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GUIA
MILITANTE
•2021•
CRÉDITOS
TEXTOS
Bernardo Corrêa, Hugo Scotte, Leonardo Nunes, Raquel Matos e Ricar-
do Souza
Revisão
Fernando Vieira e Krisley Vargas
Diagramação e ilustração
Fran Lesvitch e Paola Rodrigues
Gabinete | Brasília
Câmara dos Deputados - Gabinete 621 - Anexo IV - Brasília/DF
(61) 3215-5621
Escritório | Porto Alegre
Rua Lima e Silva, 264/401 - Cidade Baixa
(51) 3779-5059
ÍNDICE
1. O QUE É SER UM MILITANTE?.................................................... 7
COMO UM MILITANTE COMPREENDE A SOCIEDADE EM QUE VIVE?........ 7
Como interpretar a realidade?................................................. 8
MAS O QUE É ESSA TAL CONJUNTURA?............................................. 9
ESTRATÉGIA E TÁTICA: QUAIS AS DIFERENÇAS?................................. 10
AGITAÇÃO E PROPAGANDA. O QUE É ISSO?........................................ 12
VANGUARDA E MOVIMENTO DE MASSAS........................................... 13
3. estado e dominação.............................................................. 22
COMO NÓS, REVOLUCIONÁRIOS, UTILIZAMOS O PARLAMENTO?............. 24
4. internacionalismo militante................................................ 26
5. dicas de leitura................................................................... 29
6. dicas de fIlmes..................................................................... 30
#ELENÃO: Maior manifestação feminista da história do Brasil (segundo turno
das eleições presidenciais em 2018)
8
1. O QUE É SER UM MILITANTE?
Ser militante é uma opção é um profeta ilumi-
política, livre e consciente. É nado nem o seguidor
um compromisso de lutar pelos de uma fé. A fé pode
interesses dos que vivem do ser cega, a confiança
seu próprio trabalho e cons- tenta ser lúcida. Ela
se baseia em fatos,
truir uma nova sociedade.
experiências e verifi-
O militante ajuda o povo a se or- cações práticas, em-
ganizar para lutar pelo poder popu- píricas e científicas.
lar. Ele se organiza - junto com seus Não há gurus, patrões
companheiros e companheiras - em ou seres superiores que
um partido político. Os partidos so- substituam a organização coletiva.
cialistas (como o PSOL) representam
O aprendizado se dá diariamen-
os interesses históricos dos trabalha-
te testando hipóteses e construin-
dores, das mulheres, da negritude,
do coletivamente as conclusões
da comunidade LGBT, da juventude,
nas diversas reuniões, plenárias,
do movimento ecológico e lutam
debates, assembléias, piquetes,
para transformar a sociedade.
greves, panfletagens, etc. com as
O militante socialista se organi- companheiras e companheiros.
za e busca organizar o povo para
A militância não é uma bolha,
derrubar o capitalismo e iniciar a
onde se vive o fantástico mundo
construção do socialismo, onde a
dos socialistas. Somos todos parte
imensa maioria da população deci-
da sociedade. A militância reflete,
dirá democraticamente os rumos da
questiona e transforma as condi-
economia, da política e da socieda-
ções históricas, sociais, econômicas,
de. Ser militante é, portanto, um
políticas e ideológicas. Para isso, é
compromisso com a luta dos de
baixo. Contra qualquer opressão,
contra a exploração do trabalho “A militÂncia refLete,
e por um mundo onde sejamos questiona e transforma
“socialmente iguais, humanamen-
te diferentes e totalmente livres”, as condições históricas,
como dizia Rosa Luxemburgo. sociais, econômicas,
políticas e ideológicas.
COMO UM MILITANTE Para isso, é preciso um
COMPREENDE A SOCIEDADE método de análise
EM QUE VIVE? e de ação.”
Um militante revolucionário não
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guia militante
10
particulares acima dos interesses passar do tempo. Este “filme”
gerais do povo e seja consciente e chamamos de CARACTERIZA-
determinado na luta pelo socialis- ÇÃO, quer dizer, qual a dinâmica
mo e pela liberdade. dos acontecimentos e as tarefas
Para transformar a realidade con- correspondentes da militância.
creta, entretanto, é preciso partir Nessa análise de conjuntura,
dos fatos sociais mais relevantes, muitos se contentam com o
como eles se apresentam no tempo papel de comentaristas da rea-
POLÍTICA
presente, na conjuntura política. lidade, mas para nós militantes,
toda análise está a serviço de
MAS O QUE É ESSA TAL uma intervenção e transforma-
CONJUNTURA? ção da realidade, quer dizer, ter
uma POLÍTICA.
