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Feel-Good Productivity
Créditos
Dedicatória
Nota do Editor
Introdução
PRIMEIRA PARTE — ENERGIZAR
Capítulo 1: Brincar
Capítulo 2: Poder
Capítulo 3: Pessoas
SEGUNDA PARTE — DESBLOQUEAR
Capítulo 4: Buscar clareza
Capítulo 5: Encontrar coragem
Capítulo 6: Começar
TERCEIRA PARTE — SUSTENTAR
Capítulo 7: Conservar
Capítulo 8: Recarregar
Capítulo 9: Alinhar
Uma palavra final: Pense como um cientista da produtividade
A próxima etapa da sua viagem…
Agradecimentos
Sobre este livro
Sobre o autor
Edição em formato digital: fevereiro de 2024
FEEL-GOOD PRODUCTIVITY:
COMO SER PRODUTIVO SEM STRESS — E APROVEITAR MAIS A VIDA
Título original: Feel-Good Productivity
How to Do More of What Matters to You
© 2023, Ali Abdaal
Todos os direitos reservados.
© desta edição:
2024, Penguin Random House Grupo Editorial, Unipessoal, Lda.
Publicada por acordo com
Penguin Random House UK, Londres
ISBN: 978-989-787-819-0
Site: penguinlivros
Twitter: @PenguinLivrosPT
Facebook: penguinlivros
Instagram: penguinlivros
Para Mimi e Nani — por todo o vosso amor,
apoio e sacrifícios
NOTA DO EDITOR
Feel-good é um sentimento de felicidade e bem-estar. Por se tratar de um conceito aplicado a um
método de produtividade, optou-se por se manter a expressão na sua língua original.
INTRODUÇÃO
Imagine-se com estes três objetos diante de si. A sua tarefa é prender a
vela ao quadro de cortiça na parede para que, quando acesa, a cera não
pingue na mesa por baixo. Dá por si intrigado com estes objetos, virando-os
nas mãos. Consegue pensar na solução?
Diante deste problema, a maioria das pessoas considera apenas a vela,
os fósforos e os pioneses. Mas as mentes mais inovadoras reconhecem o
potencial da caixa de pioneses. A solução ideal para o enigma envolve ver a
caixa de pioneses não apenas como um recipiente mas como um castiçal.
Este é o «problema da vela», um teste clássico do pensamento criativo.
Desenvolvido originalmente por Karl Duncker e publicado, postumamente,
em 1945, desde então tem sido utilizado em inúmeros estudos que testam
tudo, desde a flexibilidade cognitiva às consequências psicológicas do
stress. No final da década de 1970, a psicóloga Alice Isen usou-o como base
de uma experiência influente1 para estudar como o humor afeta a
criatividade das pessoas.
Isen começou por dividir os seus voluntários em dois grupos. Um grupo
recebeu um pequeno presente — um saco de doces — antes de enfrentar o
problema da vela. O outro grupo iniciou a tarefa sem esse incentivo. A
teoria dizia que aqueles que recebessem os doces teriam um humor mais
positivo quando tentassem resolver o desafio. Isen descobriu algo
interessante: aqueles cujo humor melhorou subtilmente com o presente
tiveram significativamente mais sucesso na solução para o problema da
vela.
Quando li pela primeira vez sobre a experiência de Isen durante a minha
pós-graduação em Psicologia, achei-a interessante, mas não propriamente
transformadora. Pessoalmente, nunca senti a vontade irresistível de prender
uma vela à parede. Mas, voltando a isso como médico recém-formado,
percebi que a ideia de Isen era bastante profunda. Sugeria que sentir-se bem
não termina apenas com sentir-se bem. Na verdade, muda os nossos padrões
de pensamento e comportamento.
Sei agora que o estudo se tornou o pilar de uma onda de pesquisas que
estudam a forma como as emoções positivas afetam muitos dos nossos
processos cognitivos. Mostrou que, quando estamos de bom humor,
tendemos a considerar uma gama mais ampla de ações, a estar mais abertos
a novas experiências e a compreender melhor as informações que
recebemos. Por outras palavras, sentirmo-nos bem aumenta a nossa
criatividade — e a nossa produtividade.
Uma das primeiras pessoas a explorar exatamente como isso funciona
foi Barbara Fredrickson. Professora na Universidade da Carolina do Norte
em Chapel Hill, Fredrickson é uma das principais figuras da Psicologia
Positiva, um ramo relativamente novo da Psicologia que se concentra na
compreensão e na promoção da felicidade. No final da década de 1990,
Fredrickson propôs aquilo a que chamou teoria «ampliar-e-construir» das
emoções positivas.2
De acordo com a teoria ampliar-e-construir, as emoções positivas
ampliam a nossa consciência e constroem os nossos recursos cognitivos e
sociais. Ampliar refere-se ao efeito imediato das emoções positivas: quando
nos sentimos bem, as nossas mentes abrem-se, assimilamos mais
informações e vemos mais possibilidades ao nosso redor. Consideremos o
problema da vela: com um humor positivo, os participantes puderam ver
uma gama mais ampla de potenciais soluções.
Construir refere-se aos efeitos de longo prazo das emoções positivas.
Quando vivenciamos emoções positivas, construímos uma reserva de
recursos mentais e emocionais que podem ajudar-nos no futuro — recursos
como resiliência, criatividade, habilidades de resolução de problemas,
conexões sociais e saúde física. Com o tempo, estes dois processos
reforçam-se mutuamente, criando uma espiral ascendente de positividade,
crescimento e sucesso.
Energizar
CAPÍTULO 1
BRINCAR
EXPERIÊNCIA 1:
Aqui está o primeiro passo para abordar o seu trabalho — e a sua vida
— com um sentido de aventura lúdico. Pondere com qual destes
personagens mais se identifica e tente abordar o seu trabalho como se fosse
esse personagem. Se é «o Contista», isso pode implicar procurar maneiras
de transformar uma tarefa aborrecida (escrever um e-mail logístico e seco)
numa tarefa que aproveite o seu sentido de diversão (encontrar uma forma
de transformá-lo numa história, com um começo, um meio e um fim, e
talvez uma reviravolta inesperada). Ou, se for «o Criador», isso pode
significar transformar tarefas mundanas (preencher aquela aborrecida folha
de cálculo) em oportunidades de autoexpressão (transformando-a num
infográfico visualmente atraente e fácil de entender).
Identificar e explorar as nossas personalidades lúdicas ajuda-nos a
recuperar algumas das aventuras que definiram a nossa infância — uma
altura em que sentir-se bem era a norma, não a exceção. É um espírito que
ainda reside dentro de nós. Como diz Stuart Brown: «Lembrar o que é
brincar e torná-lo parte da nossa vida diária é, provavelmente, o fator mais
importante para ser um ser humano realizado.»
EXPERIÊNCIA 2:
ENCONTRE A DIVERSÃO
EXPERIÊNCIA 3:
O post-it mágico
EXPERIÊNCIA 4:
Existe outra maneira de se divertir em tudo o que faz, e não envolve rever
filmes infantis de meados do século XX. Na verdade, um adolescente
espanhol de 1,70 metros de altura com cabelo loiro descolorado demonstra-
o na perfeição.
Em agosto de 2021, Alberto Ginés López subiu ao pódio como o
primeiro vencedor da medalha de ouro de escalada desportiva nos Jogos
Olímpicos de Verão de Tóquio. Nas semanas anteriores, o mundo assistiu,
petrificado, enquanto ele completava uma série de feitos físicos
surpreendentes nas paredes coloridas do Aomi Urban Sports Park, em
Tóquio. O mais impressionante de todos foi a escalada de velocidade —
onde se escala uma parede o mais rápido possível, como uma aranha. López
alcançou o topo da parede nuns impressionantes 6,42 segundos.
Mas enquanto as multidões observavam López e os seus colegas a
escalarem as paredes em velocidades vertiginosas, também notaram que
este era um desporto bastante incomum. Não apenas porque os participantes
tendiam a parecer mais boémios do que os comuns atletas de atletismo, com
mechas de cabelos tingidos e arneses de cores vivas, mas também porque
pareciam estar mais relaxados. Em vez de evitarem o contacto visual e
observarem, tensos, enquanto os seus adversários avançavam para as
paredes, muitos dos escaladores pareciam estar a conversar jovialmente ao
fundo, e mesmo a partilhar dicas. Quando avançavam para as paredes, os
seus rostos não exibiam a intensidade agonizante que a maioria dos
velocistas ou mesmo jogadores de futebol tende a exibir. Na verdade,
estavam claramente a divertir-se.
Esses alpinistas sugerem a nossa segunda maneira de encontrar a
diversão: enfatizando a alegria que vem, não do resultado, mas do processo
em si.
De acordo com o psicólogo húngaro-americano Mihaly
Csikszentmihalyi (pronuncia-se «chique-sente-mi-ai»), a maior diferença
entre escalar e, digamos, o futebol, é que a maioria dos escaladores está
completamente imersa no processo (escalar a parede) em vez de no
resultado (ganhar o jogo). Pioneiro do estudo do «fluxo» — aquele estado
em que estamos tão imersos numa tarefa que o resto do mundo parece
dissipar-se —, Csikszentmihalyi desenvolveu as suas teorias, pela primeira
vez, enquanto observava alpinistas nos Alpes quando era adolescente. Ele
argumentou que, se aprendermos a focar-nos no processo, e não no
resultado, teremos uma probabilidade substancialmente maior de gostar de
uma tarefa.
Mas como? Pode ser bastante fácil para escalada, que é inerentemente
divertida (para alguns, pelo menos), mas e se nos encontrarmos em
situações bem mais mundanas ou até desagradáveis?
Indiscutivelmente, é aqui que o poder de focar no processo se torna
ainda mais poderoso. Porque, com um pouco de pensamento criativo, pode
encontrar alegria em qualquer processo, por mais mundano que pareça.
Vejamos a história de Matthew Dicks, hoje famoso contador de histórias
e romancista bestseller. Anos antes de publicar o seu primeiro livro, Dicks
trabalhou no McDonald’s. E odiou. «Os dias pareciam intermináveis»,
disse-me uma vez. «Era a mesma rotina vezes sem conta. Receber pedidos,
virar hambúrgueres e distribuir batatas fritas. Não havia entusiasmo, nem
faísca, nem desafio.»
Então, Dicks decidiu ver se havia alguma alegria, não no resultado do
trabalho (o seu salário irritantemente escasso), mas no processo. Adotou
uma tática clássica: incrementar as vendas. «Em alguns dias eu decidia que
era o Dia do Molho Barbecue», lembra ele. «Então, durante o resto do dia,
eu acrescentava um breve discurso de vendas a cada pedido que atendesse.
