfeiçoamento formalizou-se, principalmente, na substituição dos procedimentos de
vingança por exigências mais complexas da justiça, que irão se evidenciar na adoção do
critério da reparação dos danos sofridos, em virtude da ação de outrem. A passagem
do
estado vingatório para um estado de justiça - descrito por Ésquilo na trilogia Oréstia,
escrita no século V a.C. – representou o que Ost 21 chamou de “ato fundador do
direito”.
A peça de Ésquilo foi representada para uma platéia ateniense, quando Atenas
estabelecia as origens da democracia e substituía a lei do talião por um sistema de
justiça construído através de argumentos racionais, que exigia provas fáticas dos atos a
serem
julgados no contexto de uma lei comum. Nesse contexto, é que se pode constatar
como
nas origens da ordem jurídica do Ocidente encontra-se a ligação umbilical entre o
Direito,
a Moral e o Estado Democrático de Direito. 22
Esse momento da história da humanidade representa, assim, a superação do
período da culpa grupal e a inauguração do período da personalização da
responsabilidade, definida em função e como critério de avaliações, antes de tudo
morais.
Essas referências pressupõem, entretanto, duas condições de possibilidade para a sua
concretização: a aceitação do outro, como tendo finalidades em si mesmo, e um
sistema
de direitos e obrigações pré-definidos. O agente moral passa então a ser o indivíduo
definido, preliminarmente, como aquele que tem na igualdade o critério valorativo
básico
para exercer direitos e assumir obrigações.
A análise de Ricouer se desenvolve, no primeiro momento, levando em conta a
idéia clássica de responsabilidade, investigando-se o conceito fundador, procurando
demonstrar que o mesmo extrapola o campo jurídico-conceitual e situa-se, na
realidade,
no campo da filosofia moral, fora do qual não terá consistência lógico-argumentativa.
No
segundo momento, Ricouer trilha o caminho oposto, ao partir do conceito jurídico e
constatar como as interpretações realizadas pela doutrina do direito, tornaram a idéia
de
responsabilidade desenraizada no contexto social, econômico e político da sociedade
tecnocientífica contemporânea.
Virtude
Virtude (lat. virtus)

Conforme Dicionário básico de Filosofia - Japiassu - 3ª ed. - Jorge Zarar Editor -


2001 - Rio de Janeiro

1. Em seu sentido originário, o termo designa uma qualidade ou característica de


algo, uma força ou potência que pertence à natureza de algo. Esse sentido
permanece na expressão "em virtude de". p. ex.. "em virtude do mau tempo, o
espetáculo foi cancelado".

2. Em um sentido ético, a virtude é uma qualidade positiva do indivíduo que faz


com que este aja de forma a fazer o bem para si e para os
outros. Platão considerava a virtude como inata, como uma qualidade que o
indivíduo traz consigo e que, portanto, não pode ser ensinada (.1lénon).
Contrariamente a Platão, Aristóteles considerava que a virtude podia ser
adquirida, sendo na realidade resultado de um hábito: "A virtude é uma
disposição adquirida voluntariamente, consistindo, em relação a nós, em uma
medida, definida pela razão conforme a conduta de um homem que age
refletidamente. Ela consiste na medida justa entre dois extremos, um pelo
excesso, outro pela falta" (Ética a Nicômano, 6). Oposto a vício.

3. Na filosofia moderna, a palavra "virtude" passou a designar a força da alma ou


do caráter. Nesse sentido moral, designa uma disposição moral para o bem: "A
virtude é a força de resolução que o homem revela na realização do seu
dever" (Kant). As virtudes designam formas particulares dessa disposição para
o bem: a coragem. a justiça, a lealdade.

FONTE: Dicionário básico de Filosofia-Japiassu.pdf


Conceito de Virtude

O termo "Virtude" (do latim "virtus" que significa força viril) designa o poder de
uma coisa para produzir determinados efeitos. Em termos filosóficos, e
segundo Platão e também segundo o epicurismo e o estoicismo, a virtude
designa um conjunto de características que contribuem para que o indivíduo
tenha uma vida boa, nomeadamente a sabedoria, a coragem, a temperança e a
justiça (as chamadas "virtudes cardeais"). Quanto a Aristóteles, este define a
virtude como aquilo que completa de forma excelente a natureza de um ser:
enquanto para um pássaro a virtude pode ser o voar depressa, para o Homem a
virtude será agir conforme a razão.

Existe uma ligação íntima entre virtude e ventura. Apesar da virtude não ser uma
condição suficiente para uma vida boa, pois esta depende também de uma vida
feliz, existe uma relação de dependência: enquanto os estoicos defendem que a
ventura resulta da virtude, Epicuro afirma que a virtude é uma condição para a
ventura; pelo contrário, Kant defende que a virtude não é aquilo que nos torna
mais felizes, mas aquilo que nos torna dignos de ser felizes.

