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Primeira edição

6 de Junho de 2021
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livreto ou parte dele é autorizada e incentivada pela FOB,
desde que a fonte seja citada, esta licença seja mantida e a
comercialização não seja para lucro privado, apenas para
o autofinanciamento coletivo da luta anticapitalista.
Introdução 7
PARTE 1 – Quem somos nós e pelo que lutamos 9
1.1 Princípios do sindicalismo revolucionário 11
1.2 As diferenças entre as concepções sindicais 12
1.3 Pluralismo e contradições no seio do povo 15
1.4 A luta pela democracia e a liberdade sindical 17

PARTE 2 – As tarefas e estruturas organizativas 19


2.1 O que é um sindicato? 20
2.2 Os Sindicatos Revolucionários 22
2.3 Os caminhos para a construção de um sindicato autônomo 26
2.4 A Federação Local 31
2.5 As tarefas organizativas de um Sindicato 31
2.6 Seção central e seção de ofício: a relação entre direção e base 41
2.7 Construindo uma Comissão Sindical de Base ou Círculos Autônomos 43
PARTE 3 – As tarefas e as formas de resistência 49
3.1 A ascensão e o refluxo das lutas 50
3.2 As escalas das lutas: a grande política nos pequenos conflitos 52
3.3 As formas de luta e resistência do povo 53
3.4 As alianças com outros sindicatos e movimentos 68
Palavras finais: siga na luta 71
Introdução
E
ssa cartilha não é uma há opressão, também há resistência”.
receita mágica ou aca- A luta e a organização popular po-
bada para a construção dem ser desenvolvidas em todos os
de uma organização sindicalista setores e realidades. O militante re-
revolucionária. Aqui os camaradas volucionário sempre se opõe a uma
encontrarão algumas informações opressão real, não atua por conveni-
sobre a história da FOB (Federa- ências ou facilidades. A história da
ção das Organizações Sindicalistas classe trabalhadora demonstra que
Revolucionárias do Brasil), méto- a luta coletiva nos contextos mais
dos de trabalho de base, resolução difíceis (em regimes de escravidão,
e prevenção de problemas, formas ditaduras, com jornadas de traba-
de organizar um sindicato, formas lho excessivas, etc.) foram essenciais
de organizar a resistência e a luta, para o povo conquistar direitos.
dentre outras. Esperamos que ela O militante, consciente de sua
seja um instrumento a mais na lon- missão histórica e estratégica, nun-
ga caminhada de reorganização da ca deve admitir que a luta é impos-
nossa classe. sível. Não deve pretender lutar so-
Essa cartilha é voltada princi- zinho, mas sozinho ou com poucas
palmente para onde o sindicalismo pessoas é possível iniciar e, com pa-
revolucionário está iniciando. Aqui ciência e persistência, desenvolver
partimos do princípio de que “onde grandes movimentos.
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

Esta cartilha é voltada aos operá- tante revolucionário nunca parte do


rios, desempregados, donas de casa, zero, ele também incorpora essas vá-
catadores, terceirizados, campone- rias expressões seculares de resistên-
ses, estudantes, indígenas, professo- cia popular buscando fortalecê-las
res, favelados, dentre várias outras com uma nova estratégia e progra-
condições de trabalho e de vida que ma, o sindicalismo revolucionário.
se encontra o nosso povo. Ainda A indignação individual é fun-
que seja impossível abarcar aqui damental, mas ela só terá força de
toda essa diversidade de situações, contestação real se estiver organiza-
e, ainda que o conteúdo dessa carti- da em coletivo; e sua força será tão
lha seja limitado pelas experiências maior quanto se transformar em
que ela se baseia, a verdadeira supe- organização e ação de massas. Com
ração desse problema só acontecerá o passar do tempo o isolamento só
de fato com a filiação de setores cada leva a frustração, a acomodação e
vez mais plurais para o sindicalismo ao medo, e o sistema é quem ganha.
revolucionário, e que eles próprios O problema também está naqueles
façam suas vozes e demandas serem que sabem disso e nada fazem.
ouvidas dentro da grande federação
e da luta comum. Infelizmente, muitas iniciativas
de grupos autônomos e combativos
É necessário romper já com a tra- no Brasil são meramente locais, não
dição de sindicalismo socialdemo- se lançam a tarefa de nacionalização
crata e conservador que paralisa e ou massificação local, interpretam a
boicota as lutas populares em troca ação direta como mera “violência
de votos e privilégios. Mas também pontual”, morrem por desagregação
é importante compreender que no interna sem deixar grandes legados
Brasil apenas 10,6 milhões (11,2%) ou aparecem apenas nos momentos
da classe trabalhadora é sindicaliza- de ascensão das lutas, sempre reati-
da (IBGE, 2020). Assim, a lutas dos vos à conjuntura, mas sem determi-
trabalhadores não pode ser resumi- ná-la por sua ação criadora.
da ao sindicalismo oficial e existe
8 uma massa de trabalhadoras e traba- Essa cartilha serve para inspi-
lhadores fora destas entidades com rar a todos que decidiram romper a
os quais devemos nos organizar. apatia e as formas limitadas de re-
sistência e partir para a ação e orga-
O nosso povo desenvolveu du- nização revolucionária das massas
rante uma longa experiência coletiva trabalhadoras em todo Brasil.
formas de resistência para defender

Boa leitura!
suas condições de vida, seu bem es-
tar e seus direitos. Por isso, o mili-
1
Parte
1

Quem
somos nós e
pelo que lutamos
A
FOB é uma organização ENOPES marcou uma nova etapa
constituída em 2010, de construção do sindicalismo re-
para unir militantes volucionário no Brasil. A partir dele
do movimento popular, estudantil e a FOB decide construir federações
sindical que realizavam oposição às de sindicatos autônomos de base,
correntes reformistas, direitistas e organizações populares e estudan-
ao sindicalismo de Estado no Brasil, tis, para se contrapor às centrais
pelo menos desde 2003. Surgimos oficiais, burocratizadas e reformis-
nas lutas em defesa dos direitos do tas. O sindicalismo revolucionário,
povo, construindo um caminho au- organizado federativamente, fará o
tônomo, classista e combativo. enfrentamento do Capital e do Es-
Em novembro de 2013 realiza- tado e suas políticas contra o povo
mos o 1º ENOPES (Encontro Na- pobre e trabalhador.
cional de Oposições Populares, No 2º ENOPES, a FOB decide
Estudantis e Sindicais) que reuniu também acompanhar como obser-
cerca de 150 delegados de todas as vadora a iniciativa de reorganização
regiões do Brasil e definiu como proletária internacional da Confe-
orientação estratégica a construção deração Internacional do Trabalho
de uma Confederação Sindicalista (CIT). O Congresso de fundação da
Revolucionária no Brasil e a cons- CIT foi realizado na Alemanha e a
trução de uma Internacional de FOB esteve presente. Além disso, o
Trabalhadores (proposta que pode 2º ENOPES aprovou o apoio e soli-
ser lida nas Teses para a construção dariedade da FOB à luta zapatista
de uma Tendência Classista e Inter- no México e ao processo revolucio-
nacionalista). Além disso, definiu nário em Rojava (Curdistão).
uma série de campanhas e ações de Somos hoje algumas centenas de
resistência. O 1º ENOPES foi mar- militantes, especialmente trabalha-
cado pela experiência coletiva dos dores na área de educação, operá-
setores combativos na revolta popu- rios, comerciários, catadores, estu-
lar de junho de 2013. dantes, desempregados, autônomos,
Em outubro 2017 realizamos o membros de organizações popula-
2º ENOPES, momento que se de- res de bairro e estamos desenvol-
bateu o contexto internacional e vendo uma modesta intervenção
nacional e as estratégias de orga- nas lutas indígenas e camponesas.
nização e luta pra o período. O 2º Estamos hoje em mais de 12 cida-
des brasileiras e com processos de Ação Direta: Por ação direta
contato e construção em cidades de entendemos tanto as formas de luta
todas as regiões do país. e resistência, como os processos de
A FOB luta por Trabalho, Trans- organização, de gestão da produ-
porte, Moradia, Terra, Educação, ção e serviços. Assim, a luta deve
Saúde e Liberdade para as massas ser organizada a partir da base nos
populares do campo e da cidade. movimentos, através de ações que
Essas reivindicações vinculam di- coloquem os governantes na parede
retamente as greves, protestos e e nossas reivindicações sejam aten-
didas. Assim, ação direta vai muito
11
outras lutas do povo aos objetivos
históricos da FOB: a construção do além de uma ação violenta isolada,
Autogoverno dos Trabalhadores e significa os trabalhadores assumi-
de uma Economia Socialista e Mu- rem diretamente e coletivamente as
tualista. rédeas do seu futuro, contra todos
que impeçam a sua libertação.
Democracia Direta Federa-
1.1 – Princípios do
lista: A democracia direta federa-
sindicalismo revolucionário lista é quando o poder de decisão é
Autonomia: Entendemos que exercido diretamente pelos traba-
as organizações dos trabalhadores lhadores, de baixo para cima. As-
(sindicatos, associações de mora- sim, as decisões de um movimento
dores, grêmios estudantis, movi- ou sociedade não surgem de líderes
mentos sociais em geral) são instru- iluminados, mas da participação e
mentos de luta onde o próprio povo poder real desde as assembleias de
deve ter o poder, sem a dominação base, passando pelas instâncias lo-
de partidos, governos, empresas e cais, estaduais e nacionais. As bases
instituições religiosas. No Brasil, os não são submissas ao topo, elas têm
partidos da ordem querem contro- autonomia para agir e decidir, desde
lar a luta dos trabalhadores e canali- que não violem acordos coletivos. E
zar toda a força do movimento para as instâncias de Coordenação são
o parlamento e as eleições. Como colegiadas, imperativas e revogá-
consequência desta prática, temos veis, estando assim sobre o controle
não só uma série de derrotas em das bases. Ou seja, a direção do mo-
greves e lutas, como também a des- vimento é coletiva. Como diriam os
mobilização das bases e o abando- zapatistas, “mandar obedecendo”.
no de reivindicações imediatas e da
Mutualismo: A propriedade
luta pelo socialismo para se adaptar
privada é a base principal da desi-
aos conchavos eleitorais.
gualdade social e da exploração do

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povo. Assim, se torna necessário o pitalismo e que se reproduzem nas


fortalecimento de práticas de ajuda relações do povo dividindo-o, como
mútua, solidariedade, autogestão, o patriarcalismo que produz o ma-
cooperação, de suprimento entre os chismo, a homofobia; o racismo que
trabalhadores e de uma ação coleti- se materializa nos diversos tipos de
va para a construção de uma polí- ações contra o povo negro e indíge-
tica econômica dos próprios traba- na: extermínio, pobreza, desempre-
lhadores. O objetivo, além da troca go, baixo nível de escolaridade, etc.
e reciprocidade, é fortalecer a resis- Lutamos também contra toda into-
tência contra as relações econômi- lerância religiosa e geográfica, esta
cas do capitalismo através da expe- última que se materializa nas ações
riência associativa. O mutualismo é contra religiões de matriz africana,
também a gestão coordenada desde migrantes, povos e etnias oprimidas.
as bases produtivas da sociedade, e
não um planejamento centralizado
1.2 – As diferenças entre as
imposto pelo Estado.
concepções sindicais
Internacionalismo: Assume
No movimento sindical existem
um programa internacional e a ne-
muitas concepções e práticas dife-
cessidade de organização interna-
rentes. Existem hoje no movimento
cional dos trabalhadores como an-
sindical brasileiro as seguintes con-
tagônica às formas nacionalistas e
cepções e práticas sindicais: sindica-
estatistas de organização. Reconhe-
lismo reacionário, sindicalismo li-
ce a existência de diferentes povos e
beral, sindicalismo socialdemocrata
nações oprimidas no interior/fron-
e o sindicalismo revolucionário.
teira de Estados nacionais frutos de
processos históricos de colonização, Em 2008 a estrutura sindical
e assume a tarefa de unificar os tra- oficial brasileira foi expandida com
balhadores de nações, culturas e a “Lei das Centrais” que determi-
povos diferentes contra o inimigo nou que o Estado repassaria uma
comum: o sistema capitalista e es- quantia de dinheiro enorme para as
12 tatal. Assim o internacionalismo se centrais reconhecidas e legalizadas.
manifesta desde a escala local até a Buscando abocanhar esse dinhei-
mundial através da união horizon- ro, diversos partidos criaram novas
tal e fraternal de trabalhadores e centrais com interesse meramente
povos. corruptos e autoritários. Por isso
hoje existem muitas centrais com
Antipatriarcado e Antirra-
ideias parecidas, e o pior de tudo,
cismo: É a luta contra todas as for-
que não ajudam em nada o povo.
mas de opressões impostas pelo ca-
Reacionários e Liberais medidas assistencialistas, festas,
shows e distribuições de brindes.
O sindicalismo reacionário está
Um sindicato de comércio e servi-
representado hoje em centrais sin-
ços. A luta que é o importante eles
dicais como a UGT (União Geral
deixam de lado. O sindicalismo re-
dos Trabalhadores) e a NCST (Nova
acionário e o liberal são chamados
Central Sindical de Trabalhadores).
de “sindicalistas chapa branca” ou
Tem como característica a defesa de
“amarelo”, isto é, dizem representar
que patrões e trabalhadores devem
estar de mãos dadas. Defendem a
os trabalhadores, mas, na verdade,
defendem os patrões e tem como
13
ordem e a legalidade imposta pelas
único objetivo ficar pra sempre na
classes dominantes. São sindicatos
direção dos sindicatos. Esse mode-
autoritários e corruptos, sempre de-
lo de sindicalismo também possui
pendentes da figura do presidente
influência em outros movimentos e
do sindicato, não possuem demo-
partidos de “direita” tal como MBL
cracia interna.
ou até gangues neonazistas e grupos
O sindicalismo liberal está repre- ultranacionalistas.
sentado pela Força Sindical e CGTB
(Central Geral dos Trabalhadores
do Brasil). Tem as mesmas caracte-
Socialdemocrata
rísticas do sindicalismo reacionário, A diferença do sindicalismo so-
a diferença é a defesa de uma falsa cialdemocrata em relação ao reacio-
“modernização” das relações de tra- nário e liberal é que eles aparecem
balho. Uma de suas características é como de “esquerda”. Entre as cen-
a defesa do “sindicalismo de resul- trais sindicais, a CUT (Central Úni-
tados”, isto é, a proposta de que os ca dos Trabalhadores), a CTB (Cen-
trabalhadores devem reivindicar, tral dos Trabalhadores do Brasil) e
por exemplo, 15%, para conseguir a CSP - Conlutas são defensoras do
5% de reajuste. Ou seja, já entram sindicalismo socialdemocrata.
numa negociação com a certeza Para os socialdemocratas, o sin-
que rebaixarão a pauta de reivin- dicato só deve fazer a luta salarial e
dicações. Em geral a consequência econômica, deixando a luta política
é um “acordão” entre burocracias por transformações maiores exclu-
sindicais e patrões, pelas costas dos siva dos partidos eleitorais de es-
trabalhadores. querda. Por isso, é muito comum di-
Outra característica de reacioná- retores e ex-diretores dos sindicatos
rios e liberais é tentar atrair traba- concorrerem às eleições burguesas,
lhadores com espaços recreativos, ou mesmo ocuparem cargos gover-

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namentais ou assessoriais de verea- defende o socialismo, isto é, o fim


dores, deputados e ministérios. Eles da sociedade capitalista e a constru-
não acreditam na capacidade do ção de uma sociedade justa e iguali-
povo para mudar diretamente a rea- tária, em que tanto a riqueza quanto
lidade e por isso alimentam a ilusão o poder sejam repartidos entre os
na farsa eleitoral. trabalhadores.
Na verdade, participar das dis- Para os revolucionários, o prin-
putas eleitorais é algo que unifica cipal objetivo dos sindicatos é a
sindicalistas reacionários, liberais construção do autogoverno dos tra-
e socialdemocratas. Todos utilizam balhadores, ou seja, o governo da
o movimento sindical como tram- federação livre das comunas e das
polim para concorrer nas eleições, associações da classe trabalhadora,
ou mesmo para fazer a defesa de sendo que os sindicatos são uma das
determinados candidatos em troca bases dessa nova sociedade.
de favores ou cargos políticos. O Por isso, o sindicalismo revo-
sindicalismo socialdemocrata tam- lucionário é contra a participação
bém possui influência em outros nas eleições burguesas, a aceitação
movimentos de esquerda tal como a de cargos em governos e empresas
UNE, UBES, MTST e MST. e faz oposição a todos os governos
capitalistas, independente de parti-
O Sindicalismo Revolucionário dos ou ideologias. Se opõe, portan-
to, a qualquer forma de conciliação
O sindicalismo revolucionário
com a classe dominante, porque
foi o responsável pela construção da
sabe que eles são ricos e poderosos
primeira organização nacional de
e sempre buscarão oprimir e explo-
trabalhadores do Brasil no início do
rar o povo.
século XX, a COB (Confederação
Operária Brasileira) – não falamos Portanto, o sindicalismo revolu-
das primeiras lutas e organizações cionário defende a ação direta, de-
de trabalhadores, pois este pontapé fende que os próprios trabalhadores
14 foi dado por grupos negros e indí- devem fazer a luta política e econô-
genas através de greves, rebeliões e mica juntas, e não delegar a luta po-
quilombos, por exemplo. lítica a partidos externos e eleições.
A principal estratégia de luta da
Hoje o sindicalismo revolucio-
classe trabalhadora é a greve geral,
nário está em processo de reorgani-
porque, com ela toda a classe para-
zação através da FOB. O sindicalis-
lisa suas atividades, paralisa a pro-
mo revolucionário, ao contrário das
dução, a circulação e a prestação de
demais concepções sindicalistas,
serviços, mostrando aos burgueses podem e devem se lançar na luta e
e aos governos que são os trabalha- provar o seu valor na prática, sem
dores que produzem toda a riqueza. prejulgamentos ou preconceitos.
Além do mais, é importante
1.3 – Pluralismo e lembrar que os indivíduos e grupos
contradições no seio do povo sociais não possuem apenas uma,
mas várias “identidades”: um indi-
Uma característica fundamental
víduo que é indígena, também pode
do sindicalismo revolucionário é o
pluralismo. A ideia pluralista está
ser estudantes, mulher, trabalhado- 15
ra assalariada. A ação concreta é o
relacionada diretamente a outros
único terreno para a unidade dentro
princípios que falamos antes: o fe-
do pluralismo, a prática é o critério
deralismo, o internacionalismo, o
da verdade. E é pela demonstração
antirracismo, etc.
de luta que os sujeitos e grupos ocu-
Assim, na política, o pluralismo pacionais revelam seu potencial real
é manifestado pela democracia di- de transformação: a luta é o central.
reta federalista. Na questão social
Assim, a consciência ou orgulho
e cultural é representada pelo in-
corporativo não é sinônimo de cons-
ternacionalismo e pelo combate às
ciência de classe, ainda que possam
opressões, liberdade de crenças e fi-
não ser excludentes um ao outro. O
losofias de vida. Na construção das
pluralismo do sindicalismo revolu-
lutas e movimentos é representada
cionário não nega as particularida-
no reconhecimento da diversida-
des e identidades no seio do povo,
de de ideias e de forças políticas no
mas as unifica de baixo para cima,
interior da classe trabalhadora e na
não transformando-as em divisões
construção da unidade pela luta efe-
e corporativismos (sejam ocupacio-
tiva e prática contra a exploração.
nais, geracionais, raciais, etc.).
Em relação as diversas situações
É por isso que a noção de classe
ocupacionais, de gênero, de renda,
defendida pela FOB não se restringe
étnico-raciais, geracionais, religio-
aos trabalhadores assalariados, mas
sas, educacionais, geográficas, or-
também às trabalhadoras domésti-
ganizacionais no interior da classe
cas, camponeses, escravizados, es-
trabalhadora, o pluralismo do sindi-
tudantes, artesãos, favelados, donas
calismo revolucionário não atribui
de casa, desempregados etc.
nenhuma superioridade artificial/
oficial a um ou outo setor: nem ao A classe trabalhadora está envol-
“operário industrial”, nem aos “no- ta em uma variedade de conflitos
vos movimentos sociais”, etc. Todos muito além do salarial, que devem

