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Título original:
Building a second brain
© 2022, Tiago Forte
ISBN 978-989-740-216-6
À Lauren, a minha companheira, a minha musa e a minha
grande inspiração em tudo o que faço.
Introdução
A promessa de um
Segundo Cérebro
* A área da GCP emergiu nos anos 1990 para ajudar os estudantes universitários a lidarem com a
enorme quantidade de informação a que repentinamente passaram a ter acesso através das bibliotecas
ligadas à Internet. É a equivalente da Gestão de Conhecimento, que estuda a forma como as empresas
e outras organizações fazem uso do seu conhecimento.
** No original: PKM – personal knowledge management. [N. da T.]
***Esta metáfora foi usada pela primeira vez por Steve Jobs para descrever o potencial futuro do
computador pessoal.
**** Outros termos populares para tal sistema incluem: zettelkasten (que significa “arquivo” em
alemão e que foi cunhado pelo influente sociólogo Niklas Luhmann), memex (uma palavra criada
pelo inventor norte-americano Vannevar Bush) e digital garden (inventado pela popular criativa
digital Anne-Laure Le Cunff).
Capítulo 1
uma parte importante? Isto é um indício de que uma ferramenta externa se tornou uma extensão da
sua mente. Num estudo de 2004, Angelo Maravita e Atsushi Iriki descobriram que, quando os
macacos e os seres humanos utilizam de modo consistente uma ferramenta para ampliar o seu
alcance, como usar um ancinho para alcançar um objeto, determinadas redes neurais do cérebro
alteram o seu “mapa” para incluir a nova ferramenta. Esta fascinante descoberta reforça a ideia de
que as ferramentas externas podem e, muitas vezes, tornam-se de facto uma extensão natural das
nossas mentes.
******* Avanços e descobertas recentes na área da “cognição estendida” vieram esclarecer como
“pensar fora do cérebro” pode ser prático e poderoso. Este livro não se centra na ciência, mas, para
uma excelente introdução à cognição estendida, recomendo a obra The Extended Mind de Annie
Murphy Paul.
******** Vannevar Bush escreveu sobre uma “estação de trabalho de estudiosos” denominada
“Memex”, “um dispositivo no qual o indivíduo armazena todos os seus livros, registos e
comunicações, mecanizado, de forma a poder ser consultado com enorme rapidez e flexibilidade. É
um suplemento pessoal e alargado da sua memória”.
Capítulo 3
Como funciona um
Segundo Cérebro
Estes são os passos para, desde logo, criar o seu Segundo Cérebro, mas
também para fazer uso dele para progredir. Cada um deles representa um
princípio intemporal encontrado ao longo da história da humanidade, desde
as primeiras pinturas rupestres até às oficinas de artesanato da Renascença e
aos domínios modernos e inovadores. São flexíveis e agnósticos,
adequando-se a qualquer profissão, função ou carreira, e a qualquer método
e plataforma de notas. Aposto, até, que já os executa de alguma forma, quer
tenha ou não consciência disso.
CODE é um mapa para navegar pelos intermináveis fluxos de
informação com que, agora, somos confrontados diariamente. É uma
abordagem atual para a criação de um livro de notas, adaptada às
necessidades da Era da Informação.
Da mesma forma que possuímos um código genético que determina a
nossa altura e a cor dos nossos olhos, temos também um código criativo que
está ligado à nossa imaginação. Este molda a forma como pensamos e como
interagimos com o mundo e está refletido no código de software que
executa as aplicações que usamos para gerir a informação. Além disso, foi
um código secreto durante grande parte da história – agora é chegada a hora
de revelar como funciona.****
Vejamos uma breve apresentação dos quatro passos do Método CODE –
Capturar, Organizar, Destilar e Expressar – para, depois, os analisarmos em
pormenor nos capítulos seguintes.
Assim que tiver começado a registar as notas com as ideias que lhe
dizem algo, acabará por sentir necessidade de as organizar.
É tentador criar, previamente, uma hierarquia perfeita de pastas, para
guardar cada nota que possa querer capturar. Mesmo que tal fosse possível,
essa abordagem seria incrivelmente morosa e exigiria demasiado esforço,
afastando-o daquilo que é importante para si atualmente.
A maioria das pessoas organiza a informação por tema, tal como no
sistema de classificação decimal de Dewey, que, provavelmente, já viu
numa biblioteca – por exemplo, pode encontrar um livro numa categoria de
tema ampla como “Arquitetura”, “Negócios”, “História” ou “Geologia”.
No que concerne às notas digitais, podemos usar formas de organização
muito mais simples e flexíveis. Uma vez que as nossas prioridades e
objetivos podem alterar sem aviso prévio – o que provavelmente acontecerá
–, devemos evitar métodos de organização extremamente rígidos e
prescritivos. A melhor maneira de organizar as suas notas é organizar para
a ação, de acordo com os projetos em que está a trabalhar no momento.
Considere as novas informações em termos da sua utilidade, questionando:
“De que forma é que isto me vai ajudar a avançar num dos meus projetos
atuais?”
Surpreendentemente, quando se centra na ação, consegue simplificar e
otimizar a enorme quantidade de informação que o rodeia. São
relativamente poucas as coisas que são acionáveis e relevantes num
determinado momento, o que significa que este é um ótimo filtro para
separar o que é importante do que deve ser ignorado.
Organizar para pôr em prática proporciona-lhe uma forte sensação de
clareza, pois sabe que tudo o que está a guardar tem um propósito, que tudo
se enquadra com os seus objetivos e prioridades. Em vez de um obstáculo, a
organização torna-se um coadjuvante da sua produtividade.
* Em inglês, o nome atribuído a este viés cognitivo é “recency bias”. [N. da T.]
** Muitos indivíduos que seguem o método CODE continuam a utilizar papel para as suas notas.
Muitos verificam, até, que tiram mais notas em papel por terem uma forma de as capturar
digitalmente e as guardar num local seguro. Não é uma questão de certo ou errado, mas de escolher a
ferramenta adequada à tarefa. Este livro centra-se essencialmente no potencial das notas digitais.