O cliente pedia um Big Mac com batatas fritas, e eu perguntava se gostaria
de algum molho para acompanhar. Se ele respondesse que não, eu sorriria e
diria: “Bem, eu realmente recomendo o molho barbecue — não há nada
melhor.” Normalmente, neste ponto, eles ficavam um pouco surpresos e
diziam: “OK, então vou levar o molho.” Se ainda não mordessem o isco, eu
diria: “Tudo bem, mas não sabe o que perde.” A minha última cliente estava
relutante, mas quando experimentou o molho soube que tinha tomado a
decisão certa.»
Dicks diz que os efeitos dessas pequenas mudanças na sua rotina foram
inesperadamente significativos. Eram o tipo de minitarefas que poderiam,
nas suas palavras: «apenas tornar o dia do cliente um pouco melhor e,
definitivamente, fazer-me sentir mais energizado em dias que pareciam
estar a arrastar-se.» E funcionaram. Dicks estava ansioso pelos seus turnos,
ansioso por ver quantas pessoas conseguiria convencer a experimentar o
molho barbecue.
O processo não era inerentemente agradável. Mas Dicks criou uma
maneira de se divertir. E, ao fazer isso, encontrou diversão numa situação
pouco inspiradora.
BAIXE A FASQUIA
EXPERIÊNCIA 5:
RESUMINDO
PODER
EXPERIÊNCIA 1:
A mudança de confiança
EXPERIÊNCIA 2:
A persuasão verbal não foi o único método que Bandura criou para
aumentar a autoconfiança. Também estava interessado na forma como
obtemos a confiança a partir das pessoas ao nosso redor.
O meu estudo favorito que mostra como isso funciona vem do
Laboratório ao Ar Livre da Universidade Clemson32. Note-se que este não é
um laboratório científico comum. Situado numa península arborizada perto
do lago Hartwell, na Carolina do Sul, o laboratório possui uma série de
cabanas de madeira, trilhos para caminhadas e equipamento para desportos
aquáticos — sem nenhuma placa de Petri à vista. Mas a máscara recreativa
do laboratório esconde a sua séria função científica. Ao longo dos anos, o
laboratório tem sido palco de muitas experiências psicológicas pioneiras.
Como o estudo de 2007, com trinta e oito crianças, com idades entre 6 e 18
anos, que foram convidadas a usar a parede de escalada da universidade.
Quando chegaram ao laboratório, os alunos foram informados de que o
objetivo do dia era chegar ao topo da parede de escalada (uma das
principais particularidades do laboratório ao ar livre de Clemson). Era uma
perspetiva assustadora; a maioria nunca tinha visto uma parede de escalada.
Os cientistas que conduziram o estudo estavam interessados em saber quais
os alunos que completariam a tarefa — e o que poderia torná-los mais
propensos a fazê-lo.
Sem o conhecimento das crianças, estas foram divididas em dois grupos
antes da sua chegada. O grupo 1 viu um pequeno vídeo de alguém a escalar
uma parede muito semelhante à do local, enquanto o grupo 2 não viu
nenhum vídeo. Em todos os outros aspetos, os grupos eram idênticos.
Surpreendentemente, apenas assistir ao vídeo teve um efeito dramático.
Embora ambos os grupos tenham recebido as mesmas instruções quando
chegaram à parede, o grupo que observou o escalador «modelo» subir a
parede que estavam prestes a enfrentar acabou por se sair muito melhor. Os
participantes sentiram-se mais confiantes nas suas habilidades de escalada,
apreciaram mais a atividade e tiveram melhor desempenho.
Porque é que essa pequena mudança fez uma diferença tão grande? Se
Albert Bandura comentasse, provavelmente atribuiria a diferença a algo
chamado «experiência de mestria vicária». É quando o leitor testemunha ou
ouve falar do desempenho de outra pessoa relacionado com a tarefa que irá
realizar. Vê os exemplos de outras pessoas, e isso aumenta a sua confiança.
A maioria das pessoas já experimentou a mestria vicária, mesmo que
não tivesse palavras para isso. Imagine isto: no seu emprego, está a debater-
se com um grande projeto de pesquisa. É a única pessoa a trabalhar na
tarefa, e isso parece assustador. Após alguns dias de improdutividade
alarmante, começa a concluir que não é apenas difícil — é impossível. À
medida que fica cada vez mais convencido de que o que está a tentar é
completamente inatingível, distancia-se cada vez mais do objetivo.
Agora, imagine a mesma tarefa, só que desta vez, antes de iniciar o
projeto, viu outra pessoa apresentar a sua pesquisa sobre um tema
semelhante. O conteúdo da apresentação é totalmente diferente do seu. Mas,
desta vez, sabe que esse tipo de tarefa não é impossível — acabou de ver
outra pessoa realizá-la. Ficou mais confiante de que a tarefa pode ser
dominada. Vicariamente.
Bandura argumentou que estar rodeado de outras pessoas que
demonstram persistência e esforço na superação de desafios pode aumentar
os nossos próprios sentimentos de autoeficácia, porque isso nos demonstra
que estes desafios podem ser superados. Nas palavras de Bandura: «Ver
pessoas semelhantes a nós terem sucesso através de um esforço sustentado
aumenta a crença dos observadores de que também eles possuem as
capacidades para ter sucesso em atividades comparáveis.»
Assim como o diálogo interno positivo, podemos integrar estas
experiências vicárias nas nossas vidas. A minha maneira favorita é
consumir diferentes formas de conteúdos criados pelos meus modelos.
Descobri que a minha confiança aumenta substancialmente quando leio
livros, ouço podcasts ou assisto a vídeos com histórias de pessoas que
tiveram sucesso nas áreas nas quais quero sentir-me mais fortalecido.
Por exemplo, enquanto trabalhava no hospital, a caminho do trabalho,
ouvia frequentemente o podcast RCP Medicine, produzido pelo Royal
College of Physicians. Ouvir como diferentes médicos abordam diferentes
diagnósticos e tratamentos dava-me um impulso de confiança que era
transferido para o meu trabalho.
Quando eu estava a construir o meu primeiro negócio online, passei
muito tempo a ouvir o podcast Indie Hackers, que apresentava entrevistas
com empreendedores que construíram incríveis negócios online individuais,
a partir dos seus quartos. Falavam sobre os desafios que enfrentaram e
como os superaram, o que aumentava a minha confiança quando se tratava
de lidar com desafios semelhantes.
E, na minha nova vida como escritor, descobri que ver, ouvir e mesmo
realizar entrevistas com autores de sucesso contribui para aumentar os meus
próprios sentimentos de «eu consigo fazer isto», mais do que quase
qualquer outra coisa.
EXPERIÊNCIA 3:
A abordagem shoshin
EXPERIÊNCIA 4:
O efeito protégé
EXPERIÊNCIA 5:
Domine o processo
EXPERIÊNCIA 6:
RESUMINDO
PESSOAS
EXPERIÊNCIA 1:
A mentalidade de camaradagem
EXPERIÊNCIA 2:
Encontre sincronicidade
Naturalmente, há momentos em que pode ser difícil encontrar pessoas com
quem colaborar. Pode ser difícil forçar-se a pensar nas pessoas que
trabalham do outro lado do campus (quanto mais do mundo) como parte da
mesma equipa. Às vezes, os nossos colegas podem ser simplesmente
irritantes.
Nestes momentos, podemos recorrer a uma segunda ferramenta, que
encontrei pela primeira vez através de um estudo, surpreendentemente
inteligente, realizado por três académicos da Universidade Ryerson, no
Canadá. Num artigo de 2017, estes académicos reuniram43 um grupo de
cem estudantes para investigar a ciência do trabalho em equipa. Depois de
serem divididos em grupos de seis, os alunos receberam auscultadores, e
foi-lhes pedido que batessem com a mão na mesa ao som de uma toada
musical. Alguns grupos de seis receberam a mesma batida — por isso
tocavam em sincronia. Outros grupos de seis foram divididos em subgrupos
de três que receberam, cada um, a mesma música para tocar. Por fim, alguns
grupos receberam seis batidas sonoras completamente diferentes, por isso
não houve qualquer sincronia.
Depois disso, os auscultadores foram retirados e substituídos por novos
adereços. Cada participante recebeu dez fichas para distribuir, sendo
informados de que seriam convertidas em dinheiro real mais tarde. A quem
queriam entregá-las?
O que os cientistas estavam interessados em testar era o sentimento de
camaradagem entre os participantes que estavam «em sincronia». E
descobriram que o nível de sincronicidade musical mudou tudo. Quando os
participantes passavam algum tempo a bater os dedos em sincronia com o
trio, queriam distribuir o dinheiro pelo trio. Mas, se dois desses trios se
sincronizassem — formando um grupo de seis por alguns minutos —, os
membros teriam maior probabilidade de dar a todos os seis.
O que é que isto tem que ver com os efeitos de satisfação de outras
pessoas? Bem, diz-nos algo poderoso sobre como criar um sentimento de
trabalho em equipa. Quando trabalhamos em sincronia com outras pessoas,
tendemos a ser mais produtivos. A sincronicidade faz-nos querer ajudar os
outros. E faz-nos querer ajudarmo-nos a nós mesmos.
As implicações são simples: se quiser aproveitar os efeitos de satisfação
das pessoas, tente encontrar pessoas com quem trabalhar em sincronia —
mesmo que não estejam a colaborar ativamente na mesma tarefa. Ao
escrever este livro, frequentei, com regularidade, o London Writers’ Salon,
que organiza um grupo de trabalho remoto e gratuito chamado Writers’
Hour. Todos os dias da semana, quatro vezes por dia, algumas centenas de
escritores (e alguns não escritores) reúnem-se numa videochamada por
Zoom. O facilitador passa cinco minutos a partilhar uma mensagem
motivacional e a pedir aos participantes que publiquem no chat online qual
será a sua intenção para a sessão de escrita. Então, durante cinquenta
minutos, todos minimizam a janela do Zoom e trabalham no computador.
Continuo a achar estas sessões de sincronização extremamente úteis
para me manter energizado. Embora todos trabalhemos em coisas
diferentes, trabalhar em conjunto com outras pessoas tem grandes efeitos na
minha capacidade de concentração e também me ajuda a sentir-me melhor.
Percebi algo mais nessas sessões virtuais de escrita. Com o tempo, fui
conhecendo as outras pessoas do meu grupo; em pouco tempo,
começaríamos a trocar mensagens pedindo apoio no Zoom. E isso acabaria
por me levar a outra dimensão da energia relacional: o efeito de dar e
receber ajuda.