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ser enfrentados com organização e dos e analfabetos, heterossexuais e


luta classista. Por isso, em relação as demais orientações sexuais, de-
as reivindicações, também é preciso sempregados e empregados, cristãos
aplicar o pluralismo. e ateus, dentre muitas outras.
É por isso que uma variedade Mas para construir essa nova
de lutas tachadas equivocadamente prática plural revolucionária deve-
como “policlassistas” ou “particula- mos enfrentar corretamente o peso
res”, como por exemplo as lutas pelo de tradições clientelistas, patriar-
transporte público, pela saúde, con- cais e autoritárias no seio do povo.
tra o racismo, contra o machismo, Para isso, é fundamental construir
pelos territórios originários, pelos práticas participativas, democrá-
direitos estudantis são, na verda- ticas e de base, sem as quais a luta
de, lutas da classe trabalhadora. E, antiburocrática cai no vazio.
portanto, devem ser organizadas e Muitos movimentos autônomos,
apoiadas pelo sindicalismo revolu- tal como o zapatismo no México,
cionário. As lutas antidiscrimina- têm falado muito sobre essa barrei-
tórias, por exemplo, não são deslo- ra a ser superada. O militante re-
cadas da luta de classes, e sim uma volucionário deve estar atento para
de suas expressões mais gritantes e identificar esses problemas e buscar
necessárias. soluções coletivistas às contradições
Assim, o pluralismo como mé- no seio do povo.
todo de resolver as contradições As contradições no seio do povo,
no seio do povo não é uma ideia de tal como o machismo e racismo, não
diversidade idealista ou burguesa, devem ser pensadas de forma idea-
desvinculada da luta e dificulda- lista, como se o sindicato ou o movi-
des reais do povo. Por isso ela se mento fosse uma “bolha” isolada da
transforma em métodos efetivos de sociedade. O central não é a existên-
combate às opressões aos setores e cia das contradições, mas os méto-
indivíduos mais marginalizados e dos que utilizamos para resolvê-las.
16 oprimidos da nossa classe.
Por um lado, as opressões ori-
É por isso que um sindicato autô- ginadas pela ação da burguesia, do
nomo deve assumir como sua as lu- Estado e dos exploradores devem
tas antidiscriminatórias e também ser combatidas com ação direta,
deve construir internamente uma autodefesa e radicalidade; por ou-
horizontalidade cada vez maior en- tro lado, as contradições no seio do
tre jovens e velhos, homens e mu- povo devem ser resolvidas princi-
lheres, brancos e negros, escolariza- palmente com a solidariedade, luta
ideológica e justiça restaurativa, e organização coletiva. As entidades
não com punitivismo e a formação sindicais e populares precisam ser a
de pequenos agrupamentos “puros” expressão da auto-organização dos
entre si. trabalhadores, de baixo para cima,
Na luta do povo trabalhador é com o poder a partir da base, dos
fundamental a construção de uma locais de trabalho, estudos e dos
nova prática e ética militante: não bairros.
hierárquica, de respeito, de com- O que acontece hoje é exatamen-
promisso, de disciplina, honestida- te o oposto: a maioria dos sindicatos 17
de, que seja antipatriarcal e antir- e movimentos não têm democracia,
racista, que estimule estilos de vida são pequenos exemplos de uma ve-
que não sejam autodestrutivos aos lha política corrupta e autoritária.
camaradas e à nossa comunidade e Mas para mudar essa situação não
que, ao contrário, fortaleça a mente adianta só trocar as direções. Muitos
e o corpo do nosso povo. já tentaram por esse caminho e vi-
Vinculado a isso, o sindicalis- ram que o “buraco é mais embaixo”.
mo revolucionário defende que Toda a estrutura sindical oficial
devemos nutrir o ódio de classe, a (ou seja, reconhecida pelo Estado
intransigência, a combatividade, brasileiro) está apodrecida e ser-
a desconfiança e a violência revo- ve na prática como força auxiliar
lucionária frente aos inimigos do do sistema. Para alcançarmos uma
povo, exploradores, burgueses, pa- verdadeira democracia e liberdade
trões, políticos e forças policiais. É sindical é necessário lutar pela des-
estratégico e decisivo saber diferen- truição do sindicalismo de Estado.
ciar as coisas, paz e guerra, amor e O sindicalismo reacionário, libe-
ódio, sem negar nem um outro, mas ral e socialdemocrata participam e
direcioná-los a quem merece: “paz defendem o sindicalismo de Estado,
entre nós, guerra aos senhores”. defendem a legalidade da ordem
dominante. Mas o que é o sindica-
1.4 – A luta pela democracia e lismo de Estado? E porque ele é tão
a liberdade sindical ruim? Podemos sintetizar em três
aspectos principais:
A democracia, muito falada pe-
las burocracias sindicais, não é pra- a) O imposto sindical: O Es-
ticada no interior da maioria dos tado recolhe compulsoriamente o
sindicatos e centrais. Para nós, a dinheiro do trabalhador e repas-
primeira tarefa democrática para o sa aos sindicatos e centrais. Toda a
povo é retomar o controle sobre sua sustentação material dos sindicatos

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passa a ser mediada pelo poder le- reunir nem a metade? Ou aqueles
gal do Estado em confiscar/roubar que nem sequer precisam reunir
o dinheiro do povo. Na prática, 1% os trabalhadores em assembleia?
do rendimento anual dos trabalha- Apesar das diferenças, a mesma
dores é retirado de forma compul- ilusão de quantidade acontece no
sória. Alguns tentam “dourar a pí- movimento estudantil: Quantas
lula”, mas a verdade é que através do entidades estudantis conseguem
imposto sindical quem paga direta- reunir pelo menos a metade ou até
mente o sindicato é o Estado e não mesmo 1/3 dos seus “representa-
os seus filiados com contribuição dos”? Quem definiu, portanto, esse
voluntária. Essa relação cria uma poder de representação tão grande
contradição radical entre a direção (e ilusório) dessas entidades? É por
sindical e a base da categoria. Por isso que o Estado não deve decidir
isso o sindicalismo revolucionário quem é legítimo ou não na luta do
defende o fim do imposto sindical e povo. Quem pode e deve reconhecer
a volta da contribuição voluntária e a entidade que nos representa são os
livre. próprios trabalhadores.
b) A carta sindical: Hoje é o c) A unicidade sindical: O Es-
Estado que define e reconhece os tado determina que só pode existir
limites geográficos e sociais dos um sindicato por categoria em de-
sindicatos, e também qual sindica- terminada base territorial. No caso
to possui legitimidade ou não para de ter dois ou mais sindicatos é o
representar os trabalhadores. É o Estado que reconhece o único sin-
que chamam de carta sindical. To- dicato “legítimo”, repassando a ele
das essas decisões, no entanto, de- o imposto e a carta sindical. A uni-
veriam ser tomadas pelos próprios cidade sindical nega a liberdade e a
trabalhadores, sem pedir permissão pluralidade da classe trabalhadora,
ou intervenção a agentes externos, únicas bases na qual pode existir
muito menos ao Estado. A carta uma verdadeira UNIDADE.
sindical é a garantia da negociação
18 sem luta, da representação sem legi-
Por isso que a unicidade imposta
de cima para baixo pelo sindicalis-
timidade, é a garantia de um poder mo de Estado é o oposto da livre as-
burocrático à diretoria sindical. sociação e união dos trabalhadores.
Além disso, as entidades oficiais É por isso que para construir uma
geram uma ilusão de quantidade. grande unidade dos trabalhadores
Quantos são os sindicatos que ofi- e povos é necessário destruir a uni-
cialmente representam uma catego- cidade sindical e toda sua ideologia
ria imensa mas nunca conseguiram centralista e estatista.
2
Parte

As tarefas
e estruturas
organizativas
H
á alguns anos as tra- de sindicatos e movimentos de tra-
balhadoras e traba- balhadores. Não abordaremos, por
lhadores revolucio- exemplo, os congressos e plenárias
nários estão diante de um dilema nacionais, ainda que sejam espaços
fundamental: ou crescimento das fundamentais.
organizações leva à burocratização/ As indicações aqui buscam aju-
cooptação ou a combatividade e ho- dar em certas demandas de uma
rizontalidade levam ao isolamento e etapa inicial ou intermediária da or-
ao sectarismo dos pequenos grupos. ganização. É importante compreen-
Hoje o sindicalismo revolucio- der as etapas de construção, identi-
nário possui uma proposta pra re- ficando em que momento estamos,
solver esse dilema. O princípio fe- para onde queremos ir e quais con-
deralista, levado a frente de forma dições e ações devemos alcançar e
coerente e séria, abre possibilidades tomar para atingir nossos objetivos.
reais para um crescimento do lo-
cal ao nacional e internacional que
2.1 – O que é um sindicato?
construa grandes organizações de
massas que mantenham a demo- Muitas vezes os trabalhadores
cracia interna, a combatividade e o reclamam de problemas no bairro
poder de baixo para cima. ou no trabalho, mas por fazerem
isso sozinhos, sem organização e de
Mas isso não significa que vai
forma envergonhada, estes proble-
existir uma organização perfeita.
mas continuam.
Quando falamos em “avanços or-
ganizativos” falamos sempre na Salários baixos, assédio moral e
criação de novos problemas para sexual, falta de materiais adequados
resolver. É um trabalho constan- para o trabalho, poucas horas de
te. Existem tanto fatores internos almoço, escolas e hospitais precá-
(inexperiência, oportunismo, des- rias, transporte caro, desemprego,
motivação, etc.) quanto externos são alguns problemas comuns do
(repressão, crises, infiltração etc.), trabalhador brasileiro. Esses pro-
que podem dificultar a organização blemas afetam todos os dias a nossa
de um sindicato autônomo. liberdade e o nosso bem estar, nos
adoecem, criam brigas nas famílias
Priorizaremos aqui a organiza-
e comunidades, ameaçam a nossa
ção local. Alguns métodos e pro-
sobrevivência.
postas para ajudar na construção
Mas os trabalhadores sempre repressão sobre a livre organização
tem algo a dizer e propor para me- deve ser denunciada e combatida.
lhorar a vida. Quando estamos so- O sindicato tem a função de dis-
zinhos estas ideias podem não fazer cutir quais são os problemas do lo-
diferença, mas organizados e de for- cal de trabalho, do bairro e da classe
ma unida os trabalhadores ganham trabalhadora em geral. Os pequenos
poder. O sindicato é exatamente a conflitos e problemas cotidianos são
forma de unir os trabalhadores e fa- a escala mais básica e fundamental
zer seus direitos valer. que atua um sindicato, pois elas são 21
O sindicato é a entidade que re- a base de toda a estrutura de explo-
presenta os trabalhadores de um ou ração e opressão.
vários ramos que se filiam a ele e tem É por isso que o sindicato deve
como objetivo criar poder de pressão ser construído desde a base, das lu-
para conquistar suas reivindicações. tas e uniões nos locais de trabalho e
Para nós, o sindicato não deve ser moradia, e desde essa base forte ele
uma coisa que está “fora” ou “acima” pode chegar a ter uma organização
do trabalhador Ele é, na verdade, municipal, nacional e até mesmo in-
uma forma de AUTO-ORGANIZA- ternacional.
ÇÃO. Ou seja, quando os trabalha- Os trabalhadores organizados em
dores se organizam por si mesmos, um sindicato devem pensar em quais
sem a dominação do Estado, do pa- melhorias desejam e como farão para
trão ou de qualquer instituição ex- conquistá-las. Para isso, o sindicato
terna ao grupo de trabalhadores. É, defende reivindicações e mobiliza o
portanto, o primeiro passo na cons- povo para lutar, fazendo com que sua
trução da nossa autonomia. voz seja ouvida e atendida.
O sindicato é também uma AU- Toda essa concepção de sindicato
TO-REPRESENTAÇÃO. Não é o pode parecer distante da nossa reali-
Estado que deve dizer qual líder ou dade. Mas, na verdade, ela está pre-
qual sindicato nos representa. So- sente em muitas lutas e movimentos
mos nós que construímos por nos- populares no Brasil. Por isso que o
sas mãos a organização que de fato sindicalismo revolucionário não se
nos represente. A verdadeira legiti- prende ao termo “sindicato” e reco-
midade de um sindicato surge, por- nhece os vários nomes que os tra-
tanto, de baixo para cima. balhadores acham melhor para re-
Por isso um sindicato deve se presentar a sua luta: se é associação,
manter autônomo, sem “rabo preso” movimento, sindicato, união, oposi-
com governos ou patrões, e qualquer ção, coletivo, comitê, comando.

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c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

O fato é que muitos deles fazem, concepção alternativa de associati-


na prática, lutas sindicais mais au- vismo e movimento de luta dos tra-
tênticas e próximas de um sindica- balhadores.
lismo revolucionário do que entida-
des que tem no nome “sindicato”,
2.2 – Os Sindicatos
mas são verdadeiros cães de guarda
de patrões ou políticos.
Revolucionários
Chamamos de Sindicato Geral
Por isso, a nossa concepção de
Autônomo e Sindicato de Ramo
Sindicato se diferencia de três ideias
expressões práticas da teoria e ex-
erradas, mas muito comuns, sobre o
periência histórica do sindicalismo
sindicalismo. É um equívoco achar:
revolucionário no mundo desde o
1) que o sindicato sempre deve ser século XIX.
uma entidade oficial reconhecida
Entendemos por sindicalismo
pelo Estado e controlada pela legis-
diversas experiências de associa-
lação;
ções de trabalhadores, e não uma
2) que o sindicato só pode lutar por associação restrita a trabalhadores
salário e questões corporativas, ou formais e assalariados, podendo a
seja, que ele possui um limite do linha revolucionária ser aplicada
que pode ou não fazer; também em movimentos populares
3) que o sindicato representa apenas e estudantis.
trabalhadores assalariados ou está-
veis e formais. Sindicato Geral Autônomo
Essas três concepções estão erra- O SINDICATO GERAL é uma
das pois são limitadas e limitantes organização de base que associa to-
da nossa ação enquanto trabalha- dos os trabalhadores, de qualquer
dores. Elas tomam o sindicato bu- ramo ou profissão. É um sindicato
rocratizado como o único tipo de de vários ofícios.
sindicalismo possível. É por isso que
22 expressões em outros países como O principal objetivo do Sindicato
Geral é a organização dos trabalha-
“sindicato de estudantes” ou sindica-
to de camponeses, desempregados, dores temporários, desempregados,
ou até mesmo “sindicalismo comu- informais e domésticos, ou seja, que
nitário” é para alguns de nós uma muitas vezes estão desorganizados
grande surpresa, mas não deveria. por falta de um local de trabalho
fixo, da burocratização sindical ou
O sindicalismo revolucionário da própria opressão e precarização
brasileiro apresenta e constrói uma do trabalho.
É uma forma de organizar tra- A fundação do Sindicato Geral
balhadores no novo cenário que a deve ocorrer em uma assembleia ge-
reestruturação produtiva neoliberal ral convocada especificamente para
impôs pela Lei da Terceirização, Re- esse fim, aprovando o Estatuto do
forma Trabalhista e Previdenciária, Sindicato, elegendo os membros da
Lei da Liberdade Econômica e ou- Coordenação Sindical, e definindo
tras. Com as restruturações, os tra- as Campanhas e lutas.
balhadores vão perdendo o vínculo Sendo um compromisso da FOB
com outros trabalhadores, com seu
local de trabalho e perdem garan-
a “organização dos desorganiza- 23
dos”, especialmente do proletariado
tias e estabilidade, o que favorece a marginal, o Sindicato Geral é uma
desunião e as formas de exploração. organização fundamental nas cida-
O Sindicato Geral busca então des e estados.
organizar aqueles que sofrem com O surgimento de um ou mais
essa forte rotatividade e flexibilida- Sindicatos de Ramo, ou Organiza-
de em postos de trabalho, aqueles ções Estudantis e Populares, não
que não tem um ramo ou emprega- devem levar a dissolução do Sindi-
dor fixo, que tem mais de um em- cato Geral. Assim como, se o sin-
prego, mas ainda assim devem se dicalismo revolucionário em uma
organizar e lutar. cidade iniciar com uma Organiza-
É o caso de trabalhadores horis- ção de Ramo, será tarefa e compro-
tas, parcial, intermitentes, teletra- misso deste ajudar na fundação de
balho, contrato por tempo indeter- um Sindicato Geral, aberto a todo
minado, temporário, terceirizado, o povo, independente do ramo e da
trabalhadores de aplicativo, além profissão.
dos desempregados, domésticos e Dentro de um Sindicato Geral os
trabalhadores por conta própria filiados e comissões de base de um
(ambulantes, pessoas que vivem de mesmo ramo podem formar uma
bico e outros). SEÇÃO. Por exemplo: duas comis-
Um Sindicato Geral pode ser sões sindicais de base em supermer-
constituído com até dez trabalha- cados + comerciários filiados indi-
dores de uma mesma localidade. A vidualmente formam uma “Seção
sua constituição deve ser fruto de de Comerciários”. O mesmo pode
discussão em assembleia e da par- ocorrer nos outros ramos.
ticipação do grupo de trabalhadores O crescimento numérico e polí-
em lutas e campanhas pelos direitos tico de uma Seção de Ramo dentro
do povo. do Sindicato Geral pode levar à se-

