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Bianca Lurdes Azevedo de Araújo

Carolina Cristaldo Fontes Rocha


Julia Rafaela Frazeto Lima

TRABALHOS PRÁTICO V, VI e VII


Max Weber, Pierre Bourdieu, Os Campos da Sociologia da Infância

CAMPO GRANDE – MS
2021
Bianca Lurdes Azevedo de Araújo
Carolina Cristaldo Fontes Rocha
Julia Rafaela Frazeto Lima

TRABALHOS PRÁTICOS V, VI e VII


Max Weber, Pierre Bourdieu, Os Campos da Sociologia da Infância

Trabalho prático na forma EAD, com


questão e resoluções sobre os conceitos,
fundamentos e argumentos do filósofos
da disciplina de Sociologia da Educação
do curso de Pedagogia da Universidade
Federal de Mato grosso do Sul (UFMS).

Orientadora: Jacira Helena do Valle Pereira Assis.

CAMPO GRANDE - MS
2021
ATIVIDADE V

1) Como ficou conhecida a sociologia de Max Weber?


A ciência da cultura e da ação humana (a sociologia) é, em síntese, a
reconstrução (histórica) e a compreensão das escolhas humanas pelas
quais um universo de valores foi edificado. [...] Definindo a sociologia como
a ciência que procura compreender a ação social, que deve entender o
sentido que o autor dá á sua ação, a “ciência weberiana” pode ser
caracterizada pelo esforço que empreendeu para elucidar e explicar os
valores aos quais os homens aderiam, e as obras (instituições) que
construíram (sociologia compreensiva). (VILELA,2001, p.88)

A sociologia de Max Weber, ficou afamada como sociologia compreensiva,


pois buscava compreender a conduta que orienta a ação social, estimando o ser
social e suas atitudes como sendo o objeto primordial de estudo de sua sociologia.

2) Por quê para Weber o indivíduo e suas ações eram o ponto chave da
investigação ou o ponto de partida para a Sociologia?

“A especificidade de uma análise das condutas humanas impregnadas de sentido,


motivos e significados particulares para os sujeitos envolvidos [...]” (VILELA, 2001,
p.75).

Weber na construção de sua matriz para desvendar a realidade social:


Compreender, explicar e interpretar a realidade de seu tempo, considerar as
chances determinadas historicamente e possíveis de serem conhecidas
através da análise de uma cadeia de relações históricas e culturais,
empiricamente demostradas, este foi o projeto epistemológico de Weber.
(VILELA, 2001, p.75).

Weber buscou compreender as ações sociais, para classificar e explicitar o


que influenciava os indivíduos a determinadas atitudes, analisando ações
particulares, catalogando tipos distintos de ações, conforme a construção de
sociedade da época. Estabelecendo assim, uma realidade social, cuja ação
individual é agrupada de acordo com os aspectos históricos.

3) O que é ação social em Max Weber? Dê os tipos de ação social?

Ação social é um comportamento humano, ou seja, uma atitude interior ou


exterior voltada para ação ou abstenção. Esse comportamento só é ação social
quando o ator atribui a sua conduta um significado ou sentido próprio, e esse sentido
se relaciona com o comportamento de outras pessoas.

 Ação racional com relação a um objetivo: O indivíduo orienta suas práticas

a partir de um cálculo racional, que estabelece as estratégias e os meios


necessários para atingir um determinado objetivo. (PEREIRA, 2021)

É uma ação racional, pensada na escolha dos melhores meios para um fim.
Quando a racionalidade é medida pelos conhecimentos técnicos do indivíduo
visando alcançar uma meta. É quando pensamos nos fins, nos meios e nas
consequências da ação.

 Exemplo: Se um indivíduo pretender realizar alguma ação, é necessário que


ele analise as consequências e procure a melhor alternativa.