A conjuntura é uma “fotogra- O dirigente trotskista argentino
fia” da realidade. Uma árvore Nahuel Moreno explicou o método
florida na primavera ou a mes- de intervenção dos militantes e
CONJUNTURA
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guia militante
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correios, reuniões secretas para Já em contextos de democracia
organizar a intervenção, atos re- burguesa (parlamentar), é mais co-
lâmpagos, “operações tartaruga”, mum a organização e a luta sindi-
assembleias disfarçadas de festas cal, manifestações de movimentos
de aniversário, etc. sociais, mobilizações de grêmios
estudantis, DCEs, associações
“As lutas e suas de moradores e, se possível, as
táticas formam parte atividades políticas de um partido
legalizado que, inclusive, disputa
de uma estratégia eleições em todos os níveis.
superior: a conquista Enganam-se aqueles que trans-
do poder pelos formam uma única tática em
trabalhadores e a estratégia, por exemplo os refor-
imensa maioria dos mistas que não querem questionar
as instituições e simplesmente
explorados e oprimidos aguardam a próxima eleição, ou
para expropriar às aqueles que acreditam apenas em
classes dominantes movimentos espontâneos, sem a
(a burguesia e a organização em partidos, sindica-
tos ou organizações populares. Ou,
oligarquia) e iniciar ainda, a tática da guerrilha rural
a construção da
sociedade socialista.”
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guia militante
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Otávio Pavinato
capitalistas! passando por Paz, Pão
e Terra!, que apontava as verda-
deiras necessidades do povo, a
uma orientação para a tomada do
poder: Todo o poder aos Soviets!
Os exemplos são inúmeros na his-
tória, mas o fundamental é saber
que cada palavra de ordem corres-
ponde ao nível de consciência e
organização da classe trabalhadora
em cada período histórico. Nunca
se deve agitar uma tarefa que não
seja possível cumprir.
Já a Propaganda são muitas
ideias para poucas pessoas, é o
PROPAGANDA
detalhamento da política, um
curso de formação, este caderno,
ou um textão no Facebook, no
qual explicamos nossas ideias e
intenções com vistas a formar
novos quadros militantes. #TsunamiDaEducação: Protesto nacional dos
Na sociedade capitalista, somos estudantes contra os cortes orçamentários
nas universidades e institutos federais (Porto
levados a pensar a propaganda a Alegre, 2019)
partir de uma visão publicitária, ou
seja, para vender uma mercado- consciente e coletivamente para
ria, falar o que os outros desejam, ser realmente novo e não incorrer
induzir a adquirir uma fantasia. em erros do passado.
Mas o conceito marxista de propa-
ganda não tem nada a ver com a VANGUARDA E MOVIMENTO
venda de um produto. Trata-se da DE MASSAS
propagação de uma visão de mun-
do, a visão socialista revolucioná- A palavra vanguarda vem do
ria de interpretação e transfor- francês avant-garde e significa,
mação da realidade. Isso significa literalmente, a guarda avan-
vANGUARDA
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guia militante
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Geoff Livingston
#BlackLivesMatter: protesto nos EUA contra
a morte brutal de George Floyd por policiais
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GUIA MILITANTE
2. como disputar
as consciências?