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paração da Seção para a formação se envolver, como se não fosse dela, o


de um novo Sindicato especifica- que enfraquece o poder dos trabalha-
mente daquele Ramo, ou seja, um dores. Isso é o corporativismo.
Sindicato de Ramo. Um Sindicato de Ramo asso-
ciaria todos trabalhadores daquela
Sindicato de Ramo mesma base de serviço ou produ-
ção, independente da sua especiali-
O SINDICATO DE RAMO é
zação ou situação contratual.
uma associação de trabalhadores
de um mesmo ramo de trabalho. Divisões contratuais como “tra-
Os ramos são definidos a partir dos balho fim” e “trabalho meio” são
grandes grupos de atividade econô- formas preconceituosas da legis-
mico-social (setores da produção e lação burguesas para discriminar
serviços). Alguns exemplos são: in- quem os patrões acham que deve
dústria, educação, comércio, saúde. ganhar menos e ter menos direitos.
Assim, o Sindicato de Ramo não Ela só beneficia os governos e em-
divide os trabalhadores de acordo presários. Um Sindicato Autônomo
com o tipo de trabalho, empresa ou de Trabalhadores da Educação, por
situação legal de contratação. exemplo, organizará todos os traba-
lhadores envolvidos naquele ramo,
Por exemplo: considere o funcio-
sejam eles efetivos, temporários ou
namento de um hospital, hoje exis-
terceirizados, faxineiros, assistentes
tem diferentes sindicatos para dife-
ou professores, etc.
rentes categorias que trabalham lado
a lado: um para enfermeiros, outros Essa união trará muito mais for-
para médicos, há sindicatos dos ter- ça do que o modelo corporativista
ceirizados da limpeza e alimenta- atual. Ao fazer uma greve, toda a es-
ção e por aí vai. As especializações cola ou universidade paralisa, pois
de trabalho são diferentes, mas toda todos estão organizados para a mes-
essa força coletiva é indispensável ma finalidade, e não parte da força
para a o serviço de saúde ali prestado de trabalho para enquanto outros
24 Imagine um paciente que não
continuam trabalhando.
recebe as refeições? Ou o ambiente O Sindicato de Ramo, então, visa
hospitalar que não é limpo e este- unir trabalhadores de uma mesma
rilizado? Então os terceirizados da base produtiva para fortalecer as
alimentação e limpeza são tão im- lutas e não obter ganhos exclusiva-
portantes quanto o médico. Quando mente para um setor de trabalha-
uma categoria faz uma luta reivindi- dores enquanto colegas no mesmo
cando um direito, a outra tende a não local de trabalho são discriminados
com salários menores e ausência Outro exemplo, um Sindicato de
de direitos. Assim, o Sindicato de Trabalhadores da Educação pode
Ramo visa uma luta econômica ge- buscar mobilizar todos segmentos
ral e também antidiscriminatória. da comunidade escolar (além de
Ele rompe o lema “dividir para con- trabalhadores da escola, somar com
quistar” em que o sindicalismo de estudantes e pais ou responsáveis)
Estado, que fragmenta a representa- para lutar por acesso à saúde no
ção das categorias, é baseado. bairro, planos de mobilidade, arbo-
Essa discussão dos ramos pode rização, áreas de lazer, saneamento
básico etc. E não apenas travar lu-
25
parecer besteira, mas não é. Nós só
nos despreocupamos em debater tas por salário e plano de carreira
isso porque estamos acostumados a para professores efetivos, como, em
aceitar o modelo sindical que é im- geral, vemos hoje; mas combinar
posto pelo Estado. Os socialdemo- reivindicações de professores com
cratas e conservadores não questio- direitos e salário aos terceirizados
nam nem combatem essa imposição, da limpeza e cantina etc.
buscam apenas se adaptar a ela. Mas Ambos, sindicato geral ou de
para construir um sindicato autôno- ramo, são SINDICATOS AUTÔ-
mo é fundamental que os trabalha- NOMOS que integram a FOB. Além
dores tenham total liberdade para se disso, as ORGANIZAÇÕES ESTU-
organizar, sem nenhuma autoridade DANTIS e ORGANIZAÇÕES PO-
superior que diga “com quem” ou PULARES também são reconhecidas
“como” devem se organizar. na FOB com a mesma importância
Muitas vezes a delimitação de que os sindicatos. Todas têm os mes-
atuação em um RAMO específico mos direitos e deveres, ainda que
se cruza com a delimitação de atua- cada uma tenha a sua diferença res-
ção em um TERRITÓRIO específi- peitada e valorizada. Não há hierar-
co. Um exemplo seria a organização quia entre as organizações devido a
de um Sindicato de Trabalhadores categoria ocupacional que ocupa.
da Saúde que além de organizar to- Um Sindicato Autônomo pode
dos empregados da Saúde, também construir COMISSÕES DE BASE
poderá ter atuação em hospitais ou tanto por local de trabalho quan-
bairros específicos, ou seja, territó- to por base territorial (como bair-
rios que possui maior força. Ou seja, ros ou aldeias), ou os dois. Por
uma organização sindical pode e exemplo, um sindicato de traba-
deve ter uma atuação territorial/co- lhadores informais sem um local
munitária, envolvendo os próprios fixo de trabalho pode se organi-
moradores de um bairro. zar melhor por bairros. O mesmo

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poderia acontecer com um sindi- mo de estado incide sobre a classe


cato de caminhoneiros. ali presente, ou seja, para não a dei-
Assim, as comissões de base do xar refém das políticas conservado-
sindicalismo revolucionário não se ras e socialdemocratas. Mas sem se
restringem aos locais de trabalho subordinar aos limites do sindica-
ou aos sindicatos. A organização lismo oficial, criando também suas
coletiva em uma ocupação urbana, próprias agendas que deem vazão à
uma favela, um assentamento ru- ação autônoma e combativa da base
ral ou uma aldeia podem confor- por fora das diretorias burocráticas
mar também uma comissão de base ou assembleias engessadas.
(territorial) do sindicalismo revo- Outra diferença é que o objetivo
lucionário. Um comitê ou grêmio do Sindicato Revolucionário não é
estudantil autônomo de uma escola a conquista do aparelho oficial (ga-
é um exemplo de comissão de base nhar a diretoria), mas sim dar uma
por local de estudo. outra direção de luta pela mobiliza-
As comissões de base por local ção e organização da base, para criar
de trabalho, moradia ou estudo, uma alternativa revolucionária.
podem estar vinculadas tanto a um Assim, os Sindicatos Geral e de
Sindicato Geral quanto a um Sin- Ramo podem e devem atuar sobre os
dicato de Ramo, Organização Es- sindicatos oficiais de Estado, por exem-
tudantil ou Organização Popular. plo em Plenárias, Congressos, Assem-
Além disso, é importante deixar bleias ou mesmo taticamente disputar
claro que os sindicatos estão aber- eleições sempre que estes eventos per-
tos para filiação individual de quem mitirem reunir e influir em uma base
ainda não conseguiu organizar uma significativa de trabalhadores.
comissão em sua base.
Como veremos a seguir, tanto o 2.3 – Os caminhos para a
Sindicato Geral quanto o de Ramo construção de um sindicato
não são estruturas que atuam so- autônomo
26 mente fora dos espaços sindicais
A construção do sindicalismo re-
tradicionais. Apesar das críticas, há
sindicatos que reúnem centenas ou volucionário no Brasil terá várias re-
milhares de trabalhadores e o sin- alidades e inícios bem diferentes em
dicalismo revolucionário deve atuar cada base, cidade ou região: pode co-
nestes espaços. meçar com apenas um indivíduo ini-
ciador, com pequenos coletivos novos
Porém, busca influenciar estes ou já consolidados, com oposições às
espaços apenas porque o sindicalis- diretorias de sindicatos oficiais, com
minorias em direções combativas ou Assim, o CSR pode ser um grupo
mesmo com uma expressiva parte de comunitário, estudantil ou coletivo
um sindicato oficial/majoritário ou sindical já constituídos, uma opo-
movimento popular. sição sindical, uma direção de mo-
Todas estas experiências devem vimento social, ou inclusive um ou
caminhar para a consolidação de dois trabalhadores.
sindicatos e movimentos autônomos A tarefa básica do CSR é come-
de trabalhadores, gerais ou de ramos çar a fazer agitação e propaganda
específicos, com o objetivo maior de: do sindicalismo revolucionário em 27
criar uma dualidade de poder seja sua cidade e nas bases em que os
com o sindicalismo de estado, seja membros atuam. O objetivo é jun-
com o próprio Estado e o Capital. tar mais trabalhadores e ter atuação
Ou seja, toda essa pluralidade das em, pelo menos, dois ramos (ex: es-
lutas proletárias deve se unificar no tudantil e comerciário), para a cons-
curto e médio prazo para o fortale- trução de um sindicato autônomo
cimento da mesma estrutura e estra- na cidade e efetivar a filiação à FOB.
tégia de uma Confederação Sindica- No caso de pedidos de filiação de
lista Revolucionária no longo prazo. sindicatos e movimentos já constitu-
ídos, o básico da proposta de CSR se
mantém, mas serão avaliados caso a
O Comitê Sindicalista
caso pela coordenação nacional da
Revolucionário FOB em diálogo com os interessa-
O Comitê Sindicalista Revolu- dos sobre as diferenças e tarefas a
cionário (CSR) surge quando um mais que podem envolver a consoli-
ou mais trabalhadores manifestam dação de um núcleo naquela cidade.
o interesse em construir o sindica-
Estamos convencidos que dar os
lismo revolucionário em uma cida-
primeiros passos e ter sempre a cer-
de onde ainda não exista nenhuma
teza de construir uma alternativa de
organização da FOB.
luta combativa para o povo é o fun-
O CSR é uma fase de transição damental. Envie um e-mail para a
entre a manifestação desse interes- FOB e construa um Comitê Sindica-
se e a execução de critérios e planos lista Revolucionária em sua cidade!
de trabalho para o grupo construir
uma organização de base da FOB As Oposições e Direções sindicais
em uma nova cidade/estado. O pri- combativas
meiro passo é os interessados entra-
rem em contato com a FOB. Como já foi dito, não existe um
único ponto de partida para a cons-

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trução de um sindicato autônomo. dificar e expandir suas formas de


Apesar do sindicalismo de Estado organização e ações coletivas, mas
abranger hoje uma pequena parte isso não significa renunciar a ati-
da classe trabalhadora, pode ser que vidade de “tipo oposição”. Isso não
em alguma categoria ou ramo com significa limitar-se à disputa elei-
maior tradição sindical, um grupo toral no interior de um sindicato
de trabalhadores, organizados em como em geral fazem as correntes
uma Oposição sindical ou em uma socialdemocratas. Nem se resume
Diretoria sindical, queira se filiar à a denunciar as diretorias, mas sim
FOB e construir o sindicalismo re- enfrentar o problema de como se
volucionário. tornar uma organização de massas.
Em ambos os casos (oposição ou Quando existe uma tradição sin-
diretoria sindical) o problema cen- dical burocrática em uma categoria,
tral é: como essas formas de organi- o sindicato autônomo deve assumir
zação podem avançar para se trans- a atividade de oposição como sua,
formar em verdadeiros sindicatos mas deve elevá-la a um nível su-
autônomos? O fato é que, no geral, perior: deve juntar a atividade de
tanto as oposições quanto as dire- oposição com a construção de uma
torias estão presas nas estruturas e organização sindical de novo tipo, o
dinâmicas próprias do sindicalismo sindicato autônomo, com represen-
oficial e burocrático. Por isso é pre- tatividade e enraizamento cada vez
ciso encontrar brechas para romper maior na base.
esse ciclo vicioso. Essa transformação só ocorrerá
No caso da OPOSIÇÃO SIN- com um permanente trabalho de
DICAL COMBATIVA, o caminho base e combate aos pelegos. Uma
para a construção de um sindicato oposição não pode se limitar a de-
autônomo não significa o simples e nunciar a direção e disputar elei-
imediato abandono dos espaços de ções. Ela deve se construir como
assembleias e plenárias do sindicato uma organização de base ativa.
28 oficial. Fazer isso pode não ajudar
muito, ao contrário, pode levar em
Se houver possibilidade de dis-
putar as eleições para a diretoria ou
alguns casos ao isolamento do gru- para um congresso do sindicato ofi-
po de trabalhadores e inclusive “fa- cial/majoritário, pode ser um pro-
cilitar” a vida da burocracia sindical. cesso importante de aprendizado,
Dessa forma, uma oposição sin- de propaganda e de organização. O
dical que queira se construir como importante para decidir essa tática é
um sindicato autônomo deve mo- ter um grupo coeso, disposto e com
forte afinidade de ideias, que saiba Pode-se ter uma diretoria com-
que o nosso objetivo não é simples- bativa e ideologicamente aderente
mente “ganhar as eleições” (como ao sindicalismo revolucionário na
é o caso da maioria das “oposições diretoria de um sindicato de Estado?
eleitorais” de partidos e correntes Sim. Porém, caso ela não se converta
sindicais reformistas). em um movimento de base, ao lon-
Além disso, o sindicato autônomo go do tempo essa situação imporá li-
pode influir em momentos de grande mites à própria diretoria que tende a
mobilização e conflito da base com se imobilizar nas tarefas da burocra-
cia, abandonar na prática as táticas,
29
as direções (como greves, fraudes
eleitorais, etc.) para avançar na rup- estratégias e modelos de organiza-
tura com o sindicalismo oficial. ção do sindicalismo revolucionário.

Se olharmos para a realidade da Uma diretoria de um sindicato


burocratização sindical no Brasil, o oficial pode construir o sindicalismo
sindicalismo revolucionário só dei- revolucionário, desde que enfrente
xará de ter uma característica de com plena noção os dois grandes de-
“oposição” quando a estrutura do safios: subverter a estrutura oficial,
sindicalismo oficial (onde o Estado ou no mínimo acumular politica-
injeta bilhões de reais nas burocra- mente para isso, e criar um sindica-
cias) for destruída. E ainda assim, to em que a base tenha participação
haverá localidades e ramos especí- e poder, ampliando a experiência da
ficos que ainda seremos minoria, e a ação direta e combativa.
atividade de oposição seguirá sendo Quer dizer, enfrentar os limites
importante. da sua própria constituição como
E lembre-se: um sindicato autô- diretoria a partir do poder às bases.
nomo que se oponha a uma buro- Por isso a autoavaliação deve ser
cracia sindical não deve se limitar a rigorosa, e algumas vezes a melhor
criticar, ele deve ir ao povo, organi- tática pode ser renunciar a direto-
zar lutas e campanhas autônomas a ria, sobretudo quando isso signi-
partir da base. fica formar chapas com correntes
políticas e personalidades que não
No caso de uma DIREÇÃO SIN- estejam alinhadas ao sindicalismo
DICAL COMBATIVA há duas rela- combativo e de base.
ções a se pensar:
A direção que deseja construir o
a) com a estrutura oficial do sindi- sindicalismo revolucionário terá di-
cato e ficuldades caso a sua base não esteja
b) com a base. de acordo com o Estatuto e Progra-

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c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

ma da FOB; e a resposta não é im- c) Modificar ou construir


pô-lo, nem aprová-lo formalmente. novas estruturas organizati-
Nesse caso a direção do sindica- vas que garantam o poder de ex-
to ou movimento deverá, a partir do pressão e deliberação da base, in-
trabalho de base, realizar uma mu- clusive sobre a própria diretoria, de
dança de concepção, de organização baixo para cima, no método fede-
e de táticas da entidade a partir de ralista, tal como comissões sindi-
novas experiências. Se tornar um cais de base, assembleias e plenárias
sindicato autônomo só se concreti- regionais e conselhos de delegados;
zará com uma grande determinação prestação de contas de ações políti-
e união da direção e da base do sin- cas e financeiras da diretoria sub-
dicato ou movimento. Ou não será. metidas ao controle da base; acabar
com o presidencialismo dando lu-
A direção combativa deve defen- gar para diretorias colegiadas; criar
der frente a base de forma honesta, limites para reeleição na diretoria;
conscientizadora e mobilizadora a estabelecer comandos de greve elei-
proposta de reorganização sindical. tos pela base com acesso à estrutura
Mas o programa a seguir também sindical para encaminhar ações etc;
pode ser defendido desde as oposi-
ções ou organizações de base. Isso d) Ampliar a participação e
significa: combatividade da categoria de
modo a não resumir o sindicato a
a) Romper o corporativis- mero agente de representação, mas
mo, não apenas com campanhas de com real poder de pressão e ação
apoio, mas modificando suas bases direta de massas, visando o objeti-
representativas, mobilizando e fi- vo central de: criar uma dualidade
liando terceirizados e precarizados, de poder dos trabalhadores contra o
propondo a construção de congres- Estado e o Capital na sociedade; re-
sos de unificação a outros sindicatos cusar a participação em fóruns tri-
e oposições do mesmo ramo, crian- partites (que reúnem representantes
do atos e paralisações de solidarie- da burguesia/sociedade civil, do
30 dade a outras categorias etc.; Estado/poder público e dos sindica-
b) Negar subsídios do Estado tos), pois são espaços de conciliação
ou dos patrões, principalmente o de classe travestidos de “democráti-
imposto sindical, substituindo pela cos”.
contribuição voluntária dos filia- O fundamental é que deve haver
dos e campanhas de financiamento mudanças reais, estatutárias e não so-
autônomo; criar fundos de greve e mente formais. Uma verdadeira “re-
apoio mútuo; volução por dentro e por fora” caso a
construção do sindicalismo revolu- lhadores. Por exemplo: em uma ci-
cionário seja sincera. Essas mudanças dade já existe a algum tempo um
têm que ser disputadas na base, e não Sindicato Geral, mas com o passar
por meras decisões da diretoria, mas do tempo se filiam também à FOB
sem ilusão de unanimidade. uma Organização Estudantil, um
Partindo do princípio da liber- Movimento Popular e um Sindica-
dade sindical esse processo pode se to de Comerciários, e assim essas 4
desenvolver para uma divisão entre organizações irão se unir numa Fe-
dois ou mais modelos sindicais. Uma deração Local. 31
divisão deve ser evitada, claro, mas A Federação Local se organiza
caso ela ocorra nós devemos tomar através de Assembleias e Plenárias
todas as medidas para conseguir o de delegados das organizações de
máximo de filiados ativos, englo- base. Uma Coordenação local deve
bando uma base não-corporativista ser eleita com a tarefa de direção e
do ramo, e não cair no isolamento. execução das deliberações das as-
A decisão de lideranças popula- sembleias e plenárias locais, e não
res combativas pela construção do com poderes autônomos das pró-
sindicalismo revolucionário possui prias organizações.
um grande potencial, especialmente O mais importante para a cons-
por elas muitas vezes já possuírem trução de uma Federação Local é
um reconhecimento e confiança das construir uma base forte. Os sin-
bases de suas categorias. Tanto no dicatos e organizações estudantis e
caso das Oposições quanto das Di- populares que se unem na Federa-
reções sindicais, o objetivo é a cons- ção Local devem ter vida própria,
trução de sindicatos e movimentos desenvolver lutas concretas nos seus
autônomos de trabalhadores. Essas ramos e estar bem organizados.
direções e oposições combativas
contarão com todo o apoio e acom-
2.5 – As tarefas organizativas
panhamento dos militantes e orga-
nizações da FOB.
de um Sindicato
A construção e manutenção de
um sindicato ativo é um trabalho ár-
2.4 – A Federação Local duo. E para trabalhar em coletivo, é
Com a construção de pelo me- preciso saber ouvir, ter regularidade,
nos 2 organizações de ramo sindi- ter humildade e saber se expressar.
calistas revolucionárias na mesma Como todo trabalho, exige que seus
localidade, estas podem criar uma membros tenham paciência, per-
Federação Autônoma de Traba- sistência e união. Se o sindicato for