*** A maioria das aplicações de notas garante formas de exportar as suas informações em formatos
padrão, que podem, depois, ser importadas para outras aplicações. Pessoalmente, mudei de
plataformas duas vezes (do Microsoft Word para Google Docs e, mais tarde, para Evernote) e espero
continuar a fazê-lo regularmente, à medida que a tecnologia avança.
**** Numa espantosa coincidência, pesquisas recentes realizadas pelos neurofisiologistas May-Britt
temos em número suficiente e de que aquela que já possuímos não é suficientemente boa – está na
origem da insatisfação que muitos sentem relativamente ao modo como passam o seu tempo online.
Em vez de tentar encontrar o “melhor” conteúdo, recomendo que mude o seu foco para a ação, o que
é muito mais satisfatório.
*******Outros sinónimos do ato de se exprimir incluem publicar, falar, apresentar, desempenhar,
produzir, escrever, desenhar, interpretar, criticar ou traduzir.
Capítulo 4
Pense no seu atleta, músico ou ator favorito. Por trás das suas personas
públicas, há um processo que seguem para transformar regularmente novas
ideias em produtos criativos. O mesmo se aplica a inventores, engenheiros e
líderes eficazes. A inovação e o impacto não ocorrem por acidente ou acaso.
A criatividade depende de um processo criativo.
Criar um banco de conhecimentos: como gerar juros
acumulados dos seus pensamentos
Note que algumas destas perguntas são abstratas e outras são concretas.
Algumas expressam anseios profundos, enquanto outras refletem interesses
mais espontâneos. Muitas são perguntas sobre como viver uma vida melhor,
enquanto algumas centram-se em como ter sucesso profissional. Neste
exercício é fundamental que as perguntas sejam abertas, que não tenham
necessariamente uma resposta única, e que encontre questões que suscitam
um estado de admiração e curiosidade sobre o mundo maravilhoso que
habitamos.
O poder dos seus problemas favoritos reside no facto de se manterem
bastante consistentes ao longo do tempo. O enquadramento exato de cada
pergunta pode modificar, mas, mesmo quando mudamos de projetos,
empregos, relacionamentos e carreiras, os nossos problemas favoritos
tendem a seguir-nos. Recomendo que pergunte à sua família ou a amigos de
infância quais eram as suas obsessões enquanto crianças. Muito
provavelmente, esses mesmos interesses ainda atiçam a sua imaginação de
adulto – o que significa que qualquer conteúdo que recolha relacionado com
esses interesses, continuará, possivelmente, a ser relevante no futuro.
Quando era criança, tinha uma paixão por legos – os blocos modulares
adorados por gerações de crianças – e os meus pais repararam que eu não
brincava com eles como os outros miúdos. Passava o tempo a organizar e a
reorganizar as peças. Lembro-me de estar totalmente fascinado com o
problema de como criar ordem a partir do caos de milhares de peças de
todas as formas e tamanhos. Inventei novos esquemas de organização – por
cor, por tamanho, por tema – quando fiquei obcecado com a seguinte ideia:
se conseguisse encontrar o sistema certo, finalmente conseguiria construir a
minha obra-prima, uma nave espacial da LEGO como as que via nos filmes
de ficção científica que adorava.
Essa mesma questão – Como é que a criatividade pode emergir do caos?
– continua a mover-me até hoje. Porém, agora o enquadramento é a
organização da informação digital, em vez dos legos. Dedicar-me a esta
pergunta ensinou-me inúmeras coisas ao longo dos anos, ao longo de muitas
fases da minha vida. O objetivo não é encontrar uma resposta definitiva de
uma vez por todas, mas sim usar a questão como uma Estrela Polar para a
minha aprendizagem.
Agora, tire um tempo para escrever alguns dos seus problemas favoritos.
Eis algumas recomendações para o orientar:
Reparo frequentemente que muitas das notas que as pessoas tiram são
sobre ideias que já conhecem, com as quais já concordam, ou nas quais
poderiam ter pensado. Enquanto seres humanos, temos uma tendência
natural para procurar evidências que corroborem aquilo em que já
acreditamos, um fenómeno muito estudado, conhecido como “viés de
confirmação”23.
Porém, um Segundo Cérebro não é para isso. O reconhecido teórico da
informação Claude Shannon, cujas descobertas prepararam caminho para a
tecnologia moderna, tinha uma definição simples de “informação”: aquela
que o surpreende24. Se não ficar surpreendido, já a conhecia de alguma
forma. Então, porquê anotá-la? A surpresa é um excelente barómetro para a
informação que não se enquadra inequivocamente na nossa compreensão
atual, o que significa que tem o potencial de mudar a forma como
pensamos.
Por vezes, encontramos uma ideia que não é inspiradora, pessoal, nem
obviamente útil, mas que tem algo de surpreendente. Pode não conseguir
perceber porquê, mas essa ideia entra em conflito com o seu ponto de vista
atual de um modo que leva o seu cérebro a despertar e a prestar atenção.
Essas são as ideias que deve capturar.
O seu Segundo Cérebro não deve ser apenas mais uma forma de
confirmar aquilo que já sabe. Já estamos rodeados de algoritmos que nos
fornecem apenas aquilo em que acreditamos e redes sociais que reforçam
continuamente aquilo em que já pensamos.
A nossa capacidade de capturar ideias de qualquer parte leva-nos numa
direção diferente: ao guardarmos conceitos que podem contradizer-se entre
si e que não favorecem necessariamente aquilo em que já acreditamos,
podemos treinar-nos para acolher informação de diferentes fontes, em vez
de tirarmos conclusões precipitadas. Ao jogar com as ideias – curvando-as,
alongando-as e revolvendo-as – ficamos menos ligados à sua apresentação
original e podemos colher determinados aspetos ou elementos para utilizar
no nosso próprio trabalho.
Então, se aquilo que está a capturar não altera a sua forma de pensar,
qual é o objetivo?
Agora que sabe que tipos de materiais deve guardar no seu Segundo
Cérebro, é hora de ir ao que interessa: como é que funciona a captura
exatamente?
