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prefácio
Certos convites nos enchem de satisfação e orgulho, de tal forma que os
aceitamos primeiro, para somente depois ponderar se fazemos ou não jus ao
merecimento e se temos capacidade para atendê-los. O que me foi feito para prefaciar
esta obra, com certeza é um desses. Tento aqui demonstrar alguma envergadura para
cumpri-lo.

Atuo na área cultural há mais de 20 anos. Nessas mais de duas décadas, tive a
oportunidade de desenvolver incontáveis projetos e programas socioculturais
relevantes, que contribuíram na transformação das realidades de indivíduos a
comunidades, de amadores a profissionais. Constato, contudo, que mesmo tendo
contribuído com inúmeras ideias e soluções criativas, jamais me dediquei ao
implemento de um projeto próprio, com a minha assinatura.

A leitura deste livro me instigou a refletir sobre esta questão.

Numa breve retrospectiva, revisitei marcos da minha trajetória e fui lançada ao


início deste (ainda) novo milênio, quando elaborei meu primeiro PN - o famigerado
Plano de Negócios.

Na oportunidade não tinha certeza sobre qual seria o meu “negócio”, sequer
almejava um, mas desde muito cedo identifiquei uma vocação para servir, doar,
colaborar, pensar a coletividade, dentre outras características, que inspiraram minhas
ações e reforçaram a ideia que minha missão e essência, consistiam em executar e
auxiliar pessoas e instituições a criarem e realizarem seus próprios projetos, fui assim
direcionada à prática do “Grantmaking”.

Ali me encontrei. Tomada pelo fascínio, criei a “Criativa Grantmakers –


Projetos Socioculturais”, minha primeira concepção de projeto criativo (agora
compreendi), cuja atribuição seria “criar e ativar” projetos.

Dada às circunstâncias, eu, mulher, preta, descapitalizada e com estreito


network, concluo pela real ousadia de, àquela época, pensar um Plano de Negócios
com tal perfil e complexidade, principalmente quando a única fonte de financiamento
vislumbrada, um programa público, fora contingenciada e o projeto descontinuado,
pouco antes do repasse dos recursos.

Provavelmente o capital e, principalmente, o fato de não ter compartilhado essa


e outras ideias, ou não ter buscado parceiros e colaboradores, tenham motivado o não
empreendimento deste e outros projetos próprios.

A contextualização de um capítulo da minha própria história serve para ilustrar


a importância deste volume que agora vocês têm acesso. Importa dizer que seus artigos
possuem o condão de emergir sentimentos e novas perspectivas, seja pela compreensão
do vanguardismo de certas ideias – que perecerão descontextualizadas em um
determinado tempo e lugar; seja pelas novas configurações e possibilidades de
ecossistemas criativos, factíveis, equilibrados, orgânicos e colaborativos, antes não
compreendidos.
O livro resulta de um processo colaborativo entre Criativos, de distintas
localidades do Brasil, que se conectam em rede e compreendem a organicidade de um
ecossistema criativo, onde seja possível articular, multiplicar, trocar e incluir ideias,
saberes e soluções, inovando ao colocá-las em execução.

Os artigos, numa linguagem de fácil compreensão e temática plural, abrem


janelas de possibilidades de dias melhores, um acalento neste momento pandêmico
que atravessamos. Narram vivências e experiências - pessoais e profissionais; sugerem
novas perspectivas e olhares sobre velhos dilemas e modelos sociais; compartilham
saberes e conhecimentos, empiricamente validados por alguns destes entusiastas da
criatividade.

Alguns capítulos, sob a temática da tecnologia e inovação, trazem abordagens


sobre como a evolução tecnológica e o uso criativo de equipamentos e ferramentas
digitais, tornaram-se imprescindíveis à vida, mostrando que a inovação impacta e
revoluciona, não somente o modo de executarmos tarefas cotidianas, mas como a
percebemos; e a inter-relação Inovação x Criatividade, como microfundamento
organizacional indispensável à resolução de problemas e inovação, acentuando sua
interdependência e conexão.

Apresenta, em suas minúcias, como a metodologia criada para debater novos


modelos e rotas de inovação, em ambientes exponencialmente criativos, vem
estabelecendo conexões e novos sentidos para a construção de ecossistemas criativos,
em pequenas cidades brasileiras. Interessante observar que o conhecimento
compartilhado no artigo Estrutura do Processo Criativo e suas Potencialidades é
validado pela práxis desta metodologia, conectando teoria e prática.

Compartilha ainda, o pioneirismo de uma pequena empresa que construiu o


maior festival de criatividade da América Latina, que em 2020 realizará sua 16ª edição,
integralmente, em plataforma virtual; e as valiosas orientações que auxiliarão,
certamente, àqueles que buscam investimentos privados, para a realização de projetos
culturais, por meio do patrocínio.

A interdisciplinaridade presente na economia criativa, potencializa a cadeia


produtiva do artesanato, possibilitando compreender o valor da inovação no segmento,
constatado a partir da análise dos empreendimentos da bonequeira Mara Couto, assim
como amplia caminhos para promoção efetiva da Acessibilidade Cultural, em sinergia
com a visão socioantropológica do modelo social, tema tratado de forma propositiva
neste livro.

Estes temas tratados, sob a ótica da Criatividade, Inovação, Economia, fazem do


livro uma ferramenta instigadora e propositiva, no sentido de ampliarmos nossos
olhares e percepções sobre questões sociais que impactam comportamentos, modos de
produção, bem estar e desenvolvimento, convidando-nos a agregar valor a cada
processo e atitude, que propiciem a geração de ecossistemas criativos.

Julho, de 2020
Valéria Martins
Compartilhando 7
aprendizados da minha vida
Rose Meusburger
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Introdução
Por que minha experiência pode servir como inspiração para os momentos
atuais?

Na verdade, eu não descobri nada, não criei um estilo de vida e não implantei
nenhuma inovação. Em toda a narrativa a seguir será possível você reconhecer minha
percepção e postura diante das inovações tecnológicas e do uso criativo de todas elas
para a melhoria do meu dia a dia, incluindo minhas atividades profissionais.

Nada foi planejado, e muitas das minhas posturas e iniciativas, aconteceram de


forma intuitiva. Não houve uma teoria do empreendedorismo ou um livro sobre o bem
viver, para me ensinar a fazer o que fiz, como fiz.

Sinto-me privilegiada! Principalmente por ter vivenciado toda a recente


evolução tecnológica, por ter aprendido a usar todas as mais recentes invenções e
inovações em equipamentos de comunicação e aparelhos criados para facilitar o dia a
dia de uma família.

E mais! Usar a minha criatividade, sendo o tempo todo flexivel, me adaptar a


aprender, para melhorar a minha atuação onde quer que eu estivesse.
Com cada um dos sete aprendizados, uma evolução!
Compartilhando 7 aprendizados
da minha vida

PRIMÓRDIOS
não é de agora, é desde sempre! Não consigo imaginar minha vida sem a ajuda da
tecnologia e da inovação.

Ainda adolescente, em meu primeiro emprego (nos anos 70), durante o horário
de almoço, decidi visitar um showroom da Sony. Fiquei encantada! O “cinegrafista”
portava uma máquina “portátil” que captava imagens em uma fita. Elas podiam ser
vistas em seguida num aparelho de vídeo cassete, sem nenhum outro processo de
preparo ou edição. Era captar e ver! É incrível recordar que naquele momento, o
videoteipe chegava do futuro para impactar para sempre a minha vida. Mas eu só teria
acesso a um equipamento de reprodução de imagens, (o vídeo cassete) uma década e
meia à frente.

Entre as décadas de 80 e 90, eu não conseguiria dar conta de uma jornada


dupla. Trabalhar com full time, cuidar da casa e da família sem a ajuda dos chamados
” quatro santos”, seria impossível.

- O Santo Micro-ondas, no dia a dia, fazia toda a diferença para alimentar os


meus pequenos que ficavam parte do tempo, sozinhos em casa. Eu deixava os pratos
prontos para somente serem aquecidos quando eles voltassem da escola.

- O Santo Telefone, me ajudava a monitorar a chegada das crianças, após saírem


da escola. Nessa época, ainda não existia ainda o Santo Celular. Este só surgiria alguns
anos depois.

- A Santa Máquina de Lavar Roupas. - Sim, como administrar essa jornada


dupla sem o auxílio dessa Santa?

- Ah! A Santa Geladeira com Freezer, uma inovação dos anos 1980 (pelo menos
aqui no Brasil). Armazenar e acondicionar alimentos prontos ou semiprontos para a
família, sempre foi uma arte.

E ainda orava, todos os dias, para que os “santos” nunca quebrassem!


Para a mulher de hoje, esses “santos” já estão tão incorporados no dia a dia de uma
família, que não se vive sem eles.
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Aprendizado 1
A tecnologia está a favor do ser HUMANO,
DE sua qualidade de vida pessoal e profissional!
Acredito mesmo, que se existem ferramentas para facilitar a nossa vida,
devemos usá-las e explorá-las ao máximo! Para isso foram pensadas, construídas e
colocadas no mercado! Nem sempre estamos preparados para toda essa inovação. Nem
sempre nos damos conta da importância dela!

O trabalho no escritório
Sou do tempo de um tal “papel carbono” e da “máquina de escrever manual”. Os
mais novos não vivenciaram a digitação de textos com cópias carbonadas. Não se podia
errar! Para corrigir o que foi digitado numa cópia carbonada, era um inferno, mas era
possível! Desenvolvíamos técnicas, atalhos e arranjos para que o inferno ficasse menos
dolorido e para que pudéssemos entregar um trabalho impecável. Sem erros e sem
borrões.

Aprendizado 2
E a criatividade é sempre posta à prova!
Criar atalhos para facilitar a entrega dos trabalhos é uma prática que não
perdemos, mesmo nos dias de hoje.

evoluindo
Depois vieram as máquinas de escrever elétricas, as eletrônicas e enfim, os
computadores.

As máquinas de escrever elétricas, desenvolvidas pela IBM e pela Olivetti


(concorrentes ferrenhas) trouxeram uma grande inovação. Nas máquinas da IBM
podia-se trocar as fontes - de times new para script - com a troca de uma peça de
“tipos/fontes”. Essa peça era uma esfera que continha o tipo da fonte que você queria
para o seu texto. Por ser elétrica, também se podia fazer tabulações programadas além
de uma porção de outros recursos, que as secretárias adoravam!
Compartilhando 7 aprendizados
da minha vida

Parece que tudo isso não importa nos dias de hoje. Temos um computador
programado para corrigir eventuais erros de digitação e gramática. Podemos imprimir
quantas cópias quisermos ou precisarmos. Naqueles anos, essas inovações dariam
velocidade à finalização dos inúmeros textos que uma secretária, por exemplo,
precisava entregar ao seu chefe. Propostas, orçamentos, petições, recursos, planilhas,
etc.

Aprendizado 3
permanecer atualizado, pode ser a chave para
o desenvolvimento pessoal e profissional.
As secretárias precisavam entender desses equipamentos tanto quanto
entendiam de gramática e digitação. Quem não estivesse atualizada, perdia a chance de
evolução, promoção ou mesmo de um melhor emprego.

Muitas vezes era pré-requisito conhecer o equipamento que a empresa tinha


acabado de comprar. Normalmente, nem o dono da empresa sabia como os
equipamentos funcionavam, mas a nova contratada tinha a obrigação de saber e dar
conta do recado, com eficiência.

Mas quem disse que inovação acaba aqui?


Ao mesmo tempo que chegavam os computadores de tela verde, com programas
de edição de textos e construção de planilhas, chegavam também os aparelhos de fax.
Da máquina fotográfica de papel sensível e sala escura para revelação dos negativos,
até a máquina fotográfica digital. E depois, essa máquina dentro dos aparelhos
celulares. Tudo numa velocidade muito grande!

E os aparelhos celulares do tamanho de um tijolo? - Conheci todos esses


maravilhosos equipamentos. Aprendi a usar, um a um, e a tirar o melhor deles, para a
minha atividade.

A passagem da máquina eletrônica para o computador não foi dolorosa para


mim, graças a minha habilidade de não resistir. Tive que me adaptar rapidamente
porque a empresa aérea onde eu já trabalhava há seis anos foi implantando os
computadores em todos os departamentos. Eu tinha acabado de trocar de
departamento, a máquina eletrônica estava quebrada e um computador já estava lá me
esperando. E a chegada do aparelho de fax? - Era curioso falar que um papel era
colocado numa máquina, e saia em outra, do outro lado do país. Hoje a velocidade de
um e-mail com anexos faz do aparelho de fax, uma piada. Mas era o que tínhamos
naquele momento como inovação à serviço dos escritórios mais modernos. E era
preciso me adaptar a cada nova máquina!
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Aprendizado 4
Não resistir, ser flexível, me adaptar!
Ser disruptivo
Eu precisei aprender rápido para operar os novos equipamentos. Era tudo novo
e muito diferente! Uma porção de informação nova que eu precisava absorver e me
adaptar rápido para não perder uma chance sequer de desenvolvimento. Enquanto a
maioria dos funcionários da empresa resistia, eu aproveitei para chamar o especialista
que estava na empresa, à nossa disposição e agendei aulas diárias. Acho que ainda
tenho, em algum lugar, as anotações que fiz para aprender os incontáveis comandos de
edição de textos e construção de planilhas em um computador. Estes documentos eram
fundamentais no departamento em que eu acabara de chegar.

