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HARPIA - Revista de Divulgação Científica e Cultural do Isulpar

Vol.1- nº 4- Agosto/2012 ISSN: 2179-4073


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A CONSTRUÇÃO DA MORAL E DA ÉTICA


LUCY MARTA SCHELLIN

INTRODUÇÃO
Vemos com certa frequência, notícias a respeito de casos onde houve falta de
ética no serviço público. Mas o que é ética? Em que se baseia? Como foram formados
os conceitos de ética e moral? Para responder a estas perguntas foi feito um estudo
bibliográfico para entender o que é ética e moral, bem como de que forma o homem
desenvolveu e aprimorou suas regras básicas de conduta, a fim de conviver em
sociedade.
É da índole do ser humano, agir de forma ética, não é comum, porém, que os
indivíduos se questionem a respeito do que os leva a tomar tais atitudes. E são
justamente os questionamentos sobre coisas simples, que acabam desencadeando
processos transformadores, nas relações entre as pessoas.

MORAL E ÉTICA

Ética e moral normalmente são conceitos fáceis de serem confundidos por


estarem intrinsecamente ligados. Morfologicamente, a origem da palavra ética vem do
grego ethos, e, existem duas formas para grafar a nossa vogal e, que podem alterar o
sentido da palavra origem. Escrita com eta, uma vogal longa, significa costume, caso
seja escrita com epsilon, uma vogal curta, significa caráter, índole natural da pessoa.
Já a moral vem do latim, mores, uma tradução imperfeita da palavra ethos grega, que
referencia os valores da coletividade.
Pode-se dizer que para que exista a ética é primeiro necessário que exista a moral.
A moral faz parte do cotidiano dos seres humanos desde os primeiros
agrupamentos sociais, e é norteada pelos conceitos de bem, de justiça, enfim de
pensamentos e atitudes que promovem o desenvolvimento do ser humano. É o
conjunto normas que cada indivíduo utiliza no seu dia a dia, para viver em harmonia
na sociedade, baseado nas suas vivências, na educação recebida, nas suas crenças e
tradições. Cada pessoa tem a sua visão particular de moral, o seu certo e o seu
errado, e os conceitos morais de cada indivíduo são aplicados nas relações diárias,
funcionando como um limite que cada um se impõe naturalmente, para conviver bem
com as outras pessoas, assumindo a responsabilidade pelas suas escolhas. As
pessoas acabam influenciando umas às outras no seu grupo de convivência, e o grupo
todo passa a perceber o certo e o errado, o justo e o injusto, o útil e o não útil, mais ou
menos da mesma forma.

“Explicar moral e ética pode gerar um conflito de opiniões: porém existem


nuanças que diminuem ou extinguem estas particularidades. Moral pode ser definida a
nossa consciência e as qualidades boas que temos entre elas o respeito pela vida, ao
ser humano, fraternidade, solidariedade e a moral é formada numa universidade da
vida: “O Cotidiano”. Pode variar de pessoa a pessoa, pois todo ser humano não possui
as mesmas qualidades, há uma variação muito grande, talvez exagerada. Ética nada
mais é do que o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana
suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a
determinada sociedade, seja de modo absoluto. ”(1)
“Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes
ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta, válidos para todos
os seus membros. Culturas e sociedades fortemente hierarquizadas e com diferenças
muito profundas de castas ou de classes podem até mesmo possuir várias morais,
cada uma delas referida aos valores de uma casta ou de uma classe social. No
entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita de uma ética,
entendida como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize e
interprete o significado dos valores morais.” (CHAUI, 2010, 436)
A ética surgiu na Grécia antiga através dos questionamentos de Sócrates, um
dos primeiros filósofos da humanidade, e é por definição, o estudo filosófico
puramente racional das regras de conduta moral praticada pelos seres humanos no
seu dia a dia. Enquanto a moral é baseada na prática, nas ações de uso constante, a
ética, estuda minuciosamente o comportamento dos grupos de convivência, e procura
descobrir o que faz as pessoas agirem de determinada forma e com uma determinada
conduta.
O objeto de estudo da ética são os princípios, os motivos, as circunstâncias
que levaram aos indivíduos, num determinado contexto a agirem segundo a moral em
vigor e as consequências decorrentes de tais ações. O objetivo da ética é promover
modificações na moral, utilizando a racionalidade do indivíduo, fazendo-o refletir sobre
os acontecimentos do cotidiano, questionar a moral em vigor da sociedade na qual o
indivíduo está inserido, pensar em qual a melhor forma de agir, norteando seus
passos, orientando racionalmente a melhoria da conduta humana. O estudo
sistemático da moral, por si só, não garante que os princípios considerados corretos,
sejam efetivamente aplicados. É necessária a introjeção de valores em cada indivíduo,
para que as ações práticas do dia a dia reflitam a elevação moral de cada ser.