É um efeito que Allan Luks entende melhor do que ninguém.44 Como
diretor do Big Brothers Big Sisters of New York City, Luks era responsável
por uma rede de milhares de voluntários e funcionários que se dedicavam a
melhorar a vida dos jovens na cidade de Nova Iorque. O trabalho pode ser
difícil e muitas vezes incómodo. A organização combinou mentores adultos
com crianças e adolescentes, que muitas vezes enfrentavam enormes crises
familiares — como prisão, vício e suicídio. Luks era apaixonado pela
importância da orientação e pelo impacto que ela poderia ter nos jovens.
Mas foi difícil.
E, no entanto, à medida que os seus meses no Big Brothers Big Sisters
se transformavam em anos, Luks começou a notar algo estranho. Sim, os
voluntários às vezes ficavam exaustos ou incomodados com o que
vivenciavam. Porém, com mais frequência, saíam extremamente
energizados mesmo das sessões de mentoria mais complicadas. Luks
começou a perceber que o ato de dar poderia transformar não apenas a vida
das pessoas ajudadas mas também a vida dos próprios voluntários.
Intrigado com este fenómeno, nos anos seguintes, entrevistou milhares
de voluntários que tinham experiência em ajudar outras pessoas. Todos
disseram que escolheram fazer este trabalho porque, em parte, isso os fazia
sentir-se bem. Ele descobriu que 95 por cento dos voluntários relataram
sentir-se mais felizes, mais realizados e mais energizados como resultado do
seu serviço.
Por que razão? A pesquisa de Luks mostrou que, quando ajudamos os
outros, os nossos cérebros libertam uma enxurrada de substâncias químicas
que criam uma euforia natural. Hormonas da felicidade, como a oxitocina,
percorrem os nossos corpos, criando uma onda de energia positiva que pode
durar horas — até dias — após o término da ajuda.
Luks percebeu que a «euforia de ajudar» não era apenas um sentimento.
Era uma ferramenta poderosa para o crescimento, a mudança social e, eu
acrescentaria, para a produtividade. É a segunda maneira pela qual podemos
usar os efeitos de satisfação de outras pessoas para fazermos mais daquilo
que é importante para nós.
EXPERIÊNCIA 3:
EXPERIÊNCIA 4:
A euforia de ajudar também nos mostra que pedir ajuda aos outros pode, na
verdade, ser um presente para eles, e não o fardo que normalmente supomos
que será.
Esta foi uma epifania vivida pelo jovem Benjamin Franklin — o
polímata fundador dos Estados Unidos45, que, ao longo dos seus 84 anos de
vida, filosofaria sobre a natureza da política, fundaria o primeiro corpo de
bombeiros de Filadélfia e assinaria a Declaração da Independência dos
Estados Unidos. Em 1737, porém, tudo isso estava muito distante. Franklin
concorria à reeleição na Assembleia da Pensilvânia. Um legislador rival
dizia algumas coisas desfavoráveis sobre ele. Ele tinha opiniões
completamente opostas às de Franklin, e os dois viviam um relacionamento
tenso — muitas vezes glacial.
Franklin precisava, desesperadamente, de parar a campanha de
propaganda deste homem contra ele; corria o risco de destruir a sua
candidatura à reeleição. Mas como poderia conquistar alguém que não
concordava com ele em nada? A resposta, explicou ele na sua autobiografia,
envolveu pedir um livro emprestado. «Tendo ouvido dizer que ele tinha, na
sua biblioteca, um certo livro muito raro e curioso, escrevi-lhe um bilhete,
expressando o meu desejo de folhear aquele livro e solicitando que ele me
fizesse o favor de emprestá-lo por alguns dias», escreveu Franklin. Para
surpresa de Franklin, o seu inimigo enviou-o imediatamente. Quando
Franklin devolveu o livro, incluiu um bilhete expressando quanto gostara
dele.
Surpreendentemente, isto teve um impacto profundo no relacionamento
de ambos. «Quando nos encontrámos novamente na Assembleia, ele falou
comigo (o que nunca havia feito antes), e com grande civilidade», escreveu
Franklin. «E sempre manifestou disposição em me servir em todas as
ocasiões, de modo que nos tornámos grandes amigos, e a nossa amizade
perdurou até à sua morte.»
Este ato, aparentemente pequeno — pedir um livro emprestado —, teve
um efeito significativo no oponente de Franklin e no próprio Franklin. O
homem ficou tão surpreso com o gesto que começou a ver Franklin numa
nova perspetiva. Ele não conseguia conciliar o facto de ter ajudado alguém
de quem discordava. Como resultado, a atitude do homem em relação a
Franklin começou a mudar para melhor.
Este conceito é hoje conhecido como «efeito Benjamin Franklin». Isto
sugere que, quando pedimos ajuda a alguém, é provável que isso faça que
essa pessoa pense melhor de nós. É o outro lado dos efeitos transformadores
de ajudar os outros: podemos pedir que nos ajudem, o que também os
ajudará a sentirem-se melhor.
Assim, é uma pena que a maioria das pessoas seja péssima a pedir
ajuda. Podemos precisar de uma informação crucial de um colega, mas, em
vez de «incomodá-lo», tentamos descobrir sozinhos, perdendo tempo no
processo. Ou podemos estar a lutar com um problema específico na sala de
aula, mas não queremos pedir ajuda à pessoa ao nosso lado, ou mesmo ao
professor, por medo de parecermos estúpidos.
Então, como podemos aprender a pedir ajuda — de uma forma que nos
aproxime dos outros, em vez de afastá-los? Bem, há algumas maneiras.
Primeiro, precisamos de superar a nossa relutância em perguntar. A maneira
mais fácil de fazer isso é simplesmente adotar uma máxima: as pessoas
estão mais dispostas a ajudar do que imagina. Já vimos, repetidamente,
como pode ser estimulante fazer os outros sorrirem, ensinar e orientar. Não
obstante, muitos subestimam quanto as outras pessoas estão dispostas a
ajudar-nos. De acordo com os académicos Francis Flynn e Vanessa Bohns,
as pessoas tendem a subestimar em até 50 por cento a probabilidade de
outras pessoas concordarem em ajudá-las.46
Em segundo lugar, enquadre o pedido da maneira certa. Em particular,
faça o possível para pedir ajuda pessoalmente. Perguntar virtualmente torna
tudo mais difícil. Num estudo de 2017, Bohns descobriu47 que «os
requerentes de ajuda presumiam que fazer um pedido por e-mail seria tão
eficaz como fazer um pedido pessoalmente; na verdade, pedir ajuda
pessoalmente foi aproximadamente trinta e quatro vezes mais eficaz».
Por fim, certifique-se que usa a linguagem correta. Evite usar frases
negativas como: «Sinto-me muito mal por lhe perguntar isto…» e evite
transformar isso numa transação, dizendo coisas como: «Se me ajudar, farei
isto por si.» Vai pedir conselhos a essa pessoa específica: «Vi o seu trabalho
em X, Y, Z, e isso realmente teve um impacto em mim. Adoraria saber
como fez em A, B, C.» Ao enfatizar os aspetos positivos da pessoa que
admira, ela pensará que realmente valoriza a opinião dela — e terá maior
probabilidade de obter a sua ajuda.
Esta última revelação é fundamental. Quando enquadrado corretamente,
pedir ajuda faz que a pessoa a quem está a pedir se sinta tão bem quanto a
ajuda o faz sentir a si. Se quiser aproveitar o poder do efeito Benjamin
Franklin, deve fazer tudo o que puder para pedir, sem qualquer quid pro
quo.
SOBRECOMUNICAÇÃO
Quando lancei o meu negócio pela primeira vez, aquilo com que mais me
debati foi com a necessidade de comunicação. Para ser mais preciso, com
quanta era necessária.
Sabia que partilhar informações era importante, obviamente. O que não
tinha percebido era quanto eu precisava de comunicar. Acabei por perceber
— geralmente graças a dicas úteis da minha sofrida equipa — que o meu
medo de ser muito imperioso me fizera não comunicar o suficiente. Eu não
estava a dar o feedback positivo ou negativo que a maioria dos membros da
minha equipa realmente queria. Este é um fenómeno comum. É muito mais
provável que subestimemos a quantidade de comunicação que precisamos
de pôr em prática do que a sobrestimemos.
EXPERIÊNCIA 5:
Sobrecomunicar o bom
Um provérbio sueco diz: «Uma alegria partilhada é uma alegria dupla; uma
tristeza partilhada é uma meia tristeza.» Quando uma pessoa partilha boas
notícias com outra, ambas ficam felizes. E, quando uma pessoa partilha
algo triste com outra, o ato de partilhar subtrai um pouco da tristeza.
Assim, a primeira tática para sobrecomunicar o que é bom é partilhar
notícias positivas — e reagir a notícias positivas de uma forma energizante.
Isto ajuda tanto quem partilha quanto quem reage. Para quem partilha, o
simples ato de partilhar notícias positivas aumenta as emoções positivas e o
bem-estar psicológico. Para quem reage, expressar orgulho e felicidade
pelas realizações da outra pessoa alimenta uma interação positiva e
fortalece o relacionamento.
Em Psicologia, esta forma de interação positiva que se autorreforça é
chamada capitalização. Um artigo sobre o assunto caracteriza a
capitalização como envolvendo dois componentes.48 A primeira parte
envolve alguém (quem partilha) a tentar conectar-se com outra pessoa
através de um evento positivo e das emoções positivas associadas a ele. Por
exemplo, pode ir até junto de um amigo e dizer: «Ei, finalmente consegui
aquele aumento que queria!» Na segunda parte, o destinatário da boa
notícia reage de forma positiva, com alegria e entusiasmo. Assim, pode
dizer: «Céus, isso é ótimo. Eu sei que tens trabalhado muito para
conseguires esse aumento!»
EXPERIÊNCIA 6:
RESUMINDO
Desbloquear
CAPÍTULO 4
BUSCAR CLAREZA
A NÉVOA DA INCERTEZA
PERGUNTE «PORQUÊ?»
1. O propósito da operação.
2. O estado final que o comandante pretendia.
3. As principais tarefas que o comandante considerou deverem ser
realizadas para atingir o objetivo.
EXPERIÊNCIA 1:
EXPERIÊNCIA 2:
Os cinco porquês
PERGUNTE «O QUÊ?»
Depois de identificar o seu «porquê», precisará de convertê-lo em algo um
pouco mais concreto. Afinal, um nebuloso sentido de propósito não é
suficiente para fazer um projeto descolar; também precisa de um plano de
ação detalhado, para saber por onde começar.
Mas identificar o que, na prática, deveria fazer, nem sempre é simples.
