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Rio de Janeiro
2019
Desde que os bondes começaram a sair do cenário das cidades, até a primeira
metade do século XX, em contraposição à contínua ascensão dos automóveis,
(TAVARES, 2015) uma absoluta mudança significativa e visual foi se delineando no
tecido urbano. Considera-se que os transportes transmitem com muita força esses padrões
morfológicos que marcam a aparência das cidades. Muito além disso, as dinâmicas de
locomoção e a relação destes com os modais apresentados àquele período corroboram por
marcar esses tipos de cidades, com causas objetivas nas maneiras e estilos de vida e
urbanidades. A mudança forçosa pela dinâmica das rodovias, avenidas, ruas e estradas
possivelmente tenha sedimentado esse novo modelo na história das cidades, o que gerou
em construções lógicas de rua essencialmente consolidado no trânsito motorizado, e que
encontram ecos e respaldos em inúmeras cidades do mundo. Com o tempo se apresentou
ilimitados problemas assim como também reverberaram diversas experiências inovadoras
e de contestação desse modelo.
A ressignificação dos espaços públicos marca um novo momento no processo de
tornar a cidade o principal vetor de transformações nas últimas décadas. Em diversas
cidades do mundo o fomento ao desenvolvimento da economia criativa facilitou e
impulsionou o desenvolvimento e regeneração de regiões degradadas. É a partir desse
fenômeno que a regeneração urbana se coloca, como sugere (GEHL, 2014) em que se
considera um novo aspecto de intervenção, que busca dar dinamismo e força aos espaços
a partir de uma série de atividades se pautando a partir de questões econômicas, sociais,
competitivas, criativas e ambientais em um contexto urbano progressivamente mais
integrado.
A escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016 ofertou
um pacote de dinamização e urgência de execução de inúmeros projetos de infraestrutura
de transportes. Uma das propostas contidas nesse serviço envolveu a revitalização da
zona portuária, conhecido como Projeto Porto Maravilha, e entre os avanços projetados
estava a implantação de um novo modal de transportes sobre trilhos, o VLT Carioca
Segundo Castro (2007) o padrão de transporte público que tinha os trilhos como
sua plataforma esteve presente na maior parte do século XIX deixando suas marcas
registradas nas cidades, como uma ferramenta de extensão urbana. Já a partir da segunda
metade do século XX novos protótipos de planejamento urbano começaram a serem
realizados seguindo praticas urbanísticas e morfológicas que colaborassem na
revitalização e fortalecimento econômico social, cultural e urbano de áreas abandonadas
nas cidades. Esse novo arrajamento acontece concomitante e como resultado a uma série
de transformações que traz consigo o modelo de transporte que configura o ônibus e o
modelo rodoviário como principal protagonista nesse ecossistema, concebido em função
de maior versatilidade dentro de uma lógica de trajetos mais flexíveis como instrumento
de mobilidade.
Dentro desse paradigma afirma Castro 2007, a política rodoviarista começou,
devagar, a afastar os bondes do núcleo urbano das grandes cidades, consolidando assim o
modelo rodoviário que segue até os dias atuais:
1
Carta de Lisboa (1995). Revitalização Urbana – “Engloba operações destinadas a relançar a vida
econômica e social de uma parte da cidade em decadência. Esta noção, próxima de reabilitação urbana,
aplica-se a todas as zonas da cidade, sem ou com identidade e características marcadas”.
O urbanista e autor do livro Jan Gehl “Cidades para pessoas” declara seu
entusiasmo quanto ao processo de remodelamento do espaço pela ótica humanista, tal
qual celebra:
Outros autores como Piqué (2013) falam do case de sucesso de Barcelona afirma
que as cidades se tornaram nós de competitividade no plano internacional pois são nelas
que a inovação acontece e colabora para um melhor desempenho econômico e social
resultando numa melhor qualidade de vida das pessoas.
O ponto central desse artigo parte da hipótese que a implementação dos bondes
elétricos foi determinante para que o processo de requalificação urbana ocorresse. Dessa
maneira se faz necessário remeter a um recorte histórico que aborda a promoção do bonde
moderno como instrumento de modificação dos modelos de organização, design e
aspectos tangíveis e intangíveis das cidades. De acordo com Castro (2007, p. 59) surge na
França no final da década de 70 novas experiências e tentativas à construção de uma nova
rede de trilhos de superfície com o objetivo de “modificar o equilíbrio entre os meios de
transporte e promover o uso dos transportes coletivos”.
De acordo com Tavares 2016, a França foi percursora desse novo modelo de
transporte com propósito de reconfiguração dos espaços públicos a partir da lógica de
mobilidade:
Landry (2008) reforça que as cidades são vetores de criação e inovação social
estimulados pela administração pública em setores estratégicos, tendo assim inúmeras
intervenções urbanas de requalificação do espaço urbano focados na geração de
criatividade e promoção da cultura, destacando-se áreas degradas e grandes centros
históricos.
Dessa forma o VLT cai como uma luva nessa nova cidade atrelada a inovação e
criatividade que busca novos modelos e serviços urbanos voltados a um ambiente
inovador. Com base nessa permissa o VLT está obedecendo a uma lógica de humanização
dos espaços e áreas urbanas onde esse novo modelo de desenvolvimento do tecido urbano
CONCLUSÃO
A partir dessa nova realidade tendo em vista que o processo de crescimento das
cidades capitaneia constantes transformações no espaço urbano, é valido destacar a
dimensão do processo de regeneração urbana permeia um conjunto de atividades
inovadoras, político-social com viés econômico com uma diversidade de fatores. A partir
desse artigo buscou-se comprovar que a implementação do Veículo Leve sobre Trilhos
VLT, como uma parte do pacote de ressignificação de grandes projetos urbanos.
Procurou-se relacionar os experimentos em diversos ambientes que ocorreram com a
requalificação dos espaços e suas relações com aspectos que permeiam a requalificação a
parti da lógica de novos modelos de transporte como vetor de inovação e promoção de
cultura e desenvolvimento econômico social.
No caso apresentado a hipótese não foi comprovada, fato que torna importante a
ampliação e o avanço dessa pesquisa no direcionamento de dados e materiais que possam
adjetivar o VLT como vetor de requalificação de áreas centrais degradas e instrumento de
inovação cultural e social. Não obstante é importante ressaltar as inúmeras vantagens
operacionais do bonde moderno em diversas interfaces necessário a compreensão desse
modelo de transporte como equalizador desse conjunto de atributos que redesenham a
cidade dentro dos critérios de escala humana e democratização dos espaços públicos.
Por fim esse estudo reforça os desafios acerca da mobilidade urbana e reconstitui debates
importantes na busca de melhoria pela qualidade de vida e ocupação de territórios
deflagrados de nossa cidade.