Não resistir a essas mudanças, podem ter sido pontos a meu favor. Nunca resisti!
Sempre busquei entender e aprender como usar cada novo equipamento.

Prestando serviços como paisagista em São Paulo


Quando chegou em minhas mãos, o meu primeiro celular (no ano de 1992), eu
realizava trabalhos como paisagista, de forma independente em São Paulo. Com esse
aparelhinho, eu conseguia ser ágil no atendimento aos meus clientes. O celular foi
virando aos poucos, um equipamento de primeira necessidade!

Aprendizado 5
Cliente é a pessoa mais importante do seu negócio!
Se você O Atende de forma ágil e com qualidade,
vai marcar e fidelizar.
Já nessa época (1992), tive o meu primeiro computador. Compra suada para
apresentar propostas mais profissionais no Windows 3.0. Enquanto meus
concorrentes jardineiros, apresentavam seus orçamentos em “papel de pão”, eu já
apresentava orçamentos diferenciados, digitalizados e em folha sulfite colorida.
Muitas vezes, os clientes assumiam que estavam fechando comigo por conta da
apresentação da proposta. Sim, uma apresentação profissional impressiona! Imagem
faz diferença!
Compartilhando 7 aprendizados
da minha vida

Claro que não basta apenas uma boa apresentação e uma boa imagem. É
preciso ser fiel na prestação do serviço. O serviço precisa ser impecável! Com estas
somas, você fidelizará seu cliente!

Eu precisava apresentar o meu trabalho a um novo cliente! Como poderia eu,


garantir que ele tivesse acesso ao serviço de qualidade que eu já havia executado em
outros lugares? Como fazê-lo entender que o melhor estava sendo oferecido por mim?
Não era possível convidar o cliente para conhecer todos os projetos, obras, jardins e
vasos que eu havia planejado. Foi aí que entrou a máquina fotográfica! Primeiro a
máquina analógica, àquela que colocávamos o filme e, somente após a revelação,
saberíamos como as fotos ficaram. Usei um desses modelos de câmeras analógicas, por
pelo menos oito, dos dez anos em que atuei como paisagista. Ainda tenho as fotos dos
“antes e depois”, de vários trabalhos.

Aprendizado 6 2

A importância de um portfólio!
É dessa época também, que trago a experiência de preparar um portfólio,
escrever projetos, preparar orçamentos e planilhas de custos.

Ter um portfólio que apresente seu trabalho, é fundamental quando você


precisa mostrar o que já fez para uma pessoa que nunca te viu. Portfólio, é um
documento que todos os criativos (de artistas a designers, de empresas a associações
sem fins lucrativos) precisam ter para comprovar experiência em seus segmentos. Hoje
em dia, um portfólio não precisa ser em papel. Ele pode ser digital. Para leis, editais e
até mesmo, para novos clientes.

Diante das inovações, passei por muitas fases e utilizei vários equipamentos
para realizar diversas atividades. Desde os equipamentos próprios para os jardins,
(roçadeiras, cortadores de grama, podadores de árvores, etc.) até os equipamentos de
escritório (computador, máquina fotográfica e impressora). Não seria possível realizar
meu trabalho sem a ajuda da tecnologia. Hoje o trabalho na área de paisagismo, tem
soluções que naquela época ainda estavam engatinhando. Aspersores, gotejadores,
jardins suspensos, telhados e paredes verdes, eram apenas planos. Quanta inovação!
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Quando e porque caí na gestão de empreendimentos criativos?


Houve um momento na minha atividade como paisagista que, acredito eu, que
o universo conspirava contra o meu avanço. De alguma forma, os clientes minguavam,
desapareciam. Os poucos que restavam, não renovavam contrato comigo. Decidi que
era hora de juntar minha experiência na empresa aérea (onde organizei vários eventos)
com minha experiência como paisagista (plantação em vasos para pessoas que não
sabiam sequer cuidar de plantas). Decidi que usaria meus conhecimentos para levar
educação ambiental através de eventos artísticos. Dança, música e teatro juntos, em
prol da educação ambiental. O contato com os criativos e a demanda deles por
trabalhos que necessitavam do meu conhecimento, me jogaram direto num setor de
assessoria!

Aprendizado 7
Perceber o movimento do mercado e das demandas
que se pode atender.
Perceber movimentos do mercado, fez com que eu começasse não só a ajudar
criativos, mas também a compartilhar conhecimentos sobre gestão, através de cursos
e palestras. Durante pelo menos seis anos, esse foi o meu dia a dia. Até que a internet
começou a influenciar diretamente tudo o que eu estava fazendo. Comecei a perder
oportunidades para ministrar cursos presenciais e as palestras eram menos solicitadas.
Entendi que havia tanta informação gratuita nos canais digitais, que seria impossível
concorrer com elas.

Decidi então, que era hora de assumir também as plataformas digitais e


compartilhar o que eu sabia! Nasce então em 2016, no YouTube, e com a missão de
levar o meu conhecimento ao maior número de pessoas possível, o Canal Elaborando
Projetos.

Hoje o canal tem reconhecimento público, tem quase 75 mil (agosto de 2020)
inscritos, foi um dos finalistas do Prêmio Brasil Criativo em 2019, e conta com um
programa de membros do canal.
foram
esses
aprendizados
Foram esses 7 aprendizados, que
ao longo da vida, me colocaram
onde estou hoje. E, é com muito
prazer que estou novamente aqui,
compartilhando um pouco disso
com você. Use-os a seu favor,
sempre!

Rose Meusburger
Sílvio Luís de Vasconcellos
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

organizações criativas
Muito se fala em como as organizações precisam ser criativas. Esse tema
ganhou ainda mais relevância com a pandemia da COVID-19, quando as organizações
precisaram adequar seus modelos de negócio de maneira rápida, eficiente e sem
margem para experimentações. No entanto, mesmo que se compartilhe o conceito de
criatividade como fundamental para resolver problemas e gerar inovação, ainda não
há consenso sobre como construir um ambiente propenso à criatividade dentro das
organizações, sejam elas privadas, públicas ou sem fins lucrativos.

O atributo criatividade é inerente ao ser humano, como defendia Joy Paul


Guilford, já em 1950 e destacado por Mark Rundo (2001), pois depende da cognição e
conexão com memórias anteriores. Memórias relacionadas a momentos em que o
indivíduo tenha enfrentado situações semelhantes e acabou encontrando alternativas.

Na sinapse que se estabelece entre o problema e a memória, o indivíduo


escaneia diferentes alternativas que possam interessar e ativar o pensamento
divergente. Na sequência, dentre todas as alternativas, a priori, segue a busca pelo foco,
pela escolha da melhor solução e o descarte de ideias que, naquele momento, não são
viáveis para enfrentar aquela situação específica. O último estágio é o da validação
entre seus pares. Quando aprovada, sim, sua ideia é criativa!

Neste processo, é possível concluir que a validação depende do meio social. É


quando uma organização pode valer-se da ideia dos seus indivíduos. É quando se
desenvolve um ambiente propício à criatividade. É quando essa organização se
distingue de seus competidores, se for o caso, pela criatividade organizacional que ela
é capaz de construir a partir da interação de conhecimento que seus membros são
capazes de vivenciar. Essa aprovação externa habilita a organização a ser reconhecida
no ambiente econômico e social como criativa.

Apesar deste raciocínio ser bastante plausível, há uma série de barreiras a


serem vencidas até que a organização seja reconhecida como criativa. Os indivíduos
precisam ter ideias e essas ideias devem ser boas, afinal, de que vale para a organização
ideias que não possam ser convertidas em novos serviços, novos produtos, novas
formas de produzir, de comercializar ou atender um determinado público? Surge,
portanto, o desafio de fazer com que esses indivíduos saibam identificar necessidades,
expor suas ideias e as colocar para validação, entendendo que mesmo ideias
incompletas, não tão boas naquele momento, possam ser ótimas em outras situações.
Organizações Criativas

Porém, surge outra questão: é possível estimular as pessoas a terem boas ideias?
Partimos aqui, do princípio de que as ideias são frutos de uma colisão entre problemas,
cognição e memória. O problema é a necessidade a ser atendida. A cognição é a
capacidade do indivíduo de raciocinar e racionalizar o problema, mapeando
alternativas para solucioná-lo, como defende Tim Brown (2018). A memória funciona
como um depósito de outras ideias. Por exemplo, se alguém precisa transportar um
piano para o vigésimo andar, essa pessoa não precisa ter experiência nessa tarefa ao
longo da vida. Pode tentar entender como, em outras situações, objetos frágeis e
pesados são transportados. A imagem de um objeto de cristal em um caminhão de
mudança pode ser útil para atender o quesito fragilidade, enquanto carregar um cofre
em um caminhão pode ajudar no quesito peso. A constante combinação de ideias ajuda
a despertar alternativas que ninguém havia encontrado ou aplicado antes, em
situações de alguma maneira, semelhantes.

Existem várias maneiras de estimular a criatividade e, certamente, você


encontrará algumas neste livro. Porém, neste capítulo, estamos focados em vislumbrar
como essas ideias, agora estimuladas dentro da empresa, podem ser socializadas e
validadas. Um ambiente propício à criatividade não é construído, somente, com a
instalação de um escorregador entre o segundo e o primeiro andar. É preciso criar
atalhos para que as alternativas já existentes sejam adaptadas, conectadas e
transformadas. Viagens, eventos informais, liberdade de expressão, tolerância ao erro
e às diferenças, diversidade de opiniões, equipes multidisciplinares e contato com a
arte, são elementos que contribuem para facilitar a emersão da criatividade do
indivíduo. Aquelas imagens dos ambientes Google ou Pixar não são algo que se possa
simplificar na construção de um cenário. A criatividade precisa ser estimulada como
um valor para o grupo e para os seus objetivos em comum.

Partindo daí nos deparamos com outra questão: Quantas pessoas


extremamente criativas a empresa precisa ter? A resposta é nenhuma! A criatividade
organizacional é fruto da interação de ideias. As pessoas devem ter abertura não só
para expor suas ideias, mas também para, tranquila e honestamente, dizer quando a
ideia de seus colegas não é boa para determinado momento. O princípio da tolerância
passa também pela franqueza e pela afetividade. Saber apartar a não aprovação de
uma ideia do sentimento de rejeição é algo a ser construído em ambientes criativos.
Assim, a organização precisa nutrir um ambiente tolerante, seja ele para ideias,
diferenças, crenças e erros, despertando a criatividade como elemento integrador entre
as pessoas.

Outro problema a ser enfrentado na construção de um ambiente criativo é a


necessidade de responder aos anseios da própria organização dentro de um
determinado tempo. Há linhas de estudo da criatividade, que indicam que a limitação
de tempo não colabora para ideias criativas, pois é difícil determinar em que hora do
dia a ideia foi criada, socializada e aprovada entre os pares. Por outro lado, não se pode
negar a existência de um ambiente econômico e o fato que os criativos também
precisam ser remunerados, periodicamente. Cabe à empresa desenvolver fluxos de
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

produção de ideias em que haja espaço para todas as etapas e que a conversão de id
eias
em inovação respeite também a concepção de tempo de cada um. Empresas que
precisam criar coleções de produtos, por exemplo, vivem esse dilema. Cobram, dos
criativos, ideias específicas em tempos muito curtos. Na pressão, algumas ideias
acabam por surgir, dando a impressão de que a restrição de tempo estimulou a
criatividade. Essa dicotomia, entre o pensar de quem cobra o resultado e de quem cria
produtos criativos, deve ser enfrentada e negociada. Cabe à organização criar o
ambiente propício para isso.

Organizações consagradas como criativas tendem a gerar um valor difícil de


mensurar, denominado como ambiguidade causal. O atributo de organização criativa
agrega valor à marca e está associado a ambientes em que as pessoas se sintam felizes
em trabalhar. Estar satisfeito com o trabalho não precisa, necessariamente, estar
ligado com o fato de ser parte de equipes em que todos sejam criativos.

Vamos combinar, seriam ambientes incríveis, mas com limitada capacidade de


transformar a criatividade em resultados. A diversidade e a multidisciplinaridade são
essenciais, pois as ideias desenvolvidas dentro da organização precisam encontrar um
caminho de conversão para sua sustentabilidade. Esse caminho depende de outras
habilidades, além da criatividade. A formulação de preço, a pesquisa de mercado, a
folha de pagamento, a limpeza do ambiente, o café que gera troca de ideias e a linha
de montagem, devem ser pensados de forma integrada para que não se crie nichos que
seccionem as pessoas por suas habilidades.
Organizações Criativas

Portanto, definir se uma empresa é criativa ou não, independe de uma régua


usada dentro da organização. Quem vai responder por isso é o cliente, o mercado, a
sociedade, o valor das ações, o desejo que as pessoas têm em lá trabalhar. Não é por
acaso que, nos sites de empresas como a Samsung, a Amazon e a Apple esteja claro que
diversidade e tolerância estão atreladas a valores éticos e conectados à imagem de uma
organização criativa.

Ambientes criativos são aqueles que conectam ideias individuais com


problemas a serem resolvidos e que geram valor à organização. Nesse processo, muitas
ideias, a princípio inúteis, surgirão. Porém, sua inutilidade diante de um problema não
representa, necessariamente, desperdício de energia. Frequentemente achamos o que
não procurávamos. O princípio da metodologia da falha criativa, desenvolvida por
Shockley (1972), por exemplo, foi útil para que erros no desenvolvimento de
transistores mais eficientes levassem a criação de circuitos integrados, essenciais para
que você possa ler este texto de maneira virtual. O próprio processo de validação de
uma ideia não se simplifica com respostas como sim ou não. Num momento ou
situação propícios à criatividade pode ser que surja a conexão de ideias antes
descartadas, com a pergunta: - por que você não tenta fazer assim?