 Ação racional com relação a um valor: Orientada pela crença consciente


dos sujeitos em um determinado valor. Uma ação racional que é desenvolvida
a partir de uma crença, que pode ser política ou religiosa. (PEREIRA, 2021 )

A ação racional é guiada por um valor e/ou regra moral, que influencia o agente a
uma ação de acordo com suas convicções pessoais seguindo o que ele acredita ser
correto.

 Exemplo: O indivíduo que doa suas riquezas a ações e instituições sociais,


sem preocupar-se seu saldo final, se será positivo, negativo ou nulo.
 “Ação emocional ou afetiva: Ações desenvolvidas a partir de sentimentos

como amor, ódio, vinganças, etc.” (PEREIRA, 2021).

É definida pela reação emocional do sujeito quando submetido a determinadas


circunstâncias, desconsiderando os fins da ação.

 Exemplo: Choro do luto.

 “Ação Tradicional: Ação tradicional segue o universo cultural em que se


vive.” (PEREIRA, 2021).

É embasada pelos costumes e hábitos rotineiros dos indivíduos, faz com que
ele não perceba a forma como age, pois sempre agiu assim.

 Exemplo: A ação do indivíduo é orientada seguindo a forma como seus pais


e familiares o ensinaram.

4) Dê o conceito de homem, sociedade e educação em Max Weber.

 Homem:

Não é só no plano externo, não, mas também internamente que as coisas


se apresentam assim: o indivíduo pode adquirir a consciência segura de
realizar algo de efectivamente perfeito no campo científico só no caso da
mais rigorosa especialização. (WEBER, 1919, p. 8)

Weber presumia que a ciência instrui o homem a lidar com suas escolhas e
os caminhos que decidiu seguir para alcançar seus objetivos. O sociólogo nega a
ideia de que o homem seria apenas um corpo em cinesia que se sujeita as
emoções, porque possui um vínculo com reverência aos princípios (Wertbeziehung),
e que deveria possuir um aprofundamento em uma determinada área técnica .
 Sociedade:

É constituída por teias de inter-relações, as quais são “tecidas” por meio das
relações entre os agentes econômicos, que orientam a sua ação por interesses de
ordem econômica, retorno e visando os lucros e pelos agentes religiosos que
destinavam sua atenção à algum valor que não é econômico, ou seja, a salvação da
alma, a qual cada parte é uma sociedade, que se torna a própria condição de
existência do homem. Possuindo um alicerce no capitalismo, Weber temendo o
costume, afirma que a burocracia tende a rotina e que os indivíduos rotineiramente
repetem as relações com outros indivíduos, prejudicando a essência de sociedade
inovadora e isenta de obrigações, no entanto, cada ação bem-sucedida contribui
para a concretização desse ideal de sociedade.

 Educação:

Weber não tinha um ideal de educação, pois buscava estudar a sociedade,


porém via a educação como o modo pelo qual os homens se preparam para o
exercício de atividades funcionais adequadas às exigências das mudanças
ocasionadas pela racionalização.

 Educação carismática:

"O carisma não se pode ensinar, nem adquirir, não se trata de uma tarefa de
formação mas sim de conversão." (VILELA, 2001, p.92).

Buscava despertar o carisma, os indivíduos desejavam estimular essa


capacidade considerada como um dom exclusivamente pessoal, que não se pode
ensinar nem aprender.
 Educação formativa:

Orientada, sobretudo, para cultivar um determinado modo de vida que


admita atitudes e comportamentos particulares. Este modo de vida pode ser
muito diverso, pois constitui sempre um conjunto articulado de atitudes
fundadas em um ethos que é, em cada caso característico, ascético,
literário, musical ou científico. (VILELA, 2001, p.93)

Empenha-se em aperfeiçoar um estilo de vivência que considere ações e


condutas individuais, e podendo ser diversificadas, pois consequentemente é o
conjunto de hábitos, costumes e crenças da sociedade

 Educação especializada:

“A educação especializada consiste para instruir o aluno para que adquira uma
utilidade prática com fins profissionais e utilitários na vida social, o seu resultado é o
homem instruído (das augebildet Mensch)” (VILELA, 2001, p.93-94).

