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“Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde Descartes e Bacon, e o projeto iluminista
meus primeiros anos, recebera muitas falsas concebem a ciência como uma forma de saber que
opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que almeja libertar o homem das intempéries da
depois eu fundei em princípios tão mal natureza. Nesse contexto, a investigação científica
assegurados não podia ser senão mui duvidoso e consiste em:
incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez
em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a a) expor a essência da verdade e resolver
que até então dera crédito, e começar tudo definitivamente as disputas teóricas ainda
novamente a fim de estabelecer um saber firme e existentes.
inabalável.” (DESCARTES, R. Meditações concernentes b) oferecer a última palavra acerca das coisas que
à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973) existem e ocupar o lugar que outrora foi da
(adaptado). filosofia.
c) ser a expressão da razão e servir de modelo para
TEXTO II outras áreas do saber que almejam o progresso.
“É o caráter radical do que se procura que exige a d) explicitar as leis gerais que permitem
radicalização do próprio processo de busca. Se interpretar a natureza e eliminar os discursos
todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer éticos e religiosos.
certeza que aparecer a partir daí terá sido de e) explicar a dinâmica presente entre os
alguma forma gerada pela própria dúvida, e não fenômenos naturais e impor limites aos debates
será seguramente nenhuma daquelas que foram acadêmicos.
anteriormente varridas por essa mesma dúvida.”
(SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São
Paulo: Moderna, 2001). (adaptado).
03 – Com sua operação filosófica denominada
“dúvida metódica”, René Descartes acabou
A exposição e a análise do projeto cartesiano instituindo um paradigma filosófico que foi
indicam que, para viabilizar a reconstrução radical identificado como racionalismo. Em oposição ao
do conhecimento, deve-se: racionalismo cartesiano, alguns filósofos
a) retomar o método da tradição para edificar a britânicos desenvolveram a filosofia empirista,
ciência com legitimidade. que consistia em:
b) questionar de forma ampla e profunda as
antigas ideias e concepções. a) tomar como premissa principal para o
c) investigar os conteúdos da consciência dos conhecimento a faculdade da razão, a partir da
homens menos esclarecidos. qual o mundo se torna inteligível.
d) buscar uma via para eliminar da memória b) negar a importância dos dados empíricos para o
saberes antigos e ultrapassados. processo do conhecimento.
e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que c) tomar como premissa principal para o
dispensam ser questionados. conhecimento os dados da realidade sensível, isto
é, os dados empíricos, materiais.
02 – (Enem) “Os produtos e seu consumo d) não ter um método filosófico racional,
constituem a meta declarada do empreendimento convertendo-se assim ao irracionalismo, corrente
tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira que depois dominaria parte da filosofia do século
vez no início da Modernidade, como expectativa XIX.
de que o homem poderia dominar a natureza. No e) defender politicamente o império inglês contra
entanto, essa expectativa, convertida em programa as investidas dos intelectuais de outros países.
anunciado por pensadores como Descartes e
Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não 04 – Leia o trecho a seguir: “[…] é quase
surgiu 'de um prazer de poder', 'de um mero impossível que nossos juízos sejam tão puros e tão
imperialismo humano', mas da aspiração de sólidos como teriam sido se tivéssemos tido
libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e inteiro uso de nossa razão desde a hora de nosso
culturalmente.” (CUPANI, A. A tecnologia como nascimento, e se tivéssemos sido conduzidos
problema filosófico: três enfoques. Scientiae Studia, São sempre por ela.” (DESCARTES, René. Discurso do
Paulo, v. 2, n. 4, 2004) (adaptado). Método. São Paulo: Martins Fontes. 1996, p. 17).
A passagem acima informa sobre a relação entre 11 – (UNICAMP) A maneira pela qual
pensamento e linguagem no racionalismo adquirimos qualquer conhecimento constitui
moderno. Sobre essa relação, pode-se afirmar suficiente prova de que não é inato. (John Locke,
corretamente que: Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova
a) a linguagem, quer seja sonora quer seja em Cultural, 1988, p.13.)
sinais, tem a função de fazer o pensamento ser
entendido pelos outros. O empirismo, corrente filosófica da qual Locke
b) a capacidade de produzir discursos, isto é, a fazia parte,
linguagem, é o que permite aos homens ter a) afirma que o conhecimento não é inato, pois sua
pensamentos. aquisição deriva da experiência.
c) o entendimento entre homens se dá através da b) é uma forma de ceticismo, pois nega que os
linguagem, que, todavia, é anterior ao conhecimentos possam ser obtidos.
pensamento. c) aproxima-se do modelo científico cartesiano, ao
d) o pensamento existe independentemente do negar a existência de ideias inatas.
discurso e, como ocorre entre surdos e mudos, não d) defende que as ideias estão presentes na razão
precisa ser entendido. desde o nascimento.