A validação da ideia no grupo não é tarefa fácil, pois ambientes com diversidade
e tolerância podem direcionar a solução em diferentes caminhos até que a melhor
alternativa surja. No entanto, é necessário identificar a necessidade ou o problema e
elaborar diferentes alternativas para que o brainstorm - sempre uma ferramenta
bem-vinda – leve à síntese dos resultados, possibilitando a construção de imagens, os
feedbacks para elas, a prototipagem de teste e a testagem. Seguindo metodologias
ágeis, como o Design Thinking, é possível criar método na profusão de ideias e,
simultaneamente, conciliar com limitações de tempo e de orçamento.

Por último, mas tão importante quanto propiciar o surgimento de ideias, é a


necessidade de lidar com a burocracia. A burocracia, em ambientes criativos, tende a
representar um bloqueio, uma etapa a ser vencida. Em ambientes que a burocracia
impera, a simples troca de ideias pode romper com a lógica síncrona da produção.
Imagine um ambiente de produção em série, em que as pessoas constantemente param
para discutir alternativas. Certamente, incomodaria não só aos burocratas, mas a todos
que dependessem dos resultados monetários da empresa. A burocracia não se opõe à
criatividade. É necessário criar métodos, estimular registros de ideias, de patentes e
promover a existência do arsenal de alternativas de maneira lógica e acessível a todos.
É preciso ordenar a lógica criativa, sem engessá-la. É essencial transformar a
burocracia em maneiras de estimular a criatividade e o compartilhamento de ideias,
tanto as que florescem dentro do espaço da organização, quanto aquelas que vêm de
fora, proporcionando locais para a convivência e diferentes formas de pensar.
nada
literalmente
mais é

comparável com o

que foi antes


Desenvolver criatividade como
microfundamento organizacional, não
é tarefa fácil e, por isso, traz resultados.
Não é fácil imitar organizações criati-
vas, como Médicos Sem Fronteiras, a
Aalto University, da Finlândia, ou a
Uber. Não é simples criar ambientes
acolhedores para ideias que, vez ou
outra, se chocam totalmente com
aquilo que era feito até ontem. Porém,
em tempos de pandemia, nada mais é
literalmente comparável com o que foi
antes. Desenvolver habilidades criati-
vas dentro dos quadros das organiza-
ções, atrair pessoas que sejam toleran-
tes e respeitem a diversidade, criar
espaços físicos ou virtuais para intera-
ção, são elementos chave para que a
criatividade organizacional emerja e
represente a diferença necessária, para
que clientes, usuários, contribuintes,
cidadãos e até mesmo os concorrentes,
percebam que locais criativos são o
resultado da interação harmônica e
aberta entre os indivíduos que ali con-
vivem e compartilham ideias, por mais
loucas que sejam.

Sílvio Luís de Vasconcellos


Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

REFERÊNCIAS

Brown, T. (2018). Design Thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das
velhas ideias. Alta Books Editora.

Runco, M. A. (2001). Introduction to the Special Issue: Commemorating Guilford’s 1950


Presidential Address. Creativity Research Journal, 13(3–4), 245–245. https://doi.or-
g/10.1207/S15326934CRJ1334_01

Shockley, W. (1972). The Invention of the Transistor—" An Example of Creative-Failure


Methodology".
Geografias da Criatividade
Giros Criativos, uma metodologia
para as pequenas cidades
Decio Coutinho
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Criatividade é a palavra-chave para a inovação


O Brasil, peculiar e singular país, tem todas as condições para trilhar um
novo caminho e abrir uma inovadora "janela de oportunidades".

Vivemos, atualmente, uma conjuntura especialmente propícia à


experimentação e à aplicação prática de algumas medidas que permitirão
empreender novos caminhos. O nosso patrimônio é um campo fantástico.

Do ponto de vista da Cultura, temos exemplos emblemáticos de cidades ou


regiões que passaram a ser conhecidas, gerando e distribuindo renda e ocupação,
a partir da realização de produções culturais e atração de talentos.

São muitas as localidades que se descortinam para o mundo, sediando


eventos como festivais de cinema, música, literatura, dentre outros. O interior do
Brasil realiza belíssimas festas populares e religiosas que movem milhares de
pessoas, movimentam milhões de reais e integram diversas atividades,
principalmente aquelas ligadas ao artesanato, à gastronomia e ao turismo.

Esses elementos da nossa rica diversidade cultural, geram repertórios para


uma criatividade potente, fora dos grandes centros.

Novas geografias da criatividade, conscientes e


regenerativas
Avançaremos nas políticas de desenvolvimento da Economia Criativa no
Brasil, somente se tivermos uma melhor compreensão das complexas relações que
se estabelecem nos territórios. Vivemos a Era da Complexidade e temos que
melhor compreende-la. A organicidade do relacionamento entre os vários agentes
deve ser entendida, pois estes se influenciam mutuamente.

Urge desenvolvermos ecossistemas criativos e regenerativos, que


restaurem, renovem ou revitalizem suas próprias fontes de energia e recursos.
Precisamos ir além da sustentabilidade, revertendo as correntes de destruição
atuais e aumentando a saúde e vitalidade de todos os envolvidos. Podemos, assim,
criar abundância em outras formas de capital, necessárias ao bem-estar humano,
que empreendimentos convencionais ignoram.
Geografias da Criatividade
Giros Criativos, uma metodologia para as pequenas cidades

O Brasil possui toda uma série de arquiteturas culturais e de atividades criativas,


mas falta estabelecer "conectividade", tecendo novas redes urdidas pela sua rizomática
diversidade. Afinal, esse é o significado de “complexidade”, com=junto, plexo=tecido.
Tecer juntos é viver a atual era da complexidade.

Giros Criativos - uma metodologia para o


desenvolvimento de Cidades Criativas
de pequeno porte
Baseado nessa reflexão e em minhas experiências, por mais de vinte anos, como
mediador em programas, projetos e atividades de diversos setores econômicos,
comunidades e diferentes territórios, criei uma metodologia que visa estabelecer
conexões, propor novos sentidos para a criação de um novo paradigma de cultura de
rede e de sustentabilidade, por meio de uma plataforma capaz de catalisar e conectar
diferentes formas de gerar e compartilhar valor, com as já existentes.

Priorizei cidades criativas de pequeno porte, com até oitenta mil habitantes, por
entender que pequenas cidades, no interior do Brasil, têm condições para projetar e
absorver, mais rapidamente, conceitos e vetores de desenvolvimento regenerativo e
criativo. Também por entender que são necessários movimentos, descentralizadores,
com o propósito de valorizar a cultura do Brasil profundo.

Segundo o autor Charles Landry, cidades criativas são aquelas onde há senso de
conforto e familiaridade; uma boa mistura do velho com o novo; variedade e escolha;
equilíbrio entre o calmo e o vivificante; ou entre o risco e a cautela. Ainda segundo o
autor, para que uma cidade seja criativa, é necessário espaços para se reunir, conversar,
misturar, permutar e brincar. Cidades onde se juntam e se compartilham projetos e
experiências.

Ao propor a metodologia Giros Criativos, elaborei um roteiro que segue a


narrativa de uma das celebrações mais populares no Brasil profundo, do interior, das
pequenas cidades: os giros de folia. Além de serem conceitualmente mais lúdicos,
facilitam a compreensão por parte das comunidades.
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Seu conceito é de participação popular, 1aberta e continuada, com muita


1

interação e trocas. Segundo Luzimar Paulo Pereira*, o vocábulo “folia” evoca a


realização de longas jornadas festivas, por meio das quais, grupos de cantadores e
instrumentistas visitam, durante um período de tempo, determinado pelo calendário
religioso, as casas, as fazendas, os cemitérios e as igrejas de um território previamente
estabelecido. Os deslocamentos - conhecidos como giros - são organizados com o intuito
de coletar oferendas, necessárias ao custeio de uma reza. Em troca do que é
recolhido (dinheiro, sacas de arroz, feijão, animais de criação etc.), os viajantes
distribuem, através de cantos e danças, bênçãos aos doadores, além de auxiliá-los
no cumprimento de suas promessas e contribuir para que almoços, jantares e
bailes sejam oferecidos em suas passagens.

Ainda segundo Luzimar Paulo Pereira, os grupos de cantadores e


instrumentistas, são conhecidos como ternos ou companhias e seus integrantes
denominados foliões. As folias são, como um todo, extensos rituais de trocas
sociais e simbólicas. Nelas, homens e divindades, vivos e mortos, famílias e
indivíduos, se articulam por meio de extensa rede em que, pessoas, bens e
serviços, valores morais, religiosos, econômicos, estéticos, entre outros, são postos
em deslocamento, ora trocados, dados, recebidos ou retribuídos.

Assim, dentro desse conceito, propomos uma metodologia composta por 5


giros.
Geografias da Criatividade
Giros Criativos, uma metodologia para as pequenas cidades

Etapas da metodologia Giros Criativos


A aplicação desta metodologia, em seu primeiro ciclo, (5 giros) está prevista para durar
aproximadamente dois anos, renovando-se em novos ciclos, continuadamente. O tempo,
parcial ou total, de cada etapa varia de acordo com o território, suas vocações, governança e
respostas.

1º GIRO – Alvorada:
Sensibilização e Despertar para a Cidade Criativa
A estratégia consiste em fazermos um giro (visita) nas cidades. Inicialmente,
realiza-se uma reunião com lideranças locais e as prefeituras, seguida de uma palestra
de sensibilização, podendo ocorrer em momentos distintos.
Ao final deste primeiro giro, elaboramos uma agenda com datas definidas para
a realização do próximo giro nas cidades. As lideranças, inicialmente sensibilizadas e
despertas para a importância do tema, serão responsáveis por fazer a mobilização do
público para os próximos giros.
Nessa fase, deverá ser criado um Grupo de Trabalho para a realização do 2º
GIRO.

2º GIRO – Cantorias e Partida:


Realização de um Seminário e um Mapa de Jornada
O segundo giro tem como estratégia a fixação e aprofundamento dos conceitos
sobre cidades criativas. Nessa fase, incluímos a apresentação de casos e painéis que
elucidem o conceito de cidades criativas, de forma intersetorial e multitemática, de
acordo com a vocação da cidade (turismo, meio ambiente, moda, gastronomia, etc). As
atividades são realizadas na forma de encontros de dois dias, composta por um
Seminário (08 horas) no primeiro dia, seguido de uma oficina de planejamento (08
horas), para a construção do Mapa de Jornada, plano inicial da cidade criativa desejada.
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Ao final do segundo giro, nova agenda define as datas para a realização do


próximo giro nas cidades. Estes, são focados em duas frentes:

1- Dar início às atividades listadas nos Mapas. Planos de curto prazo;

2- Iniciar a mobilização dos parceiros para os próximos giros. Com as lideranças


já conscientes do conceito e das atividades que precisarão ser realizadas e articuladas,
inicia-se a mobilização

3º GIRO – Cortejos e Visitas


às Casas:
inicia-se a aplicação do Mapa e celebração das parcerias
com o estabelecimento da “FOLIA
Este é um momento fundamental e deve estabelecer a força do movimento de
construção da Cidade Criativa desejada. O terceiro giro será o início da aplicação do
Mapa de Jornada (plano) e terá como estratégias:

1- Realização de 02 atividades locais independentes e autogestionadas, de curto


prazo;

2- Visita aos potenciais parceiros, apontados no planejamento, para ampliar o


alcance das ações e dos resultados (deve acontecer entre o º e 3º GIROS);

3- Realização de um encontro com os parceiros e a comunidade, visando


arregimentar pessoas, definir os recursos e parceiros. Momento de estabelecer,
formalmente, a governança nomeada “Folia - Força Local de Inovação e Ação”.
Geografias da Criatividade
Giros Criativos, uma metodologia para as pequenas cidades

4º GIRO – Jornada e Pousos:


FOLIA em ação plena
Aplicação do Mapa de Jornada, com foco nas ações de maior transformação;
capacitação dos talentos locais; cartografia e design das potencialidades. Essa etapa deve
durar no mínimo 08 meses, podendo se ampliar por até 01 ano, dependendo da realidade
local e da força de articulação da rede de parceiros.

5º GIRO – Entrega e Celebração:


Encontro das Cidades e entre as FOLIAS,
2

envolvendo os antigos e novos festeiros


Este é o momento de encontro dos GIROS das FOLIAS da Cidade. Momento de
celebração, de muita troca e aprendizado. Momento “vitrine” das cidades e estados, para o
Brasil e o mundo.

Nesta etapa, se dá a ampliação dos conhecimentos e trocas de experiências; ações de


referência e desafios; apresentação dos Casos Locais e seus resultados. Casos Nacionais e
Internacionais serão alvo de apresentação, aprendizado e integração.
Ainda nesta fase, são apresentadas as avaliações, realizadas durante todo o processo dos
GIROS na Cidade; a definição das novas etapas para continuidade do projeto junto à
comunidade; os parceiros e a FOLIA (governança).