Imaginemos que, enquanto lê aquele artigo de marketing, decide que um
determinado conselho é bastante relevante para os seus planos. A maioria
das aplicações para tirar notas (introduzidas no Capítulo 2 e tratadas em
detalhe no Guia de Recursos do Segundo Cérebro, em
Buildingasecondbrain.com/resources) tem funcionalidades integradas que
lhe permitem capturar excertos de fontes externas – e pode sempre
simplesmente cortar e colar um texto diretamente numa nova nota. Há,
ainda, uma série de “ferramentas de captura” concebidas para tornar a
recolha de conteúdos digitais fácil e, até, divertida.
As opções mais comuns incluem:
localizar uma versão arquivada, usando o Wayback Machine, um projeto da Internet Archive que
mantém um arquivo dos sites: https://archive.org/web/.
**** O mundo do software está em constante mudança, por isso, criei um guia de recursos onde
Gain: The Advantage of Thinking Out Loud de Daniel Reisberg, reside na “vantagem funcional de
exteriorizar os pensamentos” – falando ou escrevendo, por exemplo –, que “possibilita novas
descobertas que poderiam não ter sido alcançadas de qualquer outra forma”. Se alguma vez já teve de
escrever uma palavra para se lembrar como é soletrada, já experienciou isto.
Capítulo 5
Com o sistema PARA, cada informação que deseja guardar pode ser
inserida numa de quatro categorias:
Os arquivos são uma parte importante do PARA, uma vez que permitem
colocar uma pasta em “arquivo morto”, para que não obstrua o seu espaço
de trabalho, mantendo-a armazenada para a eventualidade de precisar dela
novamente. Contrariamente ao que acontece em sua casa ou na sua
garagem, manter conteúdos digitais para sempre não abarca prejuízos, desde
que isso não o distraia no seu dia a dia. Se precisar de aceder à informação
arquivada no futuro – por exemplo, se assumir um projeto semelhante a
outro que já concluiu –, pode fazê-lo em segundos.
* Para é um termo grego que significa “lado a lado”, como em “paralelo”. Esta conveniente definição
recorda-nos que o nosso Segundo Cérebro trabalha “lado a lado” com o nosso cérebro biológico.
**Como terá notado, sou grande fã de esquemas de quatro letras. Os investigadores chamaram-lhe o
“Mágico Número 4”, porque é o número mais elevado que conseguimos contar imediatamente e
manter na nossa mente sem qualquer esforço extra.
*** Vou usar o termo “pasta” (folder) para referir a unidade principal de organização utilizada pela
maioria das aplicações de notas; alguns softwares usam, em alternativas, etiquetas (tags), o que é
igualmente funcional.
Capítulo 6
O fator que irá permitir que as notas sobrevivam à viagem até ao futuro
é a sua detetabilidade – com que facilidade se pode descobrir o que contêm
e aceder a pontos específicos, úteis no imediato.
A detetabilidade* é uma ideia da ciência da informação que se refere ao
“nível a que um conteúdo, ou informação, pode ser encontrado na pesquisa
de um ficheiro, base de dados ou outro sistema de informação”**. Os
bibliotecários têm em consideração a detetabilidade quando decidem sobre
a disposição dos livros nas prateleiras. Os web designers têm-na em mente
quando criam menus para os sites que visita todos os dias. As redes sociais
esforçam-se bastante para que os melhores conteúdos das suas plataformas
sejam tão detetáveis quanto possível.
A detetabilidade é o elemento que mais frequentemente está em falta nas
notas que tiramos. É fácil guardar imensos conteúdos, mas dar-lhes uma
forma que seja acessível no futuro é outra questão. Para promover a
detetabilidade das notas, podemos recorrer a um hábito simples, que
provavelmente usava na escola: destacar os pontos mais importantes. O
destaque é algo que todos compreendem, não requer praticamente nenhum
esforço adicional e funciona em qualquer aplicação que possa utilizar.
Imagine o seu eu futuro como um cliente exigente. Certamente, será
alguém impaciente e muito ocupado, sem tempo para esquadrinhar cada
página de detalhes só para encontrar as pérolas escondidas. Compete-lhe, a
si, persuadi-lo do valor das notas que está a tirar agora. O seu eu futuro
poderá ter apenas uns minutos antes do início de uma reunião para procurar
nas notas a referência de que precisa. Neste sentido, cada nota é como um
produto que o leitor cria para benefício desse cliente futuro. Se ele não o
comprar – não considerar que vale a pena revisitar notas do passado –, todo
o valor do trabalho que está a realizar agora será perdido.
Isto aponta para um paradoxo que muitas pessoas experienciam ao
tirarem notas: quanto mais notas reúnem, mais cresce o volume de
informação, mais tempo e esforço são necessários para rever tudo e menos
tempo têm para o fazer. Assim, paradoxalmente, quanto mais notas reúnem,
menos detetáveis estas se tornam! Tendencialmente, esta tomada de
consciência ou desencoraja os indivíduos a tirarem quaisquer notas logo à
partida, ou, em alternativa, leva-os a mudar continuamente de ferramenta de
notas sempre que o volume de informação se torna avassalador. E, assim,
deixam escapar a maioria dos benefícios dos conhecimentos adquiridos ao
longo do tempo.
O que é que faz quando comunica com alguém muito ocupado, muito
impaciente e muito importante? Destila a sua mensagem, apresentando os
aspetos e medidas principais. Quando envia um e-mail ao seu chefe, não
camufla o seu pedido num texto extremamente extenso. Pelo contrário,
identifica as questões mais urgentes que precisa de ver respondidas logo no
início do e-mail. Quando faz uma apresentação à direção da sua empresa,
não fala monotonamente durante horas. Ao invés, deixa de lado pormenores
desnecessários e vai direto ao ponto.
A destilação é o elemento central da comunicação eficaz. Quanto mais
importante for que o seu público ouça e aja sobre a sua mensagem, mais
destilada esta tem de ser. Os detalhes e subtilezas podem aparecer mais
tarde, quando tiver captado a atenção da sua audiência.
E se o seu eu futuro fosse tão importante como estes VIP? Qual seria a
forma mais eficaz e concisa de comunicar com ele através do tempo?
• Um artigo da Wikipédia
• Uma publicação de um blogue
• Uma entrevista de um podcast
• Apontamentos de uma reunião
Artigos da Wikipédia
Artigos online
Podcasts e áudio
Tal como muitas pessoas, passo uma grande percentagem do meu tempo
ao telefone e em reuniões. Uma vez que quero tirar o máximo proveito
desse tempo, durante a maioria das reuniões, tiro notas sobre novas ideias,
sugestões, feedback e medidas que possam surgir.
