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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objeto de estudo a cidade de Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil a qual
sofre com transformações na mobilidade. O intuito foi analisar a mobilidade urbana do
município sob a ótica da espacialização da malha cicloviária utilizando como subsídio o uso
do geoprocessamento. Para tanto, foi adotada uma metodologia que dividiu a cidade em
cinco regiões de planejamento, denominadas de “centralidades”, concentradas no distrito
sede e em seu entorno imediato. Ou seja, polos de atração de viagens que concentram a
maioria dos serviços ofertados à população. Com o auxílio do software de geoprocessamento
QGIS, um programa gratuito, de código aberto e de fácil manipulação, foi realizado o
mapeamento da atual malha cicloviária e das propostas de integração entre elas. Se fez
fundamental, a revisão de literatura sobre mobilidade e transporte para aprofundar os
conhecimentos da Lei 12.587/2012 que instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana
e tornou obrigatória a elaboração dos Planos de Mobilidades para municípios com mais de
20.000 habitantes.
Cabo Frio está localizada na Região dos Lagos e é conhecido como um importante destino
turístico nacional, o que torna o turismo a principal atividade econômica do município e da
região. Nas últimas décadas, verificou-se um exponencial crescimento populacional. Em
1940 o município possuía 8.816 habitantes, em 2010 o número foi para 186.227 e em 2020
a estimativa de habitantes é de 230.378 (IBGE, 2014; IBGE, 2020;). Segundo o PMSB
(2013) “Cabo Frio recebe um grande fluxo de turistas e veranistas durante o verão, quando
a população chega a 600 mil habitantes, podendo atingir a marca de um milhão de pessoas
no réveillon”. Dados da SECTUR do ano de 2014, demonstram que durante a alta temporada
(dezembro a fevereiro) a população transitória da cidade chega a ser cinco vezes maior do
que a população residente (PMCF, 2019).
Destarte, a partir deste estudo nota-se que o transporte ativo, a pé e de bicicleta, é uma
alternativa para a mitigação desse problema. Essas modalidades já fazem parte da rotina dos
moradores da cidade, que geograficamente é apropriada para o uso desse tipo de transporte.
Seu relevo é plano e as centralidades são relativamente próximas, um forte potencial a ser
desenvolvido que poderia melhorar os deslocamentos e a qualidade de vida dos moradores.
Portanto, surgiu a necessidade de entender a atual malha cicloviária da cidade, de modo que
auxilie na compreensão da sua eficiência territorial por meio das centralidades. Dessa forma,
este artigo tem como objetivo analisar a Mobilidade Urbana de Cabo Frio a partir da
espacialização da malha cicloviária subsidiada por técnicas computacionais associadas às
informações geográficas. E assim, propor novos roteiros com o intuito de traçar estratégias
e políticas públicas para melhoria da circulação por bicicletas.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Cada vez mais presente e representando um símbolo de ascensão social, o uso desenfreado
do carro, aliado à baixa oferta e qualidade do transporte público contribuíram para a política
da suburbanização, que ficou conhecida como urban sprawl. O avanço das ocupações
territoriais em áreas não previamente planejadas gera a necessidade de locomoção em
maiores distâncias. Para tal, o governo tende a aumentar os incentivos fiscais à compra de
veículos à combustão. Quanto maior o número de veículos, menor é a utilização do
transporte de massa. Gerando, assim, uma clara dependência na utilização de combustíveis
fósseis, tanto para os veículos quanto para a infraestrutura viária. O ciclo é contínuo,
aumentando a necessidade de políticas que incentivem o transporte limpo e eficiente.