Paulo Freire, apontava que
todo o ato educativo é um ato
político, e vice-versa. Ou seja, reaprender com as experiências
como militantes que disputamos do povo, com as trocas de sabe-
a consciência do povo devemos res e avanço das experiências.
assumir o papel de educadores O grande desafio é construir em
e educadoras, construindo uma toda parte o diálogo, a constru-
práxis, ou seja uma prática ção política. Só na prática, na
consciente, coerente com nossa tentativa e erro encontraremos
visão de mundo. a forma e o conteúdo necessário
Logo, o nosso discurso não pode para enfrentarmos os governan-
destoar da nossa prática, não po- tes e o sistema capitalistas.
demos denunciar o autoritarismo
dos capitalistas e nos portarmos NINGUÉM É MELHOR QUE
como tais, sem sermos radicalmen-
te democráticos nos diálogos e na
TODOS JUNTOS
construção. Nos cabe uma postura O militante atua sabendo que
humilde, de escuta, de trocas, ninguém é autossuficiente e nin-
porque ninguém está só no mun- guém é melhor que todos juntos.
do, nem detém o conhecimento São inúmeras as formas de organi-
de tudo, todos são ignorantes em zação coletiva. É papel do militante
algum assunto e sábios em outros. influenciar a todos e todas no seu
local de trabalho, moradia e estu-
Portanto, todos têm algo a ensinar do. Historicamente os militantes
e a escuta atenta é fundamental, se organizam nos distintos locais
pois evidentemente todos também de trabalho e realizam o enfren-
estão sempre aprendendo. tamento nas fábricas, empresas
Para conquistarmos a confiança e órgãos públicos. Constroem o
do povo temos que apresen- movimento sindical e atuam nos
tar nossas ideias construídas a sindicatos, buscando democracia
partir da percepção cotidiana do e organização por local de traba-
lho. A juventude, em especial, os
mundo, não de elevados níveis de estudantes secundaristas e univer-
abstração, buscar uma linguagem sitários, organizam-se no movimen-
que reflita a realidade concreta e to estudantil. Os bairros e comu-
como enfrentá-la com os instru- nidades populares organizam-se
mentos disponíveis e estarmos territorialmente com movimento
dispostos a ensinar e aprender e popular. Atualmente também vêm
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FNL
Assembleia da Frente Nacional de Luta por Campo e Cidade - Por Terra, Trabalho e
Liberdade(FNL) em São Paulo
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COMO DISPUTAR AS CONSCIÊNCIAS?
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quem for participar poder se
COMO organizar;
ORGANIZAR UMA • Garantir a participação das
REUNIÃO? companheiras, muitas vezes
organizando creches e atividades
É comum nos para seus filhos em quanto dura a
deparamos entre a reunião;
militância mais jovem e dos locais • Manter a ordem da pauta e
onde a nossa organização tem garantir as opiniões de todas/os;
poucos militantes com a pergun- • Encaminhar democraticamen-
ta: Como organizamos uma reu- te as definições com divisão de
nião? Para isso, vamos apresentar tarefas entre todas/os;
em três partes a compreensão
e organização de uma reunião • Fazer um balanço para ver no
política: o que é, como prepará-la que precisamos melhorar.
e como conduzi-la.
2. Como preparar?
1. A reunião A reunião deve ser preparada
A reunião é um com antecedência. Não basta mar-
espaço onde um car dia e horário e ficar esperando
grupo de pessoas se ela acontecer. A reunião sempre
encontra para ava- é um organismo vivo e poderá ir
liar, discutir e tomar para inúmeras direções, depen-
decisões, portanto, dendo da atuação dos participan-
uma reunião é um organismo vivo tes. Por isso é muito importante
e sua intervenção é determinante seguir alguns passos:
para os encaminhamentos políti- • Formar uma boa equipe para
cos. Para uma reunião ser provei- organizar a reunião e garantir que
tosa é preciso trabalhar bastante será bem feita;
na sua preparação. Para que uma • Definir os objetivos a serem
reunião seja eficiente precisamos: alcançados. Não podemos entrar
• Definir os objetivos da reunião em uma reunião sem termos clareza
e preparar a pauta; de onde queremos chegar – embo-
• Convocar com antecedência os ra muitas vezes
participantes; o resultado não
seja exatamente o
• Se a organização não tiver uma que esperamos. O
sede, procurar um local de fácil mais importante é
acesso e receber bem as pessoas; chegarmos a um
• Tentar prever o horário de resultado concreto
início e término da reunião, para que unifique a
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COMO DISPUTAR AS CONSCIÊNCIAS?
