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6 de Junho de 2021
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livreto ou parte dele é autorizada e incentivada pela FOB,
desde que a fonte seja citada, esta licença seja mantida e a
comercialização não seja para lucro privado, apenas para
o autofinanciamento coletivo da luta anticapitalista.
Introdução 7
PARTE 1 – Quem somos nós e pelo que lutamos 9
1.1 Princípios do sindicalismo revolucionário 11
1.2 As diferenças entre as concepções sindicais 12
1.3 Pluralismo e contradições no seio do povo 15
1.4 A luta pela democracia e a liberdade sindical 17
Boa leitura!
suas condições de vida, seu bem es-
tar e seus direitos. Por isso, o mili-
1
Parte
1
Quem
somos nós e
pelo que lutamos
A
FOB é uma organização ENOPES marcou uma nova etapa
constituída em 2010, de construção do sindicalismo re-
para unir militantes volucionário no Brasil. A partir dele
do movimento popular, estudantil e a FOB decide construir federações
sindical que realizavam oposição às de sindicatos autônomos de base,
correntes reformistas, direitistas e organizações populares e estudan-
ao sindicalismo de Estado no Brasil, tis, para se contrapor às centrais
pelo menos desde 2003. Surgimos oficiais, burocratizadas e reformis-
nas lutas em defesa dos direitos do tas. O sindicalismo revolucionário,
povo, construindo um caminho au- organizado federativamente, fará o
tônomo, classista e combativo. enfrentamento do Capital e do Es-
Em novembro de 2013 realiza- tado e suas políticas contra o povo
mos o 1º ENOPES (Encontro Na- pobre e trabalhador.
cional de Oposições Populares, No 2º ENOPES, a FOB decide
Estudantis e Sindicais) que reuniu também acompanhar como obser-
cerca de 150 delegados de todas as vadora a iniciativa de reorganização
regiões do Brasil e definiu como proletária internacional da Confe-
orientação estratégica a construção deração Internacional do Trabalho
de uma Confederação Sindicalista (CIT). O Congresso de fundação da
Revolucionária no Brasil e a cons- CIT foi realizado na Alemanha e a
trução de uma Internacional de FOB esteve presente. Além disso, o
Trabalhadores (proposta que pode 2º ENOPES aprovou o apoio e soli-
ser lida nas Teses para a construção dariedade da FOB à luta zapatista
de uma Tendência Classista e Inter- no México e ao processo revolucio-
nacionalista). Além disso, definiu nário em Rojava (Curdistão).
uma série de campanhas e ações de Somos hoje algumas centenas de
resistência. O 1º ENOPES foi mar- militantes, especialmente trabalha-
cado pela experiência coletiva dos dores na área de educação, operá-
setores combativos na revolta popu- rios, comerciários, catadores, estu-
lar de junho de 2013. dantes, desempregados, autônomos,
Em outubro 2017 realizamos o membros de organizações popula-
2º ENOPES, momento que se de- res de bairro e estamos desenvol-
bateu o contexto internacional e vendo uma modesta intervenção
nacional e as estratégias de orga- nas lutas indígenas e camponesas.
nização e luta pra o período. O 2º Estamos hoje em mais de 12 cida-
des brasileiras e com processos de Ação Direta: Por ação direta
contato e construção em cidades de entendemos tanto as formas de luta
todas as regiões do país. e resistência, como os processos de
A FOB luta por Trabalho, Trans- organização, de gestão da produ-
porte, Moradia, Terra, Educação, ção e serviços. Assim, a luta deve
Saúde e Liberdade para as massas ser organizada a partir da base nos
populares do campo e da cidade. movimentos, através de ações que
Essas reivindicações vinculam di- coloquem os governantes na parede
retamente as greves, protestos e e nossas reivindicações sejam aten-
didas. Assim, ação direta vai muito
11
outras lutas do povo aos objetivos
históricos da FOB: a construção do além de uma ação violenta isolada,
Autogoverno dos Trabalhadores e significa os trabalhadores assumi-
de uma Economia Socialista e Mu- rem diretamente e coletivamente as
tualista. rédeas do seu futuro, contra todos
que impeçam a sua libertação.