Diante da urgência do tema e da importância do debate, foi promulgada a Lei 12.587/12, que
instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana. Tornou-se obrigatório a elaboração do
plano para municípios com mais de 20 mil habitantes, objetivando a melhoria na circulação,
na mobilidade e nos espaços da cidade. Esta lei foi criada com o intuito de complementar a
Lei 10.257/01, do Estatuto da Cidade. Com versão original de 2007 e revisão de 2015, o
Caderno de Referência para Elaboração de Plano de Mobilidade Urbana, conhecido como
PlanMob, visa apresentar práticas, orientações e conceitos de planejamento, auxiliando os
municípios no desenvolvimento dos seus planos de mobilidade. No entanto, tal obrigação
não se concretizou devidamente como política pública. Maciel e Freitas (2014) afirmam que
1.054 municípios, aproximadamente 19% do país (IBGE, 2010), têm entre 20.001 a 50.000
habitantes e não são objetos de nenhuma pesquisa de mobilidade urbana. Em 2020, ao
diagnosticar que menos de 10% dos municípios haviam concluído a elaboração dos
PlanMob, foi criada a Lei 14.000/2020, que prorrogou a elaboração dos planos até a data
limite de abril de 2023 (MDR, 2020).
Planejar a mobilidade, segundo as diretrizes estabelecidas por lei, tem como prioridade
desenvolver o espaço público voltado ao pedestre e ao ciclista em detrimento ao transporte
motorizado individual, principalmente aos carros à combustão. Neste cenário a bicicleta se
sobressai como alternativa, apesar de ainda disputar espaço com veículos de maior porte.
Com apenas 4% da matriz modal do país (ANTP, 2014), a bicicleta tem seu uso mais
expressivo concentrado nas cidades de pequeno e médio porte. Esses municípios possuem
potenciais favoráveis ao uso da bicicleta. A introdução de ciclovias e ciclofaixas é vital para
essa dinâmica. Segundo as Normas de Projetos Rodoviários do Código de Trânsito
Brasileiro, há a necessidade de adequação e diagramação das redes cicloviárias em todos os
municípios a fim de proporcionar segurança ao ciclista.
Para cumprir a Lei nº 12.587/2012, a cidade de Cabo Frio concluiu o seu Plano de
Mobilidade Urbana e o efetivou por meio da Lei 3.034 de 2019. Neste, foram considerados
todos os atores presentes no espaço urbano e, ainda, as especificidades e particularidades do
município a fim de dirigir de forma eficiente e segura o desenvolvimento urbano. As ações
foram desenvolvidas com o intuito de identificar os objetivos da elaboração do Plano de
Mobilidade, as partes interessadas, os recursos necessários, suas restrições e premissas. A
fase de diagnóstico contemplou pesquisas de Origem e Destino (O/D), com finalidade de
entender o deslocamento dos usuários de transportes em geral: coletivo, público, privado e
não motorizado. Foram feitas, também, pesquisas volumétricas de fluxo, para compreender
os quantitativos de veículos que passam por determinadas vias. Por considerar as
características da região, fez-se ainda o levantamento volumétrico dos usuários do transporte
não motorizado, contabilizando o fluxo de bicicleta nos locais mais movimentados da
cidade. Por se tratar de um município com característica turística marcante, foram realizados
levantamentos durante os períodos de sazonalidade turística a fim de considerar a influência
deste público no sistema de transporte. Considerando como fundamental a participação da
sociedade civil, na fase de diagnóstico cumpriu-se ainda calendários e reuniões nas definidas
centralidades, ou seja, regiões consideradas polos de atração. Nesse momento, a população
organizada pôde relatar as problemáticas e as potencialidades dos bairros enquadrados na
centralidade em questão. Levando em consideração todos os relatos, o corpo técnico de
elaboração do plano realizou diversas análises de viabilidade e de adequação dos
requerimentos e das necessidades levantadas aos padrões e normas técnicas. Com a mesma
metodologia, ocorreram também as reuniões técnicas com instituições, associações e
segmentos da sociedade civil organizada.
Em sua redação final, a Lei Municipal 3.034 de 2019 contou com um diagnóstico amplo e a
simulação de cenários prováveis, além de considerar o protagonismo regional que o
município possui na Região dos Lagos do estado do Rio de Janeiro. Ademais, a referida lei
instituiu que o PlanMob tem por finalidade orientar as ações no que se refere aos modos,
serviços e infraestrutura viária e de transporte que garantam os deslocamentos de pessoas e
bens em seu território, além da gestão e operação do sistema de mobilidade com vistas a
atender as necessidades atuais e futuras da população. Nesse ínterim, o Plano de Mobilidade
Urbana de Cabo Frio considera as diretrizes da PNMU e está dividido em oito produtos:
Acessibilidade, Planejamento Cicloviário, Transporte Público Coletivo, Transporte
Motorizado Individual, Mobilidade e Turismo, Infraestrutura e Planejamento Urbano,
Educação para o Trânsito e Transporte de Cargas, com diretrizes e propostas bem definidas
e divididas em curto, médio e longo prazo.