Embora esta seja uma prática comum, muitas vezes não sabemos muito
bem o que fazer com as notas. Normalmente, estas são confusas, com os
itens de ação ocultos entre comentários aleatórios, pelo que utilizo o
Resumo Progressivo para sintetizar as minhas notas depois dos telefonemas,
garantindo que extraio cada pedacinho de valor delas.
Capturei a nota apresentada em seguida durante uma conversa com um
amigo que tem experiência na elaboração de estúdios de gravação.
Estávamos a transformar a garagem num estúdio e, por isso, quis ouvir a
sua opinião. Atenciosamente, ele veio cá a casa e fez várias recomendações,
cujos pontos principais fui anotando na aplicação, à medida que ele falava.
Alguns dias depois, passei, por acaso, pela loja de ferragens a caminho
de casa e percebi que podia dar lá um salto e comprar alguns dos artigos que
o meu amigo recomendara. Peguei no telemóvel, procurei “estúdio” e
encontrei esta nota. Ainda no carro, levei poucos minutos a formatar a
negrito os itens que teria de comprar, e que estavam entre outras sugestões
que ele fizera.
Eis como ficou:
Depois, copiei apenas os itens a negrito que iria comprar e colei numa
lista separada abaixo da nota original e, de repente, tinha uma útil lista de
compras que poderia consultar enquanto andava pela loja.
Este exemplo ilustra como resumir progressivamente, mesmo as notas
das nossas conversas, pode ser extremamente útil. Muitas vezes, os seus
próprios pensamentos precisam de alguma destilação antes de conseguir
agir sobre eles.
O segredo de Picasso: desbastar o bom para revelar o
excelente
pensamento (seja em palavras, desenhos, imagens ou áudio), que capturo inicialmente nas minhas
notas. São como o terreno sobre o qual o meu conhecimento será construído. A camada 2 é o
“petróleo” (como em “Encontrei petróleo!”), apropriadamente representado pelo texto preto e a
negrito. A camada 3 é “ouro”, o que é ainda mais valioso, e brilha no amarelo do destaque utilizado
em muitas aplicações. Na camada 4 estão as “pedras preciosas”, os achados mais raros e reveladores,
que destilei pelas minhas próprias palavras, na forma de um resumo executivo.
**** No seu livro A New Method of Making Common-Place-Books, John Locke também aconselhou a
“Extrair apenas o que é de Eleição e Excelente, em vez da Matéria em si, ou então a Elegância da
Expressão, e não o que se segue”.
***** Enquanto seres humanos, somos extremamente sensíveis à forma como a informação é
apresentada. No web design, uma ligeira mudança na cor de um botão ou um título superficialmente
reformulado podem, facilmente, ter um enorme impacto no número de visitantes que ali clicam.
Imagine se déssemos tanta atenção à forma como a informação nos é apresentada nos nossos próprios
dispositivos como damos à que é veiculada na Internet. Mesmo algo tão simples como um título, uma
mudança de parágrafo, ou uma frase realçada, pode facilitar de forma exponencial a apreensão de um
texto.
****** A destilação também se aplica a outros meios de comunicação, como imagens, áudios e vídeos,
mas é bastante diferente e não se insere no âmbito deste livro.
******* Numa aula sobre realização e produção de documentários na plataforma educativa
MasterClass, Burns fez sugestões para monitorizar o material relacionado com um projeto: “Há um
artigo no jornal que se relaciona com o seu projeto? Corte-o e guarde-o. Fez um rascunho de uma
narrativa ou diálogo? Imprima-o e guarde-o. Pensou numa ótima pergunta para colocar ao primeiro
entrevistado? Aponte-a num papel e guarde-o também.”
******** Este princípio é denominado de estigmergia – deixar “marcas” no ambiente que facilitam os
esforços do futuro eu. É uma estratégia usada pelas colónias de formigas para encontrarem comida.
Se uma formiga encontrar uma fonte de alimento, leva um pouco de volta para o formigueiro,
libertando uma feromona especial ao longo do caminho. Assim, as outras formigas podem seguir este
rasto para encontrar comida para si mesmas, permitindo que um sem-número de formigas
rapidamente encontre e recolha novas fontes de alimento.
********* Como Sönke Ahrens refere no seu livro How to Take Smart Notes, este é o paradoxo
primordial no centro da escrita: tem de fazer a pesquisa antes de saber sobre o que é que vai escrever.
Nas suas palavras: “Temos de ler com uma caneta na mão, desenvolver ideias no papel e construir um
fundo crescente de pensamentos exteriorizados. Não vamos ser orientados por um plano concebido às
cegas e retirado do nosso cérebro falível, mas pelo nosso interesse, curiosidade e intuição, que são
formados e informados pelo trabalho real de leitura, pensamento, discussão, escrita e de
desenvolvimento de ideias – e que é algo que cresce continuamente e que reflete externamente o
nosso conhecimento e compreensão.”
Capítulo 7
Expressar – mostrar
o seu trabalho
1. Não sair de casa sem um caderno, pedaços de papel, algo com que
escrever.
2. Não andar pelo mundo sem os olhos e os ouvidos abertos e
concentrados.
3. Não arranjar desculpas sobre o que não se tem ou o que faria se o
tivesse. Usar essa energia para “encontrar uma forma, criar uma
forma”.
• Um programa da conferência
• Uma lista de sessões temáticas interessantes
• Uma lista de verificação para transmitir as sessões principais
• Um e-mail para anunciar a conferência
• Um convite para invitar possíveis oradores
• Um site da conferência
1. Procura
2. Navegação
3. Etiquetas
4. Serendipidade
Tudo é um remix
* As peças intermédias são representadas pela sigla PI, uma feliz e apropriada coincidência, pois estas
são, com certeza, Propriedade Intelectual sua. Criou-as, são suas, e tem todo o direito de as usar
repetidamente em qualquer projeto futuro.