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• O coordenador tem a tarefa de responsáveis pela tarefa.
apresentar o ponto junto com o Para encaminhar o encerramen-
objetivo que se quer alcançar com to da reunião, é necessário que o
a discussão e estabelecer a forma coordenador estabeleça a seguinte
(método) de debater; ordem para sabermos se a reunião
• Abre a discussão, orienta para valeu a pena ou não:
que as falas sejam feitas por or- • Ler as conclusões, retomando
dem de inscrição, limitando o tem- os pontos, relatar as conclusões al-
po se necessário. O coordenador cançadas e os responsáveis das ta-
deve ficar atento para ir pegando refas. A forma de aprovação pode
as propostas de encaminhamen- ser levantando a mão ou contando
tos durante as falas. os votos se houver divergências;
4. Apresentação • O coordenador deve estar
e aprovação das atento se os objetivos foram
propostas atingidos e alertando os demais
para que observem para que não
Terminado o fiquem dúvidas. O que já é uma
tempo de discus- forma de avaliação da reunião;
são de cada ponto,
• Se já existir uma sistemática de
o coordenador deve expor os
reuniões é bom já sair com a próxima
encaminhamentos das propostas
marcada. Caso não exista essa regu-
expressas na reunião. Não ha-
laridade é bom falar que serão avisa-
vendo acordo em algum ponto,
dos da data e horário da próxima.
os respectivos responsáveis de-
vem esclarecer mais ou defender Sempre deve haver o encerra-
sua proposta que, na medida mento da reunião. Por isso, a equi-
que forem sendo esclarecidas, pe ou pessoa encarregada deve as-
vão a votação. No caso de serem sumir a tarefa de encerrá-la sempre
propostas complementares, o com a preocupação de motivar os
coordenador deve organizar a participantes em suas tarefas.
síntese e encaminhar. Os resultados e conclusões
Saber distribuir as tarefas, devem ser produto da elaboração
levando em conta a capacidade coletiva. Uma reunião política não
de cada um, é muito importante é uma palestra, mas uma equipe
para que os encaminhamentos de trabalho em atividade.
sejam concretizados. Por exemplo: Em geral, as reuniões se tornam
se foi encaminhado na reunião mais agradáveis se, depois delas,
que faremos uma mobilização de houver uma confraternização
massas, significa que teremos que entre os militantes. A vida não é
organizar um plano com todos só política e os laços de compa-
os detalhes para que a atividade nheirismo sempre nos fazem mais
aconteça, tirando uma equipe de fortes para lutar.
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GUIA MILITANTE
3. estado e dominação
Em primeiro lugar, é impor- Estado burguês o monopólio sobre
tante definirmos que o Estado a violência considerada legíti-
burguês não é algo neutro. Ele ma (ou legal). Guerras, violência
é o resultado de processos de policial e repressão são exemplos
luta que conformam Blocos no da violência estatal justificada pela
necessidade de manter esta ordem
Poder e instituições político-
injusta. Mas a dominação nunca se
-jurídicas destinadas a manter dá exclusivamente pela força, ainda
a ordem e os negócios dos que ela esteja sempre presente.
capitalistas.
Sem que haja uma mudança em “não É verdade que
sua natureza de classe, o Estado somos iguais perante
pode até fazer concessões aos
de baixo (dependendo da força à lei. O Estado é o
de suas lutas, nunca por vontade aparato de dominação
própria), com aumentos de salá- de uma classe sobre as
rios, bolsas, auxílios emergenciais, outras.”
concessão de alguns direitos, mas
serve essencialmente para manter b) O Consenso ou Convenci-
a dominação política da classe do- mento também são armas impor-
minante economicamente. Como tantes usadas pelas classes domi-
muito bem definiu Rosa Luxem- nantes para manter seu poder
burgo, a igualdade jurídica nada sobre a imensa maioria do povo.
mais é do que a falsa aparência da Como disse certa vez Simone de
desigualdade social. Em poucas Beauvoir, “o opressor não seria
palavras, não é verdade que so- tão forte se não tivesse cúmpli-
mos iguais perante à lei. O Estado ces entre os próprios oprimidos”.
é o aparato de dominação de uma Se trata de um processo incons-
classe sobre as outras. ciente no qual estruturas de re-
A dominação política, entretan- produção das ideias dominantes
to, se dá a partir da articulação de levam os de baixo a acreditarem
duas formas de ação do Estado e naquilo que os prejudica e os
constitui-se de instituições corres- mantém sob o regime da explo-
pondentes a estas ações: ração de seu trabalho.
a) O uso da força ou a Coerção, Ao longo da experiência históri-
que são formas violentas e intimi- ca, dependendo da força da luta
datórias de manutenção da ordem entre as classes, cada instituição
política e econômica, o que confe- ganha mais ou menos peso no
re ao aparato militar e policial do Estado, formando o que chamamos
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de Regime Político.