Democracia Direta Federa-
1.1 – Princípios do
lista: A democracia direta federa-
sindicalismo revolucionário lista é quando o poder de decisão é
Autonomia: Entendemos que exercido diretamente pelos traba-
as organizações dos trabalhadores lhadores, de baixo para cima. As-
(sindicatos, associações de mora- sim, as decisões de um movimento
dores, grêmios estudantis, movi- ou sociedade não surgem de líderes
mentos sociais em geral) são instru- iluminados, mas da participação e
mentos de luta onde o próprio povo poder real desde as assembleias de
deve ter o poder, sem a dominação base, passando pelas instâncias lo-
de partidos, governos, empresas e cais, estaduais e nacionais. As bases
instituições religiosas. No Brasil, os não são submissas ao topo, elas têm
partidos da ordem querem contro- autonomia para agir e decidir, desde
lar a luta dos trabalhadores e canali- que não violem acordos coletivos. E
zar toda a força do movimento para as instâncias de Coordenação são
o parlamento e as eleições. Como colegiadas, imperativas e revogá-
consequência desta prática, temos veis, estando assim sobre o controle
não só uma série de derrotas em das bases. Ou seja, a direção do mo-
greves e lutas, como também a des- vimento é coletiva. Como diriam os
mobilização das bases e o abando- zapatistas, “mandar obedecendo”.
no de reivindicações imediatas e da
Mutualismo: A propriedade
luta pelo socialismo para se adaptar
privada é a base principal da desi-
aos conchavos eleitorais.
gualdade social e da exploração do
p a r t e 1 . q u e m s o m o s n ó s e p e l o q u e l u t a m o s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 1 . q u e m s o m o s n ó s e p e l o q u e l u t a m o s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 1 . q u e m s o m o s n ó s e p e l o q u e l u t a m o s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 1 . q u e m s o m o s n ó s e p e l o q u e l u t a m o s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
passa a ser mediada pelo poder le- reunir nem a metade? Ou aqueles
gal do Estado em confiscar/roubar que nem sequer precisam reunir
o dinheiro do povo. Na prática, 1% os trabalhadores em assembleia?
do rendimento anual dos trabalha- Apesar das diferenças, a mesma
dores é retirado de forma compul- ilusão de quantidade acontece no
sória. Alguns tentam “dourar a pí- movimento estudantil: Quantas
lula”, mas a verdade é que através do entidades estudantis conseguem
imposto sindical quem paga direta- reunir pelo menos a metade ou até
mente o sindicato é o Estado e não mesmo 1/3 dos seus “representa-
os seus filiados com contribuição dos”? Quem definiu, portanto, esse
voluntária. Essa relação cria uma poder de representação tão grande
contradição radical entre a direção (e ilusório) dessas entidades? É por
sindical e a base da categoria. Por isso que o Estado não deve decidir
isso o sindicalismo revolucionário quem é legítimo ou não na luta do
defende o fim do imposto sindical e povo. Quem pode e deve reconhecer
a volta da contribuição voluntária e a entidade que nos representa são os
livre. próprios trabalhadores.
b) A carta sindical: Hoje é o c) A unicidade sindical: O Es-
Estado que define e reconhece os tado determina que só pode existir
limites geográficos e sociais dos um sindicato por categoria em de-
sindicatos, e também qual sindica- terminada base territorial. No caso
to possui legitimidade ou não para de ter dois ou mais sindicatos é o
representar os trabalhadores. É o Estado que reconhece o único sin-
que chamam de carta sindical. To- dicato “legítimo”, repassando a ele
das essas decisões, no entanto, de- o imposto e a carta sindical. A uni-
veriam ser tomadas pelos próprios cidade sindical nega a liberdade e a
trabalhadores, sem pedir permissão pluralidade da classe trabalhadora,
ou intervenção a agentes externos, únicas bases na qual pode existir
muito menos ao Estado. A carta uma verdadeira UNIDADE.
sindical é a garantia da negociação
18 sem luta, da representação sem legi-
Por isso que a unicidade imposta
de cima para baixo pelo sindicalis-
timidade, é a garantia de um poder mo de Estado é o oposto da livre as-
burocrático à diretoria sindical. sociação e união dos trabalhadores.