** Barbara Tversky, professora de psicologia e educação no Teachers College em Nova Iorque, refere
que “somos muito melhores e mais experientes no pensamento espacial do que no pensamento
abstrato. Este último pode ser difícil por si só, mas, felizmente, muitas vezes pode ser representado
no pensamento espacial, de uma ou outra forma. Assim, o pensamento espacial pode substituir e
apoiar o pensamento abstrato”.
*** As etiquetas na gestão do conhecimento pessoal são um tema por si só. Embora não sejam
necessárias numa fase inicial, escrevi um capítulo bónus sobre o assunto, que pode descarregar em
buildingasecondbrain.com/bonuschapter.
**** Uma das minhas regras gerais favoritas é: “Dar início apenas a projetos que já estão 80%
realizados.” Pode parecer paradoxal, mas comprometer-me a terminar projetos apenas quando já
executei grande parte do trabalho de captura, organização e destilação dos materiais relevantes
significa que nunca corro o risco de começar algo que posso não acabar.
Capítulo 8
Quando retomar este trabalho, quer seja no dia seguinte ou meses mais
tarde, terá um abundante conjunto de pontos de partida e passos seguintes à
sua espera. Sinto, frequentemente, que o meu subconsciente continua a
trabalhar em segundo plano, para me ajudar a desenvolver esses
pensamentos. Quando volto ao projeto, posso combinar os resultados do
meu pensamento passado com o poder de uma noite bem dormida,
conseguindo um avanço criativo.
Levando esta estratégia um pouco mais além, há uma outra coisa que
pode fazer quando dá o dia de trabalho por terminado: enviar o seu
rascunho, ou teste beta, ou proposta, para obter feedback. Partilhe esta Peça
Intermédia com um amigo, familiar, colega ou colaborador; diga-lhe que se
trata de um trabalho em curso e peça-lhe que lhe envie as suas
considerações sobre ele. Quando voltar a debruçar-se sobre isto, terá as
ideias e sugestões dele para acrescentar ao material com que está a
trabalhar.
Como pode saber em que direção levar o seu pensamento sem feedback
de clientes, colegas, colaboradores ou amigos? E como é que pode obter
esse feedback sem lhes mostrar algo concreto? Este é o problema do ovo e
da galinha aplicado à criatividade: não sabe o que deve criar, mas não
consegue descobrir o que as pessoas querem até criar algo. Reduzir o
escopo é uma forma de resolver este paradoxo e apalpar terreno com algo
pequeno e concreto, protegendo simultaneamente as arestas frágeis e
provisórias do seu trabalho.
A divergência e a convergência não são uma trajetória linear, mas uma
espiral: assim que completa uma ronda de convergência, pode levar aquilo
que aprendeu de volta para um novo ciclo de divergência. Alterne,
caminhando para trás e para a frente, repetindo de cada vez, até ter algo que
possa considerar “feito” ou “completo” e partilhar de forma mais ampla.
* Para mais informações sobre o que aprendi com o meu pai relativamente ao processo criativo,
realizei um curto documentário sobre a sua vida e obra, denominado Wayne Lacson Forte: On My
Way to Me.
** Aprendi, pela primeira vez, sobre o modelo de divergência e convergência no âmbito do “Design
Thinking”, uma abordagem à resolução criativa de problemas que emergiu na Stanford Design
School e que foi popularizada, nos anos 1980 e 1990, pela consultora em inovação IDEO.
*** Se a sua aplicação para tirar notas sincronizar com o computador, significa também que pode
desligar-se da Internet e continuar a fazer progressos, uma vez que tem todas as notas guardadas no
seu disco rígido.
**** Uma forma de pensar nisto é “terminar com o início em mente”, uma engenhosa reformulação
do conselho clássico do autor Stephen Covey para “começar com o final em mente”.
Capítulo 9
• Reparar que uma ideia que tem em mente pode ser valiosa e
registá-la em vez de pensar: “Oh, não é nada.”
• Reparar quando uma ideia sobre a qual está a ler é significativa
para si e tirar uns segundos extra para a realçar.
• Reparar que uma nota pode ter um título mais adequado – e mudá-
lo para que o seu eu futuro a encontre mais facilmente.
• Reparar que pode mover (ou criar um link em) uma nota para
outro projeto ou área onde será mais útil.
• Reparar em oportunidades para combinar duas ou mais Peças
Intermédias num trabalho novo e maior, para não ter de começar
do zero.
• Reparar numa oportunidade de combinar numa mesma nota
conteúdos semelhantes de notas diferentes, para que não fiquem
espalhados por demasiados locais.
• Reparar quando uma PI que já tem pode ajudar outra pessoa a
resolver um problema e partilhá-lo, mesmo que não esteja
perfeito.
• Decide visitar a Costa Rica nas próximas férias, por isso, move
uma nota com frases úteis em Espanhol da pasta de recurso
“Línguas” para uma pasta de projeto com a designação “Costa
Rica”, para o ajudar na viagem.
• O engenheiro chefe da sua empresa despediu-se e precisa de
contratar outro, pelo que move a pasta que criou da última vez,
“Contratação de engenheiro”, dos arquivos para os projetos, para
orientar a sua busca.
• Marca a data do próximo workshop, que integra uma série de
workshops que está a promover, e move um PDF com exercícios
de uma pasta de área denominada “Workshops” para uma nova
pasta de projeto do workshop específico que está a planear.
• Repara que tem de comprar um computador novo, porque o seu
está a ficar muito lento. Então, move alguns artigos que guardou
na pasta de recurso “Pesquisa computador” para uma nova pasta
de projeto denominada “Comprar computador novo”.
Todas estas ações demoram apenas alguns minutos e são realizadas em
resposta a alterações nas suas prioridades e objetivos. Devemos evitar
grandes organizações antecipadamente, uma vez que, não só consomem
energia e tempo preciosos, como também nos limitam a um plano de ação
que pode acabar por não ser o ideal.
Quando usa as suas notas digitais como um ambiente de trabalho, e não
só como uma forma de armazenamento, acaba por passar muito mais tempo
lá. E, assim, acaba, inevitavelmente, por reparar em muitas mais pequenas
oportunidades de mudança do que esperaria. Ao longo do tempo, isto gera,
gradualmente, um ambiente muito mais ajustado às suas necessidades reais
do que qualquer outro que pudesse ter planeado previamente. Tal como os
chefs mantêm o ambiente de trabalho organizado com pequenos toques e
ajustes, o leitor pode usar os hábitos de observação para “organizar à
medida que avança”.