REFLETINDO SOBRE AS CONSTRUÇÕES DA MORAL


A moral adquire contornos diferenciados nos diversos períodos da história. A
seu tempo, os valores são modificados de acordo com a forma de vida e os costumes
das pessoas e tem a função específica de orientar o comportamento dos indivíduos
em sociedade. Alguns princípios morais se tornaram consenso durante toda a história
da humanidade e podem ser consideradas conquistas valiosas. Como tem caráter
positivo acabaram se tornando valores universais como a honestidade, a liberdade,
etc. Muitos desses princípios são de caráter religioso e se conservam com o passar
dos anos pela tradição.
“Os valores morais surgem das necessidades históricas dos homens. Uma vez
instituídos, passam a se estruturar como um sistema normativo: conjunto de normas
morais que visa à regulação do comportamento dos indivíduos, tendo por finalidade
atender as necessidades de sobrevivência, de justiça, de defesa etc. da comunidade.
As normas e valores também servem de orientação de valor, de parâmetros para os
juízos de valor, que visam nortear a consciência da moral dos indivíduos, compondo
um código moral não escrito, cuja reprodução é realizada na vida cotidiana, pela
repetição formadora do hábito e dos costumes. Essa forma primária de organização
social da comunidade em torno de valores comuns e de regras de comportamento dá
origem à moral como costume (do latim mos, moris) ou conjunto de hábitos de conduta
(mores).” (BARROCO, 2010, P. 60)
A ética cristã, baseada na Bíblia e em documentos religiosos, tem como
princípio as verdades reveladas por Deus (moral absoluta) e, portanto não podem ser
contestadas. Os dez mandamentos são as primeiras normas éticas enviadas pelo
Criador aos homens, para regular a conduta destes em relação a si mesmo, aos
outros e a Deus. Os princípios fornecem padrões de conduta, que devem ser usados
em situações para as quais não há instruções explícitas. O conceito de autonomia,
onde o ser humano é livre para escolher entre o certo e o errado é substituído pelo
livre arbítrio, regido pela obediência e pelo temor a Deus.
“Ao obedecer às leis morais, os homens realizam sua essência, o que o
aproxima de Deus, finalidade da sua existência. Por que isso ocorre? Vimos que o
homem tende naturalmente ao bem; sendo assim, sua essência, ou sua natureza é
boa. As leis morais, sendo derivadas das leis divinas, são leis humanas que tendem
ao bem e contam com a confirmação dada pela revelação que determina as virtudes e
os deveres derivados do bem supremo”. (BARROCO, 2010,p. 130)
“A vontade divina pode tornar-se parcialmente conhecida dos humanos sob a
forma de leis, isto é, decretos, mandamentos, ordenamentos, comandos emanados da
divindade. Assim como a ordem do mundo decorre dos decretos divinos, isto é, da lei
ordenadora à qual nenhum ser escapa também o mundo humano está submetido a
mandamentos divinos.” ( CHAUI, 2010,p. 384)
Alguns grupos não contemplados pelos dogmas do catolicismo criaram suas
próprias normas de conduta, que por diferirem dos preceitos católicos, passaram a ser
chamadas de heresias. Eram chamadas de heresias todas as formas de manifestação
que fugia ao controle e poder da Igreja Católica. As seitas à margem do poder católico
passaram a se multiplicar, e o número de adeptos aumentou significativamente. Para
se fortalecerem politicamente, os reis precisavam se desvincular do poder político da
Igreja Católica e criar uma Igreja própria, comandada por eles. Soma-se ainda o
inconformismo da burguesia, em sua maioria analfabetos, e agora com poder
financeiro gerado pelo desenvolvimento de seus comércios, ao serem deixados de
lado pelos nobres nas nomeações ao clero e consequentemente nas decisões da
comunidade. As escolas antes vinculadas à Igreja Católica e utilizadas apenas pelos
bem nascidos, abrigam os filhos dos burgueses em ascensão e proporcionam a
formação de novos conceitos de ética, baseados não mais na concepção de bem