Também poderá ser construído um movimento de fortalecimento da cidade e da


aplicação da metodologia, ampliando seu impacto e a criação de novos GIROS:

1- Formação da Rede das FOLIAS e da Rede de Cidades Criativas;

2- Início ou continuidade do GIRO, priorizando cidades geográfica e vocacionalmente


mais próximas, para sediar novos GIROS);

3- Apresentação de candidaturas de novos projetos a serem analisados pela FOLIA e


eleição dos selecionados.
é chegada
a hora
Essa é a minha forma de ver a
geografia da criatividade, diversa, plural,
inclusiva, participativa, regenerativa,
criativa e continuada. É exatamente, para
debater novos modelos e rotas de
inovação, que propuz e registrei a
metodologia Giros Criativos: não como
epicentro dos problemas, mas para a
conquista de soluções. No entanto, tudo
isso só se consolidará e terá
sustentabilidade, se houver o
engajamento da sociedade local.

É chegada a hora das


comunidades das pequenas cidades
criativas brasileiras!
Espero que aproveitem ao máximo estas
novas oportunidades propostas. Assim
como os giros de folia atravessam os
séculos, esperamos que a metodologia
“Giros Criativos”, contribua para esta e às
próximas gerações.
Decio Coutinho
ESTRUTURA DO PROCESSO
CRIATIVO
E SUAS POTENCIALIDADES Helga Tytlik
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

ESTRUTURA DO PROCESSO
CRIATIVO
E SUAS POTENCIALIDADES
No novo paradigma da economia, propõe-se pensar os negócios,
empreendimentos e atividades, aliando valores agregados e impactos, objetivando
desenvolvimento sustentável conforme discussão mundial.

Nesta linha, a pandemia traz, a meu ver, duas importantes reflexões


relacionadas aos setores criativos:

1- Esses setores, principalmente os culturais, marcam forte presença e são


imprescindíveis na vida das pessoas, pois contribuem diretamente na saúde mental de
todos durante o período de isolamento.

Livros, músicas, teatro, circo, dança e cinema, por exemplo, mostraram sua
força diante da realidade presente e precisaram levar seus produtos para as
plataformas virtuais. Colocar a cultura como protagonista neste momento difícil, é
necessário. Apropriar-se desta ação, deste movimento, fortalece a defesa dos setores
criativos para a sociedade como um todo.

2- Os próprios setores criativos, encontravam-se de alguma forma, estagnados


em uma zona de conforto, não explorando todo o potencial que poderiam. A pandemia
nos obrigou a repensar maneiras de continuar com as atividades, preservando a
integridade, buscando novas formas de sobrevivência e conscientização do que têm e
do podem transformar.

É unânime a compreensão que pós pandemia teremos um novo normal. Não


atuaremos mais da mesma forma. O mais provável, é que aprendamos a empreender
em um mundo híbrido, com a junção do presencial e o virtual. Para que isso aconteça
será necessário rever o que pensamos e fazemos.

Dentro deste novo normal, os setores criativos são as maiores potências, pois já
possuem em seu núcleo, o conceito básico da economia criativa. Afinal, a circulação, a
produção e a demanda de conhecimento, estimulam a criatividade. Relegados à
margem do conceito de trabalho produtivo, até pouco tempo, o setor criativo, não era
considerado como fator gerador de economia formal ou de impactos sociais e culturais,
Estrutura do Processo Criativo
e suas Potencialidades

visão que vêm sendo positivamente transformada frente ao esgotamento de


possibilidades dos setores convencionais e da conscientização de que pensar apenas
em lucro não contribui para que haja equilíbrio nos territórios. Alia-se a isto, a
necessidade de ampliar oportunidades de geração de emprego e renda diante do
momento em que se encontra nosso país.

A própria transformação do setor convencional e tecnológico, leva a este


estimulo. O empreendedorismo substitui os empregos fixos e dá oportunidade para
que o indivíduo atenda mais de um cliente, diversificando suas possibilidades e, ao
setor convencional, permite contratar serviços conforme suas necessidades. São
mudanças que acontecem e nos permite, adaptar ao novo ciclo que vêm se desenhando
nos últimos anos.

A grande maioria dos setores criativos, atuam como empreendedores por MEI
ou até mesmo, na informalidade. Infelizmente, apenas os grandes produtores
conseguem arcar com as exigidas questões burocráticas e impostos. Porém, tanto os
pequenos empreendedores criativos, quanto os grandes produtores, são potências para
o desenvolvimento e isso não se limita apenas ao impacto econômico formal.
Para explicar melhor as potencialidades dos setores culturais, dividi o processo do
setor, em 3 partes:

NÚCLEO CRIATIVO
É aqui que acontece a parte mais preciosa do processo que diferencia os setores
criativos. A intensa troca de conhecimento, de experiências, do exercício de colocar em
prática, as ideias sem julgamento, da imaginação. Sempre calcado em alguma
referência (histórica, cultural, ambiental), é nessa parte do processo que é desenhado
o que será o produto final.

PROCESSO DE PRODUÇÃO – CADEIA PRODUTIVA


Logo após toda a tempestade cerebral do núcleo criativo, a decisão sobre o
produto cultural precisa ser concluída. Entra a fase do processo de produção e
contratação da cadeia produtiva. É nesta fase que podemos trazer valores agregados e
promover grandes transformações!

PRODUTO FINAL
Resultado de todo o processo: o produto ou serviço
Estrutura do Processo Criativo
e suas Potencialidades

AS POTÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO


núcleo criativo
Para quem atua nos setores criativos, o exercício de jogar ideias sem que haja
julgamento e o exercício da imaginação contribuem para o desenho final do produto.
É algo normal. Algo que faz parte da forma de conduzir até mesmo a forma de viver.
Ao contrário de quem atua em setores convencionais, que, por regras societárias ou
comportamentos antiquados criaram paradigmas para expressar-se livremente ou
exercitar a criatividade. O momento agora, é de mudança.

O perfil das profissões do futuro (imediato), exige profissionais mais criativos,


cognitivos, empáticos. Exige líderes que estimulem a colaboração coletiva e
competições individualistas. Exige que nos mostremos ricos em conhecimento e
experiência para auxiliar no treinamento destes novos perfis profissionais. Não é fácil
exigir de quem atua no mercado convencional, um comportamento colaboratiovo. Não
é fácil convencer as pessoas a mudarem seus pensamentos e atitudes. A aproximação
entre os setores criativos e setores convencionais, é de grande necessidade. Portanto,
será preciso reaprender, nos libertar dos comportamentos e pensamentos que não
servem mais para esta nova fase. Mais um caminho para sobrevivência dos
empreendedores criativos...

A troca de experiências, não é útil apenas para áreas convencionais, mas


também para modelos de gestão (pública ou privada), instituições sociais, culturais e
até mesmo, de representatividade comunitária que também precisam se reinventar.

PRODUÇÃO E CADEIA PRODUTIVA


Durante este processo, acontece a contratação de profissionais, que podem ser
criativos ou não, para que se produza o produto final. Cada um dos profissionais
contratados deve ter habilidades para realizar o seu trabalho, e isso inclui desde
fornecedores diretos até as lojas.

Cada item comprado/vendido, é resultado de uma indústria que foi


movimentada. Lojas, fornecedores, indústrias, tudo precisa de uma estrutura para
funcionar. E envolve pessoas, materiais, máquinas, equipamentos, pesquisas, etc.
Ressalto que, cada um destes elementos, desde o profissional diretamente contratado
até a última pessoa que essa cadeia atinge, realiza gastos/compras em: supermercados,
farmácias, escolas, lazer, transportes, etc com os recursos financeiros recebidos, em
geral, no território no qual trabalha ou mora formando uma bifurcação nos impactos
econômicos. E, cada um dos itens desta imensa rede, geram impostos. Estes impostos
alimentam os cofres da gestão pública, e toda essa movimentação se mostra no PIB do
território.
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Uma observação: para que essa engrenagem toda funcione, principalmente se o


intuito for estimular o investimento público e privado nos setores criativos, é
necessário que o processo seja formalizado, ou seja, que tanto o setor criativo como os
contratados sejam no mínimo MEI ou emitam nota fiscal (ou pelo menos a maior parte
de quem faz parte da cadeia produtiva).

O que se propõe quanto a cadeia produtiva:


No geral, quando se recebe recurso por lei de incentivo, o criativo normalmente
conclui a produção com o mínimo de contratações ou adota o “eu mesmo faço”. Este
pensamento precisa ser alterado imediatamente, pois quanto maior o número de
profissionais envolvidos, maior será o impacto. É preciso sair da improvisação e
profissionalizar o processo para que o impacto econômico aconteça.

Organizar a cadeia produtiva não promove apenas impactos econômicos.


Repensar a contratação direcionada incluindo pessoas/áreas em vulnerabilidade gera
impacto social, não apenas para o contratado, mas também para território onde ele
está. É potente também, incluir singularidades culturais no processo de produção, na
apresentação ou na relação com público. Isso agrega valor, promove inclusão e
diferencia o trabalho dentro do segmento.

Pensar, mapear e organizar a cadeia produtiva que é muito extensa, são grandes
contribuições para o desenvolvimento econômico, social e cultural. O mapeamento
destes impactos é essencial para comprovar resultados. Quando advindos a partir da
aprovação de projetos de leis de incentivo ou de captação de recursos no setor público
e privado, comprovam que são INVESTIMENTO e não despesa. No caso da gestão
pública, o retorno em geral é exponenciado, dependendo de como é organizada a
cadeia produtiva. Os dividendos gerados, podem ser investidos no próprio setor
cultural ou até mesmo dividido em áreas como saúde, educação e segurança.

(Exemplo: Festival das Nações do Mato Grosso do Sul conseguiu retorno de $7 milhões
para cada $1 milhão investido em 2018).

PRODUTO FINAL
O produto final, é sempre desenvolvido a partir de uma base de conhecimento.
Uma referência, cultural, ambiental ou social. Cada vez que um produto ou serviço são
apresentados, transmite-se conhecimento para o público em um formato mais lúdico.
Fortalecer a conscientização de que o produto criativo não é só lazer, e sim a
disseminação de conhecimento, é essencial para abrirmos o olhar para esta
potencialidade. É a última parte do processo criativo!

Partindo desse ponto de vista, o produto criativo é um aliado da educação e


proporciona trocas entre o convencional e o não convencional, através de elementos
que envolvem os sentidos, as emoções.
Estrutura do Processo Criativo
e suas Potencialidades

O aprendizado do futuro já delineia algumas mudanças no processo


educacional atual. Na Finlândia, por exemplo, a vivência substitui o processo
educacional por informação. Os exercícios e atividades estimulam o sentir, o avaliar, o
emocionar, o processar informação e internalizá-la no formato de conhecimento. E
assim precisamos fazer com produtos culturais.

Colagem
o
aprendizado
do
futuro
Este é um rápido panorama da
minha defesa de que os setores
criativos são grandes potências para
o desenvolvimento pós pandemia.
São agentes de transformação que
melhoram a qualidade de vida das
pessoas e abrem novos olhares para
a economia, questões sociais,
culturais e para um desenvolvimento
mais sustentável.

Helga Tytlik
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

REFERÊNCIAS

Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável, Ana Carla F.Reis


A Construção e história do Festival Internacional
de Criatividade PIXEL SHOW
Simon Szacher
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

A Construção e história do Festival


Internacional de Criatividade PIXEL SHOW
Até o ano de 2005, o Brasil não contava com um evento cultural e criativo que
tratasse dos inúmeros mercados da economia criativa (termo que nesta época sequer
existia), porém isso estava prestes a mudar...

A ideia
Allan Szacher, brasileiro, publicitário e designer, irmão e sócio de Simon
Szacher, ao retornar de uma temporada fora do Brasil, voltou cheio de ideias da
Oceania, mais especificamente da Austrália, onde viveu, estudou e trabalhou por
aproximadamente 2 anos, entre 2002 e 2004, na cidade de Sidney.

Ao retornar ao Brasil, em uma reunião familiar, os dois irmãos que já eram


sócios desde 2001 - apesar de que o Simon Szacher atuava ainda no mercado de
Comércio Exterior, Auditoria e Consultoria, enquanto que Allan Szacher sempre
esteve à frente do Estúdio de Design e Editora ZUPI, que dentro em breve iria ganhar
novas frentes de atuação – estavam conversando sobre o que Allan havia feito de
diferente enquanto morava no exterior, até que surgiu o assunto de eventos nos quais
participou e a partir daí, desenvolveram a ideia embrionária de criar um evento, nunca
visto antes no Brasil, baseado e inspirado em dois eventos dentre tantos vividos por
Allan durante a sua experiência internacional do outro lado do mundo!

O repertório, a bagagem e a experiência prévia


Os irmãos desde muito jovens já atuavam em diversas produções de eventos e
projetos culturais e esportivos, sendo a maior de todas (até aquela época) já realizadas
por ambos, a que Simon Szacher produziu enquanto estava ainda no colégio: Première
do Show do mágico ilusionista norte-americano David Copperfield no ano de 1997, no
Ginásio do Ibirapuera, quando Simon era Vice Presidente do Grêmio Estudantil do
Colégio I.L.Peretz.

Outros projetos nos quais se envolveram no decorrer dos anos nas mais
variadas áreas de produção estão, dentre outros: festas temáticas, monitoramento
infantil, viagens internacionais levando jovens a conhecer outras culturas, viagens
nacionais onde atuaram como primeiro socorristas e seguranças, competições de
conhecimento estudantil tanto no Brasil como no Exterior, campeonato esportivo da
América Latina – Macabíadas Sulamericana (tanto na Argentina como também no
Brasil), Feiras de arte, do livro, exposições de arte, apresentações musicais, de teatro e
também de cinema, etc.
A Construção e história do Festival Internacional
de Criatividade PIXEL SHOW.