Uma educação especializada consiste na especialização do conhecimento,


por meio de saberes concretos que irão influenciar positivamente na vida profissional
do aluno, de tal modo a instruí-lo para uma sociedade racional que busca a
dominação legal, estando associada aos processos de racionalização e
burocratização, sendo o aluno um produto da instrução.

5) Aponte uma diferença entre Durkheim e Weber.

[...] nenhuma ciência poderá dizer aos homens como deve viver ou ensinar à
sociedade como deve se organizar (diverge de Durkheim) [...] (VILELA, 2001, p.88)

Durkheim contrapondo-se a ideia de Weber, se preocupa com a construção


de um ideal de sociedade, estabelecendo uma ideia de organismo.
Para Durkheim, a sociedade se constitui como um organismo ou um
sistema organizado em estruturas (órgãos), que realizam funções diferentes
e especiais e que se integram em uma forma de cooperação baseada na
partilha de regras, valores e normas. (TURA, 2001, p. 43)

Enquanto Weber estuda a sociedade de sua época, analisando as relações


sociais.

Weber procurou aprender os sistemas sociais e intelectuais da sociedade


capitalista do sue tempo nos seus traços singulares – pretendeu desvelar
como as diferentes atitudes religiosas exerceram influência sobre a conduta
dos homens, notadamente sobre sua conduta econômica. (VILELA, 2001,
p.81- 82)

6) Aponte uma semelhança entre Weber e Marx.

Weber como Marx, analisa as relações entre base e superestrutura, mas o


que ele analisa são as relações dos homens com o modo capitalista de
produção. Sobre a gênese do capitalismo, Weber procura descobrir como
se deu sua produção histórica, demonstrando sua passagem por fases ou
tipos diferenciados até precisar a singularidade do capitalismo industrial
moderno- aqui concorda com Marx ao localizar a unidade fundamental
básica desse tipo de sociedade no modo de produção e nas finanças(como
ocorria com os economistas clássicos). (VILELA, 2001, p.84)

Baseado nas inter-relações Weber se aproxima de Marx ao analisar a


modernidade tendo como principal característica o capitalismo. Eles analisam a
sociedade por meio do modo de produção vigente.
7) Diferencie papel social e status social. Agora, identifique o papel social
o status social do professor e o do aluno, com base em Weber.

Papel social pode ser definido como uma obrigação ou uma função que o
individuo exerce na sociedade, Status social pode ser definido como uma
hierarquia ou posição que o individuo tem na sociedade.

Baseado nos fatos apresentados por Weber o papel social do professor é ensinar
ao aluno a língua, cultuar os símbolos da nação e trazer a existência o seu ser
pertencente a sua nação, além de motivá-lo a ter experiências cientificas. Enquanto
o papel social do aluno é de absorver e ter domínio sobre os conteúdos ensinados
ao longo de sua vida.

Status social do professor é de ser um mestre e transmissor de conhecimentos


para o aluno, enquanto o do aluno é de ser aprendiz.
ATIVIDADE VI

Conceituem os seguintes termos com fundamento nas leituras indicadas, a


saber:

a) habitus

Bourdieu vê o Habitus como um instrumento conceitual que auxilia o pensar


sobre a relação entre a condição social e a subjetividade dos indivíduos, e também
como um sistema de pensamento, gosto, comportamento e estilo de vida, herdado
da família e fortalecido na escola, a combinação de economia, cultura, sociedade e
capital simbólico que permite a certos grupos gozar de um estatuto superior na
hierarquia social, Bourdieu acredita que ele é um mecanismo intermediário entre a
sociedade e os indivíduos.

“O conceito de habitus seria assim a ponte, a mediação entre as dimensões objetiva


e subjetiva do mundo social, ou simplesmente, entre a estrutura e a prática.
(NOGUEIRA, NOGUEIRA, 2007, p.24).