Quando está mais
ameaçada, a classe
dominante utiliza
mais da coerção e da
violência, conferindo
mais importância
no interior do bloco
no poder às forças
militares e paramilita-
res, são as chamadas
ditaduras ou regimes
políticos autoritários.
Quando a situa-
ção de dominação
é mais confortável
para sua hegemonia,
a classe dominante
menos contesta-
da nas lutas de
massas e/ou em
um contexto de
estabilidade econô-
mica, utiliza mais
do convencimento
e suas estruturas importa é se ele representa e
de reprodução no interior dos garante os seus lucros.
dominados. O parlamento é uma As e os militantes, entretanto,
dessas instituições de construção lutam permanentemente pelas
do consentimento. Ele é destina- liberdades democráticas para
do a convencer o povo de que a garantir as melhores condições de
ditadura do capital é na verdade luta e, para isso, constroem unida-
uma democracia para todos. Mas des de ação pontual com as mais
ele também é produto da luta da diversas forças políticas, incluindo
classe trabalhadora, pois quando os partidos burgueses que estejam
olhamos para o passado vemos contra as ditaduras. No entanto,
que sequer esta aparência de- isso só pode se dar quando e onde
mocrática teria sido conquistada estiver garantida sua independên-
sem o sangue dos que ousaram cia de classe, ou seja, sua liber-
lutar e venceram. Para os capi- dade de crítica e autonomia de
talistas não importa a forma em atuação frente à classe dominan-
que se apresenta o Estado, o que te. Os socialistas revolucionários
25
George Cereça
COMO NÓS,
REVOLUCIONÁRIOS,
UTILIZAMOS O PARLAMENTO?
Muitas vezes, alguns militantes
se perguntam... Ora, se realmente
nos propomos a uma revolução
social e o Estado burguês está
destinado a manter a dominação
dos ricos, por que deveríamos
participar do parlamento e das
eleições? Outros já suficientemen-
te adaptados ao regime político e
à ideologia reformista, abandonam
#29MForaBolsonaro: Manifestação pelo qualquer perspectiva revolucioná-
Impeachment de Bolsonaro e por vacinas ria jogando todas suas fichas na
para todos (2021) participação parlamentar. Em nos-
sa opinião, este é um falso dilema
também constroem frentes únicas e tentaremos esclarecer como se
e acordos com os reformistas para articulam as táticas parlamentares
a defesa dos direitos dos trabalha- e a luta de classes na perspectiva
dores e oprimidos em geral, mas do marxismo revolucionário.
da mesma forma, não se iludem e O parlamento, para nós militan-
não alimentam ilusões naqueles tes, não é onde se resolvem os
que só falam em socialismo nos problemas mais importantes da
dias de festa. Nesse caso, também vida da massa trabalhadora, é ele
é importante a independência ou, também uma trincheira da luta
na fórmula de Trotsky, “golpear geral. Um mandato parlamentar
juntos, marchar separados”. militante deve servir como:
1. Caixa de ressonância das para vencer. Participar das lutas de
seu tempo, fortalecer estas lutas e
lutas sociais oferecer formas de organização (in-
Como um megafone ou um carro clusive partidária) para que a classe
de som que amplifica as palavras trabalhadora não seja um “gigante
de ordem de nossa luta, um man- com pés de barro”.