coletivo, mas referiam-se à individualidade do homem.
Revoltado com a venda de indulgências (perdão de Deus) pelo papa Leão X e
o arcebispo Alberto de Mangúcia à população, o sacerdote Martinho Lutero, promoveu
um debate público com a publicação de 95 teses, convocando as pessoas a
questionarem a validade desse comércio. Tais teses foram publicadas em alemão
fluente, em frases curtas e perguntas simples, para que não só os cultos tivessem
acesso às teses, solicitando a presença dos populares ao debate. A tradução do Novo
Testamento para o alemão coloquial disseminou o conhecimento sobre a palavra de
Deus, antes de propriedade exclusiva da Igreja, para toda a população. Mais tarde
excomungado e recluso, concluiu também a tradução do Antigo Testamento. Não
havia mais volta, a Igreja tinha se partido, e os valores morais tidos como certos por
longo tempo, haviam sido adaptados para as condições da sociedade atual. A reforma
protestante evidencia então, uma nova forma de se relacionar com a fé, apresentando
as figuras sacras como figuras humanas, e derruba valores rígidos da doutrina cristã,
modificando o conceito de justiça.
“Com o aparecimento das relações burguesas, o conceito de justiça perdeu o
caráter unívoco, e o problema do como se impôs ainda mais no primeiro plano.
Verificou-se que não era igualmente possível a todos procederem bem, e que nem
todos possuíam os meios necessários para tal; além disso, o que era justo para um
ponto de vista poderia ser injusto para outro, e atuar de maneira justa para com uma
pessoa podia significar praticar a injustiça para com outra.” (HELLER apud
BARROCO, 2010, p. 106).
A ética de Maquiavel se contrapõe à ética cristã, onde o governo estava
subordinado às leis de Deus e as ações visavam à salvação da alma. Para Maquiavel,
os governantes devem se preocupar com a pátria e o bem estar do povo, mesmo que
decorrentes de práticas consideradas como meios inadequados fossem estes bons ou
maus. Suas teorias não tem vínculo religioso e mostram como agiam e não como
deveriam agir os políticos e governantes, bem como que virtudes deveriam ter para se
manter no comando e aumentar suas conquistas. Evidencia-se aqui a diferença entre
a filosofia, ou seja, como as coisas deveriam ser e ciência, como as coisas de fato
são. A política passa a ser uma instância de poder, guiada por interesses particulares.
Segundo Maquiavel, para obtenção de resultados concretos, o homem precisa primar
pela eficácia, mesmo que se utilizando de métodos não aceitos pela maioria dos
indivíduos, como corretos, pois os parâmetros absolutos da moral da época, como a
humildade, a piedade e a compaixão, não levariam o homem à prosperidade por
serem contrários às necessidades e aplicações da política, como audácia, coragem e
patriotismo. Um governante poderia utilizar recursos militares e fazer inimigos, se isso
fosse necessário para lhe assegurar o poder.
“Vários princípios morais, como o de ser honesto ou de não matar, por
exemplo, funcionam como normas universais ao longo da história. A maioria tem
origem em princípios religiosos e são conservados pela tradição, objetivando-se de
diversas formas, em diferentes culturas e tempos históricos... Como produtos
históricos, eles se transformam, mas tendem a reproduzir valores universalmente tidos
como valores positivos; por isso tendem a explicitar valores humano-genéricos,
representativo das conquistas práticas do ser social, ao longo da história. A realização
concreta desses princípios adquire significados históricos particulares em cada
contexto, em cada sociedade, classe, estrato social, assim como para cada indivíduo,
em sua singularidade” (BARROCO, 2010, P. 69)
A sociedade francesa do século XVIII era dividida em camadas sociais, onde o
clero estava acima de todos, não pagava impostos e assim como os reis, e a nobreza,
viviam no luxo sustentado pela classe trabalhadora formada pelos camponeses,