Além disso, as entidades oficiais É por isso que para construir uma
geram uma ilusão de quantidade. grande unidade dos trabalhadores
Quantos são os sindicatos que ofi- e povos é necessário destruir a uni-
cialmente representam uma catego- cidade sindical e toda sua ideologia
ria imensa mas nunca conseguiram centralista e estatista.
2
Parte
As tarefas
e estruturas
organizativas
H
á alguns anos as tra- de sindicatos e movimentos de tra-
balhadoras e traba- balhadores. Não abordaremos, por
lhadores revolucio- exemplo, os congressos e plenárias
nários estão diante de um dilema nacionais, ainda que sejam espaços
fundamental: ou crescimento das fundamentais.
organizações leva à burocratização/ As indicações aqui buscam aju-
cooptação ou a combatividade e ho- dar em certas demandas de uma
rizontalidade levam ao isolamento e etapa inicial ou intermediária da or-
ao sectarismo dos pequenos grupos. ganização. É importante compreen-
Hoje o sindicalismo revolucio- der as etapas de construção, identi-
nário possui uma proposta pra re- ficando em que momento estamos,
solver esse dilema. O princípio fe- para onde queremos ir e quais con-
deralista, levado a frente de forma dições e ações devemos alcançar e
coerente e séria, abre possibilidades tomar para atingir nossos objetivos.
reais para um crescimento do lo-
cal ao nacional e internacional que
2.1 – O que é um sindicato?
construa grandes organizações de
massas que mantenham a demo- Muitas vezes os trabalhadores
cracia interna, a combatividade e o reclamam de problemas no bairro
poder de baixo para cima. ou no trabalho, mas por fazerem
isso sozinhos, sem organização e de
Mas isso não significa que vai
forma envergonhada, estes proble-
existir uma organização perfeita.
mas continuam.
Quando falamos em “avanços or-
ganizativos” falamos sempre na Salários baixos, assédio moral e
criação de novos problemas para sexual, falta de materiais adequados
resolver. É um trabalho constan- para o trabalho, poucas horas de
te. Existem tanto fatores internos almoço, escolas e hospitais precá-
(inexperiência, oportunismo, des- rias, transporte caro, desemprego,
motivação, etc.) quanto externos são alguns problemas comuns do
(repressão, crises, infiltração etc.), trabalhador brasileiro. Esses pro-
que podem dificultar a organização blemas afetam todos os dias a nossa
de um sindicato autônomo. liberdade e o nosso bem estar, nos
adoecem, criam brigas nas famílias
Priorizaremos aqui a organiza-
e comunidades, ameaçam a nossa
ção local. Alguns métodos e pro-
sobrevivência.
postas para ajudar na construção
Mas os trabalhadores sempre repressão sobre a livre organização
tem algo a dizer e propor para me- deve ser denunciada e combatida.
lhorar a vida. Quando estamos so- O sindicato tem a função de dis-
zinhos estas ideias podem não fazer cutir quais são os problemas do lo-
diferença, mas organizados e de for- cal de trabalho, do bairro e da classe
ma unida os trabalhadores ganham trabalhadora em geral. Os pequenos
poder. O sindicato é exatamente a conflitos e problemas cotidianos são
forma de unir os trabalhadores e fa- a escala mais básica e fundamental
zer seus direitos valer. que atua um sindicato, pois elas são 21
O sindicato é a entidade que re- a base de toda a estrutura de explo-
presenta os trabalhadores de um ou ração e opressão.
vários ramos que se filiam a ele e tem É por isso que o sindicato deve
como objetivo criar poder de pressão ser construído desde a base, das lu-
para conquistar suas reivindicações. tas e uniões nos locais de trabalho e
Para nós, o sindicato não deve ser moradia, e desde essa base forte ele
uma coisa que está “fora” ou “acima” pode chegar a ter uma organização
do trabalhador Ele é, na verdade, municipal, nacional e até mesmo in-
uma forma de AUTO-ORGANIZA- ternacional.