2.3 Geoprocessamento
3 METODOLOGIA
O município de Cabo Frio, localizado na Região dos Lagos no estado do Rio de Janeiro, foi
escolhido como objeto de estudo desta pesquisa por possuir características em potencial
favorável ao uso do transporte por bicicletas. Segundo o IBGE, Cabo Frio possui uma
extensão territorial de 410,418 km² e conta com a população estimada de 230.378 mil
habitantes para o ano de 2020, por este motivo a cidade é considerada de médio porte. Sua
topografia é formada com predomínio de grandes planícies litorâneas com poucos morros.
Este é o cenário característico da macro região das Baixadas Litorâneas, um vasto território
entre o mar e as montanhas que corta boa parte do estado do Rio de Janeiro (CEPERJ, 2017).
A cidade possui um clima tropical litorâneo, com características quente e úmida.
Apesar da extensa área territorial, Cabo Frio é dividido em dois distritos, sede e Tamoios,
separados por 25 quilômetros de área rural. O primeiro distrito (sede) tem aproximadamente
10 km de diâmetro e cerca de 150 mil habitantes, é o principal polo gerador de viagens da
região pois concentra a maior parte dos comércios, serviços e empregos. Este estudo tem
como principal objetivo mapear a malha cicloviária atual e apresentar uma proposta que
integre a existente. Para isso, foi realizado o estudo do primeiro distrito por ser considerada
uma das áreas de maior atração de viagens no município.
O recorte espacial desse trabalho é o município de Cabo Frio e mais especificamente a sede
e seu entorno imediato no primeiro distrito. Como já demonstrado nos parágrafos anteriores,
é considerado um polo da Região dos Lagos que enfrenta grandes desafios no que se refere
a mobilidade urbana. A seguir, serão descritos os procedimentos realizados com o uso do
geoprocessamento. Para este trabalho optou-se por utilizar o software QGIS na versão 3.8.3.
Para a elaboração deste trabalho foram utilizados dados espaciais no formato vetorial
(shapefiles) obtidos de forma livre no sítio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que representaram as bases dos limites municipais na escala de 1:250.000. Utilizou-
se dados da Secretaria de Mobilidade Urbana de Cabo Frio para a análise da malha
cicloviária existente. Além disso, utilizou-se o complemento dentro do ambiente do QGIS,
chamado de QuickMapServices, que fornece bases vetoriais e imagens de satélites de
diversas instituições e regiões do mundo. Optou-se pelas bases vetoriais do Waze, pois é de
fácil manipulação e atende as necessidades de representação dos objetos geográficos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das análises feitas com o auxílio do SIG, foi elaborada uma tabela relacionando a
malha viária existente e o quantitativo proposto em projeto para a integração do sistema
cicloviário. A partir dessas análises foi possível encontrar os quantitativos apresentados na
Tabela 2.
Ao analisar os dados relacionados na Tabela 2 foi possível observar que, a malha cicloviária
existente incluindo as ciclorrotas, é de aproximadamente 37 km de extensão. Verificou-se
também que, para formar uma malha cicloviária conectada no município, além da malha
existente seria preciso apenas estruturar um sistema de cerca de 84 km, com percursos
cicláveis, sejam eles ciclovias, ciclofaixas ou ciclorrotas, totalizando 122 km de extensão. A
proposta deste trabalho tem como objetivo integrar e reestruturar a infraestrutura da malha
cicloviária existente e criar novos traçados que atendam as preferências dos moradores e
usuários do transporte por bicicleta. Com a proposta, após a reestruturação da infraestrutura
existente e adição de novas vias cicláveis além do mínimo necessário, o município possuirá
uma malha cicloviária com aproximadamente 122 quilômetros de extensão. Tomou-se o
cuidado de traçar novas rotas com base na necessidade de integrar as centralidades e nos
desejos e na utilização da população a partir dos dados coletados para o diagnóstico do Plano
de Mobilidade Urbana do município.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível identificar que muitos desafios relacionados à mobilidade são causados pelo
excesso de investimentos em ampliação e melhorias no sistema viário que,
consequentemente, estimulam a utilização dos veículos motorizados e elevam a sua
quantidade em circulação. Estimular o transporte coletivo e o transporte ativo não é só um
objetivo para a mobilidade sustentável, é também alternativa viável econômica e
ambientalmente para a redução da quantidade de veículos motorizados nos centros urbanos.