comerciantes e burgueses, também chamados de terceiro estado.( 18 Brumário).
Estes não tinham direito a voto, nem a opinião na forma de governo. Os camponeses
e trabalhadores viviam em situação de miséria e, as normas de conduta da época
eram opressoras, e, portanto aspiravam melhores condições de vida. Já os burgueses,
em melhor situação econômica, desejavam uma maior participação política, e mais
liberdade econômica. Todos os que se contrapunham às ordens do rei eram presos na
Bastilha, famoso cárcere político, sem direito a defesa e julgamento ou eram
condenados à morte na guilhotina. A grande insatisfação gerada pela opressão da
classe trabalhadora resultou na Revolução Francesa, cujo primeiro alvo foi a Bastilha,
símbolo político da monarquia francesa, e o lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade é
a expressão mais correta dos anseios do povo francês. Instaurou-se então a
Assembleia Constituinte, que cancelou os direitos feudais, confiscou as propriedades
do clero e promulgou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, com
significativos avanços sociais, porém administrada pelos burgueses, e com a classe
trabalhadora ainda sem grande participação na vida política. Institui-se assim uma
sociedade burguesa já com as bases do capitalismo.
“A declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada em 1789, na
França Revolucionária, inscreveu a liberdade e a igualdade como direitos de todos
perante a lei, contrapondo-se às leis feudais que legitimavam a desigualdade entre
servos e nobres. A valorização do trabalho como meio de ascensão social, a
realização individual e a expansão do mercado de trabalho, agora voltado á
industrialização, a ruptura com as formas de vida tradicionais passam a expressar
novos códigos morais baseados no pluralismo e na relatividade de valores.”
(BARROCO, 2010,p. 108)
A Revolução Francesa é considerada o início da Idade Moderna e influenciou
muitos outros movimentos ao redor do mundo, incluindo a Inconfidência Mineira aqui
no Brasil. O capitalismo iniciado no século XII, aos poucos toma forma, e após a
revolução industrial é que passa a existir o verdadeiro capitalismo. De forma simplista,
entende-se por capitalismo, a utilização de recursos e ferramentas para a produção de
bens de consumo, cuja produção de forma segmentada depende de trabalhadores,
cada qual com sua habilidade, e tem seu comércio desvinculado do Estado.
A revolução industrial teve início na Inglaterra, onde havia mão de obra farta,
recursos naturais disponíveis e uma burguesia capitalizada, ávida por lucros. Havia
também maior liberdade ao comércio, uma vez que a Inglaterra havia saído do
domínio da Igreja Católica pela Reforma Protestante. O sistema de produção utilizado
era a manufatura. Os artesãos, eram responsáveis por todo o processo produtivo
desde a escolha da matéria prima até a comercialização de seu produto e com a
implantação das fábricas, transformaram-se em trabalhadores assalariados, perdendo
a autonomia, o controle sobre a matéria prima, o produto e o lucro. A invenção de
máquinas, a princípio rudimentares evoluiu muito e uma máquina passou a fazer o
serviço de muitos trabalhadores. Os salários eram muito baixos, as fábricas eram
sujas e mal iluminadas, as jornadas de trabalho extensas, utilizava-se mão de obra
feminina e infantil, e não havia direitos trabalhistas. “O valor da força de trabalho era
determinado pelo tempo de trabalho não só necessário para a manutenção do
trabalhador individual adulto, mas para a manutenção da família do trabalhador. A
maquinaria, ao lançar todos os membros da família do trabalhador no mercado de
trabalho, reparte o valor da força de trabalho do homem por toda sua família. Ela
desvaloriza, portanto, sua força de trabalho. A compra de uma família parcelada, por
exemplo, em 4 forças de trabalho, custa, talvez, mais do que anteriormente a compra