Com base bastante ampla de conhecimento prévio desenvolvido durante a


juventude, adquirindo vasto repertório de estilos de projetos culturais e criativos, bem
como a operacionalização destes e outros estilos de eventos como os esportivos e
juntando seus conhecimentos adquiridos nos estudos formais e informais, estavam
prontos e preparados para o que viria a seguir.

Somado à prévia experiência em eventos, estava a educação formal que tiveram


durante suas vidas estudantis previamente a este momento, no qual Allan era formado
em 2 faculdades (publicidade e design) e havia também cursado o EMPRETEC do
SEBRAE e Simon era formado em Administração de Empresas e pós graduado em
Comércio Exterior, além de auditor de normas de qualidade.

O nascimento do Festival de Criatividade PIXEL SHOW


Ao decidir criar, dentre outras coisas o Festival de Criatividade PIXEL SHOW,
os irmãos Szacher levaram uma série de informações, em consideração e responderam
a uma série de questões para a criação de um Plano de Negócios deste projeto cultural.
São itens importantes que qualquer pessoa deve buscar responder antes de realizar
qualquer projeto. São inúmeras perguntas, mas dentre elas, pode-se citar:

O que é o projeto?
Por que ele é necessário? Por que fazer?
Para que ele será feito? Qual objetivo?
Para quem ele será feito? Há esta demanda/necessidade?
Há algum problema que ele ajudará resolver? Se sim, qual/quais?
Qual é o seu propósito?
Quem pode ajudar (parceiros, apoios, patrocinadores, fornecedores, etc)?
Quem são meus Stakeholders (partes interessadas)?

É sem dúvida um grande desafio, quando se é uma empresa pequena,


independente, sem recursos abundantes desejar fazer algo diferenciado, algo novo e
impactante! Assim como era naquela época, ainda o é hoje em dia! E sempre será!
Fez-se necessário buscar captar recursos, criar um plano de venda de ingressos, entre
outras possibilidades para ter a verba necessária para a produção do projeto, bem
como reduzir custos.

Após finalizadas as respostas para as perguntas acima, dentre outras, e criação


do Business Plan do projeto, dividiram-se tarefas na busca por parceiros, local de
realização, patrocinadores, curadoria, convites, vendas de ingressos, etc etc etc...
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Após alguns contatos feitos, foi definido como local do nascimento do PIXEL SHOW
o auditório do MIS – Museu da Imagem e do Som, na Avenida Europa, Jardins, na
cidade de São Paulo. Após definição de local e data, a curadoria definiu os primeiros,
de muitos que viriam nos anos seguintes, palestrantes – cada um de uma área da
criatividade!

Devido a ser o 1º ano do Festival, muita dúvida pairava no ar... Era o primeiro
evento focado em criatividade no Brasil e muito pouco se falava, na época, sobre
criatividade, sobre cultura sob novos olhares... Numa grata surpresa e recompensando
o esforço da equipe de produção e realização do festival, havia gente no dia chegando
de fora da cidade de São Paulo, sem sequer ter comprado ingresso, para poder acessar
as palestras da Conferência do festival, o que é até os dias de hoje o “coração” do
PIXEL SHOW, e atualmente abarcando muito mais sub-nichos da economia criativa
do que quando nasceu!

“Criatividade” como tema do festival


Desde 2001 a ZUPI já trabalhava o tema em suas publicações online no site, na
newsletter e também nos encontros de artistas e criativos de diferentes segmentos.
Havia já muita gente pedindo para que este conteúdo virasse uma revista, o que
ocorreu com o lucro da 1ª edição do Festival e que permitiu nascer a Revista ZUPI
(www.zupi.co), que é atualmente o veículo oficial do Pixel Show.

Allan Szacher sempre disse que “para ser um profissional criativo melhor, é
importante adquirir conhecimento e se inspirar nos grandes nomes de criativos de
diferentes áreas e do mundo todo, desta forma crescendo seu repertório e
possibilitando pensar de novas e diferentes maneiras para novas criações e projetos,
além de resoluções de problemas ou ainda solicitações de clientes.”

O crescimento e sua história


Os irmãos Szacher sempre tiveram o pé no chão e a vontade de crescer de forma
constante e planejada. Desta forma, após o tremendo sucesso do 1º ano, tendo recebido
aproximadamente 300 pessoas, já se mudaram para o Espaço Pompéia, onde ficaram
por 2 anos e receberam respectivamente 600 e 700 pessoas em 2006 e 2007.

Já no 4º ano, o evento deu um novo pulo e além de ter recebido 900 pessoas
para assistirem a Conferência no auditório Simón Bolívar no Memorial da América
Latina, abriu sua feira com acesso gratuito ao público geral, como é feito até os dias
atuais, para 90% das atividades oferecidas pelo Festival ao público, sem custo! Neste 1º
ano com a feira liberada com acesso gratuito às atividades, recebeu 4 mil pessoas para
a feira.
A Construção e história do Festival Internacional
de Criatividade PIXEL SHOW

Em seu 5º ano, mudou-se novamente para uma casa maior e ficou por 4 anos no
FECOMERCIO, na Avenida 9 de Julho em São Paulo, onde recebeu 1500 a 1800
pessoas no auditório enquanto na feira de 6 mil a 15 mil pessoas, entre os anos de 2009
e 2012.

Seguindo com o crescimento constante e sem altos riscos, decidiu nos 4 anos
seguintes realizar no Clube A Hebraica de São Paulo, tendo um auditório ainda maior
e quadruplicando o espaço da feira, recebendo em 2013 8 mil pessoas e em 2016 25 mil
pessoas no final de semana do festival.

Nos 3 anos seguintes foi realizado no PROMAGNO onde recebeu, em 2017, 33


mil pessoas e, nos anos 2018 e 2019, mais de 50 mil pessoas no festival, tendo inclusive
criado inúmeros outros conteúdos para acesso pelo público no decorrer destes anos.

Convido o leitor a acessar o link www.pixelshow.co/sobre onde terá acesso a


todas as informações do crescimento do festival, poderá assistir a inúmeros vídeos dos
anos anteriores e já sentir-se parte, ver fotos, ouvir entrevistas, apresentações musicais,
etc. Ao acessar o site, o visitante terá acesso ao nome de todos os palestrantes que já
passaram pelos palcos do Festival.

Em 2020, ano em que o evento estava preparado para mudar-se novamente de


casa, o inesperado aconteceu... Uma pandemia global com uma força destrutiva e
mortífera tão grande que todos os eventos do mundo foram proibidos de acontecer de
forma presencial...
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

O que fazer? O (pixel) show não pode parar...


Após 3 meses de preparativos para a 6ª edição do festival ocorrer, de forma
presencial e em novo local, com algumas mudanças e novidades a serem realizadas, o
Brasil parou, assim como o resto do mundo e tudo ficou “em compasso de espera”... A
equipe que já estava se preparando para ter algumas novidades online para os
próximos anos, resolveu adiantar e já realizar o evento de forma 100% online, porém
sem perder o seu brilho, o nível de seu conteúdo, a presença de marcas, expositores,
makers, exposições, arte ao vivo, música, tatuagem, palestras SharpTalks e também a
Conferência e os workshops, bem como games, painel de arte colaborativo, festival de
filmes, feira de recrutamento entre outras atividades!

O Festival de 2020 em sua 6ª edição, será realizado pela ª vez totalmente


online e acreditamos que as escolhas que estão sendo feitas neste período tão
turbulento, difícil e tenso para todos, são as melhores possíveis e que agimos em prol
da vida e da saúde de todos os stakeholders, afinal, o PIXEL SHOW é feito para e por
criativos e não podemos deixar de nos reinventar, a cada momento, para gerar entregas
diferenciadas, completas e criativas!

Qual o segredo do sucesso e da vida longa do Festival?


Antes de qualquer outra coisa, é importante ressaltar que todos os envolvidos
atuais e anteriores da equipe de produção e execução do PIXEL SHOW amam o que
fazem! O esforço é imenso e as dificuldades nunca diminuem! Há muita resiliência
envolvida, muita paciência, muita energia despendida em inúmeras frentes de
trabalho, durante todos os anos! Parceiros são buscados diariamente, empresas para
patrocinar o festival são contatadas diretamente pelo Simon Szacher ou por parceiros
que auxiliam na prospecção, geração de leads e até mesmo na busca por fechar os
patrocínios, sejam eles em verba de marketing, doação, ou através de leis de incentivo
à cultura! O Festival começou a usar as leis de incentivo à cultura há poucos anos,
porém foram essenciais para o crescimento dos últimos anos e para manutenção de
sua realização atualmente. Também, o fato de usar as leis de incentivo motivaram a
geração de inúmeras contrapartidas públicas bastante relevantes e também de
democratização de acesso ao conteúdo ímpar do Festival. Busca-se sempre também
apoio de divulgação em mídias diversas e que impactem o público dos segmentos
atendidos pelas atividades do Festival, mas também o público geral, visto que
entende-se que há uma “responsabilidade social-artística-cultural” junto à população
de oportunizar o conhecimento, o contato e a educação informal nestas áreas da
Economia Criativa e que são as que mais crescem e certamente serão as responsáveis
pelos novos mercados que, diariamente, surgem mundo afora!

Sem a menor sombra de dúvida, o departamento de RH (Recursos Humanos) da


maioria das empresas atualmente busca profissionais que estão preparados para o
mercado de amanhã e que, dentre outros, tenham já o soft-skill da criatividade!
Criatividade esta com a qual todos nascemos, mas que infelizmente perdemos por
sermos podados durante a vida e ao sermos alinhados aos paradigmas da sociedade!
parceiros
são
buscados
diariamente
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de Criatividade PIXEL SHOW. Acesse
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liares para as inúmeras atividades do
evento que é uma forma de estar
sempre atualizado com o que há de
mais bacana, além de se inspirar com o
conteúdo riquíssimo da Conferência
do Festival, bem como participar da
feira, conhecer novos negócios, proje-
tos, produtos e serviços e poder fazer
negócios, expandir o seu networking, e
fomentarmos juntos a Economia Cria-
tiva nacional.

E claro, se quiser ser nosso


parceiro (patrocinar o evento, nomear
alguma experiência, trazer sua marca e
expor apresentando seus produtos/ser-
viços, ser palestrante ou pensarmos
outras inúmeras possibilidades), entre
em contato ainda hoje!

Simon Szacher
Como Captar Recursos
com Empresas Privadas?
Criatividade e Diversificação em Tempos de Crise
Daniele Torres
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Como Captar Recursos com


Empresas Privadas?
Uma das grandes dificuldades dos produtores de cultura no Brasil é conseguir
financiar seus trabalhos. Como viabilizar instituições, projetos e ações se não há amplo
investimento e nem políticas públicas que garantam recursos para a cultura? Nas
últimas décadas, o modelo de financiamento à cultura no Brasil migrou para uma forte
e sempre crescente participação do setor privado. E, para entender como captar
recursos com esses potenciais investidores, é preciso compreender a lógica do que se
chama, erroneamente (considerando o sentido literal da palavra), de “mecenato”, por
aqui.

A Lógica dos Patrocínios


O primeiro entendimento necessário e fundamental para buscar patrocínios no
mundo empresarial é compreender a sua lógica. Seria maravilhoso poder acreditar na
disponibilidade e interesse das empresas em investir em cultura por seus benefícios
intrínsecos, pela cultura em si, mas estamos falando de um recurso que será
disponibilizado por uma corporação, cujo objetivo é produzir um determinado bem ou
serviço, onde as pessoas ali reunidas têm metas bem definidas para chegar a esse
objetivo prioritário e que precisa ser lucrativo.

Uma grande especialista em filantropia, Kay Sprinkel Grace, nos diz que “as
pessoas não doam porque você tem necessidades. Elas doam porque você atende as
necessidades delas”. As pessoas físicas ainda tendem a investir em causas que elas
acreditam. As empresas são organismos complexos, plurais e, portanto, por mais que
algumas poucas possam estar, hoje, comprometidas com a cultura como causa, elas o
fazem como uma via de mão dupla. Aliás, patrocínio é sempre moeda de TROCA. A
grande maioria das empresas investe em cultura porque visualiza nos projetos
culturais oportunidades de retornos que atendam seus interesses diretos, benefícios
para o seu negócio, a sua marca, a sua imagem.

Infelizmente, não há uma pesquisa que traga dados para falar sobre o
não-financiamento, as razões que fazem com que os projetos não sejam aprovados, em
detalhes. Essas motivações para as negativas podem ser muito diversas, mas é fácil
conferir que cerca de 70% dos projetos incentivados - aqueles que são aprovados em
leis de incentivo fiscal - não conseguem patrocínio (esse dado pode ser conferido
analisando o Versalic, base de dados de projetos aprovados na lei federal de incentivo
à cultura).
Como Captar Recursos com
Empresas Privadas?

