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Vladimir Fernandes
Assim, a conclusão geral desse item, até então, é que as diferentes formas
simbólicas não convivem de forma harmônica; pelo contrário, já que são
visões totalizantes da realidade, cabe a cada uma se intitular como a única
verdadeira e para isso deve combater as demais. Mas para Cassirer as
formas simbólicas não podem se julgar umas às outras, já que todas,
enquanto construções simbólicas, têm o mesmo grau de validade. Cassirer
também alerta que a reflexão filosófica poderia escapar de uma posição
restrita semelhante se conseguisse encontrar uma visão de conjunto que
possibilitasse abarcar todas as formas simbólicas nas suas relações
imanentes entre si.
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de nuvem, mas é a própria nuvem e como tal tem o poder de fazer chover.
Não existe nada que seja simplesmente mímico. A representação mímica
torna possível apropriar-se da coisa que mimetiza; ambas fazem parte de
uma mesma unidade. De modo análogo, o pensamento mítico pode
denominar coisas diferentes com um mesmo nome, tendo por base uma
semelhança externa. Todas as coisas que possuem o mesmo nome tendem
a ser apresentadas como semelhantes. Por exemplo, se o pensamento
mítico-mágico atribui à imagem do relâmpago uma forma ‘serpenteante’
tal fato converte o relâmpago também numa serpente. E se o sol é
denominado como ‘o celestial voador’ ele também pode ser designado
como uma flecha ou pássaro, já que o enfoque aqui está na sua
característica de “voar”; isso explica porque os egípcios representaram o
sol como uma cabeça de falcão (1925b, p.116). As designações para o
pensamento mítico não se encontram numa esfera ‘abstrata’ mas, pelo
contrário, cada denominação converte-se numa presença real.
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5 Rito e Mito
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Essa passagem busca explicar o processo pelo qual se configura uma nova
forma simbólica, já que o conflito existe não só entre as formas
simbólicas, mas também dentro de cada uma manifestando-se através de
forças de conservação e mudança. Quando as forças da mudança se tornam
preponderantes, dialeticamente se desprendem do seu núcleo original
configurando sua própria fisionomia e autonomia, ocorre uma mudança na
visão de mundo dessa nova forma que já não a torna possível conviver
com a qual pertencia.
Para Tomás a moral religiosa não deve ser entendida como uma moral
católica, uma vez que para ele, a moral da igreja não é uma moral restrita
aos católicos, mas serve para todos os seres humanos, independente da
religião. [viii] Tal abrangência se deve ao fato que a moral na concepção
de Tomás está intrinsecamente vinculada ao ser do homem. Isto é, a moral
não é concebida como algo imposto exteriormente visando o controle das
ações, mas sim como algo interior que propicia a auto-realização humana.
Conforme expõe Lauand:
O ser humano deve “tornar-se o que é”. Mas como saber o que o homem
pode ser? Na verdade, o ser humano deve buscar sua areté. E qual a areté
do homem? E ele buscar seu ultimum potentiae, o máximo que ele pode
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Dessa forma, compreendido o que é o ser do homem e o que ele deve ser,
surge uma outra interrogação: como fazer para que isso ocorra? Para tal
fim o ser humano deve fazer uso da moral. Nesta perspectiva a moral
ganha um novo enfoque, já que ela é a condição de possibilidade da auto-
realização humana. Ou seja, compreendido qual o ser do homem a moral
deve ser aplicada de acordo com este primeiro fundamento para propiciar
o seu vir a ser. Conforme explica Lauand, sobre Tomás:
Assim, ser moral significa agir com virtude, propiciando dessa forma, o
desenvolvimento do potencial latente que há no ser do ser humano,
possibilitando trilhar o caminho do “torna-te o que és”.
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[v] Cassirer admite que sua própria concepção dos tipos de construção
interna do simbólico tem influência da concepção estética de Goethe.
“Goethe há distinguido três formas da concepção e da exploração
[estética], as que designa como ‘simples imitação da natureza’, como
‘maneira’ e como ‘estilo’. (...) O trajeto da imitação ao puro símbolo há de
percorrê-lo a arte como percorre a linguagem, e não é senão seguindo-o
como se chega ao ‘estilo’, tanto daquele como deste. São umas leis
análogas do processo, é um ritmo homogêneo da evolução face à
espontaneidade da expressão do espírito o que tanto aqui como ali se
revela como eficaz” (1956, p.170).
[vii] Sobre esse assunto ver também a Tese de Mestrado: A diferença entre
mito e religião, em Ernst Cassirer, no plano geral da “Filosofia das
formas simbólicas”, com ênfase no confronto entre a consciência mítica
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BIBLIOGRAFIA
KROIS, J. M. Symbolic forms and history. New Haven and London: Yale
Univ. Press, 1987.
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