ÇÃO. Ou seja, quando os trabalha- Os trabalhadores organizados em
dores se organizam por si mesmos, um sindicato devem pensar em quais
sem a dominação do Estado, do pa- melhorias desejam e como farão para
trão ou de qualquer instituição ex- conquistá-las. Para isso, o sindicato
terna ao grupo de trabalhadores. É, defende reivindicações e mobiliza o
portanto, o primeiro passo na cons- povo para lutar, fazendo com que sua
trução da nossa autonomia. voz seja ouvida e atendida.
O sindicato é também uma AU- Toda essa concepção de sindicato
TO-REPRESENTAÇÃO. Não é o pode parecer distante da nossa reali-
Estado que deve dizer qual líder ou dade. Mas, na verdade, ela está pre-
qual sindicato nos representa. So- sente em muitas lutas e movimentos
mos nós que construímos por nos- populares no Brasil. Por isso que o
sas mãos a organização que de fato sindicalismo revolucionário não se
nos represente. A verdadeira legiti- prende ao termo “sindicato” e reco-
midade de um sindicato surge, por- nhece os vários nomes que os tra-
tanto, de baixo para cima. balhadores acham melhor para re-
Por isso um sindicato deve se presentar a sua luta: se é associação,
manter autônomo, sem “rabo preso” movimento, sindicato, união, oposi-
com governos ou patrões, e qualquer ção, coletivo, comitê, comando.
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
isso deve contar com um forte tra- garantir que todos consigam falar,
balho de divulgação e convenci- que não tenha nenhuma “estrela”
mento. Não podemos reclamar da ou “sabe-tudo” querendo falar sozi-
falta de participação dos filiados se nho e atropelando a fala dos outros,
não tivermos a paciência de mobili- falando fora de ordem.
zar, escutar e convencer. Assim como evitar que só uns
A assembleia deve ser dinâmica poucos falem, temos que nos esfor-
e não deve se prolongar demais. Ela çar para estimular com que vários
deve iniciar definindo com clareza: filiados se inscrevam na assembleia
a) quem fará a relatoria, anotando e deixem suas opiniões e propostas
as propostas e encaminhamentos; sobre as pautas.
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
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p a r t e 2 . a s t a r e f a s e e s t r u t u r a s o r g a n i z a t i v a s
Organograma simplif icado da FOB
ENOPES
a u t ô n o m o
48
3
Parte
As tarefas
e as formas
de resistência
A
s tarefas organizativas contribuir para que elas se tornem
estão diretamente re- cada vez mais fortes, de massas, au-
lacionadas às tarefas e tônomas e combativas. A estratégia
formas de resistência. Na maioria do sindicalismo revolucionário é
das vezes elas nem podem ser se- que as várias lutas e organizações
paradas, estando unidas por um do povo devem se unir.
CICLO DE LUTA E ORGANIZA- O militante se verá em situações
ÇÃO: uma atividade de resistência em que lutas importantes estarão
que pode levar a novas formas de sob o controle de outras tendências
organização e assim por diante. (socialdemocratas, liberais ou con-
Nessa parte da cartilha vamos servadores) e terá que ter um mé-
explicar e propor algumas formas de todo para atuar nessas lutas. Mais
resistência legítimas realizadas pelo importante ainda, e com maior res-
povo trabalhador e que podem ser ponsabilidade, serão os momentos
utilizadas pelo sindicato autônomo. em que os revolucionários estive-
rem na direção de lutas populares.
Antes disso é fundamental reco-
nhecer que o nosso povo sempre se
rebelou contra as formas de opres- 3.1 – A ascensão e o refluxo
são e desigualdade. Até mesmo os das lutas
setores mais oprimidos do povo po- Muitos movimentos ou sindica-
dem recorrer a ações de resistência, tos de trabalhadores se formam em
como dissimular o entendimento de momentos de crescente luta e mobi-
tarefas confiadas a eles, realizar tra- lização coletiva. Quando esses mo-
balhos de baixa qualidade, realizar mentos acontecem nós dizemos que
expropriações ou fugas coletivas. existe uma “ascensão” da luta.
