Você está na página 1de 9

Encruzilhadas pedagógicas no contexto escolar

Rafael Vaz

As primeiras experiênicas pedagógicas exercidas em espaço escolar, trouxe até mim


não só a responsabilidade de como educador compartilhar os aprendizados, mas
relembrar de quando como educando, que tipo de professor despertava o meu desejo
pela aprendizagem e o olhar crítico para o espaço escolar.
E aqui fica a lembrança de um professor de Química, que mesmo diante de uma turma
com dificuldades na disciplina, proporcionava espaços de diálogos para outras
demandas nossas, além de nas entre-linhas nos ensinar a química aplicada as nossas
realidades. E neste ideial que Paulo Freire nos diz que o professor tem o

“… o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das


classes populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática
comunitária – mas também, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses
saberes em relação com o ensino dos conteúdos.” (2018, p. 31)

E foi com essa experiência de educando atrelada as aprendizagens da licenciatura, que


adentrei nas práticas pedagógicas com a possibilidade de mudar certos aspectos do
relacionamento educador/educando. Quando estudante me deixava desconfortável a
despreocupação dos docentes da escola com a realidade de nós estudantes. Disciplinas
com decorebas, ou que não permitiam a adaptação de alguns. E foi principalmente
essas observações que me trouxeram até este artigo.
Como eu, estudante não aplicado, da turma do fundão, agora diante de uma sala de
aula no meio de uma formação em docência, poderei criar aboradagens que me
distanciam daquele imagens de professores que eu havia criado em meu imaginário?
Como me tornar interessante sem perder autoridade essencial para as dinâmicas da
sala de aula?
Freire fala que “não é possível ao professor pensar que pensa certo mas ao mesmo
tempo perguntar ao aluno se ‘sabe com quem está falando’.” E essa tarefa árdua de
compactuação de espaços de poder se mostra dentro da sala de aula não só uma arena
de saberes, mas um encontro muitas vezes evitados em outras espaços da sociedade.
Dentro da sala de aula temos duas fases etárias de formação uma formada por adultos
formadores de opinião, e outra por adolescentes em descoberta humana e colocados
em um sistema de avaliação. O que transforma este espaço em arenas, são
competições de poder criadas pela instituição atreladas ao interesse do capital. Temos
diretrizes e base curriculares escritas por profissionais que não frequentam o espaço
escolar e que transformam as escolas à imagem e semelhança de uma fábrica ou até
mesmo de um presídio, com sirenes, filas e castigos diversos por “mau
comportamento”.
O
sistema

educacional vigente acaba refletindo verdadeiras estruturas políticas ditatoriais que


produzem cidadãos “adestrados” para servir ao sistema;

Figura 1

Freire nos diz que o:

“… o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente “lido”, “interpretado”,


“escrito” e “reescrito”. Neste sentido, quanto mais solidariedade exista entre o
educador e educandos no “trato” deste espaço, tanto mais possibilidades de
aprendizagem demócratica se abrem na escola.” (2018, p.95)

E esta interpretação da qual fala Paulo Freire nos foi desafiada logo nos primeiros
encontros com os educandos do Colégio Damiana da Cunha. Depois de um semestre
de observação, tíamos diante de nós um desafio, o de poder trabalhar com eles uma
nova disciplina agregada a grade chamada de Protagosnismo Juvenil, implemantada
pela Secretaria de Educação nas escolas da rede pública, vale destacar também que o
protagonismo juvenil é um processo que pretende facilitar a inserção dos jovens no
mundo adulto por meio do exercício de participação social dentro dos espaços em que
eles pertencem. Infelizmente, o que torna uma realidade ainda pior para o professor de
artes que teve que abdicar de sua disciplina para ocupá-la com a recém integrada.
Pensando nos desafios que teríamos pela frente, percebemos que muitas vezes nossos
escontros eram prejudicados pelo calendário escolar ou pela realidade dos estudantes
que na maioria das vezes eram liberados mais cedo.
Eis o beco sem saída, a encruzilhada. E aqui uso desta metáfora para ilustrar os dois
lados deste mesmo espaço.

Figura 2

Estava ciente das condições impossiveis de comunicação para algum exercício com a
turma, muitas das vezes demoravasse até mais da metade da aula para se ter um espaço
de diálogo para alguma abordagem. Porém, pensanva com a cabeça de um professor
da disciplina de artes, e o que tinha no currículo era uma disciplina que necessitava de
um diálogo diferenciado para assim aplicar meu referencial disciplinar para as
formação dos estudantes. Então, com o pouco espaço de tempo que tinha, percebi que
não podia esperar por algo que lhe chamassem a atenção, mas provocar neles a
percepção de como já eram protoganistas na vivência escolar. Mas isso não foi fácil,
com a presença do professor de Artes e a nossa, os estudantes acabam desconhecendo
até mesmo a disciplina que era mediada por nós. Ali estava o desafio. Na encruzilhada
em que me encontrei, tinha não só vários caminhos a seguir, mas tinha diante de mim,
uma demanda identitária e comunicativa por parte dos educandos que para criar uma
atividade que propiciasse a eles serem protagonistas de sua prórpia formação teríamos
que ter um espaço de tempo muito maior. Nesta altura do projeto já tinha poucos dias
para mediação de alguma atividade, assim como os desdobramentos e conclusões que
faríamos do projeto.
É aí que Freire nos ilumina com alguns questionamentos:

“Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade
descuidadas pelo poder público para discutir. Por que não discutir com os alunos a
realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a
realidade agrassiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é
muito maior com a morte que com a vida?” (2018.p. 31-32)

Para pensar em algo que adequasse a seus desejos e inquietações pensei em algo que
pudesse retirá-los do espaço da sala, e os levar a identificar os espaços na escola que
os representavam e que os colacavam como pertencedores daquele espaço. Sobre uma
breve e rápida avaliação sugeri que o trabalho na criação de curtas como forma de
trabalhar o seu protagonismo na escola pudessem dispertar nele o olhar crítico sobre o
espaço pedagógico e como era os relacionamentos criados por esses estudantes dentro
de espaço, tanto com professores, administrativos, os outros estudantes e o espaço do
prédio. E assim chegamos ao ponto de que tomar decisões a respeito de quais
objetivos atingir, tornou-se um problema. Muitos eram os conhecimentos, mais o
tempo, escasso.
Tinha que trabalhar com o que era viável para otempo que tíamos. E para um educador
“saber ensinar não é só transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção.” Paulo Freire nos mostra isso em sua Pedagogia
da Autonomia, que nos mostra que através da educação somos capazes de formar
indivíduos para uma sociedade democrática e baseada no respeito ao outro.
Mas não é fácil ensinar valores muitas vezes anulados ou dispersos dentro da
formação escolar. E no momento em que tive a oportunidade de ter uma troca e
apresentar o projeto, me deparei com mais uma encruzilhada, como garantir o respeito
e a organização para o melhor uso do tempo para a prática da atividade?
E ai usando das lembranças como educando, resolvi abdicar de algumas catedras de
educador e me colocar em um nível de comunicação e prática mais próxima da
realidade tecnólogica que os estudantes são presentes. Com o uso de celular quase
popular nas escolas, a ideia de criar curtas através desses aparelhos possibilitou uma
aproximação ao espaço do estudantes, o que possibilitou uma troca do que se esperava
da atividade.
O objetivo esperado era que pudessem através do curta, mostrarem o seu olhar pelo
espaço escolar, assim também possibilitar que os estudantes também pudessem contar
o que realmente fosse relevante em seus questionamentos quanto a este espaço. E
como esperado, a prioridade em suas discussões ainda são suas indentidades. Durante
a primeira fase do projeto, na produção de roteiros, as histórias criadas tinham mais ao
que falar de seus gostos, do que da realidade da escola. Jogos de celulares, o tráfico
presente na realidade de alguns.