Mesmo sem dados estatísticos sobre as razões específicas desse insucesso, é


possível deduzir por experiência junto às empresas investidoras e em conversas com
profissionais que buscam a captação, que a ampla maioria dessas negativas acontece
pela não compreensão dessa lógica essencial. Nem todo projeto tem perfil para buscar
a captação de recursos com empresas privadas, pois nem todo projeto atende a essa
lógica mercadológica. Uma infinidade de projetos pode ser extremamente relevante
para a cultura brasileira, mas nem um pouco interessante para um investimento
empresarial, pois não dariam retorno a essas empresas e só o incentivo fiscal não basta
para que uma empresa decida investir numa determinada ação – até porque, existe
uma enorme concorrência que também precisa ser considerada pelo produtor cultural.
Outras propostas de patrocínio que também oferecerão o benefício da isenção do
imposto, mas terão contrapartidas para esse patrocinador para além disso. Esse é o
ponto essencial da lógica empresarial de patrocínios.

Cabe esclarecer que não são só projetos com incentivos fiscais que recebem
investimentos privados. É possível captar, o que no meio chama-se “verba direta”,
aquela sem uso de isenção de impostos. Nesse caso, os contemplados são justamente as
ações mais alinhadas ao perfil da empresa, aquelas que possuem valores em comum
com os da corporação, que falam muito diretamente com os seus públicos de interesse
e/ou geram grande visibilidade e impacto para a marca ou para o consumo de seus
produtos/serviços. Aqui, é ainda mais forte o vínculo dos projetos com os temas de
interesse da empresa, com seus impactos socioambientais ou mesmo com suas
performances comerciais e seu planejamento de marketing; por isso muitas vezes se
diz que é mais difícil captar recursos de verba direta para a cultura, porque são raros
os projetos de cunho realmente cultural que consigam atender interesses tão
específicos e comerciais.
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Leis de incentivo
“Mecenato”, por definição da palavra quer dizer estímulo, investimento e apoio
a artistas e às artes, sem nenhum objetivo de retorno em troca, por isso soa estranho
nominar a principal lei brasileira de incentivo à cultura, a lei federal (também
conhecida como “lei Rouanet”), como “mecenato”, justamente por essa lógica
anteriormente explicada, que se aplica aos projetos beneficiados pela isenção de
impostos. Esse costuma ser apenas um dos benefícios apresentados a seus
patrocinadores, num pacote de reciprocidades diversas. Mas se olharmos,
historicamente, para o mecenato, veremos que muitos dos chamados “mecenas” já o
praticavam por interesse de ter sua imagem beneficiada pela associação a obras e
projetos artísticos importantes...

Há quase três décadas, o Brasil começou a utilizar incentivos fiscais para o


financiamento à cultura. Um grande legado positivo foi a profissionalização do setor,
tanto pela demanda de prestação de contas aos órgãos governamentais quanto pela
exigência de resultados das empresas. Sem dúvida, dezenas de milhares de projetos
relevantes foram financiados com incentivos fiscais e não teriam acontecido se
dependessem de investimento governamental direto. Considerando esse período, não
havia estrutura e nem recurso para fomentar a cultura dessa forma no então
Ministério da Cultura, hoje Secretaria Especial de Cultura. Claro que projetos de
qualidade duvidosa ou mais comerciais também conseguiram patrocínios, mas isso
demonstra o caráter democrático do mecanismo: se houve a chancela do projeto pelo
órgão governamental competente, habilitando-o à captação por cumprir os critérios
necessários e houve interesse empresarial em investir, o julgamento da crítica e do
público, ainda que pertinente em relação à qualidade artística do produto cultural, não
pode ser aplicado ao incentivo fiscal.

Uma grande crítica ao incentivo fiscal é justamente a questão apontada no item


anterior: pela lógica mercadológica, nem toda demanda do setor cultural consegue ser
atendida. Faltam as políticas públicas que deveriam ter a função de estimular a
produção e o consumo cultural, fomentar e difundir a cultura, proteger nossa memória
e patrimônio, promover tudo isso de forma igualitária para todas as regiões do país e
apoiar iniciativas inovadoras, dando equilíbrio aos investimentos privados no setor.
Tudo isso renderia um outro artigo, que não cabe aqui, nesta proposta. Embora seja
uma crítica pertinente e importante, uma discussão premente na sociedade brasileira,
o objetivo neste curto artigo é outro e o tema das políticas públicas para a cultura,
apesar de urgente e necessário, vai ficar para outros parceiros deste livro colaborativo.

Vale destacar que a lei federal nasceu prevendo um tripé de opções de


investimento, exatamente para evitar esse desequilíbrio. Se tivesse sido implantada na
íntegra, seria bem mais justa: havia o Ficart e o FNC como opções de investimentos
incentivados que descentralizariam os recursos e teriam uma curadoria
governamental, não entregando os patrocínios incentivados apenas à lógica
mercadológica; mas os mecanismos foram desativados (o Ficart sequer chegou a ser
implantado) e com isso tem-se a lógica do “mecenato” como tônica do incentivo fiscal
no Brasil.
Como Captar Recursos com
Empresas Privadas?

Para retomar o foco de como é possível captar recursos com empresas privadas,
é importante considerar os incentivos fiscais como uma contrapartida importante e
eficiente, que ajudam a atrair investidores, mas que não funcionam por si só como
único motivador para efetivar um patrocínio: importante avaliar se o projeto atende à
lógica empresarial de patrocínios e oferece um mix de contrapartidas atraentes e
identificados com aquele investidor.

Como funciona
Em linhas mínimas e introdutórias, porque o assunto é bem mais complexo e
varia bastante de um segmento para outro, é possível dizer que, para captar com
empresas privadas é preciso, basicamente:
• Ter um bom projeto: claro, sucinto, bem redigido e com design atrativo,
profissional e com um orçamento justo;

• Contar com uma equipe experiente que traga credibilidade e,


consequentemente, segurança ao investidor;

• Prever contrapartidas diversas: as reciprocidades para o patrocinador


precisam ser pensadas não só nas oportunidades de visibilidade que ele poderá ter
associando sua marca ao projeto (e nesse campo é preciso inovar pois a maioria das
propostas oferece um lugar comum de inserção de logomarca em peças de divulgação
e dá para oferecer muito mais que isso, como, por exemplo, conteúdos do projeto
pensados para redes e publicidades da empresa, etc.); é importante ficar atentos às
oportunidades de relacionamento que o projeto pode oferecer ao patrocinador, por
isso é importante considerar seus diferentes públicos de interesse e dialogar com o
potencial investidor para entender suas necessidades; as isenções fiscais, lembrando
também que há possibilidades diversas, sendo possível conciliar incentivos em
âmbitos municipal, estadual e federal; existem ainda as contrapartidas comerciais
(vinculando promoções, por ex.); as permissões aos patrocinadores (de uso de imagem,
direitos autorais, cessão de trechos em textos e vídeos ou imagens, etc.); as
possibilidades de prestações de serviços do projeto, artista ou produtor para o
patrocinador (citaria como exemplo a oportunidade de realizar pesquisas para a
empresa por meio da ação cultural...); e as ações de inclusão, democratização e
responsabilidade social que, embora não sejam uma contrapartida ao patrocinador e
sim à sociedade, valem ser destacadas pois os patrocinadores associados se beneficiam
ao se apropriar delas, ao associar sua imagem à de um projeto socialmente
responsável, com impactos diversos e que atendem demandas específicas da
população.
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

• Saber qual o perfil de público do seu produto cultural e explicitar isso no


projeto: fundamental para que a empresa entenda que estão falando do mesmo
público de interesse;

• Ter um plano de comunicação bem feito e adequado a este público.

A partir dessas definições é possível começar a prospectar: pesquisar e entrar


em contato com as empresas que tenham identidade, valores, público e afinidades com
o projeto, bem como vale considerar a região de impacto da proposta e área de atuação
da empresa.

As formas de abordagem podem ser muito diversas, descobrir um contato numa


empresa já não é mais tão difícil em tempos de redes sociais como o LinkedIn. Porém,
é recomendável não fazer contato diretamente pelas redes: além de ser pouco efetivo
no resultado de respostas, algumas pessoas podem achar invasivo. O ideal é aproveitar
as redes para descobrir um contato em comum e pedir para ser apresentado. Pontes
funcionam melhor nas estatísticas de retorno. Ou, munido da informação de quem
cuida dos investimentos sociais privados da empresa, o caminho básico é ligar na
própria empresa, no número comercial e tentar agendar uma reunião. Mas é provável
que solicitem o envio do projeto previamente por e-mail. O tempo de todos é muito
escasso e qualquer selecionador vai querer verificar com mais detalhes se há conexões
e se vale a pena agendar uma conversa presencial. O mais importante, portanto, é
saber fazer o discurso correto, mais alinhado aos interesses do interlocutor (empresa),
o que dependerá de cada empresa e projeto, das contrapartidas a oferecer, mas
também muito da área que irá analisar a proposta. É preciso considerar sempre que a
porta de entrada de um projeto diz muito dos interesses de sua defesa até a aprovação,
internamente. Por isso é tão importante compreender qual a missão de cada área
dentro da empresa e valorizar na abordagem os pontos do projeto que atendem a estes
interesses. Para facilitar, um exemplo: se uma proposta de patrocínio vai ser analisada
pelo departamento de marketing, é interessante destacar as ações comerciais possíveis,
a visibilidade e a divulgação que o projeto terá, mostrar o impacto que essa parceria
pode ter na imagem da corporação. Se a proposta for analisada pela área de
responsabilidade social da empresa, vale destacar os impactos sociais da proposta,
número de empregos e impostos gerados, quais as ações de democratização e de
acessibilidade que o projeto contempla. Isso não significa não falar de marca,
reputação e visibilidade, mas de ressaltar os assuntos que mais tocam a quem está
analisando a solicitação de patrocínio, prioritariamente. Todos os benefícios que um
produto cultural pode oferecer à empresa interessam numa apresentação, mas vale
destacar aqueles com maior sinergia ao departamento específico de análise num
primeiro momento, como forma de abrir o diálogo e de provocar interesse desse
primeiro analista: falar a mesma língua é fundamental.
Como Captar Recursos com
Empresas Privadas?

É preciso:

• Inovar, ser criativo, dinâmico;

• Buscar novos públicos;

• Comunicar bem, estabelecer presença de forma qualificada junto aos seus


diferentes públicos (interno, consumidor, parceiros, investidores...);

• Diversificar fontes: para a sustentabilidade é fundamental ter mais de uma


fonte de recursos e a crise mostra com muita clareza que não é possível sobreviver
dependendo de um único financiador ou mesmo tendo mais de um, porém da mesma
fonte (por exemplo: empresas privadas, via incentivo fiscal). É preciso conciliar geração
de renda, recursos de verba direta, recursos governamentais, captar com pessoas
físicas e até mesmo buscar investidores e parceiros internacionais;

• Ainda pensando em longo prazo, para as instituições perenes e sem fins


lucrativos é vital investir em fundos patrimoniais.

Conclusão
A captação de recursos empresariais é como um caminho para o sim, cheio de
nãos. Como se os nãos fossem pedras a serem pisadas para se chegar ao SIM. É muito
importante tentar obter um feedback sincero em cada não para gerar aprendizado.
Mas nem sempre essa escuta é possível. Fundamental é ter em mente que a captação
requer um pensamento estratégico de longo prazo. Para instituições a recomendação é
planejamento, investimento, dedicação e foco na perenidade para se chegar à
sustentabilidade. Para projetos esporádicos: planejamento, investimento, dedicação e
prazo.

Importante lembrar que um captador ético precisa acompanhar o projeto até o


final, sendo o responsável pela garantia de entregas dentro do combinado, apoiando o
proponente na prestação de contas e avaliações (relatórios). As instituições e
produtoras precisam entender o mesmo: a captação não termina quando o dinheiro
entra! É fundamental cuidar desse relacionamento, desse pós-venda que, na verdade, é
um grande passo para a fidelização de um patrocinador. Além disso, é crucial que haja
um esforço em comunicar os resultados das ações, mostrando os impactos dos projetos
patrocinados na sociedade. Em tempos em que é necessário justificar investimentos na
cultura e defende-los, a comunicação tem que estar planejada para ir até a pós
produção, informando não só os patrocinadores, mas toda a sociedade, os resultados
subjetivos, qualitativos e também os quantitativos, inclusive do ponto de vista
econômico, dessas ações culturais. Geração de imposto, emprego, renda, retorno do
investimento incentivado, impactos econômicos refletidos em outros setores como
turismo, comércio, alimentação, etc.
um
caminho
para o
sim
cheio de
Seria possível falar
ainda que apesar de
toda a crise, há um Nãos
legado positivo nesse momento tão
desolador para a cultura no Brasil,
que é a união do setor, de forma nunca
vista antes. Mas aí já renderia um
tema para outro artigo... Sucesso às
captações de todos! Viva a cultura
brasileira!

Daniele Torres
Cadeia Produtiva
da Economia Criativa:
um olhar sobre o artesanato
VANESSA KUKUL
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Cadeia Produtiva da Economia Criativa:


um olhar sobre o artesanato
As expressões culturais ganharam um novo sentido com a pandemia da
Covid-19 e seu distanciamento social. Em meio a esse turbilhão de acontecimentos e
mudanças de comportamento, os profissionais culturais (música, teatro, dança, artes
plásticas, artesanato, entre outros) buscaram nas plataformas de streaming e cursos
uma possibilidade para garantir sua renda. Para alguns isso é um modo de
sobrevivência e para outros tornou-se um novo modelo de negócio (e lucrativo).

O distanciamento social como forma de combatermos a pandemia contribuiu


para um novo olhar e discussão sobre a cultura. Em casa, passamos a ter que trabalhar,
cozinhar, costurar, estudar e limpar. Para passar o tempo: literatura, cinema, teatro,
música, artes plásticas, jogos, artesanato, entre outros. Pais e filhos brincaram e
estudaram. Famílias revivendo os jogos de tabuleiro. Crianças cozinhando,
desenhando, construindo, costurando, colando, lendo, escrevendo, pintando… rindo.