O Habitus pertence ao reino coletivo de um grupo ou classe, mas também é


internalizado subjetivamente pelos indivíduos que constituem a classe, e eles
recebem uma série de ações a partir das quais escolherão e exercerão as que
consideram mais adequadas para sua vida social. Ele é também uma espécie de
capital combinado, uma espécie de conhecimento adquirido que combina a
criatividade e a força de vontade dos agentes sociais.

b) capital cultural

Bourdieu, contrapõem-se ao subjetivismo, de modo a criticar a forma como os


indivíduos tornam-se autônomos, é desse modo que ele determina os
tipos de capital, elegendo os capitais econômicos e culturais como os mais
importantes para o desenvolvimento de sua teoria estruturalista, e o último é
fundamental para alcançar o sucesso escolar, sendo determinado pela herança
cultural.

“A herança cultural, que difere, sob dois aspectos, segundo as classes sociais,

é a responsável pela diferença inicial das crianças diante da experiência

escolar e, consequentemente, pelas taxas de êxito.” (NOGUEIRA, 2001, p. 42)

O fator social é importante para o desenvolvimento dessa teoria, visto que a


sociedade se estrutura em um sistema de relações, estabelecendo os grupos e as
classes sociais, dessa forma determinam-se aqueles que dominam e os que são
dominados, estabelecendo os que possuem sucesso e os fracassados. Nesse
âmbito, Bourdieu conceitua o capital cultural, como sendo uma forma de legitimar o
poder das classes dominantes, transformando a cultura como uma moeda,
acentuando as desigualdades, colocando as crenças dominantes como superiores
as demais culturas.

“Bourdieu utiliza o termo “capital cultural” para se referir a esse poder advindo da
produção, da posse, da apreciação ou do consumo de bens culturais socialmente
dominantes.” (PEREIRA, Jacira, 2021, Pierre Bourdieu 07.06.21 - Power Point)

Quando associado à educação, Bourdieu afirma que a escola, por meio do


arbitrário cultural, legitima as culturas dominantes, de forma dissimulada dá
continuidade às desigualdades de modo a privilegiar os que possuem o capital
cultural e marginalizar aqueles que a família não apresentou a cultural, o que
dificulta o entendimento dos códigos culturais que a escola prega e torna a
aprendizagem difícil.

O capital cultural e o ethos, ao se combinarem, concorrem para definir as


condutas escolares e as atitudes e as atitudes diante da escola, que
constituem o princípio de eliminação diferencial das crianças das diferentes
classes sociais. (NOGUEIRA, 2001, p.50)
Nesse sentido, a família é essencial para o êxito escolar, a forma como os
pais se envolvem na educação do filho, tornaria o aprender mais fácil e a criança
tenderia a se desenvolver melhor, além de obter uma visão diferente a respeito da
educação, passando a gostar de estudar. A desigualdade social estaria presente no
capital cultural à medida que, o indivíduo favorecido que tivesse contato com a
cultura dominante (que seria dita a melhor pelo arbitrário cultural) aprenderia com
maior facilidade, pois já havia tido o contato de forma precoce com a cultura,
legitimando a dominação das classes sociais, em contrapartida, aquele que tivesse
contato com a cultura de forma tardia (incluso na classe dos dominados), estranharia
e se assustaria, o que tornaria sua aprendizagem dificultosa.

A bagagem transmitida pela família inclui, por outro lado, certos


componentes que passam a fazer parte da própria subjetividade do
indivíduo, sobretudo, o capital cultural na sua forma “incorporada”. [...] Em
primeiro lugar, a posse de capital cultural favoreceria o desempenho escolar
na medida em que facilitaria a aprendizagem dos conteúdos e códigos
escolares. [...] facilitariam o aprendizado escolar na medida em que
funcionariam como uma ponte entre o mundo familiar e a cultura escolar. A
educação escolar, no caso das crianças oriundas de meios culturalmente
favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação familiar,
enquanto para as outras crianças significaria algo estranho, distante, ou
mesmo ameaçador.[...] A posse de capital cultural favoreceria o êxito
escolar, em segundo lugar, porque propiciaria um melhor desempenho nos
processos formais e informais de avaliação. (NOGUEIRA, NOGUEIRA,
1999, p. 21)