Local original do texto:


http://www.knoow.net/ciencsociaishuman/filosofia/virtude.htm
Significado de Virtude

Virtude é uma qualidade moral particular e vem do grego e latim. Virtude é a


disposição de um indivíduo de praticar o bem; e não é apenas uma
característica, trata-se de uma verdadeira inclinação, virtudes são todos os
hábitos constantes que levam o homem para o caminho do bem.

Há diferentes usos do termo, que estão relacionados com a força, a coragem, o


poder de agir, a eficácia de um ou a integridade da mente.

Virtude é um conceito que remete para a conduta do ser humano, quando existe
uma adaptação perfeita entre os princípios morais e a vontade humana.

Há virtudes intelectuais, que são ligadas à inteligência e as virtudes morais, que


são relacionadas com o bem. A virtude intelectual consiste na capacidade de
aprender com o diálogo e a reflexão em busca do verdadeiro conhecimento. A
virtude moral, por sua vez, é a ação ou comportamento moral, é o hábito que é
considerado bom de acordo com a ética. Justiça, resistência, prudência e
temperança são as virtudes cardeais. As virtudes teológicas, ou sobrenaturais
são aquelas que, de acordo com a doutrina cristã, Deus dá ao homem para agir
como seu Filho, essas virtudes são a fé, esperança e caridade.

Virtude foi um tema bastante abordado pelo filósofo Aristóteles, que fez a
diferenciação entre virtudes intelectuais e virtudes éticas, sendo que o estado
ideal é a moderação, o que se encontra no meio do defeito e do excesso.

Segundo Platão, cada segmento da alma deve atuar de acordo com a virtude que
lhe corresponde. Desta forma, a ação do homem é determinada.

Em geral, na linguagem cotidiana, a virtude é usado para nomear as qualidades


gerais de qualquer pessoa. Aristóteles conceitua virtude dividindo-a em duas:
virtude intelectual e virtude moral. Virtude intelectual é aquela que nasce e
progride graças aos resultados da aprendizagem e da educação, e a virtude
moral ela não é gerada em nós por natureza, é o resultado do hábito que nos
torna capazes de praticar atos justos. Para Aristóteles, não existem virtudes
inatas, todas se adquirem pela repetição dos atos, que gera o costume, e esses
atos, para gerarem as virtudes, não devem desviar-se nem por defeito, nem por
excesso, pois a virtude consiste na justa medida, longe dos dois extremos.

No âmbito da religião cristã, as virtudes são catalogadas como virtudes


teologais, como a fé, esperança e caridade e as cardeais, ou seja, a prudência,
temperança, fortaleza e justiça.

Fonte: http://www.significados.com.br/virtude/
As virtudes humanas

A estrutura da personalidade compreende, entre outros elementos psicológicos,


um conjunto de virtudes que tornam o indivíduo mais elevado, íntegro,
humanitário. Uma virtude representa retidão moral, probidade, excelência moral.
As pessoas podem ser avaliadas pela riqueza de suas virtudes.
De forma sucinta, vamos apreciar algumas dessas virtudes. No decorrer da
empreitada, poderemos observar que elas quase sempre caminham juntas,
raramente apresentam-se isoladas.

Autoconfiança. Esta virtude pode ser conquistada mediante o desenvolvimento


de recursos e habilidades que proporcionam competência, segurança e
tranquilidade no decurso da vida. A pessoa autoconfiante é prudente e
equilibrada, de tal sorte que procura agir sempre com cautela. Pelo fato de
possuir imensa fé em si, ela sabe que pode contar consigo mesma, em situações
as mais adversas.

Benevolência. É uma qualidade que dispõe o indivíduo a praticar o bem, podendo


acrescentar generosidade, gentileza e simpatia. Para tanto, é preciso renunciar a
sentimentos de hostilidade e egoísmo.

Contentamento. É uma virtude que promove alegria e bem-estar. Proporciona o


poder de enfrentar adversidades, sem aflição, com serenidade e jovialidade,
porque capacita o ser humano a adaptar-se a tais situações, e a mudar suas
atitudes diante delas.

Coragem. Trata-se de uma habilidade ímpar para enfrentar, com serenidade e


domínio do medo, os perigos que se apresentam do decurso da vida. Ela
proporciona ao indivíduo a aptidão de avaliar uma gama de possibilidades para
vencer as adversidades. A coragem inspira o indivíduo a agir com perseverança
e determinação em face de todas as situações e circunstâncias.