Nesse período desenvolvemos habilidades e resgatamos a importância dos


saberes e fazeres. O artesanato é resultado do saber fazer humano a partir de uma
habilidade manual, seja uma pintura de um artista reconhecido, um prato preparado
por uma cozinheira ou uma boneca produzida por uma costureira. Esses casos têm em
comum o valor cultural produzido, resultante ou agregado, a partir do processo de
criação e concepção. O valor simbólico agregado, na expressão artístico-cultural, se
constrói a partir da liberdade de expressão, ciclo de produção, definição de
matéria-prima delineando características político-sociais e subjetivas ao produto final.
(Kukul, De Sá e Gastal, 2019)

A Economia Criativa contempla a produção de bens e serviços tendo a


criatividade como matéria-prima valorizando a cultura e promovendo a geração de
renda e emprego. Portanto, esse conceito situa-se numa “perspectiva que rearticula a
relação entre cultura, economia e sociedade” (De Marchi, 2014). Os conceitos de cultura
e de economia conectam-se para formar um nicho econômico tendo a criatividade
como ponto central para esse desenvolvimento articulando com os aspectos tangíveis
e intangíveis da cultura visando uma economia mais inclusiva e sustentável. (Kukul,
De Sá e Gastal, 2019). Dessa forma, fomenta “diferentes setores produtivos que
possuem como denominador comum a capacidade de gerar inovação a partir de um
saber local, agregar valor simbólico a bens e serviços, além de gerar e explorar direitos
de propriedade intelectual” (De Marchi, 2014).
Cadeia Produtiva da Economia Criativa:
um olhar sobre o artesanato

1
O Plano da Secretaria da Economia Criativa foi lançado em 2012 com o logo de
‘Brasil Criativo’, buscando incentivar a realização dos compromissos brasileiros
firmados no Plano Nacional de Cultura, e ainda ressaltando que as atividades culturais
e criativas tem potencial mas são pouco estudadas. Assim, define a economia a criativa
“a partir das dinâmicas culturais, sociais e econômicas construídas a partir do ciclo de
criação, produção, distribuição/circulação/difusão e consumo/fruição de bens e
serviços oriundos dos setores criativos, caracterizados pela prevalência de sua
dimensão simbólica” (Brasil, 2012, p. 23). Portanto, ela se constitui pela intangibilidade,
simbolismo e criatividade presentes nesses profissionais que se organizam de forma
coletiva ou individual. A economia criativa caracteriza-se pela abundância o que
permitiu o surgimento de novos modelos de negócio e inquietação nos modelos de
negócios tradicionais.

Esses setores criativos estão acima dos setores culturais, por consistirem numa
cadeia de produção maior. Essa mescla entre setores culturais forma os setores
criativos com um maior arranjo produtivo e mais participações de atores envolvidos,
otimizando o resultado final (Kukul, De Sá e Gastal, 2019). A Economia Criativa
Brasileira propõe quatro princípios norteadores e balizadores das políticas públicas de
cultura que entrelaçam entre si (Brasil, 2012).

O primeiro deles é a diversidade cultural, que pode ser entendida a partir da


valorização, proteção e promoção dos saberes e fazeres locais. A sustentabilidade vem
em segundo lugar, tratando-se além da sustentabilidade ambiental, mas também da
cultural, social e econômica construindo para as gerações futuras. A inovação é o
terceiro termo, presente na identificação de oportunidades de produção [saberes e
fazeres] e na comercialização, agregando valores simbólicos. No termo da inclusão
social, a efetividade de uma política cultural promoveria projetos que criassem
ambientes favoráveis ao desenvolvimento sustentável, com decorrente acesso a bens e
serviços como premissa da cidadania. Esses quatro princípios norteadores são
considerados e servem como qualificação ao longo das diferentes etapas da cadeia
produtiva.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN, 2014) ao


realizar o mapeamento das indústrias criativas dividiu as cadeias produtivas em três
segmentos: núcleo, relacionadas e apoio. O núcleo é composto por setores que tem a
criatividade como peça fundamental no processo produtivo, que são Expressões
Culturais, Artes cênicas, Artes visuais, Música, Filme e Vídeo, Televisão e Rádio,
Mercado editorial, Software e Computação, Arquitetura, Design, Moda e Publicidade.
As atividades relacionadas englobam as indústrias e empresas fornecedoras diretas de
materiais essenciais para o funcionamento do núcleo e, as atividades de apoio são
responsáveis por fornecer bens e serviços de forma indireta dando suporte ao núcleo e
atividades relacionadas.

1
Em 2011 foi criada a Secretaria da Economia Criativa como parte do Ministério da Cultura, sendo desativada no ano de 2016 com
o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. O Plano da Secretaria da Economia Criativa lançado em 2011 delineava política,
diretrizes e ações para a gestão no período de 2011 a 2014. Em 2019, essa Secretaria foi reativada com maior enfoque no empreende-
dorismo do que nos seus princípios originais, agora fazendo parte do Ministério da Cidadania e, nele, dentro da pasta da Secretaria
Especial da Cultura.
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Portanto, busca-se analisar a cadeia produtiva do artesanato promovendo


reflexões sobre a economia criativa. Para análise, considera-se os produtos da
2
bonequeira Mara Solange Veloso Couto, que atua com o nome comercial Mara Couto
e é reconhecida por seu talento e inovação na confecção de bonecas de pano. A
bonequeira reside em Caxias do Sul/RS, no sul do Brasil, mas nasceu em Teresina, no
Piauí e criada em Minas Gerais. Com formação e atuação em Odontopediatria, durante
sua infância teve contato com o artesanato, especialmente, o bordado ponto-cruz,
pintura e costura.

Ao conhecer o município de Gramado, cidade turística no sul do Brasil,


encontrou bonecos natalinos espalhados pelas ruas que foram inspiração para iniciar
seu trabalho como bonequeira. Inicialmente, para as comemorações natalinas
produzia papais noéis, anjos e fadas. Com o tempo passa a confeccionar bonecas e em
2009 lança a marca Feitiços de Pano.

Mara passa a criar, desenvolver e comercializar as bonecas de pano pela sua


página no Facebook e no seu site oficial. Devido às suas habilidades e talentos passa a
ensinar outros bonequeiros seus desenhos e técnicas. Seu espírito empreendedor
reflete-se na criação de produtos como o Kit Olhos e Boca, um dispositivo em forma de
acrílico que auxilia os artesãos no traço dos rostos das bonecas de pano.

Em 2013, já reconhecida no mercado dos bonecos, começa a criar seus próprios


projetos, sendo o seu maior destaque até hoje. Os projetos, como produto, facilitam o
trabalho dos artesãos na construção dos seus bonecos (papais noéis, fadas, anjos,
bruxas ou personagens fictícios). Além disso, ela vende o kit completo, contendo todos
os produtos necessários - passo a passo, roupas costuradas e acessórios - para a
construção da boneca.

2
Por bonequeira, considera-se o artesão que trabalha com bonecas.
Resgatamos
a
importância dos
e
saberes
fazeres
Mara em entrevista relata que “a Feitiços
de Pano é o meu sonho, sonho em forma de
empreender”. Sonho que ampliou os serviços
oferecidos por ela com suas duas Casas de
Bonecas em Gramado e Caxias do Sul. As casas
funcionam como loja e espaço para cursos,
oficinas e eventos. Recebe cerca de 600 artesãos
por ano em sua casa de bonecas em Gramado.
Participa de programas televisivos mostrando seu
trabalho e ensinando técnicas. Criou o evento
“Chá com as Bonecas”, uma tarde com chá,
biscoitos e a oportunidade de conhecer melhor o
mundo bonequeiro da artesã.

Em 2017, a artesã ingressa no mundo


editorial com os livros “Doce Pietra” e “Feitiços de
Natal” que contém uma história dos bonecos e o
passo a passo da confecção dos mesmos. Como
estratégia de marketing, Mara possui trajes iguais
ao da boneca Pietra para utilizar nos eventos que
participa, levando a boneca a tiracolo. A artesã
atua com uma designer de moda e duas
costureiras como fornecedoras.
Cadeia Produtiva da Economia Criativa:
um olhar sobre o artesanato

Este foi um breve relato da atuação da bonequeira Mara Couto, onde podemos
observar sua diversificação de produtos contemplando diferentes perfis de
consumidores. Para análise da cadeia produtiva do artesanato (figura A), utilizaremos
um dos produtos de Mara Couto, o livro “Doce Pietra” considerando a cadeia produtiva
dividida em seus três segmentos: núcleo, relacionadas e apoio. O livro nasceu a partir
da boneca Pietra. Portanto, a confecção de bonecas enquadra-se no núcleo cultura, na
categoria artesanato (UNCTAD, 2010; Brasil, 2012), nas atividades relacionadas estão a
costureira (confecção de roupas para a boneca) ou a editoria de livros. No apoio temos
a indústria têxtil que produz tecidos para as roupas das bonecas e a impressão de livros
e o agenciamento de direitos autorais.

análise da cadeia produtiva do livro doce pietra

Relacionadas apoio
núcleo Indústria Têxtil’;
Cultura, Artesanato Confecção de roupas, Impressão de livro,
Editoria de livros direitos autorais;

Figura a

Esta análise inicial da cadeia produtiva do livro “Doce Pietra” possibilita


compreender a interdisciplinaridade existente na economia criativa. A bonequeira
Mara Couto, vinculada ao artesanato, conecta-se com outras áreas da economia
criativa, como a editoria de livros, audiovisual e moda para a execução de seu trabalho.
As indústrias, consideradas tradicionais - têxtil, gráfica, química, entre outras -
participam dessa cadeia produtiva atuando como atividades de apoio.

Esta foi uma discussão inicial sobre a cadeia produtiva do artesanato buscando
provocar reflexões sobre o impacto da economia criativa no desenvolvimento
econômico brasileiro. É preciso ampliar a discussão, especialmente, para o mercado do
artesanato brasileiro que movimenta 50 bilhões de reais, e promove a geração de
renda e emprego. Em tempos de pandemia, o artesanato se tornou fonte de renda e
hobby para muitas pessoas.
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

como a criatividade salva?


Em momentos de complexidade, incerteza e volatilidade, como nas crises
econômicas, a criatividade surge como ferramenta propulsora de resultados. A
criatividade possibilita usar nossa imaginação, sair da zona de conforto, vislumbrar
novas possibilidades e colocá-las em prática. A criatividade permite que você percorra
caminhos desconhecidos, desenvolva novas habilidades, aprenda novas técnicas e
arrisque-se em novos produtos ou serviços. Assim como a bonequeira Mara, que podia
somente confeccionar bonecas, mas arriscou-se e tornou-se escritora. A criatividade
salva seu negócio, sua vida e o mundo!
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

REFERÊNCIAS

BRASIL. (2012). Plano da Secretaria da Economia Criativa: Políticas, diretrizes e ações:


2011 – 2014. Recuperado em 11 de outubro, 2019, do <http://www.cultura.gov.br/docu-
m e n t s / 1 0 9 1 3 / 6 3 6 5 2 3 / P L A N O + D A + S -
CRETARIA+DA+ECONOMIA+CRIATIVA/81dd57b6-e43b-43ec-93cf-2a29be1dd071>.

De Marchi, L. (2014). Analysis of the secretariat of the creative economy plan and the
transformations in the relation of state and culture in Brazil. Intercon – RBCC, São
Paulo, v. 37, n.1, p.193-215, jan./jun. 2014. Recuperado em 11 de outubro, 2019, do
< h t t p : // w w w. p o r t c o m . i n t e r c o m . o r g . b r / r e v i s t a s / i n d e x . p h p / r e v i s -
taintercom/article/view/1888/1705>.

Entrevista com Mara Couto - disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=qkwY-


G7UQdpA&t=82s

FIRJAN - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. (2014). A cadeia da


indústria criativa no Brasil. Rio de Janeiro: FIRJAN.

Kukul, Vanessa; De Sá, Felipe Zaltron; Gastal, Susana de Araújo. Economia Criativa e
Turismo: Discussão inicial sobre a cadeia produtiva de bonecas artesanais. In: II Semi-
nário IberoAmericano Economia de La Cultura 2019. Valdivia - Chile. (noprelo)

UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development. (2010). Creative


Report 2010. Recuperado em 11 maio, 2019, do https://unctad.org/en/Docs/ditcta-
b20103_en.pdf

Mercado de artesanato movimenta R$ 50 bilhões por ano no Brasil. Em:


h t t p : //g 1 . g l o b o . c o m /e c o n o m i a /p m e /p e q u e n a s - e m p r e s a s - g r a n d e s - n e -
gocios/noticia/2018/03/mercado-de-artesanato-movimenta-r-50-bilhoes-por-ano-no-br
asil.html
Acessibilidade Cultural
Exercendo o direito de acesso à arte e à cultura
Qiah Salla
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

Acessibilidade Cultural
Se partirmos do pressuposto que a arte e a cultura são portas que nos possibili-
tam um contato mais profundo com o mundo e com nós mesmos, os recursos de acessi-
bilidade são as chaves que permitem a abertura dessas portas às pessoas com deficiên -
cia.