c) violência simbólica

Para Bourdieu a violência simbólica, é vista como a forma de coação que se


apoia no reconhecimento de uma imposição determinada, seja esta econômica,
social ou simbólica. Se dá na criação contínua de crenças no processo de
socialização, que leva o indivíduo a se posicionar no espaço social, seguindo os
padrões e costumes do discurso. Assim, a violência simbólica, para ele é o meio de
exercício do poder simbólico e dos condicionamentos materiais sobre a sociedade e
os indivíduos em uma relação de interdependência.

É a imposição de valores e ideias tidas como naturais, principalmente nos


processos educativos. A violência simbólica ocorre no ambiente educacional,
excluindo alunos que não atendem aos padrões definidos pela instituição de ensino,
deixando-os à margem do processo, o que mais tarde leva ao desânimo e, por fim, à
rejeição. Nesse sentido, a escola não busca tolerar a desigualdade, são vistos como
preguiçosos, fracos e incompetentes, e seu fracasso é atribuído à falta de
capacidade ou esforço para enfrentar as exigências da escola.

“Essa estratégia está na base do que Bourdieu chama de violência simbólica: a


imposição da cultura (arbitrário cultural) de um grupo como verdadeira ou única
existente. (NOGUEIRA, NOGUEIRA, 2007, p.33).

d) arbitrário cultural

A forma pela qual as classes dominantes legitimam o seu poder, de forma a


impor sua cultura como sendo superior a outra é denominada por Bourdieu como
arbitrário cultural.

No caso das sociedades de classes, a capacidade de legitimação de um


arbitrário cultural corresponderia à força da classe social que o sustenta. De
um modo geral, os valores arbitrários capazes de se impor como cultura
legítima seriam aqueles sustentados pela classe dominante. Para Bourdieu,
portanto, a cultura escolar, socialmente legitimada, seria, basicamente, a
cultura imposta como legítima pelas classes dominantes. (NOGUEIRA,
2002, p.28)
Dessa forma, caberia aos professores enquanto intelectuais, deslegitimar a
cultura dominante, rompendo assim com o arbitrário cultural, e adequando-se com
as mais diversas culturas. Para romper de fato com esse fenômeno, a avaliação
seria feita por meio das habilidades de cada aluno, que não seria justa, visto que, os
alunos que tivessem um significativo arbitrário cultural, tenderiam a apresentar as
mais diversas habilidades e seriam consideradas inteligentes, enquanto os outros
estudantes seriam excluídos o que os taxariam como não inteligentes. Conquanto,
Bourdieu sugere então que a cultura escolar para ser legitimada deve ser neutra,
ocorrendo a homogeneidade do currículo, nesse viés a forma pela qual a ação
pedagógica se desenvolve, tornando-se legitimada, daria a ela a capacidade de
apresentar- se como não arbitrária e não beneficiar nenhuma classe social.

Apesar de arbitrária e socialmente vinculada a uma classe, a cultura escolar


precisaria, para ser legitimada, ser apresentada como uma cultura neutra.
Em poucas palavras, a autoridade alcançada por uma ação pedagógica, ou
seja, a legitimidade conferida a essa ação e aos conteúdos que ela
transmite seriam proporcionais à sua capacidade de se apresentar como
não arbitrária e não vinculada a nenhuma classe social. 3 (NOGUEIRA,
2002, p.29)

Sob essa perspectiva, quando a escola está livre do discurso arbitrário, ela pode de
fato, exercer seu papel de reprodução da legitimação das desigualdades sociais,
que aconteceria por meio de uma igualdade no currículo que seria estabelecida
entre todos os alunos, e que na realidade não aconteceria, visto que os alunos
seriam portadores de culturas distintas, e os que fossem das classes populares, não
se adaptariam aos ideais culturais dos dominantes. Quando a escola reconhece as
diversas culturas, ela não exclui os alunos, para que assim, eles possam sentir-se
inclusos na educação, respeitando suas culturas e aprendendo com elas.
e) reprodução:

Tratava-se, de fato, desse "segundo sistema de hereditariedade"


propriamente social que tende a assegurar, mediante a transmissão
consciente ou inconsciente do capital acumulado, a perpetuação das
estruturas sociais ou das relações de ordem que formam a "ordem social".
(BOURDIEU,1930,p.40)

De acordo com o pensamento de Bourdieu a reprodução seria as ligações entre a


ascendência tangível e metafórico, que possui como principio o processo de
escolarização e socialização que os indivíduos recebem de forma desiguais, que por
sua vez consequentemente moldam e predizem a compreensão e o modo de se
portar de cada individuo.
ATIVIDADE VII

1. Para Sarmento (2005) uma efetiva contribuição ao campo de estudos da


sociologia da infância, a análise deverá incluir três conceitos. Identifique
e conceitue cada um dos conceitos.

A sociologia da infância propõe-se a constituir a infância como objecto


sociológico, resgatando-a das perspectivas biologistas, que reduzem a um
estado intermédio de maturação e desenvolvimento humano, e
psicologizantes, que tendem a interpretar as crianças como indivíduos que
se desenvolvem independente da construção social das suas condições de
existência e das representações e imagens historicamente construídas
sobre e para eles. [...] propõe-se a interrogar a sociedade a partir de um
ponto de vista que toma a criança como objecto de investigação sociológica
por direito próprio, fazendo acrescer o conhecimento, não apenas sobre a
infância, mas sobre o conjunto da sociedade globalmente considerada.
(SARMENTO, 2005, p.363)

Tal concepção conceitua a sociologia da infância como sendo o estudo e a


análise da sociedade por meio da criança, de forma a acompanhar todo o
crescimento, pontuando, assim, a geração, a diversidade e alteridade como sendo
os conceitos fundamentais para a compreensão desse estudo.

 Geração

A tradição mais forte de análise do conceito de “geração” radica na obra de


Karl Mannheim (1993 [1928]). Para o sociólogo húngaro, o conceito de
“geração” entronca na sociologia do conhecimento que se propôs a levar a
cabo e corresponde a um fenómeno cuja natureza é essencialmente
cultural: a geração consiste num grupo de pessoas nascidas na mesma
época, que viveu os mesmos acontecimentos sociais durante a sua
formação e crescimento e que partilha a mesma experiências histórica,
sendo esta significativa para todo o grupo, originando uma consciência
comum, que permanece ao longo do respectivo curso de vida.
(SARMENTO, 2005, p.364)
Seguindo essa lógica, um grupo de pessoas da mesma geração possuem o
desenvolvimento modificado devido os movimentos históricos e sociais, tais como,
crises econômicas, guerras, pandemias entre outras, que aconteceram
simultaneamente à época pela qual eram crianças, assim como afirmou Sarmento
‘“Geração” é assumida como uma variável independente, trans-histórica, estando
prioritariamente ligada aos aspectos demográficos e económicos da sociedade.”
(2005, p.364). A criança assume o papel de ator social e, dessa forma, integra os
componentes da geração sendo a protagonista, estando em um processo contínuo
de modificação, dessa forma, é possível identificar as variações dinâmicas da
criança para o adulto:

[...] no plano sincrónico, a geração-grupo de idade, isto é, as relações


estruturais e simbólicas dos actores sociais de uma classe etária definida e,
no plano diacrónico, a geração-grupo de um tempo histórico definido, isto é
o modo como são continuamente reinvestida de estatutos e papeis sociais e
desenvolvem práticas sociais diferenciadas os actores de uma determinada
classe etária, em cada período histórico concreto, (SARMENTO, 2005,
p.364)

Nesse âmbito, é importante ressaltar que o desenvolvimento da criança deve


ser respeitado, que Sarmento definiu como sendo um “contínuo, dinâmico e distinto
[...] processo de desenvolvimento [...] ” (2005, p.367), o que caracteriza a distinção
do mundo adulto e do mundo infantil:

Nessa separação a criação de creches e da escola pública (Ramirez, 1991)


teve um papel determinante, configurando-se, uma e outras, como as
primeiras instituições da modernidade diretamente orientadas para um
grupo geracional (até então, as escolas conventuais e os colégios religiosos
eram indistintamente frequentados por crianças e adultos). (SARMENTO,
2005, p.367)

Com a implantação da escola pública o processo do desenvolvimento da infância


recebeu um olhar diferente, no entanto, foi feita uma distinção e separação da
criança, de forma negativa, a criança foi sendo ”desprezada” pela sociedade, visto
que, a criança era vista como influenciável, não possuía pensamentos próprios e por
isso deveria ser instruída e disciplinada moralmente.

[...] infância é a idade do não-falante, o que transporta simbolicamente o


lugar do detentor do discurso inarticulado, desarranjado ou ilegítimo; o aluno
é sem-luz; criança é que está em processo de criação, dependência, de
trânsito para um outro.” (SARMENTO, 2005, p.367)

[...] a criança é o que não pode nem sabe defender-se, o que não pensa
adequadamente (e, por isso, necessita de encontrar quem o submeta a
processos de instrução), o que não tem valores morais (e, por isso, carece
de ser disciplinado e conduzido moralmente). (SARMENTO, 2005, p.368)

E por fim, Sarmento evidencia que é fundamental que a sociologia da infância


esclareça e estude as formas distintas de manifestação da geração contemporânea.
Sarmento conclui então, que:

Os efeitos deste processo resultaram numa considerável ambivalência: a


separação da infância do mundo dos adultos permitiu criar medidas de
protecção, que garantiram condições sem precedentes de defesa e de
segurança das crianças a par da instauração de uma norma de defesa da
criança constitutiva de uma imagem de “criança-rei” (Ariés, 1986)”
(SARMENTO, 2005, p.369)

 Diversidade

"Mas as crianças são também seres sociais e, como tais, distribuem-se


pelos diversos modos de estratificação social: a classe social, a etnia a que
pertencem, a raça, o género, a região do globo onde vivem. Os diferentes
espaços estruturais diferenciam profundamente as crianças." (SARMENTO,
2005, p.370)

Tal concepção afirma que a diferença de país, classe social, etnia e cultura,
influenciam em como as crianças vão se formar como indivíduos, e por meio disso
elas vão possuir diferentes possibilidades de viver com saúde, estudar e poder
 Alteridade

"É, fundamentalmente, sobre as condições e características que fazem a


diferença do grupo geracional infância que se debruça a sociologia da
infância. Esta, com efeito não é uma mera análise sociológica aplicada a um
grupo etário definido. Ao circunscrever o objecto teórico, constrói as
condições da sua especificidade." (SARMENTO p. 371)

Tendo em mente que alteridade pode ser definida como sendo a relação de
um indivíduo com o outro, surgindo assim uma especificidade para as interpretações
das relações das crianças. Para isso, a alteridade na infância ocorreria como forma
de colocar as crianças assumindo de fato sua posição de atores sociais
desprezando as sugestões da ciência, como afirmou Sarmento “[...] a alteridade da
infância constitui um elemento de referenciação do real que se centra numa análise
concreta das crianças como actores sociais, a partir de um ponto de vista que
recusa as lentes interpretativas propostas pela ciência moderna, a qual tematizou as
crianças predominantemente estando numa situação de transitoriedade e de
dependência.” (2005, p.372). Além disso a cultura juntamente da ação dos autores
sociais (as crianças), completariam o sentido da alteridade, cultura essa que seria
reproduzida pelas crianças na figura do adulto, bem como as interações culturais
que são construídas a partir das trocas com outros indivíduos.