A verdade é que qualquer sistema que tenha de ser perfeito para ser
fiável é profundamente imperfeito. Um sistema perfeito que não usa porque
é muito complicado e propenso a erros não é um sistema perfeito – é um
sistema frágil que vai desmoronar-se assim que voltar a sua atenção para
outro lado.
Temos de ter em conta que não estamos a criar uma enciclopédia de
conhecimentos imaculadamente organizados. Estamos, sim, a criar um
sistema de trabalho – tanto no sentido de que deve funcionar, como no facto
de que constitui uma parte regular do nosso dia a dia. Por isso, deve preferir
um sistema imperfeito, mas que continua a ser útil nas condições reais da
sua vida.
*Uma análise prospetiva é uma prática útil, semelhante a uma análise retrospetiva usada para avaliar
como correu um projeto, mas executada antes do início do projeto. Ao questionar o que pode correr
mal, pode agir logo à partida para impedir que tal aconteça.
** Embora não se insira no âmbito deste livro, incluí as minhas recomendações de gestores de tarefas
para vários sistemas operativos no Guia de Recursos do Segundo Cérebro, em
Buildingasecondbrain.com/resources.
*** O livro Fazer bem as coisas, conhecido como GTD, é um útil correspondente da gestão de
conhecimento pessoal, aplicando a mesma perspetiva de “tirar as coisas da sua mente” que estamos a
usar para as notas de informação “acionável”, como as tarefas.
Capítulo 10
O caminho da autoexpressão
Em vez de tentar otimizar a sua mente para que possa gerir cada ínfimo
pormenor da sua vida, despeça o seu cérebro biológico desse emprego e
ofereça-lhe um novo: como diretor executivo da sua vida, orquestrando e
gerindo o processo de transformar informações em resultados. Ou seja,
estamos a pedir ao nosso cérebro biológico que delegue num sistema
externo a tarefa de recordar, libertando-o, assim, para absorver e integrar
novas informações de formas mais criativas.
O seu Segundo Cérebro está sempre ligado, tem uma memória perfeita e
pode ajustar-se a qualquer tamanho. Quanto mais delegar as tarefas de
capturar, organizar e destilar na tecnologia, mais tempo e energia terá para
se exprimir.
Uma vez que a sua biologia já não é obstáculo ao seu potencial, ficará
livre para expandir o fluxo de informação tanto quanto desejar sem se
afogar nele. Sentir-se-á mais equilibrado e em paz, sabendo que pode
afastar-se desse fluxo em qualquer momento, porque tudo está a ser
armazenado em segurança no exterior da sua cabeça. Será mais confiante,
porque aprendeu a confiar num sistema exterior a si. Será, de facto,
incrivelmente transformador e tranquilizador saber que não é o único
responsável por tudo aquilo que tem de se lembrar na sua vida. Terá mais
abertura de espírito, estando disposto a considerar ideias menos
convencionais, mais desafiantes e mais incompletas, porque terá uma série
de alternativas pelas quais escolher. Vai querer expor-se a mais perspetivas
diferentes, oriundas de mais pessoas, sem se comprometer necessariamente
com nenhuma. Vai tornar-se um curador de perspetivas, livre para
selecionar e escolher as crenças e conceitos que melhor o servem em
determinadas situações.
Delegar uma função que executa há muito tempo é sempre intimidante.
A voz do medo causa-lhe arrepios: “Vai sobrar alguma coisa para eu
fazer?”; “Vou continuar a ser valorizado e necessário?” Ensinam-nos que é
melhor ter um papel estável do que arriscarmos ser substituídos, que é mais
seguro mantermos uma atitude discreta e não agitar as águas do que lutar
por algo melhor. Esvaziarmo-nos do nosso emaranhado de pensamentos
requer coragem, pois, sem eles como distração, ficamos na companhia de
questões desconfortáveis sobre o nosso futuro e o nosso propósito.
Daí que a criação de um Segundo Cérebro seja uma jornada de
desenvolvimento pessoal. À medida que o seu ambiente de informações
muda, o modo como a sua mente opera começa a transformar-se. Deixa
uma identidade para trás e passa para outra – uma identidade como
orquestrador e condutor da sua vida, e não como passageiro. Qualquer
mudança na sua identidade pode ser perturbadora e assustadora, uma vez
que não sabe exatamente quem será e como serão as coisas do outro lado.
Porém, se perseverar na transição, do outro lado haverá sempre um novo
horizonte de esperança, possibilidade e liberdade à sua espera.
Como é que sabe que começou a fazer a transformação para esta nova
identidade que descrevi? A maior mudança que começa a ocorrer mal inicia
a criação de um Segundo Cérebro é deixar de ver o mundo sob a perspetiva
da escassez e passar a vê-lo sob a perspetiva da abundância.
Vejo tantas pessoas a tentar operar neste mundo de acordo com os
pressupostos do passado – de que a informação é escassa e que, por
conseguinte, precisamos de adquirir, consumir e acumular informação tanto
quanto possível. Fomos condicionados a percecionar a informação sob uma
perspetiva consumista: que mais é melhor, sem limite. Através deste olhar,
ansiamos sempre por mais e mais informação, como resposta ao medo de
não a possuirmos em quantidade suficiente47. Ensinaram-nos que a
informação deve ser ciosamente guardada, porque alguém pode usá-la
contra nós ou roubar as nossas ideias, que o nosso valor e amor-próprio
advêm do que sabemos e conseguimos recitar a pedido.
Como vimos no capítulo sobre Capturar, a tendência para amontoar
informação pode tornar-se um fim em si mesma. É extremamente fácil
cairmos no erro de recolher cada vez mais conteúdos sem ter em
consideração se são úteis ou benéficos para nós. Isto é consumo
indiscriminado de informação – tratar cada meme e post aleatório nas redes
sociais como se fosse tão importante como a mais profunda expressão de
sabedoria – que é impelido pelo medo – o medo de deixar escapar algum
facto ou ideia crucial, ou uma história sobre a qual todos estão a falar. O
paradoxo da acumulação é que, seja qual for a quantidade de informação
que recolhe e acumula, nunca é suficiente, pois a perspetiva da escassez
também nos diz que as informações que já temos não devem ser muito
valiosas, impelindo-nos a continuar a procurar no exterior o que falta no
interior.