Métodos legítimos de violência Num momento de ascenso as
popular também foram e são usados pessoas tendem a ficar mais abertas
como formas de resistência contra a para ouvir e se envolver na causa re-
opressão: incêndios de latifúndios, volucionária e na luta por direitos.
justiçamento, sabotagem e quebra Muitas vezes são momentos difí-
dos instrumentos de trabalho. ceis, de greves, conflitos, mas com
Mas não basta o militante revo- a união e a ação firme da coletivi-
lucionário participar das formas de dade as pessoas tendem a superar as
resistências que já existem. Ele deve dificuldades, elas sentem de forma
mais clara o poder do povo unido
e cada trabalhador envolvido nesse tivados a atitudes desagregadoras e
momento se sente forte junto. nocivas à organização. Por isso um
Esses momentos de ascensão refluxo não pode significar apatia e
precisam sempre ser muito bem individualismo.
aproveitados. O militante revolu- Em um momento de refluxo é
cionário precisa ter propostas para quando podemos nos dedicar mais
solucionar problemas pequeno e às atividades de propaganda, for-
grandes que surgem durante as lu- mação, organização interna, e ou-
tas. Isso não significa ter respostas tras, que mesmo sem envolver um 51
pra tudo, para isso o militante conta conflito direto, preparam e organi-
com seus camaradas e com o povo zam melhor as nossas forças para
em luta. A coletividade é sempre quando ele vier.
mais inteligente do que o indivíduo Em alguns setores, locais de tra-
isoladamente. balho ou cidades esses momentos
Mas esses momentos de ascenso de refluxo são praticamente a regra.
das lutas, por mais que sejam pro- Mas muitas vezes são nessas rea-
longados, sempre tem um fim. As lidades (onde a luta é mais difícil
lutas podem alcançar os seus objeti- e quando construir um sindicato
vos ou serem derrotadas, mas a ten- possa ser mais desafiador ou peri-
dência é que após o combate se tenha goso) que o potencial da luta pode
um momento de “calmaria” ou mes- ser tão grandioso e estratégico para
mo de uma ofensiva da burguesia, a transformação social. Afinal de
do Estado ou da repressão. É o que contas, existe um motivo pelo qual
chamamos de “refluxo” das lutas. alguns lugares são tão difíceis e ou-
Os refluxos são momentos mais tros mais fáceis organizar uma luta.
difíceis para uma proposta de sin- Devemos refletir de forma corre-
dicalismo revolucionário. A crise ta sobre esses momentos de ascenso
econômica e social se mistura com e refluxo. Buscando aproveitar to-
crises nas famílias e individuais e das os pontos positivos de situações
podem afetar a organização. Por isso favoráveis à nossa ação, mas sem
é fundamental saber navegar e en- nos acomodarmos a eles.
frentar esse momento e tirar o má- Além disso, construir métodos
ximo de proveito das oportunidades. para superar todas as dificuldades
Se não existe luta e mobilização onde a luta seja mais difícil, saber se
real, um sindicato tende cada vez adaptar às mudanças e aos territó-
mais a desmobilização e, em alguns rios, sem nunca abdicar de acredi-
casos, pode levar membros desmo- tar na luta e na causa do povo.
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
palavras (agitação); para poucas pes- Isso pode ser fortalecido com
soas, mais palavras (propaganda) ações menores como agitações de de-
Apesar disso, os dois meios (agi- núncia às injustiças, manifestações
tação e propaganda) andam jun- na sede da empresa e outras. Antes
tos: a propaganda fundamenta e da greve “estourar” deve ser refor-
aprofunda as reivindicações e lutas çado um clima de revolta e agitação.
imediatas, ajudando a dar clareza e Algumas vezes uma “onda” de greves
tornar a agitação certeira em suas e protestos em outros setores podem
curtas palavras; mas sem a agitação também estimular essa agitação.
e as lutas de massas a propaganda Quando aprovada, a greve tem
revolucionária estaria sempre res- por objetivo englobar o máximo de
trita a grupos pequenos e isolados. pessoas possíveis em suas atividades,
fazendo com que os próprios traba-
lhadores sejam o alicerce do movi-
A greve
mento e os donos da palavra final.
