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O Ócio Criativo

Passando pelo trabalhador braçal até o profissional de colarinho branco (até de


bermuda, em seu home office), a sociedade caminha para uma direção que não se
fundamenta mais no trabalho, mas no tempo livre. A sociedade atual é baseada em um
mercado de trabalho que valoriza a criatividade e o cérebro. A sociedade pós-industrial,
como chama Domenico De Masi, oferece a libertação da alma, ou seja, o ócio criativo.
Mas para que consigamos desfrutar do ócio criativo, precisamos nos livrar de hábitos
adquiridos na sociedade antiga, como trabalhar de tantas em tantas horas e dormir com
o despertador ligado e, ao mesmo tempo, dedicarmos tempo para a instrução e a
diversão.

Nossa sociedade pós-industrial privilegia a produção de ideias, o que exige um


corpo quieto e uma mente irrequieta. A produção de ideias exige o que Domenico De
Mais denomina de “ócio criativo”. As máquinas sempre trabalharão em um ritmo mais
rápido, mas os humanos sempre terão tempo para refletir e ter ideias.

É preciso dar ao tempo livre um sentido mais pleno e ao ócio um realce mais
positivo. Domenico de Masi sugere que você dívida o seu tempo em 3 partes, em
medidas adequadas, de acordo com a sua situação e vocação de vida, são elas: Tempo
para si mesmo, ao seu corpo e mente, Tempo para sua família e amigos e Tempo para a
coletividade, contribuindo para a sua organização política e cívica.

Na sociedade pós-industrial, as atividades cerebrais e virtuais prevalecem sobre


as atividades manuais. Portanto, o grande lance é a criatividade, que requer emoção,
fantasia e racionalidade. Sem emotividade não se cria nada de novo. E a emotividade
surge, basicamente, da feminilidade, o que nos leva a uma sociedade do tipo andrógina,
sem papeis hierárquicos e rígidos para mulheres e homens.

O carisma é fundamental no processo de criatividade de um grupo. A


criatividade é uma mistura de concretude e fantasia, que surge através de materiais
inconscientes e conscientes, emocionais e racionais. Para que a criatividade aflore em
um grupo, e até em um país, são necessários: Um clima de entusiasmo individual e
coletivo e uma liderança carismática, apaixonante.
O chefe carismático deve se manter constantemente presente para eliminar os
procedimentos inúteis, entusiasmar a equipe, gratificar as pessoas criativas, promover a
inovação e a coragem de enfrentar o desconhecido. Quanto mais as empresas
conseguirem estabelecer ambientes que estimulem a criatividade, mais eficientes elas
serão.

Quem domina a área digital nunca deixa de produzir. Os jovens digitais


produzem cinema, música, disponibilizam jornais, revistas, viajam na internet, vendem
bijuteria, animam amigos, centros comunitários e assim por diante. Os jovens digitais
criaram uma nova cultura material, social e de ideias. O capitalismo que corre sem
freios não aceitou de cara os jovens digitais, mas eles estão por toda a parte e batalham
para mudar o mundo.

Ao mesmo tempo em que nos mantêm em casa, por meio da internet, o trabalho
à distância nos leva longe. Além disso, ele nos permite mudar de cidade e, ainda assim,
trabalhar para a mesma organização. Por isso, precisamos ter uma mente elástica e com
flexibilidade prática para gerirmos todos os tipos de situações. A tecnologia e internet à
serviço do trabalho permitem que nós trabalhemos de roupão, diminuamos os
deslocamentos e engarrafamentos, mas exige estudos cada vez mais especializados e
contínuos e a mudança de cidade e país.

O overtime é aquele tempo que você fica esquentando a cadeira do seu trabalho
sem que seja necessário. Segundo Domenico De Masi, uma ação drástica é necessária
para que você consiga combater o overtime. Com a máxima automação e os
microprocessadores isso não é mais preciso. Muitos poderiam trabalhar cinco ou, no
máximo seis horas por dia. Muitas pessoas poderiam dar uma volta nesse mesmo
horário de trabalho para receber estímulos criativos.