dato parlamentar como o nosso É um fato que o terreno das
serve para denunciar as negociatas grandes mudanças são as ruas. Não
das tenebrosas transações dos há qualquer tática parlamentar
podres poderes e também levar à que possa substituir a luta concreta
escala nacional lutas que às vezes entre as classes por seus interes-
são localizadas ou ajudar a unir as ses. Mas também é verdade que a
que estejam fragmentadas. construção de uma representação
2. Expressão política dos de política dos de baixo transita por
inúmeras táticas que incluem o
baixo parlamento. Vencer neste terreno
A classe dos que vivem do seu pode ajudar, desde que não nos ilu-
próprio trabalho constroem, como damos com este espaço, ou que se
já vimos, suas organizações sindi- considere que ela pode substituir a
cais, estudantis, de lutas democráti- ação independente das massas. Por
cas, por liberdade, etc. Mas também isso, também as eleições são um
constroem suas representações terreno fundamental para disputar
políticas, seus partidos e seus tribu- os rumos da luta. Em uma eleição
nos. Ser um militante que cumpre a podemos falar para milhões de
tarefa parlamentar é principalmente pessoas, fazer propaganda dos ele-
a tarefa de tribuno do povo, como mentos mais importantes de nosso
se intitulavam os jacobinos durante programa e fazer agitação das pala-
a Revolução Francesa. vras de ordem mais imediatas.
3. Organizador coletivo Nisso, é importante não acei-
Um mandato parlamentar revo- tar pressões eleitorais que nos
lucionário tem o dever de impulsio- façam esconder nossas posições
nar e ajudar a organização popular. ou mesmo sucumbir a vaidade de
Nenhum parlamentar socialista colocar os interesses particulares
deve colocar-se acima ou em um dos candidatos ou parlamentares
lugar de fora da sua classe de por sobre o trabalho coletivo ou
origem. Pelo contrário, deve usar abandonar o norte da estratégia.
todos os meios e táticas disponíveis Vencer eleições ajuda a fortalecer
para ajudar na Educação Política do as posições socialistas, mas o obje-
povo (como neste caderno). Deve tivo final de destruir o capitalismo
ainda criar canais coletivos, toman- e iniciar a construção da sociedade
do para si a tarefa de criar de baixo dos iguais vai muito além de qual-
pra cima a força que precisamos quer eleição.
27
GUIA MILITANTE
4. internacionalismo
militante
“Os proletários não tem O capitalismo é internacional,
pátria”, afirmavam os militan- mas controla os Estados nacionais.
tes e dirigentes da Primeira Isso levou à opressão de povos e
nações inteiras, e a guerras entre
Internacional (Associação
os imperialistas para repartir-se o
Internacional dos Trabalhado- mundo, considerado um mercado
res). Quando a classe operária global (caótico e selvagem como
e os trabalhadores tomavam é o próprio mercado neoliberal
consciência de sua condição de hoje) e às duas grandes massa-
social e seu papel na produção, cres da história: a Primeira Guerra
quando começaram a com- Mundial (1914 – 1918) e a Segun-
preender que eram a classe da Guerra Mundial (1939 – 1945).
produtiva a escala nacional, Mas a resistência dos povos
também entenderam que também se manifestou em guerras
seus irmãos dos outros países anti-coloniais e antiimperialistas,
formavam parte da mesma uma das mais famosas e mais
classe, que eles também so- extensas foi a Guerra de Vietnã,
friam a exploração capitalista que começou nos anos 50 do
e que tinham interesses ime- século passado contra a domina-
ção colonial francesa, que acabou
diatos e também históricos
sendo derrotada. Imediatamente
semelhantes. depois o povo vietnamita teve que
No início do século XX, o regime enfrentar a intervenção da maior
capitalista tinha-se universalizado potência imperialista da história,
(globalizado, como se diz atu- os Estados Unidos. O imperialis-
almente) e tinha mo ianque foi vergonhosamente
adquirido a for- derrotado pelo povo vietnamita
ma atual, a do e pelo movimento de massas do
imperialismo, seu próprio país, especialmente a
uma fase juventude estadunidense. Enor-
superior do mes mobilizações contra a guerra
capitalismo de Vietnã, exigindo a retirada das
(como afir- tropas e o regresso à casa dos
mava Lenin). soldados mobilizados no Sudeste
O imperialismo Asiático foram fundamentais para
é o domínio do a derrota das forças militares da
capital financeiro. maior potência mundial.