Desapego. É uma virtude que capacita o indivíduo a ver os fatos e situações com
imparcialidade, com isenção de ânimo. A pessoa que consegue desapegar-se de
suas próprias ideias e opiniões, livre de preconceitos, é capaz de agir com
justiça. O desapego em relação a pessoas, bens materiais e imateriais, é outra
faceta desta valiosa virtude, que possibilita uma vida mais rica e feliz.

Despreocupação Ser despreocupado denota serenidade, confiança, paz. Significa


viver a cada momento, com intensidade e prazer, permitindo ao amanhã cuidar
de seus próprios interesses. No entanto, despreocupação não quer dizer
descuido, imprudência, imprevidência. Muito pelo contrário, pois esta virtude
inspira o indivíduo a tornar-se responsável e cuidadoso com a administração de
tudo que lhe compete.
Determinação. Firmeza e perseverança são duas aliadas desta virtude. Ela
permite ao indivíduo progredir, a ter sucesso em todos os seus
empreendimentos, pois não tolera preguiça, desalento, falta de ânimo. Não
importam as circunstâncias ou obstáculos, a presença desta virtude capacita o
ser humano a concluir sempre todas as tarefas a que se programou.
Determinação é uma virtude necessária para assimilar as demais virtudes e para
livrar-se de todas as negatividades.

Disciplina. Consiste em uma força magnética que atrai a todos. A vida torna-se
mais encantadora quando as pessoas agem com docilidade, bom humor e
gentileza.

Empatia. Significa colocar-se no lugar do outro, em sua própria pele. Ver as


coisas sob sua perspectiva. Compreender seus motivos. E, então, poder
aconselhar com acerto e coerência.

Entusiasmo. É a chama que provoca ação. É vida em movimento. É motivação. É


o fogo interior que proporciona prazer e vitalidade para executar até o fim os
planos traçados. Graças ao entusiasmo, o mundo inteiro está em constante
progresso.

Estabilidade. Significa coerência, responsabilidade, constância. Esta virtude não


admite rigidez, mas requer flexibilidade e adaptabilidade. Assim, a confiança é
desenvolvida e a convivência humana torna-se harmônica e duradoura.

Flexibilidade. Esta virtude permite constante adaptação às pessoas e


circunstâncias. Ela promove a harmonia nos relacionamentos e proporciona
condições para a necessária moldagem às permanentes mutações da vida. Tal
como o salgueiro, podemos nos curvar, pela força do vento, e, ao mesmo tempo,
permanecer firmemente enraizados.

Generosidade. Significa desprendimento, liberalidade, altruísmo. A pessoa


dotada desta virtude aprecia verdadeiramente os outros, e presta a ajuda
necessária sem esperar nada em troca. Ela também promove o fortalecimento
das relações, a paz no contexto social.

Honestidade. Este dom suscita a necessária confiança entre as pessoas. Em


todos os atos da vida, a citada qualidade deve estar sempre presente. Por outro
lado, sua carência provoca as mais nefastas consequências.

Humildade. Mesmo sendo possuidor de múltiplas virtudes, o indivíduo pode


ainda abarcar mais uma, a humildade. Significa modéstia, compostura, ausência
de vaidade. Simplicidade na maneira de se apresentar. Comedimento na forma
de referir-se a si próprio. A pessoa pode conhecer sua força e poder, e apesar
disso, não precisa jactar-se perante os outros.

Introspecção. É a pedra fundamental de todas as virtudes. Graças a ela, o ser


humano torna-se capaz de avaliar e transformar sua personalidade. Mergulhar
no interior de si mesmo é uma condição necessária para o auto-
aperfeiçoamento. Esta virtude desperta os poderes pessoais e harmoniza todo o
ser.
Jovialidade. O dom de ser alegre, bem-humorado, de rir e fazer rir, é uma
qualidade indispensável para a existência da harmonia nos relacionamentos.
Proporciona bem-estar e leveza de espírito. Irradia simpatia, conquista a
amizade, desenvolve o ânimo.

Longanimidade. Significa complacência, indulgência, benignidade, tolerância.


Proporciona o desenvolvimento de uma natural disposição de ânimo para
suportar, com serenidade e resignação, insultos, vexames, ofensas e
contrariedades.

Maturidade. Esta virtude confere a habilidade de agir com coerência e acerto em


todas as circunstâncias. Ela proporciona o desenvolvimento de outra fenomenal
virtude, a sabedoria.

Misericórdia. É uma qualidade ímpar nos relacionamentos humanos. Esta virtude


confere às pessoas o dom de perdoar as faltas dos outros, de compreender suas
fraquezas, pois carrega em si a tolerância e a compaixão.

Paciência. Ser paciente significa ser calmo, sereno e equilibrado. Denota controle
sobre desejos e emoções. Afasta o desespero e a aflição. Possibilita
pensamentos e julgamentos imparciais e objetivos.