Pensar em acessibilidade cultural é pensar, em primeiro lugar, no livre direito


à produção e à fruição da arte e da cultura nacional. É pensar em um país republicano
e no cumprimento da constituição democrática de 1988. É pensar na pessoa com defici-
ência como cidadã. É necessário adotar o Modelo Social de Deficiência (visão socioan-
tropológica) como ponto de partida ao invés do Modelo Médico (visão clínico-terapêu-
tica). É entender a diversidade de corpos e as especificidades de cada pessoa como
características humanas. É expandir o olhar para os bens artísticos e culturais enten-
dendo que, para que estes bens cheguem a um número maior de pessoas, muitas vezes
necessitam de suportes e tecnologias que permitam transcender as barreiras dos senti-
dos e proponham novas formas de interação com o meio artístico e cultural.

Para ilustrar esse exemplo podemos ter como modelo a cenografia de um espe-
táculo teatral ou uma obra de artes visuais. Essencialmente são elementos disponíveis
às pessoas que possuem visão, visto que esse suporte artístico foi concebido por pesso-
as que enxergam e por elas é feito e consumido. Exclui-se, desde o princípio, a possibi
-
lidade de compartilhar essa arte com pessoas que não possuam o sentido da visão. Mas
precisa ser dessa forma? A resposta é, obviamente, não. Por meio da utilização da
audiodescrição, de elementos táteis (réplicas reduzidas da obra, tours táteis, obras em
relevo ou outras alternativas) é possível possibilitar o acesso a esses bens a pessoas
cegas ou com baixa visão, por exemplo.

É inerente à arte a existência de quem a contemple. Quando iniciamos a concep-


ção de um bem artístico pensando na diversidade de pessoas que poderão acessá-lo e
incluímos nessa visão de diversidade as pessoas com deficiência necessariamente
passaremos a incluir em nosso processo criativo e/ou em nossos checklists de produção
as tecnologias assistivas e recursos necessários para transcender as barreiras senso-
riais de comunicação, amplificando a arte, para todos e todas, utilizando recursos já
existentes - testados e comprovados - e, também, por que não, propondo experimenta-
ções. Nosso ponto de partida é, em sua essência, uma visão de sociedade compartilhada
que seja feita com e para todas e Segundo dados do IBGE, no Brasil, cerca de 24% da
população possui algum tipo de deficiência. Este número representa aproximadamente
50 milhões de brasileiros e brasileiras que possuem seus direitos negligenciados coti-
dianamente por barreiras atitudinais e uma cultura de invisibilidade. Onde estão as
pessoas com deficiência no nosso cotidiano e, se são tantas, elas realmente não estão
por perto ou será que nosso olhar, de alguma forma, está condicionado à invisibilidade?
Acessibilidade Cultural:
Exercendo o direito de acesso à arte e à cultura

As manifestações artísticas, necessariamente, precisam de suportes para sua


criação. Se incluímos nessa concepção a visão da acessibilidade de “o que é um suporte
para a arte”, de imediato passamos a pensar que não basta conceber um elemento
visual para um espetáculo cênico. E, sim, que esse elemento é, em primeiro lugar, um
elemento artístico e utilizará diferentes suportes para se comunicar com a sociedade: o
visual, no palco, compondo uma cenografia para as pessoa videntes, por exemplo e
uma réplica tátil acompanhada de uma descrição (audiodescrição, por exemplo) para
pessoas cegas ou com baixa visão e assim por diante.

Segundo dados do IBGE, no Brasil, cerca de 24% da população possui algum


tipo de deficiência. Este número representa aproximadamente 50 milhões de brasilei-
ros e brasileiras que possuem seus direitos negligenciados cotidianamente por barrei-
ras atitudinais e uma cultura de invisibilidade. Onde estão as pessoas com deficiência
no nosso cotidiano e, se são tantas, elas realmente não estão por perto ou será que
nosso olhar, de alguma forma, está condicionado à invisibilidade?

Mesmo com as Leis 10.098 e 13.146 em vigor (conhecidas como a Lei da Acessibi-
lidade e a Lei Brasileira de Inclusão – LBI, respectivamente), Plano Nacional de Cultu-
ra e o Brasil sendo signatário de diversos acordos internacionais com foco nos direitos
da pessoa com deficiência, o direito de acesso à arte e à cultura ainda é negligenciado
a esta população. Muitas vezes, produtores e artistas se veem obrigados - por força da
legislação - a incluir acessibilidade nas ações desenvolvidas, principalmente em proje-
tos culturais financiados com recursos públicos. Junto com a necessidade de inclusão
desses serviços (normalmente Libras e/ou audiodescrição), se veem forçados a encon-
trar público para a apreciação das ações, tanto pelos recursos financeiros que estão
sendo investidos, quanto pela necessidade de apresentação de números e informações
nos relatórios finais de atividades. Daí a busca por pessoas com deficiência para parti
-
cipar das ações “a qualquer custo”. Normalmente, a busca por público formado por
pessoas com deficiência começa em instituições assistenciais públicas, organizações da
sociedade civil, conselhos municipais e instituições de ensino.

A busca por público tem como base a falsa crença que a pessoa com deficiência
está sempre conectada a uma dessas instituições, o que não é verdade. A pessoa com
deficiência está em todos os lugares. Está nos supermercados, nos escritórios ou em
casa. Está assistindo filmes, comprando itens ou fazendo qualquer outra atividade da
vida. Assim, é necessário desmistificar a visão da pessoa com deficiência como alguém
que está sempre na dependência de apoio ou de serviços especializados e pensar mais
em comunidades que se organizam, por terem algo em comum - às vezes, este algo em
comum é a deficiência.

A falta de uma cultura inclusiva ao longo dos anos e o negligenciamento da


pessoa com deficiência nas políticas públicas e nos locais sociais fez com que se crias
-
sem barreiras atitudinais. Barreiras que só poderão ser quebradas por meio do conta-
to, da alteridade e da fricção comportamental de cada um de nós. É necessário termos
em mente que as pessoas com deficiência são negligenciadas cotidianamente: prédios
Salve a Criatividade! A Criatividade Salva!

(inclusive públicos) não acessíveis, serviços que não possuem acessibilidade, dificulda-
de de encontrar documentos e informações acessíveis (Libras, Braille ou textos acessí-
veis a leitores de tela), transporte público inadequado, educação excludente e assim
por diante.

Também é importante ter em vista que a comunidade surda já possui uma atua-
ção em rede entre si justamente por compartilharem da mesma língua. Logo, pessoas
surdas que se comunicam em Libras tendem a participar de grupos e criar vínculos de
amizades com outras pessoas que se comunicam na mesma língua. Não falamos a
mesma língua e a escola bilíngue (português/Libras) ainda é uma utopia. A barreira
atitudinal é cultural. Uma vez que uma pessoa cega ou surda, por exemplo, foi negli-
genciada por anos em seus direitos culturais é necessário que entendamos que existe
um caminho de inclusão. E esse caminho só pode ser trilhado com diálogo e ações pro -
positivas construídas e pensadas com a participação da pessoa com deficiência. As
pessoas com deficiência não eram incluídas nas políticas de acesso, logo, não basta
apenas divulgar uma atividade cultural acessível, principalmente no interior do Brasil,
e esperar que este público compareça, como se não houvesse um caminho de articula-
ção e afeto a ser construído!

colagem
um
caminho
de
articulação
afeto e

Se você, assim como eu, acredita


em um um mundo que pode abraçar todas
as pessoas em sua ampla diversidade, fica
o convite para a troca de conhecimento,
reflexão e, principalmente, para o desen-
volvimento de ações acessíveis onde quer
que você esteja.

Qiah Salla
ficha técnica
daniele torres
Como Captar Recursos com Empresas Privadas?
Criatividade e Diversificação em Tempos de Crise.

é museóloga, com pós em história da arte, gestão cultural e comunicação


empresarial. Atua há 23 anos com leis de incentivo e captação de recursos.
Gestora de projetos e consultora de ISP, é sócia diretora da Companhia da
Cultura, e também do Cultura e Mercado. Realiza palestras por todo o
país. Conselheira da Comissão de Direito das Artes da OAB-SP.

Conheça mais sobre Daniele Torres em:


www.linkedin.com/in/danitorrescordeiro

decio coutinho
Geografias da Criatividade
Giros Criativos, uma metodologia para as pequenas cidades
Administrador de Empresas e Mestre em Gestão do Patrimônio Cultural
(2005, PUC-GO) com ênfase em Antropologia. Pós-graduado em Gestão e
Políticas Culturais, pela Universidade de Girona-Espanha. Especialista em
“Sociedades Pós-industriais e Organizações Criativas”, realizada em
Roma-Itália na S3 Studium, com o sociólogo Domenico de Masi e em “Eco-
nomia Criativa” na Fundação Barcelona Media, Barcelona-Espanha.

Conheça mais sobre Decio Coutinho em:


www.linkedin.com/in/deciocoutinho

helga Tytlik
ESTRUTURA DO PROCESSO CRIATIVO E SUAS POTENCIALIDADES
Palestrante e consultora de economia criativa, economia da cultura e
empreendedorismo nos setores criativos. Desenvolvimento de projetos de
impacto social potencializados pela economia da cultura. Atuação na
gestão pública participando na criação de Sistema de Desenvolvimento
pela Cultura e implantação de museu criativo no Museu de Arte de Join-
ville.

Conheça mais sobre Helga Tytlik em:


@HelgaEconoCriativa
Qiah Salla
Acessibilidade Cultural:
Exercendo o direito de acesso à arte e à cultura

Consultor em projetos de impacto social e sócio da Dois Pontos: Una!


Assessoria e Gerenciamento de Projetos. É Conselheiro Estadual de Cul-
tura de Santa Catarina, eleito para mandato 2019-21. Elaborou e
coordenou mais de 300 eventos e projetos, entre eles, ações financiadas
por recursos de fundos de incentivo nacionais, estaduais, municipais e
budgets de marketing de empresas privadas.

Conheça mais sobre Qiah Salla em:


www.doispontosuna.com

Rose Meusburger
Compartilhando 7 aprendizados da minha vida

Youtuber, Empreendedora Social, palestrante, consultora e mentora para


empreendimentos criativos. Responsável pela gestão de conteúdo do
Canal Elaborando Projetos que é finalista do Prêmio Brasil Criativo
2019. Habilitada pelo MinC-Senac (2013/2015) e pela Universidade
Nacional de Córdoba (2014/2015 - Argentina) em Gestão de
Empreendimentos Criati-vos. Habilitada para administração do
SICONV pelo Instituto Filantropia (2015)

Conheça mais sobre Rose Meusburger em:


www.elaborandoprojetos.com.br

Sílvio Luís de Vasconcellos


ORGANIZAÇÕES CRIATIVAS
Professor no Programa de Pós-Graduação em Administração da ESPM,
de São Paulo. Doutor e mestre em Administração pela UNISINOS,
onde defendeu a tese “Does Creativity Matter?” Possui artigos
acadêmicos sobre a relação da criatividade e organizações publicados em
revistas nacionais e internacionais.

Conheça mais sobre Sílvio Luís de Vasconcellos em:


www.linkedin.com/in/sílvio-de-vasconcellos-56339725
Símon Szacher
A Construção e história do Festival Internacional
de Criatividade PIXEL SHOW.

Nasceu em 1979, em São Paulo, e estudou em escolas de arte na infância.


Atualmente é CEO da Zupi.Live que atua no cenário cultural desde 2001 e
produz o PIXEL SHOW e a ZUPI, dentre inúmeros outros projetos pró-
prios e de clientes, desde eventos, experiências, curadorias, exposições,
projetos editoriais, de tecnologia e especiais. Captador de recursos, novos
negócios e parcerias! Auditor, consultor e instrutor, além de palestrante.

Conheça mais sobre Símon Szacher em:


www.linkedin.com/in/simonszacher

Vanessa Kukul
Cadeia Produtiva da Economia Criativa: um olhar sobre o artesanato

Consultora e Mentora de Negócios e Criatividade. Professora de


Pós-Graduação. Mestranda em Turismo e Hospitalidade (UCS).
Administração de Empresas (UCS). Especialista em Gestão da Inovação
com ênfase em Economia Criativa. Especialista em Desenvolvimento de
Empreendedores - Foco em Criatividade e Inovação com mais de 100
empreendedores impactados e mais de 1000 colaboradores.

Conheça mais sobre Vanessa Kukul em:


www.linkedin.com/in/vanessakukul
ADRIEL VIEIRA
Comunicação e diagramação

Conselheiro Estadual de Cultura e produtor da Dois Pontos: Una!


Desenvolveu a coordenação de projetos viabilizados com recursos de
fundos municipais e Fundo estadual de cultura. Possui expertise na gestão
de equipes, prazos e procedimentos administrativos relacionados à
produção cultural e audiovisual.

Conheça mais sobre Adriel Vieira em:


www.doispontosuna.com

Diego oliveira
designer e colagens

Fotógrafo, designer e videomaker, é certificado pela Adobe nas


ferramentas Photoshop, Illustrator, Premiere e After Effects, também
integrante da Associação Oca Cultural, Coletivo. Atuante na produção
cultural desde 2013 em Rio do Sul/SC e Região. Coordenou a produção de
mais de 50 materiais audiovisuais e videoart, incluindo um documentário
média-metragem produzido pelo Prêmio Nodgi Pellizzetti de Incentivo à
Cultura de Rio do Sul (SC).

Conheça mais sobre Diego Oliveira em:


https://www.olicria.com/
SAlve a criatividade!

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