28
Greve Internacional de Mulheres em 2017 (Marcha do Dia Internacional da Mulher
em Los Angeles)
29
Molly Adams
“o terreno internacional do termo: só terá acabado com o
é necessário construir triunfo definitivo da nova socieda-
de sobre todo o nosso planeta.”
uma ferramenta política
A tarefa principal de um militante
permanente. Essa é construir o partido revolucionário
ferramenta é uma nova no seu país, essa tarefa está indis-
Associação Internacional soluvelmente ligada à construção
de Trabalhadores, uma da nova Internacional, o partido
mundial da revolução socialista.
nova Internacional que
O militante sabe que o inimigo
ajude a educar, organizar não é essa ou aquela política do
e dirigir as lutas dos capitalismo e sim o próprio capi-
trabalhadores e o povo.” talismo. Não se trata de escolher
entre um capitalismo mais duro ou
mais ameno. “O menos ruim é o
internacional é necessário cons- mal melhorado”, já dizia Gramsci.
truir uma ferramenta política O problema é o sistema e seus
permanente. Essa ferramenta é agentes. Um sistema perverso,
uma nova Associação Internacio- que prioriza a maximização do
nal de Trabalhadores, uma nova lucro passando por cima dos
Internacional que ajude a educar, interesses da maioria do povo e da
organizar e dirigir as lutas dos vida no planeta não pode significar
trabalhadores e o povo. nenhuma esperança.
Um militante também se forma Mas o capitalismo não irá morrer
nesse terreno, no internacionalismo, de morte natural e nenhum go-
e é cidadão do mundo como afirma- verno cai de podre, pois são mais
va Che Guevara. Na carta de des- podres do que parecem. As massas
pedida para seus filhos, quando foi oprimidas precisam estar organi-
lutar na Bolívia, Guevara escreveu: zadas para derrubá-lo. Para acabar
“sejam capazes de sentir profunda- com as guerras, com a fome e com
mente qualquer injustiça cometida todas as opressões precisamos aca-
contra qualquer um em qualquer bar com o capitalismo, o que não é
parte do mundo. É a qualidade mais fácil. Entretanto, o militante precisa
bonita de um revolucionário”. ter a capacidade de atuar na vitória
Segundo León Trotsky “A revolu- e na derrota. O socialismo depen-
ção socialista começa no terreno de da organização e da ação
nacional, desenvolve-se na arena dos trabalhadores organizados
internacional e completa-se na para a tomada do poder. Nada
arena mundial. Assim, a revolução é automático neste processo
socialista torna-se permanente histórico, mas como dizia Che:
num sentido novo e mais amplo “O presente é luta, o futuro é
nosso”.
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5. dicas de leitura
• Manifesto Comunista: https:// • Vladimir Lenin. Veja as prin-
www.marxists.org/portugues/ cipais obras em: https://www.
marx/1848/ManifestoDoPartido- marxists.org/portugues/lenin/
Comunista/index.htm index.htm
• Nahuel Moreno e Mercedes • León Trotsky. Veja as principais
Petit: Conceitos Políticos Básicos; obras em: https://www.marxists.
• Introdução ao Marxismo a org/portugues/trotsky/index.htm
partir da leitura do Manifesto Co- • Antonio Gramsci. Veja as
munista, de Israel Dutra: https:// principais obras em: https://www.
br1lib.org/book/2780627/b9b- marxists.org/portugues/gramsci/
6db?id=2780627&secret=b9b6db index.htm
• Paulo Freire: Princípios do • Ernesto Che Guevara. Veja as
Trabalho Popular; principais obras em: https://www.
• Rosa Luxemburgo. Veja as obras marxists.org/portugues/guevara/
em: https://www.marxists.org/por- index.htm
tugues/luxemburgo/index.htm • Manifesto Inaugural da Asso-
• Marx e Engels. Veja as prin- ciação Internacional dos Trabalha-
cipais obras em: https://www. dores: https://www.marxists.org/
marxists.org/portugues/marx/ portugues/marx/1864/10/27.htm
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GUIA MILITANTE
6. dicas de filmes
• A Greve sofrimento e a insatisfação entre
- Direção: Ser- os operários. As coisas começam
gei Eisenstein a mudar quando chega à cidade o
(1925) professor Sinigaglia, um militante
O suicídio de socialista que percorre a Itália bus-
um operário cando a conscientização política e
injustamente mobilização dos trabalhadores.