Não são, portanto, redutíveis aos produtos da indústria para a infância e aos
seus valores e processos, ou aos elementos integrantes das culturas
escolares. São acções, significações e artefactos produzidos pelas crianças
que estão profundamente enraizados na sociedade e nos modos de
administração simbólica da infância (de que o mercado e a escola são
integrantes centrais, a par das políticas públicas para a infância).
(SARMENTO, 2005, p.373)

As condições sociais dos indivíduos que podem ser tanto estruturais como
simbólicas, constituem uma convergência na ação concreta que determina a
constituição do sujeito e ator social, introduzindo na criança o sentimento de
pertencer e estar capacitada à interpretar a sociedade.
O que aqui se dá à visibilidade, neste processo é que as crianças são
competentes e têm capacidade de formularem interpretações da sociedade,
dos outros e de si próprios, da natureza, dos pensamentos e dos
sentimentos, de o fazerem de modo distinto e de o usarem para lidar com
tudo o que as rodeia. (SARMENTO, 2005, p.373)

2. A Sociologia da Infância faz crítica à vertente da Sociologia que


compreende a criança como um ser passivo nas relações sociais, ou
seja, uma “tábula rasa” (concepção durkheimiana) sobre a qual os
adultos imprimem sua cultura. Apresente pelo menos dois argumentos
mobilizados pela Sociologia da Infância.

A faixa etária que foi estabelecida para ser reconhecida como criança é de zero á
doze anos incompletos por ainda não serem capazes de tomar suas próprias
decisões e se basearem em coisas abstratas, já que sua mente estaria no processo
de transformação da infância para a adolescência. Mas em consequência perante as
leis os adolescentes não teriam como ser legalmente responsáveis por si mesmas,
mas poderiam aptas para participarem da decisão em conjunto sobre o futuro da
sociedade.

Como consequência, as crianças têm sido sobretudo linguística e


juridicamente sinalizadas pelo prefixo de negação (são inimputáveis;
juridicamente incompetentes) e pelas interdições sociais (não votar, não
eleger nem ser eleitos, não se casar nem constituir uma família, não
trabalhar nem exercer uma actividade económica, não conduzir, não
consumir bebidas alcoolócicas etc.).(SARMENTO,2005,p.368)

As crianças passam a serem reconhecidas como capacitados de refletir e


estabelecer suas próprias convicções sobre os acontecimentos da sociedade, ao
invés de serem induzidos pelo pensamento dos adultos que estão ao seu derredor.
Salienta-se que a releitura crítica do conceito de socialização e de suas
definições funcionalistas entre os pesquisadores contribui
fundamentalmente na consideração da criança como ator, renovando, deste
modo, o interesse pelos processos de socialização entre os sociólogos da
infância. As crianças passam a ser definidas como capazes de pensar e
decidir sobre “as coisas do mundo” e de participar do seu próprio processo
formativo. (QUINTEIRO, Jucirema, 2005,p. 138-9)

As crianças serviram como meio de acesso para o desenvolvimento de novos


métodos pedagógicos, pois como não eram mais vistas como passivas surgiu a
necessidade de se implementar uma educação que fosse adequada e
correspondesse ao seu nível de compreensão de determinados conteúdos, e de
preparo para o recebimento de novas faixas etárias que adentravam no âmbito
escolar.

[...] base o reconhecimento da criança como sujeito histórico, que se


apropria e produz cultura, contribuindo, deste modo, tanto para as
discussões teóricas realizadas nos grupos de pesquisa sobre a temática,
quanto no processo de formação de professores que atuam na Educação
Básica, objetivando ampliar o seu raio de leitura sobre os mundos culturais
da infância e discutir as possibilidades e os limites da escola como o lugar
da infância nos nossos tempos. (QUINTEIRO, Jucirema,2005,p. 143)
Referências

VILELA, Rita A. Teixeira. Max Weber – 1964-1920. Entender o homem desvelar o


sentido da ação social. In: KONDER, Leandro; TURA, Rangel. (Org.). Sociologia
para educadores. Rio de Janeiro: Quartet, 2001. p. 63-96.
WEBER, Max. A ciência como vocação. Tradutor Arthur Mourão.
BOURDIEU, Pierre. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à
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