Veja um exemplo: A relação profissional entre Jim e o seu novo chefe,
Charles, não corria bem. Independentemente do que Jim fizesse, Charles
via-o como preguiçoso, pouco sério e insuficientemente profissional.
Simplesmente não conseguia causar uma boa impressão.
Certa manhã, Charles pediu a Jim que lhe disponibilizasse uma
«súmula» dos seus clientes. Infelizmente, Jim não fazia ideia do que era
uma súmula. Durante o resto do dia, Jim vagou pelo escritório tentando de
alguma forma descobrir o que lhe tinha sido pedido, sem admitir isso a
Charles. No final do dia, Jim não tinha nada. Entrou no escritório de
Charles, sentou-se e, por fim, completamente resignado com a reação do
chefe, perguntou: «O que é uma súmula?»
Estou a contar, claro, o enredo do episódio 23 da 5.ª temporada da
versão americana de The Office. É um dos mais vistos de sempre porque
retrata os horrores quotidianos do local de trabalho moderno com uma
precisão hilária: microgestão de chefes, políticas de escritório e, acima de
tudo, aquela perceção esmagadora de que não faz a mais pequena ideia do
que envolve a tarefa que tem pela frente.
Isto é o que quero dizer com incerteza sobre «o quê». Imagine que é um
estudante a tentar compreender uma tarefa, um funcionário confuso com
instruções vagas do seu chefe ou talvez esteja a tentar iniciar um projeto
pessoal, como aprender a tocar guitarra, mas não sabe por onde começar.
Em cada um desses cenários, a incerteza sobre o que exatamente deveria
estar a fazer pode funcionar como uma barreira assustadora até para
começar, uma barreira que esgota a sua energia e o deixa a sentir-se exausto
antes mesmo de começar.
A solução? Transformar o seu propósito abstrato num conjunto de metas
e ações concretas. Passar do «porquê» a «o quê».
EXPERIÊNCIA 3:
Metas NICE
O primeiro passo para transformar o seu propósito num plano envolve o
estabelecimento de metas. Deve saber qual é o seu «porquê» fundamental;
mas, sem um objetivo final claro, terá dificuldade em descobrir como
chegar lá.
Mas o estabelecimento de metas pode ser complicado. É claro que todos
concordam que as metas são importantes. O problema é que ninguém
consegue concordar sobre a forma que devem assumir.
Em 1981, George T. Doran, consultor e ex-diretor de planeamento
corporativo da Washington Water Power Company, introduziu o conceito de
metas SMART numa edição da Management Review. A sigla tem o
significado de Specific, Measurable, Assignable, Relevant, Time-related
(em português, Específico, Mensurável, Designável, Relevante, Datada) —
uma fórmula simples e memorizável que rapidamente ganhou força nos
círculos de gestão e desenvolvimento pessoal. Com o passar dos anos,
inúmeras outras siglas abordaram esta questão, cada uma com a sua
peculiaridade sobre o que torna uma meta eficaz. Estas combinações
incluíam FOCUSED (Flexible, Observable, Consistent, Universal, Simple,
Explicit, Directed — em português: Flexível, Observável, Consistente,
Universal, Simples, Explícito, Dirigido), HARD (Heartfelt, Animated,
Required, Difficult — em português: Sincero, Animado, Obrigatório,
Difícil) e até BANANA (Balanced, Absurd, Not Attainable, Nutty,
Ambitious — em português: Equilibrado, Absurdo, Inatingível, Maluco,
Ambicioso), para citar apenas alguns. (OK, confesso, inventei a última.)
Todas estas siglas têm algo em comum. Primeiro, enfatizam a
importância de cada objetivo ser claro e quantificável. Quer sejam
«específicos» ou «explícitos», os seus objetivos devem ser fáceis de
acompanhar e verificar. Em segundo lugar, são muito focados nos
resultados: a função de palavras como «mensurável» e «observável» é
permitir dizer, objetivamente, quando atingiu o estado final desejado.
Metas NICE58
Portanto, seria uma pena se a definição de objetivos altamente
verificáveis e orientados para os resultados acabasse por ser ineficaz. Às
vezes, metas deste tipo acabam por ser um obstáculo à produtividade, e não
a chave para ela.
Infelizmente, é precisamente isso que uma nova onda de pesquisas
parece indicar. Estudos descobriram que, embora metas específicas e
desafiadoras59 possam aumentar o desempenho de certos tipos de pessoas e
tarefas, também podem ter consequências negativas não intencionais.
Não queria acreditar quando encontrei este argumento pela primeira
vez. Passei anos a definir metas SMART. De repente, dizem-me que elas
não são tão úteis como todos me garantiram.
Mas a ciência está cada vez mais clara. Um problema é a visão limitada:
quando nos concentramos excessivamente em alcançar um objetivo final
muito específico, podemos perder de vista outros fatores-chave, como
permanecer fiéis aos nossos valores. Mas o maior problema é o efeito que
têm na nossa motivação: se ficarmos obcecados com uma meta, perdemos a
noção do prazer intrínseco que pode advir de uma tarefa. Em 2009,
investigadores das Universidades Harvard, Northwestern60, da Pensilvânia
e do Arizona colaboraram num artigo intitulado «Metas enlouquecidas: os
efeitos secundários sistemáticos da prescrição excessiva de metas».
Descrevem o estabelecimento de metas como um processo viciante e
corrosivo, um «medicamento com receita médica» que não deve ser
considerado um «tratamento benigno e de venda livre para a motivação».
Não estou a sugerir que todo o estabelecimento de metas seja mau ou
que metas SMART, ou adjacentes a SMART, não sejam eficazes.
Certamente funcionam para motivar o desempenho de certo tipo de pessoas
e para determinadas tarefas. Mas têm os seus efeitos secundários
prejudiciais. E, se luta contra a procrastinação, poderá beneficiar de uma
abordagem alternativa.
O meu método preferido não envolve a fixação num resultado ou
destino externo, mas, em vez disso, enfatiza a jornada da satisfação. É
baseado naquilo a que chamo metas NICE.
Pode até querer usar uma meta SMART para o seu objetivo de longo
prazo, mas uma meta NICE para o aqui e agora. Considere alguns
exemplos:
Carreira Obter uma promoção para um cargo Dedicar uma hora por
de chefia dentro de dois anos. semana para melhorar
uma competência
importante ou estabelecer
contactos com
profissionais do setor.
EXPERIÊNCIA 4:
Com as suas metas NICE em vista, deverá ter uma noção mais clara daquilo
que precisa de fazer especificamente — o que deve facilitar o arranque.
Mas, antes de começar a sua jornada, pode beneficiar da deteção de
problemas.
Visualize-se daqui a uma semana. Esclareceu o que deseja fazer e por
que razão está a fazê-lo. No entanto, apesar de toda esta preparação, ainda
nem começou. O que correu mal?
Chamo a isto «método da bola de cristal», embora às vezes também seja
conhecido como «pre mortem». Oferece uma maneira de identificar os
grandes obstáculos ao seu objetivo antes que eles atrapalhem os seus
planos.
A ideia é simples. Ao analisar, na sua cabeça, o que pode correr mal,
reduz drasticamente a probabilidade de que isso realmente aconteça. Na
verdade, de acordo com um influente estudo realizado por Deborah
Mitchell, professora da Universidade da Pensilvânia, a «retrospeção
prospetiva» — processo de imaginar que um evento já ocorreu — aumenta
em 30 por cento a nossa capacidade de identificar o motivo por que as
coisas correm bem61 (ou mal).
Para mim, o método da bola de cristal é mais poderoso quando analisa
algumas perguntas simples — aquelas que comecei a fazer à minha equipa,
e que o incentivo a fazer também.
Este método funciona para quase todos os objetivos que possamos ter
dificuldade em alcançar. Porque a única coisa de que pode ter a certeza é de
que alguns planos não sairão conforme o planeado. Então, também o deverá
planear. Como disse o general Eisenhower: «Nenhuma batalha foi vencida
de acordo com o plano, mas nenhuma batalha foi vencida sem um plano.»
PERGUNTE «QUANDO?»
EXPERIÊNCIA 5:
Intenções de implementação
EXPERIÊNCIA 6:
Bloqueio de tempo
Há uma maneira ainda mais óbvia de encontrar tempo para fazer as coisas
que valoriza. Mas, provavelmente, é o método menos utilizado que existe:
bloqueio de tempo.
O bloqueio de tempo é uma forma elegante de dizer: «Se quiser fazer
algo, ponha-o na sua agenda.» Mas não estou a falar apenas de reuniões;
estou a falar de tempo para trabalho intensivo, tempo para gestão pessoal,
tempo para correr. É bastante óbvio. E, no entanto, é a única ferramenta
simples que um grande número de pessoas não consegue utilizar.
Fico sempre espantado com a quantidade de pessoas que conheço que
são altamente organizadas, altamente motivadas e que têm objetivos de vida
claros, mas que não fizeram nenhum esforço para colocar na agenda as
coisas que mais valorizam. Isto surpreende-me. Aprendi da maneira mais
difícil que, se não colocar na agenda as coisas que desejo fazer, elas não
acontecerão.
Muitas vezes me perguntei por que razão as pessoas são tão resistentes a
fazer uso completo de uma agenda. Acho que as pessoas sentem um pouco
de resistência à ideia de estruturar o seu dia desta forma. Escrever «Ir ao
ginásio» ou «Escrever o meu romance durante uma hora» pode parecer
muito rígido e estruturado para coisas que não consideramos «trabalho».
Mas a verdade é que a estrutura lhe dá mais liberdade, e não menos. Ao
reservar períodos específicos para diferentes atividades garante que terá
tempo para tudo o que é importante para si: trabalho, passatempos,
relaxamento, relacionamentos. Não está apenas a reagir a tudo o que lhe
aparece à frente durante o dia. Em vez disso, está a planear a sua vida de
acordo com as suas prioridades.
Pense no bloqueio de tempo como um orçamento para o seu tempo.
Assim como reserva os seus rendimentos para diferentes categorias, como
renda da casa, alimentação, entretenimento e poupança, reserva as suas 24
horas para diferentes atividades. E, tal como o orçamento monetário lhe
pode dar liberdade financeira, o bloqueio de tempo pode dar-lhe liberdade
de tempo.
Se deseja começar a bloquear o tempo, criei um sistema de três níveis
para ajudá-lo a fazer isso.
O nível 1 é bloquear o tempo para tarefas específicas que tem evitado.