da força de trabalho do cabeça da família, mas, em compensação, surgem 4 jornadas
de trabalho no lugar de uma, e o preço delas cai proporcionalmente ao excedente de
mais-trabalho dos quatro em relação ao mais-trabalho de um. Agora, quatro precisam
fornecer não só trabalho, mas mais trabalho para o capital, para que uma família
possa viver. Assim, a maquinaria desde o início amplia o material humano de
exploração, o campo propriamente de exploração do capital, assim como ao mesmo
tempo o grau de exploração.” ( MARX, 1996, p. 28)
“Nos limites da sociedade burguesa existem, objetivamente, formas de
oposição à moral dominante: elas encontram-se nos partidos políticos, nos
movimentos sociais e em todas as formas de organização dos trabalhadores e dos
sujeitos políticos que não permitem que os valores e os direitos conquistados através
de muitas lutas contra as classes dominantes se percam na história. Logo, não se trata
de inventar uma nova moral, mas de resgatar suas particularidades em face de
contextos históricos específicos. É preciso perguntar se as escolhas éticas
correspondem às necessidades históricas do presente e em que medida pode interferir
nas lutas sociais: tarefa fundamental da crítica marxista.” (BARROCO, 2010, p. 216)
Devido às crises do capitalismo, e críticas de intelectuais da época, surge o
pensamento socialista. No auge do brilhantismo intelectual da Rússia do século XIX,
as ideias críticas de Karl Marx, vão de encontro ao o engajamento político dos
estudantes, e principalmente em Vladimir Ilitch Ulianov Lênin, vindo de uma família de
cinco irmãos, todos dedicados à luta revolucionária. Formado em direito pela
Universidade de São Petersburgo, nunca exerceu a profissão, destacando-se como
líder revolucionário. Para que Lênin pudesse implantar a sociedade nos seus moldes,
era necessário que o proletariado tomasse conta do poder e para isso fazia-se
necessário subverter a ideologia e dominar a burguesia. Para isso era necessário que
os principais articuladores do seu movimento fossem treinados para apresentar uma
moral impecável. “Tendo em vista a centralidade que a política ocupa na vida de
Lênin, não é difícil entender porque a sua compreensão ética seja completamente
entrelaçada com a sua opção político-ideológica. Por isso, embora não elabore uma
teoria marxista, em vários de seus escritos, encontramos valores éticos, avaliações
éticas sobre o movimento e indicações sobre sua própria concepção ética. Ele nos
leva à identificação do modo de ser do novo homem socialista... observa-se que os
valores: disciplina, fidelidade, firmeza, sacrifício, heroísmo e justiça tem por finalidade
a revolução, sendo que a moral está entrelaçada com a consciência de classe.”
(BARROCO, 2010, p. 184)
Nos dias de hoje com a queda do comunismo na Rússia e de quase todos os
estados socialistas, os partidos de esquerda, tem o socialismo apenas como ideologia.
O capitalismo contemporâneo se diferencia do capitalismo do período anterior que
priorizava a produção em massa, pela valorização do indivíduo, e de segmentos de
mercado consumidor. A fragmentação das relações é observada em todos os
aspectos da vida cotidiana. Os valores passaram a ser relativos, e estamos vivendo
hoje a era da incerteza. “O reino do efêmero é o espaço onde nada tem valor ou só
tem valor o que não significa compromissos com algo ou com alguém. Sem laços não
existem riscos, mas com isso restringem-se as exigências e as escolhas éticas. De
fato a cultura contemporânea favorece a restrição da ética ao consolidar a moral
individualista, a vida fragmentada, a violência, o intimismo voltado ao eu, o egoísmo, a
vida privada em detrimento da vida pública, entre outros. Essa cultura... é
característica, da desumanização em curso e da negação do que a sociedade
moderna conquistou enquanto desenvolvimento e apropriação das conquistas e
valores humano-genéricos.” (BARROCO, 2010, p. 224)