As greves podem ser definidas
A greve deve ser aprovada em
como métodos de luta nas quais
assembleia, eleger um comando de
um grupo de trabalhadores, atu-
greve, possuir reivindicações claras
ando coletivamente, interrompe o
e conter um calendário de ativida-
trabalho para reforçar as suas rei-
des. Devem ser realizadas assem-
vindicações econômicas, sociais ou
bleias regulares que decidam os
políticas de interesse dos trabalha-
rumos principais da greve. É muito
dores diretamente envolvidos e/ou
importante buscar apoio de advo-
de outros. Por isso a ação grevista
gados no caso da judicialização do
não deve ser reduzida aos exemplos
movimento.
limitados e fracassados do sindica-
lismo oficial e burocrático. As reivindicações escolhidas são
muito importantes, mas podem va-
O sindicalismo revolucionário
riar de acordo com várias caracte-
considera a greve uma guerra en-
rísticas do movimento (abrangência
56 tre explorados e exploradores. Por
isso ela precisa da máxima aten-
da greve, condições trabalhistas,
experiência coletiva, etc.). Elas po-
ção ao seu início, meio e fim. Não
dem ser várias ou apenas uma. As
pode ser aprovada a toque de cai-
greves podem ocorrer inclusive em
xa, sem preparo. Para iniciar uma
solidariedade a outros trabalhado-
greve forte é preciso mobilização,
res injustiçados.
união e decisão dos trabalhado-
res. É o que podemos chamar do De qualquer forma é importante
“ânimo das tropas”. que o grupo de trabalhadores esteja
convencido de que as reivindicações alcança todas as reivindicações.
são corretas e possíveis de serem Por isso, além das VITÓRIAS
alcançadas. Não devemos entrar MATERIAIS em termos de salário,
numa greve para perder ou rebaixar condições de trabalho, etc. também
as nossas reivindicações, ainda as- devemos reconhecer e aproveitar as
sim devemos estar preparados para VITÓRIAS ORGANIZATIVAS re-
lidar com derrotas parciais. lacionadas as novas filiações, novas
Devemos estar atentos às medi- comissões de base, novas lideran-
das antissindicais dos patrões, pe- ças e aprendizados. Como diria a 57
legos e governantes para derrotar o canção “unidos venceremos e a luta
movimento. Por isso, um advogado continua”, e nós precisamos saber
do sindicato autônomo deve estar manter essa continuidade e persis-
sempre a disposição para apoiar os tência, “até a vitória final”!
grevistas, uma vez que a legislação
burguesa impõe limites ao exercício
Diferentes formas de greves
da greve que o movimento não pode
ignorar. Ao longo da história das lutas da
classe trabalhadora, foram desen-
Ter um fundo de greve também
volvidas diferentes formas de greve,
é fundamental para resistir a pos-
associadas aos diferentes modelos
síveis cortes salariais e demissões.
de organização proletária e seus ob-
A solidariedade de outros sindica-
jetivos. As diferentes experiências
tos, movimentos e da comunidade
históricas permitiram o aperfei-
trabalhadora (familiares, amigos
çoamento das estratégias de greve.
e vizinhos) pode ser decisiva para
Aqui podemos falar de oito tipos de
vitória. Os piquetes e a crítica aos
greves:
fura-greves mantêm a greve coesa e
combativa. 1. Greves espontâneas
O fim de uma greve também é São aquelas deflagradas sem
importante. Muitas vezes sindica- uma preparação prévia, resultada
listas pelegos tentam acabar com de uma resposta imediata de um
uma greve de forma precipitada de- conjunto de trabalhadores e traba-
fendendo falsas vitórias ou fazendo lhadoras contra alguma injustiça
com que os trabalhadores percam cometida pelos patrões.
as esperanças e desanimem. Mas o Também são chamadas de gre-
fato é que uma hora as greves aca- ves espontâneas aquelas deflagradas
bam e, por mais bem organizadas de forma independente das direções
e fortes que comecem, nem sempre e burocracias sindicais, mas organi-
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
dos governos e patrões sobre ter- tas devem ser atendidas ou mesmo
ritórios e instituições. Em geral as situações de reintegração de posse
ocupações devem ser antecipadas com uso de violência policial.