Neste nível, começa a abordar aquelas tarefas que estão na sua lista há
muito tempo. Pode ser qualquer coisa, desde limpar a sua caixa de entrada
do e-mail, organizar o seu espaço de trabalho ou finalmente tratar do
relatório que anda a adiar. E bloqueie um período específico de tempo para
estas tarefas na sua agenda. Pode bloquear das 9h às 10h de terça-feira para
limpar a sua caixa de entrada de e-mail. Trate esse bloco de tempo como
faria com qualquer outro compromisso. Quando chegar o tempo alocado a
essa tarefa, concentre-se somente nela.
O nível 2 consiste em bloquear o tempo na maior parte do dia. Depois
de praticar um pouco com tarefas individuais de bloqueio de tempo, deve
começar a sua manhã a criar um cronograma de bloqueio de tempo para o
dia inteiro. Imagine acordar e planear o seu dia assim: 7h às 8h para
exercício, 8h às 9h para o pequeno-almoço e tempo para a família, 9h às
11h para trabalho intenso no seu projeto mais importante, 11h às 11h30 para
responder a e-mails, e assim por diante.
Está, essencialmente, a transformar a sua lista de tarefas num horário.
Ao alocar intervalos de tempo específicos para cada tarefa, cria um plano
claro de quando e como o seu trabalho diário será realizado.
Finalmente, chega o nível 3, em que bloqueia o tempo da sua «semana
ideal». Aqui, não está a planear apenas um único dia; está a planear os sete
dias inteiros à sua frente. Certifique-se de que todos os aspetos da sua vida
recebem a atenção que merecem. Identifique todas as coisas que são
importantes para si: trabalho, família, passatempos, atividade física,
relaxamento, desenvolvimento pessoal, etc. Em seguida, reserve horários
específicos na sua semana para cada um deles.
Por exemplo, pode decidir que todos os dias da semana, das 18h às 19h,
são dedicados a atividade física, das 19h às 20h é a hora do jantar em
família e das 20h às 21h é para leitura. Da mesma forma, pode reservar as
manhãs de segunda e terça para trabalho profundo, as tardes de quarta para
reuniões de equipa e as de sexta para desenvolvimento pessoal. A chave é
criar um equilíbrio que funcione para si — a sua semana ideal, refletindo as
suas prioridades, ambições e circunstâncias pessoais.
Talvez nunca cumpra a sua semana ideal; daí eu referir-me a ela como
«ideal». Inevitavelmente, surgirão coisas que o vão desviar do caminho — e
tudo bem. O bloqueio de tempo não significa criar um horário rígido que
lhe provoque stress; trata-se de criar estrutura e garantir que haja tempo
dedicado ao que é mais importante para si.
Depois de conseguir isso, a névoa da incerteza ficará um pouco menos
densa.
RESUMINDO
ENCONTRAR CORAGEM
EXPERIÊNCIA 1:
O rótulo da emoção
EXPERIÊNCIA 2:
O rótulo de identidade
REDUZIR O MEDO
EXPERIÊNCIA 3:
A regra 10/10/10
A primeira forma de reduzir o poder que o medo exerce sobre nós é ganhar
alguma perspetiva.
Uma das razões pelas quais o medo é tão paralisante é termos uma
tendência catastrofista. Nas nossas cabeças, um pequeno contratempo torna-
se extremamente importante. Cada potencial fracasso tem a capacidade de
destruir toda a nossa vida e de nos definir para sempre. Atente no seguinte:
Quando der conta de que está a catastrofizar desta maneira, tente dar um
passo atrás e ter uma visão geral. Com o kit de ferramentas certo, podemos
perceber que as coisas não são tão más quanto parecem — e, assim, o medo
torna-se menos intenso.
O nome científico deste processo é «reavaliação cognitiva»:69 mudar a
interpretação de uma situação para que nos sintamos melhor
emocionalmente. O principal objetivo da reavaliação cognitiva é mudar a
nossa perspetiva sobre um evento, pensamento ou sentimento, permitindo-
nos experienciar uma resposta emocional mais positiva.
Uma maneira simples de colocar em prática a reavaliação cognitiva é
lembrar-se de que aquilo que o faz sentir-se tão mal provavelmente não terá
tanta importância no futuro. Pode pô-lo em prática colocando-se as três
perguntas a seguir, que se somam ao que chamo de regra 10/10/10. Pergunte
a si mesmo:
EXPERIÊNCIA 4:
A equação da confiança
O medo nem sempre assume formas tão dramáticas como «A minha vida
está arruinada para sempre», claro. Parte do medo que sentimos
corresponde ao sentimento desanimador e irritante de dúvida que se
interpõe entre nós e os nossos objetivos — o medo de, simplesmente, não
sermos bons o suficiente.
Muitas vezes, penso nesta forma de dúvida como uma espécie de morte
aparente. Estamos presos entre duas crenças mutuamente exclusivas. Parte
de nós pensa «Quero mesmo fazer isto», mas outra parte diz «Não consigo
de maneira nenhuma».
Por exemplo, quando procrastino escrever (o que acontece com
frequência), é porque estou suspenso entre dois ideais. Por um lado, há um
desejo genuíno de escrever o meu livro — de criar algo bonito, ajudar
pessoas — e, por outro, há uma pequena voz na minha cabeça a dizer:
«Qualquer coisa que eu escreva será lixo, então não há sentido em fazê-lo»
ou «Nem sequer sou um bom escritor, por que motivo hei de tentar?»
Certamente, há casos em que a dúvida é útil e justificada. Tenho muitas
dúvidas sobre a minha capacidade de pilotar um avião ou de projetar um
foguetão. Mas, na sua maioria, as nossas dúvidas são, geralmente, menos
racionais. Por norma, quando a dúvida causa procrastinação, não é porque
há algo real ali. É o resultado da perceção: a minha crença na minha
capacidade é menor do que a capacidade que acredito ser necessária. Se
aprecia equações matemáticas, pode escrever assim:
SUPERE O MEDO
O efeito holofote
Para mim, este processo começou no jantar de festa do meu amigo Jake.
Era uma animada noite de sábado na casa de Jake, e a sala fervilhava de
gargalhadas e conversas efusivas. Jake planeava a festa há semanas. Era
importante para ele. Todos os convidados sabiam que ele se alimentava à
base de Uber Eats no dia a dia. Preparar um bufete de comida deliciosa para
os seus amigos era algo sem precedentes.
Eis a oportunidade para uma piada hilariante, pensei. Enquanto Jake
servia, esperei ansiosamente por uma pausa na conversa — e, enquanto ele
colocava os pratos gloriosos na mesa de jantar, vi a minha oportunidade.
«Obrigado por encomendares toda esta comida deliciosa do Uber Eats,
Jake», disse eu.
Houve um momento de silêncio. E, depois, muito mais silêncio.
Ninguém se riu. Depois, alguns tinidos de garfos e facas contra os pratos. O
meu rosto ficou vermelho e, de repente, senti calor. Aquilo não me tinha
corrido bem. Não foi engraçado e, pior, provavelmente ofendi o anfitrião,
que trabalhara como um escravo na cozinha durante horas.
Mais tarde, naquela noite, ainda paralisado de vergonha, tive uma leve
cena com a minha amiga Katherine. Humilhei-me completamente? Alienei
todos os meus amigos de uma só vez? Nunca mais ninguém me convidaria
para jantar? Ela olhou para mim com surpresa; nem percebera que eu tinha
contado uma piada. «Eu estava ocupada a servir-me da comida», disse ela.
«A comida dele é surpreendentemente boa, não é?»
A minha gafe imaginária ensinou-me uma lição poderosa. Sobrestimei o
grau em que os outros notaram e julgaram as minhas ações. À medida que a
noite continuava, olhei ao redor da sala e percebi que o mundo não estava
focado em cada movimento meu. Todos estavam demasiado ocupados a
cuidar das suas próprias preocupações, risadas e conversas.
Fui vítima de um fenómeno interessante conhecido como «efeito
holofote»72. Estamos altamente sintonizados com o que os outros pensam
de nós. Isto faz sentido — como criaturas sociais, a nossa amígdala
cerebelosa está sempre à caça de ameaças à nossa condição. Mas também
significa que passamos a vida a acreditar que um holofote está sempre
voltado para nós e que todos ao nosso redor estão constantemente a olhar
para nós, a analisar os nossos comportamentos e a julgar o nosso valor
como seres humanos.
Numa série de artigos publicados no início da década de 2000, o
professor de Psicologia Thomas Gilovich e os seus coautores provaram,
repetidamente, que os indivíduos têm uma tendência notável para
sobrestimar o grau em que os outros pensam sobre eles ou os julgam. «As
pessoas ficam frequentemente preocupadas com a forma como os mais
pequenos detalhes das suas ações e aparência podem ser percebidos pelos
outros», escreve ele. «Parte dessa ansiedade pode ser despropositada.
Muitos dos detalhes da nossa aparência ou desempenho provavelmente
passarão despercebidos ao público cujas opiniões cortejamos tão
assiduamente.»
A verdade é que todos estão sobretudo preocupados consigo mesmos e
com a forma como são vistos. Não gastam muito tempo (se é que gastam
algum) a pensar em nós.
O que isto sugere é que o efeito holofote pode ser reduzido com um
simples lembrete de que, bem, ninguém se importa. E quando o medo o
impede de fazer algo, pode ser profundamente libertador:
EXPERIÊNCIA 6:
O efeito Batman
COMEÇAR
REDUZIR ATRITO
Então, como podemos superar este obstáculo? O primeiro método envolve
olhar para o mundo ao nosso redor e tentar descobrir o que está a tornar tão
difícil o começo. Pode descobrir que pequenos ajustes no seu ambiente
fazem toda a diferença. Para entender o que quero dizer, podemos recorrer
ao trabalho de Marlijn Huitink, investigadora que liderou um estudo
neerlandês sobre a psicologia da compra de vegetais.74
Huitink e a sua equipa foram incumbidos por uma cadeia de
supermercados e por várias organizações públicas de encontrar formas
baratas de melhorar a saúde da população. Para o fazer, desenvolveram um
método simples para explorar como o nosso ambiente afeta as nossas
decisões de compra. Em alguns dias da semana (dias da abordagem), os
investigadores adicionaram um compartimento verde aos carrinhos de
compras que cobria metade do fundo. O compartimento verde indicava um
espaço onde os clientes colocariam os seus vegetais. Também trazia
impressa uma mensagem informando do que as outras pessoas do
supermercado fazem quanto à compra de vegetais. Uma mensagem dizia:
«Os três vegetais mais populares neste supermercado são o pepino, o
abacate e o pimento.» Outra dizia: «A maioria dos clientes escolhe pelo
menos sete vegetais.» Nos outros dias da semana (dias de controlo), os
investigadores removeram os compartimentos verdes.