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c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

uma iniciativa firme e forte, os resul- e detalhes da organização antes de


tados colhidos serão grandiosos. se filiar; porém deve reconhecer os
pontos centrais do programa (como
o autogoverno), como ele irá se or-
Filiação de novos membros
ganizar (o modelo federalista), seus
Um sindicato autônomo é com- direitos e deveres e a ética que ado-
posto por seus filiados. Sem eles a tamos. O trabalhador não deve se
organização é como uma concha sentir “usado” aderindo a uma or-
vazia. Os números são uma fonte ganização que persegue fins a ele
importante de poder. É por isso que não ditos ou que ele não reconhece.
a maioria das organizações tentam
Mas, sobretudo, o convencimen-
aumentar o número de filiados. A
to maior virá quando a FOB oferecer
tarefa de um sindicato autônomo
uma capacidade real de pensar e in-
para filiação de novos membros não
tervir para resolver problemas ime-
termina nunca.
diatos da sua condição de trabalho e
Porém, a filiação não pode ser vida: esse é o central para construir
feita de qualquer jeito, você preci- um movimento de massas.
sa se preparar bem. Precisa ter um
Engajar e filiar um trabalhador ou
plano bem elaborado, com conheci-
grupo de trabalhadores não é uma
mento da realidade dos trabalhado-
tarefa fácil. Grupos diferentes de
res que busca filiar. Essa preparação
trabalhadores têm problemas e ex-
é ainda mais importante se você é
periências diferentes. Eles podem ter
iniciante na organização sindical,
prioridades e expectativas diferentes.
ou quando você busca filiar traba-
lhadores de um setor ou cidade que Essas expectativas, experiências
ainda não tem atuação. e formas como um trabalhador
pode contribuir são tão importantes
O ato de filiação não deve ser um
quanto a política geral do sindicato;
fim em si mesmo ou meramente para
não deve haver um monólogo onde
ampliar números. Não basta assinar
o sindicato fala sua política e preten-
32 o nome num pedaço de papal. O ob-
jetivo do sindicalismo revolucioná-
sões e ignora a política e intenções
dos trabalhadores. Uma campanha
rio é fortalecer trabalhadores cons-
de filiação bem sucedida não pode
cientes e ativos, e para isso a prática
chegar e abordar de qualquer jeito.
da luta é a melhor escola.
Para isso, não existe uma regra, mas
Um trabalhador pode não enten- algumas orientações podem ajudar:
der de imediato toda a história da
a) Conheça a realidade
FOB, pode não decorar o programa
Identifique o grupo ou categoria campanha de filiação e organização
de trabalhadores que você deseja fi- sindical?
liar. Descubra o máximo de infor- Essas e outras perguntas podem
mações possível as condições gerais ajudar você a construir os cami-
de trabalho: tipo de trabalho, renda, nhos para a estratégia de filiação.
escolaridade, gênero, faixa etária, re- Para a FOB, a estratégia de massi-
clamações, história de conflitos etc. ficação está centrada em uma filia-
Isso ajudará a montar uma estratégia. ção aberta através e para as lutas
Mas se você não conseguir encon- reivindicativas, conquanto se tenha 33
trar todas as informações que deseja, acordo prático com o Programa,
não se preocupe. Inicie o trabalho de Organização e Código de Ética, e
base e mãos à obra. Você conhecerá a partir da pedagogia da luta os fi-
melhor a realidade na medida que fi- liados desenvolvem uma formação
zer seus contatos, conversar com os política continuada no interior da
trabalhadores e participar das lutas. Federação que permita relacionar
Boas conversas com vários trabalha- os interesses imediatos aos interes-
dores é uma fonte viva de conheci- ses revolucionários de longo prazo.
mento da sua realidade. c) Prepare táticas específicas
b) Prepare a estratégia geral A partir da realidade e da estra-
Com base nas informações que tégia geral você deve planejar ações
você possui, você precisará decidir específicas para atingir este objeti-
os objetivos e formas de desenvolver vo: as táticas.
a filiação de novos trabalhadores. Como você começará? Geral-
Algumas perguntas podem ajudar a mente a melhor forma de chegar a
guiar a construção de uma estraté- um grupo de trabalhadores desco-
gia de filiação. nhecidos é possuindo alguma pes-
Que tipo de organização é mais soa “de dentro” que lhe apresente
viável: um sindicato, cooperativa aos trabalhadores. Isso pode ajudar a
ou movimento social? Será melhor abrir portas e superar a desconfiança
aproximá-los por interesses cultu- e relutância (ou não, as vezes o seu
rais, comunitários ou trabalhistas? contato tem o “filme queimado” e
Quais são as prioridades? Você pode prejudicar os seus objetivos).
possui uma opção preferencial por Mas se você não tem essa pessoa,
aproximar as mulheres ou os tra- como você poderia fazer essa abor-
balhadores mais precarizados do dagem inicial? Uma opção seria dis-
setor? Que recursos ou apoios você tribuir um panfleto explicando sua
pode contar para a realização dessa

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c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

organização e convidando os traba- Por exemplo: se você decidir


lhadores para uma reunião. Outra fazer um panfleto para distribuir
seria organizando resolução de pe- lembre-se que você (ou outras pes-
quenos problemas. Essa abordagem soas) precisará escrever o texto,
inicial não precisa ser necessaria- diagramar, imprimir e distribuir.
mente no local de trabalho, mas nas O texto precisa ser acessível ao tipo
comunidades (em igrejas, festas po- de escolaridade da categoria. Quan-
pulares ou jogos de futebol). do você for encontrar os trabalha-
Além disso, para se encontrar dores talvez você precisará ter em
com os trabalhadores e explicar a posse outros materiais como fichas
organização você precisa pensar de filiação ou até algumas cartilhas
que local, dia e hora podem ser me- como essa para entregar aos mais
lhor: no fim de semana? Depois do interessados.
expediente? No próprio local de tra- Quando marcar as reuniões com
balho? Ou vocês teriam que encon- pessoas que pretende filiar não se
trar-se em segredo? As vezes a semi- atrase ou falte. Além disso, é im-
clandestinidade é necessária devido portante saber que as coisas nem
a perseguições políticas que patrões sempre saem conforme o planejado.
fazem a organizações sindicais, cor- Esteja preparado para reagir rápido
rendo o risco de demissões. a situações inesperadas.
Muitas organizações e novas e) Reunindo e dialogando
filiações surgem quando os traba- Muitas vezes é importante se en-
lhadores enfrentam um problema contrar fora do espaço de trabalho
grave e imediato. Atrair os traba- ou do bairro caso isso possa levar
lhadores para a organização ao li- a algum tipo de repressão de au-
dar com suas preocupações reais é toridades, criminosos, patrões ou
a melhor estratégia. Entretanto, é familiares. Nos casos em que uma
preciso tomar cuidado. Você precisa campanha e um diálogo público
pensar a forma que você vai enfren- com os trabalhadores seja possível,
34 tar o problema e como vai manter
o interesse dos trabalhadores depois
descubra os pontos de encontro ou
horários mais fáceis de conversar.
que a questão ou crise imediata ti-
ver se resolvida. Quando for se reunir pense na
sua abordagem.
d) Planeje os detalhes práticos
EM RELAÇÃO AOS ASSUN-
Preste atenção aos detalhes da TOS: Apresente aos trabalhadores
campanha de filiação. Você precisa a visão geral de sua organização (o
ser organizado para ter sucesso.
que é, qual o seu objetivo, onde atu- dicamente. Faça reuniões. Aborde
am, etc.), explique por que os traba- questões de seu interesse e ajude-os
lhadores precisam se organizar, cite a resolver seus problemas. Dê infor-
exemplos de como essa organização mações periodicamente por meio
pode funcionar na prática, convide- de panfletos, boletins informativos
-o para se filiar caso ele pareça con- ou mensagens pelo celular.
cordar, proponha uma forma como Traga os filiados formalmente
vocês poderiam continuar essa ar- para os espaços da sua organização
ticulação. (formações, assembleias, etc.) ou 35
EM RELAÇÃO A ATITUDES: crie novos espaços que inclua a par-
Você deve saber ouvir o outro, seja ticipação deles. Atraia mais filiados
respeitoso e profissional, busque ser para a sua organização tratando de
breve, claro e ir direito ao ponto, forma eficaz as questões e proble-
você não precisa falar todos os deta- mas com as quais eles realmente se
lhes no início, não dê impressão que importam.
está com pressa ou agoniado, faça
com que o trabalhador sinta que
Organizando uma Assembleia
suas preocupações são importan-
tes, relacione o problema daquele As assembleias são espaços cole-
trabalhador com outros trabalha- tivos onde todos devem ter o direi-
dores para mostrar que ele não está to de voz e voto, e nenhum tipo de
sozinho, mostre conhecimento, mas opressão deve ser admitido. Devem
não seja arrogante. ser divulgadas com antecedência
a fim de que as pessoas possam se
Por fim, O QUE NÃO DEVE-
programar para comparecerem e
MOS FAZER? Prometer aquilo que
preparar suas intervenções e pro-
não podemos cumprir, exagerar
postas. Quando não houver consen-
conquistas, ser desonesto, faltar um
so as decisões devem ser tomadas
compromisso, perder a paciência,
pelo voto (maioria simples) e a deli-
fazer observações preconceituosas,
beração deve se tornar responsabili-
ser um “sabe-tudo” e arrogante ou
dade de todos os presentes.
forçar simpatia.
Se o sindicato toma a decisão
f) Próximos passos
de convocar uma Assembleia, este
É muito importante manter o deve pensar o que quer abordar,
contato com os novos filiados. Não qual a importância, o que irá pro-
adianta nada convencê-los a entrar por ou consultar aos filiados e como
para sua organização e depois não fará este trabalho. Uma Assembleia
os procurar mais. Visite-os perio- tem que ser representativa. E para

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isso deve contar com um forte tra- garantir que todos consigam falar,
balho de divulgação e convenci- que não tenha nenhuma “estrela”
mento. Não podemos reclamar da ou “sabe-tudo” querendo falar sozi-
falta de participação dos filiados se nho e atropelando a fala dos outros,
não tivermos a paciência de mobili- falando fora de ordem.
zar, escutar e convencer. Assim como evitar que só uns
A assembleia deve ser dinâmica poucos falem, temos que nos esfor-
e não deve se prolongar demais. Ela çar para estimular com que vários
deve iniciar definindo com clareza: filiados se inscrevam na assembleia
a) quem fará a relatoria, anotando e deixem suas opiniões e propostas
as propostas e encaminhamentos; sobre as pautas.

b) quem fará a inscrição de quem Para que a assembleia seja demo-


deseja falar e contagem do tempo crática, é necessário que a pauta seja
das falas; aprovada por todos os participantes
no início da assembleia. Além disso,
c) se necessário, quem fará a con- alguns assuntos que sejam mais po-
dução política (as vezes essa função lêmicos ou estratégicos não podem
pode ser executada pelos dois res- ser simplesmente incluídos no meio
ponsáveis acima). As três funções ou no início da assembleia.
acima formam a “mesa” que coor-
denará a Assembleia; Alguns assuntos, como mudanças
no estatuto, exigem assembleias ou
d) qual a pauta e sua ordem priori- plenárias específicas para isso, anun-
tária; ciadas com antecedência. Assuntos
e) qual o teto (limite de horário) da estratégicos merecem a apresenta-
Assembleia ção de uma reflexão mais profunda,
das suas razões e o detalhamento de
Quando houver um número onde se quer chegar e o porquê, e não
muito grande de pessoas é ainda simplesmente deliberadas de forma
mais necessário que a assembleia apressada e improvisada.
36 tenha um limite de duração onde
Os participantes da assembleia
todos se esforcem para segui-lo.
devem eleger um mesário, que fará
É importante também que fa- a inscrição de falas e contagem de
çam inscrições das pessoas que tempo e um relator, uma pessoa que
desejam falar e contar o tempo das anotará as propostas e organiza-
falas de cada um (geralmente em 3 rá as deliberações ao final de cada
minutos, variando de acordo a ne- pauta da Assembleia, observando
cessidade). Isso é importante para se existem acordos, divergências ou
realizando votações. Um coorde- te entender e levar em consideração
nador também pode ser eleito para o momento de debater e decidir por
auxiliar a relatoria na condução das um Estatuto. Uma vez deliberado,
deliberações, sobretudo quando há ele deve ser seguido. Se você preci-
propostas divergentes. sar de ajuda entre em contato com
Essas funções de coordenar a militantes ou organizações da FOB,
Assembleia podem ser feitas por ou também pode utilizar como base
membros da diretoria do Sindicato alguns estatutos disponíveis no site
ou, se for a vontade dos presentes, da FOB (lutafob.org). 37
por qualquer filiado. No final da as- Por outro lado, dentro da con-
sembleia (ou ao final de cada pauta) cepção sindicalista revolucionária,
as deliberações devem ser lidas a o Estatuto deve estar subordinado
todos para que não tenha confusões à luta e não o contrário. O Estatu-
e desentendimentos futuros. A Co- to não deve ser um “amontoado” de
ordenação do Sindicato deverá zelar regras que paralisem a ação coleti-
por guardar as atas e garantir a exe- va, ao contrário, ele deve servir para
cução das deliberações. organizar e impulsionar essa ação.
Estes são aspectos importantes Portanto, mais do que um Es-
seja para a assembleia de um Sin- tatuto “perfeito” (que não existe)
dicato, de uma comissão de base o que fará um sindicato ativo será
ou uma assembleia de delegados de a determinação dos trabalhadores
base. Quando a assembleia é de de- em agir e “botar a mão na massa”.
legações que levam as posições de Sempre que um Estatuto esteja “ca-
bases, é necessário que essas bases duco”, “velho”, ele pode e deve ser
tenham tempo prévio para amadu- atualizado nas devidas instâncias
recer o debate, receber as propostas para atender as novas demandas de
e pauta antecipadamente. Além dis- organização e mobilização popu-
so, as propostas de organização po- lar. Como o Estatuto é fruto de um
dem ser usadas ou adaptadas para acordo coletivo, a avaliação de sua
diversos tipos de reuniões ou gru- mudança deve ser coletiva e apre-
pos de trabalho. sentadas claramente, e não atrope-
lada unilateralmente.
O Estatuto
Um Estatuto é um acordo co- Comunicação interna
mum entre os trabalhadores sobre É essencial em todas as etapas
os princípios, direitos e deveres den- e esferas da luta, especialmente em
tro do sindicato. É muito importan- uma organização não-hierárqui-

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ca. Ela muitas vezes é resumida à atentos diariamente (ou inclusive


propaganda, mas a capacidade de minuto a minuto) para resolução de
se comunicar é mais ampla. Tem problemas sérios. Criar grupos vir-
a ver com aprender a ouvir e a fa- tuais para a comunicação entre os fi-
lar com os outros. A capacidade de liados, da coordenação sindical e das
comunicação dos membros de um comissões de base é uma boa opção.
sindicato é decisiva em momentos
de assembleia, de divisão de tarefas,
Defesa Jurídica
na filiação de novos membros, ou na
articulação de ações e campanhas. É fundamental que um sindicato
autônomo que pretende se envolver
A comunicação é um aprendi-
em conflitos com os governos, pa-
zado coletivo e permanente. Cada
trões e demais autoridades, conheça
novo indivíduo, sindicato ou movi-
as leis e o funcionamento da justiça
mento filiado à FOB é um recomeço
burguesa.
e novo desafio nessa tarefa. E por ser
tão importante que devemos buscar A pouco atenção que muitos
sempre a sua democratização, de- movimentos autônomos têm dado
senvolvendo métodos de comuni- a ação jurídica só tem nos deixado
cação solidária entre os filiados e mais vulneráveis a repressão e a cri-
com o povo em geral, que já estão minalização. Em muitos casos os
tão massacrados por um cotidiano trabalhadores revolucionários aca-
de opressões, injustiças e violências. bam dependendo de advogados du-
vidosos e vinculados a organizações
A capacitação técnica para o uso
socialdemocratas e conservadoras.
de comunicação virtual e telefôni-
Isso tem que acabar.
ca segura e descomplicada deve vir
acompanhada de formação sobre Para um sindicato autônomo
a importância dessa comunicação reconhecer a importância da nossa
virtual nos dias atuais. Isso está re- defesa jurídica não significa defen-
lacionado a problemas reais como der a Justiça burguesa do Estado.
38 não deixar camaradas esperando
respostas, não ser desleixado, não
Significa reconhecer que ela existe
e que devemos nos defender dela.
prejudicar a articulação e o bom É um terreno da guerra de classes,
andamento das atividades. do qual estamos em desvantagem,
mas que não temos a escolha de
Isso é válido para todos, mas
“não participar”. Por isso a defesa
principalmente para aqueles que em
jurídica revolucionária não cai no
instâncias eleitas no sindicato e que
legalismo (ilusão de que as leis estão
em alguns contextos precisam estar
do lado do povo).
O sindicato autônomo precisa Para isso, cada sindicato deve
tomar duas medidas básicas para possuir um ou mais membros da
defender juridicamente os trabalha- coordenação sindical responsável
dores: pela comissão de finanças e estrutu-
1) Socializar conhecimentos jurí- ra. Essa comissão deverá recolher e
dicos importantes aos filiados e li- organizar a contribuição financeira
deranças, especialmente no âmbito de todos os filiados. Apenas os filia-
criminal e trabalhista. Isso pode dos que solicitem estão isentos de
ocorrer com a divulgação de carti- contribuir financeiramente. Para
construir uma autonomia organiza-
39
lhas e vídeos, oficinas, assessorias e
formações. tiva real, e nos livrar das garras do
Estado e das burocracias, será pre-
2) Fazer contato direto com advoga- ciso também nos livrar do vírus da
dos populares que se comprometam desorganização e do desleixo com
em apoiar a luta dos trabalhadores e as nossas próprias finanças.
o sindicato autônomo, inclusive fi-
liando-os. Apoiar que membros do Além da contribuição mensal
sindicato façam cursos de direito dos filiados, o sindicato também
também é importante. Contratar ad- pode realizar venda de camisas, ri-
vogados particulares com vaquinha fas, campanhas externas de arreca-
entre os trabalhadores ou com fundo dação, venda de livros, e inclusive
do sindicato pode ser uma opção di- pode impulsionar uma atividade
fícil, mas necessária em um conflito. cooperativa-mutualista que gere
renda para militantes e também
para a organização.
Financiamento e estrutura
O caixa do sindicato deve cum-
O sindicato autônomo deve pos- prir a função de dar suporte à luta,
suir independência financeira e ma- como: impressão de panfletos, jor-
terial frente a órgãos e instituições nais, confecção de bandeiras, ca-
empresariais e estatais. Assim, o misas, gastos com eventos de for-
sindicato contará apenas com suas mação, locação de transporte para
próprias forças e, quando neces- protestos, viagens, ajuda às lutas po-
sário, do apoio de outras organi- pulares de outros estados etc. Além
zações do povo, para arrecadação disso, o sindicato autônomo deve
de dinheiro e estruturas materiais, separar uma parte das cotizações
entendendo que a independência fi- em um fundo de greve ou apoio
nanceira é, ao mesmo tempo, resul- mútuo, assim como uma parte para
tado e condição de nossa indepen- a federação nacional.
dência política.