Em Cabo Frio, a utilização da bicicleta pode ser vista como uma solução para o transporte
urbano. Para isso, alguns fatores que contribuem significativamente para a adoção da
bicicleta como meio de locomoção na cidade de Cabo Frio precisam ser levados em
consideração: a topografia, o clima e a renda da população. Segundo o IBGE (2015), a
maioria da população possuía uma renda média de 2,1 salários mínimos. A utilização da
bicicleta para este público em específico é de extrema importância, por ser um meio de
transporte com baixo custo de implantação e de manutenção. O clima da cidade é favorável
para a utilização da bicicleta como principal veículo de locomoção, de forma que são poucos
os dias quentes ou chuvosos que atrapalham o deslocamento. A topografia com predomínio
de planícies e poucas elevações contribui ainda mais para a utilização da bicicleta como meio
de transporte. Outro fator importante é que, por ser uma cidade de médio porte e por não
possuir longas extensões, a implantação de malhas cicloviárias se torna viável, pois permite
o tráfego dos usuários entre as cinco centralidades do primeiro distrito de forma confortável.
A partir deste estudo foi possível constatar que, a atual malha cicloviária não é eficiente e
integradora aos polos de atratividade. Dessa forma, é fundamental que a atual malha
cicloviária passe por uma revisão de infraestrutura e obras para interligar a rede. Para isso, a
definição dos traçados do projeto é relevante, uma vez que auxilia na determinação das novas
rotas integradoras com base na geografia local e preferências do usuário. Foi possível
compreender também que, o Plano de Mobilidade de Cabo Frio considerou a bicicleta como
transporte fundamental para a integração com os outros modais e como alternativa viável
para a melhoria da mobilidade no município. A análise forneceu ainda dados importantes
para a tomada de decisão. Com o auxílio do geoprocessamento foi possível perceber que a
maior parte das ciclovias já existem, no entanto é necessário que se promova a integração
entre as vias e expanda o sistema para os bairros periféricos. O quantitativo existente
atualmente é de aproximadamente 37 km de extensão. Com as alterações propostas o
município pode chegar a uma malha cicloviária de aproximadamente 120 km de extensão,
entre ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas.
Por fim, considera-se que este estudo teve relevância para entender o contexto atual de Cabo
Frio e para mostrar como é possível adotar estratégias e tomar decisões com base nas
características geográficas do município. Recomenda-se, a aplicação desta metodologia no
distrito de Tamoios e em outras cidades como forma de analisar as características da malha
cicloviária e as preferências dos usuários, e ainda incentivar a utilização das informações
espaciais por intermédio do SIG para a tomada de decisão e planejamento a curto, médio e
longo prazo.
6 REFERÊNCIAS
IPEA (2016). “Mobilidade Urbana: Avanços, Desafios E Perspectivas”. Brasília, DF, 2016.
IBGE (2014) Nota Técnica. Estimativas da população dos municípios brasileiros com data
de referência em 1º de julho de 2014. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/pdf/analise_estimativas_2014.pdf>.
Acesso em: 14 Abr. 2020.
IBGE (2020) Censo Demográfico 1991, 2000 e 2010, Contagem Populacional 1996 e 2007.
Disponível em: <http://downloads.ibge.gov.br/downloads_estatisticas.html>. Acesso em:
22 Jun 2020
MDR (2020) Levantamento sobre a situação dos Planos de Mobilidade Urbana no Brasil.
Brasília, DF. Disponível em:
<https://www.mdr.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4398:levanta
mentosobreasituacaodosplanosdemobilidadeurbananosmunicipiosbrasileiros&catid=233>
Acesso em: 20 Jun. 2020.