Figura 3
“Como professor devo saber que sem a curiosidade que me move, que me inquieta,
que me insere na busca, não aprendo nem ensino”, e quem sou eu para questionar
Paulo Freire? Como propiciar aos estudantes o desejo pela atividade, se não me
imergir também a atividade de forma crítica, pois “...uma das tarefas precípuas da
prática educativo-progressista é exatamente o desenvolvimento da curiosidade crítica,
insatisfeita, indócil.” E era necessário que o protagonismo já presente na vida desses
estudantes despertasse diante da produção dos vídeos, que as visualidades presentes no
cotidiano aflorassem na busca por uma narravitiva audiovisual que principalmente os
agradassem. Nesta encruzilhada percebi que neste momento, já não era o provedor de
conhecimento, mas naquele momento um auxiliar dos estudantes para a formação e
produção dos discursos que ali seriam produzidos. E foram coesos no que queriam
mostrar, o que fez com as técnicas audiovisuais fossem trocadas de valores estéticos
para um mecanismo rápido de transportar seus discursos, e colocá-los nos papel de
protagonistas, muitas vezes deixado de lado pelo métodos de avaliação que produzem
indivíduos para uma relação de disputa do que de cooperação e produção em equipe de
atividades que propiciam a criticização da curiosidade presente nos estudantes, que
buscam outros valores dentro do espaço da escola que não aqueles presentes nos
curriculos escolares aos quais estão submetidos.
Os espaços pedagógicos são muitas vezes usados por esses estudantes como espaço de
fuga para busca de seu auto-conhecimento, longe dos espaços familiares
negligenciados, ele encontra na escola indivíduos da mesma faixa etária, causando pra
muitos desses estudantes as primeiras interações com a sociedade. Nas escolas,
começam as primeiras fases das muitas de indentidade por quias o ser humano passa.
No meio desse processo escolar, o estudante está se descubrindo como indivíduo,
criando suas primeiras cadeias de realcionamentos, nadando nos conteúdos diversos
que se espalham quase sempre sem fazer nenhum sentido em suas vidas.
Infelizmente, o tempo não foi justo conosco e as aulas acabaram antes mesmo que
fechassemos a atividade, dos vídeos de bolso feitos, apenas um conseguiu ser
finalizado. Cheio de símbolos de um assunto pesado, poucas vezes abordado da forma
correta, o vídeo é sobre um jogo de celular baseado na antiga brincadeira de polícia e
ladrão, que agora tem como espaço a própria escolar dos alunos. Isso mostra que a
visualidades absorvidas diariamente pelos estudantes, tem um peso muito maior na
discussões de aula, do que os assunto já pré trazidos pelos professores. Não pretendo
aqui dizer que é inútil que o professor traga os assuntos curriculares da disciplina para
sua aplicação. Mas que tenha uma preocupação com a demanda racional dos
educandos ali dispostos para a aprendizagem. “Quem ensina aprende ao ensinar e
quem aprende ensina ao aprender.”. E isto não impede a mediação dos conteúdos, ao
contrário, nos enconrajar ainda mais em adentrar ao mundo deste jovens e encontrar
novos meios para despertar o conhcecimento diante das ciências ensinadas nas grades
curriculares.
Minha vivência neste espaço me mostra que cada vez mais a escola é engolida pelos
valores externos ao seu espaço físico, mas se ausenta de colocá-lo como umas das
prioridades para se trabalhar com os indivíduos que ali participam desta comunidade.
Alguns me questionarão que isso já é focado, é que já é uma diretriz presente na
vivência escolar. Mas eu ainda desafio, quais são essses espaços? Quantos deles estão
presentes nos espaços das escolas públicas? Quantas dessas abordagens alternativas
chegam a até a formação periférica?
O que ainda é entregue de formação desses estudantes da rede pública é uma
abordagem agressiva, que o torna incapaz de verem seus prórpios valores, assim como
indivíduos capazes de não reconhecerem as diferenças culturais e físicas dos outros
estudantes.
Ainda precisamos trabalhar nossa sensibilidade quanto a esses indivíduos que nos são
direcionados para educar.
Disso, Freire fala:

“A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso


obviamente permitir é que minha afetividade interfira no comprimento ético do meu
dever de professor, no exercício da minha autoridade. Não posso condicionar a
avaliação do trabalho escolar de uma aluno ao maior ou menor bem-querer que
tenha por ele.” (2018, p.138)

Encarar a realidade de que é necessário uma paciência quanto ao nível educacional


que muitas vezes esse estudante chega até o educador.
E acreditar que os saberes trazidos de suas realidades, são sim uma base forte para se
começar a pensar na formação dos educandos.
“ O meu respeito de professor à pessoa do educando, à sua curiosidade, à sua
timidez, que não devo agravar como procedimentos inibidores, exige de mim o
cultivo da humanidade e da tolerância. Como posso respeitar a curiosidade do
educando se carente de humildade e da real compreensão do papel da ignorância na
busca do saber, temo revelar o meu desconhecimento?” (2018, p. 65-66)

Ainda me sinto em espaço pedagógico, o estudante que fui. Ao observar os estudantes,


vi que ainda muitos das experiências produzidas nestes espaços, são de controle,
avaliação e cobrança de metas para todos os cargos que participam destes espaços.
Enquanto funcionários e administrativos são cobrados pelos números da escola, os
estudantes são cobrados em avaliação esquivocadas criadas por estruturas comandadas
pelo sistema monetário que visa produzir apenas mão de obra consumidora.
Termino, deixando aqui minha opinião de que já passou da hora que a maioria das
abordagens que aplicamos, principalmente aquelas que se baseiam em avaliações
classificatórias e proporcionam um ambiente de disputa e ao mesmo tempo frustração
por parte dos estudantes que veem como um meio de podar e muitas vezes
desencorajá-los nas práticas da pesquisa e do protagonismo que deve ser exercidos por
eles.

Referenciais Bibliográficos

http://ebooks.fav.ufg.br/livros/10livro/capitulo12.html - TOURINHO,Irene.
Metodologias-metáforas: um ensino da arte como cultura (não apenas) visual –
2014, p. 109-118

FREIRE, Paulo – Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática


educativa/ Paulo Freire 56° ed. - Rio de Janeiro/ São Paulo: Paz e Terra, 2018.

AGUIRRE, Imanol; JIMÉNEZ, Lucina – Diversidade Cultural e educação


artística – do texto: Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación,
la Ciencia y la Cultura (OEI).

Você também pode gostar