por assembleias que pensem na es- Existem casos de ocupações de
tratégia e tática do movimento. fábrica, por exemplo, onde o grupo
As ocupações de terras pelos de trabalhadores toma o controle
camponeses, as retomadas indíge- permanente tanto da área da em-
nas, quilombos e as ocupações de presa como da própria produção,
moradia nas cidades são expressões realizando a autogestão operária,
territoriais da luta de classes. São como quando uma fábrica declara
uma das bases fundamentais para falência e é resgatada pelos traba-
a construção do poder popular, do lhadores.
autogoverno e do socialismo. Nesse caso, o espaço deve ser
Para fazer uma ocupação é funda- pensado estrategicamente articula-
mental ter um grupo de trabalhado- do à outras iniciativas antissistêmi-
res unido e muito bem organizado. A cas para não se resumir a um pro-
segurança e a autodefesa da ocupação dutor alternativo de mercadorias
são fundamentais. O ideal é escolher sob um modelo “autogestionário”.
uma área permanente para ocupar e O mesmo poderia ocorrer com
resistir, porém haverá situações em escolas ou outras instituições. Mas
que se pode ocupar uma área para o fato é que essas ocupações não
pressionar o governo a ceder outra acontecem do “nada”. São fruto de
área ou outra reivindicação. situações graves como crises, de-
Outro tipo de ocupação é a de semprego, ou mesmo em ápices de
instituições públicas ou privadas algum movimento de greve ou re-
com um objetivo reivindicativo volta popular.
imediato. São as ocupações de mi-
nistérios, câmaras de deputados,
A cooperativa e o mutualismo
fábricas, escolas ou universidades.
62 Em geral esse tipo de ocupação é Quando dizemos MUTUALIS-
temporária, mas nem sempre. MO nos referimos as práticas ou
organizações coletivas de apoio
As ocupações temporárias de-
mútuo, sejam através da troca re-
vem contar com uma estrutura lo-
cíproca de trabalho ou por meio de
gística de alimentação, segurança,
dinheiro. Quando moradores de
comissão de negociação, propagan-
um bairro ajudam um ao outro na
da. Bem como deve pensar o mo-
construção de suas casas, no plan-
mento da desocupação, quais pau-
tio e na colheita de alimentos ou populares, atividades culturais e de
no acolhimento de uma vítima de confraternização popular, e muitas
violência doméstica ou na vaquinha outras. Um centro comunitário de
para quitar o aluguel de um desem- cultura e luta pode ser fundamen-
pregado, estão praticando o mutu- tal para impulsionar essas práticas
alismo. e organizações mutualistas.
Essas práticas existem desde as As cooperativas devem estar in-
resistências e tradições indígenas, tegradas às organizações de traba-
negras e quilombolas e também dos lhadores e não operar como força de 63
trabalhadores pobres imigrantes. mercado ou via isolada: o objetivo
Com o sindicalismo revolucionário não é ser líder do mercado. Ao mes-
elas podem alcançar um grande po- mo tempo, a experiência histórica
tencial transformador. Elas podem mostra que as cooperativas de pro-
evoluir das práticas moleculares e dução agrícola (camponesas) e as co-
cotidianas de solidariedade no seio operativas de crédito e consumo para
do povo para um sistema integrado os trabalhadores urbanos são aquelas
e alternativo de autogestão e mutu- que podem cumprir os papéis mais
alismo com uma estratégia revolu- progressistas na luta de classes.
cionária e socialista. Um sindicato autônomo da cida-
As cooperativas são a forma mu- de pode se associar com campone-
tualista principal, mas existem ou- ses para distribuir sua produção di-
tras ações mutualistas importantes, retamente aos filiados do sindicato,
tais como cursinhos e escolas popu- eliminando os grandes mercados
lares, caixas de resistência, fundos como atravessadores.
de apoio mútuo, mutirões de traba- Esta prática ajuda tanto a alimen-
lho, creches comunitárias, cozinhas tação dos trabalhadores da cidade,
ou sopões que podem comprar um produto
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
Um boicote pode ter também cotes precisam ser muito bem or-
uma reivindicação política contra ganizados, e o grupo dos trabalha-
políticos ou Estados. Um exemplo dores envolvidos deve estar unido e
foi durante a Guerra dos EUA con- convencido da justeza da ação.