O oposto de uma Mentalidade de Escassez é uma Mentalidade de
Abundância. Esta é uma forma de ver o mundo como se este estivesse
repleto de coisas preciosas e úteis – ideias, perceções, ferramentas,
colaborações, oportunidades. Uma Mentalidade de Abundância diz-nos que
há uma quantidade infinita de conhecimentos incrivelmente vantajosos para
onde quer que olhemos – nos conteúdos que consumimos, nas nossas redes
sociais, no nosso corpo e intuição e na nossa mente. Também nos diz que
não precisamos de consumir ou compreender tudo, nem mesmo grande
parte. Tudo aquilo de que necessitamos é de algumas sementes de sabedoria
e aquelas de que mais precisamos tendem a encontrar-nos repetidamente.
Não precisa de ir à procura de visões. Tudo o que tem de fazer é ouvir
aquilo que a vida está reiteradamente a tentar dizer-lhe. Normalmente, a
vida traz à superfície exatamente aquilo que precisamos de saber, quer
gostemos ou não. Como um professor compassivo, mas inflexível, a
realidade não se molda, nem se submete à nossa vontade. Ensina-nos
pacientemente de que formas o nosso pensamento não está correto – e,
habitualmente, essas lições ocorrem repetidamente na nossa vida.
Fazer a mudança para uma mentalidade de abundância consiste em
renunciar às coisas que julgávamos precisar para sobreviver, mas que
deixaram de nos ser úteis. Isto significa desistir do trabalho de parco valor
que nos dá uma falsa sensação de segurança, mas que não revela todo o
nosso maior potencial. Significa renunciar à informação de pouca qualidade
que parece importante, mas que não nos torna melhores pessoas. Significa
baixar o escudo protetor do medo que nos diz que temos de nos proteger da
opinião dos outros, pois este mesmo escudo está a impedir-nos de receber as
ofertas que têm para nos dar.
Não existe uma forma correta única de criar um Segundo Cérebro. O seu
sistema pode parecer caótico para os outros, mas, se o ajuda a progredir e
lhe traz satisfação, então é o certo.
Pode começar com um projeto e, lentamente, avançar para outros mais
ambiciosos ou complexos à medida que desenvolve as suas competências.
Ou pode dar por si a usar o seu Segundo Cérebro de modos totalmente
inesperados.
À medida que as suas necessidades mudam, permita-se descartar ou
utilizar apenas as partes que lhe são úteis. Não se trata de uma ideologia de
“pegar ou largar”, na qual tem de aceitar tudo ou nada. Se alguma parte não
fizer sentido, ou não for significativa para si, ponha-a de lado. Misture e
combine as ferramentas e técnicas que aprendeu neste livro para servir as
suas necessidades. É desta forma que garante que o seu Segundo Cérebro se
mantém como um companheiro para a vida.
Onde quer que se encontre neste momento – quer esteja apenas a
começar a tirar notas de forma consistente, ou a procurar formas de
organizar de modo mais eficiente e trazer à luz do dia os seus melhores
pensamentos, ou a produzir trabalho mais original e impactante –, pode
sempre recorrer aos quatro passos do CODE:
Eis doze passos práticos que pode realizar agora para dar início ao seu
Segundo Cérebro. Cada um deles é um ponto de partida para começar a
estabelecer hábitos de gestão de conhecimento pessoal:
Escrevi este livro para lhe proporcionar uma nova forma de abordagem
sobre as informações que são importantes para si. Foi concebido para
permitir que qualquer pessoa encontre um caminho que lhe possibilite criar
– e beneficiar de – um Segundo Cérebro e para oferecer uma fascinante
introdução ao mundo da gestão do conhecimento pessoal.
A prática começa e acaba com as notas – incluindo a captura,
organização, destilação e expressão das informações, ideias e peças de
trabalho. As técnicas específicas apresentadas nos capítulos CODE são o
melhor ponto de partida. No entanto, uma das questões mais frequentes que
me colocam é sobre competências avançadas ao nível da identificação.
Elaborei um capítulo extra que se debruça sobre a criação de um sistema
de identificação para o seu Segundo Cérebro, seguindo o princípio que
permite colocar algo em prática. Embora não sejam essenciais para
começar, as etiquetas fornecem uma camada extra de organização, que pode
ser útil à medida que a sua coleção de informações aumenta.
Pode fazer o download deste capítulo em
Buildingasecondbrain.com/bonuschapter.
Recursos e orientações
adicionais
Aqui estou eu, no local onde costumo escrever, semanas após o término
do prazo para entrega do manuscrito. Adiei tanto quanto possível a escrita
dos agradecimentos, pois parece uma tarefa impossível. A quantidade de
pessoas que contribuíram e que tocaram este livro ao longo de todo o
processo é impressionante. É difícil expressar por palavras a gratidão que
sinto por todo o amor, energia e sabedoria que derramaram sobre mim. Mas
vou tentar.
Obrigado a Stephanie Hitchcock e à equipa da Atria pela vossa
disponibilidade para arriscarem numa ideia nova e num escritor de primeira
viagem. Este livro só existe porque perceberam o seu potencial e se
empenharam para que chegasse ao prelo. Estou profundamente grato à
minha editora, Janet Goldstein, por transformar as minhas palavras (e, por
vezes, a mim mesmo!) numa mensagem muito mais clara e elegante do que
aquela que conseguiria sozinho. À minha agente, Lisa DiMona, que, desde
o início deste projeto, me orientou amavelmente ao longo do processo
editorial. Espero que continuemos a trabalhar juntos durante muitos anos.
Obrigado à equipa da Forte Labs e à sua rede alargada – Betheny
Swinehart, Will Mannon, Monica Rysavy, Marc Koenig, Steven Zen, Becca
Olason e Julia Saxena. Ao longo de todo o percurso, estiveram nos
bastidores a colocar o negócio em funcionamento, a superar desafios e a
criar novas formas de partilhar estas ideias com o mundo. Fico sempre
maravilhado perante a vossa dedicação à excelência. O vosso empenho em
criar mudanças positivas e duradouras na vida das pessoas não deixa de me
impressionar. Anseio por tudo o que vamos alcançar juntos.