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Com o crescimento do sindica- O sindicalismo revolucionário,


lismo revolucionário surgem outras ao contrário, ainda que não resolva
necessidades, tais como: espaço pró- de imediato todas as questões en-
prio para assembleias e plenárias, volvendo a segurança, deve tomar
equipamentos de som próprio para essa preocupação em toda sua pro-
campanhas e protestos, equipamen- fundidade.
tos gráficos para imprimir panfletos Nós vivemos uma guerra de clas-
e jornais, megafones etc. ses, as vezes aberta e outras, velada.
É importante que o sindicato Seja na vida pessoal (redes sociais,
avalie as prioridades, busque solu- moradia, celulares, bairros, locais
ções imediatas e as vezes parciais de trabalho, etc.), em reuniões e as-
para essas necessidades (como, por sembleias ou ações de resistência,
exemplo, se reunir em escolas ou es- o sindicalismo revolucionário deve
paços públicos), mas tenha sempre pensar e agir para garantir a segu-
como objetivo alcançar uma estru- rança de seus membros e do povo
tura própria e autônoma. como um todo.

Segurança Formação Sindical


A falta de uma política de segu- As atividades de formação pre-
rança no movimento de massas no cisam ser permanentes. Ninguém
Brasil está diretamente relacionada nasce um militante formado e nun-
a falta de uma estratégia de poder ca se chega a um estágio acabado, há
popular, alternativo e crítico ao po- sempre o que aprender.
der do Estado. Muitas correntes re- Assim, não devemos exigir que
formistas desprezam e consideram todos filiados tenham o mesmo ni-
desnecessárias regras de segurança velamento político desde o início,
acreditando piamente que vivem para sua filiação; claro, aqueles que
uma democracia. iniciarão um comitê sindicalista re-
40 O debate sobre segurança foi re-
sumido pela esquerda eleitoreira à
volucionário da FOB em determi-
nada cidade devem ter um domínio
democratização ou pacificação da e clareza maior do programa, da or-
polícia, junto à ilusão de um “Esta- ganização e da ética militante para
do democrático de direito”. Por isso, guiar o trabalho de expansão.
as burocracias sindicais têm a práti- Por isso um Sindicato Revolu-
ca de colaborar e elogiar a ação da cionário deve prever e aplicar for-
polícia em manifestações e greves. mações políticas continuadas, para
que, após filiado, os membros pos- universitários (ainda que membros
sam se formar no interior do Sindi- do sindicato participem de grupos
cato e pelas experiências de luta. O acadêmicos e de lá tragam contri-
compartilhamento de saberes é ain- buições). Devemos ter a clareza que
da mais importante numa organi- o saber popular e revolucionário é
zação horizontal e federalista, pois muito maior do que diplomas e dis-
o poder e as decisões vêm da base e cursos com palavras difíceis e dis-
não de líderes iluminados. tantes da vida e dos problemas do
No sindicato revolucionário a povo. 41
formação é pensada de acordo com
as demandas da luta e da organiza- 2.6 – Seção central e seção de
ção popular: técnicas de propagan- ofício: a relação entre direção
da; direitos trabalhistas; organiza- e base
ção por local de trabalho; análise
de conjuntura; história e memória Uma ideia que vem desde o
revolucionária; violência contra as surgimento do sindicalismo revo-
mulheres; repressão policial; e por lucionário no século XIX na AIT
aí vai. A formação sindical é uma (Associação Internacional dos Tra-
importante ferramenta para incluir balhadores) é sobre a relação entre
todos os filiados em suas diversida- as “seções centrais” e “seções de ofí-
des e dificuldades, nivelando os sa- cio” de um sindicato.
beres e práticas. A SEÇÃO CENTRAL é, basica-
Cartilhas como essa, e outras mente, a coordenação ou diretoria
que possam surgir, são uma ferra- de um sindicato ou de uma seção de
menta importante para formações, ramo. Cabe a ela funções de maior
mas possuem limites. Outras ferra- coesão política, clareza dos objeti-
mentas podem ser vídeos, palestras, vos e métodos de trabalho da Fe-
rodas de conversa, músicas, jogos deração, iniciativa e dinamicidade
e dinâmicas de grupo, teatro, ofi- para envolver e agitar o movimento,
cinas e outras. É interessante tam- harmonizando suas tarefas; trata-
bém valorizar qualidades pessoais -se de uma minoria ativa; a seção
de militantes ou apoiadores em de- central deve ser legitimada, eleita e
terminados assuntos/técnicas para estar sob controle da base, prestan-
construir uma formação sindical. do contas de suas ações com trans-
parência e garantindo a aplicação
Portanto, a formação sindical daquilo deliberado nas Assembleias
deve se diferenciar das linguagens, e Plenárias locais e nos pactos na-
preocupações e estilos acadêmicos e cionais.

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c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

A SEÇÃO DE OFÍCIO é a organi- dos e desorganizados. As ações da


zação de base nos locais de trabalho, diretoria resumem-se a atividades
moradia ou estudo. Cabe a ela fun- contratadas, como serviços de ad-
ções também vitais para irradiar a vogados, atividades de lazer, planos
luta do Sindicato no cotidiano da so- de saúde etc. Nesse caso o que exis-
ciedade, travando as lutas práticas, a te é uma organização autoritária,
agitação e propaganda, mobilizando centralizadora e que apenas oferece
e atraindo novas pessoas; ela é uma serviços. A base não tem nenhum
instância que permite a participa- poder, perde os instintos de inicia-
ção mais aberta para novas filiações, tiva, pois está desorganizada. Toda
massificando o movimento. decisão e orientação é imposta pela
Porém a seção de ofício não é “seção central”.
submissa ou que só realiza o traba- Como as burocracias sindicais
lho manual separado do intelectu- possuem um poder e recursos que
al. Ela é o elo fundamental entre os foi dado a elas pelo Estado, elas têm
dois. Ela também discute e mobiliza medo da auto-organização da base
os filiados para as decisões de pla- e agem para reprimi-la, muitas ve-
nejamento e estratégia nas Assem- zes em conluio com patrões e go-
bleias e Plenárias do Sindicato e ins- vernos. Quando as bases querem se
tâncias nacionais da FOB. organizar e lutar, mas a direção do
O sindicalismo revolucionário sindicato não, acontece o que cha-
sempre defendeu uma relação de mamos de CONFLITO DIREÇÃO-
baixo para cima (federalista) entre -BASE. No sindicalismo de Estado
as bases organizadas nas “seções esse conflito está sempre presente e
de ofício” e a sua unificação através é uma consequência estrutural des-
das “seções centrais”. Ambas são se modelo sindical.
importantes. Se só existem seções Já no sindicalismo revolucio-
de ofício a situação é de dispersão nário a relação entre coordenação
e fragmentação das lutas, se só exis- sindical e filiados deve ser comple-
42 tem seções centrais a situação tende
para a burocracia e o elitismo.
tamente diferente. Todo o poder
do sindicato autônomo vem de sua
Hoje a maioria dos sindicatos base organizada nas “seções de ofí-
oficiais/majoritários não possuem cio”, ou o que chamaremos aqui de
organização de base, ou seja, não comissões de base.
possuem seções de ofício. Só exis- A “seção central”, ou coordena-
tem as direções dos sindicatos e os ção sindical, serve para articular,
milhares de filiados seguem isola- propor e executar as decisões e a
luta unitária das bases, não para de- Não existe uma “receita de bolo”
cidir em seu nome. para construir uma comissão sindi-
Dentro do sindicato autônomo cal de base. Os passos a seguir de-
tanto as seções centrais como de vem ser avaliados e adaptados com
ofício têm autonomia para agir e a situação particular de cada loca-
contribuir com a causa comum e a lidade. Quando não existir organi-
luta. E pessoas que estão momenta- zação sindical em seu local de tra-
neamente na seção central possuem balho, um trabalho mais sólido que
o mesmo poder de deliberação de parta “do zero” até a construção de
uma comissão de base pode durar
43
quem está na seção de ofício, ga-
rantido pela democracia de base nas alguns meses. É preciso ter paciên-
Assembleias, como a liberdade de cia e não atropelar o processo, cada
propor e encaminhar ações. momento é muito importante.

Assim, o sindicato autônomo Como dito anteriormente, a co-


não tem nenhum poder dado pelo missão de base pode estar vincula-
Estado para mandar ou negociar da ao sindicato geral ou de ramo,
em nome dos trabalhadores. Ele só ou inclusive com o trabalho inicial
tem força se a base for forte, e para a de uma oposição. É da comissão
base ser forte ela precisa estar orga- de base que vem a força do sindi-
nizada nas comissões e assembleias cato autônomo e é ela que mate-
de base, além de ter uma coordena- rializa a expressão “de baixo para
ção sindical atuante e estruturada. cima”. Sem essa organização o sin-
dicato pode acabar se tornando um
O poder do sindicalismo revolu- “amontoado de indivíduos” que se
cionário é proporcional ao poder do reúnem no fim de semana, ou pior,
povo organizado e em luta. É de in- uma burocracia. Uma casa só com
teresse do sindicato autônomo que telhado não se sustenta, é preciso ter
surjam mais e mais comissões de uma base e paredes fortes!
trabalhadores em seus locais de tra-
balho, moradia e estudo, bem como As assembleias de base (ou as-
que as coordenações sindicais este- sembleias populares), que criam e
jam bem preparadas para cumprir o dão vida às comissões de base, são
seu papel de direção, suporte e uni- as instâncias fundamentais para a
ficação da ação sindical autônoma. consolidação do sindicalismo revo-
lucionário e de um verdadeiro poder
do povo. Multiplicar as assembleias
2.7 – Construindo uma e comissões de base por todo o Bra-
Comissão Sindical de Base ou sil é uma tarefa nacional assumida
Círculos Autônomos pela FOB. É o início da união pela

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c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

base do povo explorado, é o primei- aqui, pode ser também lançar a


ro passo para o poder popular re- ideia da ação coletiva e organizada
volucionário e para a construção de de resistência.
uma greve geral insurrecional. Não
tem como pegar atalho.
2º passo – APROFUNDAR O
Uma comissão de base ou cír- DEBATE
culos autônomos, assim como as
Marquem uma reunião em um
“comissões de fábrica” nos anos
dia e horário em que todos possam
1970/80, podem ter dezenas ou até
debater melhor. Sintetize a pauta ou
centenas de membros, a depender
as demandas centrais de maior atra-
do tipo de trabalho. Por isso, elas
ção. Divulgue esta reunião ao máxi-
precisam ter um método correto e
mo número dos colegas de trabalho,
sério de construção. Qualquer tipo
às vezes uma pessoa que você não
de dúvida entre em contato com
conhece diretamente tem muito in-
outros sindicatos ou militantes da
teresse e pode contribuir bastante.
FOB pedindo que deem dicas e fa-
çam acompanhamento presencial. Mas não seja inocente, tome cui-
dado com chefes e supervisores que
podem tentar impedir a reunião.
1º passo – LANÇAR A IDEIA Busque usar métodos que mante-
Inicie conversando com o máxi- nham a descrição e o máximo de
mo de colegas possível do seu local anonimato possível. Esse momento
de trabalho, independente da pro- inicial é decisivo, quando os traba-
fissão ou do sindicato oficial, sobre lhadores se unirem será mais difícil
a ideia de construir uma comissão os chefes fazerem alguma coisa con-
sindical de base, se possível já dis- tra.
tribuindo para eles esta cartilha (in-
No final da reunião decidam
teira ou apenas essa parte sobre as
uma constância para as reuniões,
comissões de base).
por exemplo: quinzenal ou mensal.
44 Nos momentos de pequenos
conflitos e descontentamentos ge-
Nestas reuniões, o foco deve ser os
problemas reais e cotidianos dos
rais (por exemplo atraso salarial, trabalhadores e formas de resolvê-
não cumprimento de acordos pelo -los, ou seja, tem que apontar saí-
patrão ou gestor, condições insa- das. Além disso, você pode propor
lubres de trabalho etc.), as ideias que esta cartilha seja lida e debatida
de organização e ação encontram em uma reunião mais longa ou que
muita aceitação, então aproveite as cada capítulo seja debatido numa
situações de conflito. Lançar a ideia, reunião.
Estas reuniões devem formar 4º passo – PROCURAR APOIO
uma Comissão dentro do local de
Procurem apoio de outros traba-
trabalho ou entre vários locais de
lhadores e da comunidade. O apoio
trabalho do mesmo bairro, que
pode ser ajudar a divulgar a propos-
pode ser chamada de Comissão Sin-
ta de vocês, conseguir um espaço
dical de Base, Círculo Autônomo ou
para as reuniões, realizar passagem
outro nome que os trabalhadores
em locais onde os trabalhadores
acharem melhor (círculo sindical,
daquele local não possam falar por
comitê de mobilização, etc.).
ameaças de demissão, etc. 45
Mas sempre lembre que os traba-
3º passo – IR AOS lhadores têm sua autonomia: vocês
TRABALHADORES devem contar com suas próprias
Nas reuniões, pensem nos pro- forças e ninguém de fora deve atra-
blemas que afetam muitas pessoas palhar a organização de vocês.
de seu trabalho e sua comunidade, Se houver o impedimento por
e decidam ações simples para de- parte da direção da empresa ou de
nunciar estes problemas e propor terceiros, existem algumas formas
melhorias. de agir:
Por exemplo: uma campanha a) tentar resolver diretamente com
com cartazes feitos a canetão e a empresa, exigindo e explicando
cartolina ou fotocópias de uma fo- que o trabalhador tem o direito de
lha A4 com os dizeres “Assim não se organizar;
dá, sem vale-alimentação não tem b) buscar apoio de advogados con-
como trabalhar” ou outra reivin- tra qualquer repressão;
dicação. Este é um começo feito de
baixo para cima, um trabalho de c) criar formas de pressão coletiva
formiguinha, e serve para começar que exponha a perseguição injusta e
a mobilizar a opinião dos trabalha- ilegal da empresa, como abaixo-as-
dores para a necessidade de lutar e sinados, divulgação pública, protes-
se organizar. to, paralisação;

