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Por que os indivíduos, em uma situação especí ca, tomam determinadas decisões? Quais as razões/motivações para
esses atos?
Entender o sentido das ações empreendidas pelos indivíduos é o ponto de partida da sociologia de Max Weber, que
estudaremos nesta aula.
deste tipo de ação social.
, O MÉTODO COMPREENSIVO DE MAX WEBER
De acordo com Adriana Loche, Max Weber procura compreender a sociedade como um agregado de indivíduos que possuem Ação tradicional
suas motivações próprias. Ao mesmo tempo, o estatuto de realidade objetiva é mudado para uma concepção menos determinista
de sociedade, segundo a qual a realidade é um fenômeno compósito.
Por isso, o cientista não conhece a sociedade de antemão, nem consegue abarcá-la totalmente. Para compreender a sociedade, é Guiada pela tradição, costumes arraigados que fazem com que os indivíduos ajam em
preciso entender as redes de signi cações estabelecidas pelos indivíduos em suas ações e relações sociais. Para criar uma função deles. É uma espécie de reação a estímulos habituais. Exemplo disso é o hábito de
imagem, como a que Durkheim via a sociedade como uma coisa, Weber a compreendia como um conjunto de ações parciais que saudarmos as pessoas com expressões como “bom dia”, “boa noite”, “ que com Deus”,
precariamente se totalizavam.
Assim, somente podemos compreender pequenos “pedaços” dessa realidade. Como cada indivíduo tem sua própria visão parcial independentemente de termos grande a nidade com elas ou mesmo alguma fé. Para Weber
do mundo, há um con ito permanente entre os indivíduos que compõem a sociedade. Por este motivo, Weber propõe a é difícil perceber até que ponto o agente age conscientemente ao empreender este tipo de
reconstrução do sentido subjetivo original da ação e o reconhecimento da parcialidade da visão do observador. ação.
TIPOS DE AÇÃO
Weber, preocupado com o valor que cada indivíduo atribui à sua ação, procurou elaborar uma tipologia para
compreender as características particulares, de nindo quatro tipos de ação:
Motivada por ns objetivos, ou seja, para atingir seus ns, o indivíduo planeja e executa seus
planos, utilizando-se dos meios que considera mais adequados para atingir seus objetivos.
A racionalidade econômica capitalista é exemplo desse tipo de ação. Nesta perspectiva, Fonte: pyrozhenka / Shutterstock, baranq / Shutterstock, Rawpixel.com / Shutterstock e Antonio Guillem / Shutterstock
Motivada por crenças em valores morais, religiosos, políticos etc. Neste tipo de ação o que
importa para o indivíduo é seguir os princípios que mais lhe são caros, não importando o
resultado de sua conduta; o que lhes impele é a lealdade aos valores que orientam sua
conduta. É o caso dos agentes que abrem mão de vantagens nanceiras em função da Dominação
Dominação tradicional;
preservação ambiental, por exemplo.
Ação afetiva
Guiada por uma conduta emocional. Sentimentos como raiva, ódio, paixão, desejo, ciúme Dominação
Dominação racional-legal;
orientam sua conduta. Muitas vezes, o resultado dessas ações não é o esperado pelo
agente, em virtude da irracionalidade de seu ato. Os crimes passionais são exemplos típicos
No Brasil onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo de família patriarcal (o pai é o chefe supremo, o
Dominação
Dominação carismática. homem possui um status de soberano, senhor total de todos e todas as coisas), o desenvolvimento da urbanização
que não resulta unicamente do crescimento das cidades, mas também do crescimento dos meios de comunicação,
Vimos que a dominação racional-legal expressaria a forma mais moderna de dominação, visto que este tipo de
atraindo vastas áreas rurais para a esfera de in uência das cidades, ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos
dominação se assenta nas formas impessoais de concessão e reconhecimento da autoridade legitimamente
permanecem vivos ainda hoje.
constituída.