Ficarei eternamente grato a Billy Broas por me ajudar a encontrar
formas mais poderosas de comunicar a minha verdade para lá do meu
círculo restrito. A Maya P. Lim por criar a identidade visual que levará a
nossa formação aos quatro cantos do mundo. E estou grato à equipa da Pen
Name por me ajudar a partilhar por toda a parte o trabalho da minha vida.
O meu negócio (ou a minha vida) só funciona com a ajuda do meu
“banco de cérebros”. O trabalho que faço não teria metade da relevância ou
interesse sem o vosso apoio incondicional. David, construir um negócio
contigo e desenvolver as nossas ideias, juntos, tem sido um dos
empreendimentos mais significativos da minha carreira. Joel, és como um
rochedo em águas revoltas. Perdi a conta às vezes em que os jantares em tua
casa foram uma força estabilizadora quando parecia que tudo ia
desmoronar. Raphael, criaste o nome do curso – e agora do livro. O riso que
trouxeste à minha vida tornou-se um marco de alegria a que recorro sempre
que começo a levar-me muito a sério. Derick, esta jornada começou, de
muitas formas, na nossa adolescência, com as conversas noturnas sobre
tecnologia e o futuro – o nosso e o da humanidade. Obrigado por nutrires e
encorajares aquelas ideias inverosímeis, algumas das quais, depois de tantos
anos, acabaram por ser integradas neste livro.
Tive vários mentores e conselheiros que mudaram a minha trajetória de
formas inimagináveis. Obrigado a Venkatesh Rao por me apresentar ao
mundo de ideias online. O seu apoio e incentivo público alimentaram a
minha motivação durante anos. Obrigado a David Allen por desbravar
caminho no campo da produtividade pessoal e por nos apresentar a
possibilidade de melhorarmos proativamente a forma como trabalhávamos e
como geríamos a informação. As suas ideias influenciaram-me e ajudaram-
me muito.
Obrigado a Kathy Phelan, não só por acreditar que eu tinha algo a
oferecer, mas também por me apoiar e aconselhar na integração do meu
trabalho nas empresas. Na época, a sua fé em mim superou a minha própria
fé e, anos depois, os seus conselhos e lições continuam a ressoar. Obrigado
a James Clear por tão generosamente me dedicar o seu tempo e orientar a
minha escrita em torno de tantos imprevistos e falhas. Num momento em
que todos queriam a sua atenção, optou por dá-la a um escritor inexperiente
com pouco para oferecer em troca. Obrigado a Joe Hudson, que entrou na
minha vida como amigo e mentor num momento crucial, em que precisava
de aprender a lidar com as emoções do novo nível de expressão que estava a
assumir. Obrigado a Srini Rao por apostar tudo, arriscando e apoiando o
meu trabalho.
Obrigado aos seguidores, subscritores, clientes e alunos da Forte Labs.
Vocês são a energia que impulsiona toda a apreensão, organização,
destilação e expressão que torna a comunidade Building a Second Brain tão
vibrante. Este livro é tanto um conjunto das histórias, estratégias e técnicas
que aprendi convosco ao longo dos anos como das minhas próprias ideias.
Vocês são os especialistas sobre o que funciona e o que não funciona.
Fazendo os meus cursos, lendo o que escrevo e dando-me feedback sobre
tudo, desde tweets a rascunhos de obras, abriram a porta para um futuro em
que os Segundos Cérebros estarão acessíveis em toda a parte. Nunca previ
que tantas pessoas acreditassem naquilo que estava a fazer. Considero que
cada dia em que tenho o vosso apoio e atenção é um milagre.
Tudo aquilo que sou deve-se, em última análise, à minha família. O meu
refúgio e o meu solo, do qual brota o sentido e a alegria da minha vida.
Obrigado aos meus pais, Wayne Forte e Valeria Vassão Forte, por me
educarem expondo-me a inúmeras experiências, culturas, lugares e pessoas
enriquecedoras. Pai, és o meu modelo do que significa expressar-me com
uma honestidade e critério inexoráveis, cumprindo também as minhas
responsabilidades como pai, marido e cidadão. Mãe, deste-me a capacidade
para equilibrar a minha forte determinação e mordacidade – paciência,
generosidade, graciosidade e autoconhecimento. Ambos dedicaram as
vossas vidas para fazerem de mim o tipo de pessoa com abundância
suficiente para partilhar com os outros. Muitos dos ensinamentos
apresentados neste livro têm origem nas lições simples e práticas que me
ensinaram e que me serviram de modelo na infância. Aos meus irmãos e
sogros, Lucas, Paloma, Marco, Kaitlyn e Grant. Vocês são os meus
melhores amigos, os meus confidentes e companheiros de vida. Sempre que
começo a perder de vista quem sou e aquilo que é importante para mim,
vocês trazem-me de novo à terra. Prezo muito cada minuto que passamos
juntos.
E, por fim, do fundo do meu coração, agradeço-vos, Lauren e Caio, por
fazerem com que tudo valha a pena. Lauren, desempenhaste todos os papéis
possíveis na minha vida – companheira, namorada, cofundadora,
formadora, conselheira e, agora, esposa e mãe. Tornaste-te quem quer que
fosse necessário tornares-te, adquiriste todas as competências que te foram
exigidas e aventuraste-te num território atrás do outro, tudo para me
ajudares a concretizar os meus sonhos. Na minha vida, não há nada mais
gratificante do que ver-te crescer e tornares-te na pessoa mais inspiradora,
genuína e franca que já conheci. O meu maior privilégio é poder caminhar a
teu lado enquanto te encaminhas para a tua magnificência. Caio, acabaste de
chegar, mas já não sei viver sem ti. Tornas a minha vida muito mais
colorida e divertida. O meu amor por ti dá-me determinação para me tornar
a melhor versão de mim mesmo. A minha grande esperança em relação a
este livro é que torne o mundo um lugar mais seguro, mais humano e mais
interessante para ti.
Notas
Z-Access
https://wikipedia.org/wiki/Z-Library
ffi
fi