Criem uma forma de contato com d) organizem-se de modo a garan-


o qual os trabalhadores de todos os tir o anonimato, agindo sem serem
turnos possam entrar em contato vistos, produzindo um movimento
com vocês. Pode ser uma página no nas entranhas da falta de liberdade
facebook, um grupo no whatsapp, de reunião e expressão, e isso pode
um e-mail. Divulguem este contato até ser uma pauta. Entre em contato
para atrair mais interessados. com os militantes da FOB para aju-

p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

da na solidariedade. Os trabalha- número de trabalhadores, é hora de


dores têm o direito de se organizar convocar a Assembleia de fundação
coletivamente. da comissão sindical de base.
As sugestões a seguir podem ser Uma Assembleia no local de tra-
aplicadas seja por um Sindicato Au- balho é o espaço mais importante
tônomo ou de Ramo, por um Comi- da comissão de base. Trabalhem
tês Sindicalista Revolucionário, por para mobilizar o máximo de tra-
uma oposição ou diretoria sindical: balhadores interessados. Façam a
o objetivo é multiplicar a base. O divulgação da data, hora e pauta.
objetivo é criar e fundir todas as Colem cartazes. As Assembleias
Comissões ou Círculos com a FOB, são as instâncias máximas, lá todo
mas isso pode ter tempos diferentes o trabalhador do local de trabalho
para cada experiência. Esses tempos tem direito a voz e a voto.
devem ser percebidos e respeitados.
7º passo – FUNDAÇÃO DA
5º passo – CONSOLIDAR A IDEIA COMISSÃO DE BASE EM
DA COMISSÃO DE BASE ASSEMBLEIA
Mantenham as reuniões regula- Na Assembleia discutam pelo
res da Comissão em um espaço den- menos três pautas:
tro ou fora do trabalho, convidando
mais e mais colegas para se unirem. a) o que é e para que precisamos de
uma comissão sindical de base,
Façam passagens em outros lo-
cais de trabalho, em outros turnos, b) as propostas de campanhas e
preparem um panfleto e cartazes ações de resistência, e
simples para distribuir aos trabalha- c) a formação de uma coordenação
dores, divulgando a ideia e a neces- da Comissão de Base composta de
sidade da comissão sindical de base duas ou três pessoas.
e de um sindicalismo autônomo, fa- Para que a Assembleia seja de-
lando dos “por quês”, “para quês” da mocrática, escolham um grupo para
46 organização dos trabalhadores. coordená-la, que farão uma lista dos
que desejam falar e anotando todas
6 º passo – CONVOQUE UMA as propostas para que todos possam
ASSEMBLEIA decidir ao final da assembleia.
Após terem feito as discussões É fundamental que os trabalha-
necessárias e a propaganda da ini- dores sejam estimulados a falar,
ciativa pró-Comissão de Base ter deve ser um espaço democrático e
alcançado e convencido o máximo inclusivo, e não uma palestra. Todas
as deliberações da Assembleia de- sível de comissões de base para se
vem ser lidas ao final e registradas fortalecer, mas o caminho inverso
em Ata para que não se percam. também é correto: várias comissões
de base são o embrião natural, a se-
8º passo – A COORDENAÇÃO DA mentinha, de um sindicalismo au-
COMISSÃO DE BASE tônomo e revolucionário.
Os representantes ou delegados Como dissemos acima, as Co-
da comissão de base que formarão missões de Base ou Círculos Autô-
a coordenação devem ser pessoas nomos podem variar de local para 47
com reconhecimento dos colegas de local, com tempos diferentes de
trabalho. Não precisam ser “bons aproximação com a FOB. Visuali-
faladores”, a sua missão principal é zamos três situações:
manter o grupo unido, ativo e mo- a) pode haver forte acordo e identi-
bilizado. dade dos membros da Comissão ou
Além disso a coordenação deve Círculo com a proposta da FOB, per-
buscar incluir a pluralidade de gê- mitindo uma filiação direta dos tra-
nero (estimulando a participação balhadores ou da Comissão no Sin-
feminina), étnica (estimulando a dicato ou Federação da FOB local;
presença de não-brancos), ocupa- b) em outas situações, este acordo
cional (estimulando a participação ou identidade podem demorar mais
de terceirizados ou demais catego- tempo, buscando uma aproximação
rias mais marginalizadas) e tam- mais gradual, como com convites
bém incluir os vários turnos de tra- para conhecer outras iniciativas da
balho (diurno e noturno). FOB, para participar de formações,
assembleias e blocos da FOB em
9º passo – AMPLIANDO AS manifestações etc;
COMISSÕES DE BASE
c) mas pode haver situações de des-
Quando existirem várias co- confiança ou divergência da propos-
missões de base e assembleias nos ta da FOB, cabendo aos militantes
locais de trabalho que se apoiem e identificar e intervir adequadamen-
se comuniquem entre si pode ser te, ou seja, apresentar abertamente
uma boa hora para organizar uma “quem somos e pelo que lutamos”,
assembleia geral para fundação de defender a autonomia da própria
um Sindicato de Ramo. Comissão, atrair a parte interessada
Assim como falamos, que um e não reforçar caminhos que se apro-
sindicato autônomo tem a missão ximem das tendências social-demo-
de construir o maior número pos- crata, liberal ou conservadora.

p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
Organograma simplif icado da FOB
ENOPES
a u t ô n o m o

Encontro Nacional das Organizações Populares, Estudantis e Sindicais Revolucionárias:


instância máxima da FOB, reúne todos os filiados com direito a voz e voto
Plenária Nacional Leia o Estatuto
Instância nacional intermediária. Reúne um delegado a cada Geral da FOB
s i n d i c a t o

fração de 10 filiados na base


Coordenação Nacional
Órgão colegiado de direção e execução. Reúne um
u m

delegado imperatívo e revogável por localidade


c o n s t r u i r

Comitê Sindicalista Sindicato Geral Autônomo Federação Local


Revolucionário Organiza vários ramos, tem o mínimo de
Organiza duas ou mais das organizações de base:
Grupos em etapa de filiação em local sem 10 filiados, mobilização em pelo menos 2
sindicatos de ramo, o sindicato geral autônomo,
c o m o

representação da FOB e tem objetivo de ramos diferentes e é seu objetivo criar a


organização estudantil e organização popular
criar o Sindicato Geral Autônomo Federação Local
Seção Seção Seções de Sindicato Org. Org. Sindicatos
Estudantil Popular Ramos + Geral Aut. Estudantil Popular de Ramos +
Círculo Autônomo
Grupos de Ramo construídos pelas Cada Seção tem o mínimo de 3 militantes Cada Organização ou Sindicato tem o mínimo de
organizações da FOB e/ou em etapa e pode se organizar em Subseções. Pode 10 filiados e pode se organizar em Subnúcleos.
de filiação nas localidades com ou sem haver uma Seção de Ramo para cada ramo Pode haver um Sindicato de Ramo para cada ramo
representação da FOB definido no Estatuto Geral (Artigo 12) definido no Estatuto Geral (Artigo 12)

48
3
Parte

As tarefas
e as formas
de resistência
A
s tarefas organizativas contribuir para que elas se tornem
estão diretamente re- cada vez mais fortes, de massas, au-
lacionadas às tarefas e tônomas e combativas. A estratégia
formas de resistência. Na maioria do sindicalismo revolucionário é
das vezes elas nem podem ser se- que as várias lutas e organizações
paradas, estando unidas por um do povo devem se unir.
CICLO DE LUTA E ORGANIZA- O militante se verá em situações
ÇÃO: uma atividade de resistência em que lutas importantes estarão
que pode levar a novas formas de sob o controle de outras tendências
organização e assim por diante. (socialdemocratas, liberais ou con-
Nessa parte da cartilha vamos servadores) e terá que ter um mé-
explicar e propor algumas formas de todo para atuar nessas lutas. Mais
resistência legítimas realizadas pelo importante ainda, e com maior res-
povo trabalhador e que podem ser ponsabilidade, serão os momentos
utilizadas pelo sindicato autônomo. em que os revolucionários estive-
rem na direção de lutas populares.
Antes disso é fundamental reco-
nhecer que o nosso povo sempre se
rebelou contra as formas de opres- 3.1 – A ascensão e o refluxo
são e desigualdade. Até mesmo os das lutas
setores mais oprimidos do povo po- Muitos movimentos ou sindica-
dem recorrer a ações de resistência, tos de trabalhadores se formam em
como dissimular o entendimento de momentos de crescente luta e mobi-
tarefas confiadas a eles, realizar tra- lização coletiva. Quando esses mo-
balhos de baixa qualidade, realizar mentos acontecem nós dizemos que
expropriações ou fugas coletivas. existe uma “ascensão” da luta.
Métodos legítimos de violência Num momento de ascenso as
popular também foram e são usados pessoas tendem a ficar mais abertas
como formas de resistência contra a para ouvir e se envolver na causa re-
opressão: incêndios de latifúndios, volucionária e na luta por direitos.
justiçamento, sabotagem e quebra Muitas vezes são momentos difí-
dos instrumentos de trabalho. ceis, de greves, conflitos, mas com
Mas não basta o militante revo- a união e a ação firme da coletivi-
lucionário participar das formas de dade as pessoas tendem a superar as
resistências que já existem. Ele deve dificuldades, elas sentem de forma
mais clara o poder do povo unido
e cada trabalhador envolvido nesse tivados a atitudes desagregadoras e
momento se sente forte junto. nocivas à organização. Por isso um
Esses momentos de ascensão refluxo não pode significar apatia e
precisam sempre ser muito bem individualismo.
aproveitados. O militante revolu- Em um momento de refluxo é
cionário precisa ter propostas para quando podemos nos dedicar mais
solucionar problemas pequeno e às atividades de propaganda, for-
grandes que surgem durante as lu- mação, organização interna, e ou-
tas. Isso não significa ter respostas tras, que mesmo sem envolver um 51
pra tudo, para isso o militante conta conflito direto, preparam e organi-
com seus camaradas e com o povo zam melhor as nossas forças para
em luta. A coletividade é sempre quando ele vier.
mais inteligente do que o indivíduo Em alguns setores, locais de tra-
isoladamente. balho ou cidades esses momentos
Mas esses momentos de ascenso de refluxo são praticamente a regra.
das lutas, por mais que sejam pro- Mas muitas vezes são nessas rea-
longados, sempre tem um fim. As lidades (onde a luta é mais difícil
lutas podem alcançar os seus objeti- e quando construir um sindicato
vos ou serem derrotadas, mas a ten- possa ser mais desafiador ou peri-
dência é que após o combate se tenha goso) que o potencial da luta pode
um momento de “calmaria” ou mes- ser tão grandioso e estratégico para
mo de uma ofensiva da burguesia, a transformação social. Afinal de
do Estado ou da repressão. É o que contas, existe um motivo pelo qual
chamamos de “refluxo” das lutas. alguns lugares são tão difíceis e ou-
Os refluxos são momentos mais tros mais fáceis organizar uma luta.
difíceis para uma proposta de sin- Devemos refletir de forma corre-
dicalismo revolucionário. A crise ta sobre esses momentos de ascenso
econômica e social se mistura com e refluxo. Buscando aproveitar to-
crises nas famílias e individuais e das os pontos positivos de situações
podem afetar a organização. Por isso favoráveis à nossa ação, mas sem
é fundamental saber navegar e en- nos acomodarmos a eles.
frentar esse momento e tirar o má- Além disso, construir métodos
ximo de proveito das oportunidades. para superar todas as dificuldades
Se não existe luta e mobilização onde a luta seja mais difícil, saber se
real, um sindicato tende cada vez adaptar às mudanças e aos territó-
mais a desmobilização e, em alguns rios, sem nunca abdicar de acredi-
casos, pode levar membros desmo- tar na luta e na causa do povo.

p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

3.2 – As escalas das lutas: a prazo os sindicatos autônomos não


grande política nos pequenos tenham expressão de massa e não
conflitos consigam convocar grandes mani-
festações nacionais e estaduais con-
Alguns ativistas tendem a re- tra um pacote neoliberal de desmon-
duzir a luta social a participar de te dos direitos trabalhistas vindo dos
grandes manifestações ou somente governos; muitas vezes o sindicalis-
realizar pequenas ações de propa- mo de estado acoberta tais pacotes.
ganda, como colar cartazes e distri-
buir panfletos. Isso faz parte da luta Mas é possível para um sindicato
e há camaradas no sindicato que revolucionário lutar contra as polí-
apenas contribuirão assim, o que ticas neoliberais na pequena escala,
é de grande valor; mas o conjunto no plano local, da empresa ou órgão
da luta sindical revolucionária não de trabalho.
pode se resumir a isso. Assim, o sindicato autônomo
Avançamos de uma luta propa- deve saber sua capacidade de mo-
gandística para a luta política quan- bilização e saber agir com poucas
do organizamos pessoas e nos colo- pessoas e localmente intervindo em
camos em movimento contínuo. A conflitos que parecem pequenos,
organização em períodos de refluxo mas por sua repetição sistemática
é pré-condição para grandes mani- na sociedade são estruturais da ex-
festações e níveis de propaganda de ploração do trabalho, como: a de-
massa. Criar uma organização que missão, o assédio moral, atraso ou
tenha constância é o fio condutor redução de salários ou descumpri-
das grandes demonstrações de luta, mento de direitos.
dos ascensos. O sindicato autônomo deve ser
Mas o que fazer quando não há capaz de responder conflitos que
grandes protestos e não temos con- estejam a sua altura de mobilização,
dições de organizá-los? É impor- sem esperar sempre por grandes
tante pensar os períodos de refluxo movimentos e passeatas para agir.
52 das lutas ou mesmo de um grande Dez, vinte ou cinquenta pessoas po-
conflito localizado que tenha poder dem causar um impacto importante
de mobilizar muito uma categoria em uma pequena franquia de uma
sem se expandir para toda socieda- grande corporação multinacional
de. Muitas vezes, um grande confli- ou em uma única escola contra uma
to pode estourar numa pequena ou política do banco mundial para a
média empresa, de 15 a 100 pessoas. educação. Pensar globalmente e
agir localmente é nosso lema.
É provável que no curto e médio
Por exemplo: a reforma traba- podemos obter estas que parecem
lhista foi aprovada sem grande re- pequenas reivindicações, mas são
sistência da classe trabalhadora e expressão de resistência contra po-
o patrão de um supermercado está líticas globais do Capital. A vitória
querendo enrolar os trabalhadores efetiva de uma pauta será a melhor
para aceitarem um acordo que não demonstração que a força da união
garante direitos; um sindicato que dos trabalhadores vale a pena, mais
organize trabalhadores do comér- pedagógico que mil palestras para
cio pode realizar ações com 5 ou 15
pessoas na porta do supermercado
convencer alguém. 53
Ou seja, o sindicato autônomo
denunciando as condições de tra- deve adaptar suas forças à escala
balho e salário aos clientes, usando do conflito. Nem só de grandes atos
panfletos, cartazes, megafone, ban- vive um sindicato.
deiras, faixas, lambes; conversando
na surdina com os empregados do Todos exemplos acima tratam-
estabelecimento no final ou entrada -se de grandes características da
do turno; se tiver condições, pode exploração capitalista aplicada à
sustentar uma campanha de boicote escala local pelos gestores e patrões.
temporário ao mercado. Temos que provar que é possível
resistir contra grandes formas de
Outro exemplo: trabalhadores de exploração em diversas situações
uma escola estão sendo assediados locais aparentemente isoladas. A
pela direção, ou estão trabalhando disseminação dessas pequenas vitó-
sem ganhar hora extra, ou um co- rias e resistências animam a moral e
lega foi demitido sem justa causa constroem os grandes movimentos
ou por razões políticas; o sindica- de contestação.
to autônomo pode reunir 7 ou 12
pessoas e fazer agitações por uma
semana na porta da escola, agitan- 3.3 – As formas de luta e
do os estudantes, seus familiares e resistência do povo
encorajando outros trabalhadores Nós entendemos que a luta de
da escola para aumentar a pressão classes é, na verdade, uma guerra de
sobre a direção e reverter o assédio, classes. A greve é uma importante
demissão ou pagar as horas extras. batalha dessa guerra, e a greve geral
Nem sempre as lutas serão ven- insurrecional é a principal arma dos
cidas. Mas elas podem servir de es- trabalhadores contra a exploração e
tímulo contra a apatia e aceitação opressão. Mas exatamente por ser
de injustiças, atraindo outros tra- uma arma muito poderosa, ela não
balhadores para nosso sindicato; ou é fácil de se construir. Por isso não

p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
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podemos ficar de braços cruzados na coerência entre eles e os objetivos


esperando ela acontecer, devemos que pretendemos alcançar. Por isso
arregaçar as mangas e seguir nos é importante saber escolher QUAL
revoltando pelos nossos direitos por método de resistência, QUANDO e
“todos os meios necessários”. COMO usá-lo a depender do con-
As lutas do povo podem ter vá- flito em questão e a correlação de
rios “alvos”. A depender do proble- forças.
ma ou da reivindicação, a luta será As vezes o sindicato autônomo
travada para pressionar a direção da envolvido em um conflito pode uti-
empresa, a justiça do trabalho ou o lizar várias formas de resistência
governo. As formas de luta também juntas. Por exemplo: uma greve de
podem variar. trabalhadores pode envolver tam-
Às vezes um abaixo assinado bém manifestações, panfletagens,
pode resolver um problema de ali- ocupações ou sabotagens. Mas essas
mentação dos funcionários, ou ser- ações também podem ser realizadas
vir para reunir aderentes e acender separadamente.
o sinal amarelo aos patrões e gesto- Não existe uma forma “melhor”
res; outras vezes teremos que fazer ou “pior”, o importante é saber ar-
um protesto para nos fazer ouvir. ticular as ações de acordo com os
As vezes teremos que organizar gre- objetivos, ganhar as causas e/ou ob-
ves e boicotes inclusive envolvendo ter saldo políticos, manter o “ânimo
trabalhadores de outros ramos ou das tropas” e desenvolver sempre a
cidades quando se tratar de um pro- experiência da ação direta do povo,
blema maior. amparada pela análise de conjuntu-
As ações escolhidas vão depen- ra e da correlação de forças.
der do objetivo que elas pretendem Na luta e na guerra precisamos
alcançar. Por isso se limitar a “no- ter paciência, equilíbrio e sagacida-
tas de repúdio” e “pressão virtual” de. Não devemos ser afoitos, “apos-
quando o objetivo é barrar uma Re- tar todas as fichas de uma vez” tipo
54 forma da Previdência apoiada pela “tudo ou nada”, nem “usar os méto-
burguesia nacional e internacional dos combativos somente em última
seria uma grande ilusão e estaria instância”; nem passivos, nem ulti-
condenada a derrota. É uma irres- matistas.
ponsabilidade apostar grande força Abaixo apresentamos alguns
nestas táticas. métodos de comunicação e luta
O problema muitas vezes não combativa possíveis.
está nos métodos de luta em si, mas
Agitação e Propaganda imagens, ou as duas. A propaganda
sindicalista revolucionária parte de
O trabalhador revolucionário
dois princípios:
tem que ser um AGITADOR, ca-
paz de jogar palavras de ordem e 1) Os problemas do povo possuem
de tomar certas iniciativas nos mo- causas que não são superficiais e,
mentos certos. Podemos definir a por isso, precisamos entendê-las
AGITAÇÃO como ação política que para poder transformá-las;
busca por meio de ideias simples
(duas ou três, por exemplo) mobili-
2) Os trabalhadores são os que so-
frem esses problemas materiais, por
55
zar um grupo de trabalhadores pela isso toda a nossa propaganda deve
obtenção de uma pauta/objetivo se dirigir a eles.
concreto.
A principal DIFERENÇA EN-
O agitador deve entender as TRE AGITAÇÃO E PROPAGAN-
reivindicações e revoltas do povo DA está no fato de que a propaganda
e conseguir criar uma mensagem é o aprofundamento e divulgação
simples e direta (papo reto!) com o do nosso programa, estratégia e
objetivo de gerar uma mobilização. princípios.
A agitação pode ocorrer através de:
Ou seja, o seu objetivo não é de-
a) panfletagem; nunciar e mobilizar por um proble-
b) barulho; ma imediato e sim entender como
os problemas imediatos estão rela-
c) incômodo;
cionados aos problemas gerais do
d) obstrução do trânsito ou a execu- sistema capitalista, as consequên-
ção de tarefas; cias de uma reforma do governo, as
e) pichação; formas de resistência dos trabalha-
dores, etc. A agitação é uma ação
f) teatro; curta e grossa, visa estimular uma
g) piquete etc. reação imediata.
Os atos do agitador normalmen- Essa cartilha, por exemplo, é um
te são atos que visam dar exemplo material de propaganda e não de
de luta. agitação. Seus trechos e propostas
poderiam ser resumidos e adaptados
O militante tem que ser um para agitação em determinados mo-
PROPAGANDISTA. A propaganda mentos da luta. Poderíamos resu-
é, em termos gerais, a formulação e mir a diferença esquematicamente
a propagação do nosso programa e como: para muitas pessoas, poucas
estratégia por meio de palavras ou