Roberto da Matta discute a permanência de práticas tradicionais na sociedade brasileira em seu livro “O que faz o
Brasil, Brasil?“:
Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderem a
O dilema brasileiro residiria na oscilação, ou seja, no que existe de liminar, entre "um esqueleto nacional feito de leis distinção fundamental entre os domínios do privado e público. Assim, eles se caracterizam justamente pelo que separa
universais cujo sujeito era o indivíduo e situações onde cada qual se salvava e se despachava como podia, utilizando o funcionário “patrimonial” do puro burocrata, conforme a de nição de Max Weber.
para isso seu sistema de relações pessoais’.”
Nesse sentido, o brasileiro oscilava entre uma série de leis que, teoricamente, todos os indivíduos da sociedade
deveriam cumprir, e uma série de expedientes passíveis de serem utilizados para burlar estas normas com bases em
uma rede de contatos pessoais facilitados pelo nosso próprio sistema burocrático e hierárquico.
Deste con ito nasceriam situações que todos nós estamos acostumados a vivenciar, como o jeitinho, que sempre está
ao nosso alcance (pra tudo tem um jeito), e o famoso ‘“você sabe com quem está falando?”.
Roberto da Matta, em O que faz o Brasil, Brasil? (Rio de Janeiro: Ed. Sala, 1984)
Como se sabe, a prática do patrimonialismo ainda é bastante arraigada na sociedade brasileira. Apesar de o
ordenamento jurídico brasileiro consagrar o princípio da igualdade entre os cidadãos, veri ca-se a permanência de
relações hierarquizada que permitem que alguns indivíduos sejam “mais iguais que outros”, como irônica e
argutamente demonstra Roberto da Matta, em “O que faz o Brasil, Brasil?” sobre o qual comentamos anteriormente.
É o caso de homens públicos que se utilizam de recursos públicos para ns privados, seja utilizando-se de funcionários
Veja na tirinha um exemplo do que hoje chamamos de “jeitinho brasileiro”: públicos para serviços domésticos, seja pleiteando vistos diplomáticos a parentes sem alegadas razões de Estado.
Cabe ressaltar que essas práticas vem sendo contestadas e combatidas, como se pode perceber na proibição do
nepotismo (contratação de parentes para ocupar cargos públicos) nas três esferas do poder (Executivo, Legislativo e
Judiciário), como preconiza a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal, de 29 de agosto de 2008, que
ressalta o princípio da impessoalidade no trato da coisa pública.
Fonte: http://mentirinhas.com.br/mentirinhas-426/
Saiba Mais
, Clique aqui (https://www.youtube.com/watch?v=CM9xBCj7h5Q) e assista ao vídeo sobre o “jeitinho brasileiro”.
Segundo Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil: Dmitry Guzhanin / SHutterstock
ATIVIDADE
Leia o caso abaixo e responda às questões propostas:
O capítulo 63 da novela mexicana Rebelde, produzida pela rede Televisa e transmitida/dublada pelo SBT, trouxe o
seguinte diálogo:
Mia Tipo assim, eu gosto muito de comprar. Bolsas, sapatos, maquiagem...tudo para car bem linda.
Mia:
Miguel: Ah, meu amor, você deve fazer o que gosta. Tem que pensar em você. Só tenha cuidado para que suas amigas
Miguel
não se aproveitem de você.
Mia: Ah! Mas isto é claro para mim, na hora que a gente precisa é cada um por si, não tem ninguém para ajudar. É por
Mia
isso que eu penso primeiro em mim, segundo em mim e depois em mim...
Miguel: E em mim você não pensa?
Miguel
Mia: Só para carregar meus embrulhos!!!!
Mia
Roberta: Essa barbie descerebrada não faz outra coisa senão comprar, comprar! É uma egoísta, uma individualista que
só pensa em si.
Segundo a teoria da ação social de Weber, que tipo de ação está presente nesses diálogos? Justi que.
Resposta Correta
Glossário
ADRIANA LOCHE
LOCHE, Adriana et al. Sociologia Jurídica. Porto Alegre: Síntese, 1999. p. 32.