Precisão. Esta qualidade proporciona clareza e perfeita definição. Na presença de


exatidão, os pensamentos, palavras e ações serão apropriados a cada
circunstância. A virtude em questão possibilita a habilidade de fazer as coisas
de forma correta. Graças ao autocontrole, paciência, serenidade, conhecimento
de causa, este dom pode prosperar, trazendo benefícios incalculáveis ao
progresso e bem-estar.

Pureza. Significa ausência de vícios de toda ordem. Presença de uma mente sã,
plena de amor e justiça, isenta de máculas, livre de preconceitos e superstições.

Sabedoria. A conquista da maturidade proporciona o surgimento da sabedoria.


Esta virtude confere o poder de controlar impulsos e reações, ter uma visão de
águia, reconhecer a verdadeira intuição, ser previdente. A pessoa que
conquistou o poder da sabedoria é capaz de agir de forma correta, em todas as
circunstâncias, com base em conhecimentos vastos, em sua longa experiência,
na própria realidade. Pode-se observar o perfeito equilíbrio de todos os poderes
e talentos quando a sabedoria está presente.

Fonte: livro "A Arte de Viver" - Ramiro Sápiras - Publicado no Recanto das
Letras em 14/12/2005 - Código do texto: T85744
Tolerância. [A tolerância não foi citada no artigo de Ramiro Sápiras.] Tolerância é
um termo que vem do latim tolerare que significa "suportar" ou "aceitar". A
tolerância é o ato de agir com condescendência e aceitação perante algo que
não se quer ou que não se pode impedir. A tolerância é uma atitude fundamental
para quem vive em sociedade. Uma pessoa tolerante normalmente aceita
opiniões ou comportamentos diferentes daqueles estabelecidos pelo seu meio
social. Este tipo de tolerância é denominada "tolerância social".

René Descartes
Para o filósofo racionalista René Descartes, a virtude consiste no raciocínio correto que
deve nortear as nossas ações. Os homens deveriam buscar o soberano bem que
Descartes, seguindo Zenão, identifica com a virtude, pois isso produz uma bem-
aventurança ou prazer sólidos. Para Epicuro o bem soberano bem era o prazer, e
Descartes diz que na verdade isso não está em contradição com o ensinamento de Zenão,
porque a virtude produz um prazer espiritual, que é melhor que o prazer corporal. No que
diz respeito à opinião de Aristóteles de que a felicidade depende dos bens da fortuna,
Descartes não nega que estes bens contribuem para a felicidade, mas observa que estão
em grande proporção fora do nosso próprio controlo, enquanto que a nossa mente está
sob o nosso completo controlo.[34]
Immanuel Kant
Immanuel Kant, nasa suas Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime, diz
que a verdadeira virtude é diferente daquilo que comummente se acredita sobre ela. Na
opinião de Kant, ser bondoso, benevolente e solidário não é a verdadeira virtude. O que
torna uma pessoa verdadeiramente virtuosa é comportar-se de acordo com princípios
morais.[carece de fontes]
Kant apresenta um exemplo: suponha que você se depara com uma pessoa necessitada
na rua; se a sua simpatia o leva a ajudar essa pessoa, a sua resposta não ilustra a sua
virtude. Neste exemplo, como você não tem condições de ajudar todos os necessitados,
você comportou-se injustamente e isso está fora do domínio dos princípios e da verdadeira
virtude. Kant aplica a abordagem dos quatro temperamentos para distinguir pessoas
verdadeiramente virtuosas. Segundo Kant, entre todas as pessoas com temperamentos
diversos, uma pessoa com um estado de espírito melancólico é a mais virtuosa, cujos
pensamentos, palavras e ações são baseados em princípios.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A sagrada família: ou a crítica da
Crítica contra Bruno Bauer e consortes. Trad. Marcelo Backes. São
Paulo: Boitempo, 2003, p. 130
** SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. São Paulo:
Abril Cultural, 1978, p. 09
*** MARX, Karl; O 18 Brumário de Luís Bonaparte, p. 329
Fachin, Luiz Edson (2003). Teoria Crítica do Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Renovar, pág. 304

Rawls, John (1972). A Theory of Justice. Cambridge, Massachusetts. Harvard University Press.
34
Rawls, ib. pág. 520~

arr, D. (1988). «The cardinal virtues and Plato's moral psychology». The Philosophical
Quarterly. 38 (151): 186–200. JSTOR 2219923. doi:10.2307/2219923

Vlastos, Gregory (março de 1972). «The Unity of the Virtues in the Protagoras». The Review of
Metaphysics. 25 (3): 415–458.

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