p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
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palavras (agitação); para poucas pes- Isso pode ser fortalecido com
soas, mais palavras (propaganda) ações menores como agitações de de-
Apesar disso, os dois meios (agi- núncia às injustiças, manifestações
tação e propaganda) andam jun- na sede da empresa e outras. Antes
tos: a propaganda fundamenta e da greve “estourar” deve ser refor-
aprofunda as reivindicações e lutas çado um clima de revolta e agitação.
imediatas, ajudando a dar clareza e Algumas vezes uma “onda” de greves
tornar a agitação certeira em suas e protestos em outros setores podem
curtas palavras; mas sem a agitação também estimular essa agitação.
e as lutas de massas a propaganda Quando aprovada, a greve tem
revolucionária estaria sempre res- por objetivo englobar o máximo de
trita a grupos pequenos e isolados. pessoas possíveis em suas atividades,
fazendo com que os próprios traba-
lhadores sejam o alicerce do movi-
A greve
mento e os donos da palavra final.
As greves podem ser definidas
A greve deve ser aprovada em
como métodos de luta nas quais
assembleia, eleger um comando de
um grupo de trabalhadores, atu-
greve, possuir reivindicações claras
ando coletivamente, interrompe o
e conter um calendário de ativida-
trabalho para reforçar as suas rei-
des. Devem ser realizadas assem-
vindicações econômicas, sociais ou
bleias regulares que decidam os
políticas de interesse dos trabalha-
rumos principais da greve. É muito
dores diretamente envolvidos e/ou
importante buscar apoio de advo-
de outros. Por isso a ação grevista
gados no caso da judicialização do
não deve ser reduzida aos exemplos
movimento.
limitados e fracassados do sindica-
lismo oficial e burocrático. As reivindicações escolhidas são
muito importantes, mas podem va-
O sindicalismo revolucionário
riar de acordo com várias caracte-
considera a greve uma guerra en-
rísticas do movimento (abrangência
56 tre explorados e exploradores. Por
isso ela precisa da máxima aten-
da greve, condições trabalhistas,
experiência coletiva, etc.). Elas po-
ção ao seu início, meio e fim. Não
dem ser várias ou apenas uma. As
pode ser aprovada a toque de cai-
greves podem ocorrer inclusive em
xa, sem preparo. Para iniciar uma
solidariedade a outros trabalhado-
greve forte é preciso mobilização,
res injustiçados.
união e decisão dos trabalhado-
res. É o que podemos chamar do De qualquer forma é importante
“ânimo das tropas”. que o grupo de trabalhadores esteja
convencido de que as reivindicações alcança todas as reivindicações.
são corretas e possíveis de serem Por isso, além das VITÓRIAS
alcançadas. Não devemos entrar MATERIAIS em termos de salário,
numa greve para perder ou rebaixar condições de trabalho, etc. também
as nossas reivindicações, ainda as- devemos reconhecer e aproveitar as
sim devemos estar preparados para VITÓRIAS ORGANIZATIVAS re-
lidar com derrotas parciais. lacionadas as novas filiações, novas
Devemos estar atentos às medi- comissões de base, novas lideran-
das antissindicais dos patrões, pe- ças e aprendizados. Como diria a 57
legos e governantes para derrotar o canção “unidos venceremos e a luta
movimento. Por isso, um advogado continua”, e nós precisamos saber
do sindicato autônomo deve estar manter essa continuidade e persis-
sempre a disposição para apoiar os tência, “até a vitória final”!
grevistas, uma vez que a legislação
burguesa impõe limites ao exercício
Diferentes formas de greves
da greve que o movimento não pode
ignorar. Ao longo da história das lutas da
classe trabalhadora, foram desen-
Ter um fundo de greve também
volvidas diferentes formas de greve,
é fundamental para resistir a pos-
associadas aos diferentes modelos
síveis cortes salariais e demissões.
de organização proletária e seus ob-
A solidariedade de outros sindica-
jetivos. As diferentes experiências
tos, movimentos e da comunidade
históricas permitiram o aperfei-
trabalhadora (familiares, amigos
çoamento das estratégias de greve.
e vizinhos) pode ser decisiva para
Aqui podemos falar de oito tipos de
vitória. Os piquetes e a crítica aos
greves:
fura-greves mantêm a greve coesa e
combativa. 1. Greves espontâneas
O fim de uma greve também é São aquelas deflagradas sem
importante. Muitas vezes sindica- uma preparação prévia, resultada
listas pelegos tentam acabar com de uma resposta imediata de um
uma greve de forma precipitada de- conjunto de trabalhadores e traba-
fendendo falsas vitórias ou fazendo lhadoras contra alguma injustiça
com que os trabalhadores percam cometida pelos patrões.
as esperanças e desanimem. Mas o Também são chamadas de gre-
fato é que uma hora as greves aca- ves espontâneas aquelas deflagradas
bam e, por mais bem organizadas de forma independente das direções
e fortes que comecem, nem sempre e burocracias sindicais, mas organi-

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zadas de maneira autônoma pelas Via de regra, as greves corpora-


bases dos trabalhadores e trabalha- tivas ocorrem dentro da ordem es-
doras. tabelecida pelo Estado burgues, isto
As greves espontâneas são im- é, ocorrem por ocasião das datas-
portantes, mas é necessário superar -bases em função das negociações
a falta de organização e preparação dos Acordos Coletivos de Trabalho,
para as greves, tanto para a conquis- e caso não haja acordo entre a cate-
ta das vitórias desejadas, quanto goria e os empresários, a solução é
para avançar nas próprias lutas. pelo dissídio, ou seja, é a Justiça do
Trabalho que decide. Isso quer dizer
2. Greves parciais que nas greves corporativas a ação
São aqueles que paralisam par- reivindicativa da classe trabalhado-
cialmente as atividades de trabalho ra é totalmente tutelada pelo Esta-
e, normalmente, possuem os obje- do, que define a data, os termos do
tivos de mandar um ultimato aos acordo e a decisão final se não tiver
patrões e preparar a categoria para acordo.
uma paralisação total. 4. “Greves de pijama”
As greves parciais não devem ser São greves fadadas ao fracasso.
confundidas com greves de catego- Normalmente ocorrem associadas
rias que precisam manter parte das às greves corporativas, quando uma
atividades funcionando, por exem- categoria adere ao movimento pare-
plo, é comum em greves de profis- dista, mas fica em casa (por isso a
sionais de saúde a manutenção do expressão “de pijama”), não partici-
atendimento dos casos de emergên- pa de atos de rua e nem de protestos.
cia, pois pessoas podem ter suas vi- Simplesmente fica esperando que a
das em risco de morte. burocracia do sindicato oficial faça
3. Greves corporativas as supostas negociações.
São as mais comuns, ou seja, Tendem a deseducar e desani-
a paralisação total ou parcial das mar a classe para a tática de greves
58 atividades de trabalho de uma ca- mais ofensivas, pois muitas vezes,
tegoria em luta reivindicativa, por por não exercerem poder de pressão
aumento salarial ou ampliação de fora a paralisação, não obtêm con-
direitos, ou defensiva, isto é, re- quistas, criando sentimento de que
sistindo aos ataques dos patrões e greve não resulta em nada. Muitas
governos contra retirada de direi- vezes estão associadas a uma pos-
tos ou pela aplicação de direitos já tura “grevista” das burocracias sin-
acordados. dicais, quer dizer, fazer greve pela
greve, sem preparação, sem mobi- movimento operário no século XX.
lização, apenas decretando formal- Podemos afirmar que as primeiras
mente a greve. greves no Brasil foram realizadas
5. Greves de massa por trabalhadores escravizados pelo
regime colonial.
São rupturas com as greves cor-
porativas e de pijama. As greves de No Brasil de hoje, a maioria da
massa podem começar com a para- classe trabalhadora é formada pelo
povo negro, segregado nas favelas e
lisação de uma única categoria, mas
se estendem para outras numa luta periferias, submetido ao genocídio 59
conjunta por reivindicações econô- racista do Estado burguês. Essa si-
micas que assumem um significado tuação exige a deflagração de uma
político central. greve geral negra, protagonizada
pelo povo preto, contra a política de
Nas greves de massas, a reivindi- extermínio das classes dominantes.
cação deixa de ser exclusiva de uma
categoria e se torna uma reivindi- 7. Greves de mulheres
cação de interesse do conjunto da Comuns em categorias majori-
classe trabalhadora. Isso provoca tariamente femininas. Nos últimos
uma mobilização massiva de cate- anos, tem sido convocada e reali-
gorias da cidade ou em várias regi- zada em diversos países no dia 8 de
ões do país, com muitos atos de rua, Março como “greve internacional
piquetes, ocupações e de enfrenta- de mulheres”. Ela pode ser vista de
mento com os empresários e com os dois ângulos: pelas relações no in-
governos. terior do povo, nas comunidades
6. Greves negras e famílias; e nas relações de classe,
com governos e patrões, ou seja, no
Marcaram as lutas de africanos mercado de trabalho formal.
escravizados nas Américas duran-
te o período colonial e escravista A primeira forma é uma com-
(1492-1888). O povo negro subme- pressão de que cuidar da casa tam-
tido à escravidão deflagrou diversas bém é trabalho e socialmente neces-
greves contra o trabalho em cativei- sário, mas sob condições diferentes:
ro, contra os maus tratos e torturas. naturalizado como se fosse “exclusi-
Aqui no Brasil não foi diferente, vá- vo” para mulheres, não remunerado
rias foram as greves do povo negro e invisível.
escravizado. Lavar, passar, cozinhar, fazer a
Elas antecederam as tão faladas feira, cuidar dos filhos são tarefas
greves e organizações sindicais do que sustentam a sociedade. Essa

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forma de greve dos serviços domés- A greve geral se torna insurre-


ticos é uma medida educativa en- cional quando as manifestações
tre o povo, contra a discriminação entram com confronto direto com
machista, de reconhecimento da as forças de repressão do Estado
importância do trabalho doméstico burguês, com a classe trabalhadora
e da dignidade das mulheres. Essa ocupando os centros de poder, as
ação visa também construir divi- sedes do poder municipal, estadual
sões justas das tarefas domésticas no e federal colocando a classe traba-
interior das nossas famílias e lares. lhadora em posição de ofensiva es-
Por um lado, no mercado de tra- tratégica e a burguesia assumindo
balho formal, as greves de mulheres a defensiva. Por isso, a Greve Ge-
questionam a diferença salarial, o ral Insurrecional é uma estratégia
desemprego, a falta de direitos re- revolucionária de luta, de ruptura
produtivos e trabalhistas, o assédio com o sistema capitalista.
etc. buscando reivindicar estas de-
mandas imediatas que pressionem A manifestação
os patrões.
As manifestações também pre-
8. Greve Geral Insurrecional cisam ser bem organizadas para
É uma das principais estratégias terem sucesso. Com as redes so-
da luta revolucionária da classe tra- ciais algumas pessoas acham que
balhadora. A greve geral é a parali- basta “criar um evento” e divulgar
sação por tempo indeterminado de que tudo estará resolvido. Mas não
todas as atividades de trabalho, de é bem assim. Na maioria das vezes
todas as categorias no campo e na isso só dá certo quando os temas
cidade, da produção, da circulação, estão “em alta” na mídia, nas redes
do comércio e da prestação dos ser- sociais e na base da sociedade. E nós
viços. É a prova de é a classe traba- não podemos esperar ou depender
lhadora a responsável por todas as disso para ir às ruas.
riquezas de uma nação. É uma for- Portanto, criar autonomia na
60 ma de greve de massas mais ampla ação popular passa por nos liber-
e ofensiva. tar da dependência das redes so-
A greve geral é acompanhada ciais e seus “escândalos”, mantendo
de manifestações massivas da clas- e aprofundando métodos de base
se trabalhadora, com piquetes, fe- para mobilizar o povo. Mas lem-
chamentos de estradas, atos de rua, bre-se: isso não significa não usar
ocupação de locais de trabalho e es- meios virtuais; sabendo usá-los e
tudo, de prédios e órgãos públicos. sabendo dos seus limites nós pode-
mos aproveitar ao máximo sem cair tentarão deslegitimar a revolta. Mas
em armadilhas de substituir o real se olharmos atentamente, a espon-
pelo virtual. taneidade dessas manifestações não
As manifestações devem ser de- exclui a organização ou momentos
cididas coletivamente pelo grupo informais e ágeis de discussão, deci-
de trabalhadores interessados, es- são e execução entre os trabalhado-
pecialmente em uma reunião ou as- res envolvidos.
sembleia. Os trabalhadores devem O sindicato autônomo deve
decidir os objetivos da manifesta- apoiar a justa revolta popular. A 61
ção e dividir as pessoas em várias espontaneidade não está em con-
comissões: propaganda, agitação, tradição com a auto-organização e
segurança, apoio, negociações e etc. a ação direta e sim com o controle
Em geral as manifestações pre- burocrático e eleitoreiro. Uma ma-
cisam ser convocadas com antece- nifestação espontânea pode ser o
dência (no mínimo 1 semana), pau- estopim ou uma consequência de
tas definidas, objetivos, trajetos e outras manifestações mais ou me-
rotas de fuga. A melhor coisa para o nos planejadas e estruturadas.
sucesso de uma manifestação é que Por isso, partindo do princípio
o sindicato autônomo mobilize as que nossa força está na nossa orga-
suas bases em cada local de trabalho nização coletiva, o militante revo-
e moradia, com ônibus para levar e lucionário deve atuar aprendendo e
trazer os trabalhadores do lugar da ajudando o povo a se organizar, se
manifestação. unir e agir cada vez melhor.
Devido seu caráter reativo, as
manifestações por si só são legíti- A ocupação
mas e não precisam de aprovação
Apesar das diferenças entre ocu-
do governo ou da polícia. Muitas
pações em áreas rurais e urbanas, en-
vezes inclusive as manifestações
tre ocupações realizadas pelo movi-
acontecem de forma espontânea,
mento sindical, popular e estudantil,
sem uma grande preparação ante-
uma OCUPAÇÃO envolve sempre o
rior, mas isso não significa que se-
controle, total ou parcial, permanen-
jam ilegítimas.
te ou temporário, de um grupo de
Por exemplo: um assassinato trabalhadores sobre um determina-
pela polícia na favela pode gerar do território ou instituição.
uma onda de queimas de ônibus e
A ocupação, portanto, é uma
protestos por pequenos grupos de
ação popular que questiona o poder
moradores. As classes dominantes

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dos governos e patrões sobre ter- tas devem ser atendidas ou mesmo
ritórios e instituições. Em geral as situações de reintegração de posse
ocupações devem ser antecipadas com uso de violência policial.
por assembleias que pensem na es- Existem casos de ocupações de
tratégia e tática do movimento. fábrica, por exemplo, onde o grupo
As ocupações de terras pelos de trabalhadores toma o controle
camponeses, as retomadas indíge- permanente tanto da área da em-
nas, quilombos e as ocupações de presa como da própria produção,
moradia nas cidades são expressões realizando a autogestão operária,
territoriais da luta de classes. São como quando uma fábrica declara
uma das bases fundamentais para falência e é resgatada pelos traba-
a construção do poder popular, do lhadores.
autogoverno e do socialismo. Nesse caso, o espaço deve ser
Para fazer uma ocupação é funda- pensado estrategicamente articula-
mental ter um grupo de trabalhado- do à outras iniciativas antissistêmi-
res unido e muito bem organizado. A cas para não se resumir a um pro-
segurança e a autodefesa da ocupação dutor alternativo de mercadorias
são fundamentais. O ideal é escolher sob um modelo “autogestionário”.
uma área permanente para ocupar e O mesmo poderia ocorrer com
resistir, porém haverá situações em escolas ou outras instituições. Mas
que se pode ocupar uma área para o fato é que essas ocupações não
pressionar o governo a ceder outra acontecem do “nada”. São fruto de
área ou outra reivindicação. situações graves como crises, de-
Outro tipo de ocupação é a de semprego, ou mesmo em ápices de
instituições públicas ou privadas algum movimento de greve ou re-
com um objetivo reivindicativo volta popular.
imediato. São as ocupações de mi-
nistérios, câmaras de deputados,
A cooperativa e o mutualismo
fábricas, escolas ou universidades.
62 Em geral esse tipo de ocupação é Quando dizemos MUTUALIS-
temporária, mas nem sempre. MO nos referimos as práticas ou
organizações coletivas de apoio
As ocupações temporárias de-
mútuo, sejam através da troca re-
vem contar com uma estrutura lo-
cíproca de trabalho ou por meio de
gística de alimentação, segurança,
dinheiro. Quando moradores de
comissão de negociação, propagan-
um bairro ajudam um ao outro na
da. Bem como deve pensar o mo-
construção de suas casas, no plan-
mento da desocupação, quais pau-
tio e na colheita de alimentos ou populares, atividades culturais e de
no acolhimento de uma vítima de confraternização popular, e muitas
violência doméstica ou na vaquinha outras. Um centro comunitário de
para quitar o aluguel de um desem- cultura e luta pode ser fundamen-
pregado, estão praticando o mutu- tal para impulsionar essas práticas
alismo. e organizações mutualistas.
Essas práticas existem desde as As cooperativas devem estar in-
resistências e tradições indígenas, tegradas às organizações de traba-
negras e quilombolas e também dos lhadores e não operar como força de 63
trabalhadores pobres imigrantes. mercado ou via isolada: o objetivo
Com o sindicalismo revolucionário não é ser líder do mercado. Ao mes-
elas podem alcançar um grande po- mo tempo, a experiência histórica
tencial transformador. Elas podem mostra que as cooperativas de pro-
evoluir das práticas moleculares e dução agrícola (camponesas) e as co-
cotidianas de solidariedade no seio operativas de crédito e consumo para
do povo para um sistema integrado os trabalhadores urbanos são aquelas
e alternativo de autogestão e mutu- que podem cumprir os papéis mais
alismo com uma estratégia revolu- progressistas na luta de classes.
cionária e socialista. Um sindicato autônomo da cida-
As cooperativas são a forma mu- de pode se associar com campone-
tualista principal, mas existem ou- ses para distribuir sua produção di-
tras ações mutualistas importantes, retamente aos filiados do sindicato,
tais como cursinhos e escolas popu- eliminando os grandes mercados
lares, caixas de resistência, fundos como atravessadores.
de apoio mútuo, mutirões de traba- Esta prática ajuda tanto a alimen-
lho, creches comunitárias, cozinhas tação dos trabalhadores da cidade,
ou sopões que podem comprar um produto