Os investigadores queriam testar se estes ajustes subtis — e,
crucialmente, baratos — no nosso ambiente (como o compartimento verde e
a mensagem no carrinho de compras) mudariam o comportamento dos
compradores. E, de facto, mudaram! Nos dias com compartimentos verdes,
os compradores incluíam, em média, um acréscimo superior a 50 por cento
de vegetais, comparativamente com os dias sem compartimento.
Podemos pensar nestas mudanças como uma redução da quantidade de
energia necessária para iniciar uma tarefa. Elas eliminam o atrito que existe
entre nós e o objetivo que procuramos. Se é constantemente lembrado de
comprar vegetais, é preciso muito menos energia para se recordar de o
fazer. E, se lhe disserem quais são os vegetais mais populares na sua
comunidade, é preciso muito menos energia para decidir quais escolher.
EXPERIÊNCIA 1:
EXPERIÊNCIA 2:
É claro que não é apenas o ambiente que dificulta o início de uma tarefa. É
também o seu humor. Até agora, neste livro, falámos muito sobre os
grandes, e muitas vezes stressantes, obstáculos emocionais que nos
impedem de começar: ambiguidade sobre o que estamos a fazer, ansiedade
sobre o que uma tarefa implica. Mas há um obstáculo bem mais prosaico.
No meu país natal, a Grã-Bretanha, isto é normalmente referido como CBA
ou «cant’t be arsed»75.
Não existe, que eu saiba, nenhuma frase equivalente noutra língua que
capte esta ideia de forma tão contundente. O que é uma pena porque é uma
sensação muito comum. Eu CBA de escrever este ensaio. Eu CBA de
aprender a tocar guitarra. E eu realmente, realmente CBA de trabalhar no
meu livro.
O CBA é o obstáculo mais comum — e mais paralisante — para
começar. Mas pode ser facilmente resolvido, utilizando um dos truques de
produtividade mais sábios e antigos: a «regra dos cinco minutos».
A regra dos cinco minutos é uma técnica simples, mas poderosa, que o
incentiva a comprometer-se a trabalhar numa tarefa por apenas cinco
minutos. A ideia por trás desta regra é que dar o primeiro passo costuma ser
a parte mais desafiadora de qualquer tarefa. Durante esses cinco minutos,
concentra-se apenas naquilo que está a evitar, dedicando-lhe toda a sua
atenção. Depois de os cinco minutos terminarem, poderá decidir se deseja
continuar a trabalhar ou fazer uma pausa.
Na minha experiência, a regra dos cinco minutos é estranhamente
eficaz. Normalmente, imaginar-se a fazer aquilo que está a procrastinar por
apenas cinco minutos não é tão horrível como comprometer-se seriamente
com isso. Sobretudo quando, na nossa cabeça, esse compromisso parece
equivalente a «fazer aquilo para o resto da minha vida».
Cerca de 80 por cento das vezes, após esses cinco minutos, continuo.
Depois de começar a preencher papelada, abano a cabeça ao som de uma
cover de quarteto de cordas de «Concerning Hobbits» da banda sonora do O
Senhor dos Anéis e acabo por divertir-me — ou pelo menos percebo que
não é tão mau como achei que seria.
É crucial, no entanto, que não se force a continuar a trabalhar, caso
contrário a regra dos cinco minutos torna-se um nome inadequado. Então,
nos outros 20 por cento das vezes, realmente permito-me parar após cinco
minutos. Sim, pode significar que adiei o preenchimento da minha
declaração de IRS para outro dia. Mas, ei, pelo menos fiz cinco minutos de
progresso nisso.
E o facto de me permitir parar significa que não estou a mentir a mim
mesmo abertamente. Se eu dissesse a mim próprio que só faria algo por
cinco minutos e depois me sentisse obrigado a continuar, a regra dos cinco
minutos perderia a sua magia.
EXPERIÊNCIA 3:
EXPERIÊNCIA 4:
APOIE-SE
Neste ponto do livro, deve ter notado que muitos dos meus conselhos sobre
a inércia são por antecipação. Existem muitas revelações sobre como evitar
a procrastinação no início, seja dando o primeiro passo ou reduzindo o
atrito. Mas forneci muito menos informações sobre como evitar a
procrastinação a longo prazo.
É normal. Passei grande parte da minha vida a começar bem um projeto
e a pensar que superei o problema da inércia, apenas para perder o impulso
muito rapidamente. Exemplo: este livro! Nos primeiros dois meses, escrevi
30 mil palavras. Nos doze meses seguintes, escrevi apenas 10 mil.
É por isso que a forma final de superar a inércia não está relacionada
com o começar, mas com a procrastinação que se instala mais tarde: aqueles
momentos em que o seu bom progresso se transforma num pântano espesso
onde não faz muita coisa. Nessas situações, precisa de uma forma diferente
de se manter motivado.
A solução é aprender a apoiar-se. Isto pode soar como uma noção vaga.
Mas, no contexto do combate à procrastinação, tem um significado muito
específico. O seu objetivo é encontrar formas de se encorajar enquanto
trabalha para atingir os seus objetivos. E, acima de tudo, responsabilizar-se
à medida que avança. Vamos começar com uma ferramenta simples mas
extremamente eficaz: encontrar um parceiro de responsabilidade.
EXPERIÊNCIA 5:
EXPERIÊNCIA 6:
Perdoe-se
• «Hoje não fui àquela sessão de treino matinal. Mas consegui uma
hora extra na cama e estou a sentir-me mais revigorado do que o
normal.»
• «Não terminei a última parte do relatório. Mas foi por um bom
motivo. Conversei com um colega na copa dos funcionários e
pusemos as novidades todas em dia.»
• «Não terminei aquela candidatura de emprego. Mas, em vez disso,
passei tempo com a minha avó, e isso é uma vitória por hoje.»
RESUMINDO
• O nosso terceiro bloqueador emocional é o mais comum de
todos: a inércia. Quando não está a fazer nada, é fácil
continuar assim. E, quando está a trabalhar, é muito mais
fácil continuar a trabalhar.
• Mas existem algumas maneiras simples de a combater.
Procure os atritos na sua vida: Que obstáculos o estão a
impedir de começar? E como pode livrar-se deles?
• O melhor antídoto para não fazer nada é simplesmente
fazer alguma coisa. Pode agir definindo primeiro o seu
próximo passo e, depois, monitorizando o seu progresso,
para estar cercado de evidências tangíveis de que está a
avançar em direção aos seus objetivos.
• A etapa final é a mais gentil: criar sistemas que possam
ajudá-lo a apoiar-se a longo prazo. Acima de tudo, seja
tolerante consigo e comemore as pequenas vitórias.
74 Huitink, M., Poelman, M. P., Van Den Eynde, E., Seidell, J. C., e Dijkstra, S. C. (2020). «Social
norm nudges in shopping trolleys to promote vegetable purchases: a quasi-experimental study in a
supermarket in a deprived urban area in the Netherlands». Appetite, 151, 104655.
75 Em tradução livre: não me dou ao trabalho [N. T.]
76 Pode ver a transcrição da entrevista de Matt Mochary com Tim Ferriss aqui:
tim.blog/2023/03/03/matt-mochary-transcript/
77 Entrevistei o Dr. Pychyl no meu podcast Deep Dive, em 2022. Pode ouvir a entrevista aqui:
https://aliabdaal.com/podcast/tim-pychyl/
78 Pode ver a lista das obras de Brandon Sanderson aqui:
https://en.wikipedia.org/wiki/Brandon_Sanderson_bibliography
79 Brandon Sanderson fala dos seus objetivos de escrita aqui:
https://faq.brandonsanderson.com/knowledge-base/what-is-your-daily-wordcount-time-goal/
80 Harkin, B., Webb, T. L., Chang, B. P. I., Prestwich, A., Conner, M., Kellar, I., Benn, Y., e Sheeran,
P. (2016). «Does monitoring goal progress promote goal attainment? A meta-analysis of the
experimental evidence». Psychological Bulletin, 142(2), 198–229.
81 Wohl, M. J. A., Pychyl, T. A., e Bennett, S. H. (2010). «I forgive myself, now I can study: how
self-forgiveness for procrastinating can reduce future procrastination». Personality and Individual
Differences, 48(7), 803–808.
TERCEIRA PARTE
Sustentar
CAPÍTULO 7
CONSERVAR
FAÇA MENOS
Em 1997, só havia uma coisa que todos queriam perguntar a Steve Jobs: o
que aconteceu ao OpenDoc? Nos cinco anos anteriores, os engenheiros da
Apple trabalharam arduamente na plataforma de software que, segundo
eles, revolucionaria a forma como os utilizadores criavam, partilhavam e
armazenavam os seus arquivos. E, então, Jobs voltou como CEO da Apple e
acabou com o programa quase imediatamente.
Na altura, muitos pensaram que Jobs tinha cometido um erro histórico.
Mas ele justificou-o com frontalidade. «As pessoas pensam que foco
significa dizer sim àquilo em que precisa de concentrar-se»83, disse ele.
«Mas não é isso que significa. Significa dizer não às centenas de outras
boas ideias que existem… Inovação é dizer não a mil coisas.»
A mensagem de Jobs era clara: o não era tão importante quanto o sim.
«Na verdade, estou tão orgulhoso das coisas que não fizemos quanto das
coisas que fiz», disse Jobs.
Era a decisão certa. Ao longo da década seguinte, a Apple cresceria
cada vez mais; tornando-se, na altura da morte de Jobs, em 2011, a empresa
de capital aberto mais valiosa do mundo.
Esta lição também é importante para todos nós. Alguma das seguintes
situações lhe parece familiar?
EXPERIÊNCIA 1:
Fazer uma viagem pelos Estados Unidos numa Organizar umas férias em
caravana Portugal
Fazer wakeboard
Experimentar acroioga
Aprender a surfar
A lista de sonhos pode ser tão longa quanto quiser — está limitado
apenas pela sua imaginação. A minha lista de investimentos ativos é uma
seleção de projetos pessoais nos quais estou a trabalhar atualmente. Gosto
da terminologia de investimentos porque estou a investir energia no projeto,
e o retorno é (espero) o valor que isso me traz.
A lista de investimentos ativos deve ser limitada com base em quanto
tempo e energia tem para investir neles. Isto será diferente de pessoa para
pessoa. Gosto de limitar a minha a cerca de cinco, mas, se tem filhos
pequenos ou uma carreira agitada, pode aceitar três investimentos ativos.
Ou dois, ou um. Em todos os casos, porém, é aconselhável manter os seus
investimentos ativos na casa de um algarismo.