O neoliberalismo atual defende a política de livre comércio com o mínimo de
intervenção do Estado. A globalização de mercadorias faz com que um produto possa
ser concebido em um país, produzido em outro com matérias primas de diversas
origens e vendidos por todo o mundo. Os investidores podem, através de instituições
financeiras, aplicar seus capitais em qualquer parte do planeta em tempo quase real,
utilizando-se dos recursos tecnológicos disponíveis. Os países se uniram em blocos
facilitando as transações comerciais entre eles. Tudo pode ser vendido e tudo pode
ser comprado. É o chamado mercantilismo, que hoje está relacionado a todas as
formas de consumo. “podemos considerar que a sociedade capitalista avançada
caracteriza-se pela reprodução do fetiche da forma mercadoria em todas as relações
sociais e dimensões da vida social. Isso significa a universalização da coisificação e
da mercantilização das relações sociais, ou seja, o fetiche da forma mercadoria não se
restringe à esfera da produção, mas passa a dominar todas as esferas da vida social,
penetrando a totalidade das atividades e dimensões sociais, subjetiva e
objetivamente.” (BARROCO, 2010, p. 46). “os objetos passaram a ser adquiridos não
pelo seu valor de uso, mas pelo significado social de sua posse” e “não apenas a
compra de bens materiais para a satisfação das necessidades, mas também o
consumo de imagens e de valores para uma grande parte da sociedade”. (PADILHA,
2006)
A ética em vigor no neoliberalismo é a ética de mercado, e não a da essência
do ser humano. As formas de pensamento são massificadas. A necessidade primordial
é a de subir na vida e obter status de acordo com o padrão vigente de sucesso. Ainda
assim, segundo Luc Ferry , as relações baseadas no afeto entre as pessoas,
evoluíram muito. “Hoje no Ocidente, ninguém arrisca a própria vida para defender um
Deus, uma pátria, ou um ideal de revolução. Mais vale a pena se arriscar pelas
pessoas a quem amamos... Na história do Ocidente, tivemos três grandes razões de
morte: Deus, pátria e revolução... arriscar a vida pelas pessoas amadas continua
valendo a pena. O amor aos filhos fez surgir a questão de que mundo vamos legar a
eles. Globalização, ecologia e educação, todas as questões atuais, se agrupam nesse
foco.
CONCLUSÃO
Somos produto do meio em que vivemos, nossas ações são baseadas nos
ensinamentos que recebemos da sociedade, da família, dos preceitos morais do nosso
tempo. Para agirmos de forma ética, precisamos respeitar além dos nossos limites, os
limites das outras pessoas à nossa volta. Todos os dias precisamos fazer escolhas,
baseadas no que conscientemente acreditamos ser o certo, o bom, o justo, não
porque nos obrigam, mas por que temos consciência dos nossos atos, e nos
responsabilizamos pelas consequências deles. A história comprova que sempre que
há abusos nas normas de conduta vigentes, as modificações acontecem
independentemente da vontade dos governantes, ou dos opressores. Pode-se afirmar
que a humanidade obteve grandes conquistas em termos de construção de valores, e
que estes, fazem parte da sociedade moderna, que apesar de parecer alienada nos
dias de hoje, é muito mais evoluída em termos de regras de conduta. Regras estas
que as pessoas precisam utilizar para se manterem inseridas no mercado de trabalho,
e na vida em comunidade.

REFERÊNCIAS
BARROCO, Maria Lucia S. Ética: fundamentos sócio-históricos. São Paulo, Ed.
Cortez, 2010.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia, São Paulo, Ed. Ática, 2000.
MARX, Karl Heinrich. O capital- crítica da economia política. Livro primeiro, o processo
de produção de capital. São Paulo Ed Nova Cultural, 1996.
PADILHA, Valquíria. Shopping Center: a catedral das mercadorias. São Paulo;
Boitempo, 2006.
FERRY, Luc Folha de São Paulo virtual de 22/09/2012 às 22h58’
(1)http://babeto.blogs.unipar.br/files/2009/02/o-que-e-moral-e-o-que-e-etica.pdf.

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