tra o Iraque, quando organizações Quando realizar um boicote de-
no Brasil e no mundo convocaram ve-se levar em consideração alguns
ao boicote às empresas que finan- fatores: a cultura popular, a depen-
ciavam a guerra. dência cotidiana que os trabalha-
No aspecto político, o boicote dores possuem das mercadorias
eleitoral também é uma importante ou empresas boicotadas, a força de
forma de resistência contra a domi- pressão real que o boicote exercerá
nação do Estado. É uma forma de sobre os alvos do boicote de modo
ação da população para se separar da que o chamado ao boicote não seja
política burguesa e descredibilizá-la. apenas uma proclamação sem im-
Negá-la, entretanto, não é suficiente. pacto – embora possa servir inicial-
A criação de uma crise representan- mente para descredibilizar e des-
tiva pode e deve ser conduzida para moralizar determinadas empresas
gerar greves e protestos de rua, para ou governos.
obter vitórias reivindicativas e au- Por outro lado, é preciso encarar
mentar o poder popular para criar de forma correta a tática do boico-
uma nova sociedade não estatal. Não te, principalmente por muita infil-
basta negar, devemos afirmar. tração liberal e individualista nesse
No aspecto econômico, o “pro- assunto. Toda empresa, privada ou
testo de consumidores” acontece estatal, inserida no sistema e orga-
principalmente contra a inflação e nização capitalista, é uma institui-
a carestia de vida, quando os traba- ção baseada na exploração do traba-
lhadores pressionam uma ou mais lho, dominação política e destruição
empresas, ou governos, a diminuir ambiental. Portanto, o boicote na
o preço dos alimentos e objetos de concepção sindicalista revolucio-
66 consumo essencial. nária não é uma escolha individual,
moral e eterna. Ou a ação é popular
Uma coisa fundamental é saber
quem são os alvos concretos do boi- com objetivo concretos, ou servirá
cote e quais são as reivindicações apenas para a consciência e estilo de
populares. Os boicotes podem ser vida de alguns indivíduos.
em pequena escala (em bairros, es- Todas as pessoas sem exceção
colas ou locais de trabalho) ou até têm diversos estilos de vida, de
nacionais ou internacionais. Os boi- consumo e alimentares, e nenhum
as tornam melhor do que a massa Em menor escala, mas não me-
popular. Um militante revolucioná- nos importante, a autodefesa signi-
rio não é melhor nem pior que nin- fica a saúde mental e treinamento
guém, ele é um filho do povo que físico dos militantes e lutadores do
decidiu se organizar e lutar coleti- povo. No âmbito da luta sindical e
vamente. Isso é o que importa. As- estudantil a autodefesa envolve prin-
sim, falar em “boicote individual” cipalmente a capacidade (cumulati-
é tão questionável quanto falar em va) de defesa e resposta frente a ação
“greve individual”. ganguista das burocracias sindicais,
governos e patronais.
67
A autodefesa No âmbito territorial a autode-
fesa envolve principalmente a ca-
A autodefesa da classe trabalha-
pacidade (cumulativa) de defesa e
dora é uma das bases para cons-
resposta frente a repressão policial,
trução da sua autonomia. Ela não
paramilitar e do crime organizado.
pode ser uma promessa para o fu-
No âmbito das lutas antidiscrimi-
turo, ela tem que ser uma realida-
natórias a autodefesa envolve prin-
de hoje. Ainda que hoje ela esteja
cipalmente a apropriação da violên-
presente em práticas mais simples
cia revolucionária, fortalecimento
ou assumida por pequenos grupos,
da autoestima e defesa pessoal pelos
ela é um direito e um dever dos ex-
grupos LGBTs, mulheres e negros.
plorados. A autodefesa não se reduz
à realização de atos violentos, mas A autodefesa também é a preo-
envolve a capacitação técnica e ins- cupação com nossa segurança vir-
trumental para tal. tual, nossa privacidade pessoal
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
p a r t e 3 . a s t a r e f a s e f o r m a s d e r e s i s t ê n c i a
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o
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Palavras finais:
siga na luta
c o m o c o n s t r u i r u m s i n d i c a t o a u t ô n o m o