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de melhor qualidade por um preço A sabotagem é a ação de inter-


justo, quanto auxilia na garantia de romper a normalidade do processo
venda de produtos dos camponeses de trabalho pelo uso de materiais
que mantém sua fonte de renda. Isso e técnicas. Esteve muito associada
pode permitir uma aproximação com o surgimento do seu nome no
política através das necessidades século XIX quando operários colo-
materiais de ambos sujeitos e é uma cavam sapatos ou outros objetos nas
aliança fundamental para um pro- engrenagens das máquinas com o
cesso revolucionário. objetivo de pará-las ou quebrá-las.
Elas assim ajudam a fortalecer o Porém, a sabotagem é uma for-
poder e autonomia dos trabalhado- ma de resistência mais antiga e con-
res. Ao mesmo tempo, essas coope- tinua presente até hoje. Ela pode ser
rativas ajudam a construir a aliança feita por um ou mais indivíduos. Ela
dos trabalhadores do campo e da pode ser feita isolada ou junto com
cidade e entre setores integrados/ outras formas de resistência como
estáveis e setores do proletariado manifestações e greves.
marginal e desempregados. Um exemplo seria uma greve,
que além de paralisar o trabalho um
A sabotagem grupo atua para cortar a rede elétri-
Como afirmou o sindicalista ca das empresas ou colocar cola e
revolucionário da CGT francesa objetos nas fechaduras impedindo
Émile Pouget em 1911, “desde que ou atrasando a sua abertura. Outro
um homem teve a criminosa en- exemplo seria fechar uma ou mais
genhosidade de tirar proveito do ruas da cidade com pneus em cha-
trabalho de seu semelhante, desde mas com o objetivo de parar a cir-
esse dia, o explorado, por instinto, culação de pessoas.
procurou dar menos do que exigia A sabotagem pode ser a continui-
seu patrão”. dade da ação reivindicativa após uma
greve derrotada. Pode ser uma ope-
64 Ou, trazendo a experiência da
prática chamada Go Canny no Ca- ração de trabalho com extrema lenti-
nal da Macha, poderia sintetizar a dão. Muitos outros exemplos podem
sabotagem com a fórmula “mau sa- ser pensados e executados de acordo
lário, mau trabalho”, diminuindo a com cada realidade e objetivo.
produção quando o patrão aumenta No entanto, citando parte de um
as exigências e, quando o salário é Relatório de 1898 do Congresso da
por produtividade, diminuindo a CGT francesa: “É bom que os tra-
qualidade da produção. balhadores percebam que a sabo-
tagem, para se tornar uma arma Em segundo lugar, como afir-
poderosa, deve ser praticada com mou Émile Pouget, “os trabalha-
critério e inteligência. Muitas vezes dores que a praticam [a sabotagem]
é suficiente apenas ameaçá-la para devem ter em mente que uma coi-
obter resultados úteis.” sa é estritamente proibida a eles –
Algumas vezes a sabotagem en- qualquer coisa que possa constituir
volve ações que são criminalizadas uma desvantagem ou prejuízo para
pela justiça burguesa, mas se for os consumidores. A sabotagem deve
bem utilizada pode ganhar muito ser dirigida contra o patrão”. 65
apoio do grupo de trabalhadores Muitas vezes a sabotagem pode
e do povo em geral. Por isso, ape- ser romper o silêncio e abrir a boca,
sar de perigosa ela pode ser muito dizendo aos consumidores as prá-
importante. É preciso ter cuidado ticas do patrão para enriquecer,
e na maioria das vezes agir em se- como a falta de condições sanitárias
gredo e com pessoas de confian- de um estabelecimento, sonegação
ça. Você não deve ficar “contando fiscal, o uso de material de segunda
vantagem” sobre ações desse tipo linha em obras, o não pagamento de
para os outros. horas extra, a adulteração da data
Por fim, devemos qualificar duas de validade, a qualidade de produ-
coisas. Primeiro, para se realizar a tor vendidos, como falsificados ven-
sabotagem, os trabalhadores devem didos como originais, a sobrecarga
ter um elevado conhecimento técni- de trabalho etc.
co de seu ofício. Diferente do ataque O boicote ou protesto de
moral que possam receber, de que consumidores e eleitores
um trabalhador grevista ou sabota-
dor é um “vagabundo que não quer O boicote é quando um grupo de
e não sabe trabalhar”, ao contrá- trabalhadores decide não utilizar ou
rio, é exatamente por ser um bom consumir determinado produto ou
trabalhador, conhecer e dominar serviço de empresas específicas para
de forma exímia seu ofício que ele alcançar reivindicações.
saberá atingir com precisão pontos Em geral um boicote efetivo é
chave para interromper ou atrasar temporário, até alcançar a reivindi-
uma longa cadeia de produção: um cação esperada. O boicote pode ser
fio cortado, um cálculo errado, uma também em solidariedade a um ou-
gota de óleo, um grampo no ponto tro grupo de trabalhadores em luta.
certo e bastará para atingir o bolso Um exemplo disso foi o apelo dos
do patrão – seu ponto frágil. entregadores de aplicativos ao boi-
cote às empresas nos dias da greve.

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Um boicote pode ter também cotes precisam ser muito bem or-
uma reivindicação política contra ganizados, e o grupo dos trabalha-
políticos ou Estados. Um exemplo dores envolvidos deve estar unido e
foi durante a Guerra dos EUA con- convencido da justeza da ação.
tra o Iraque, quando organizações Quando realizar um boicote de-
no Brasil e no mundo convocaram ve-se levar em consideração alguns
ao boicote às empresas que finan- fatores: a cultura popular, a depen-
ciavam a guerra. dência cotidiana que os trabalha-
No aspecto político, o boicote dores possuem das mercadorias
eleitoral também é uma importante ou empresas boicotadas, a força de
forma de resistência contra a domi- pressão real que o boicote exercerá
nação do Estado. É uma forma de sobre os alvos do boicote de modo
ação da população para se separar da que o chamado ao boicote não seja
política burguesa e descredibilizá-la. apenas uma proclamação sem im-
Negá-la, entretanto, não é suficiente. pacto – embora possa servir inicial-
A criação de uma crise representan- mente para descredibilizar e des-
tiva pode e deve ser conduzida para moralizar determinadas empresas
gerar greves e protestos de rua, para ou governos.
obter vitórias reivindicativas e au- Por outro lado, é preciso encarar
mentar o poder popular para criar de forma correta a tática do boico-
uma nova sociedade não estatal. Não te, principalmente por muita infil-
basta negar, devemos afirmar. tração liberal e individualista nesse
No aspecto econômico, o “pro- assunto. Toda empresa, privada ou
testo de consumidores” acontece estatal, inserida no sistema e orga-
principalmente contra a inflação e nização capitalista, é uma institui-
a carestia de vida, quando os traba- ção baseada na exploração do traba-
lhadores pressionam uma ou mais lho, dominação política e destruição
empresas, ou governos, a diminuir ambiental. Portanto, o boicote na
o preço dos alimentos e objetos de concepção sindicalista revolucio-
66 consumo essencial. nária não é uma escolha individual,
moral e eterna. Ou a ação é popular
Uma coisa fundamental é saber
quem são os alvos concretos do boi- com objetivo concretos, ou servirá
cote e quais são as reivindicações apenas para a consciência e estilo de
populares. Os boicotes podem ser vida de alguns indivíduos.
em pequena escala (em bairros, es- Todas as pessoas sem exceção
colas ou locais de trabalho) ou até têm diversos estilos de vida, de
nacionais ou internacionais. Os boi- consumo e alimentares, e nenhum
as tornam melhor do que a massa Em menor escala, mas não me-
popular. Um militante revolucioná- nos importante, a autodefesa signi-
rio não é melhor nem pior que nin- fica a saúde mental e treinamento
guém, ele é um filho do povo que físico dos militantes e lutadores do
decidiu se organizar e lutar coleti- povo. No âmbito da luta sindical e
vamente. Isso é o que importa. As- estudantil a autodefesa envolve prin-
sim, falar em “boicote individual” cipalmente a capacidade (cumulati-
é tão questionável quanto falar em va) de defesa e resposta frente a ação
“greve individual”. ganguista das burocracias sindicais,
governos e patronais.
67
A autodefesa No âmbito territorial a autode-
fesa envolve principalmente a ca-
A autodefesa da classe trabalha-
pacidade (cumulativa) de defesa e
dora é uma das bases para cons-
resposta frente a repressão policial,
trução da sua autonomia. Ela não
paramilitar e do crime organizado.
pode ser uma promessa para o fu-
No âmbito das lutas antidiscrimi-
turo, ela tem que ser uma realida-
natórias a autodefesa envolve prin-
de hoje. Ainda que hoje ela esteja
cipalmente a apropriação da violên-
presente em práticas mais simples
cia revolucionária, fortalecimento
ou assumida por pequenos grupos,
da autoestima e defesa pessoal pelos
ela é um direito e um dever dos ex-
grupos LGBTs, mulheres e negros.
plorados. A autodefesa não se reduz
à realização de atos violentos, mas A autodefesa também é a preo-
envolve a capacitação técnica e ins- cupação com nossa segurança vir-
trumental para tal. tual, nossa privacidade pessoal

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e em ações de massas. A segurança O escracho e piquetes de denúncia


virtual é não deve ser negligencia-
O escracho é uma forma de re-
da tendo em vista o volume da pre-
sistência histórica que surgiu na
sença em nosso cotidiano das novas
Argentina para denunciar os tor-
tecnologias de comunicação e infor-
turadores da ditadura militar. O
mação e pela grande capacidade de
escracho é uma ação coletiva dos
espionagem por governos, empresas
trabalhadores para denunciar e ex-
e pessoas maliciosas que exploram
por publicamente autoridades ou
sua extrema vulnerabilidade. Infor-
instituições inimigas do povo. Os
mação também é poder.
escrachos devem ser adaptados aos
Nas manifestações, está em jogo contextos de cada ramo ou situação.
a liberdade de expressão ou a pri- O sindicalismo revolucionário in-
são, a integridade física ou ferimen- corpora o escracho às lutas reivindi-
tos dos manifestantes. Os grupos de cativas, econômicas e políticas dos
autodefesa atuam para garantir a trabalhadores.
autodeterminação e segurança dos
O escracho na porta de empre-
manifestantes frente a violência e
sas, órgãos do governo ou na casa
controle policial. Isso exige não só
de empresários e políticos funciona
uma vanguarda (uma linha de fren-
como um “piquete de denúncia” e
te), mas uma retaguarda que impeça
serve para fazer pressão aos opres-
a debandada e que esteja capacitada
sores. O escracho pode ser realizado
para primeiros socorros, agitadores
pelo próprio grupo de trabalhado-
para manter o moral elevado, den-
res em conflito ou em solidarieda-
tre outras necessidades básicas.
de (quando os envolvidos estiverem
A retaguarda é tão importan- sob alguma ameaça). Os entregado-
te quanto a vanguarda. Ações de res de aplicativos, por exemplo, fize-
vanguardas isoladas tendem a ser ram escrachos em prédios de pesso-
facilmente reprimidas, diferente de as que publicamente utilizaram sua
quando ocorre em meio a atos de posição de poder como policiais,
68 massa; por outro lado, há atos de
massa, sobretudo aqueles contro-
empresários e ricos para humilhar e
oprimir entregadores.
lados pela burocracia sindical, em
Outra forma de adaptar são os
que milhares de pessoas na rua não
escrachos virtuais através da cons-
realizam poder de pressão (nem
trução e difusão de páginas em re-
pressão moral) pois seguem um
des sociais para reunir e denunciar
comportamento e trajetos domes-
empresas e órgãos públicos, toman-
ticados, normalmente previamente
do devidos cuidados de anonimato.
acordados com as forças policiais.
Por isso, o escracho não pode ser na ação direta coletiva e não nas as-
confundido com métodos de lin- sinaturas de documentos e acordos
chamentos moral (reais ou virtuais) políticos, ainda que estes últimos
contra trabalhadores ou lutadores possam ser importantes em certos
que são acusados de crimes sem momentos. Não devemos buscar
provas. Esse tipo de linchamen- alianças a qualquer custo, nem agir
to moral já foi muito utilizado na sempre sozinhos por sectarismo: é
história por órgãos de repressão e necessária uma linha correta.
contra insurgência e por grupos de
direita para destruir a reputação de
Atualmente, existe um certo vá- 69
cuo de organizações nacionais que
lideranças revolucionárias. Ele é di- tenham uma linha combativa e in-
recionado contra os próprios setores dependente. Existe uma pulveri-
oprimidos e é um instrumento para zação de pequenos coletivos locais
reforçar a opressão e a exploração. com estas características. Sendo im-
Um exemplo: nos EUA a organi- portante identificar lutas concretas
zação racista KKK (Ku Klux Klan) em que as unidades sejam possíveis.
propagava que o homem negro era Mas a política de alianças não
um “estuprador em potencial” e pode sobrepor a centralidade do
com a desculpa falsa de combater trabalho de base. Muito tem se fala-
“estupradores” iniciaram uma onda do da incapacidade da tal “unidade
de linchamentos e assassinatos con- da esquerda”, enquanto poucos se
tra a comunidade negra. Por isso é dão o trabalho de ir ao povo: nos-
central diferenciar o escracho como so trabalho de base (sempre local e
arma de libertação dos trabalhado- contínuo) é a política de unir traba-
res, do linchamento moral como lhadores não iniciados nas lutas, e é
arma de dominação do sistema. isso que permite a multiplicação e
massificação de movimentos para
3.4 – As alianças com outros que as alianças sejam com base no
sindicatos e movimentos poder real de pressão e não mera-
mente na assinatura conjunta de
O sindicalismo revolucionário
documentos.
submete a escolha de alianças pon-
tuais com outros movimentos à sua As diferentes organizações sin-
estratégia geral de construção da dicalistas revolucionárias podem
unidade da classe trabalhadora. Os constituir frentes ou alianças com
militantes devem saber diferenciar organizações de tipo sindical, co-
as coisas. operativa ou associativa. Isso pode
ocorrer para participar de disputas
O principal terreno da unidade é

p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

dentro de sindicatos e associações b) que tenham um programa ou


ou para realizar lutas. ações que somem para a realiza-
O critério deve ser sempre que ção do nosso próprio programa,
estas frentes incorporem a luta ou imediato-reivindicativo e/ou his-
execução de elementos centrais do tórico-estratégico.
nosso programa e não entrem em O fundamental é que: as alian-
contradição com a função geral da
ças não sobreponham ou substitu-
FOB ou neguem os seus métodos
am o trabalho de base do Sindicato
de organização e resistência. Essas
Autônomo nem subvertam aspec-
frentes ou alianças deverão ter um
tos centrais da nossa política.
objetivo claro e determinado, um
tempo determinado e ações deter-
minadas.
Enquanto orga-
nização pluralista,
podemos estabele-
cer campanha ou
ações de cooperação
apenas com organi-
zações políticas que:
a) não estejam inte-
grando os quadros do
Poder Executivo em
nível local, regional ou
nacional;

70
Palavras finais:
siga na luta
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o

Para finalizar, fazemos um cha- experiências de organização e in-


mado alto e claro aos trabalhadores surreição de baixo para cima, desde
e trabalhadoras conscientes e lutado- a Comuna de Paris, os Quilombos
res e lutadoras autônomas e revolu- negros, as Retomadas indígenas, os
cionárias dispersos pelos rincões do Caldeirões, os Cantões curdos e os
Brasil: é necessário superar o ativis- Caracóis zapatistas: precisamos ter-
mo individual e esporádico e a res- ritorializar a autonomia.
trição dos pequenos coletivos locais. Negar o centralismo político
Até quando nossas organizações através da afirmação do centralis-
autônomas e que atuam pela ação mo organizacional federalista, que
direta irão ser apenas levadas pela combina a unidade nacional com
conjuntura, mas sem determiná-la? as autonomias locais. Como diz a
A maior forma de expressar a in- canção: “não adianta ser milhões se
dependência e combatividade é pela não somos um / ação coletiva, obje-
força política como classe trabalha- tivo comum / discurso ou revólver
dora. E esta será resultado da mul- não interessa a opção / sem união é
tiplicação de comitês e movimentos impossível a revolução!” (Discurso
de massa locais e sua união nacional ou revólver, Facção Central).
através de uma Confederação Sin- Camaradas, é tempo de colocar a
dicalista Revolucionária. Inserida, mão na massa! O fim da desigualda-
agitando e organizando o povo em de social e do autoritarismo não cai-
dezenas de ramos de trabalho, em rá dos céus. A distribuição do poder
centenas de locais de estudo e em mi- e da riqueza só pode ser atingida
lhares de comunidades pobres e tra- pela revolução e pelo socialismo.
dicionais, nos campos e nas cidades. Não será fruto de um cataclisma do
Precisamos nos transformar de próprio capitalismo. Não será uma
algumas dezenas ou centenas espa- via ininterrupta pelo Estado. E não
lhados para sermos centenas de mi- virá por uma evolução pacífica da
lhares e milhões juntos! A autonomia sociedade.
72 precisa deixar de ser ideia e contem-
plação para ser ação e real solução.
Será obra de pessoas comuns. De
carne, fibra e osso. Com seus vícios
A organização nacional não deve e virtudes, alegrias e dores. Nin-
nos assustar. Ela é uma das condi- guém fará por você. Será nós por
ções da nossa vitória. Baseado nas nós. É o povo pelo povo!

CONSTRUA O SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO!


FILIE-SE À FOB! VIVA O PODER POPULAR!

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