Se deseja incluir um sonho na sua lista de investimentos ativos, precisa
de ter a certeza de que tem tempo e energia para investir nele. Quando tem
um grande grau de escolha sobre o que poderia fazer com o seu tempo, fica
muito mais difícil comprometer-se com algo num determinado intervalo de
tempo. O nosso cérebro está sempre a pensar: «Estou a trabalhar em X
agora, mas talvez pudesse estar a trabalhar em Y ou possivelmente até em
Z.» Isso é arriscado; se está a remodelar uma casa enquanto trabalha num
grande projeto no seu emprego, enquanto tenta aprender japonês, enquanto
procura fazer o seu blogue descolar, enquanto tenta treinar a equipa de
futebol dos seus filhos, tudo vai parecer muito mais stressante.
O portefólio de investimentos de energia é crucial para resistir à lógica
sedutora do excesso de compromissos. Tendemos a pensar que podemos
fazer tudo. É um mito. Produtividade sustentável significa reconhecer as
limitações do nosso tempo. Toda a gente as tem.
EXPERIÊNCIA 2:
O poder do não
RESISTIR À DISTRAÇÃO
A nossa próxima estratégia para a conservação de energia baseia-se em
duas ideias. A primeira é óbvia: que os humanos são maus em multitasking.
A segunda menos óbvia: que não somos maus nisso da forma como
imagina.
Aprendi isto num estudo realizado pelas cientistas informáticas Rachel
Adler e Raquel Benbunan-Fich86, em 2012. A dupla desenvolveu uma
experiência na qual as pessoas tinham de alternar entre seis tarefas: um
desafio de sudoku, um enigma que envolvia ordenar letras para formar uma
palavra, alguns problemas visuais para detetar o elemento a mais e assim
por diante. Em seguida, reuniram um grupo de pessoas e dividiram-nas em
dois grupos. No grupo sem multitasking, os participantes tiveram de realizar
cada uma das tarefas em sequência. Isto significa que tiveram de terminar a
tarefa de sudoku antes de passar à tarefa de ordenar letras. No grupo
multitasking, diferentes janelas digitais foram abertas para cada uma das
seis tarefas, e os participantes foram informados de que poderiam clicar
entre as janelas para alternar entre as tarefas.
O resultado foi surpreendente. É claro que as pessoas que estavam
extremamente distraídas — aquelas que mudavam incessantemente de uma
tarefa para outra — tiveram um mau desempenho. Mas não foram os
voluntários menos distraídos — aqueles que se concentravam numa tarefa
de cada vez — que tiveram melhor desempenho. Quando os investigadores
traçaram um gráfico de «produtividade» no eixo vertical em relação ao
número de alternâncias entre janelas no eixo horizontal, encontraram um
padrão em forma de U invertido. Havia um nível saudável de distração no
meio — os melhores desempenhos eram aqueles que, ocasionalmente,
alternavam entre tarefas, mas não exageravam.
Porque é que a distração tem este efeito? Por um lado, a erosão das
nossas capacidades quando mudamos de foco com demasiada frequência
resulta daquilo a que os cientistas chamam «custos de mudança». Estes são
os recursos cognitivos e temporais gastos durante a transição entre as
tarefas. Pense no esforço mental necessário para se desligar de uma tarefa,
reorientar-se para a nova atividade e depois ajustar-se às suas exigências.
Este foi o problema que afetou os voluntários do lado direito do gráfico. Por
outro lado, quando passamos muito tempo concentrados numa tarefa,
também é provável que gastemos os nossos recursos cognitivos — então, o
nosso foco também diminui. Este foi o problema que afetou os voluntários
do lado esquerdo do gráfico.
Portanto, o objetivo é passarmos a maior parte do tempo focados em
apenas uma tarefa, mas não nos aborrecermos se, ocasionalmente,
perdermos a concentração. Mas como?
EXPERIÊNCIA 3:
Adicionar atrito
EXPERIÊNCIA 4:
Correção de trajetória
• «Passei cinco minutos nas redes sociais; podia muito bem continuar
a fazer isto nas próximas três horas.»
• «Falhei o meu treino matinal; acho que o dia de hoje está perdido e
vou apenas ver televisão em vez de fazer alguma coisa.»
• «Falhei um dia na minha sequência da aplicação de aprendizagem
de idiomas, por isso é melhor desistir completamente de aprender a
língua.»
Falhar com abandono é um motivo comum pelo qual desperdiçamos
grandes quantidades de energia. O truque é voltar à trajetória.
Novamente, a solução é uma simples reformulação. Como vimos, não é
possível erradicar completamente a distração. Então, tem de a permitir.
Pense na distração como um desvio temporário; não uma indicação de que é
hora de abandonar completamente os seus planos. Desde que corrijamos a
trajetória, ainda chegaremos ao destino pretendido.
EXPERIÊNCIA 5:
EXPERIÊNCIA 6:
RESUMINDO
RECARREGAR
Coisas que faço quando estou sem energia Coisas que faço e realmente
me energizam
Ver o Twitter, sentindo-me indignado com o que está a Fazer ioga ou alongamentos
acontecer no mundo
RECARREGUE CRIATIVAMENTE
EXPERIÊNCIA 1:
Passatempos criativos
EXPERIÊNCIA 2:
Projetos criativos
RECARREGUE NATURALMENTE
EXPERIÊNCIA 3:
Trazer a natureza
Pode muito bem estar a pensar: «Sim, Ali, todos nós gostaríamos de passar
mais tempo na natureza. Infelizmente, muitos de nós vivem em extensas
selvas de betão ou em subúrbios insípidos.» Encontrar a natureza é mais
fácil de dizer do que de fazer.
No entanto, para mim, é por isso que a investigação de Ulrich é tão
revolucionária. Lembre-se de que os participantes do estudo de Ulrich
apenas olharam para algumas fotos de árvores. As árvores nem estavam lá!
E, ainda assim, os efeitos foram significativos. A ciência é clara: conectar-
se com a natureza demora menos — e exige menos esforço — do que
pensa.
Essas conexões podem demorar menos de um minuto. Num estudo, os
investigadores reuniram um grupo de 150 estudantes universitários96 e
submeteram-nos a um teste concebido para medir a sua concentração. Antes
e depois do teste, os participantes fizeram uma «micropausa» de 40
segundos para ver um telhado verde ou um telhado de cimento. Os alunos
que tiveram um vislumbre do telhado verde cometeram significativamente
menos erros e mostraram um foco mais consistente na tarefa em questão,
em comparação com os seus colegas que viram o telhado de cimento.
Na verdade, estas conexões nem sequer precisam de envolver
estimulação visual. Um estudo publicado em 2018 pediu aos participantes
que fechassem os olhos97 e ouvissem paisagens sonoras naturais (canto dos
pássaros, sons de uma floresta tropical, de gaivotas, da chuva de verão).
Embora só tenham ouvido os sons naturais calmantes durante sete minutos,
relataram sentir-se mais energizados no seu trabalho durante horas.
Portanto, tirar energia da natureza não significa necessariamente
embarcar, ao ar livre, numa caminhada de sete horas. Uma maneira óbvia é
considerar a integração de um espaço verde em sua casa. Idealmente, isso
pode significar criar um pequeno jardim ou adquirir algumas plantas de
interior. Mas, se não tem tempo nem recursos, não tema: simplesmente
colocar uma foto do mundo natural na sua mesinha de cabeceira terá um
efeito de recarga.
Ou considere reservar algum tempo para ouvir sons naturais. Na
verdade, não precisa de embrenhar-se numa floresta tropical para convencer
o seu subconsciente de que está numa. Então, porque não passar cinco
minutos antes de dormir a ouvir os sons da floresta tropical no seu
telemóvel — apenas por tempo suficiente para relaxar até adormecer?
EXPERIÊNCIA 4:
Dar um passeio
RECARREGUE INCONSCIENTEMENTE
Até agora, neste capítulo, o nosso foco tem sido aquilo a que chamo recarga
consciente, como encontrar novos passatempos, comprar uma planta para a
casa ou dar um passeio por uma avenida arborizada. Todas estas abordagens
implicam envolvimento ativo. Reenergizam-nos porque investimos energia
no nosso descanso, como ligar um telemóvel a um carregador.
Como já deve ter adivinhado, no entanto, nem sempre fui o melhor a
concentrar-me nas minhas atividades de recarga ativa. E, em minha defesa,
há algo a ser dito sobre a recarga inconsciente.
Eu definiria recarga inconsciente como qualquer atividade que faz
quando não está a pensar muito em relaxar. Podem até ser algumas das
atividades que incluiu na primeira lista deste capítulo.
Embora estas atividades tendam a não ser estratégias particularmente
boas para recarregar a longo prazo, podem ser eficazes em pequenas doses.
Em alguns casos, a coisa mais energizante e produtiva que pode fazer é não
se concentrar intensamente em aprender uma nova música na guitarra. Pode
muito bem ser atirar-se para o sofá e assistir a algum reality show.
Atividades conscientes são ótimas, mas requerem demasiado da nossa
mente. Elas exigem que direcionemos conscientemente a nossa atenção
para coisas específicas. Isso significa que precisam de uma certa quantidade
de energia para serem eficazes.
Se tem energia, isso é ótimo. Mas, às vezes, temos dias em que
chegamos a casa do trabalho, de um dia intenso com os sogros ou de uma
tarde repleta de azar e nos sentimos tão esgotados que obrigarmo-nos a
pintar um quadro ou a procurar uma rua particularmente arborizada para
passear pode não ser divertido… e pode, na verdade, piorar as coisas.
Nesses casos, um tempo livre de culpa para não fazer muita coisa pode
ser exatamente aquilo de que precisamos. Mas aqui também há uma forma
correta de não fazer nada.
EXPERIÊNCIA 5:
EXPERIÊNCIA 6:
O princípio Reitoff
ALINHAR
O Pacific Crest Trail (PCT) não é para todos. Abrangendo mais de 4000
quilómetros de terreno montanhoso no Oeste dos Estados Unidos, abarca
toda a extensão da América, desde os desertos na fronteira mexicana até às
montanhas do Norte de Washington. É conhecido como um dos trilhos mais
árduos — e às vezes perigosos — da América.
Todos os verões, milhares de intrépidos caminhantes partem para o
trilho, começando na primavera e sabendo que só chegarão à fronteira
canadiana cinco meses depois. Para a maioria das pessoas, isso soa como
uma façanha infernal de resistência. Para Kennon Sheldon, professor da
Universidade do Missouri, parecia uma oportunidade perfeita para uma
experiência psicológica.