O fato é que as pessoas passam tempo demais nas empresas, sejam elas públicas
ou privadas. Domenico De Masi acredita que a semana de trabalho deve ser de, no
máximo, três dias úteis e cada mês tenha, no máximo, três semanas de trabalho uma
redução drástica dos horários. É bom para você?

Um horário mais flexível para a rotina de trabalho gera muitos efeitos positivos,
seja dando emprego a quem não tem, seja aumentando a eficiência e a criatividade das
pessoas que já estão empregadas. Para Domenico De Mais, no futuro, poderemos
descansar em qualquer hora do dia ou em qualquer dia da semana. Para o autor, a
própria família fará o trabalho doméstico sem delegar a terceiros, porque este tipo de
trabalho ficará mais fácil e rápido, devido os eletrodomésticos, alimentos pré-cozidos e
casas menores e funcionais.

Igualdade entre os sexos na distribuição dos trabalhos. Com a grande redução


dos horários de expedientes, o álibi do trabalho para ficarmos fora de casa o dia todo
desaparecerá. Isso restitui os maridos às suas mulheres e vice-versa. Sendo assim, as
mulheres não ficarão com todas as responsabilidades familiares, como a criação dos
filhos, organização da casa etc. A paternidade pode e deve se igualar à maternidade.

Em tempos passados, enquanto o trabalho exigia esforço físico, as pessoas eram


obrigadas a trabalhar, pois, se elas pudessem escolher, não trabalhariam. Além disso, as
religiões foram muito duras em relação ao ócio, pregando o conceito de que gozar do
ócio é pecado. Por isso, nossa sociedade se desenvolveu com uma aversão ao ócio.

A solução para sair do tédio é convertê-lo em ócio criativo. E você consegue


fazer isso preenchendo o seu tempo com atitudes escolhidas por vontade própria ao
invés daquelas que se faz por obrigação. As horas de reflexão ou exercício, que para
muitos pode parecer perda de tempo, nutre a criatividade. O perambular do corpo e da
mente é o que resulta numa grande ação positiva e criativa: uma obra de arte, um novo
teorema, um romance etc.

O ócio como instrumento criativo é aquela trabalheira mental que ocorre quando
você está fisicamente parado, ou até mesmo dormindo à noite. Viver o ócio não
significa não pensar, significa não pensar em regras obrigatórias e não ser assediado
pelo cronômetro. O ócio criativo é o que alimenta as ideias. O cérebro precisa do ócio
para produzir novas ideias. E as ideias são necessárias para que a sociedade se
desenvolva e evolua. É preciso educar nossos filhos e jovens tanto para trabalhar,
quanto para aproveitar o ócio.

Devemos seguir algumas regras para fazer com que nossa sociedade evolua
positivamente no futuro: Ensinar que o trabalho não deve ser uma obrigação que
oprime, mas sim um prazer estimulante e criativo; ensinar o “não trabalho”, isso quer
dizer, atividades ligadas ao tempo livre, aos cuidados e as atenções; formar os jovens
para projetarem de forma contínua a própria existência e educar para que as pessoas não
temam o fluir incessante das inovações.

Quem financia uma sociedade na qual o tempo livre é predominante? Esta é uma
pergunta feita por aqueles que criticam as ideias de Domenico de Masi. O sociólogo
explica: as máquinas, cada vez mais, trabalham mais do que os cidadãos, por isso eles
podem trabalhar menos. Isso não quer dizer que devemos ficar de pernas para o ar o dia
inteiro, apenas que não devemos mais nos matar de trabalhar, como faziam os operários
da sociedade industrial.

E a ética do ócio? ocorre quando as pessoas trabalham com comportamentos


éticos evitando resultados vantajosos apenas para elas próprias e prejudiciais para os
outros. Além disso, quando o ócio é vivido, pode-se viver roubando, violentando,
entediando e explorando ou escolher viver com vantagens individuais e coletivas, sendo
feliz, sem prejudicar ninguém.

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