acusado de roubo • A Classe Operária Vai ao
é o estopim para o Paraíso - Direção: Elio Petri (1971)
início de uma greve Adorado por seus superiores por
numa fábrica russa, ser um trabalhador extremamente
em 1912. O lento processo de dedicado e odiado pelo mesmo
negociação expõe uma série de motivo por seus colegas de traba-
ações e reações entre grevistas e lho, Lulu vive entregue aos sonhos
a polícia. de consumo da classe média, alie-
• O Sal da Terra - Direção: nado em meio aos movimentos de
Hebert J. Biberman (1954) protesto de sua classe, até que um
História de uma greve em 1951 acontecimento põe em xeque suas
feita por operários mexicanos con- opiniões e se junta ao movimento.
tra uma empresa exploradora de • O Trem de Lenin - Direção:
minério de zinco. Com inspirações Damiano Damiani (1988)
no neorrealismo italiano, alguns O filme mostra a importante
dos atores são os próprios traba- viagem, em 1917, realizada pelos
lhadores grevistas. O filme tam- Bolcheviques que estavam exila-
bém possui um aspecto feminista, dos em vários países da Europa
já que um dos conflitos do filme é (Suíça, França) e que decidiram
a recusa dos homens em deixar as retornar para a Rússia em fun-
mulheres participarem da greve. ção do contexto revolucionário
• Os Companheiros - Di- que o país vivia. O grupo
reção: Mario Monicelli de exilados incluía Lenin,
(1963) Nadia Krupskaia, Inessa
Na Revolução Indus- Armand, Karl Radek
trial italiana, os ope- e Zinoviev. Após sua
rários de uma grande chegada, um novo
fábrica têxtil são sub- ciclo revolucionário
metidos a jornadas de iniciou-se na
trabalho desuma- Rússia e
nas. Aumenta o resultou
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no triunfo da primeira Revolução Após a morte
Socialista vitoriosa da história. de seu avô,
• ABC da Greve - Direção: uma jovem
Leon Hirszman (1990) decide vas-
culhar seus
O filme cobre os acontecimen-
documentos
tos na região do ABC paulista,
e descobre que
acompanhando a trajetória do mo-
ele era um vete-
vimento de 150 mil metalúrgicos
rano da Guerra
em luta por melhores salários e
Civil Espanhola.
condições de vida. Sem obter êxito
Durante sua ju-
em suas reivindicações, decidem-
ventude, se juntou
-se pela greve, afrontando o gover-
ao Partido Comunista e
no militar brasileiro.
logo se aliou ao POUM (Partido
• Germinal - Direção: Claude Obrero de Unificación Marxista).
Berri (1993) Ele deixou a Inglaterra para lutar
Baseado no romance homônimo contra os fascistas na Espanha
de Émile Zola. Durante o Século em 1936. O filme é baseado no
XIX, os trabalhadores franceses livro Homenagem à Catalunha de
eram explorados pela aristocracia George Orwell.
burguesa, que dava condições • Pão e Rosas - Direção: Ken
miseráveis para seus empregados. Loach (2000)
Em uma cidade francesa, os mi-
Sam é um ativista america-
neradores de uma grande minera-
no que luta pelos direitos dos
dora, decidem realizar uma greve
oprimidos. Maya e Rosa são duas
e se rebelam contra seus chefes.
imigrantes mexicanas vivendo
No filme aparece a importância
nos Estados Unidos, e que tra-
da Associação Internacional dos
balham como faxineiras em um
Trabalhadores (1ª Internacoinal).
prédio comercial. Suas vidas se
• Panteras Negras - Direção: cruzam, e Sam ajuda Rosa e Maya
Mario Van Peebles (1995) a abraçarem sua causa e lutarem
O Partido dos Panteras Negras contra os patrões.
de Autodefesa educa a comu- • Revolução em Danegham -
nidade afro-americana em se Direção: Nigel Cole (2010)
conscientizar dos seus direitos, faz
Baseado na greve de 1968 na
o que pode para tirar das ruas os
fábrica da Ford em Danegham,
traficantes de drogas e enfrenta a
protagonizada por mulheres em
polícia de Oakland (que é extrema-
busca de melhores salários e
mente racista) quando desrespeita
contra a discriminação sexual,
os direitos civis dos negros.
tendo de enfrentar, além dos pa-
• Terra e Liberdade - Ken trões, resistência dentro de suas
Loach (1995)
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GUIA MILITANTE
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