Sheldon é uma figura titânica numa recente onda de pesquisas sobre a
motivação humana. No virar do milénio, muitas pessoas pensavam que as
grandes questões sobre motivação tinham sido resolvidas. Como
aprendemos na Primeira Parte, desde a década de 1970 os cientistas tinham
consciência dos dois tipos de motivação: intrínseca e extrínseca. A
motivação intrínseca é quando faz algo porque isso é inerentemente
agradável. A motivação extrínseca é quando faz algo por causa de uma
recompensa externa — como ganhar dinheiro ou um prémio. Nos anos
desde que estas duas formas de motivação foram teorizadas, inúmeros
estudos demonstraram que, quando estamos intrinsecamente motivados
para fazer algo, somos mais eficazes e energizados ao fazê-lo; e que as
recompensas extrínsecas podem, a longo prazo, tornar-nos menos
motivados para fazer algo por si só. Motivação intrínseca = boa, extrínseca
= má. E era isso.
Não obstante, Sheldon tinha um palpite de que as coisas poderiam ser
um pouco mais complicadas. A partir da década de 1990, começou a
perguntar-se se estaríamos a falhar algo crucial sobre a ciência da
motivação. Sim, à primeira vista, parecia clara a evidência de que a
motivação extrínseca era «pior» do que a motivação intrínseca. Ao mesmo
tempo, porém, as nossas vidas estão repletas de casos em que somos
claramente motivados por recompensas extrínsecas — e bem motivados.
Imagine uma estudante (vamos chamar-lhe Katniss) a estudar para um
exame. Katniss não gosta do processo de estudo em si, por isso a sua
motivação para estudar não é intrínseca. Por enquanto, está motivada por
algo diferente da pura alegria de estudar e aprender.
Como é que Katniss pode estar a motivar-se para estudar? Eis algumas
opções:
O que nos leva de volta a Sheldon e ao Pacific Crest Trail. Ele começou
a suspeitar que qualquer pessoa que embarcasse no PCT provavelmente
experienciaria, em algum momento, um colapso na motivação intrínseca. O
que os motivou a continuar? — perguntou-se.
Então, decidiu testar. Em 2018, Sheldon recrutou um grupo de
pessoas100 interessadas em caminhar no PCT. Este grupo representava uma
mistura de competências. Sete «nunca» tinham feito uma caminhada destas;
trinta e sete tinham feito «algumas vezes»; quarenta e seis faziam-no
«bastante»; e quatro já o faziam «desde sempre». Antes do início da
caminhada, Sheldon mediu a motivação deles fazendo com que os
participantes avaliassem a precisão das seguintes afirmações, cada uma
medindo um tipo diferente de motivação:
«Estou a caminhar no PCT porque…»
Podemos traçar estas quatro formas num espectro que vai do menos ao
mais autónomo.
A motivação externa é a forma de motivação extrínseca menos
autónoma; em vez de sermos motivados por qualquer tipo de força interna,
estamos a ser controlados pelas opiniões, regras e recompensas oferecidas
por outros. Mais adiante no espectro, a motivação identificada é a forma
mais autónoma de motivação extrínseca. Mesmo que possamos estar a fazer
algo pela recompensa externa associada a isso, valorizamos essa
recompensa ou objetivo final — e, o que é crucial, esse valor foi
determinado por nós, e não imposto a nós por outros.
Usando esta perspetiva, Sheldon descobriu algo fascinante sobre os
caminhantes do PCT. O melhor preditor do seu desempenho foi o tipo
específico de motivação extrínseca a que recorreram quando a sua
motivação intrínseca diminuiu. Usando os dados que reuniu sobre a
motivação, o bem-estar e o desempenho dos caminhantes, mostrou que
aqueles que tinham níveis mais elevados de motivação introjetada e
identificada tinham muito mais probabilidade de completar o trilho.
Conseguiram aproveitar essas formas de motivação extrínseca para ajudar a
sustentar o seu progresso, mesmo quando as coisas ficaram difíceis.
Ao mesmo tempo, Sheldon perguntou a cada um dos caminhantes sobre
o seu humor durante a caminhada, usando uma série de testes bem
estabelecidos para bem-estar subjetivo, jargão psicológico para
«felicidade». Aí estava a sua segunda visão intrigante: o único tipo de
motivação extrínseca que correspondia a maior felicidade era a motivação
identificada. Ou seja, foram os caminhantes que se motivaram alinhando as
suas ações com o que realmente valorizavam que não só completaram o
trilho mas também se sentiram mais felizes no final dele. Sheldon não usou
o termo, mas pode dizer-se que estes caminhantes estavam a experienciar
uma produtividade Feel-Good.
Este estudo sugere a nossa visão final sobre como reduzir o risco de
burnout. Até agora, explorámos como evitar aquilo a que chamo
esgotamento por sobrecarga, que surge quando se assumem demasiadas
tarefas, e esgotamento por exaustão, o qual ocorre quando se trabalha
demasiado. Mas há um terceiro tipo de esgotamento: aquele a que chamo
esgotamento por desalinhamento.
O esgotamento por desalinhamento está ancorado nos sentimentos
negativos que surgem quando os nossos objetivos não são compatíveis com
a nossa noção de identidade. Sentimo-nos pior — e por isso alcançamos
menos — porque não agimos de forma autêntica. Nestes momentos, o nosso
comportamento é impulsionado por forças externas — e não por um
alinhamento mais profundo entre quem somos e o que estamos a fazer. Esse
alinhamento é algo que só a motivação intrínseca e identificada pode
oferecer.
A solução? Descobrir o que realmente importa para si — e alinhar o seu
comportamento com isso.
É um método transformador, que pode fazer-nos sentir
fundamentalmente melhor em relação às nossas vidas. Já explorámos que
todos temos de fazer coisas de que não gostamos e que os outros esperam
de nós. Eu, particularmente, não gosto de levar o carro à revisão, limpar a
casa de banho ou tratar do IRS. Há momentos em que podemos não gostar
da tarefa que estamos a realizar — e isso pode esgotar a nossa energia. Mas
podemos sustentar a nossa produtividade Feel-Good alinhando as nossas
ações atuais com um sentido mais profundo de nós mesmos.
Quando se trata de alinhar as suas ações com os seus valores, pode ser útil
pensar a longo prazo. A longo, longo prazo.
Consideremos como exemplo o terramoto de Los Angeles em 1994. A
17 de janeiro de 1994, um terramoto de magnitude 6,7 abalou a cidade —
matando cinquenta e sete pessoas e ferindo milhares. Entre os sobreviventes
estavam funcionários do Sepulveda Veterans Affairs Medical Center, um
hospital de veteranos de guerra, localizado a apenas dois quilómetros do
epicentro. O hospital sofreu danos consideráveis, e muitas das casas dos
funcionários do hospital também foram destruídas.
Um grupo de investigadores liderado pela professora Emily Lykins102,
da Universidade de Kentucky, usou esta experiência angustiante para
explorar um conceito simples: quando pensamos sobre a morte, temos uma
visão mais clara da vida.
EXPERIÊNCIA 1:
EXPERIÊNCIA 2:
O plano da odisseia
Pediu-se a metade dos alunos que escrevessem sobre os três valores que
eram mais importantes para eles e por que razão os escolheram. À outra
metade foi pedido que escolhesse os três valores menos importantes e que
escrevesse sobre o motivo por que poderiam ser importantes para outra
pessoa. Este simples exercício de escrita teve um enorme efeito no exame
intercalar: a intervenção reduziu significativamente a disparidade de género
nas notas dos exames e melhorou o desempenho das mulheres. E isto era
particularmente verdadeiro para as mulheres que tendiam a apoiar o
estereótipo de que os homens se saem melhor do que as mulheres em
Física.
Porquê? Uma possível explicação é que, ao afirmarem os seus valores,
essas mulheres conseguiram recordar o que mais importava para elas e
manter isso em mente durante o exame.
EXPERIÊNCIA 3:
A roda da vida
EXPERIÊNCIA 4:
A celebração dos doze meses
Categoria Celebração
Saúde Corpo: Nos últimos 12 meses, criei uma rotina de exercícios que
combina com o meu estilo de vida e preferências e perdi sete
quilos.
Mente: Nos últimos 12 meses, dei prioridade à minha saúde
mental iniciando terapia. Isso ajudou-me a tornar-me mais
autoconsciente e a gerir o stress de maneira mais eficaz.
Alma: Nos últimos 12 meses, comprometi-me com uma prática
diária de meditação e participei num retiro espiritual.
Relacionamentos Família: Nos últimos 12 meses, reservei mais tempo para a minha
família, agendando visitas e chamadas regulares.
Romance: Nos últimos 12 meses, fortaleci o meu relacionamento
com o meu parceiro através de uma comunicação mais aberta.
Amigos: Nos últimos 12 meses, fiz um esforço para voltar ao
contacto regular com velhos amigos e construir novas ligações,
levando a um círculo social mais diversificado e compreensivo.
Para alguns, estas etapas para alinhar os seus objetivos com a sua vida ainda
podem parecer muito distantes. Quem será no próximo ano ainda pode
parecer assustadoramente distante. Tem de encontrar uma maneira de
alinhar o seu comportamento agora, hoje.
Aqui, o nosso objetivo é tomar decisões quotidianas que se alinhem
com o nosso sentido mais profundo de identidade. Isto não apenas nos faz
sentir à vontade como é um dos impulsionadores mais poderosos da
produtividade Feel-Good. Num estudo, Anna Sutton, da Universidade de
Waikato, na Nova Zelândia, analisou cinquenta e um estudos compostos por
mais de 36 mil pontos de dados108 para analisar as relações entre viver
autenticamente o dia a dia e o bem-estar geral. As suas descobertas
mostraram não apenas uma relação positiva entre autenticidade e bem-estar
mas também entre autenticidade e aquilo a que ela chamou «engajamento».
Foi uma descoberta impressionante. Quando as pessoas tomam decisões
que se alinham com os seus valores pessoais e o seu sentido de identidade,
não são apenas mais felizes; estão mais empenhadas nas tarefas que têm
pela frente.
Portanto, o ingrediente final do alinhamento envolve uma mudança de
mentalidade: de pensar nos nossos valores ao nível de anos e décadas para
pensar nos nossos valores ao nível das escolhas diárias.
A questão é como. Todos tomamos decisões diárias que nos afastam dos
nossos valores. A pessoa que valoriza a liberdade, mas permanece num
trabalho controlador, esperando que as suas ações sejam adquiridas. A
pessoa que valoriza relacionamentos próximos, mas passa a maior parte do
tempo a trabalhar e negligencia o tempo com a família e amigos. São casos
em que as decisões diárias não estão alinhadas com o que mais desejamos.
EXPERIÊNCIA 5:
EXPERIÊNCIA 6:
Experiências de alinhamento
RESUMINDO
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AGRADECIMENTOS
Z-Access
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